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percebeu que as multidões de brancos pensavam isolar e talvez atacar as <strong>mulheres</strong><br />
negras na assistência, e assim insistiu para que cada mulher branca saísse do edifício<br />
com uma mulher negra a seu lado. A Boston Female Anti-Salvery Society foi um dos<br />
numerosos grupos que saltou em New England imediatamente após Mott fundar a<br />
Philadelphia Society. Se o número de <strong>mulheres</strong> que foram subsequentemente<br />
assaltadas pelas multidões racistas ou aquelas que por seu lado arriscaram as suas<br />
vidas pudesse ser actualmente determinado, os números seriam sem dúvida<br />
admiravelmente maiores.<br />
À medida que foram trabalhando com o movimento abolicionista, as <strong>mulheres</strong> brancas<br />
aprenderam sobre a opressão da natureza humana - e nesse processo aprenderam<br />
importantes lições sobre a sua própria subjugação. Afirmando os seus direitos ao<br />
oporem-se à escravatura, elas protestaram – às vezes totalmente, outras vezes<br />
implicitamente – a sua própria exclusão da arena política. Se não sabiam como<br />
apresentar as suas próprias ofensas colectivamente, ao menos podiam contestar a<br />
causa daqueles que também eram oprimidos.<br />
O movimento anti-escravatura ofereceu às <strong>mulheres</strong> de <strong>classe</strong> média a oportunidade<br />
de provarem o seu valor de acordo com o modelo que não as prendia aos seus papéis<br />
de esposas e mães. Neste sentido, a campanha abolicionista foi uma casa onde<br />
podiam ser valorizadas pelo seu trabalho concreto. De fato, o seu envolvimento<br />
político na batalha contra a escravatura foi intenso, apaixonante e total porque elas<br />
experienciaram uma alternativa excitante à sua vida doméstica. E resistiam a uma<br />
opressão que tinha uma certa semelhança com a sua própria opressão. Para além<br />
disso, aprenderam a desafiar a supremacia masculina dentro do movimento antiescravatura.<br />
Descobriram que o sexismo que permanecia inalterado dentro dos seus<br />
casamentos, podia ser questionado e combatido na arena da luta política. Sim, as<br />
<strong>mulheres</strong> brancas podiam ser chamadas a defender ferozmente os seus direitos como<br />
<strong>mulheres</strong> na luta pela emancipação do povo negro.<br />
Quando Eleanor Flexner estudou o movimento de <strong>mulheres</strong> revelou que as <strong>mulheres</strong><br />
abolicionistas acumularam uma inestimável experiência política, sem a qual apenas<br />
teriam sido capazes de efectivamente organizar a campanha dos direitos das<br />
<strong>mulheres</strong> mais de uma década depois. As <strong>mulheres</strong> desenvolveram competências<br />
crescentes e profundas, aprenderam a distribuir literatura, a divulgar encontros – e<br />
algumas delas tornaram-se fortes oradoras em público. Mais importante de tudo,<br />
tornaram-se eficientes no uso da petição que se tornou numa arma central da tática da<br />
campanha pelos direitos das <strong>mulheres</strong>. Nas petições contra a escravatura, as<br />
<strong>mulheres</strong> foram simultaneamente compelidas a desafiar os seus próprios direitos para<br />
se engajarem no trabalho político. De que outra forma podiam elas convencer o<br />
governo a aceitar a assinatura de <strong>mulheres</strong> sem voto se não pela disputa agressiva de<br />
validar o seu tradicional exílio da actividade política? Como insiste Flexner era<br />
necessário<br />
“para a esposa média, mãe, ou filha sair dos limites do decoro, desprezando a<br />
severidade, ou o escárnio, ou o comando total do seu homem… levar a sua primeira<br />
petição e caminhar numa rua não familiar, bater em portas e pedir assinaturas de um<br />
impopular apelo. Ela não estaria apenas sozinha sem o seu marido ou irmão, mas<br />
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