EDITORIAL - Revista Sobrape
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R. Periodontia - 21(1):27-33<br />
ocorrência da falência funcional renal, de medidas que<br />
retardem a progressão da doença, bem como da correção de<br />
suas complicações e comorbidades mais frequentes (Bastos<br />
et al., 2004).<br />
A periodontite crônica é uma doença infecciosa que<br />
causa uma inflamação dos tecidos de suporte do dente.<br />
A placa bacteriana é a responsável pelo surgimento e<br />
pela manutenção da doença, mas mecanismos de defesa<br />
do hospedeiro são reconhecidos por desempenhar um<br />
importante papel na sua patogênese (Kornman, 2008). A<br />
periodontite contribui para a carga inflamatória sistêmica,<br />
incluindo elevação da proteína C-Reativa. A ação de citocinas<br />
pró-inflamatórias da DRC e da periodontite crônica contribui<br />
para uma menor produção renal de eritropoetina e também<br />
interfere na disponibilidade de ferro para eritropoiese (Klassen,<br />
Krasko, 2002; Bastos et al., 2004).<br />
De acordo com Craig (2008) a presença de periodontite<br />
não diagnosticada pode ter efeitos significativos sobre a<br />
gestão clínica dos pacientes renais crônicos e pode ser um<br />
fator tratável de inflamação sistêmica na população de<br />
doentes renais crônicos. Alguns estudos demonstraram que<br />
pacientes em diálise têm saúde bucal precária, apresentam<br />
grande acúmulo de placa bacteriana e elevada formação de<br />
cálculo dentário, necessitando de tratamento periodontal<br />
específico (Klassen, Krasko, 2002; Dias et al., 2007). Estes<br />
achados devem alertar os profissionais da área de saúde<br />
para uma maior assistência odontológica para doentes renais<br />
crônicos.<br />
O tratamento não cirúrgico da periodontite crônica<br />
poderia exercer influência nos parâmetros hematológicos<br />
e bioquímicos de pacientes renais crônicos, uma vez que<br />
elimina ou reduz um foco potencial de infecção e inflamação.<br />
Entretanto, poucos estudos avaliaram o efeito do tratamento<br />
periodontal sobre o perfil bioquímico sanguíneo de pacientes<br />
renais crônicos e apresentaram resultados diversos (Ide et<br />
al., 2003; Bittencourt et al., 2004). Assim, o presente estudo<br />
centrou-se em avaliar e comparar o efeito do tratamento<br />
não cirúrgico da periodontite crônica sobre parâmetros<br />
hematológicos e bioquímicos em pacientes portadores de<br />
doença renal crônica e controles saudáveis.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Estratégia amostral<br />
Conforme determina a Resolução n°. 196/96 do<br />
Conselho Nacional de Saúde, este estudo foi aprovado<br />
pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade<br />
Federal de Juiz de Fora, sob o nº. 327/2006. Todos os<br />
pacientes receberam informações a respeito da pesquisa,<br />
seus objetivos, importância, benefícios e assinaram o Termo<br />
de Consentimento Livre e Esclarecido. A adesão ao estudo<br />
foi espontânea, não se promovendo obrigatoriedade ou<br />
constrangimento ao paciente.<br />
A amostra do estudo foi composta de 56 pacientes,<br />
sendo 20 do grupo controle (sem problemas renais) e 36 do<br />
grupo caso (pacientes portadores de DRC, nos estágios prédialítico<br />
III, IV e V). Os pacientes com DRC foram selecionados<br />
na Clínica de Nefrologia da Fundação IMEPEN, classificados<br />
de acordo com a tabela para cálculo estimado do ritmo de<br />
filtração glomerular, proposto por Bastos & Bastos (2005).<br />
Exame clínico<br />
Em um primeiro contato com os pacientes foram realizados<br />
exames clínicos geral e periodontal. No exame clínico geral<br />
foi realizada minuciosa anamnese, contendo registro de<br />
história da doença atual, presença de comorbidades, história<br />
e antecedentes familiares, tratamento medicamentoso<br />
atual e anterior, bem como história de hábitos nocivos entre<br />
outros. Realizou-se exame físico (profissional capacitado da<br />
área médica) para avaliação de pressão arterial, frequências<br />
cardíaca e respiratória, altura, cintura abdominal, cintura de<br />
quadril e presença de linfonodos cervicais.<br />
No exame clínico periodontal, foi observada história<br />
dental completa e realização de odontograma por um<br />
único examinador, previamente calibrado, utilizando-se<br />
instrumentos manuais, como sonda periodontal milimetrada<br />
tipo Williams (Hu Friedy ® ) e espelho bucal anteriormente<br />
esterilizados, obtendo-se desta forma, o diagnóstico dos<br />
pacientes como portadores ou não de periodontite crônica,<br />
segundo os preceitos de Machtei et al. (1992).<br />
No exame periodontal foi feita sondagem de 6 sítios<br />
em cada dente nas faces mesiovestibular (MV), mesial (M),<br />
mesiolingual (ML), distovestibular (DV), distal (D) e distolingual<br />
(DL) utilizando-se sonda periodontal milimetrada tipo Williams<br />
e os parâmetros clínicos foram: 1) profundidade de sondagem<br />
(PS), caracterizada pela distância da margem gengival até o<br />
fundo da bolsa ou sulco; 2) sangramento à sondagem (SS),<br />
determinado pela presença ou ausência de sangramento<br />
observado, durante 30 segundos, após a primeira inserção<br />
da sonda na bolsa periodontal; 3) nível de inserção clínica<br />
(NIC), caracterizada pela distância da junção amelocementária<br />
até o fundo da bolsa ou sulco; 4) Profundidade de bolsa à<br />
sondagem (PBS) > 4 mm, caracterizada pela distância da<br />
margem gengival até o fundo da bolsa ou sulco com valores<br />
> 4 mm.<br />
Foram utilizados como critérios de diagnóstico da<br />
periodontite crônica, os propostos por Machtei et al. (1992):<br />
pacientes com idade entre 30 a 65 anos, com no mínimo<br />
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