25.08.2013 Views

No. 2 ? 2003

No. 2 ? 2003

No. 2 ? 2003

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LEITURAS DE WALLERSTEIN, ARRIGHI E ELIAS SOBRE A ASCENSÃO DAS POTÊNCIAS HEGEMÔNICAS 103<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ Leonardo Weller<br />

Entretanto, podemos fazer uma análise no mesmo sentido com um fundo qualitativo.<br />

Tomando o caso da Grã-Bretanha, a construção de sua hegemonia no século XIX baseou-se<br />

em transformações políticas, econômicas e sociais dentro de si. O novo papel diplomático<br />

desempenhado pelos ingleses na Europa, administrando o balanço de poder centrado na<br />

Santa Aliança, e a liberalização comercial unilateral já na segunda década do século e<br />

principalmente a partir da revogação da Lei do Trigo em 1847 foram algumas das principais<br />

mudanças apontadas por Arrighi como necessárias na reorganização do sistema mundial à<br />

época. Essas transformações chocaram-se com interesses e tradições de grupos dentro daquele<br />

país. Para interferir de maneira decisiva na política da Europa, contribuindo diretamente na<br />

construção e manutenção de seu novo balanço de forças a partir da derrota de Napoleão, os<br />

ingleses passaram por cima de sua tradição de relativo isolamento em relação ao continente<br />

e de resistências a alianças com potências autárquicas por partes dos mais liberais (Watson,<br />

1986, p. 238-250). A liberalização unilateral do comércio suscitou reação de boa parte dos<br />

produtores agrícolas da ilha, temerosos frente à possibilidade de falirem ao enfrentarem<br />

competição externa (Hobsbawm, 1968, p. 77-86). Mas apesar das resistências, essas mudanças<br />

foram levadas a cabo, dando sustentação à organização do que Wallerstein e Arrighi chamam<br />

de ciclo britânico de acumulação.<br />

Se se concentra nos EUA do pós-guerra, vê-se que a criação do chamado “complexo<br />

militar industrial”, a disposição do dólar como centro do sistema monetário internacional<br />

sob o acordo de Bretton Woods, a liderança na criação de diversos organismos multilaterais,<br />

e a intervenção militar em países como Coréia e Vietnã equivaleram à reversão da tradição<br />

isolacionista norte-americana. A postura de Washington frente ao mundo mudava<br />

radicalmente após 1945. Tratava-se de algo novo, em um forte contraste com o entre-guerras,<br />

quando os EUA retiraram-se da Liga das Nações; as tropas daquele país foram reduzidas ao<br />

ínfimo patamar de 1917 após a paz de 1919 (Kennedy, 1989, p. 269); e tentou-se resolver<br />

crises como a da hiperinflação alemã com aportes de libra e não de dólar, moeda na qual o<br />

sistema financeiro internacional já se baseava (Kindleberger, 1984, p. 289). Romper o<br />

isolacionismo em Washington implicou mudanças nas instituições e no pensamento político<br />

norte-americano, a despeito daqueles que ainda preferiam se abster dos conflitos fora das<br />

Américas.<br />

Ou seja, a criação de uma estrutura diplomática, militar e econômica poderosa o<br />

bastante para permitir que a potência hegemônica exerça sua influência frente aos demais<br />

países do sistema e reorganize o sistema mundial é uma tarefa formidável, capaz de suscitar<br />

resistência de grupos de poder, situados no interior da própria potência e reticentes às<br />

mudanças necessárias para sua ascensão hegemônica. Podemos, desse modo, escrever nossa<br />

segunda crítica da seguinte forma: no ambiente de caos sistêmico, nada garante que a promessa<br />

de ganhos financeiros futuros seja responsável pela anulação, no interior da futura potência

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!