No. 2 ? 2003
No. 2 ? 2003
No. 2 ? 2003
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A NEGOCIAÇÃO CULTURAL NA ASSISTÊNCIA CONSULAR A IRUAN EM TAIWAN<br />
111<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○ Paulo A. Pereira Pinto ·<br />
Em contrapartida, tanto a família, quanto as autoridades taiwanesas, concediam-me<br />
tratamento de respeito “ mesmo não havendo relações diplomáticas, nem consulares, entre<br />
nosso País e a Ilha. Deixavam claro, assim, que esperavam de mim um comportamento dentro<br />
dos parâmetros vigentes para a atuação de um representante estrangeiro, sem interferência<br />
nos assuntos internos da sociedade que o recebe.<br />
Cabe observar, ainda, que negociadores chineses buscam colocar o adversário, em<br />
situação de tomada de decisão, sob pressão permanente, se possível do tipo “pegar ou largar”,<br />
para, em seguida, adotar nova postura, com indicação de que, na verdade, não atribuíam<br />
tanta importância à exigência que haviam acabado de fazer.<br />
O “Jeito Asiático”<br />
Na perspectiva do que foi mencionado, cabe registrar que, de repente, Iruan<br />
encontrou-se numa sociedade onde não se resolveu a equação que combina a preservação de<br />
sua própria identidade cultural com o respeito a direitos individuais reconhecidos<br />
universalmente. A criança brasileira viu-se, repentinamente, submetida a costumes de uma<br />
terra desconhecida, descritos como o “jeito asiático”.<br />
Já se tornou lugar-comum, a propósito, dizer que o fenômeno avassalador da<br />
globalização tem influenciado a reorganização dos sistemas político e econômico mundiais,<br />
aumentado a divisão da produção internacional, ditando uma cultura uniforme com<br />
características ocidentais e determinando a inserção das diferentes regiões do mundo em<br />
novo ordenamento mundial. Para fazer face a esse tipo de desafio, países na Ásia-Pacífico e<br />
o Brasil buscam proteger suas identidades culturais das conseqüências da globalização.<br />
Pessoas naquela parte do mundo e na nossa efetuam grandes esforços para entender a<br />
sociedade em que vivem como parte de um escudo protetor para suas aspirações e interesses<br />
individuais e coletivos.<br />
A pressão desse fenômeno de caráter mundial sobre a identidade cultural leva países<br />
asiáticos e o Brasil a buscarem um conjunto de valores que lhes permita consolidar suas<br />
crenças, hábitos e ideais, herdados por meio de uma história compartilhada. Na medida em<br />
que seja bem sucedido, o fortalecimento de interesses comuns a seus cidadãos fornecerá a<br />
esses países agendas de preocupações próprias, em oposição à réplica, dentro de suas<br />
fronteiras, de parâmetros culturais da América do <strong>No</strong>rte e Europa.<br />
Encontrei-me, assim, ao negociar a questão do menino em Taiwan diante da situação<br />
de buscar, por meio da prestação de assistência consular, a intermediação entre diferentes<br />
agendas de oportunidades e desafios, enquanto tentava encontrar interesses comuns, tudo<br />
em benefício da causa da luta pelo retorno de Iruan ao Brasil.