as relações de trabalho entre médicos e enfermeiras na estratégia ...
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formação <strong>de</strong> recursos humanos no sentido da expansão do papel da mulher <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong><br />
br<strong>as</strong>ileira, representada principalmente pela visitadora sanitária e pela enfermeira <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
pública. Ainda que, para muitos focos <strong>de</strong> abordagem, a literatura consi<strong>de</strong>r<strong>as</strong>se a enfermagem<br />
como uma profissão femini<strong>na</strong>, em virtu<strong>de</strong> somente do "cuidar da família, dos doentes e d<strong>as</strong><br />
crianç<strong>as</strong>", ou seja, um papel <strong>de</strong>sempenhado tradicio<strong>na</strong>lmente por mulheres, como se fosse<br />
uma extensão d<strong>as</strong> ativida<strong>de</strong>s doméstic<strong>as</strong>.<br />
Mott (1999) mostra quanto no fi<strong>na</strong>l do século XIX a enfermagem era uma profissão<br />
exercida tanto por homens quanto por mulheres. A mudança <strong>de</strong> perfil ocorre <strong>na</strong> virada do<br />
século XX com o advento da "enfermagem mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>", localizando melhor esse lugar da<br />
mulher que agora p<strong>as</strong>sa a <strong>as</strong>sumir no mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> papéis antes reservados somente<br />
aos homens.<br />
A profissão da enfermagem é colocada nessa tensão, portanto, <strong>entre</strong> a produtora <strong>de</strong><br />
saberes, a que <strong>de</strong>senvolve técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong> administração, no espaço público, contraposto com<br />
esteriótipos, como o da mulher tarefeira, rotineira, “mãezo<strong>na</strong>” e o contexto d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> agentes<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />
Assim, parece que a ESF sintetiza hoje um processo que é anterior à enfermagem, e é<br />
consi<strong>de</strong>rada <strong>na</strong> sua concepção e <strong>na</strong> prática como uma profissão femini<strong>na</strong>. A partir <strong>de</strong>sta<br />
premissa, por que então este espaço a colocaria noutra relação? Aqui ocorre um problema: a<br />
Saú<strong>de</strong> da Família foi concebida para ser interdiscipli<strong>na</strong>r, m<strong>as</strong> ela própria tem que lidar com<br />
uma estruturação <strong>de</strong> lógic<strong>as</strong> profissio<strong>na</strong>is discipli<strong>na</strong>res até então médic<strong>as</strong>.<br />
Desta forma, é possível afirmar, conforme Bourdieu (2001), a partir do conceito<br />
habitus, que nesta busca pelo po<strong>de</strong>r os indivíduos permanecem em luta permanente pelo<br />
prestígio e pela <strong>as</strong>censão social em <strong>de</strong>trimento dos reais objetivos <strong>de</strong> seu <strong>trabalho</strong>. Habitus<br />
apresentado pelo autor como sistema <strong>de</strong> esquem<strong>as</strong> gerais e generativos duráveis e<br />
transponíveis, funcio<strong>na</strong>ndo num plano inconsciente, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um espaço estruturado <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong>s. Matriz criativa <strong>de</strong> percepções, ações e apreciações agindo em nível corporal<br />
como mecanismos estruturantes que operam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos indivíduos.<br />
É relevante compreen<strong>de</strong>r que a domi<strong>na</strong>ção m<strong>as</strong>culi<strong>na</strong> é o resultado <strong>de</strong> um processo<br />
histórico <strong>de</strong> socialização, que acabou por incorporar nos indivíduos, quando crianç<strong>as</strong> e através<br />
da família e d<strong>as</strong> instituições, os habitus m<strong>as</strong>culinos e femininos que se <strong>na</strong>turalizam sem<br />
problematizações. O habitus seria um conjunto <strong>de</strong> disposições adquirid<strong>as</strong> e inconscientemente<br />
aceit<strong>as</strong>, somente pela justificativa da diferença biológica <strong>entre</strong> os sexos, m<strong>as</strong> que não se<br />
institui como um processo <strong>de</strong> leitur<strong>as</strong> sobre <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> sem conseqüênci<strong>as</strong> sociais e prátic<strong>as</strong><br />
para a vida <strong>de</strong> homens e mulheres nele envolvidos. Essa a<strong>de</strong>são à imagem do po<strong>de</strong>r e à