O Poeta Mago - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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“Menina-Sol” ou “Naniôra”, 84 a qual é frequentemente apresenta<strong>da</strong> com um sol no lugar<br />
<strong>da</strong> cabeça e acompanha<strong>da</strong> de uma varinha. Ora, esta representação pictórica <strong>do</strong> poeta e<br />
<strong>do</strong> acto poético aponta para esse la<strong>do</strong> interventivo e performativo <strong>do</strong> acto poético,<br />
simboliza<strong>do</strong> pela varinha de condão.<br />
Neste contexto, é de to<strong>da</strong> a relevância que nos refiramos a uma prática artística<br />
que deteve um importante papel na arte surrealista: a performance. Com efeito, devi<strong>do</strong><br />
ao facto de o elemento mais importante nesta prática se resumir essencialmente ao<br />
‘gesto’, ao ‘acto’, a performance foi bastante explora<strong>da</strong> pelos surrealistas. E mesmo no<br />
que diz respeito à palavra, esta era entendi<strong>da</strong> sempre como um acto performativo, como<br />
deixa entender António Maria Lisboa quan<strong>do</strong> afirma:<br />
É às palavras-actos, não às palavras que supõem actos, que me dirijo. 85<br />
Associa<strong>da</strong> às grandes vanguar<strong>da</strong>s, como o Futurismo e o Da<strong>da</strong>ísmo, a<br />
performance surge como uma prática artística subversiva relativamente às artes<br />
tradicionais. Em primeiro lugar, a subversão instaura<strong>da</strong> pela performance surge pelo<br />
facto de esta derrubar as fronteiras entre os diferentes <strong>do</strong>mínios artísticos, poden<strong>do</strong><br />
englobar num só espectáculo música, <strong>da</strong>nça, teatro e poesia. Mas, segun<strong>do</strong> Roselee<br />
Goldberg, o elemento mais subversivo consistia na introdução <strong>do</strong> ‘gesto vivo’, <strong>do</strong> acto<br />
performativo, o qual surgia como meio de combate às convenções <strong>da</strong> arte estabeleci<strong>da</strong>. 86<br />
E, no contexto <strong>do</strong> Surrealismo, não é de admirar que o interesse relativamente à arte<br />
performativa se tenha manifesta<strong>do</strong>, pois, como explica António Maria Lisboa, em nome<br />
de to<strong>do</strong>s os surrealistas:<br />
(...) <strong>da</strong>mos importância a to<strong>da</strong> a acção Mágica, que se caracteriza, em oposição à<br />
Mística: Impositiva, Transforma<strong>do</strong>ra, Sintética, Diabólica, Convulsiva. 87<br />
Neste contexto, é muito interessante atentar na descrição que Mário Cesariny faz<br />
<strong>da</strong> I Exposição <strong>do</strong> Surrealismo (1949). Segun<strong>do</strong> o autor de A Ci<strong>da</strong>de Queima<strong>da</strong>, este<br />
evento - em que participaram Mário Cesariny, Henrique Risques Pereira, Pedro Oom,<br />
Fernan<strong>do</strong> José Francisco, António Maria Lisboa, Fernan<strong>do</strong> Alves <strong>do</strong>s Santos, Carlos<br />
84 Cf. João Lima Pinharan<strong>da</strong>, “Quan<strong>do</strong> o pintor é um caso à parte ou as velhas ain<strong>da</strong> lá estavam”, in João<br />
Lima Pinharan<strong>da</strong> e Perfecto E. Cuadra<strong>do</strong> (org.) Mário Cesariny, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004, p. 30.<br />
Cf. “Anexos”: figs. 1, 2 e 3, pp. 89, 90 e 91 deste estu<strong>do</strong>.<br />
85 António Maria Lisboa apud Mário Cesariny, “Mensagem e Ilusão <strong>do</strong> Acontecimento Surrealista”, As<br />
Mãos na Água, A Cabeça no Mar, Lisboa, Assírio & Alvim, 1985, p. 79.<br />
86 Cf. Roselee Goldberg, Performance Art, Londres, Thames & Hudson, 1993, p. 7.<br />
87 António Maria Lisboa, “Erro Próprio”, Poesia, ed. cit., p. 47.<br />
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