No. 2 ? 2003
No. 2 ? 2003
No. 2 ? 2003
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
GILBERTO FREYRE E A IMAGEM DO BRASIL NO MUNDO 49<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○ Hugo Rogélio Suppo<br />
A participação na política interna do Brasil se alia com uma ativa participação na<br />
política externa como evocado. Em 1948, a Unesco convoca em Paris uma conferência,<br />
conhecida como o “Conclave dos Oito”, na qual oito grandes especialistas em Ciências do<br />
Homem se reúnem para estudar as tensões susceptíveis de provocar guerras no plano<br />
internacional e, sobretudo, no plano nacional. Gilberto Freyre é escolhido como o<br />
representante das chamadas “áreas não-européias”. Logo a seguir, em 1949, é designado pelo<br />
governo brasileiro como membro da Comissão Social e Cultural na Assembléia-Geral das<br />
Nações Unidas. 40<br />
Como vimos, a preocupação constante de Gilberto Freyre, político e escritor, é a<br />
construção de uma política cultural brasileira. Após uma viagem de mais de seis meses (de<br />
agosto de 1951 a fevereiro de 1952) entre a metrópole portuguesa e suas colônias do Ultramar,<br />
a convite oficial do então ministro do Ultramar de Portugal, Manuel Maria Sarmento<br />
Rodrigues, escreve: “Quando se convencerá o Brasil de que é um dos líderes - se não for, sob<br />
vários aspectos, o principal líder - das modernas civilizações tropicais? É tese que sustento<br />
há anos”. 41<br />
Nesse sentido, chega até a indicar as grandes linhas de um “programa de projeção<br />
internacional de cultura brasileira”. Trata-se de “fazer sentir pacificamente sua presença<br />
fraterna entre grupos ameaçados em sua cultura e em sua economia por pressões de culturas<br />
e economias expansionistas ou imperialistas.” Não se trata de desenvolver uma política<br />
imperialista, como a da Rússia ou a da China, mas de apresentar o Brasil como “um parente,<br />
senão rico, remediado, dos povos lusotropicais da Ásia e da África e na obrigação de auxiliar<br />
os pobres com a sua melhor ciência médica”. 42<br />
O Brasil deveria difundir sua literatura, medicina, arquitetura e, em especial, sua<br />
música, “uma das expressões mais vigorosas e mais originais de sua cultura lusotropical” 43 .<br />
Entretanto, Freyre critica aqueles que pretendiam, no embalo das idéias nacionalistas do<br />
Estado <strong>No</strong>vo, dar outro nome à língua falada no Brasil:<br />
[É] mesquinho o nacionalismo daqueles brasileiros que se batem por uma língua estreita e<br />
nacionalmente brasileira, em susbsituição da transnacionalmente portuguesa, Tão mesquino é<br />
este nacionalismo de língua como o “separatismo” político de alguns luso-indianos, de alguns<br />
luso-moçambicanos e de alguns luso-angolanos. 44<br />
Critica freqüentemente o Itamaraty lamentando que não houvesse no comando um<br />
novo barão do Rio Branco. Em lugar de promover “valores brasileiros de cultura” e<br />
personalidades do Brasil, o Itamaraty:<br />
[...] guarda quase toda a publicidade de que é capaz para os campeões de futebol e os<br />
cantores de rádio “ gente nada desprezível como valores de cultura, admito, dentro de um