08.06.2013 Views

mulheres-rac3a7a-e-classe

mulheres-rac3a7a-e-classe

mulheres-rac3a7a-e-classe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nota das <strong>mulheres</strong> que traduziram este livro<br />

No dia 1 de maio 17 <strong>mulheres</strong> negras encontraram-se Angela Davis a propósito<br />

da tradução para português do seu livro "woman, race&class".<br />

Porque buscamos a nossa história para que possamos conhecer o papel das<br />

<strong>mulheres</strong> negras e assim destruir a colonização da nossa mente e construirmos<br />

de forma autodeterminada os nossos pensamentos e comportamentos,<br />

começamos por definir como nos reconhecemos como <strong>mulheres</strong> negras.<br />

Encontramos nas nossas definições elementos que nos oprimem na condição<br />

sexista de objeto sexual; que nos caraterizam apenas na dimensão estética; que<br />

nos reduzem à condição de capacidade de ser mãe. Constatamos que na<br />

imagem que temos de nós mesmas está a apreciação que o machismo faz de<br />

nós e os papéis que a sociedade patriarcal nos incumbiu de desempenhar.<br />

Tomámos consciência que não foi ainda dito pelas <strong>mulheres</strong> negras em Portugal<br />

o que pensam de si mesmas e como se pretendem definir, libertas da opressão<br />

do racismo e do sexismo.<br />

Procurando saber como nos definimos do ponto de vista do caráter e do<br />

comportamento, encontramos caraterísticas como trabalhadoras, corajosas,<br />

sinceras, dedicadas, guerreiras, desenrascadas, guerreiras, inteligentes.<br />

Buscamos o que Angela Davis chama no seu livro de "legado da escravatura"<br />

que deu às <strong>mulheres</strong> negras "a experiência acumulada de todas essas <strong>mulheres</strong><br />

que trabalharam arduamente debaixo do chicote dos seus donos, trabalharam,<br />

protegeram as suas famílias, lutaram contra a escravatura, e foram batidas e<br />

violadas, mas nunca dominadas."<br />

Tomamos conhecimento que essas <strong>mulheres</strong> escravas "passaram para as suas<br />

descendentes nominalmente livres um legado de trabalho pesado,<br />

preserverança e auto-resiliência, um legado de tenacidade, resistência e<br />

insistência na igualdade sexual - resumindo um legado que fala das bases de<br />

uma nova natureza feminina" (capítulo1). Percebemos que as caraterísticas que<br />

reconhecemos hoje em nós não são o resultado da condição feminina, mas o<br />

resultado da condição histórica e racial das <strong>mulheres</strong> negras.<br />

Ouvimos o discurso de Sojourner Truth, um ex-escrava que se dirigiu a uma<br />

plateia de homens brancos e algumas <strong>mulheres</strong> brancas (quando ainda não era<br />

permitido às <strong>mulheres</strong> falarem em público) falando sobre a sua rude condição<br />

de mulher escrava, contrária à fragilidade da mulher branca atual, e que nem<br />

por isso se sentia menos mulher. Ain't I a Women? é a pergunta que ecoou<br />

nesse discurso, e que continua a ecoar quando nos definimos com<br />

3

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!