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Nina Rodrigues - Biblioteca Digital do Senado Federal

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OBSERVAÇÃO I (Dr. Márcio Néri 26 ) –<br />

As Coletividades Anormais 73<br />

Paranóia persecutória num degenera<strong>do</strong>. – Episódio de loucura a<br />

<strong>do</strong>is com um irmão igualmente degenera<strong>do</strong> e mais tarde francamente persegui<strong>do</strong>-persegui<strong>do</strong>r.<br />

Antônio A. S., vinte e um anos, estudante, foi interna<strong>do</strong> em<br />

outubro de 1893 no hospício nacional de aliena<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio de Janeiro, com<br />

delírio de perseguição sistematiza<strong>do</strong>.<br />

Algum tempo antes, Antônio tinha si<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong> de um acesso<br />

de delírio de perseguição que comunicou a um irmão mais moço. Sua<br />

conduta irregular originava contínuas disputas entre seu pai e ele; passava,<br />

pois, a sua vida num esta<strong>do</strong> de lutas incessantes. Um dia, veio ao espírito<br />

que, de cumplicidade com a cozinheira subornada para lhe apresentar<br />

alimentos envenena<strong>do</strong>s, seu pai procurava se desembaraçar de sua pessoa.<br />

Impôs Antônio suas suspeitas delirantes a seu irmão, igualmente predisposto,<br />

que consentiu em ajudá-lo na vigilância da cozinheira, à busca da<br />

prova das tentativas criminais supostas.<br />

Sofren<strong>do</strong> um dia <strong>do</strong>res de cabeça, a cozinheira comprara um<br />

frasco de sal de amoníaco que aspirava perto <strong>do</strong> fogão. Os <strong>do</strong>is irmãos, que<br />

a vigiavam, supuseram-na em flagrante delito de envenenamento. Lançam-se<br />

sobre ela, moem-na de pancadas e se apoderam <strong>do</strong> frasco que para<br />

eles constituía uma peça de convicção.<br />

Em seguida, muni<strong>do</strong>s desta prova que consideravam decisiva,<br />

entrincheiraram-se na casa, arma<strong>do</strong>s de revólveres e resolvi<strong>do</strong>s a não mais<br />

consentir que seu pai lá entrasse. De regresso a casa, este lhes ordenou em<br />

vão que abrissem a porta, esgotan<strong>do</strong> sucessivamente os meios persuasórios<br />

e violentos; foi preciso pedir o concurso da polícia que escalou os muros<br />

chegan<strong>do</strong> a surpreender os <strong>do</strong>is irmãos no momento que menos esperavam.<br />

Antônio foi interna<strong>do</strong> numa casa de saúde, só se restabelecen<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> seu delírio meses depois; algum tempo depois de sua cura, foi preciso<br />

interná-lo de novo, e desta vez no hospício onde se encontra atualmente.<br />

26 Dr. Márcio Néri: “História e patogenia da paranóia”, Rio de Janeiro, 1894. Tese de<br />

concurso, p. 59.

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