No. 2 ? 2003
No. 2 ? 2003
No. 2 ? 2003
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
64 PARA QUE O BRASIL PRECISA DE FORÇAS ARMADAS?<br />
64<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○ João Paulo Soares Alsina Jr.<br />
da ESG, está ainda por se realizar a tarefa de formulação de novas ferramentas conceituais<br />
adaptadas à realidade contemporânea. Para tanto, seria preciso romper com a perspectiva<br />
objetivista e funcionalista da segurança atualmente empregada, estar disponível ao diálogo<br />
com a academia e entender o conflito como elemento inevitável da vida em sociedades<br />
democráticas.<br />
Da mesma forma, as crises financeira e de identidade, vivenciadas de forma aguda a<br />
partir do final da década de 80, aumentaram as dificuldades das forças armadas em evoluir<br />
no campo das doutrinas de emprego22 – aqui consideradas outra dimensão do aspecto<br />
conceitual. É certo que a obsolescência material, já mencionada, contribuiu para a<br />
obsolescência doutrinária. Sem equipamentos atualizados, sem recursos, sem clareza de<br />
objetivos e sem direção política, não há registro de nenhum avanço significativo no que se<br />
refere à reformulação do aparato de conceitos relacionado ao emprego objetivo da força<br />
armada. Esse fato seria grave, por si só, se o atual momento histórico não se caracterizasse<br />
por uma exponencial aceleração das transições tecnológicas no setor de defesa, algo admitido<br />
até mesmo pelos críticos da idéia de que estaria em curso uma revolução nos assuntos<br />
militares (RAM) 23 . Logo, a incapacidade brasileira de avançar de modo consistente no plano<br />
doutrinário reveste-se de colorações lúgubres, uma vez que implica o aumento cada vez<br />
maior do fosso que separa as forças armadas brasileiras daquelas existentes no mundo<br />
desenvolvido – fosso esse já suficientemente notável em função do gap tecnológico. Ademais,<br />
a alienação da sociedade civil e do poder político em relação aos assuntos de defesa, acoplada<br />
ao insulamento burocrático da caserna, reforça o desinteresse generalizado pela compreensão<br />
e crítica das táticas e estratégias adotadas por cada uma das forças singulares (raramente<br />
externadas por Marinha, Exército e Aeronáutica24 ). Evidentemente, há aspectos táticos e<br />
estratégicos que não podem ser discutidos publicamente sob pena de fornecerem informações<br />
sensíveis a potenciais adversários. <strong>No</strong> entanto, em nosso País praticamente inexiste debate<br />
público sobre as linhas gerais das opções táticas e estratégicas de cada força singular (que<br />
podem ser inferidas a partir de suas respectivas estruturas). Quando se pensa no plano<br />
agregado, a situação é ainda pior. Nada se sabe a respeito de qual seria a estratégia militar<br />
brasileira em situações de conflito, nem mesmo em seus lineamentos mais genéricos. É<br />
sabido que o antigo Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) era o responsável por produzir<br />
um documento reservado sobre a estratégia militar brasileira e há notícias de que o MD<br />
teria aprovado, no fim de 2002, uma nova versão desse documento. <strong>No</strong> entanto, não houve<br />
qualquer manifestação pública sobre seus contornos. Tendo em vista a diminuta experiência<br />
das forças armadas brasileiras em operações conjuntas, torna-se difícil imaginar como possa<br />
haver uma estratégia militar coerente sem o lastro de uma doutrina de emprego combinado<br />
minimamente consolidada.