O Poeta Mago - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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eu vou nascer feliz numa ci<strong>da</strong>de futura<br />
eu sei atravessar as fronteiras <strong>da</strong>s coisas<br />
olha para as minhas mãos que te pareço agora?<br />
No entanto surgiu como simples criança<br />
conseguia sorrir sentar-se verter águas<br />
com as mãos na cintura livre natural<br />
ele que era um fantasma um fugi<strong>do</strong> de outro<br />
um que nem mesmo se chamava assim<br />
o jovem mágico <strong>da</strong>s mãos de ouro<br />
desapareci<strong>do</strong> nu de to<strong>do</strong>s os sítios <strong>da</strong> Terra 117<br />
Efectivamente, to<strong>da</strong> a caracterização deste jovem mágico parece estar<br />
relaciona<strong>do</strong> com a imagem <strong>da</strong> “Criança Hermética” resultante <strong>da</strong> operação alquímica.<br />
Em primeiro lugar, o facto de as suas mãos serem de ouro sugere um jogo entre a<br />
operação alquímica material e a operação alquímica espiritual. Em segun<strong>do</strong> lugar, o<br />
facto de este jovem mágico ser descrito como “um fugi<strong>do</strong> de outro” remete para a<br />
questão <strong>do</strong> processo de transformação <strong>do</strong> Eu num outro, de mo<strong>do</strong> a alcançar o esta<strong>do</strong> de<br />
vidência proposto por Rimbaud. Aliás, os versos “eu vou nascer feliz numa ci<strong>da</strong>de<br />
futura / eu sei atravessar as fronteiras <strong>da</strong>s coisas” parecem confimar, efectivamente esta<br />
leitura. Efectivamente, também neste poema nos é sugeri<strong>da</strong> a questão <strong>do</strong> visionarismo<br />
enquanto associa<strong>da</strong> a um mo<strong>do</strong> de ver que não passa pelos olhos [“mesmo de olhos<br />
fecha<strong>do</strong>s (como ele estava)”], questão sobre a qual já reflectimos anteriormente, 118 bem<br />
como a questão <strong>da</strong> problemática <strong>do</strong> nome 119 (“um que nem mesmo se chamava assim”).<br />
Este jovem mágico surge, assim, com to<strong>da</strong>s as características que temos vin<strong>do</strong> a<br />
aplicar ao poeta surrealista. Podíamos ain<strong>da</strong> ler este poema como o poema que condensa<br />
tu<strong>do</strong> aquilo que temos vin<strong>do</strong> a dizer <strong>da</strong>s figurações de poeta em Mário Cesariny; como o<br />
117 Mário Cesariny, “o jovem mágico”, op. cit., p. 25.<br />
118 Cf. supra, p. 23.<br />
119 Cf. supra, p. 17.<br />
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