15.06.2013 Views

O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

O Caminho, a Verdade e a Vida Projeções sobre Os degraus do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Quan<strong>do</strong> Ernesto decide, em sua derradeira noite boêmia, comemorar o<br />

aniversário da Chicó, gasta to<strong>do</strong> o <strong>do</strong>te da filha à Igreja;<br />

Quan<strong>do</strong> Cristina finalmente embarca para o novicia<strong>do</strong> na Bahia, seu pai<br />

tem um AVC; e<br />

Quan<strong>do</strong> Teobal<strong>do</strong> sai pela primeira vez de casa sem companhia, morre<br />

atropela<strong>do</strong>.<br />

No entanto, o comportamento ditatorial e fecha<strong>do</strong> de Mariana é<br />

premia<strong>do</strong>, com seu desejo de reencontrar o filho feito real dentro da<br />

representação de realidade <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r onipresente e onisciente:<br />

“(...) Mariana sentia que ia subin<strong>do</strong> <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso, para encontrar-se lá no<br />

alto com seu filho, envolto na eterna luz <strong>do</strong> Reino <strong>do</strong> Senhor.” 24<br />

Montello admite claramente que a crença de Mariana, a despeito de<br />

suas atitudes, lhe levaram a seu filho e a Deus, nos mostran<strong>do</strong> que a fé que<br />

critica é ao mesmo tempo a que edifica.<br />

Como já dito, <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso foi um filho que mereceu atenção<br />

esmerada de seu cria<strong>do</strong>r, além <strong>do</strong> álbum de fotos e <strong>do</strong> cultivo da memória<br />

(tanto da cidade quanto da própria família), o romance surge, posso dizer, de<br />

um enorme desejo de legitimação, de consolidação <strong>do</strong> escritor ante seus<br />

pares (a academia) e o público (“O romance deve ser ao mesmo tempo<br />

popular e de elite”).<br />

É nesta busca pela maturidade que Montello denuncia afinal a linha<br />

incuba<strong>do</strong>ra de seu romance:<br />

“E nunca havia ocorri<strong>do</strong> comigo. Ao longo da redação de meus romances, afinal<br />

aconteceu quase ao fim de <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong> <strong>do</strong> Paraíso, a cena da morte de Morena,<br />

isolada em seu quarto, a penetrar <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da vida com a sensação de que as<br />

ondas lhe cobrem o corpo na orla da praia, eu as vi com olhos molha<strong>do</strong>s, sentin<strong>do</strong> que<br />

a emoção me pungia e dilacerava. Algumas vezes parei a cena para enxugar os<br />

olhos” 25<br />

A que ele mesmo elucida:<br />

“Eu ainda não havia escrito um romance que me fizesse chorar <strong>sobre</strong> ele. É certo que<br />

me comovera e muito, com <strong>do</strong>is ou três lances de A décima Noite. Mas ainda não<br />

havia encontra<strong>do</strong> aquela identificação profunda que nos sufoca em meio da escrita.<br />

Faltava-me ter na boca o gosto de arsênico que Flaubert experimentara ao narrar a<br />

morte de madame Bovary.” 26<br />

O arsênico na boca de Flaubert são as ondas que cobrem mariana,<br />

é o pára-choque nos muros <strong>do</strong> convento,<br />

é o isolamento no asilo<br />

e a mão que guia escada acima.<br />

24 <strong>Os</strong> <strong>degraus</strong>, p. 390.<br />

25 Confissões de um romancista.<br />

26 Confissões de um romancista.<br />

Ciências Humanas em Revista, v.6, n.1, São Luis/MA, 2008 - ISSN 1678-8192

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!