01 Logística e Infra-estrutura no Brasil – Desafios e ... - Swisscam
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Entrevista com<br />
o diretor teatral<br />
José Henrique,<br />
que traz obra<br />
de Dürrenmatt<br />
ao Rio<br />
José Henrique Moreira,<br />
diretor de teatro - director<br />
F<br />
riedrich Dürrenmatt é um escritor<br />
suíço muito conhecido.<br />
E <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>? Qual é o grau de importância<br />
que as obras dele têm<br />
<strong>no</strong> teatro brasileiro?<br />
JH: Embora “A Pane” seja inédita em <strong>no</strong>ssos<br />
palcos, o teatro brasileiro já produziu<br />
diversas montagens das obras mais conhecidas<br />
de Dürrenmatt, como “A Visita da<br />
Velha Senhora” e “Os Físicos”. Fernanda<br />
Montenegro, por exemplo, atuou com<br />
grande sucesso em “Seria Cômico se não<br />
Fosse Sério”, na década de 70. O autor<br />
suíço é muito admirado pelos artistas brasileiros,<br />
especialmente pela criação de personagens<br />
que são um verdadeiro presente<br />
para os seus intérpretes, como também<br />
ocorre em “A Pane”.<br />
O que o levou a escolher o conto<br />
‘A Pane’ e ainda transformá-lo em<br />
peça de teatro?<br />
JH: A escolha decorreu, inicialmente, do<br />
tema do conto. O projeto “Teatro na Justiça”,<br />
do Departamento Cultural da Escola<br />
da Magistratura do Rio de Janeiro, leva<br />
ao palco desde 1999, sob minha direção,<br />
peças que falam do mundo do Direito e da<br />
Justiça. Com “A Pane” ocorreu uma feliz<br />
coincidência, pois descobrimos, ao mesmo<br />
tempo, o conto e sua adaptação para o<br />
teatro, feita por ninguém me<strong>no</strong>s do que<br />
um grande advogado criminalista carioca,<br />
o Dr. Nilo Batista. Então, além da genial<br />
trama de Dürrenmatt, contamos com a<br />
experiência de um profissional com absoluto<br />
domínio do métier e do vocabulário<br />
dos tribunais criminais. O resultado é uma<br />
extraordinária comédia, que alia diversão<br />
e inteligência.<br />
Na peça, que consiste em um julgamento<br />
encenado, o réu admite, e<br />
com orgulho, ter assassinado o seu<br />
chefe. Por isto, ele é condenado,<br />
por um juiz já bastante bêbado, à<br />
pena de morte. Na <strong>no</strong>ssa realidade,<br />
o réu <strong>no</strong>rmalmente nunca assume o<br />
crime. Qual é a sua reflexão pessoal<br />
sobre esta diferença e de que forma<br />
o público brasileiro vai interpretar<br />
o ‘absurdo’ da peça de Dürrenmatt?<br />
JH: “A Pane” não é uma crítica ao comportamento<br />
crimi<strong>no</strong>so, que já tem a sua condenação<br />
moral suficientemente registrada<br />
em leis e instalações carcerárias. Ninguém<br />
pode esperar outra atitude de um réu, em<br />
qualquer lugar e a qualquer tempo, senão<br />
a sua tentativa de defesa. A reação “absurda”<br />
de Alfredo Traps, protagonista da<br />
peça, é coerente na medida em que ele se<br />
descobre, durante aquele divertido “banquete-julgamento”,<br />
um homem capaz de<br />
praticar uma ação grandiosa, o crime do<br />
século. O <strong>Brasil</strong>, que já foi um “país de<br />
oportunidades” para imigrantes de todas<br />
as partes do mundo, inclusive da Suíça,<br />
hoje é um “país de oportunistas”, como<br />
Alfredo Traps, que buscam o sucesso<br />
material a qualquer preço e não se importam<br />
com valores huma<strong>no</strong>s mais essenciais. “A<br />
Pane” é a história de tantos “Alfredos” por<br />
aí, que aprenderam a fazer fortuna, mas<br />
não sabem nada sobre si mesmos. É deles<br />
que estamos rindo.<br />
No <strong>Brasil</strong>, a mídia está muito focada<br />
em glamour passageiro e em pessoas<br />
famosas da TV, da música e da<br />
moda. O teatro não desperta o mesmo<br />
interesse e atende a um público<br />
diferente e me<strong>no</strong>s numeroso.<br />
Como você explica este fato e qual<br />
é a sua estratégia para chamar a<br />
atenção do público para assistir<br />
à peça ‘A Pane’?<br />
JH: A “cultura de celebridades” é um fenôme<strong>no</strong><br />
do mundo inteiro, mas em <strong>no</strong>sso<br />
país ganha contor<strong>no</strong>s graves pela ausência<br />
de um sistema educacional de qualidade,<br />
que acaba substituído pelos meios de<br />
cultura<br />
culture<br />
swisscam nº44 03/2006<br />
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