No. 2 ? 2003
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O ATLÂNTICO SUL COMO ESPAÇO DE POSSIBILIDADES ENTRE O CONE SUL E A ÁFRICA AUSTRAL<br />
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○ Pio Penna Filho<br />
apreensões de Pretória se voltavam contra o suporte que a esquadra soviética poderia propiciar<br />
aos movimentos guerrilheiros da África Austral e, também, pelo temor de que tal presença<br />
pudesse apressar o fim do colonialismo português, deixando mais expostas as fronteiras do<br />
país para a ação de guerrilheiros vindos do norte. Neste particular, merece menção o<br />
pensamento das lideranças sul-africanas, que mais de uma vez expressaram que o objetivo<br />
último dos soviéticos na África era a conquista da África do Sul, por meio da subversão<br />
interna, uma vez que sua posição estratégica e seus ricos recursos minerais poderiam renovar<br />
o poder da União Soviética no plano mundial.<br />
Associando, pois, a ameaça comunista que pairava sobre o continente africano, e<br />
também sobre o seu próprio território8 , com sua necessidade de romper o isolamento<br />
internacional, o governo sul-africano primeiramente tentou convencer a Austrália e a <strong>No</strong>va<br />
Zelândia das vantagens mútuas que poderiam advir de uma colaboração mais estreita entre<br />
os três países, sobretudo porque havia conexões que poderiam ser estabelecidas entre os<br />
aspectos militares e a conjugação de esforços no plano econômico-comercial, haja vista que<br />
os três países tinham produção e mercados similares. Em 1968, por exemplo, uma missão<br />
comercial australiana foi enviada à África do Sul, a qual foi vista por círculos políticos sulafricanos,<br />
especialmente aqueles ligados ao governo, como o primeiro passo para um<br />
entrosamento mais estreito entre os dois países, e que poderia mais tarde abranger também<br />
a <strong>No</strong>va Zelândia. 9<br />
Contudo, um ano mais tarde, em 1969, quando o assunto relativo à cooperação militar<br />
envolvendo países do hemisfério sul veio à tona, o governo australiano negou qualquer tipo<br />
de associação militar com a África do Sul, tão logo surgiram as primeiras notícias de que<br />
poderia estar em andamento a formação de um sistema de cooperação militar. 10 Não logrou,<br />
portanto, a África do Sul estabelecer qualquer vínculo de natureza militar com a Austrália<br />
ou <strong>No</strong>va Zelândia, dois países que poderiam fazer parte de algum esquema de segurança<br />
para defesa do Índico. 11<br />
A Marinha brasileira, contudo, encontrou no Itamaraty um ferrenho crítico da aproximação<br />
militar com a África do Sul. Com uma visão política mais abrangente, que ia muito além do<br />
tema da defesa do Atlântico Sul em seus aspectos estritamente militares e da ameaça<br />
comunista encarada quase que exclusivamente sob a ótica militar, o Ministério das Relações<br />
Exteriores do Brasil via com grande preocupação os contatos que começaram a ocorrer<br />
envolvendo as duas Armadas. Por sua vez, a diplomacia sul-africana trabalhava com afinco<br />
para conseguir efetivar uma cooperação ampla, que contemplasse os interesses militares.<br />
Foi em Simonstown, em abril de 1969, que se realizaram as conversações “informais”<br />
entre os oficiais da Marinha do Brasil e os sul-africanos. Segundo o relato enviado pela<br />
Legação brasileira, o Almirante Rocha informou ao Almirante Bierman a existência de um<br />
sistema de troca de informações entre as marinhas do Brasil, Argentina e Uruguai. De acordo