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A MORENINHA Joaquim Manuel de Macedo - Fundação Biblioteca ...

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lugar junto <strong>de</strong> sua neta, disse:<br />

- Aquela menina lhe po<strong>de</strong>rá divertir alguns instantes.<br />

- Mas, minha avó, exclamou a menina com prontidão, até o dia <strong>de</strong> hoje ainda não me supus<br />

boneca.<br />

- Menina!...<br />

- Contudo, eu serei bem feliz se pu<strong>de</strong>r fazer com que o senhor... senhor...<br />

- Augusto, minha senhora.<br />

- ... o Sr. Augusto passe junto a mim momentos tão agradáveis, como lhe foram as horas que<br />

gozou ao pé da Sra. D. Violante.<br />

Augusto gostou da ironia, e já se dispunha a travar conversação com a menina travessa, quando<br />

Fabrício se chegou a eles e disse a Augusto:<br />

- Tu me <strong>de</strong>ves dar uma palavra.<br />

- Creio que não é preciso que seja imediatamente.<br />

- Se a Sra. D. Carolina o permitisse, eu estimaria falar-te já. Por mim não seja... disse a menina<br />

erguendo-se.<br />

- Não, minha senhora, eu o ouvirei mais tar<strong>de</strong>, acudiu Augusto, querendo retê-la.<br />

- Nada... não quero que o Sr. Fabrício me olhe com maus olhos... Além <strong>de</strong> que, eu <strong>de</strong>vo ir<br />

apressar o jantar, pois leu no seu rosto que a conversação que teve com a Sra. D. Violante, quando mais<br />

não <strong>de</strong>sse, ao menos produziu-lhe muito apetite... mesmo um apetite <strong>de</strong>... <strong>de</strong>...<br />

- Acabe.<br />

- De estudante.<br />

E mal o disse, a travessa moreninha correu para fora da sala.<br />

4<br />

Falta <strong>de</strong> Con<strong>de</strong>scendência<br />

Fabrício acaba <strong>de</strong> cometer um grave erro e que para ele será <strong>de</strong> más conseqüências. Quem pe<strong>de</strong><br />

e quer ser servido, <strong>de</strong>ve medir bem o tempo, o lugar e as circunstâncias, e Fabrício não soube conhecer<br />

que o tempo, o lugar e as circunstâncias lhe eram completamente <strong>de</strong>sfavoráveis. Vai exigir que Augusto<br />

o aju<strong>de</strong> a forjar cruel cilada contra uma jovem <strong>de</strong> <strong>de</strong>zessete anos, cujo único <strong>de</strong>lito é ter sabido amar o<br />

ingrato com exagerado extremo. Ora, para conseguir semelhante torpeza, preciso seria que Fabrício<br />

aproveitasse um momento <strong>de</strong> loucura, um <strong>de</strong>sses instantes <strong>de</strong> capricho e <strong>de</strong> <strong>de</strong>lírio em que Augusto<br />

pensasse que ferir a fibra mais sensível e vibrante do coração da mulher, a fibra do amor, não é um<br />

crime, não é pelo menos louca e repreensível levianda<strong>de</strong>; é apenas perdoável e interessante divertimento<br />

<strong>de</strong> rapazes; e nessa hora não podia Augusto raciocinar tão indignamente. Ainda quando não houvesse<br />

nele muita generosida<strong>de</strong>, estava para <strong>de</strong>sarmá-lo o po<strong>de</strong>r indizível da inocência, o po<strong>de</strong>roso magnetismo<br />

<strong>de</strong> vinte olhos belos como o planeta do dia, a influência cativadora da formosura em botão, <strong>de</strong> beleza<br />

virgem ainda, <strong>de</strong> uma anjo, enfim, porque é símbolo <strong>de</strong> um anjo a virginda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma jovem bela.<br />

Mas Fabrício olvidou tudo, e mal, sem dúvida, terá <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> seu empenho com tantas<br />

contrarieda<strong>de</strong>s; o tempo não lhe é propício, porque Augusto começa a sentir todos os sintomas <strong>de</strong><br />

apetite <strong>de</strong>vorador. Ora, um rapaz, e principalmente um estudante com fome, se aborrece <strong>de</strong> tudo,<br />

principalmente do que lhe cheira a maçada. O lugar não menos lhe era <strong>de</strong>sfavorável, porque, diante <strong>de</strong><br />

um ranchinho <strong>de</strong> belas moças, quem po<strong>de</strong>rá tramar contra o sossego <strong>de</strong>las?... Então Augusto, dos tais<br />

que por semelhante povo são como formiga por açúcar, macaco por banana, criança por campainha... e<br />

ele tem razão! Por último, as circunstâncias também contrariavam Fabrício, pois a Sra. D. Violante

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