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A MORENINHA Joaquim Manuel de Macedo - Fundação Biblioteca ...

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- Agora?... graças ao seu lundu, juro que <strong>de</strong> hoje avante amarei a todas elas... morenas, coradas,<br />

pálidas, magras e gordas, cortesãs ou roceiras, feias ou bonitas... tudo serve. E, com efeito, minha<br />

senhora, continuou Augusto, dirigindo-se à Sra. D. Ana, fiz-me absolutamente um ser novo, graças ao<br />

lundu; guardando e beijando com <strong>de</strong>svelo o meu querido breve, que sempre comigo trago, eu conservo<br />

a lembrança mais terna e constante <strong>de</strong> minha mulher: ela é o amor <strong>de</strong> meu coração, enquanto todas as<br />

outras são o divertimento dos meus olhos e o passatempo <strong>de</strong> minha vida. Eis, finalmente, a história <strong>de</strong><br />

meus amores!... Tais foram as razões que me tornaram borboleta <strong>de</strong> amor.<br />

Terminando assim, Augusto ia respirar um instante, quando pela segunda vez lhe pareceu ouvir<br />

ruído na porta da gruta.<br />

- Alguém nos escuta, disse ele, como da outra vez.<br />

- É talvez uma nova ilusão... respon<strong>de</strong>u a digna hóspeda.<br />

- Não, minha senhora; eu ouvi distintamente a bulha <strong>de</strong> uma pessoa que corre, tornou Augusto,<br />

dirigindo-se à entrada da gruta e observando ao <strong>de</strong>rredor <strong>de</strong>la.<br />

- Então?... perguntou a Sra. D. Ana.<br />

- Enganei-me, na verda<strong>de</strong>.<br />

- Mas vê alguém?...<br />

- Apenas lá vejo a sua bela neta, a Sra. D. Carolina, que se precipita com a maior graça do<br />

mundo sobre uma borboleta que lhe foge e que ela procura pren<strong>de</strong>r.<br />

- Uma borboleta...<br />

9<br />

A Sra. D. Ana com suas Histórias<br />

Finalmente, o bom do estudante que, quando lhe dava para falar, era mais difuso que alguns <strong>de</strong><br />

nossos <strong>de</strong>putados novos na discussão do art. 1.º dos orçamentos, julgou <strong>de</strong>ver fazer pausa <strong>de</strong> suspensão;<br />

mas a Sra. D. Ana, que já tinha-o por vezes interrompido fora <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>, não quis tomar a<br />

palavra para respon<strong>de</strong>r, sem segurar-se, dirigindo-lhe estas palavras pela or<strong>de</strong>m:<br />

- Então concluiu, Sr. Augusto?...<br />

- Sim, minha senhora; e peço-lhe perdão por me haver tornado incômodo, pois fui, sem dúvida,<br />

tão minucioso em minha narração que eu mesmo tanto me fatiguei, que vou beber uma gota d’água.<br />

E isto dizendo, foi ao fundo da gruta, e enchendo o copo <strong>de</strong> prata na bacia <strong>de</strong> pedra, o esgotou<br />

até ao fim; quando voltou os olhos, viu que a boa hóspeda estava rindo-se maliciosamente.<br />

- Sabe <strong>de</strong> que estou rindo?... disse ela.<br />

- Certamente que não o adivinho.<br />

- Pois estava neste momento lembrando-me <strong>de</strong> uma tradição muito antiga, seguramente fabulosa,<br />

mas bem apropositada <strong>de</strong>ssa fonte, e que tem muita relação com a história <strong>de</strong> seus amores e com o copo<br />

d’água que acaba <strong>de</strong> beber.<br />

- V. S. põe em tributo a minha curiosida<strong>de</strong>...<br />

- Eu o satisfaço com todo o prazer.<br />

A Sra. D. Ana principiou.<br />

As Lágrimas <strong>de</strong> Amor<br />

- Eu lhe vou contar a história das lágrimas <strong>de</strong> amor, tal qual a ouvi a minha avó, que em pequena<br />

a apren<strong>de</strong>u <strong>de</strong> um velho gentio que nesta ilha habitava.

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