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O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

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Concor<strong>do</strong> com o pressuposto de que a Saga maranhense consista nos<br />

livros que se situam no Maranhão e a tentativa de subdividi-la, excluir títulos<br />

ou acrescer-lhe obras não romanescas mais acrescenta às aleivosias da crítica<br />

que à fruição <strong>do</strong>s próprios romances, de forma que a Saga aqui é mencionada<br />

nestes termos. No entanto, inter-relacionar seu conteú<strong>do</strong> romanesco pode<br />

contribuir para a descoberta de um escritor ainda maior, autor não só de<br />

vários romances mais de uma obra monumental <strong>sobre</strong> o lugar onde nasceu.<br />

É importante notar que o termo “Saga maranhense” é ainda restrito à<br />

crítica, e as sucessivas edições <strong>do</strong>s livros não a formataram como tal; mesmo<br />

o autor, quan<strong>do</strong> em vida, não o fez. Neste ponto, comprar um livro de Josué<br />

Montello é uma aventura ao desconheci<strong>do</strong>: as orelhas, prefácios e<br />

comentários de contracapa resumem-se a missivas elogiosas à figura <strong>do</strong><br />

escritor, não contribuin<strong>do</strong> em nada para a antevisão da obra e seu possível<br />

diálogo com as demais.<br />

Não há nenhum hermetismo na literatura montelliana, mas seus<br />

romances precisam de reedição racional e sistematizada, para que assim, com<br />

novo fôlego, possam alcançar novos leitores; assim como há necessidade de<br />

uma nova leitura <strong>do</strong>s romances capaz de expor facetas ainda obscuras ou<br />

inexploradas <strong>do</strong> enorme universo ficcional <strong>do</strong> escritor.<br />

Pensan<strong>do</strong> nisso, este estu<strong>do</strong> (pontapé inicial de um projeto mais amplo<br />

e coletivo <strong>sobre</strong> a Saga) se dedica à análise de um destes romances, “<strong>Os</strong><br />

<strong>degraus</strong> <strong>do</strong> paraíso” (em sua edição refundida de 1974), na intenção de lançar<br />

uma nova camada de significa<strong>do</strong> à obra em si e à sua relação com a carreira<br />

<strong>do</strong> autor, a cidade de São Luís e a Saga maranhense.<br />

H A PESCA ÀS BALEIAS 2<br />

São Luís, por volta de 1920, era noite no Desterro. Dir-se-ia que àquela<br />

época a noite era mais escura aos arre<strong>do</strong>res, com a iluminação ainda por<br />

fazer-se elétrica. Um sobra<strong>do</strong> miú<strong>do</strong>, perto da igreja. Na luz da lamparina, o<br />

senhor de batina puída entrega uma carta ao companheiro convalesci<strong>do</strong>,<br />

enquanto lhe parabeniza pelo fato de o AVC recém sofri<strong>do</strong> ter-lhe afeta<strong>do</strong><br />

somente o la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong> corpo, sen<strong>do</strong> ele canhoto.<br />

Com a língua paralítica e um fio de saliva a teimar no canto da boca, o<br />

homem pensa, olhan<strong>do</strong> o padre:<br />

“Seria a fé uma forma de ingenuidade elevada ao plano religioso?” 3<br />

A este tempo, um garoto de apenas <strong>do</strong>is anos acompanhava, senta<strong>do</strong> de<br />

frente para o pai, uma fé que ainda não compreendia, mas que viria a<br />

expressar, mais de 30 anos depois, em forma de livro.<br />

<strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso é o quinto romance de Josué Montello e,<br />

certamente, um <strong>do</strong>s mais importantes, teve função de marco na carreira <strong>do</strong><br />

escritor, na forma, estilo e conteú<strong>do</strong>.<br />

2 “O romancista é um pesca<strong>do</strong>r de baleias. Ao ferir o cetáceo, o pesca<strong>do</strong>r deixa-se levar por<br />

ele. A baleia morre mas oferece um trajeto.” Josué Montello, entrevista em 1949.<br />

3 03. <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso, São Paulo, Martins/MEC, 1974 p. 255<br />

Ciências Humanas em Revista, v.6, n.1, São Luis/MA, 2008 - ISSN 1678-8192

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