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Nina Rodrigues - Biblioteca Digital do Senado Federal

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As Coletividades Anormais 91<br />

Nos últimos tempos de sua existência, vivia Antônio Conselheiro,<br />

de fato, afasta<strong>do</strong> da direção <strong>do</strong> governo local e completamente entregue<br />

a seu papel de Cristo ou emissário divino. Como já se viu em 1895, quan<strong>do</strong><br />

da visita <strong>do</strong>s capuchinhos, era sempre vigia<strong>do</strong> pelos seus discípulos,<br />

que formavam uma guarda constante em torno dele. Na realidade, eles<br />

geriam, uns os negócios da guerra, outros da administração interior e civil,<br />

outros enfim, que o rodeavam de muito perto, lhe serviam de acólitos nas<br />

cerimônias <strong>do</strong> culto.<br />

Uma vez da<strong>do</strong> o impulso e organizada a seita como estava, acabou<br />

Antônio Conselheiro por se tornar o í<strong>do</strong>lo, a divindade; as obras <strong>do</strong><br />

fanatismo e a luta provocada por ele eram reservadas especialmente à turba,<br />

aos sectários.<br />

A intervenção <strong>do</strong>s delirantes crônicos na constituição das epidemias<br />

de loucura político-religiosa é um fato notório em matéria de psiquiatria,<br />

e em muitos pontos a observação de Antônio Conselheiro reproduz<br />

traços das observações de Vintras, Riel, etc., resumidas na excelente tese de<br />

Prouvost 39 .<br />

A observação seguinte é ainda mais comprobatória que a precedente:<br />

OBSERVAÇÃO V – A hecatombe de Pedra Bonita em Pernambuco.<br />

Na parte central <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, acha-se a comarca de<br />

Flores, em cujo território se erguem duas rochas isoladas de estrutura muito<br />

singular, representan<strong>do</strong> duas altas colunas de aproximadamente 30 metros<br />

de altura que tivessem si<strong>do</strong> construídas uma ao la<strong>do</strong> da outra e que lembram<br />

as pedras pré-históricas ou os <strong>do</strong>lmens druídicos. A comarca de Flores foi,<br />

em 1838, teatro de uma sangrenta tragédia devi<strong>do</strong> à presença destas duas<br />

colunas naturais, e que teve como atores uma multidão possuída <strong>do</strong> mais<br />

violento delírio religioso.<br />

Um mestiço chama<strong>do</strong> João Santos começou, em 1836, a espalhar<br />

uma notícia segun<strong>do</strong> a qual estas duas pedras indicavam exatamente o<br />

lugar onde se achava um país encanta<strong>do</strong>, que ocultava riquezas fabulosas, e<br />

39 Prouvost. Le délire prophétique. Bordeaux, 1896.

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