Nina Rodrigues - Biblioteca Digital do Senado Federal
Nina Rodrigues - Biblioteca Digital do Senado Federal
Nina Rodrigues - Biblioteca Digital do Senado Federal
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
18 <strong>Nina</strong> <strong>Rodrigues</strong><br />
discorda de Sighele, com relação à parte desempenhada pela loucura<br />
na constituição das multidões, etc.<br />
O interessante é que, fazen<strong>do</strong> o exame antropométrico da<br />
cabeça <strong>do</strong> Conselheiro, como antes o fizera na de Lucas da Feira,<br />
ficara <strong>Nina</strong> <strong>Rodrigues</strong> surpreendi<strong>do</strong> de aí não haver encontra<strong>do</strong><br />
nenhum <strong>do</strong>s sinais de degenerescência que a escola italiana erigira<br />
em regra, no exame antropológico <strong>do</strong>s criminosos. Daí, ser leva<strong>do</strong> a<br />
pesquisar as causas sociais e psicológicas que provocaram o comportamento<br />
associal <strong>do</strong> famoso meneur brasileiro.<br />
“No que concerne aos antecedentes hereditários de Antônio<br />
Maciel – escreveu <strong>Nina</strong> <strong>Rodrigues</strong> – sabe-se que descendia de uma<br />
família cearense valente e belicosa, que durante muito tempo se empenhara<br />
numa dessas lutas de extermínio, muito freqüentes na história<br />
<strong>do</strong>s nossos sertões, entre famílias poderosas e rivais. No decorrer dessas<br />
lutas, deram seus ascendentes provas de uma grande bravura, e muitas<br />
vezes de requintada crueldade. Mas, como temos verifica<strong>do</strong>, essas<br />
lutas são a conseqüência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> social da população inculta <strong>do</strong><br />
interior <strong>do</strong> país, não sen<strong>do</strong> necessário, para explicá-las, recorrer a<br />
uma intervenção vesânica” (o grifo é meu).<br />
Ora, é o próprio <strong>Nina</strong> <strong>Rodrigues</strong>, quem naqueles tempos de<br />
rígi<strong>do</strong> lombrosianismo, se encarregou de nos dar a chave <strong>do</strong> problema<br />
<strong>do</strong>s místicos, beatos e fanáticos <strong>do</strong>s sertões brasileiros. Não há necessidade<br />
de invocar a intervenção de “degenerescência de mestiçagem” e<br />
ação nefasta de “raças inferiores” e outros prejulga<strong>do</strong>s desta natureza,<br />
para o diagnóstico <strong>do</strong>s meneurs e das epidemias místicas <strong>do</strong> Brasil.<br />
<strong>Nina</strong> <strong>Rodrigues</strong> diagnosticou o Conselheiro, como indivíduo “degenera<strong>do</strong>”,<br />
porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> “delírio crônico” de Magnan, ou de “psicose sistemática<br />
progressiva”, o que vale dizer de paranóia sistematizada.<br />
Hoje dá-lo-íamos, de preferência, como um débil mental<br />
paranóide, haven<strong>do</strong> urdi<strong>do</strong> o seu delírio com a “fórmula social” <strong>do</strong>