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Nina Rodrigues - Biblioteca Digital do Senado Federal

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As Coletividades Anormais 65<br />

devotamento, de sacrifício e de desinteresse muito eleva<strong>do</strong>s, muito mais<br />

eleva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que aqueles de que é capaz o indivíduo isola<strong>do</strong>”, que não são<br />

certamente um “reliquat atávico <strong>do</strong> homem primitivo”. Depois, aquela explicação<br />

deixa subentender nas multidões um raciocínio interessa<strong>do</strong>, uma<br />

capacidade para avaliar as conseqüências afastadas de seus atos, puníveis<br />

ou não, que de fato não existe no verdadeiro esta<strong>do</strong> de multidão onde a<br />

inconsciência <strong>do</strong>mina de mo<strong>do</strong> soberano.<br />

Fica assim incompleta a explicação que Sighele pretendeu dar<br />

das condições psicológicas das multidões, no momento em que cometem<br />

atos acompanha<strong>do</strong>s de violências, porque omitiu a intervenção da loucura<br />

em sua execução.<br />

Das duas causas invocadas por Sighele, há uma que não tem mesmo<br />

fundamento: a ausência de bons sentimentos no esta<strong>do</strong> de multidão.<br />

Segun<strong>do</strong> ele, os sentimentos da multidão não devem representar<br />

mais <strong>do</strong> que uma simples média, não poden<strong>do</strong> jamais atingir a esse máximo<br />

de bons sentimentos que existem somente em alguns representantes da<br />

aglomeração: daí, o excesso e a preponderância <strong>do</strong>s maus sentimentos que<br />

são os da maioria.<br />

Mas é claro que, aplican<strong>do</strong> este princípio aos maus sentimentos,<br />

o resulta<strong>do</strong> será o mesmo. A média <strong>do</strong>s maus sentimentos, mesmo da<br />

grande maioria, por isso mesmo que é uma média, nunca poderá se elevar<br />

e menos ainda ultrapassar o máximo a que atingem nos mais perversos.<br />

E se se explica assim como as más paixões ultrapassam as boas,<br />

ficam, contu<strong>do</strong>, sem explicação os excessos e as violências de que são capazes<br />

individualmente algumas raras pessoas, mas que a multidão põe em<br />

prática.<br />

Aliás, a afirmação de que os maus sentimentos pre<strong>do</strong>minam na<br />

multidão está longe de ter a exatidão rigorosa de uma regra absoluta. Assegura<br />

Gustavo Le Bon que os sentimentos transforma<strong>do</strong>s podem ser melhores<br />

ou piores <strong>do</strong> que os <strong>do</strong>s indivíduos de que se compõe a multidão.<br />

Sighele o reconhece. Trata-se, pois, apenas, de uma questão de freqüência<br />

sen<strong>do</strong> as manifestações <strong>do</strong>s maus sentimentos muitas vezes mais repetidas<br />

que as <strong>do</strong>s bons.<br />

O segun<strong>do</strong> motivo da<strong>do</strong> por Sighele encerra, ao contrário, a<br />

explicação real <strong>do</strong> fato.

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