10 Milénio... Às Sextas-feiras, bem pertinho de si! De 29 de Junho a 5 de Julho de 2012 Portugal, 0 - Espanha, 0. (2-4 gp) O insuportável tom de injustiça no adeus maldito Injustiça. Escreveríamos a palavra da cabeça aos pés da crónica. Injustiça. A maldição das grandes penalidades inquinou o sonho do título português. Foi corrosiva, maliciosa, esmagou a bola de João Moutinho <strong>nas</strong> mãos de Casillas e a bomba de Bruno Alves no ferro. É duro, ainda mais duro, o adeus indesejado por duas partes. O Euro2012 merecia mais Portugal, Portugal merecia mais Euro2012. Injustiça. Lágrimas de comoção, o sal de Portugal a escorrer pela face deste torneio maravilhoso. Chorar, chorar pela consolidação total, pelo sorriso triturado num detalhe, pela infelicidade agora invasora e ingrata. Como cresceu este Portugal, como foi capaz de bloquear o tiki e anular o taka. Ver o pequeno Moutinho ser Golias, ver um Pepe versão King-Kong a espantar-espanhóis, ver um Portugal mais convincente do que nunca e... perder. Duro. Tudo o que podia ser feito, foi feito. Repressão caótica às forças de todo o mal, campeãs da Europa, conquistadoras do Mundial. E a Seleção Nacional irredutível, até ao fim. Todo o rumor de perigo, toda a intenção inquisidora facilmente desmontável por um bloco sólido, granítico, competente <strong>nas</strong> várias questões levantadas por um jogo exigente, árduo, robusto. Não nos enganemos. Portugal nunca esperou pelas más notícia e jamais se conformou com o pré-aviso de catástrofe. Não. Quis ser igual aos melhores e foi. Os olhos da fortíssima armada espanhola encontraram os da temível nau portuguesa, a circum-navegação enredou-se no mapa do jogo e o conflito revelou-se indefinível. Podia ter acabado aos 89 minutos num eclodir perfeito. Contra-ataque desenhado com finura, Cristiano Ronaldo a fugir pela esquerda, a ter a baliza de Casillas pronta a entregar-se e a rematar por alto. Que pena Portugal! A procura absurda, pela frequência desmedida, de confundir Portugal com a troca de bola teve um resultado oposto. Confundiu, isso sim, a Espanha, que só aos 68 minutos fez o primeiro remate enquadrado com a baliza de Rui Patrício. Até essa altura, aliás até ao final dos 90 minutos, é justo dizer que a Seleção Nacional foi superior. A narrativa teve uma louca precipitação de acontecimentos, um rol de tropelias interessantíssimo, mas tudo seria trasladado para o prolongamento e, depois, para as grandes penalidades. Nessa fase extra, sim. O mostruário de virtudes espanholas vincou a qualidade, o domínio e empurrou Portugal para trás. Rui Patrício ainda fez um pequeno milagre, o nulo prevaleceu e enganou o desejo lusitano um pouco mais. Até ao assomar insuportável da injustiça, a tal palavra que julgávamos perdida no segundo parágrafo. Mas mesmo no adeus esta Seleção Nacional teve encanto. Sergio Busquets, Xavi Hernández (Pedro Rodríguez, 87), Andrés Iniesta, David Silva (Jesús Navas, 60) e Álvaro Negredo (Cesc Fàbregas, 54). (Suplentes: Víctor Valdés, Pepe Reina, Raúl Albiol, Javi Martínez, Juanfran, Santi Cazorla, Jesús Navas, Cesc Fàbregas, Pedro Rodríguez, Fernando Torres, Juan Mata e Fernando Llorente). Árbitro: Cuneyt Çakir (Turquia). Ação disciplinar: cartão amarelo para Sergio Ramos (40), Fábio Coentrão (45+1), Busquets (60), Pepe (61), João Pereira (64), Arbeloa (84), Bruno Alves (86), Miguel Veloso (90+3), Xabi Alonso (113). Assistência: cerca de 50.000 espetadores. A FIGURA: João Moutinho Baixinho monstruoso, brilhante. Inacreditável o número e a qualidade de bolas recuperadas. Soberbo no passe, na atitude, na devoção a esta causa. Física e tecnicamente inesgotável, fonte de resolução de problemas, médio de eméritas virtudes. Jogo absolutamente fantástico! Não merecia ter falhado o penálti. A DESILUSÃO: Nani Pormenores ao alcance ape<strong>nas</strong> de um predestinado. A forma como se liberta da mar- Jogo realizado na Donbass Arena, em Donetsk. Portugal - Espanha, 0-0 após prolongamento (2-4 no desempate por grandes penalidades). No final do prolongamento: 0-0. Desempate por pontapés da marca da grande penalidade: 0-0, Xabi Alonso (defesa de Rui Patrício). 0-0, João Moutinho (defesa de Casillas). 0-1, Iniesta. 1-1, Pepe. 1-2, Piqué. 2-2, Nani. 2-3, Sergio Ramos. 2-3, Bruno Alves (remate à trave). 2-4, Cesc Fabregas. Equipas: - Portugal: Rui Patrício, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Fábio Coentrão, Miguel Veloso (Custódio, 106), Raul Meireles (Varela, 113), João Moutinho, Nani, Hugo Almeida (Nelson Oliveira, 81) e Cristiano Ronaldo. (Suplentes: Eduardo, Beto, Miguel Lopes, Ricardo Costa, Rolando, Custódio, Ruben Micael, Hugo Viana, Ricardo Quaresma, Varela e Nelson Oliveira). - Espanha: Iker Casillas, Álvaro Arbeloa, Sergio Ramos, Gerard Piqué, Jordi Alba, Xabi Alonso, cação em habilidade e arranca antes de ser parado em falta, a meio do primeiro tempo, é incrível. Mesmo assim, terá sido o jogador que menos rendeu em face do esperado. Rui Patrício Defesa providencial no prolongamento, olhos nos olhos com Iniesta. Mais tranquilo, mais seguro, mais guarda-redes. A não ser, claro, a jogar com os pés. Bem a sair aos cruzamentos e a comunicar com a defesa. João Pereira Uma hesitação em zona proibida, ainda na primeira parte, ia estragando tudo. Iniesta pela frente, muita coragem, espaço concedido aqui e ali, mas a certeza de ter ido com tudo para esta batalha duríssima. Bruno Alves Negredo completamente anulado, agressividade exposta até ao máximo limite legal, colaboração telepática com Pepe. Menos bem somente no passe longo, algo que até faz bem por norma. Pepe É melhor defesa central do Euro 2012. Ponto final parágrafo. Incapaz de jogar a Continuação na página 11
Milénio... Às Sextas-feiras, bem pertinho de si! De 29 de Junho a 5 de Julho de 2012 11 Espanha mais feliz nos penalties Continuado da página 10 um ritmo baixo, incapaz de não ser intenso. Milagroso em determinadas alturas, eficaz sempre. Fábio Coentrão O primeiro a pegar na bola, a afrontar a barreira espanhol, a combinar com Ronaldo e a arriscar. Ofensivamente soberbo, defensivamente quase sempre bem. David Silva, intermitente, facilitou-lhe a vida. Miguel Veloso Caso paradigmático da evolução de Portugal no Euro. O jogador distante, desprendido e desconcentrado deu lugar a uma máquina fiável de competição. Ótimo na pressão, certinho com a bola nos pés. Um reparo: passe errado em zona proibida aos 67 minutos. Raul Meireles O menos exuberante do meio-campo. Menos ativo na recuperação de bola, a jogar simples e de primeira quando em posse. Importante a preencher o centro-esquerda e a compensar Ronaldo. Cristiano Ronaldo Temido pelos espanhóis, natural e acertadamente. Claramente vencedor no duelo quase fraterno com Arbeloa, poderoso como sempre. Tão perto do golo na primeira parte, com um pontapé rasteiro, imprevisível no mais elementar dos processos. Só lhe faltou acertar com os livres. E teve vários. Pena. Hugo Almeida Tarefa ingrata, é certo, na luta solitária entre Piqué e Sergio Ramos. Ingrata, mas também desaproveitada naqueles momentos em que um simples passe pode ser decisivo. Atitude nobre, rendimento interessante. Muito útil a defender as bolas paradas e bom pontapé aos 56 minutos. Nélson Oliveira Precipitado numa ou noutra decisão, incapaz de entrar verdadeiramente no jogo. Está a amadurecer e a amadurecer num ambiente propício. Que o aproveite e que o aproveitemos a ele. Custódio Frescura para a posição seis nos últimos 15 minutos de prolongamento. Não era fácil entrar melhor nessa fase da partida. Varela Pouco tempo. Um lance perdido sem necessidade na direita.