à flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de ... - rio.rj.gov.br
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45<<strong>br</strong> />
Ao chegar à casa do enfermo, o padre<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>veria sau<strong>da</strong>r os presentes. E <strong>de</strong>pois<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> rezar um Pai-Nosso e uma Ave-<<strong>br</strong> />
Maria, <strong>de</strong>veria exortar o enfermo a pedir<<strong>br</strong> />
perdão a qualquer um <strong>dos</strong> presentes<<strong>br</strong> />
que o moribundo tenha ofendido.<<strong>br</strong> />
Com efeito, uma <strong>da</strong>s características<<strong>br</strong> />
do momento <strong>da</strong> morte é com certeza<<strong>br</strong> />
este momento <strong>de</strong> reparação <strong>dos</strong> <strong>da</strong><strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
causa<strong>dos</strong>. Como assegura:<<strong>br</strong> />
45 WALSH, Robert, Op. Cit., p. 159.<<strong>br</strong> />
46 Conforme o Dicioná<strong>rio</strong> contemporâneo<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> língua portuguesa Cal<strong>da</strong>s Aulete, viático<<strong>br</strong> />
é o “(...) sacramento <strong>da</strong> Eucaristia que se<<strong>br</strong> />
administrava aos doentes impossibilita<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa ou aos moribun<strong>dos</strong>”. 47 VIDE.<<strong>br</strong> />
título XLVII. 192. 48 Jean Baptiste De<strong>br</strong>et.<<strong>br</strong> />
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. E. 113. p.<<strong>br</strong> />
16. 49 REIS, João José. A morte é uma festa. p.<<strong>br</strong> />
104. 50 REIS, João José. O cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> morte<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Brasil oitocentista, pp. 95-141. 51 VIDE. Op.<<strong>br</strong> />
Cit., título XXIX, p. 104. 52 Ibi<strong>de</strong>m. 53 Ibi<strong>de</strong>m,<<strong>br</strong> />
título XXIX, p. 105.<<strong>br</strong> />
A morte também era um momento <strong>de</strong> reparação moral [...] Fazer justiça aos<<strong>br</strong> />
que ofen<strong>de</strong>ra significava limpar-se para enfrentar a justiça divina. Velhos<<strong>br</strong> />
peca<strong>dos</strong> <strong>da</strong> carne eram corrigi<strong>dos</strong> na hora <strong>da</strong> morte. 49<<strong>br</strong> />
Logo após a reparação moral, e mesmo testamentária, o padre <strong>de</strong>man<strong>da</strong>va<<strong>br</strong> />
ao doente se ele <strong>de</strong> fato pedia perdão a to<strong>dos</strong> por algo que<<strong>br</strong> />
tivesse feito. Depois, o enfermo ouviria o padre ler um texto eclesiástico<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o Corpo <strong>de</strong> Cristo. Logo em segui<strong>da</strong>, o doente então<<strong>br</strong> />
confirmaria. E após o padre fazer o sinal <strong>da</strong> cruz, e aspergir o óleo,<<strong>br</strong> />
o enfermo ouviria: “Indulgentiam Vc.” 50 Absolvido, o doente po<strong>de</strong>ria<<strong>br</strong> />
partir em paz.<<strong>br</strong> />
As Constituições também recomen<strong>da</strong>vam que se “(...) o doente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cõmungar por viatico e viver alguns dias, ou, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver melhorado,<<strong>br</strong> />
tornar a perigo <strong>de</strong> morte, & quizer comungar mais vezes por viático”, 51 <strong>de</strong>veria<<strong>br</strong> />
comunicar <strong>no</strong>vamente ao pároco, e quantas vezes fosse preciso o viático<<strong>br</strong> />
iria até o enfermo. O viático não se <strong>de</strong>sfazia na casa do enfermo, pois pelo<<strong>br</strong> />
mesmo caminho que ele e o “acampamento” vieram, <strong>de</strong>veriam retornar até o<<strong>br</strong> />
lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> origem, quando o padre se <strong>de</strong>spediria do povo que participou<<strong>br</strong> />
do viático dizendo: “A to<strong>da</strong>s as peffoas, que acompanharaõ o Santiffimo<<strong>br</strong> />
Sacramento, faõ concedi<strong>da</strong>s muytas indulgencias pelos Summos Pontifices:<<strong>br</strong> />
& o <strong>no</strong>ffo Prelado lhes conce<strong>de</strong> os feus quarenta dias.” 52 Como se po<strong>de</strong> ver,<<strong>br</strong> />
participar <strong>de</strong> um viático era vantajoso para os participantes, já que as pessoas<<strong>br</strong> />
que participavam recebiam o perdão <strong>da</strong>s faltas cometi<strong>da</strong>s em retribuição<<strong>br</strong> />
pelo feito. Havia uma pena prevista para o pároco que <strong>de</strong>ixasse uma pessoa<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> sua freguesia morrer sem o Sacramento <strong>da</strong> Eucaristia. Se fosse constata<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
a negligência por parte do pároco, que, ain<strong>da</strong> que avisado, não tivesse provi<strong>de</strong>nciado<<strong>br</strong> />
o viático, ele seria punido com a suspensão do ofício pelo tempo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um a<strong>no</strong>, também po<strong>de</strong>ndo culminar com a prisão <strong>no</strong> aljube, se, por ocasião<<strong>br</strong> />
<strong>dos</strong> visitadores outras irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s fossem <strong>de</strong>scobertas. 53