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O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

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Isto me faz pensar na obsessão em torno da construção desta obra,<br />

recortes semelhantes não podem ser encontra<strong>do</strong>s na feitura de nenhum de<br />

seus outros livros, mesmo os mais populares como Cais da sagração ou<br />

populosos como <strong>Os</strong> tambores de São Luís têm pastas (no acervo da Casa de<br />

Cultura Josué Montello) com mapas e demais materiais de pesquisa, mas eles<br />

não focam nas pessoas e em possíveis cenas ou sentimentos e sim na acuidade<br />

das descrições e informações históricas. O romance contava originalmente o<br />

<strong>do</strong>bro da metragem publicada e teve capítulos reescritos até 11 vezes, na<br />

busca <strong>do</strong> texto final. Além disso, foi inteiramente “refundi<strong>do</strong>” para a sua<br />

terceira edição, 10 anos depois (que é a edição referendada neste artigo).<br />

Este era um hábito corrente de Montello, que reescreveu to<strong>do</strong>s os seus<br />

livros até <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso. A luz da estrela morta, por exemplo, tem<br />

três versões publicadas; o enre<strong>do</strong> da novela Duas Vezes perdida (1966) é<br />

revisita<strong>do</strong> uma vez com Glorinha (1977, ainda como novela) e mais outra no<br />

romance Perto da Meia noite (1985).<br />

Assim disse <strong>sobre</strong> a revisão de Janelas fechadas:<br />

“Só fui fazê-lo em 1982. Entretanto de tal forma lhe alterei a forma primitiva, que<br />

desta apenas restaram seis linhas, duas iniciais e quatro finais (...) embora<br />

conservasse a Narrativa da versão original.” 8<br />

Em várias das entrevistas <strong>sobre</strong> <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso, Montello<br />

menciona seu primeiro romance como um “ensaio”; outras matérias<br />

consideram <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso seu quarto romance (excluin<strong>do</strong><br />

naturalmente o primeiro), o que me leva a pensar que a forma que o romance<br />

adquiria era, para o autor, talvez mais importante que sua história.<br />

Ao ser publica<strong>do</strong>, teve grande atenção da crítica, que foi unânime<br />

quanto às qualidades <strong>do</strong> novo romance maranhense de Josué Montello. Na<br />

época, havia uma certa polêmica <strong>sobre</strong> a consolidação <strong>do</strong> escritor como<br />

ensaísta ou romancista e <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso foi um divisor de águas, ten<strong>do</strong><br />

recebi<strong>do</strong> vários prêmios, entre eles o Fernan<strong>do</strong> Chináglia e consolida<strong>do</strong> o<br />

autor como um <strong>do</strong>s grandes romancistas de sua geração.<br />

A característica mais enfocada <strong>do</strong> romance em jornais foi “Josué<br />

inaugura um tema.” 9 ou “<strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Escritor” 10<br />

Em primeiro plano há o ineditismo <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> (uma conversão religiosa<br />

ao protestantismo), alia<strong>do</strong> ao fato de ser um tema polêmico, o que o escritor<br />

evitava, dizen<strong>do</strong> que falava com conhecimento de causa e não pretendia<br />

ridicularizar a crença de ninguém. O que acabou por negar em um ensaio anos<br />

mais tarde, dizen<strong>do</strong>: “O que eu pretendia era exprimir o la<strong>do</strong> patético de uma<br />

conversão ao protestantismo.” 11 .<br />

Mesmo que o autor não se envolvesse na querela religiosa em torno <strong>do</strong><br />

romance, a própria propaganda oficial <strong>do</strong> livro alegava ser “Um livro para<br />

católicos e protestantes.” Este não era um tema de to<strong>do</strong> novo, mas numa<br />

8 Confissões de um romancista.<br />

9 Lago Burnnet, Jornal <strong>do</strong> Brasil, 14/04/1964.<br />

10 Virginius da Gama e Melo, Jornal das letras, Rio, fevereiro de 1966.<br />

11 Confissões de um romancista, p. 46.<br />

Ciências Humanas em Revista, v.6, n.1, São Luis/MA, 2008 - ISSN 1678-8192

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