No. 2 ? 2003
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PARA QUE O BRASIL PRECISA DE FORÇAS ARMADAS? 67<br />
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○ João Paulo Soares Alsina Jr.<br />
para a gestão da “massa falida” 26 , o que pode justificar a sua manutenção? Diante disso, qual<br />
é a sua instrumentalidade? Seria a retenção de forças armadas um investimento social<br />
justificável independentemente de sua eficácia relativa? Se a resposta for afirmativa, será<br />
que aplicar quase 27 bilhões de reais por ano27 para a subsistência de cerca de 250.000<br />
militares, boa parte deles oriundos da classe média, constituiria a melhor utilização dos<br />
recursos empregados?<br />
É importante notar que a ignorância a respeito de temas relacionados à defesa não se<br />
resume às elites políticas e à massa da população, sendo também apreciável na academia.<br />
Nesta, ainda há grande desconfiança no que toca à abordagem da temática militar. Nas<br />
palavras de Proença e Diniz:<br />
…a luta pela democracia marcou muitos dos estudiosos brasileiros com um posicionamento<br />
anti-militarista que nem sempre soube distinguir entre o papel ilegítimo que as instituições<br />
militares ocuparam como governantes e o seu papel legítimo como ferramentas políticas do<br />
Estado. Estes posicionamentos persistem de forma inercial e acrítica, inclusive depois de superados<br />
os principais obstáculos políticos que os promoveram e os explicaram. 28<br />
A consideração acima é crucial para o entendimento da ausência generalizada de<br />
compreensão sobre a instrumentalidade das forças armadas no Brasil, uma vez que o mundo<br />
acadêmico, teoricamente mais capacitado para analisar de forma crítica a realidade nacional,<br />
deveria estar apto a lidar com as questões relacionadas à defesa, importantes para a inserção<br />
internacional do País. Esse, contudo, não é o caso. 29 Em um ambiente intelectual rarefeito,<br />
persiste de maneira difusa uma determinada visão que, ao negar a conveniência da pura e<br />
simples extinção de Marinha, Exército e Aeronáutica (embora haja quem defenda essa tese),<br />
as priva de qualquer utilidade prática no campo da defesa: a importância da manutenção<br />
das forças singulares residiria não na necessidade de o Estado contar com um instrumento<br />
de dissuasão ou de projeção de poder no plano internacional (funções de todo “inúteis”<br />
para o Brasil, um país “pacífico”), mas tão somente no papel social desempenhado pelas<br />
instituições castrenses, por exemplo, por meio do serviço militar obrigatório. Por meio<br />
deste, que incorpora a cada ano apenas 5% da população masculina que completa 18 anos,<br />
seria possível ensinar uma “profissão”, permitir que jovens carentes “tirem carteira de<br />
motorista” ou mesmo que aprendam “a escovar os dentes”. 30 Em perspectiva análoga, diante<br />
da grave crise por que passam as instituições brasileiras responsáveis pela segurança pública,<br />
muitas vozes, tão influentes quanto irresponsáveis, têm defendido a transformação das<br />
forças armadas em gendarmeries, forma de conferir “utilidade” à caserna. Desnecessário<br />
afirmar que as conseqüências colaterais de uma decisão desse tipo não são sequer esboçadas<br />
por seus defensores.