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No. 2 ? 2003

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O ATLÂNTICO SUL COMO ESPAÇO DE POSSIBILIDADES ENTRE O CONE SUL E A ÁFRICA AUSTRAL<br />

31<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ Pio Penna Filho<br />

caráter essencialmente particular e que não havia qualquer entendimento formal sobre a<br />

matéria. 21<br />

Seguindo instruções do Itamaraty, o Embaixador brasileiro em Washington, Mario<br />

Gibson Barboza, efetuou gestões junto ao Subsecretário de Estado norte-americano,<br />

Embaixador Charles E.Johnson, a fim de obter sua opinião sobre a propalada iniciativa sulafricana.<br />

Certamente, o Itamaraty, ao instruir Gibson Barboza a assim proceder, estava se<br />

precavendo e reunindo elementos para uma avaliação mais completa dos possíveis<br />

desdobramentos da proposta de Pretória. Indagado sobre o assunto, Johnson ponderou duas<br />

questões ao Embaixador brasileiro. Em primeiro lugar, disse que as autoridades norteamericanas<br />

não tinham “qualquer indicação a respeito de que a frota soviética possa apresentar<br />

ameaça à rota do Atlântico Sul, nem mesmo de que tenha sido observada a presença de<br />

qualquer navio de guerra russo na região”, o que desqualificava, na visão dos Estados Unidos,<br />

a justificativa apresentada pelos sul-africanos – e também pela Marinha de Guerra do Brasil<br />

– de que o Atlântico Sul estava prestes a ser importunado pela presença bélica soviética. Em<br />

segundo lugar, apresentou uma visão crítica com relação ao verdadeiro objetivo da África do<br />

Sul na questão da cooperação militar, e firmemente defendida nesta tese de que o que realmente<br />

estava por detrás da idéia da criação de um Pacto do Atlântico Sul era “quebrar o isolamento<br />

em que se encontra, valendo-se da companhia de países que gozam de bom conceito na<br />

comunidade internacional, ainda que isto possa vir a custar, a esses mesmos países, certo<br />

desgaste”. Tal pensamento foi amadurecido no Itamaraty e se transformou num princípio a<br />

ser adotado frente a qualquer sugestão de pacto militar envolvendo o Atlântico Sul e o Brasil,<br />

mas não sem algum desgaste em suas relações com o Ministério da Marinha. 22<br />

A lógica apresentada pelo Subsecretário norte-americano era bem apropriada. Observase<br />

nitidamente que os sul-africanos tentaram envolver os países citados na negociação do<br />

Pacto, inserindo a justificativa da ação no jogo da Guerra Fria, uma vez que tentaram se<br />

apropriar do conflito bipolar com objetivos particulares muito claros. A ameaça soviética ao<br />

Atlântico Sul (na verdade inexistente) foi utilizada como argumento para que outros países<br />

entrassem em acordo com a África do Sul para a defesa da rota do Cabo; no entanto, em<br />

termos concretos, o maior objetivo era abrir uma brecha no cerco internacional imposto ao<br />

regime do apartheid.<br />

A África do Sul também tentou envolver Portugal como país a ser inserido no Pacto,<br />

além de transformá-lo num aliado de sua causa para ajudar a convencer os países da OTAN<br />

e o Brasil da necessidade da defesa do Atlântico Sul. Destarte, de Pretória, Taunay informou<br />

ao Ministério das relações Exteriores que “soube de fonte absolutamente segura” que há<br />

tempos o Ministro Muller vinha solicitando os bons ofícios da diplomacia portuguesa para<br />

dar prosseguimento às discussões da cooperação militar no Atlântico Sul. 23

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