15.06.2013 Views

O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Este ambiente de morte se reforça quan<strong>do</strong> nos debruçamos <strong>sobre</strong> os<br />

nomes da<strong>do</strong>s às personagens:<br />

Mariana (como Maria, mãe de Deus ou <strong>do</strong> menino Teobal<strong>do</strong>) é de uma<br />

devoção cega, destinada a seguir o filho até o fim;<br />

Teobal<strong>do</strong> é o próprio Deus: onipresente, a olhar por um velho retrato a<br />

imensidão <strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> por <strong>sobre</strong> o piano nunca toca<strong>do</strong>.<br />

Cristina (originalmente batizada pelo autor de Nely) segue o caminho<br />

<strong>do</strong> Cristo (que não é o mesmo que Mariana) tornan<strong>do</strong>-se freira.<br />

Morena (como Mouro, ou seja, Árabe, anti-cristão) deseja uma vida<br />

mundana e acaba por suicidar-se.<br />

São, pois, estes quatro o sustentáculo da cruz montelliana.<br />

...<br />

Mariana, antes católica fervorosa, mantém uma relação edipiana com o<br />

filho pequeno, a<strong>do</strong>ta o protestantismo como <strong>sobre</strong>vida, cultivan<strong>do</strong> o único<br />

objetivo de reencontrar Teobal<strong>do</strong>, o que obviamente só conseguirá morren<strong>do</strong>.<br />

Mariana é um perene desejo de morte. A vida só lhe convém como os<br />

necessários pequenos <strong>degraus</strong> da escada que a levará a Teobal<strong>do</strong>. Antes disso,<br />

passa por sucessivas outras mortes que são a separação <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, a perda<br />

das duas filhas (uma para o caixão e outra para o convento. Ambas<br />

devidamente deserdadas). Como que se matan<strong>do</strong> aos poucos, vai-se<br />

fragmentan<strong>do</strong> para suportar cada vez mais só, mais áspera e esperançosa a<br />

sua <strong>do</strong>r de vida.<br />

Assim se passam mais de 20 anos.<br />

A morte <strong>do</strong> ama<strong>do</strong> mari<strong>do</strong> ainda motiva a Sinhazinha Doura<strong>do</strong> a tocar<br />

sua valsa ao piano, cada vez mais funesta.<br />

Morre o Dr. Luna, morre o padre Galvão, morre a Cipriana e a mulher<br />

<strong>do</strong> reveren<strong>do</strong> Tobias. Mesmo a cidade experimenta um tipo de morte na<br />

terceira parte <strong>do</strong> romance “<strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso” (também com poucas<br />

páginas):<br />

“E só quan<strong>do</strong> o luar voltou, debruçan<strong>do</strong>-se sôbre os sobradões da Praia Grande, é que<br />

se pôde sentir que São Luís, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> ali junto <strong>do</strong> mar, havia si<strong>do</strong> restituída a si<br />

mesma, com a penumbra propícia ao canto de amor <strong>do</strong>s seresteiros.” 27<br />

A cidade moderna, com seus lampiões de gás em desuso, sua vida de<br />

práticas em extinção, só encontrava sua verdadeira natureza na escuridão. O<br />

novo mun<strong>do</strong> das luzes significa a morte <strong>do</strong> lugar com o qual convivemos e de<br />

que somos parte.<br />

E é esta cidade renascida, já sem as luzes vermelhas <strong>do</strong>s vende<strong>do</strong>res de<br />

peixe frito e com me<strong>do</strong> <strong>do</strong>s submarinos alemães e <strong>do</strong> cometa Harley, que<br />

acaba por encontrar Mariana, ainda no sobra<strong>do</strong>, ainda viva, ainda por querer<br />

morrer:<br />

27 26. <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong>, p. 378.<br />

Ciências Humanas em Revista, v.6, n.1, São Luis/MA, 2008 - ISSN 1678-8192

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!