à flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de ... - rio.rj.gov.br
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Religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e morte: lugares<<strong>br</strong> />
fúne<strong>br</strong>es <strong>no</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
séculos XVIII a XIX<<strong>br</strong> />
1.1 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA CIDADE:<<strong>br</strong> />
UM LUGAR PARA MORRER<<strong>br</strong> />
Fomos ao cemité<strong>rio</strong>. Rita, apesar <strong>da</strong> alegria do<<strong>br</strong> />
motivo, não pô<strong>de</strong> reter algumas velhas lágrimas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sau<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo marido que lá está <strong>no</strong> jazigo, com meu<<strong>br</strong> />
pai e minha mãe. Ela ain<strong>da</strong> agora o ama, como <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
dia em que o per<strong>de</strong>u, lá se vão tantos a<strong>no</strong>s. No caixão<<strong>br</strong> />
do <strong>de</strong>funto mandou guar<strong>da</strong>r um molho <strong>dos</strong> seus<<strong>br</strong> />
cabelos, então <strong>pretos</strong>, enquanto o mais <strong>de</strong>les ficaram<<strong>br</strong> />
a envelhecer cá fora.<<strong>br</strong> />
Não é feio o <strong>no</strong>sso jazigo; podia ser um pouco mais simples, - a inscrição e uma<<strong>br</strong> />
cruz, - mas o que está é bem feito. Achei-o <strong>no</strong>vo <strong>de</strong>mais, isso sim. Rita fá-lo lavar<<strong>br</strong> />
to<strong>dos</strong> os meses, e isto impe<strong>de</strong> que envelheça. Ora, eu creio que um velho túmulo<<strong>br</strong> />
dá melhor impressão do ofício, se tem as negruras do tempo, que tudo consome.<<strong>br</strong> />
O contrá<strong>rio</strong> parece sempre <strong>de</strong> véspera [...] a impressão que me <strong>da</strong>va o tal do<<strong>br</strong> />
cemité<strong>rio</strong> é a que me <strong>de</strong>ram sempre outros; tudo ali estava parado. 1<<strong>br</strong> />
O texto acima nasceu <strong>da</strong> pena do romancista Machado <strong>de</strong> Assis,<<strong>br</strong> />
em Memorial <strong>de</strong> Aires. Nele, o Conselheiro, que é o protagonista,<<strong>br</strong> />
não ri nem chora, não ama nem <strong>de</strong>testa, apenas compreen<strong>de</strong>. Essas<<strong>br</strong> />
reflexões so<strong>br</strong>e túmulos e cemité<strong>rio</strong>s são próprias <strong>de</strong> alguém que<<strong>br</strong> />
fala <strong>de</strong> um ente querido que se foi 2 e dão o tom ao diá<strong>rio</strong>, ain<strong>da</strong> que<<strong>br</strong> />
o autor estivesse <strong>de</strong>masiado preocupado em não carregar <strong>de</strong>mais<<strong>br</strong> />
nas tintas <strong>da</strong> melancolia. Com efeito, essas linhas po<strong>de</strong>m expressar,