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O Poeta Mago - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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to<strong>do</strong> o poema, mimetiza o próprio processo alquímico. Efectivamente, surgem neste<br />

poema as fases solve et coagula <strong>da</strong> alquimia que correspondem respectivamente ao<br />

processo destrutivo e ao processo assimilativo <strong>do</strong>s materiais. Na alquimia, estes <strong>do</strong>is<br />

processos contrários integram-se reciprocamente. 112 De facto, o princípio em que se<br />

baseia to<strong>da</strong> a alquimia é aquele que se encontra inscrito na Tábua Esmeral<strong>da</strong>,<br />

<strong>do</strong>cumento onde tem origem a tradição hermética:<br />

É ver<strong>da</strong>de, sem mentira, certo e muito autêntico.<br />

O que está em baixo é como o que está em cima, e o que está em cima é como o<br />

que está em baixo; por estas coisas se fazem os milagres de uma só coisa. 113<br />

Este pensamento pelo qual o alquimista se rege faz com que ele se apresente “na<br />

quali<strong>da</strong>de de personagem possuin<strong>do</strong> poderes superiores, capaz de remontar às origens<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pelo pensamento e pela acção produtiva, no intento de promover a<br />

reconstrução <strong>do</strong> homem e <strong>da</strong> natureza (...)”. 114 Embora o poeta se assemelhe ao<br />

alquimista no mo<strong>do</strong> como transforma a linguagem comum numa linguagem superior, os<br />

processos alquímicos a que submete a linguagem estão também na base <strong>da</strong> sua<br />

transformação de homem comum em poeta, isto é, em vidente. 115 De facto, tentan<strong>do</strong><br />

tornar possível o “Je est un autre” de Rimbaud, o poeta entra num processo de ‘morte<br />

em vi<strong>da</strong>’. Segun<strong>do</strong> Maria Lúcia Dal Farra, este processo de ‘morte em vi<strong>da</strong>’ seria a<br />

primeira fase <strong>do</strong> processo alquímico: a ‘separação’. Efectivamente, de mo<strong>do</strong> semelhante<br />

ao que acontece na sessão xamânica, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ‘Eu’, nesta fase, é dissolvi<strong>do</strong> em<br />

direcção a uma depuração. Deste processo resultaria a ‘Criança Hermética”. Também<br />

designa<strong>da</strong> por “Criança Alquímica” ou “Criança Filosofal”, esta enti<strong>da</strong>de corresponde à<br />

<strong>do</strong> próprio alquimista, após ter atravessa<strong>do</strong> o processo <strong>da</strong> busca <strong>da</strong> Pedra Filosofal.<br />

Resultante <strong>da</strong>s núpcias alquímicas entre o enxofre (“Rei”) e o mercúrio (“Rainha”)<br />

nasce a “Criança Rei”, detentora de uma inocência sábia e primordial. Como sublinha<br />

Dal Farra, esta imagem de “Criança Hermética”, relaciona<strong>da</strong> com a dissolução de<br />

antinomias, estaria na base <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong> visão infantil pelo Surrealismo. 116 Se nos<br />

112 Cf. Mario Dal Pra, “Alquimia”, in Ruggiero Romano e Fernan<strong>do</strong> Gil (org.) Enciclopédia Einaudi, vol.<br />

nº 18, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa <strong>da</strong> Moe<strong>da</strong>, 1990, p. 270.<br />

113 “A Tábua Esmeral<strong>da</strong> de Hermes Trismegisto”, in Victor Zalbidea, Victoria Paniagua, Elena Fernandez<br />

de Cerro e Casto de Amo (org.) Alquimia e Ocultismo, ed. cit., p. 23.<br />

114 Cf. Mario Dal Pra, op. cit., p. 266.<br />

115 Cf. Maria Lúcia Dal Farra, op. cit., p. 747.<br />

116 Ibidem.<br />

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