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No. 2 ? 2003

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GILBERTO FREYRE E A IMAGEM DO BRASIL NO MUNDO 47<br />

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○ Hugo Rogélio Suppo<br />

curiosidade e interesse em relação à ciência e à cultura brasileiras. Até então, a imagem do<br />

Brasil era negativa, sobretudo na Argentina, onde, por influência de Carlos Octavio Bunge,<br />

o Brasil era considerado inferior culturalmente, e até mesmo biologicamente, por causa da<br />

numerosa população negra. À imagem tradicional do Brasil como “um país de gente toda<br />

mole, de negros indolentes, de mestiços dorminhocos vencidos pelo clima ou pela natureza<br />

tropital, de indivíduos inativos e quase o dia inteiro deitados à sombra do arvoredo tropical” 35 ,<br />

sobrepõe-se, doravante, uma outra imagem: a de um país moderno. Um novo Brasil emergiu<br />

com “altas formas de vida civilizada”, resultado, sobretudo, das reformas realizadas pelo<br />

governo Vargas. Esse novo Brasil, segundo Freyre, é simbolizado por:<br />

Manguinhos, Butantan, Os Sertões, Santos Dumont, Joaquim Nabuco, a Estrada de Ferro<br />

Paulista, Carlos Gomes, o Barão de Rio Branco, a música de Vilalobos, as Obras contra as secas,<br />

os trabalhos de saneamento da Baixada Fluminense, o desenvolvimento da aeronáutica militar e<br />

civil no nosso país, a obra jurídica de Teixeira de Freitas, a nova legislação social do nosso país,<br />

o Museu Nacional, a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico do Rio, o esforço do general Rondon<br />

entre os indígenas do Centro e do Amazonas. 36<br />

Do ponto de vista político, Gilberto Freyre adverte que tanto o “herrerismo” uruguaio,<br />

como o “rosismo” argentino e o “franquismo” paraguaio são mais “antipáticos que simpáticos<br />

ao espírito político brasileiro, no qual enxergam ora tendências ‘imperialistas’ na América<br />

do Sul, ora expressão de tendências moralmente inferiores que associam principalmente à<br />

mestiçagem.” O Brasil deveria, então, e Gilberto Freyre está nisso profundamente empenhado,<br />

vencer um certo complexo de inferioridade valorizando progressivamente sua cultura e<br />

mestiçagem e construindo uma civilização moderna. Por outro lado, o movimento de<br />

hispanidad, legítimo e fundamentado em uma cultura comum, serve freqüentemente aos<br />

interesses nazistas “interessados em desenvolver na América uma política da má vizinhança<br />

que neutralize à de ‘boa vizinhança’”. 37<br />

O problema geral das relações inter-americanas de cultura é de tal complexidade que<br />

exige, alerta Gilberto Freyre, a criação de um orgão especial que coordene as atividades do<br />

Ministério da Educação e de outros ministérios, como os da Agricultura e do Exterior. Dessa<br />

forma, cada ministério deveria desenvolver atividades para mostrar ao resto da América<br />

Latina o valor da cultura brasileira. Por exemplo, o Serviço de Proteção aos Índios,<br />

subordinado ao Ministério da Agricultura, poderia ser apresentado como um modelo da<br />

“moderna técnica brasileira de lidar com o problema das populações indígenas e de sua<br />

incorporação ao todo nacional”, e servir de guia entre os povos da América do Sul que<br />

enfrentam os mesmos problemas. O Brasil poderia irradiar aos outros países seus progressos<br />

na área dos estudos dos problemas de ecologia humana e de antropologia. O Brasil é um<br />

exemplo bem sucedido do ajuste entre as classes e raças, e na valorização social do mestiço

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