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h história <strong>de</strong> capa<br />
Essa valorização da realida<strong>de</strong> está também reflectida nos seus<br />
retratos <strong>de</strong> figuras conhecidas, on<strong>de</strong> nunca se vê a pose, mas<br />
sim uma espécie <strong>de</strong> apanhados. E qualquer semelhança com a<br />
fotografia contemporânea não é pura coincidência. Em criança,<br />
estava muitas vezes doente e, sem televisão, <strong>de</strong>senhava, ouvia rádio<br />
e colava imagens <strong>de</strong> estrelas <strong>de</strong> cinema em redor da sua cama. Mais<br />
tar<strong>de</strong>, disse que este foi um período fundamental na sua formação,<br />
para se tornar no artista pop tal como o conhecemos.<br />
Viria a recorrer na sua arte a colagens, à serigrafia, cores fortes,<br />
ao recurso <strong>de</strong> materiais e objectos comuns, técnicas na altura<br />
ousadas, agora tão exploradas. Latas <strong>de</strong> sopa, embalagens <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>tergente, uma nota <strong>de</strong> dólar, a garrafa da Coca-Cola, quanto mais<br />
banal o objecto, melhor. No fundo, a essência da pop art espelhase<br />
até hoje. «O múltiplo artístico – serigrafia, gravura, litografia<br />
– representa o veículo <strong>de</strong> excelência para levar a arte ao convívio<br />
directo com um mais vasto público e para a criação <strong>de</strong> novos<br />
coleccionadores. Warhol, que estudou artes gráficas aplicadas,<br />
começou a utilizar a serigrafia criativamente em 1962, potenciando<br />
as suas virtu<strong>de</strong>s e gerando imagens <strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> formal mas<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto visual e cromático», reforça João Prates. E<br />
prossegue: «A serigrafia acabou por ser a sua técnica preferencial,<br />
concordante com os processos <strong>de</strong> multiplicação da emergente<br />
cultura <strong>de</strong> massas, e muito contribuiu para a difusão do objecto<br />
artístico na socieda<strong>de</strong> americana, com eco na restante cultura<br />
oci<strong>de</strong>ntal.»<br />
Também no cinema, escolhia temas comuns: realizou filmes<br />
experimentais, propositadamente simples e aborrecidos, como Sleep,<br />
que era nada mais do que a filmagem, durante oito horas seguidas,<br />
<strong>de</strong> um homem a dormir; ou Empire, em que filmou o Empire State<br />
Building do nascer ao pôr-do-sol. E quantos realizadores não lhe<br />
seguiram o exemplo?<br />
Em 1968, foi baleado com gravida<strong>de</strong>, mas sobreviveu<br />
para contar. Estava no seu estúdio, quando Valerie<br />
Solanas entrou e disparou três vezes na sua direcção.<br />
Solanas era escritora e conhecia já Warhol, tendo<br />
entrado, inclusive, em dois dos seus filmes, I, a Man e<br />
Bikeboy. Horas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste atentado, morria assassinado<br />
Bobby Kennedy, um facto que roubou a atenção mediática ao<br />
inci<strong>de</strong>nte do artista. Dedicou-se, <strong>de</strong>pois disso, a criar a revista<br />
Interview e a apoiar jovens artistas em início <strong>de</strong> carreira. E é em<br />
1987, <strong>de</strong>vido a complicações após uma operação à vesícula, que a<br />
sua história tem um <strong>de</strong>sfecho trágico. Na última sala da exposição<br />
Warhol TV os bancos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira corridos convidam a sentar para se<br />
ver The Last Show, o elogio fúnebre do artista, por on<strong>de</strong> passam caras<br />
que ele imortalizou quer nos seus programas, quer nos quadros.<br />
Desta vez, ele foi apenas o trágico protagonista, impossibilitado <strong>de</strong><br />
produzir ou realizar os seus últimos 15 minutos <strong>de</strong> fama. «A morte<br />
po<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> vocês estrelas», disse um dia.<br />
Muitas são as críticas por Warhol ser um artista puramente<br />
comercial e nada conceptual. É tido também como egocêntrico,<br />
um <strong>de</strong>slumbrado com os holofotes da fama, mas é completamente<br />
inegável a estrutura que, ainda hoje, se move em torno do seu nome,<br />
da sua visão e da sua arte. Não enriqueceu com a televisão e até<br />
Cx<br />
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