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as relações de trabalho entre médicos e enfermeiras na estratégia ...

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Esta experiência permitiu observar que a relação <strong>entre</strong> os profissio<strong>na</strong>is que ali<br />

estavam médicos e enfermeir<strong>as</strong>, parecia evi<strong>de</strong>nciar <strong>de</strong>marcações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, estabelecendo<br />

posições <strong>as</strong>simétric<strong>as</strong> <strong>entre</strong> homens e mulheres no processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Em minha percepção,<br />

a situação se dava possivelmente em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> um saber médico, que se entendia não ser<br />

compartilhado pel<strong>as</strong> enfermeir<strong>as</strong> em função da compreensão histórica sobre esta profissão. A<br />

trajetória da enfermagem apresenta estigm<strong>as</strong> ou estereótipos, embora datados, que po<strong>de</strong>m ter<br />

sido reforçados pelo fato <strong>de</strong> ser uma profissão que envolve ativida<strong>de</strong>s manuais<br />

eminentemente, portanto, um <strong>trabalho</strong> sem valor social. Evi<strong>de</strong>nciando o <strong>trabalho</strong> relativo a<br />

homens e mulheres, estabelecendo claramente a diferença <strong>de</strong> valores para o m<strong>as</strong>culino e o<br />

feminino. Sacks (1979) a<strong>na</strong>lisa esta questão ao referir-se ao <strong>trabalho</strong> doméstico, como não<br />

sendo consi<strong>de</strong>rado verda<strong>de</strong>iro, por não ter valor <strong>de</strong> troca.<br />

A minha observação cotidia<strong>na</strong> <strong>de</strong>monstrava que <strong>na</strong>quela esfera <strong>de</strong> relações, os<br />

médicos acabavam por utilizar-se <strong>de</strong> estratégi<strong>as</strong> b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> no po<strong>de</strong>r que seu conhecimento<br />

respaldava, conquistando espaços <strong>na</strong>quele cenário. Por outro lado, <strong>as</strong> enfermeir<strong>as</strong> em maior<br />

número pareciam ter a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar a gama <strong>de</strong> informações sobre <strong>as</strong> rotin<strong>as</strong> e o<br />

cotidiano, resultando num constante conflito pelo po<strong>de</strong>r no estabelecimento d<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> e da<br />

organização.<br />

Algum tempo <strong>de</strong>pois, em Curitiba, contratada como <strong>as</strong>sistente social <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong><br />

reabilitação crânio-facial, numa Unida<strong>de</strong> da Secretaria <strong>de</strong> Estado da Saú<strong>de</strong>, foi possível<br />

perceber que, mais uma vez, para alguns profissio<strong>na</strong>is da medici<strong>na</strong>, o saber médico parecia<br />

posicio<strong>na</strong>r-se em <strong>de</strong>trimento d<strong>as</strong> ações em equipe. On<strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificava a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alguns em compreen<strong>de</strong>r a forma como o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> seus pares é pensado e organizado. Essa<br />

situação permitiu-me questio<strong>na</strong>r por que <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> nessa equipe não tomavam uma posição,<br />

o que pensam sobre si e sobre a sua profissão?<br />

Atualmente a ESF quando se coloca no epicentro <strong>de</strong> uma proposta que se preten<strong>de</strong><br />

interdiscipli<strong>na</strong>r surge também como um novo campo <strong>de</strong> tensão em relação ao que enfermeir<strong>as</strong><br />

e médicos sabem e pensam sobre si. Também sobre o que precisam saber sobre si mesmo para<br />

trabalhar e interagir com profissio<strong>na</strong>is diferentes e com uma concepção <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> que<br />

apresenta uma proposta que pressupõe o diálogo. No c<strong>as</strong>o da enfermagem, para dialogar é<br />

preciso reconhecer esse lugar do outro e saber que precisa <strong>de</strong>sinstalar-se do próprio lugar, ao<br />

referendar o espaço <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do médico. M<strong>as</strong> afi<strong>na</strong>l qual é o lugar da enfermagem? Qual é a<br />

Assim como, com os <strong>entre</strong>vistados que me permitiram o contato com o mundo real num enfrentamento com o<br />

discurso do mundo teórico e dos discursos oficiais sobre a ESF.

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