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No. 2 ? 2003

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GILBERTO FREYRE E A IMAGEM DO BRASIL NO MUNDO 41<br />

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○ Hugo Rogélio Suppo<br />

A problemática da política cultural ou da ação cultural é, em consequência, cada vez<br />

mais considerada no âmbito do estudo das relações internacionais como questão-chave para<br />

explicar a complexidade das mesmas.<br />

Entretanto, a dimensão cultural é um tema praticamente ausente nos estudos<br />

brasileiros de Relações Internacionais. <strong>No</strong> Brasil, nota Amado Cervo, nunca se conferiu ao<br />

“elemento psicossocial ou cultural” a importância necessária, preferindo-se desenvolver<br />

estudos mais típicos de um país do terceiro-mundo: “as relações existentes entre política<br />

internacional e dominação ou dependência internacional, entre política internacional e<br />

estágios diferenciados de desenvolvimento”. 1<br />

Dessa forma, os temas dominantes foram o estudo das fronteiras, a política exterior<br />

da República Velha, o papel das elites e do Parlamento, as relações econômicas com o exterior,<br />

a dimensão internacional da questão amazônica, as relações com a África e com a Itália. 2<br />

Somente alguns trabalhos publicados nos anos 1990 e injustamente esquecidos na lista acima,<br />

preparada pelo professor Amado Cervo, integraram a dimensão cultural. Por exemplo, os<br />

trabalhos de Gerson Moura 3 , Mônica Hertz 4 e José Flávio Sombra Saraiva que, em seus<br />

estudos sobre as relações Brasil-África, coloca o discurso culturalista no cerne da elaboração<br />

de uma política brasileira para o continente africano5 .<br />

A construção de uma certa imagem do Brasil no mundo<br />

Em seminário organizado pelo Itamaraty, em abril de 1988, sobre “Relações Culturais<br />

e Política Externa”, foi constatado que a pluralidade cultural brasileira dificultava a montagem<br />

de uma política cultural. Qual seria a imagem do Brasil a ser difundida no exterior? O<br />

Brasil, conclui laconicamente o documento final, “não possui de antemão nenhuma imagem<br />

a incentivar ou a combater. Não há um ‘postulado’ que possa orientar a diplomacia cultural<br />

brasileira”. 6<br />

Entretanto, essa visão pessimista sobre o capital cultural brasileiro nem sempre<br />

predominou entre os policy makers do Itamaraty. Em trabalho anterior7 , demostrou-se como<br />

o Estado e as elites brasileiras haviam, nos anos 1930, montado os mecanismos da propaganda<br />

cultural brasileira no exterior em consonância com os mecanismos de propaganda interna<br />

do regime. Nas páginas seguintes analisaremos o processo de elaboração de uma certa imagem<br />

do Brasil e o papel que nele desempenhou Gilberto Freyre.<br />

Segundo Lúcia Lippi Oliveira, o Estado <strong>No</strong>vo desenvolve um verdadeiro projeto<br />

cultural de construção de uma identidade nacional, alicerçada nos modelos culturais<br />

regionais, “fazendo-os conviver em um novo projeto ufanista de Brasil”. O regime, que se<br />

autodefine como “novo” e “nacional”, pretende não só modernizar o país, mas também revelar<br />

e defender as “verdadeiras raízes da nacionalidade”. Nesse sentido, os valores tradicionais<br />

presentes nos temas regionais são resgatados.

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