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OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
1
Universidade da Amazônia<br />
LÚCIA CRISTINA CAVALCANTE<br />
OBESIDADE E ANÁLISE DO<br />
COMPORTAMENTO<br />
Belém<br />
UNAMA<br />
2009<br />
2
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA: OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
© 2009, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA<br />
REITOR<br />
Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco<br />
VICE-REITOR<br />
Antonio de Carvalho Vaz Pereira<br />
PRÓ-REITOR DE ENSINO<br />
Mário Francisco Guzzo<br />
PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO<br />
Núbia Maria de Vasconcelos Maciel<br />
SUPERINTENDENTE DE PESQUISA<br />
Ana Célia Bahia Silva<br />
SUPERITENDENTE DE EXTENSÃO – SUPEX<br />
Vera Lúcia Pena Carneiro Soares<br />
EXPEDIENTE<br />
EDIÇÃO: Editora UNAMA<br />
COORDENADOR: João Carlos Pereira<br />
SUPERVISÃO E FOTO DA CAPA: Helder Leite<br />
NORMALIZAÇÃO: Maria Miranda<br />
FORMATAÇÃO GRÁFICA: Elailson Santos<br />
IMPRESSÃO:<br />
“Campus” Alcindo Cacela<br />
Av. Alcindo Cacela, 287<br />
66060-902 - Belém-Pará<br />
Fone geral: (91) 4009-3000<br />
Fax: (91) 3225-3909<br />
“Campus” BR<br />
Rod. BR-316, km3<br />
67113-901 - Ananindeua-Pa<br />
Fone: (91) 4009-9200<br />
Fax: (91) 4009-9308<br />
“Campus” Senador Lemos<br />
Av. Senador Lemos, 2809<br />
66120-901 - Belém-Pará<br />
Fone: (91) 4009-7100<br />
Fax: (91) 4009-7153<br />
“Campus” Quintino<br />
Trav. Quintino Bocaiúva, 1808<br />
66035-190 - Belém-Pará<br />
Fone: (91) 4009-3300<br />
Fax: (91) 4009-3349<br />
Catalogação na fonte<br />
www.unama.br<br />
C3766o<br />
Cavalcante, Lúcia Cristina<br />
Obesidade e análise do comportamento / Lúcia<br />
Cristina Cavalcante. — Belém: Unama, 2009.<br />
176 p.<br />
ISBN 978-85-7691-074-9<br />
1. Obesidade. 2. Análise do comportamento.<br />
3 Psicologia do comportamento.I.Título<br />
CDD: 616.398<br />
3
Universidade da Amazônia<br />
“´Pessoas com excesso de<br />
peso são mais diferentes<br />
que parecidas’. Nem todos<br />
os nossos sujeitos<br />
respondem ao<br />
procedimento da mesma<br />
maneira. As variáveis<br />
pessoais e sociais<br />
envolvidas são relevantes<br />
e muitas vezes<br />
desconhecidas e escapam<br />
ao controle do<br />
experimentador. Parece<br />
que temos em mãos uma<br />
tecnologia que nos permite<br />
fortalecer comportamentos<br />
incompatíveis com a<br />
resposta de comer<br />
excessivamente a ser<br />
eliminada, mas que há<br />
ainda um longo caminho a<br />
percorrer. Encontrar a<br />
resposta controladora<br />
proposta por Skinner é<br />
possível. O problema<br />
central é manter essa<br />
resposta”<br />
Rachel Rodrigues Kerbauy (1977, p. 129-130)<br />
4
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Às milhares de pessoas que vivem todos os<br />
dias em meio a contingências aversivas, provindas<br />
do ambiente social, físico e fisiológico,<br />
derivadas do excesso de peso.<br />
Aos Analistas do Comportamento que cientes<br />
dessas situações aversivas esforçam-se cotidianamente<br />
para construir conhecimentos e<br />
técnicas eficazes para instrumentalizar aquelas<br />
pessoas a terem uma vida melhor.<br />
À Profª Drª Rachel Rodrigues Kerbauy que iniciou<br />
esse empreendimento em terras brasileiras,<br />
pelos muitos frutos e pela determinação<br />
de levar o arsenal teórico e metodológico da<br />
Análise do Comportamento à área da Psicologia<br />
da Saúde.<br />
A Arlindo Gomes da Silva (in memorium), paternidade<br />
abundante que me acompanhará<br />
por toda a vida.<br />
Especialmente, à Maria Jacy Cavalcante, a<br />
mais hábil Analista do Comportamento que<br />
já conheci, um exemplo de resistência, sobrevivência,<br />
competência e maternidade.<br />
5
Universidade da Amazônia<br />
AGRADECIMENTOS<br />
À Universidade da Amazônia e à Fundação<br />
Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia,<br />
pela acolhida, infraesturura e fomento<br />
dessa pesquisa, aspectos tão necessários à<br />
consolidação da pesquisa na Amazônia.<br />
À direção e a coordenação do curso de Psicologia<br />
do Centro de Ciências Biológicas e da<br />
Saúde, pelo crédito e incentivo à minha produção<br />
científica.<br />
Às minhas bolsistas voluntárias Bruna Menezes<br />
Castro dos Santos e Rebeca Pereira Cabral<br />
pela presença continente e competente nas<br />
longas horas de estudo; jovens talentos de<br />
comportamento responsável e ético, tão necessário<br />
nos settings de produção do conhecimento<br />
científico.<br />
Às minhas meninas, Ana Luiza e Marina,<br />
que com características e formas distintas inspiram<br />
sonhos e abastecem realizações. Amores<br />
definitivos!<br />
Aos meus mestres e modelos Olavo de Faria<br />
Galvão, Marcelo Galvão Baptista e Lúcia<br />
Medeiros, que sempre foram extremamente<br />
hábeis em dispor contingências para o meu<br />
aprendizado de Análise do Comportamento, reforçando<br />
positivamente minha formação como<br />
docente e pesquisadora.<br />
Minha eterna gratidão e reconhecimento.<br />
Obrigada a cada um de vocês!<br />
Lúcia Cavalcante<br />
6
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
LISTA DE GRÁFICOS<br />
Gráfico 1: Distribuição dos trabalhos localizados por ano ............................ 38<br />
Gráfico 2: Distribuição dos trabalhos localizados pelos quatro<br />
períodos de tempo analisados .......................................................................... 39<br />
Gráfico 3: Distribuição dos trabalhos localizados por Região Brasileira<br />
nos quatro períodos de tempo analisados ....................................................... 39<br />
Gráfico 4: Distribuição dos trabalhos localizados pelas instituições<br />
geradoras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados ................ 41<br />
Gráfico 5: Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de instituição<br />
geradora nas quatro Regiões Brasileiras em cada um dos quatro períodos<br />
de tempo analisados ......................................................................................... 42<br />
Gráfico 6: Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção<br />
bibliográfica gerada nos quatro períodos de tempo analisados ................... 42<br />
Gráfico 7: Distribuição dos trabalhos localizados por número de autores<br />
em cada um dos quatro períodos de tempo analisados .................................. 43<br />
LISTA DE QUADROS<br />
Quadro 1: Lista de palavras-chave selecionadas para a revisão de<br />
literatura ............................................................................................................ 34<br />
Quadro 2: Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove<br />
pesquisadores identificados, distribuídos nos quatro períodos de tempo<br />
analisados ......................................................................................................... 44<br />
Quadro 3: Proporção do número de trabalhos obtidos sobre o número de<br />
trabalhos localizados nos quatro períodos de tempo analisados ................. 47<br />
Quadro 4: Dificuldades relatadas pelos sujeitos para o seguimento da<br />
1ª etapa do programa desenvolvido por Heller (1990) ................................... 75<br />
LISTA DE SIGLAS<br />
UNAMA = Universidade da Amazônia (Belém – PA)<br />
UFPA = Universidade Federal do Pará (Belém – PA)<br />
UFPR = Universidade Federal do Paraná (UFPR)<br />
UnB = Universidade de Brasília (Brasília – DF)<br />
UCG = Universidade Católica de Goiás (Goiânia – GO)<br />
7
Universidade da Amazônia<br />
USP = Universidade de São Paulo (São Paulo – SP)<br />
PUCCAMP = Pontífice Universidade Católica de Campinas (Campinas – SP)<br />
UNICOR = Universidade Vale do Rio Verde (Três Corações – MG)<br />
UEL = Universidade Estadual de Londrina (Londrina – PR)<br />
UNIPAR = Universidade Paranaense (Curitiba – PR)<br />
CESUMAR = Centro de Ensino Superior de Maringá (Maringá – PR)<br />
PUCRG = Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul<br />
(Porto Alegre – RS)<br />
8
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
SUMÁRIO<br />
APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 10<br />
PREFÁCIO ............................................................................................................ 12<br />
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................... 15<br />
1.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: compreendendo a relação<br />
organismo-ambiente .......................................................................................... 16<br />
1.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO BRASIL .. 24<br />
1.3 O QUE VEM A SER OBESIDADE? .................................................................... 25<br />
1.4 OBESIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO .......... 28<br />
CAPÍTULO 2: PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................... 32<br />
2.1 A PESQUISA “ESTADO DA ARTE” .................................................................... 33<br />
2.2 RELATANDO O CAMINHO ............................................................................... 34<br />
2.2.1 A localização dos trabalhos ........................................................................ 34<br />
2.2.2 Leitura, identificação e caracterização ...................................................... 35<br />
2.2.3 Análise dos resultados .............................................................................. 36<br />
CAPÍTULO 3: DADOS E ANÁLISE QUANTITATIVA ................................................ 37<br />
CAPÍTULO 4: DADOS E ANÁLISE QUALITATIVA ................................................... 46<br />
4.1 A PESQUISA NA DÉCADA DE 70 ..................................................................... 48<br />
4.2 A PESQUISA NA DÉCADA DE 80 ..................................................................... 61<br />
4.3 A PESQUISA NA DÉCADA DE 90 ..................................................................... 84<br />
4.4 A PESQUISA NOS ANOS DE 2001 A 2004 ...................................................... 96<br />
À GUISA DA CONCLUSÃO ................................................................................. 129<br />
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 134<br />
ANEXOS E APÊNDICE ........................................................................................ 147<br />
9
Universidade da Amazônia<br />
APRESENTAÇÃO<br />
Adentrar as teceduras de um grave problema de saúde pública<br />
como a Obesidade que, democraticamente, atinge em todos os<br />
continentes pessoas de todas as faixas etárias, sexos e classes<br />
sociais, não é tarefa simples, muito menos deve ser levada a efeito por<br />
uma só ciência.<br />
No entanto, tão importante quanto pesquisar, elaborar e aplicar<br />
estratégias interdisciplinares de enfrentamento ao problema, são os<br />
investimentos de cada ciência na construção crítica e reflexiva de uma<br />
espécie de autodiagnóstico acerca de sua produção científica sobre a<br />
questão. O que se produziu? Como foi feito? Por quem? Com que grupo<br />
de indivíduos? Sob que condições? São perguntas fundamentais para<br />
compreender não apenas o fenômeno, mas as características do conhecimento<br />
produzido sobre ele. Se é verdade que o conhecimento científico<br />
deve animar as iniciativas racionais de modificações da realidade,<br />
tão verdadeiro também é o fato de que este conhecimento é obtido de<br />
forma processual e deve ser permanentemente revisto.<br />
Nos últimos anos tem crescido o contingente de cientistas interessados<br />
em realizar “Estados da Arte”, revisões do conhecimento<br />
científico que não apenas historiam, mas, sobretudo, indicam caminhos<br />
para a consolidação de teorias explicativas sobre determinados<br />
temas de pesquisa. Ganha a ciência, pois toma consciência de si, ganham<br />
os profissionais que configuram responsavelmente suas intervenções<br />
no conhecimento científico e, por fim, ganha a população<br />
afetada direta e indiretamente, na medida em que passa a contar com<br />
intervenções tecidas com um arsenal de conhecimentos permanentemente<br />
refletidos.<br />
A Psicologia faz parte do rol das ciências que toma a Obesidade<br />
como objeto de estudo, é bem verdade que por suas características esta<br />
ciência não lança um único olhar sobre o mesmo, é possível identificar<br />
diferentes atitudes epistemológicas nas investigações, o que gera, naturalmente,<br />
compreensões diversas sobre o fenômeno.<br />
Dentre estes olhares encontramos a Análise do Comportamento,<br />
um campo de estudos e pesquisas da Psicologia proposto por B. F.<br />
Skinner na década de 30 nos Estados Unidos, que se caracteriza pela<br />
investigação da relação organismo-ambiente sob uma perspectiva ex-<br />
10
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ternalista, julgando que o comportamento dos indivíduos não é determinado<br />
por motivações internas, mas pela sua história de relação com o<br />
ambiente físico e social.<br />
Os primeiros estudos realizados pela Análise do Comportamento<br />
sobre a Obesidade ocorreram na década de 60, após o estudo pioneiro<br />
de Ferster, Nurnberger e Levitt (1962). Dez anos depois, a defesa da<br />
tese de doutorado de Rachel Kerbauy, no Instituto de Psicologia da Universidade<br />
de São Paulo, deu início a estas investigações em território<br />
nacional. Há mais de três décadas, Analistas de Comportamento brasileiros<br />
vêm em maior ou menor intensidade investigando a Obesidade,<br />
construindo um acervo de conhecimentos significativos, eleito como<br />
objeto de estudo deste trabalho.<br />
Historiar, sintetizar e analisar esta produção foram nossas metas.<br />
A pesquisa de caráter bibliográfico, conhecida como “Estado da Arte”<br />
ou “Estado do Conhecimento”, o nosso caminho. Os resultados geraram<br />
um catálogo com as produções por ano, objeto de análise quantitativa.<br />
Parte destas produções foi obtida e tornou-se objeto de uma análise<br />
qualitativa. Ao final, foi possível esboçar uma espécie de raio x da produção<br />
brasileira entre os anos de 1972 a 2004, apresentado no decorrer<br />
deste texto dividido em cinco capítulos. Embora seja desejável a leitura<br />
contínua do texto, é possível que os iniciados em Análise do Comportamento<br />
prescindam da leitura do Capítulo 1, uma vez que o conteúdo<br />
apenas faz uma apresentação didática da Obesidade e da Análise do<br />
Comportamento. Desta forma, é possível iniciar a leitura pelo Capítulo<br />
2, sem prejuízo à compreensão do trabalho.<br />
Esperamos que este texto possa, muito mais que responder questões,<br />
provocar perguntas que incitem a realização de novas pesquisas, abastecendo<br />
de razões os Analistas do Comportamento interessados em compreender<br />
a complexa relação entre comportamento, saúde e doença.<br />
Lúcia Cristina Cavalcante<br />
11
Universidade da Amazônia<br />
PREFÁCIO<br />
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica<br />
(SBCBM) divulgou resultados de uma pesquisa indicando<br />
que mais da metade (51%) da população brasileira está acima de<br />
seu peso ideal. Entre os jovens de 18 a 25 anos, a incidência corresponde<br />
a 66%, sugerindo que, caso não sejam tomadas medidas preventivas,<br />
já nas próximas décadas, o Brasil precisará dispensar elevados recursos<br />
financeiros com o tratamento e as consequências sociais de doenças<br />
associadas ao excesso de peso como diabetes e cardiopatias. Mais<br />
alarmante ainda, esta pesquisa revela que 3% da população brasileira<br />
pode ser incluída na classe de obesidade mórbida.<br />
Há décadas, a obesidade tem sido objeto de estudo de diversos<br />
campos do conhecimento científico. No caso das ciências do comportamento,<br />
como a Psicologia e em particular a Análise do Comportamento<br />
(AC), o interesse tornou-se crescente a partir da constatação<br />
de que a obesidade apresenta etiologia multifatorial e suas consequências<br />
afetam a qualidade de vida do indivíduo, de seu grupo familiar,<br />
ocupacional e social.<br />
A Análise do Comportamento não estuda a obesidade em si,<br />
mas as relações entre o indivíduo com obesidade e seu ambiente, identificando<br />
a função que o comportamento alimentar adquiriu para este<br />
indivíduo a ponto de fazer com que o mesmo continue a executá-lo em<br />
excesso, a despeito das consequências adversas. Desse modo, a AC se<br />
destaca como um promissor modelo teórico e metodológico para o estudo<br />
da obesidade, o que vem a ser demonstrado neste trabalho realizado<br />
por Lúcia Cristina Cavalcante, professora e pesquisadora da Universidade<br />
da Amazônia (UNAMA).<br />
Este livro apresenta uma organização do conhecimento produzido<br />
na área, isto é, o seu “estado da arte”. É o principal produto da<br />
pesquisa realizada pela autora com o objetivo de “historiar, sintetizar e<br />
analisar a produção científica sobre obesidade realizada por analistas<br />
do comportamento no Brasil – uma espécie de raio X da produção brasileira<br />
entre os anos de 1972 a 2004”.<br />
O livro está dividido em cinco capítulos. Nos dois primeiros, a<br />
autora apresenta a fundamentação teórica e o percurso metodológico<br />
de coleta e de análise do material bibliográfico localizado. No terceiro<br />
12
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
capítulo, é apresentada uma análise quantitativa dos 78 estudos selecionados,<br />
por meio da qual se observa o crescente interesse de analistas<br />
do comportamento brasileiros, destacando-se o maior volume de pesquisas<br />
realizadas nos primeiros anos do século XXI. Nesta análise, a<br />
autora considera o número e o tipo de estudo por ano, por década e por<br />
autor, e também as regiões geográficas brasileiras nas quais os trabalhos<br />
foram realizados.<br />
No quarto capítulo, o mais extenso, a autora apresenta cuidadosa<br />
análise qualitativa de 21 pesquisas realizadas em 33 anos de produção,<br />
organizadas em quatro categorias (década de 70, década de 80,<br />
década de 90 e anos 2001 a 2004), por meio da qual são analisados aspectos<br />
como: delineamento utilizado, participantes, principais resultados<br />
obtidos e questões conceituais mais exploradas, sob uma perspectiva<br />
histórica. Muito interessante a forma que a autora elegeu para a<br />
apresentação dos estudos, iniciando com um resumo do trabalho, seguido<br />
de uma análise do mesmo e ao final, fazendo uma síntese da<br />
produção do autor. A cada apresentação do grupo de estudos, a autora<br />
justifica os critérios utilizados para a seleção dos mesmos, orientando o<br />
leitor sobre o modo de fazer uma pesquisa bibliográfica.<br />
No quinto capítulo, a autora tece importantes conclusões sobre<br />
os resultados encontrados, fazendo, como boa pesquisadora, importantes<br />
comentários e sugestões para estudos futuros. Desse modo, permite<br />
um salto qualitativo para os pesquisadores da área, ao organizar o<br />
conjunto de trabalhos já realizados por analistas do comportamento<br />
brasileiros apontando caminhos a serem seguidos.<br />
Para complementar, a autora anexa a lista de todos os trabalhos<br />
localizados, como um catálogo, oferecendo ao leitor uma preciosa ferramenta<br />
para estudo.<br />
Os resultados apontam a carência de estudos nas Regiões Norte<br />
e Nordeste, sugerindo a necessidade de incentivos à pesquisa nestas<br />
regiões. A autora também destaca o importante papel das instituições<br />
de ensino superior na realização de pesquisas.<br />
Cabe ainda algumas considerações sobre o percurso realizado<br />
pela profa. Lúcia como docente e pesquisadora. Formada em Bacharelado<br />
em Psicologia pela Universidade Federal do Pará, concluiu o curso<br />
de mestrado no programa de pós-graduação em Psicologia: Teoria<br />
e Pesquisa do Comportamento, também pela UFPA, com dissertação<br />
realizada sob a orientação do Prof. Dr. Olavo Galvão. Em 1997 iniciou<br />
suas atividades como docente na Universidade da Amazônia. Atual-<br />
13
Universidade da Amazônia<br />
mente, é Professora Adjunto VI nesta instituição de ensino superior,<br />
orienta trabalhos de iniciação científica e de conclusão de cursos de<br />
graduação e de pós-graduação, além de ministrar disciplinas em cursos<br />
da área de educação (Pedagogia) e de saúde (Psicologia, Fisioterapia<br />
e Fonoaudiologia).<br />
Iniciou sua vida acadêmica realizando estudos sobre aprendizagem<br />
e desempenho acadêmico, ampliando-os para estudos sobre controle<br />
aversivo e, mais recentemente, tem se dedicado a estudar o comportamento<br />
alimentar de indivíduos com obesidade seguindo o modelo<br />
analítico-comportamental. Vários de seus trabalhos foram apresentados<br />
em eventos científicos locais e nacionais.<br />
Espera-se que, ao final da leitura deste livro, outro objetivo apontado<br />
pela autora seja alcançado: “mais que responder perguntas, [ ]<br />
provocar perguntas que incitem a realização de novas pesquisas, abastecendo<br />
de razões os analistas do comportamento interessados em compreender<br />
a complexa relação entre comportamento, saúde e doença”.<br />
Profª. Drª. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira<br />
Mestre e Doutora em Psicologia (UnB)<br />
Psicóloga e Professora Associada I da UFPA<br />
14
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Capítulo 1<br />
FUNDAMENTAÇÃO<br />
TEÓRICA<br />
15
Universidade da Amazônia<br />
1.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: compreendendo a relação organismo-ambiente<br />
A Análise do Comportamento é um campo de estudos e pesquisas<br />
da Psicologia, proposto por B. F. Skinner, inicialmente em 1938 com<br />
a obra The Behavior of organisms: an experimental analysis (MATOS,<br />
1990), que se caracteriza pela investigação do comportamento, fundamentada<br />
epistemologicamente no Behaviorismo Radical (BAUM, 1999;<br />
COSTA, M., 1997; MICHELETTO e SÉRIO, 1993; TODOROV, 1981, 1982;<br />
ANDERY e SÉRIO, 2001; SÉRIO, 1999).<br />
O Behaviorismo Radical, enquanto uma epistemologia, se configurou<br />
a partir das reflexões que Skinner desenvolveu sobre a visão de<br />
homem, o objeto de estudo e o modelo de ciência adotados pela Psicologia;<br />
refelxões estas nascidas de pesquisas realizadas pelo autor desde<br />
1931, quando iniciou seu doutoramento em Harvard, mas só explicitadas<br />
pela primeira vez em 1945, no artigo The operacional analysis of<br />
psichological terms (MATOS, 1990; TOURINHO, 1987).<br />
Para o Behaviorismo Radical, o homem é um ser ativo, sujeito<br />
de sua própria história, construída e reconstruída nas relações com o<br />
ambiente (SKINNER, 1957/1978 1 ; SKINNER, 1990; MACHADO, 1994). Com<br />
relação a esta concepção de homem, Micheletto e Sério (1993, p. 14)<br />
afirmam que:<br />
O homem constrói o mundo a sua volta, agindo sobre ele e,<br />
ao fazê-lo, está também se construindo. Não se absolutiza<br />
nem o homem, nem o mundo; nenhum dos elementos da<br />
relação tem autonomia. Supera-se, com isto, a concepção<br />
de que os fenômenos tenham uma existência por si<br />
mesmos... A cada relação obtém-se, como produto, um<br />
ambiente e um homem diferentes.<br />
Para compreender o homem, portanto, é necessário investigar a<br />
relação homem-mundo. Dito de outra forma, é necessário compreender<br />
seu comportamento, definido não apenas como a ação do homem no<br />
mundo, mas a relação/interação deste homem, visto como um organismo<br />
vivo, com seu ambiente presente e passado (SKINNER, 1953/2000;<br />
TODOROV, 1981, 1982; MATOS, 1999a; SANT‘ANNA, 2001). Cabe assinalar<br />
1<br />
O primeiro ano se refere à data de publicação original em língua inglesa. O segundo ano se refere à<br />
data da obra lida em língua portuguesa.<br />
16
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
o significado que o termo “ambiente” assume no Behaviorismo Radical:<br />
conjunto de condições ou circunstâncias que afetam o organismo e o<br />
fazem comportar-se (MATOS, 1999b). O ambiente, portanto, não se restringe<br />
apenas a eventos no meio físico, como alterações climáticas (ambiente<br />
físico) por exemplo, abarca também eventos sociais, ou seja, comportamentos<br />
de outros indivíduos da mesma espécie que afetam o indivíduo<br />
em análise. Eventos estes que, para Skinner (1953/2000), Todorov<br />
(1981) e Todorov (1982), constituem o ambiente social.<br />
Para fins de investigação, a Análise do Comportamento utiliza<br />
os conceitos estímulo e resposta para descrever o comportamento. Segundo<br />
Keller e Schoenfeld (1950/1973, p. 17), estímulo é “Uma parte, ou<br />
mudança em uma parte do ambiente”, já resposta é definida como “Uma<br />
parte, ou a mudança em uma parte, do comportamento”; não havendo<br />
sentido na utilização de um destes termos sem a referência ao outro.<br />
Micheletto e Sério (1993, p. 12) prosseguem afirmando ainda<br />
que o homem “... Não é uma natureza humana diferente dos demais<br />
fenômenos e nem contém em si duas naturezas distintas, o homem<br />
está submetido a leis universais e é passível de ser conhecido”.<br />
Desta forma, pode-se afirmar que o Behaviorismo Radical rejeita<br />
concepções dualistas de homem, rejeitando a ideia de um homem composto<br />
de uma natureza material (o corpo) e outra imaterial (a alma, o<br />
espírito, a mente). O homem é visto como um organismo vivo que possui<br />
apenas uma natureza: a física, que está submetida às mesmas leis que<br />
regem outros aspectos do universo (CHIESA, 1994). Esta interpretação<br />
leva o Behaviorismo Radical a ser considerado uma abordagem monista.<br />
Por conta disso, estímulos e respostas acessíveis de modo direto<br />
apenas ao próprio indivíduo, circunscritos no “mundo-dentro-dapele”,<br />
como sensações e pensamentos, não têm nenhuma natureza<br />
especial diferenciada dos estímulos e respostas públicas, diferindo dos<br />
últimos apenas pela questão do acesso à observação. Estes estímulos e<br />
respostas são denominados de eventos privados (SKINNER, 1953/2000,<br />
1974/1993; LAMPREIA, 1996; TOURINHO, 1999; SIMONASSI, TOURINHO e<br />
SILVA, 2001; TEIXEIRA, 2001; TOURINHO, TEIXEIRA e MACIEL, 2002).<br />
Os eventos privados são vistos pelo Behaviorismo Radical como<br />
frutos da história de interação do organismo com o ambiente externo<br />
físico e/ou social, assim como os eventos públicos. Por conta disso, não<br />
têm existência independente, contrariando a visão de outras abordagens<br />
psicológicas que pressupõem o livre arbítrio e/ou o determinismo<br />
interno do comportamento (LAMPREIA, 1996). Desta forma, os eventos<br />
17
Universidade da Amazônia<br />
privados fazem parte da relação organismo-ambiente, mas não podem<br />
ser tomados, em última análise, como as causas do comportamento,<br />
que estariam no ambiente e que seriam as variáveis das quais o comportamento<br />
é função (SKINNER, 1953/2000, 1974/1993, 1969/1984, 1989/<br />
1991; CHIESA, 1994). Esta interpretação sobre a determinação do comportamento<br />
permite classificar o Behaviorismo Radical como uma abordagem<br />
externalista (TOURINHO, 1999).<br />
Outro aspecto que tem particular importância na compreensão<br />
do Behaviorismo Radical é a ênfase dada por Skinner em toda sua obra<br />
(1930-1990) às consequências das interações organismo-ambiente. O<br />
estabelecimento do conceito de comportamento operante em 1938 é<br />
um marco nesta direção dada à explicação do comportamento.<br />
Em estudos desenvolvidos em sua tese de doutorado, Skinner identificou<br />
um tipo de comportamento: o operante, que não poderia ser explicado<br />
pelos estudos até ali realizados, baseado na noção de comportamento<br />
reflexo ou respondente, desenvolvida por I. P. Pavlov.<br />
Skinner verificou, em observações experimentais, que as respostas<br />
do sujeito não poderiam ser explicadas pela presença de estímulos<br />
antecedentes eliciadores 2 , como vinha sendo feito nos estudos<br />
sobre comportamentos e reflexos. Os sujeitos ora respondiam na presença<br />
de um estímulo antecedente, ora não respondiam. As respostas<br />
dos sujeitos tinham sua frequência alterada pelas modificações produzidas<br />
no ambiente (estímulos ambientais consequentes). Este novo tipo<br />
de comportamento caracterizava-se pela sensibilidade às consequências<br />
(SKINNER, 1974/1993) e mantinha uma relação muito particular e<br />
bastante diferenciada com o estímulo ambiental antecedente: dependendo<br />
das consequências da resposta, a situação onde ela ocorria (estímulo<br />
ambiental antecedente) assumia um controle sobre a mesma.<br />
Este controle, denominado discriminativo, fazia com que aspectos desta<br />
situação funcionassem para o sujeito como “dicas”, indicativo da probabilidade<br />
de certos tipos de consequências serem apresentadas para<br />
aquela resposta. Skinner (1953/2000) passa a se referir ao comportamento<br />
operante como uma relação do tipo resposta-estímulo (R-S 3 ),<br />
em contraste à relação do tipo estímulo-resposta (S-R) presente no comportamento<br />
respondente.<br />
2<br />
Eliciar é o termo técnico usado para se referir à função de provocar uma resposta reflexa que<br />
estímulos possuem, quando apresentados a um organismo, a exemplo da comida na boca (estímulo<br />
eliciador) que gera salivação (respondente). A relação S-R é denominada reflexo ou comportamento<br />
respondente.<br />
3<br />
S do inglês stimulus e R do inglês response.<br />
18
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
É importante destacar que o advento deste novo conceito não<br />
excluiu do campo da Análise do Comportamento as dimensões comportamentais<br />
que podem ser explicadas a partir do conceito de comportamento<br />
respondente, uma vez que os estímulos apresentados como<br />
consequência para um operante (R-S) eliciam, sem dúvida, respondentes<br />
no organismo (S-R). A diferenciação entre eles, operante e respondente,<br />
se justifica pela especificidade da interação apresentada em cada<br />
um, especialmente no que tange à ação do sujeito e é muito útil para<br />
efeito de análise comportamental. A partir da proposição do conceito<br />
de comportamento operante, Skinner (1969/1984) passa a analisar a interação<br />
organismo-ambiente utilizando o conceito de contingência.<br />
Contingências são enunciados do tipo “se..., então....” que descrevem<br />
relações entre eventos (SOUZA, 1999). Um exemplo de contingência<br />
presente no comportamento respondente seria: “se a luz apagar (estímulo<br />
eliciador), então a pupila irá imediatamente se contrair (respondente)”<br />
ou esquematicamente apenas S-R.<br />
A Análise do Comportamento a partir do estabelecimento do<br />
conceito de operante passou a empregar a contingência tríplice: S-R-S,<br />
ou seja, estímulo ambiental antecedente-resposta-estímulo ambiental<br />
consequente, para identificar as variáveis das quais o comportamento<br />
é função. Este método de Análise do Comportamento é denominado<br />
análise funcional (TODOROV, 1981, 1982, 1985; COSTA e MARINHO, 2002).<br />
A importância atribuída às consequências no comportamento<br />
operante desencadeou uma série de estudos que culminaram com a<br />
identificação de dois tipos de operações que ocorrem na relação organismo-ambiente,<br />
e interferem na frequência e probabilidade de ocorrência<br />
de um comportamento: a punição e o reforçamento.<br />
A punição é uma operação que consiste na apresentação de um<br />
estímulo ambiental consequente que diminui a frequência e probabilidade<br />
de ocorrência das respostas que o produzem. Estes estímulos são<br />
denominados estímulos aversivos (SKINNER, 1953/2000).<br />
Estudos mostraram que esta operação, infelizmente muito usada<br />
nas relações humanas, tem apenas eficácia parcial na diminuição da<br />
frequência do comportamento, uma vez que os indivíduos tendem a<br />
não emitir a resposta na presença do agente punitivo, mas na sua ausência<br />
podem voltar a apresentar o comportamento, que em muitos<br />
casos se apresenta em uma frequência ainda maior que a original.<br />
Outros estudos, a exemplo de Sidman (1989/1995), que avaliaram<br />
os subprodutos da punição apontam como correlatos da exposição<br />
19
Universidade da Amazônia<br />
sistemática a situações punitivas: o desenvolvimento de alterações orgânicas<br />
como taquicardia, tremores periféricos, aumento da sudorese,<br />
úlceras, medo, ansiedade, depressão, fobias, dentre outros. Tais efeitos<br />
fizeram Skinner (1953/2000) propor alternativas à punição para obter<br />
a redução da frequência de um comportamento, sendo a principal<br />
delas a extinção, que se caracteriza pela retirada do evento ambiental<br />
consequente à resposta com alta frequência.<br />
A segunda operação estudada pela Análise do Comportamento<br />
é o reforçamento. Reforçamento é definido como uma operação na<br />
qual um estímulo ambiental apresentado contingentemente a uma resposta,<br />
aumenta a frequência e probabilidade de ocorrência futura da<br />
mesma (SKINNER, 1953/2000, 1969/1984; HALL, 1975).<br />
As pesquisas da Análise do Comportamento mostraram que existem<br />
basicamente dois tipos de reforço: reforço positivo e reforço negativo.<br />
A diferença básica entre eles está no fato de que, no reforço positivo<br />
o que aumenta a frequência e probabilidade de ocorrência do comportamento<br />
é a apresentação de um estímulo contingente à resposta,<br />
enquanto que, no reforço negativo, o que aumenta a frequência e probabilidade<br />
de ocorrência do comportamento é a retirada de um estímulo<br />
aversivo ou a evitação do contato com o referido estímulo.<br />
Os estudos sobre o reforço positivo realizados pela Análise do<br />
Comportamento indicaram como fatores críticos para o estabelecimento<br />
de uma contingência de reforço: 1) o tempo entre a resposta e a<br />
conseqüência e; 2) o esquema de administração da consequência, que<br />
pode ser feita de forma contínua, intermitente, dentre outras variações<br />
e combinações possíveis (MACHADO, 1980, 1986).<br />
Vários autores estudaram os efeitos do reforço negativo. Em geral,<br />
estes estudos são realizados em associação com estudos acerca da punição.<br />
Tais estudos classificaram os comportamentos reforçados negativamente<br />
como fuga e esquiva. Na fuga, a resposta é reforçada pela retirada do estímulo<br />
aversivo e na esquiva a resposta é reforçada por evitar ou adiar o<br />
contato do indivíduo com a estimulação aversiva (SIDMAN, 1989/1995).<br />
Embora, haja uma franca defesa nos textos de Skinner e Sidman dos<br />
benefícios de estabelecer comportamentos via reforçamento positivo, estudos<br />
recentes têm problematizado esta questão, uma vez que muitos comportamentos<br />
instalados e mantidos por reforço positivo imediato têm consequências<br />
futuras altamente aversivas. Um exemplo disso, pode ser o comportamento<br />
de comer em excesso, para o qual existe reforço imediato. Esta<br />
discussão leva com que se iniciem reflexões sobre as consequências do uso<br />
20
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
indiscriminado do reforçamento positivo. Somado a isso, é possível pensar<br />
que a situação de punição também se apresenta como uma oportunidade de<br />
ampliação de repertório, uma vez que os indivíduos passam a apresentar<br />
comportamentos alternativos ao punido, estabelecendo outras formas de se<br />
relacionar com seu ambiente (PERONE, 2003). Longe de defender a utilização<br />
de punição, a análise de quadros como a Obesidade pode servir de incentivo<br />
à pesquisa sobre os malefícios da disponibilização de reforçamento positivo<br />
e consequente fortalecimento de comportamentos incompatíveis com a saúde.<br />
Aprofundaremos esta questão mais à frente.<br />
A proposição do conceito de operante e a identificação da operação<br />
de reforçamento fizeram com que Skinner (1989/1991) apresentasse<br />
a seguinte questão: “Por que o reforço reforça?”. Na ânsia por responder<br />
esta questão, Skinner foi buscar o mecanismo de seleção natural proposto<br />
por Darwin para a evolução das espécies e elaborou o modelo de seleção<br />
pelas consequências, em 1981. Este modelo propõe que a seleção não<br />
atuaria somente na variabilidade anatômica e fisiológica exibida pelos<br />
indivíduos, mas também na variabilidade comportamental. O comportamento<br />
de um indivíduo seria resultado de contingências filogenéticas<br />
(atuando no nível das espécies), de contingências ontogenéticas (atuando<br />
no nível dos repertórios comportamentais individuais) e de contingências<br />
culturais (atuando no nível das práticas grupais) (SKINNER, 1969/<br />
1984; MACHADO, 1994; NELSON, 1998; ANDERY, 1999; MICHELETTO, 1999).<br />
Acerca da Seleção pelas consequências no nível filogenético,<br />
Matos (1990) afirma que:<br />
... A modificação ocorre na reserva genética da espécie e é<br />
assim transmitida pelos indivíduos que, consequentemente,<br />
sobrevivem. Em nível comportamental, esses indivíduos tornam-se<br />
sensíveis a diferentes tipos e/ou níveis de estimulação,<br />
apresentam posturas típicas, sequências reflexas etc.<br />
Desta forma, é possível entender porque alguns estímulos consequentes<br />
ao comportamento têm o poder de aumentar a frequência e<br />
probabilidade de ocorrência do mesmo, tais como: água e alimento.<br />
Eles adquirem seu poder reforçador pelos efeitos que produzem no<br />
organismo. A estes estímulos denominamos reforçadores primários<br />
(SKINNER, 1953/2000, 1989/1991).<br />
No entanto, Skinner (1953/2000), evocando o segundo e terceiro<br />
nível de seleção: a ontogênese e a cultura, identifica outros estímulos<br />
consequentes que adquiriam o status de reforçadores pelo pareamen-<br />
21
Universidade da Amazônia<br />
to 4 ocorrido durante a história de vida do indivíduo com um ou mais<br />
reforçadores primários. Estes estímulos serão denominados reforçadores<br />
condicionados e reforçadores generalizados, respectivamente.<br />
Ao analisar o comportamento é necessário considerar os três níveis<br />
de seleção. No entanto, pelas próprias características da ciência que<br />
preconiza a eleição de um nível de análise ou ainda um recorte para configurar<br />
o caminho de investigação de um aspecto da realidade, Skinner<br />
(1990) propõe que a Análise do Comportamento investigue o comportamento<br />
a partir das interações organismo-ambiente que se dão no nível<br />
ontogenético (na história pessoal de cada indivíduo), acreditando que<br />
neste nível se façam presentes os dois outros níveis de determinação do<br />
comportamento: o filogenético e o cultural.<br />
Por conta desta eleição para a compreensão do processo de determinação<br />
do comportamento, uma das críticas mais frequentemente feitas ao<br />
Behaviorismo Radical (e por extensão à Análise do Comportamento) é que o<br />
homem seria tomado como um autômato e que não existiria a possibilidade<br />
de um indivíduo comandar sua própria vida. A exposição feita acima, ainda<br />
que pontual e sumarizada, impossibilita a confirmação desta crítica.<br />
A elaboração do conceito de autocontrole por Skinner (1953/2000),<br />
como controle ambiental exercido pelo próprio indivíduo, a partir da análise<br />
das contingências às quais seu comportamento é função (autoconhecimento),<br />
que lhe possibilita apresentar respostas (respostas controladoras)<br />
para diminuir a frequência de alguns comportamentos e/ou aumentar<br />
a frequência de outros (respostas controladas); descaracteriza a<br />
crítica de automação humana frequentemente feita ao Behaviorismo<br />
Radical, muito difundida no meio acadêmico (SKINNER, 1974/1993; FRAN-<br />
ÇA, 1997; CARRARA, 1998; RODRIGUES, 1999; WEBER, 2002).<br />
Em geral, o autocontrole é requerido em que existam contingências<br />
conflitantes. Na maioria das vezes, as consequências reforçadoras<br />
são apresentadas primeiramente que as consequências aversivas,<br />
mantendo a frequência e a probabilidade de ocorrência da resposta<br />
em níveis altos, gerando um controle competitivo (KERBAUY, 2000).<br />
Um exemplo de controle competitivo e dos prejuízos que este pode<br />
causar ao indivíduo pode ser observado no consumo de drogas (SILVA,<br />
GUERRA, GONÇALVES e GARCIA-MIJARES, 2001) e na Obesidade (KER-<br />
BAUY, 1972, 1977).<br />
4<br />
Pareamento ou emparelhamento de estímulos é o procedimento pelo qual um estímulo previamente<br />
neutro em relação a um respondente, adquire a função de eliciá-lo, após ter sido apresentado<br />
conjuntamente com o estímulo que originalmente eliciava o respondente em questão (SKINNER,<br />
1953/2000).<br />
22
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Para Hanna e Todorov (2002, p. 338) os seguintes aspectos fazem<br />
parte da análise comportamental do autocontrole:<br />
1. Trata-se de uma contingência ou uma combinação de<br />
contingências com duas conseqüências para uma mesma<br />
resposta – reforçamento e punição – esta resposta é chamada<br />
por ele de controlada (Rc);<br />
2. Envolve uma história individual onde ocorre o estabelecimento<br />
de propriedades aversivas para o comportamento<br />
controlado, idéia esta derivada da afirmação de que respostas<br />
que reduzem a probabilidade deste comportamento<br />
podem ser fortalecidas;<br />
3. Faz parte da contingência um segundo comportamento –<br />
chamado por ele de controlador (Rc 1 ) – que muda algum<br />
aspecto que compõe as condições ambientais e altera a<br />
probabilidade da resposta controlada;<br />
4. As mudanças na contingência do comportamento controlado<br />
produzidas pelo comportamento controlador podem:<br />
(a) reduzir/aumentar a intensidade de estímulos eliciadores<br />
ou aversivos; (b) produzir/retirar estímulos discriminativos;<br />
(c) modificar a motivação através da criação de operações<br />
estabelecedoras (emoção, drogas); (d) tornar reforçadores/punidores<br />
altamente prováveis ou improváveis; ou<br />
(e) desenvolver alternativas comportamentais que não<br />
impliquem punição.<br />
Os autores concluem que “Em qualquer desses casos, a mudança<br />
produzida pelo comportamento controlador somente alterará a probabilidade<br />
desse comportamento, se a probabilidade do comportamento<br />
controlado for alterada” (HANNA e TODOROV, 2002, p. 338). Sendo<br />
assim, é importante planejar contingências reforçadoras imediatas para<br />
a resposta controladora, de forma a permitir seu fortalecimento.<br />
Em resumo, podemos perceber neste item, que a Análise do<br />
Comportamento considera o comportamento como uma relação entre<br />
organismo e ambiente, que é construída e mantida ao longo de uma<br />
história de vida. Embora cada indivíduo tenha traçado uma caminhada<br />
peculiar, os processos que permeiam esta relação são plenamente acessíveis<br />
à análise científica, o que permite o estabelecimento de estratégias<br />
de modificação baseadas, sobretudo, na compreensão da função<br />
que o comportamento tem no ambiente e nos limites e possibilidades<br />
do repertório comportamental de cada indivíduo.<br />
23
Universidade da Amazônia<br />
1.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO<br />
BRASIL<br />
Apesar da Psicologia, como área de conhecimento, ter se feito<br />
presente nos escritos brasileiros desde a época do Brasil Colônia (MAS-<br />
SIMI, 1987; MASSIMI, 1990; ANTUNES, 2001), a Análise do Comportamento<br />
chegou ao Brasil apenas em 1961, com as aulas do Prof. Fred<br />
Keller na USP (primeira graduação em Psicologia a surgir no Brasil). O<br />
processo de desenvolvimento inicial dessa área do conhecimento psicológico<br />
é mais bem descrito por Matos (1996; 1998).<br />
Durante um significativo período de tempo, as pesquisas estiveram<br />
concentradas em princípios básicos do comportamento, investigados<br />
por meio de experimentos com animais infra-humanos. Outro<br />
campo que mereceu investimento inicial foi a área da Educação, com as<br />
investigações sobre programação de ensino.<br />
A partir de 1964, as contingências criadas a partir da instalação<br />
da ditadura militar, fizeram com que a Análise do Comportamento no<br />
Brasil fosse, por muitos anos, um sinônimo de Psicologia Experimental,<br />
área que sofria menor controle coercitivo do Estado. Desta forma, excetuando-se<br />
a área da Educação, a ampliação das pesquisas para áreas<br />
tradicionais como a área da Saúde se deu de forma mais lenta, o que<br />
veio a ocorrer no início da década de 80, em tese defendida na pósgraduação<br />
do Instituto de Psicologia da USP sobre o tema “Autocontrole<br />
do comportamento alimentar” (KERBAUY, 1972).<br />
Além da questão relativa aos campos de pesquisa explorados,<br />
Matos (1998) nos chama a atenção para a concentração da formação dos<br />
primeiros Analistas do Comportamento. Para a autora, esta concentração<br />
se deu no eixo Sul-Sudeste, com exceção do Estado da Pará:<br />
Um sólido curso de pós-graduação, com uma forte ênfase<br />
em Análise do Comportamento, existia na Universidade de<br />
São Paulo desde 1970. Outros foram criados, na Pontifícia<br />
Universidade Católica de Campinas, SP, em 1972, e na<br />
Universidade de Brasília, em 1974. Um excelente mestrado<br />
em Educação Especial passou a ser oferecido na<br />
Universidade Federal de São Carlos, SP, a partir de 1980, e<br />
um mestrado em Análise Comportamental passou a ser<br />
oferecido na Universidade Federal do Pará em 1987. Cursos<br />
de especialização em Análise do Comportamento passaram<br />
a ser oferecidos regularmente na Universidade Estadual<br />
de Londrina, PR, e na Universidade de Caxias do Sul, RS.<br />
24
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Há poucos dados sobre a migração dos Analistas do Comportamento<br />
para outras regiões do país, mas a análise dos programas de concurso<br />
para as Universidades Federais revela que a seleção de tópicos<br />
circunscritos à Análise do Comportamento iniciou-se em meados da<br />
década de 90. É preciso lembrar, no entanto, que na Região Nordeste já<br />
há grupos de pesquisa consolidados e que a presença da Análise do<br />
Comportamento vem se tornando forte, em áreas como a Psicologia<br />
Clínica e Escolar.<br />
1.3 O QUE VEM A SER OBESIDADE?<br />
A Obesidade é uma doença crônica de etiologia multifatorial,<br />
que se caracteriza pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura no<br />
organismo sob a forma de tecido adiposo (ADES e KERBAUY, 2002; AL-<br />
MEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002; SEGAL e FANDIÑO, 2002).<br />
O Índice de Massa Corporal (IMC) 5 tem sido o método de referência<br />
para o diagnóstico da Obesidade, adotado como parâmetro por<br />
organismos internacionais, a exemplo da Organização Mundial da Saúde<br />
(OMS), para estimar a prevalência deste distúrbio na população (DO-<br />
BROW, KAMENETZ e DEVLIN, 2002). Tal índice estabelece basicamente<br />
duas categorias para descrever a condição de um indivíduo que está<br />
acima do peso corporal considerado normal: o Sobrepeso e a Obesidade.<br />
O sobrepeso é caracterizado quando o cálculo do IMC resulta em<br />
índice que varia de 25 a 29,9 Kg/m 2 . A Obesidade é caracterizada quando<br />
o cálculo do IMC atinge índices de 30 a 34,9 Kg/m 2 . A Obesidade<br />
mórbida é aferida quando o índice do IMC ultrapassa 35 Kg/m 2 , nesta<br />
condição o indivíduo já excede o peso normal em mais de 40% (DAMIA-<br />
NI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002).<br />
Outros autores alertam para as limitações do IMC, já que ele<br />
não permite visualizar, por exemplo, a distribuição do tecido adiposo<br />
excedente ao longo do corpo, fator comprovadamente relevante e correlacionado<br />
com algumas doenças associadas à Obesidade como o diabetes.<br />
Conforme Cuppari (2002, p.136), a Obesidade pode ser classificada<br />
em relação a forma de armazenamento e distribuição da gordura<br />
pelo corpo em três grupos:<br />
5<br />
Peso corporal em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros quadrados.<br />
25
Universidade da Amazônia<br />
a) Obesidade andróide: também chamada troncular ou<br />
central, lembra o formato de uma maçã. Sua presença se<br />
relaciona com alto risco cardiovascular;<br />
b) Obesidade ginecóide: caracteriza-se por um depósito<br />
aumentado de gordura nos quadris, lembra o formato de<br />
uma pêra. Sua presença está relacionada com um risco<br />
maior de artroses e varizes;<br />
c) generalizada.<br />
A Obesidade e o Sobrepeso têm apresentado um aumento progressivo<br />
e significativo na população mundial nos últimos 40 anos, atingindo<br />
indistintamente crianças, adolescentes, adultos e idosos, não só<br />
nos países chamados desenvolvidos, mas também alcançando altos níveis<br />
de prevalência em países com baixos índices de desenvolvimento,<br />
a exemplo do que se observa na América Latina (CARVALHO, 2000; DA-<br />
MIANI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002), passando, assim, a se configurar<br />
como uma epidemia. No Brasil, as pesquisas apontam o mesmo avanço<br />
na prevalência da Obesidade, sendo caracterizado por alguns autores<br />
como uma transição epidemiológica, uma vez que o país contava com<br />
um alto índice de subnutridos e um baixo índice de obesos no início da<br />
década de 70, hoje conta com 40% de sua população obesa e apenas<br />
5,7% subnutrida (OLIVEIRA, 2000; NEVES, 2003).<br />
A Obesidade já é bem conhecida como fator de risco para patologias<br />
graves como o diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, arteriosclerose,<br />
alguns tipos de câncer, problemas respiratórios e distúrbios<br />
reprodutivos em mulheres, dentre outros (GIGANTE, BARROS, POST e<br />
OLINTO, 1997; ADES e KERBAUY, 2002; ALMEIDA, LOUREIRO e SANTOS,<br />
2002; SEGAL e FANDIÑO, 2002; DAMIANI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002).<br />
No entanto, as alterações e as patologias orgânicas decorrentes<br />
da Obesidade, sobretudo a Obesidade mórbida, não expressam completamente<br />
o que este quadro pode ocasionar na vida de um indivíduo. Investigações<br />
têm indicado a relação entre Obesidade e baixa competência<br />
social 6 (BARBOSA, 2001), expressa em quadros de esquiva e retraimento<br />
social (KERBAUY, 1987) e dificuldades no estabelecimento de relacionamentos<br />
amorosos (ROCHA, ABDELNOR e VANETTA, 2001; ROCHA,<br />
ABDELNOR, VANETTA e SILVA, 2002), além de quadros de ansiedade e<br />
depressão (GONÇALVES e OLIVEIRA, 2003; DOBROW, KAMENETZ e DEV-<br />
6<br />
Competência social pode ser definida pela expressão de sentimentos, atitudes, desejos, opiniões e/<br />
ou direitos, adequada ao contexto situacional, respeitando-se igualmente a expressão destes mesmos<br />
comportamentos por outros indivíduos (BARBOSA, 2001; DEL PRETTE e DEL PRETTE, 1999).<br />
26
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
LIN, 2002), gerando consequências significativas para a autoimagem e<br />
autoestima dos indivíduos (ALMEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002), prejudicando<br />
sua interação social e, consequentemente, sua qualidade de vida.<br />
Nos últimos anos, novos métodos têm sido construídos com vistas<br />
a realizar uma intervenção mais efetiva em quadros de excesso de<br />
peso. Em especial, nos casos de Obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica<br />
tem sido indicada como um método eficaz para a redução de peso e<br />
sua manutenção em longo prazo (GARRIDO JÚNIOR, 2002; OLIVEIRA,<br />
LINARDI e AZEVEDO, 2004; BENEDETTI, 2003; FERRAZ et al, 2007).<br />
A cirurgia bariátrica pode ter caráter exclusivo ou restritivo e<br />
busca dificultar, com maior ou menor intensidade, a absorção de nutrientes.<br />
Essa intervenção cirúrgica pode ser dividida em procedimentos<br />
que: 1) limitam a capacidade gástrica, ou seja, cirurgias restritivas; 2)<br />
interferem na digestão (cirurgias disabsortivas) e; 3) uma combinação<br />
de ambas as técnicas, isto é, cirurgias mistas (MARQUES e GRAIM, 2004;<br />
QUADROS, HECKE e ORTELLADO, 2005).<br />
Um conjunto de critérios estabelecidos pela Federação Internacional<br />
para a Cirurgia da Obesidade e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia<br />
Bariátrica (SBCB) é adotado para a feitura da indicação do paciente<br />
para a realização da cirurgia bariátrica. Dentre eles estão: o paciente deve<br />
ser portador de Obesidade tipo III (Obesidade mórbida); não ter obtido<br />
sucesso em diversos tratamentos clínicos; apresentar comprometimento<br />
em sua saúde derivado da presença da Obesidade; ter risco cirúrgico aceitável;<br />
ter capacidade de compreender as implicações que a feitura da<br />
cirurgia irá gerar em termos de mudanças em seu estilo de vida.<br />
As principais contraindicação da cirurgia são a existência de distúrbios<br />
psiquiátricos, dependência química, alcoolismo, atraso mental,<br />
transtornos alimentares como a bulimia nervosa e resistência à mudança<br />
de atitude alimentar e comportamental. Além disso, não é aceitável a<br />
realização de cirurgias bariátricas em crianças, adolescentes, grávidas e<br />
pessoas com idade avançada; possuidores de varizes esofágicas, doenças<br />
imunológicas ou inflamatórias do trato superior; sujeitos com doença<br />
cardiopulmonar severa e descompensadora; que tenham quadros alérgicos<br />
exuberante e nunca tenham frequentado programa de tratamento<br />
para perda de peso, considerando a cirurgia bariátrica como tratamento<br />
de primeira escolha (CARREIRO e ZILBERSTEIN, 2004).<br />
Em alguns casos, é aceitável a realização de cirurgia bariátrica<br />
em pacientes com IMC em torno de 32 e 35, desde que seja atestada a<br />
presença de comorbidades ou tenham indicações formais do clínico,<br />
27
Universidade da Amazônia<br />
endocrinologista e psicólogo, uma vez que esses indivíduos encontramse<br />
com sua saúde extremamente debilitada e necessitam de melhora<br />
urgente na sua qualidade de vida (CARREIRO e ZILBERSTEIN, 2004).<br />
Os pacientes submetidos a esta cirurgia passam por um longo<br />
período de adaptação à nova condição gástrica, seguindo durante alguns<br />
meses uma sequência de passos para a reintrodução de alimentos e de<br />
atividade física. Por conta de sua história alimentar anterior, a literatura<br />
sobre o assunto ressalta que há necessidade da equipe responsável pela<br />
alimentação do paciente atentar para possíveis situações, nas quais o<br />
paciente poderá se sentir tentado a comer mais do que pode ou a ingerir<br />
alimentos que não são tidos como saudáveis. Um exemplo de situação<br />
perigosa é o fato de que geralmente o sujeito obeso come mais e pior<br />
(quanto à qualidade), no final de semana do que durante os dias da semana,<br />
e com frequência, justifica esse comportamento relatando que é<br />
mais comedido durante a semana para poder comer o que e o quanto<br />
desejam no sábado e no domingo (GARRIDO JÚNIOR, 2002).<br />
1.4 OBESIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A Psicologia, como ciência e profissão, tem tomado a Obesidade<br />
como foco de análise e intervenção. Entretanto, dadas as características<br />
deste domínio do conhecimento, há na ciência psicológica diferentes<br />
formas de compreender a Obesidade que geram diferentes formas<br />
de abordá-la, dentre elas, a Análise do Comportamento.<br />
A Análise do Comportamento tem desenvolvido pesquisas sobre<br />
o comportamento alimentar desde o estudo clássico de Ferster,<br />
Nurnberger e Levitt (1962). Estes estudos se caracterizam pela descrição<br />
e análise do comportamento alimentar, em termos da relação organismo-ambiente<br />
construída ao longo da história dos indivíduos, visando<br />
a identificar que condições ambientais (variáveis) instalaram e mantêm<br />
o padrão de comportamento observado e, desta forma, identificam<br />
a função do mesmo. Além da avaliação de métodos de intervenção<br />
para o estabelecimento de mudanças comportamentais e autocontrole<br />
do comportamento dos indivíduos obesos.<br />
Estes estudos, que inicialmente se desenvolviam dentro do<br />
ambiente controlado do laboratório (FERSTER, NUNRBERGER e LEVITT,<br />
1962; GOLDIAMOND, 1965), foram progressivamente estendidos para<br />
outros settings como hospitais e consultórios psicológicos (BARBOSA,<br />
2001, por exemplo).<br />
28
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
No Brasil, o primeiro estudo realizado a partir do referencial<br />
teórico e metodológico da Análise do Comportamento acerca do comportamento<br />
alimentar de obesos é de autoria de Kerbauy (1972), tese<br />
de doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP. Desde<br />
este estudo, vários pesquisadores têm investigado este tema sob o<br />
mesmo referencial, buscando construir conhecimentos científicos que,<br />
em última análise, orientem ações profiláticas e/ou terapêuticas. Sem<br />
dúvida, nestes mais de 30 anos de pesquisas brasileiras sobre o tema se<br />
construiu um arcabouço de conhecimentos considerável.<br />
Estes estudos levantaram questões acerca da função que o comportamento<br />
alimentar tem para o obeso, em outras palavras colocaram<br />
a necessidade de identificar o porquê de o indivíduo obeso apresentar<br />
um padrão de ingesta de alimento superior ao gasto de seu organismo<br />
(KERBAUY, 1988). Responder a esta pergunta, coerentemente com o referencial<br />
teórico assumido, passa necessariamente pela descrição e<br />
análise das contingências a que o indivíduo está exposto, ou seja, por<br />
uma análise funcional de seu comportamento.<br />
Estudos, como o de Silva, V. (2001), apontam que a carência de fontes<br />
de reforçamento positivo alternativas ao alimento no ambiente do indivíduo<br />
obeso, associada à história de exposição às contingências familiares, quando,<br />
principalmente na infância, o alimento é administrado em substituição a<br />
outros reforçadores como contato físico, atenção etc., são fatores relevantes<br />
para a instalação e manutenção do comportamento alimentar do obeso.<br />
Outros estudos, a exemplo de Kerbauy (1988) e Gonçalves e<br />
Oliveira (2003) _ este último, realizado por meio da coleta de dados<br />
clínicos de pacientes obesos com psicólogos comportamentais - têm<br />
apontado que o comportamento alimentar do obeso seria instalado<br />
e mantido também por reforçamento negativo. Em situações que o<br />
indivíduo tem contato com um estímulo pré-aversivo ou aversivo e<br />
não há a possibilidade da emissão de respostas de esquiva e/ou fuga,<br />
ocorre um padrão conjunto de produção de estados corporais (eventos<br />
privados) e supressão de comportamentos operantes (evento<br />
público) denominado ansiedade (TORRES, 2000; QUEIROZ e GUI-<br />
LHARD, 2001), o indivíduo obeso ingeriria alimento para, pelo menos<br />
momentaneamente, reduzir os estados corporais experimentados,<br />
reforçando negativamente o comportamento de ingerir alimentos<br />
nestas situações.<br />
É importante destacar que, coerentemente com a fundamentação<br />
epistemológica da Análise do Comportamento, a ansiedade em si<br />
29
Universidade da Amazônia<br />
não é tomada como causa do comportamento alimentar do obeso, mas<br />
a situação que a gerou. Nestes termos, a ansiedade é tão produto das<br />
contingências quanto o comportamento alimentar do obeso.<br />
Outros estudos avaliaram contingências presentes no ambiente<br />
social do obeso que podiam estar relacionadas ao padrão de ingestão de<br />
alimento apresentado. Estes estudos apontaram a oferta de alimentos e<br />
os padrões comportamentais presentes no ambiente familiar como variáveis<br />
que afetam a instalação do quadro de Obesidade. Estes mesmos<br />
estudos também relacionam estas variáveis com as dificuldades em seguir<br />
as prescrições de dieta alimentar, em realizar exercícios periodicamente<br />
e manter a perda de peso, obtida inclusive com o uso de medicamentos<br />
(ALBUQUERQUE e GOMES, 2002; ADES e KERBAUY, 2002). Estes<br />
estudos foram progressivamente fornecendo dados para uma área de<br />
investigação central da Psicologia da Saúde: a adesão ao tratamento (MA-<br />
LERBI, 2000; FERREIRA, 2001, ZANNON e ARRUDA, 2002, por exemplo).<br />
Outros estudos têm indicado que o indivíduo obeso é exposto a<br />
um conjunto de contingências sociais aversivas, como rejeição de colegas,<br />
por exemplo, que têm como reflexo dificuldades de estabelecimento<br />
de relacionamentos amorosos (ROCHA, ABDELNOR, VANETTA e SILVA,<br />
2002), retraimento social (KERBAUY, 1988), solidão, depressão e agressividade,<br />
em alguns casos (MULLER, 1999). O estudo de Barbosa (2001) ratifica<br />
a relação entre Obesidade e baixa competência social, uma vez que<br />
os dois adolescentes estudados apresentaram melhoras nas suas relações<br />
interpessoais à medida que foi se configurando a perda de peso. É<br />
preciso, no entanto, salientar que programas que usam apenas estratégias<br />
médicas, mesmo que evasivas, como a cirurgia bariátrica, apesar de<br />
produzirem perda de peso, não habilitam o indivíduo a lidar com sua<br />
nova situação (ADES e KERBAUY, 2002). Além disso, estes mesmos estudos<br />
apontam que programas que associam estratégias médicas a estratégias<br />
comportamentais são mais eficazes, uma vez que este tipo de intervenção<br />
amplia o repertório do indivíduo, em vários aspectos, inclusive no<br />
aspecto social, permitindo que ele aprenda a lidar com as novas contingências<br />
que se configurarão no seu ambiente daí para frente. Esta constatação<br />
resultou em uma outra série de estudos que visou a construção de<br />
programas de redução de peso que abarquem estes dois tipos de estratégias,<br />
por exemplo (COSTA, J., 1983; HELLER e KERBAUY, 2000).<br />
A caracterização do comportamento alimentar do obeso, como<br />
comportamento que experimenta como consequência, por um lado, de<br />
forma mais imediata, reforço positivo e negativo e, por outro, a médio<br />
30
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
e longo prazo, consequências aversivas relacionadas a questões orgânicas<br />
e sociais vivenciadas pelo obeso, faz com que esta área de pesquisa<br />
esteja em franca ascensão no meio acadêmico e profissional dos Analistas<br />
do Comportamento.<br />
Ades e Kerbauy (2002) apresentam dados que sustentam a importância<br />
da análise e intervenção em nível comportamental com o indivíduo<br />
obeso. As autoras no trecho abaixo descrevem o comportamento<br />
de indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica:<br />
Com o tempo, M. parou de se incomodar muito com isso,<br />
acostumou-se a comer pouco. Porém, a escolha dos<br />
alimentos continuou sendo influenciada por antigas<br />
preferências: “às vezes prefiro comer um biscoito e não almoçar.<br />
Tem que ser um biscoito...”... Não é incomum encontrar<br />
pessoas que precisam de um seguimento ainda mais<br />
cuidadoso após a cirurgia por ter uma dificuldade muito<br />
grande em adaptar-se à nova alimentação que deve ser<br />
introduzida aos poucos. Pacientes relatam muita ansiedade<br />
e até desespero por não poderem comer mais como antes...<br />
Pacientes que entram no programa de mudança<br />
comportamental e que iniciam a dieta antes da cirurgia<br />
parecem estar mais prontos a aceitar a alimentação no<br />
período pós-operatório (líquidos, papas, etc.) e parecem<br />
ter mais consciência de que uma reeducação alimentar é<br />
necessária. O prognóstico é bastante melhor.<br />
O trecho acima é claro ao destacar que a mudança na escolha dos<br />
alimentos, fundamental para promover a perda de peso, não é obtida<br />
simplesmente com uma intervenção orgânica, por mais abrasiva que esta<br />
seja. O indivíduo tem uma história alimentar, seu comportamento alimentar<br />
foi construído a partir de relações travadas com seu ambiente ao<br />
longo de sua vida. A cirurgia modifica o corpo, mas não necessariamente<br />
o comportamento, simplesmente porque este adquiriu uma função para<br />
aquele indivíduo e a cirurgia não é capaz de alterar esta função.<br />
Em resumo, a Análise do Comportamento não estuda a Obesidade<br />
em si, por ela se tratar de uma patologia orgânica, mas sim a relação<br />
entre o indivíduo obeso e seu ambiente que instalou e mantém<br />
este quadro, em especial a função que o comportamento alimentar<br />
adquiriu a ponto de fazer com que o indivíduo continue a executá-lo em<br />
excesso e de forma inadequada, a despeito dos enormes prejuízos sentidos<br />
nos campos orgânico e social.<br />
31
Universidade da Amazônia<br />
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________<br />
Percurso Metodológico<br />
Capítulo 2<br />
PERCURSO<br />
METODOLÓGICO<br />
32
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
2.1 A PESQUISA “ESTADO DA ARTE”<br />
“Estado da Arte” ou “Estado do conhecimento” é uma pesquisa<br />
de caráter bibliográfico que inventaria e analisa a produção científica<br />
de uma dada área do conhecimento acerca de uma temática, constituindo-se,<br />
desta forma, em “... Uma exposição sobre o nível de conhecimento<br />
e o grau de desenvolvimento de um dado campo” (SPINK apud<br />
RANGEL, 1998, p. 73).<br />
Para Luna (1999, p. 82), o objetivo deste tipo de pesquisa é fundamentalmente<br />
responder a questões como:<br />
[...] O que já se sabe, quais as principais lacunas, onde se<br />
encontram os principais entraves teóricos e metodológicos,<br />
contribuindo por um lado, para caracterizar o conhecimento<br />
produzido, por outro, para desencadear reflexões<br />
que sirvam para reorientar a investigação científica acerca<br />
da temática em análise; ratificando sua relevância epistemológica.<br />
Neste sentido, Gamboa (1996, p.147) afirma que, ao se referir a<br />
pesquisas “Estado da Arte” na área da Educação:<br />
Estudos semelhantes [Estado da Arte] aos aqui registrados<br />
poderão contribuir para a avaliação crítica dessa trajetória<br />
e, conseqüentemente, para potencializar o “salto<br />
qualitativo” a que a pesquisa em educação precisa. Não é<br />
possível transformar uma realidade sem conhecê-la. Não é<br />
possível esse conhecimento sem o rigor da pesquisa.<br />
Tais estudos, além disso, adquirem relevância social, uma vez<br />
que avaliar a produção científica tem reflexos sobre a qualidade do<br />
conhecimento produzido, que em última instância, será fornecido a<br />
sociedade em geral, para a prevenção e o enfrentamento de problemas<br />
cotidianos. Isto, em muitas áreas, mas especialmente na área da Saúde,<br />
confere a estes estudos uma importância estratégica.<br />
A julgar pela presença crescente de pesquisas “Estado da Arte”<br />
ou “Estado do Conhecimento” no meio acadêmico brasileiro (SILVA, R.<br />
et al, 1991; GODOY, 1995; ORTEGA, FAVERO e GARCIA, 1998; ANDRÉ, 2000;<br />
HADDAD, 2000: MOLINA, 2007), pode-se afirmar que este tipo de pesquisa<br />
vem se expandindo e se consolidando na comunidade científica.<br />
33
Universidade da Amazônia<br />
2.2 RELATANDO O CAMINHO<br />
A investigação de nosso objeto: a produção científica da Análise<br />
do Comportamento no Brasil sobre o tema Obesidade, requereu a adoção<br />
dos seguintes procedimentos metodológicos:<br />
1º movimento: Localização dos trabalhos científicos produzidos com as<br />
características eleitas como objeto de estudo;<br />
2º movimento: Leitura, identificação e caracterização dos elementos<br />
constituintes de cada trabalho localizado e;<br />
3º movimento: Análise dos Resultados.<br />
2.2.1 A localização dos trabalhos<br />
Nesta fase foi eleito um conjunto de palavras-chave que guiou a<br />
consulta às bases bibliográficas eletrônicas e convencionais. A escolha<br />
seguiu dois critérios: ser termo do arcabouço teórico da Análise do Comportamento<br />
que frequentemente aparece em textos de Análise do Comportamento<br />
e Saúde (a exemplo de autocontrole) (1° grupo de palavras-chave)<br />
e; ser termo comumente utilizado em textos das áreas<br />
médica e nutricional sobre Obesidade (2° grupo de palavras-chave). O<br />
resultado desse processo de seleção pode ser visto no quadro abaixo:<br />
1° GRUPO 2° GRUPO<br />
Análise do Comportamento Obesidade<br />
Autocontrole<br />
Sobrepeso<br />
Terapia por Contingência<br />
Obesidade Mórbida<br />
Terapia Comportamental<br />
Redução de Peso<br />
Psicologia Comportamental Excesso de Peso<br />
Terapia Analítico-Comportamental Transtornos Alimentares 7<br />
Análise Comportamental<br />
Cirurgia Bariátrica<br />
Gastroplastia<br />
Descontrole Alimentar Épisódico<br />
Comportamento alimentar<br />
Quadro 1. Lista de palavras-chave selecionadas para a revisão de literatura<br />
7<br />
Embora, a Obesidade não possa ser classificada como um distúrbio alimentar, com uma certa<br />
frequência, ela é mencionada em estudos sobre distúrbios de compulsão.<br />
34
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Para garantir um refinamento maior na busca optou-se também<br />
por utilizar sempre duas palavras-chave, uma de cada grupo. Desta forma,<br />
70 cruzamentos de palavras-chave foram realizados e utilizados nas<br />
bases bibliográficas selecionadas.<br />
As bases eletrônicas selecionadas seguiram dois critérios de abrangência<br />
e especificidade. Neste sentido, um exemplo de escolha por abrangência<br />
é a Plataforma Lattes do CNPq, uma vez que disponibiliza currículos<br />
de estudantes e pesquisadores brasileiros de todas as regiões do país. A<br />
escolha do Index Psi, por outro lado, satisfaz o critério da especificidade, já<br />
que disponibiliza resumos de trabalhos exclusivamente da área da Psicologia.<br />
Além dessas bases, foram consultadas o Scielo, a Biblioteca de Teses e<br />
Dissertações da USP, o Periódico Capes e o acervo das bibliotecas onde<br />
existem cursos de Psicologia no Brasil. Desta forma, a revisão da literatura<br />
pertinente foi realizada prioritariamente em bases eletrônicas.<br />
Após essa incursão, obtivemos diferentes tipos de materiais: o<br />
resumo dos textos, apenas a referência bibliográfica completa do texto<br />
completo (em forma de artigo, teses, dissertações, por exemplo). Em<br />
todos os casos, foi realizada uma pré-seleção que primou por identificar<br />
no material localizado o uso de termos da Análise do Comportamento.<br />
Como já foi acentuado no capítulo anterior, a produção brasileira da<br />
Psicologia Comportamental não se restringe à Análise do Comportamento,<br />
uma vez que nos últimos anos cresce um movimento denominado<br />
Psicologia Comportamental e Cognitiva que, embora compartilhe<br />
com a Análise do Comportamento alguns termos e técnicas, não constrói<br />
sua análise baseada nos mesmos princípios. Neste sentido, foi preciso<br />
perceber a que linha de pensamento os materiais localizados estavam<br />
circunscritos. Em alguns casos, além da leitura foi necessária a análise<br />
do currículo do pesquisador como um todo e o estabelecimento de<br />
contato via e-mail com o mesmo.<br />
Composta a lista de trabalhos iniciou-se o processo de captação<br />
dos textos completos, que compreendeu a requisição dos mesmos via<br />
COMUT ou BIREME, a solicitação de cópias aos autores, dentre outras<br />
estratégias utilizadas. À medida que se foi acessando os mesmos iniciouse<br />
a fase seguinte.<br />
2.2.2 Leitura, identificação e caracterização<br />
Esta fase objetivou extrair de cada trabalho elementos que o representasse<br />
e permitissem o estabelecimento de relação com os outros<br />
trabalhos, com vistas à composição de um quadro que fornecesse base à<br />
35
Universidade da Amazônia<br />
construção de uma espécie de mapa da produção científica brasileira da<br />
Análise do Comportamento sobre o tema Obesidade. Neste sentido, dividimos<br />
em dois grupos os elementos identificados em cada trabalho:<br />
1º Grupo: Dados bibliográficos da obra = autor, instituição de origem,<br />
ano, título, tipo de documento bibliográfico resultante (livro,<br />
artigo, resumo em congresso etc.); veículo de publicação, local/região;<br />
2º Grupo: Dados característicos da pesquisa = problema de pesquisa,<br />
objetivos, referencial teórico apresentado, metodologia (tipo<br />
de pesquisa, local de investigação, fontes de dados, técnicas<br />
de coleta e análise de dados); resultados e análise/discussão<br />
teórica dos mesmos.<br />
Para a tabulação dos dados foi elaborada uma Ficha de Análise (ver<br />
Apêndice) que era preenchida a cada novo trabalho analisado, servindo, ao<br />
final, como base para o estabelecimento de comparações entre os trabalhos.<br />
2.2.3 Análise dos resultados<br />
Nesta fase, as Fichas de Análise foram comparadas e geraram<br />
dois tipos de análise:<br />
1. Análise quantitativa dos dados: tomando como parâmetro os dados<br />
bibliográficos de cada trabalho, traçou-se um perfil da produção,<br />
levando em consideração a década em que foi realizada, a instituição,<br />
a distribuição por região brasileira, o tipo de produção bibliográfica<br />
resultante, o veículo de publicação e os autores envolvidos.<br />
2. Análise qualitativa dos dados: tomando como base os dados característicos<br />
da pesquisa, identificaram-se os delineamentos mais frequentes,<br />
as questões conceituais mais exploradas, os resultados e<br />
as conclusões de cada trabalho.<br />
A composição desses perfis não intencionou apenas ser uma<br />
espécie de diagnóstico (fotografia da produção), tarefa que por si só já<br />
seria relevante, mas pretendeu dar elementos à proposição de um horizonte<br />
futuro de pesquisa, que pudessem atender as novas demandas<br />
que o fenômeno da Obesidade vem trazendo à sociedade brasileira,<br />
intenção premente em estudos do tipo “Estado da Arte”.<br />
36
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Capítulo 3<br />
DADOS E ANÁLISE<br />
QUANTITATIVA<br />
37
Universidade da Amazônia<br />
A presente pesquisa identificou entre os anos de 1972 e 2004<br />
um conjunto de 78 trabalhos realizados por Analistas do Comportamento<br />
brasileiros sobre o tema Obesidade, apresentado em forma de Catálogo<br />
de Trabalhos sobre Obesidade e Análise do Comportamento (1972-<br />
2004) (ver Anexo).<br />
A análise do Gráfico 1 revelou uma distribuição irregular desta<br />
produção ao longo desses 33 anos, indicando que por vários anos (14 ao<br />
todo) nenhum trabalho foi identificado (42,42 % da amostra de tempo<br />
analisada).<br />
Gráfico 1. Distribuição dos trabalhos localizados por ano.<br />
Por outro lado, é patente a intensificação da produção a partir<br />
do final da década de 90 e nos primeiros anos do Século XXI, a tal<br />
ponto que os trabalhos apresentados nestes últimos quatro anos totalizam<br />
61,53% do conjunto de trabalhos realizados. O cruzamento desses<br />
percentuais com a literatura sobre a incidência da Obesidade na população<br />
permite inferir a existência de uma correlação positiva, entre a<br />
incidência da Obesidade (sobretudo em países em desenvolvimento<br />
como o Brasil) e o número de trabalhos realizados por Analistas do Comportamento<br />
sobre o tema.<br />
Para visualizar-se mais adequadamente o processo de desenvolvimento<br />
dessa produção científica, optou-se por dividir o tempo total<br />
analisado em quatro períodos, a saber: 1) década de 70 (1971-1980); 2) dé-<br />
38
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
cada de 80 (1981-1990); 3) década de 90 (1991-2000) e, por fim, 4) os primeiros<br />
anos do Século XXI (2001-2004). A partir dessa escala de tempo pode-se<br />
verificar a distribuição da produção científica em cada período no Gráfico 2.<br />
Gráfico 2. Distribuição dos trabalhos localizados pelos quatro<br />
períodos de tempo analisados.<br />
A análise do Gráfico 2 permite afirmar que a produção e divulgação<br />
dos trabalhos tiveram um crescimento significativo na passagem da<br />
década de 70 para a década de 80 (333,33%). Neste processo, observouse<br />
que o número de trabalho praticamente manteve-se estável no período<br />
subsequente, experimentando um aumento significativo no último<br />
período analisado (242,85%).<br />
Gráfico 3. Distribuição dos trabalhos localizados por região<br />
brasileira dentro dos quatro períodos de tempo analisados.<br />
39
Universidade da Amazônia<br />
A análise do Gráfico 3 demonstra a regularidade da produção<br />
científica nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Embora, haja uma diferença<br />
significativa no volume de trabalhos realizados nas duas regiões,<br />
uma vez que, a primeira aparece como a região que mais produziu trabalhos<br />
sobre o assunto (28 trabalhos), e a segunda figura, como a terceira<br />
região em número de trabalhos produzidos (15 trabalhos).<br />
Um outro aspecto perceptível no Gráfico 3 é a expressiva participação<br />
que a Região Sul passa a ter neste cenário a partir da década de<br />
90, o que lhe rendeu inclusive o segundo lugar no número de trabalhos<br />
produzidos (24 trabalhos), com uma diferença discreta em relação ao<br />
primeiro lugar.<br />
Outro aspecto patente é a entrada da Região Norte no circuito<br />
de pesquisas sobre o tema nos primeiros anos do Século XXI, mas que já<br />
se apresenta de forma promissora, superando, dentro desse período, o<br />
número de produções da Região Centro-Oeste, uma Região, como foi<br />
assinalado desde o início, com uma tradição de pesquisas sobre o tema,<br />
sustentada pela produção científica da UnB.<br />
Por fim, a ausência da produção de trabalhos na Região Nordeste<br />
enseja a reflexão sobre as contingências que poderiam ter configurado e<br />
mantido este índice. A construção de hipóteses que justifiquem este quadro<br />
tomou basicamente dois caminhos: a análise do mapa de distribuição<br />
de fomento à pesquisa no Brasil e; o levantamento da história da chegada<br />
e disseminação da Análise do Comportamento em nosso país.<br />
Diversos eventos em torno do tema “fomento à pesquisa” têm<br />
sistematicamente indicado a alta concentração de recursos nas Regiões<br />
Sudeste e Sul, onde se localiza o maior número de universidades e<br />
institutos de pesquisa, bem como o maior número de cursos de pósgraduação<br />
stricto sensu (mestrado e doutorado), algo em torno de 89%<br />
do total de recursos para a pesquisa no Brasil (ver DINIZ e GUERRA,<br />
2002). Regiões como a Norte perfaz apenas 1 % desse montante, além<br />
do que, conta com um reduzido número de institutos de pesquisa e<br />
pós-graduações stricto sensu, a maioria delas com tempo de instalação<br />
bem recente. Esta forma de distribuição dos investimentos tem reflexos<br />
no desenho do mapa da produção científica brasileira, do qual as<br />
investigações sobre a Obesidade, a partir da Análise do Comportamento,<br />
faz parte.<br />
No entanto, este argumento por si só não dá conta de explicar os<br />
resultados obtidos pela Região Nordeste, já que a Região Norte, apesar<br />
dos recursos escassos e do número reduzido de cursos de graduação e<br />
40
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
pós-graduação, especialmente na área da Psicologia, passa a compor um<br />
polo de produção sobre o tema nos primeiros anos do Século XXI.<br />
Desta forma, foi preciso abstrair outras dimensões e características<br />
da Região Nordeste para compreender seu desempenho. Neste sentido, a<br />
análise da história da chegada e disseminação da Análise do Comportamento<br />
(exposta brevemente no Capítulo 1) aparece como uma opção de<br />
análise promissora. Como foi discutido naquele momento do texto, a concentração<br />
da formação dos Analistas do Comportamento no eixo Sul-Sudeste,<br />
a discreta migração para as universidades das outras regiões, exceto<br />
a Universidade Federal do Pará, se apresentam como fatores relevantes,<br />
por um lado, para a compreensão da ausência de trabalhos no período<br />
analisado na Região Nordeste e, por outro, da localização de uma linha de<br />
investigação promissora na Região Norte, no Estado do Pará.<br />
Gráfico 4. Distribuição dos trabalhos localizados pelas instituições<br />
geradoras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados.<br />
A análise do Gráfico 4 demonstra que a concentração da produção<br />
científica se deu em instituições de Ensino Superior com status de<br />
Universidade. Observou-se que houve, sobretudo, a partir dos primeiros<br />
anos do Século XXI a presença dessa produção tanto em universidades<br />
públicas, quanto privadas (ver Gráfico 5). É possível perceber, também<br />
no Gráfico 4, que houve uma distribuição equilibrada no número<br />
de trabalhos entre instituições públicas e privadas nas Regiões Norte e<br />
Centro-Oeste, não observada nas Regiões Sul e Sudeste, que têm mais<br />
trabalhos produzidos em instituições privadas e em instituições públicas,<br />
respectivamente.<br />
41
Universidade da Amazônia<br />
Gráfico 5. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de instituição<br />
geradora nas quatro Regiões Brasileiras em cada um dos quatro<br />
períodos de tempo analisados.<br />
Dentre as universidades brasileiras, a USP apresentou a produção<br />
mais constante sobre o tema, seguida da UnB e da UCG que apresentaram<br />
produções em três dos quatro períodos de tempo analisados.<br />
É possível perceber também que a Região Sul destaca-se como a região<br />
na qual a produção sobre o tema envolve mais Instituições de Ensino<br />
Superior (IES), existindo inclusive parceria entre algumas delas.<br />
Gráfico Gráfico 6. Distribuição 6. Distribuição dos trabalhos dos localizados trabalhos por tipo localizados de produção bibliográfica por tipo gerada de produção<br />
nos quatro períodos<br />
bibliográfica gerada nos quatro de tempo períodos analisados. de tempo analisados.<br />
42
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A análise do Gráfico 6 revela que a maior parte dos trabalhos<br />
produzidos tomou a forma de resumos de congresso (41,02%), concentrados<br />
em três dos quatro períodos de tempo analisados. Sendo que a<br />
maioria desses trabalhos apresentados como resumo não foi veiculada<br />
de outra forma (por meio de artigos, por exemplo), comprometendo assim<br />
a divulgação para um público maior de possíveis interessados e beneficiários<br />
do conhecimento produzido. A produção de trabalhos de conclusão<br />
de curso e artigos em periódicos científicos foi, respectivamente,<br />
o segundo e o terceiro tipo de produção mais frequente. Além disso, é<br />
necessário destacar dois outros dados: 1) a não localização de livros sobre<br />
Obesidade que utilizem os conceitos e ferramentas de análise da Análise<br />
do Comportamento, embora, se tenham localizados livros que ora ou<br />
outra faziam uso de termos compatíveis com essa abordagem psicológica<br />
(HELLER, 2004); 2) a localização de apenas uma tese de doutorado sobre o<br />
tema Obesidade, a partir da visão da Análise do Comportamento, curiosamente<br />
a primeira produção localizada no Brasil, datada de 1972, o que<br />
significa mais de três décadas sem a realização de um estudo de maior<br />
profundidade acadêmica sobre o tema, fato preocupante, uma vez que,<br />
em geral, uma tese de doutorado é um passo importante para a instalação<br />
ou/e fortalecimento de grupos de pesquisa.<br />
Gráfico 7. Distribuição dos trabalhos localizados<br />
por número de autores.<br />
A análise do Gráfico 7 releva que a maioria dos trabalhos produzidos<br />
foi realizada por apenas um autor (55,12%). Na consulta ao Catálogo<br />
de Trabalhos (ver Anexo), percebe-se que isso se deve ao fato de<br />
43
Universidade da Amazônia<br />
que as pesquisas que deram origem aos mesmos são comumente realizadas<br />
individualmente (teses, dissertações, monografias de especialização,<br />
por exemplo). Além disso, é esperado que os autores dessas<br />
pesquisas as levem ao conhecimento da comunidade científica (por meio<br />
de congressos) durante mais de uma fase da execução e mesmo após a<br />
sua conclusão, o que gerou mais de um trabalho apresentado referente<br />
a mesma pesquisa.<br />
Trabalhos que envolvem mais de um autor foram registrados<br />
somente a partir da década de 90. No entanto, não foi possível identificar<br />
grupos de pesquisa consolidados que investiguem a temática da<br />
Obesidade sob a óptica da Análise do Comportamento. Por outro lado,<br />
é possível perceber a presença significativa de pesquisadores, que juntamente<br />
com seus orientandos, vêm priorizando estas investigações. A<br />
consulta ao Quadro 2 consubstancia essa afirmação:<br />
Quadro 2. Número 2. Número de trabalhos de realizados trabalhos e/ou realizados orientados por e/ou nove pesquisadores orientados identificados, por nove distribuídos pesquisadores<br />
períodos identificados, tempo analisados. distribuídos nos quatro períodos de tempo<br />
nos<br />
quatro analisados.<br />
A análise do Quadro 2 demonstra, inicialmente, que os nove<br />
pesquisadores que realizaram e/ou orientaram trabalhos sobre Obesidade<br />
e Análise do Comportamento são todos do sexo feminino, na sua<br />
maioria com pós-graduação stricto sensu em nível de mestrado.<br />
44
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
No que tange à distribuição temporal dessas pesquisas, verificouse<br />
que nas décadas de 70 e 80 houve a concentração dos estudos nas<br />
mãos de duas pesquisadoras: Rachel Kerbauy (USP) e Jacira Cunha (UnB/<br />
UCG), que na maioria das vezes publicaram seus trabalhos individualmente.<br />
A consulta ao Catálogo de Trabalhos permite identificar que a<br />
maioria desses trabalhos foi publicada em apenas um periódico “Ciência<br />
do Comportamento: teoria, pesquisa e prática” (1985), editado pela UCG,<br />
escritos por Jacira Cunha, que para a elaboração desses artigos tomou<br />
como base os estudos realizados por ocasião de sua dissertação de mestrado<br />
(UnB, 1980), orientada pelo Prof. Dr. João Cláudio Todorov. Este<br />
periódico se constituiu na última publicação localizada da autora.<br />
Da mesma forma, os trabalhos feitos por Rachel Kerbauy (USP)<br />
são desdobramentos de sua tese de doutorado, a primeira e única no<br />
Brasil sobre a temática da Obesidade sob a óptica da Análise do Comportamento.<br />
É preciso destacar que a autora é a única a se fazer presente<br />
no quadro de trabalhos nas quatro décadas analisadas.<br />
Até a década de 90, foi possível identificar uma pesquisadora envolvida<br />
com o tema: Cristina di Benedetto (UNIPAR). A pesquisadora inaugura<br />
sua produção por ocasião da apresentação de uma comunicação científica<br />
na II Jornada de Psicologia Internacional (Umuarama, 1999), e tornase<br />
a pesquisadora que, quantitativamente, mais realizou e orientou pesquisas<br />
sobre o tema entre os anos de 2001 - 2004.<br />
Seguindo a tradição de partir de pesquisas produzidas por ocasião<br />
de cursos de pós-graduação strictu sensu, Débora Barbosa (USP) passa a<br />
integrar o conjunto de pesquisadoras que investiga a Obesidade a partir de<br />
2000, quando da apresentação de diferentes frutos de sua pesquisa de<br />
mestrado (USP, 2001), realizada sob a orientação da Profª. Drª Sônia Meyer.<br />
Sem dúvida, foi nesse período (2001 a 2004) que uma quantidade<br />
maior de Analistas do Comportamento desenvolveu ou orientou pesquisas<br />
sobre o tema, das quais se destacam os trabalhos de Diane Laloni (PUC-<br />
CAMP), Eleonora Ferreira (UFPA), Vera Raposo do Amaral (PUCCAMP), Maíra<br />
Baptistussi (UNIPAR) e Lúcia Cristina Cavalcante da Silva (UNAMA), que<br />
diferentemente da trajetória das outras pesquisadoras, não iniciaram suas<br />
produções sobre o tema em suas dissertações ou teses 8 . Desta forma, observou-se<br />
que o encontro com a temática se deu por meio do estudo de<br />
outros temas correlacionados e despertou nessas profissionais o interesse<br />
em pesquisar a Obesidade, seja por meio de trabalhos individuais, seja por<br />
meio da orientação de trabalhos.<br />
8<br />
Afirmação baseada na análise das informações disponíveis na Plataforma Lattes (www.cnpq.br/<br />
plataformalattes)<br />
45
Universidade da Amazônia<br />
Capítulo 4<br />
DADOS E ANÁLISE<br />
QUALITATIVA<br />
46
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A pretensão inicial de ler e analisar o conjunto total de trabalhos<br />
veiculados por Analistas do Comportamento sobre o tema Obesidade<br />
enfrentou ao menos dois obstáculos para se concretizar: 1) a maioria<br />
dos trabalhos localizados foi veiculada em anais de congressos, na forma<br />
de resumo (41,02%) ou de trabalho completo (2,56%), o que restringe<br />
o seu acesso ao grupo de pessoas que esteve presente nesses eventos;<br />
2) boa parte dos outros tipos de trabalhos (teses, dissertações,<br />
monografias de conclusão de especialização de trabalhos de conclusão<br />
de cursos de graduação) só estavam disponíveis nas instituições onde<br />
foram produzidos (16,66%), o que criou a necessidade da captação de<br />
parte deles por meio de sistemas de comutação como o COMUT e similares,<br />
que, por exemplo, infelizmente, não dão acesso a Trabalhos de<br />
Conclusão de Curso (TCC).<br />
Algumas estratégias foram montadas com vistas a aumentar o<br />
número de trabalhos a serem submetidos à análise qualitativa: 1) enviamos<br />
e-mails para os autores explicando o teor da pesquisa, listando os<br />
trabalhos desejados e solicitando o envio dos mesmos, da forma que<br />
lhes fosse mais conveniente (e-mail, correio, fax etc); 2) enviamos a<br />
referência completa para pessoas de nosso círculo de amizade que trabalhavam<br />
e/ou estudavam em universidades que provavelmente teriam<br />
alguns dos trabalhos desejados em seu acervo.<br />
O resultado desse esforço concentrado pode ser visualizado no<br />
Quadro 3:<br />
PERÍODO TRABALHOS TRABALHOS %<br />
DE TEMPO LOCALIZADOS OBTIDOS<br />
Década de 70 3 2 66,66<br />
Década de 80 13 8 61,53<br />
Década de 90 14 05 35,71<br />
2001-2004 48 15 31,25<br />
TOTAL 78 30 38,46<br />
Quadro Quatro 3. Proporção 3. Proporção do número de do trabalhos número obtidos de sobre trabalhos o número de obtidos trabalhos sobre localizados o número nos quatro períodos de<br />
de tempo trabalhos analisados. localizados nos quatro períodos de tempo analisados.<br />
47
Universidade da Amazônia<br />
O Quadro 3 demonstra que foi possível obter um nível de captação<br />
satisfatório dos trabalhos realizados nas décadas de 70 e 80, permitindo<br />
a configuração de uma análise representativa da produção científica<br />
desses períodos. O mesmo não se pode afirmar quanto aos dois<br />
períodos de tempo posteriores, em que foi possível captar menos da<br />
metade da produção.<br />
Estes dados levaram à feitura de nova consulta e, por conseguinte,<br />
nova análise dos dados disponíveis no Catálogo de Trabalhos<br />
sobre Obesidade e Análise do Comportamento. Percebeu-se que uma<br />
parte dos trabalhos não captados eram produtos de uma mesma pesquisa,<br />
a qual se conseguiu captar sob outra forma.<br />
Por exemplo, a dissertação de mestrado de Débora Barbosa, feita<br />
na USP sob a orientação da Profª. Drª Sônia Meyer, foi defendida em<br />
2001, apresentada na forma de resumo em um congresso em 2002, publicada<br />
como artigo em periódico em 2003 e tornou-se capítulo de livro<br />
em 2004. Soma-se a isso que a mesma autora apresentou dois outros<br />
trabalhos na forma de resumos em congresso na década de 90 que vieram<br />
a compor sua dissertação em 2001.<br />
Sendo assim, uma mesma pesquisa teve como resultado seis<br />
trabalhos, dos quais foi possível captar o principal deles: a dissertação.<br />
Da mesma forma, podemos citar outros casos: Patrícia Bezerra (dissertação<br />
em 2001 e resumo em congresso em 2002); Mariene Casseb, sob a<br />
orientação de Eleonora Ferreira (TCC e artigo em 2002); Diane Laloni<br />
(resumo em congresso em 2003 e capítulo de livro em 2004) e Terezinha<br />
Smokowicz (monografia de especialização em 1996 e artigo em 1997).<br />
É preciso ressaltar que a veiculação dos resultados de uma mesma<br />
pesquisa em diversos espaços e formatos não é apenas comum, mas<br />
também é desejável, haja vista a necessidade de atingir o público potencialmente<br />
interessado no conhecimento produzido.<br />
Levando em consideração esta reconfiguração da análise, podese<br />
dizer que, na verdade, foi possível atingir indiretamente 50% dos<br />
trabalhos da década de 90 e 57,14% dos trabalhos apresentados entre<br />
os anos de 2001 a 2004, o que permite tecer comentários mais consistentes<br />
sobre a produção científica nesses dois períodos de tempo.<br />
4.1 A PESQUISA NA DÉCADA DE 70<br />
Três trabalhos, sendo uma tese de doutorado (KERBAUY, 1972),<br />
um artigo publicado em periódico científico derivado da mesma (KER-<br />
48
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
BAUY, 1977) e uma dissertação de mestrado (Cunha em 1980), resumiram<br />
a produção científica da Análise do Comportamento sobre a Obesidade<br />
nesta década.<br />
Kerbauy (1972; 1977) realizou uma pesquisa experimental que<br />
teve o objetivo de estabelecer e aumentar a possibilidade dos sujeitos<br />
de automanipular seu comportamento alimentar, por meio de um conjunto<br />
de técnicas de autocontrole, inspiradas em Skinner (1953/2000), a<br />
partir das linhas gerais do experimento de Ferster, Nurnberger e Levitt<br />
(1962), que teriam como fim, capacitar os sujeitos a analisar as condições<br />
antecedentes e consequentes de seu comportamento alimentar,<br />
gerando uma perda de peso gradual.<br />
Quinze mulheres com problemas de superalimentação, com idade<br />
variando de 15 a 62 anos, foram recrutadas para o estudo por meio de<br />
anúncios em jornais e avisos em salas de aula de cursos de graduação em<br />
Psicologia. Os critérios de seleção foram: 1) ser maior de 15 anos; 2) não<br />
ter suspeita de gravidez; 3) ter no mínimo 10% acima do peso ideal 10 ; 4)<br />
não estar realizando tratamento psicológico ou para emagrecer; 5) não<br />
apresentar outras queixas comportamentais (checado na 1ª entrevista)<br />
e; 6) não apresentar outras variáveis fisiopatológicas.<br />
Uma vez selecionadas, as mulheres foram distribuídas em quatro<br />
grupos por ordem de apresentação. O primeiro grupo (GI), composto por<br />
sete integrantes, foi o único a receber atendimento individual. O segundo<br />
(GA 1<br />
) e o terceiro grupo (GA 2<br />
), compostos por três sujeitos cada e o quarto<br />
grupo (GB), composto de dois sujeitos, receberam atendimento em grupo.<br />
As técnicas de autocontrole utilizadas neste estudo foram: restrição<br />
física, mudança de estímulos, privação e saciação, manipulação<br />
de condições emociomais, estimulação aversiva, autorreforçamento,<br />
autopunição e comportamento incompatível. Além delas, os sujeitos<br />
recebiam as seguintes instruções verbais: dar garfadas espaçadas e evitar<br />
comer enquanto desenvolviam outra atividade. Todos os sujeitos<br />
assinavam uma espécie de contrato (por volta da terceira sessão) no<br />
qual estavam especificadas as obrigações de ambos, experimentador e<br />
sujeito, com relação ao programa.<br />
As sessões foram realizadas na Clínica de Psicologia da Faculdade<br />
de Filosofia, Ciências e Letras do Instituto “Sedes Sapientiae”<br />
(São Paulo) e seguiam sempre a mesma ordem: 1. análise das fichas<br />
10<br />
O cálculo do excesso de peso tomou como referência seguinte fórmula: peso atual – peso ideal / peso<br />
ideal X 100. Para a leitura dos resultados utilizou-se a tabela da Metropolitan Life Insurance Company<br />
– USA (1959).<br />
49
Universidade da Amazônia<br />
de alimento preenchidas pelos sujeitos (exceto os sujeitos do GB,<br />
que não recebiam essa ficha); 2. relato dos sujeitos sobre as modificações<br />
comportamentais obtidas e das dificuldades encontradas, acompanhado<br />
de discussões e propostas de soluções alternativas, bem<br />
como treinamento de respostas verbais quando necessário; 3. apresentação<br />
dos conceitos da Análise Experimental do Comportamento,<br />
por meio de explicações do experimentador e a partir de exemplos<br />
fornecidos pelos próprios sujeitos no decorrer da explicação e também<br />
sobre o regime alimentar e hábitos saudáveis (este último, para<br />
todos os sujeitos exceto os do GB); 4. tarefas propostas para instalar<br />
ou manter desempenhos e; 5. pesagem dos sujeitos e registro do peso<br />
pelos próprios sujeitos em um gráfico.<br />
O número de sessões variou para cada sujeito, mas a sequência das<br />
sessões foi sempre a mesma. As nove primeiras sessões eram suficientes<br />
para apresentar e justificar as técnicas empregadas. Nas outras ocorreu o<br />
acompanhamento e os esclarecimentos requeridos pelos sujeitos.<br />
A medida utilizada para avaliar a modificação do comportamento<br />
alimentar dos sujeitos foi o peso. Os sujeitos eram pesados após<br />
cada sessão. Além disso, tomando como base o registro feito pelos sujeitos<br />
sobre seus hábitos alimentares durante sete dias antes do início<br />
do programa (linha de base), observou-se as modificações ocorridas já<br />
durante o programa, por meio dos relatos nas sessões.<br />
O tempo total de participação dos sujeitos variou de três a sete<br />
meses, bem como o número de sessões oscilou de 12 a 44 sessões, já<br />
que a periodicidade foi muito variada.<br />
Os resultados mostraram que todos os sujeitos atendidos individualmente<br />
perderam peso, apesar da grande variabilidade intragrupo.<br />
Dos oito sujeitos atendidos em grupo, apenas um aumentou de<br />
peso (sujeito MR do GA 1<br />
).<br />
A autora estabeleceu uma comparação dos seus resultados com<br />
um conjunto de estudos anteriores (Stuart em 1967; Harris em 1969;<br />
Wollersheim em 1970; Hall em 1972; Harris e Bruner em 1971; Stuart<br />
em 1971), embora tenha ressaltado que isto não é completamente<br />
pertinente, haja vista as diferenças significativas nos procedimentos<br />
usados em seu estudo e nos estudos citados. Como resultado dessa<br />
comparação, a autora identificou a variabilidade e arbitrariedade dos<br />
critérios usados pelos diferentes estudos para julgar a perda de peso<br />
semanal como satisfatória, o que dificulta a obtenção de um referencial<br />
comum. Neste sentido, a autora sugeriu a elaboração de um crité-<br />
50
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
rio aceitável, tomando como base a análise do processo de perda de<br />
peso de cada sujeito, comparado em diferentes situações (sujeito de<br />
seu próprio controle, metodologia amplamente utilizada na Análise<br />
do Comportamento).<br />
A autora elencou as cinco principais dificuldades metodológicas<br />
da pesquisa: 1. o controle exercido pela lista de alimentos com contagem<br />
de calorias, a tal ponto de os sujeitos passarem a dar menor importância<br />
para a análise das condições antecedentes e consequentes do<br />
comportamento alimentar; 2. a limitação da estratégia de pesagem dos<br />
sujeitos como método de avaliação de modificação de hábitos alimentares,<br />
já que não permite acompanhar o processo de modificação ocorrendo<br />
e não funciona como reforçador contingente à emissão de cada<br />
novo hábito alimentar; 3. a falta de uma estratégia para combater o<br />
controle concorrente que o meio dos sujeitos exerceu sobre o seguimento<br />
do programa; 4. a necessidade de elaborar mais especificamente<br />
o contrato com vista a torná-lo de fato uma variável independente e<br />
5. a dificuldade de checar a veracidade dos registros apresentados pelos<br />
sujeitos.<br />
A autora apresentou também alguns indicativos para futuras pesquisa<br />
na área: 1. avaliar o controle exercido pelo conceito que o sujeito<br />
faz de si no processo de perda de peso, em que medida “se achar<br />
magro” ou “se achar gordo” pode servir de esquiva para aderir e/ou<br />
desistir de um programa de redução de peso; 2. avaliar o efeito de<br />
iniciar o treino de autocontrole por situações menos complexas e com<br />
uma história de condicionamento menos forte que a situação de alimentação;<br />
3. avaliar separadamente o efeito de cada uma das técnicas<br />
de autocontrole utilizadas sobre a perda de peso; 4. avaliar a natureza<br />
de alguns operantes encobertos incompatíveis com o comer em<br />
excesso que poderiam aumentar a eficácia dos procedimentos para<br />
perda de peso.<br />
A autora concluiu que quatro técnicas seriam fundamentais para<br />
perda de peso: controle da situação; atividades incompatíveis; garfadas<br />
espaçadas e; autorreforçamento. Com relação a este último, a autora<br />
considerou robustos os resultados de seus efeitos sobre a perda de<br />
peso, haja vista que somente o grupo que fez uso dessa técnica teve<br />
perda de peso significativa, talvez pelo fato de que estes indivíduos<br />
resolveriam por meio dessa técnica o problema do não reforçamento<br />
contingente de cada emissão do comportamento adequado, variável<br />
crítica em programas que envolvam técnicas de autocontrole.<br />
51
Universidade da Amazônia<br />
A comparação do texto da tese (KERBAUY, 1972) com o texto do<br />
artigo (KERBAUY, 1977) permite verificar um alto grau de semelhança<br />
entre os mesmos, exceto o fato de que o artigo traz ao menos duas<br />
referências bibliográficas publicadas após a defesa da tese.<br />
O outro trabalho realizado dentro da mesma década, infelizmente<br />
não pôde ser captado a tempo de ser incorporado diretamente<br />
em nossa análise (Cunha em 1980). No entanto, a análise de três<br />
artigos publicados pela autora (CUNHA, 1985a, 1985c, 1985e) em um<br />
número especial do periódico “Ciência do Comportamento: teoria,<br />
pesquisa e prática” (volume 1, número 1) permitiu trazer à discussão,<br />
ao menos parcialmente, o conteúdo da referida dissertação,<br />
especialmente sua fundamentação teórica.<br />
No primeiro desses artigos (CUNHA, 1985c), a autora discute<br />
as seguintes questões: a Obesidade ao longo da História da humanidade;<br />
a incidência da Obesidade nos Estados Unidos, os fatores que<br />
teriam contribuído para esta prevalência e; as consequências da Obesidade<br />
para a vida diária dos indivíduos, com ênfase nas questões<br />
sociais. Sobre os fatores contributivos à Obesidade, a autora destacou<br />
o papel dos nutricionistas, na medida em que processaram mudanças<br />
significativas nos alimentos com o incremento de vitaminas<br />
e aminoácidos. Além disso, a autora referiu como fator contributivo<br />
a associação alimentação-recreação (ver TV, por exemplo). Por fim,<br />
indicou que estas mudanças de hábitos alimentares vêm acompanhadas<br />
de mudanças nos padrões de gastos de energia, causados<br />
pelo sedentarismo. Ainda com relação às causas da Obesidade, tomando<br />
como exemplo o caso de mulheres brasileiras casadas, apontou<br />
o uso constante de anticoncepcionais. A autora encerrou o artigo<br />
lembrando que o conceito de Obesidade sofre a ação de fatores<br />
culturais e históricos.<br />
No segundo artigo (CUNHA, 1985e), a autora apresentou alguns<br />
estudos desenvolvidos na área médica que indicam o tratamento<br />
da Obesidade como “extremante difícil”, no qual se consegue apenas<br />
“modestos resultados”. Em vista desse quadro, Ferster, Nurnberger<br />
e Levitt em 1962 delinearam um programa comportamental para<br />
redução de peso que utilizava técnicas de autocontrole, programa este<br />
que serviu de modelo para vários estudos posteriores. Neste sentido,<br />
a autora tomou o pensamento de Wooley e colaboradores em 1979 e<br />
apresentou a definição comportamental para a Obesidade:<br />
52
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
O maior pressuposto no tratamento comportamental da<br />
Obesidade é que o peso exagerado está diretamente<br />
relacionado a excesso de consumação de alimentos,<br />
resultado da falta de hábitos adequados de alimentação.<br />
Hipotetizam que comportamentos aprendidos, para<br />
contribuir para a superalimentação, devem incluir taxas<br />
consumatórias rápidas, grandes bocadas, comer<br />
freqüentemente, ingestão de grandes quantidades de<br />
alimento em uma dada refeição ou lanche, etc. Estes<br />
comportamentos são conhecidos como operantes,<br />
reforçados pelo prazer de comer e sob o controle parcial de<br />
dicas ambientais, associadas com comida que servem como<br />
estímulo discriminativo para o comportamento de ingerir<br />
(Wooley et alli, 1979). Uma explicação comum de<br />
superalimentação é que as consequências reforçadoras<br />
são imediatas, enquanto que as aversivas são atrasadas<br />
(CUNHA, 1985e, p. 30).<br />
Baseado nesta compreensão da obesidade, a autora expõe quais<br />
seriam as estratégias de um tratamento comportamental:<br />
a) prover reforçamento imediato para o “comer apropriado”<br />
ou abstenção de alimentos que levam à Obesidade;<br />
b) diminuir a força do prazer como um reforçador para<br />
comida;<br />
c) fazer conseqüências negativas de longo prazo mais<br />
salientes nas horas de refeições ou comida;<br />
d) eliminar as dicas de alimento que servem como estímulo<br />
discriminativo;<br />
e) estreitar a lista de estímulos discriminativos para<br />
comida, restringir o tempo e lugar onde o alimento ocorre<br />
(CUNHA, 1985e, p. 30).<br />
A autora apresentou o esquema teórico proposto por Stuart e<br />
Davi em 1972. A análise funcional do comportamento de comer é a base<br />
para a identificação dos estímulos antecedentes que servem de dica<br />
para a emissão desse comportamento, de forma a permitir que um comportamento<br />
que tenha o objetivo de competir com o comportamento<br />
de comer possa ser planejado para ocorrer, investindo assim, na construção<br />
de “... Uma série de passos que levem à eliminação, supressão<br />
ou fortalecimento dos antecedentes selecionados (STUART e DAVIS,<br />
1972)” (CUNHA, 1985e, p. 32).<br />
53
Universidade da Amazônia<br />
A autora passou a analisar estudos que defenderam a importância<br />
do reforçamento social nos programas de redução de peso.<br />
Neste sentido, ela indicou que parte dos reforços sociais deve ser<br />
contingente não apenas a comportamentos que resultem na redução<br />
de peso, mas também fortalecer “... Atitudes gerais a respeito do alimento<br />
e gastos de energias” (CUNHA, 1985e, p. 32), como é o caso da<br />
prática de exercícios.<br />
A “importância da taxa de peso” é outro tópico apresentado.<br />
Citando Stuart em 1972, a autora destacou a função discriminativa da<br />
pesagem e sugeriu que esta seja realizada ao menos três vezes ao dia,<br />
servindo de “dica” ou “lembrete” para o sujeito sobre o programa. Além<br />
disso, as oscilações de peso verificadas nas pesagens fornecem ao sujeito<br />
“... Evidências diretas sobre o efeito do alimento e bebida sobre o<br />
seu peso. Isto tem função de estímulo aversivo suave, periódico, associado<br />
com a superalimentação” (CUNHA, 1985e, p. 32).<br />
O “balanceamento de energias” foi outro tópico apresentado<br />
como problemático nos programas de redução de peso, haja vista que a<br />
dieta deve ser configurada de forma a incluir os mais diversos nutrientes,<br />
uma vez que a falta de um acarreta alterações na metabilização de<br />
outros. No bojo desta discussão, a autora introduziu o próximo item “O<br />
problema das dietas”. Citando um trabalho de Leeuw em 1979, a autora<br />
destacou o pensamento do autor afirmando que a maioria das dietas<br />
hipocalóricas é ineficiente ou perigosa, seja pela supressão de nutrientes<br />
importantes, seja pela ineficiência em longo prazo. Para o autor<br />
citado, a terapia comportamental se apresenta como uma alternativa<br />
efetiva na redução de peso. Ao final, ele adverte para a necessidade de<br />
garantir que a “guerra seja vencida” com uma perda efetiva e duradoura<br />
do peso, e que não é suficiente produzir reduções temporárias de peso.<br />
No terceiro artigo (CUNHA, 1985a), a autora apresentou uma revisão<br />
geral do uso de técnicas comportamentais, tanto respondentes<br />
como operantes, nos programas de redução de peso, bem como indicou<br />
seus problemas metodológicos. Excetuando-se a referência a um<br />
estudo piloto feito pela própria autora durante sua dissertação (Cunha<br />
em 1980) e ao artigo de Kerbauy (1977), toda a literatura analisada pela<br />
autora foi produzida nos Estados Unidos.<br />
A autora iniciou seus argumentos a favor da aplicação de técnicas<br />
comportamentais em programas de redução de peso listando basicamente<br />
dois motivos: 1. o baixo índice de sucesso dos tratamentos médicos<br />
e psicoterápicos tradicionais e; 2. o fato da redução de peso ser<br />
54
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
um campo promissor para a testagem de problemas conceituais e teóricos<br />
da abordagem comportamental (população abundante; manipulação<br />
fácil de variável independente – condições de tratamento).<br />
As técnicas de condicionamento respondente foram definidas<br />
pela autora como o:<br />
[...] Emparelhamento de um evento que tem valor positivo<br />
com outro evento que tem valor negativo. O objetivo destes<br />
dois estímulos emparelhados com valores contrários é tanto<br />
criar uma reação positiva a um estímulo previamente<br />
negativo [...] como criar uma reação negativa a um estímulo<br />
previamente positivo... Em Programas de Redução de Peso,<br />
a abordagem respondente é constituída de técnicas<br />
aversivas para enfraquecer a atratividade do alimento<br />
(CUNHA, 1985a, p. 42).<br />
Os estímulos aversivos escolhidos para o emparelhamento foram<br />
vinagre, choque elétrico, odor de alimento deteriorado e redução<br />
do ar inspirado (segurar a respiração). Os experimentos envolviam uma<br />
quantidade pequena de sujeitos, na sua maioria mulheres obesas, e<br />
apresentavam uma variação expressiva nos resultados tanto de perda<br />
de peso quanto de manutenção do peso perdido. Sobre eles, a autora<br />
afirmou que “... Não são suficientemente claros, exigindo novas pesquisas<br />
e delineamentos mais acurados com maior número de sujeitos.<br />
O motivo que levou as pessoas a perderem peso, nestes experimentos<br />
não ficou claro” (CUNHA, 1985a, p. 43).<br />
Em meio à descrição de técnicas de condicionamento aversivo,<br />
a autora destacou a sensibilização encoberta. Esta técnica compreende<br />
o emparelhamento do comportamento indesejável com imagens<br />
nocivas de náuseas e vômito (estímulos aversivos). A autora citou um<br />
estudo clínico clássico de Cautela em 1972, que afirma que o estímulo<br />
mais apropriado para estabelecer condicionamento aversivo é a naúsea,<br />
mais adequado inclusive que o choque elétrico. No entanto, a<br />
revisão dos resultados de dois outros estudos, um deles que inclusive<br />
replica o estudo de Cautela, não permitiu confirmar a efetividade<br />
dessa técnica. Outros autores, como Abramson em 1973, indicaram a<br />
utilização dessa técnica com vista à redução da consumação de um<br />
alimento específico em uma situação específica e sugerem que seja<br />
avaliada experimentalmente a generalização desses resultados para<br />
outros alimentos e situações.<br />
55
Universidade da Amazônia<br />
A autora finalizou sua análise dos estudos que usam técnicas aversivas<br />
tomando como parâmetro a discussão feita sobre o assunto por<br />
Stuart em 1972:<br />
[...] Apesar do entusiasmo inicial, há apenas uma pequena<br />
efetividade como um programa geral de tratamento de<br />
Obesidade, podendo ser combinada com outras técnicas<br />
em casos específicos.<br />
[...] Stuart (1972) apresenta algumas explicações. Segundo<br />
ele, o fracasso pode estar, em parte, ligado diretamente<br />
ao fato de que punição leva a alto controle discriminativo<br />
sobre o comportamento, isto é, o sujeito aprende a suprimir<br />
a primeira resposta na presença do agente punidor, mas<br />
provavelmente aquela resposta ocorrerá em sua ausência.<br />
Há ainda uma segunda explicação: é possível que o ato de<br />
comer, reforçamento positivo, é tão forte que este<br />
desconforto associado à intervenção aversiva pareça trivial<br />
quando comparado com o grande prazer associado ao<br />
comer (CUNHA, 1985a, p. 44).<br />
A partir desse momento a autora passou a tratar das técnicas de<br />
condicionamento operante, que se caracterizam por objetivar o fortalecimento<br />
ou enfraquecimento de respostas existentes que ocorrem<br />
sob o controle de determinados estímulos antecedentes e conseqüentes.<br />
A autora apresentou os resultados de cinco estudos com pacientes<br />
esquizofrênicos institucionalizados, nos quais foi utilizado reforçamento<br />
e punição operante. O número de sujeitos envolvidos nestes<br />
estudos foi reduzido (no máximo cinco) e o experimentador tinha<br />
um amplo controle sobre o ambiente dos sujeitos, a ponto de conseguir<br />
restringir o acesso a doces, por exemplo. Os reforçadores eram<br />
contingentes ao resultado da pesagem do sujeito, que foi feita em<br />
intervalos diferentes em cada estudo (de uma vez por semana até<br />
três vezes ao dia) e variaram em termos de reforçador usado de fichas<br />
em sistema de “token economy” 11 até reforço social. Um dado interessante<br />
foi obtido com a observação dos efeitos no peso gerados<br />
pela retirada por duas vezes de um sujeito da instituição, o que resultou<br />
em uma interrupção momentânea do programa. Nessa situação,<br />
11<br />
Economia de fichas é um sistema de reforçamento no qual ocorre a administração de fichas como<br />
reforço imediato, posteriormente trocadas por outros reforçadores, a partir de critérios que estabelecem<br />
uma razão entre número de fichas e reforçadores específicos (para mais detalhes ver Borges,<br />
2004 e Scarpelli, Costa e Souza, 2006).<br />
56
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
observou-se que na primeira interrupção houve aumento de peso,<br />
fato este não repetido na segunda vez. Estes e outros dados mais específicos<br />
levaram a autora a concluir que:<br />
Os casos apresentados, deixam ver de maneira clara que<br />
pacientes psicóticos perdem peso dentro de um hospital<br />
psiquiátrico, se seu ambiente for programado de tal<br />
maneira que a perda de peso se torne importante para<br />
eles. Ninguém argumenta a efetividade destes programas<br />
com paciente psiquiátrico; a pergunta é acerca da<br />
permanência destas mudanças (CUNHA, 1985a, p. 46).<br />
O outro conjunto de estudos analisado pela autora envolvia pacientes<br />
com atraso mental. A autora destacou dois estudos, sendo<br />
que um deles contou com a participação de crianças e seus pais. Neles,<br />
foram utilizados um guia para os pais e um jogo de fichas coloridas<br />
que representavam os grupos de alimentos e as quantidades. O outro<br />
estudo utilizou apenas reforço social. Houve perda de peso em ambos,<br />
embora os autores não tenham conseguido indicar os aspectos<br />
dos programas que geraram estes resultados, sugerindo a realização<br />
de novas pesquisas.<br />
A autora analisou também os resultados de estudos com uma abordagem<br />
chamada “coverant”, definida por ela como um operante encoberto<br />
que pode ser manipulado por meio de dicas ambientais. Esta técnica<br />
pode ser sumarizada da seguinte forma: levantamento de pensamentos<br />
desagradáveis e agradáveis, de comportamento de alta frequência;<br />
instrução verbal ao sujeito para que a cada emissão do comportamento<br />
de alta frequência, ele pensa nas coisas que considera desagradáveis<br />
com relação a ser obeso, bem como, pense nas coisas que considera agradável<br />
em relação a ser magro (pareamento). Os dados expostos pela autora<br />
são contraditórios, ora indicam perda de peso ora não indicam. Na<br />
visão analítico-comportamental, diferentemente da visão cognitivo-comportamental,<br />
estes eventos (privados) não causam a modificação do comportamento,<br />
mas fazem parte da cadeia comportamental que é modificada<br />
por eventos públicos (as causas do comportamento).<br />
Por fim, o maior conjunto de estudos expostos trata da utilização<br />
de procedimentos de autocontrole em programas de redução de peso.<br />
A autora definiu, inicialmente, o que vem a ser autocontrole em uma<br />
perspectiva behaviorista radical:<br />
57
Universidade da Amazônia<br />
58<br />
Nos estudos de autocontrole, os termos auto-regulação,<br />
auto-monitoria e auto-direção são usados como sinônimos<br />
[...] o autocontrole pode ser visto como um processo, através<br />
do qual o indivíduo se torna o principal agente na<br />
orientação, monitoria, direção e regulação das diversas<br />
formas de sua própria conduta [...] é uma técnica aprendida<br />
através de vários contatos sociais... (CUNHA, 1985a, p. 50).<br />
Desta forma, a autora ressaltou a relação entre autocontrole e<br />
autoconhecimento ao dizer que:<br />
[...] Técnicas de autocontrole estão intimamente ligadas<br />
com a habilidade da pessoa para discriminar padrões e<br />
causas do comportamento a ser regulado, por exemplo,<br />
dicas ou eventos que freqüentemente precedem o comer<br />
exagerado, ou certas conseqüências, que muitas vezes,<br />
seguem o fumar... (CUNHA, 1985a, p. 50).<br />
A autora se ateve à discussão sobre o valor reforçador intrínseco da<br />
autorregulação/autocontrole/autodireção e apresentou as conclusões de<br />
estudos com animais (macacos) e crianças que mostraram que os sujeitos<br />
ao terem a possibilidade de optar entre controlar seu próprio reforçamento<br />
ou obter o reforçamento sob o controle externo, optaram pelo primeiro.<br />
A autora apresentou a tentativa de criar um modelo sistemático<br />
de autocontrole feita por Thoresen e Mahoney em 1974, e sumarizando-o<br />
da seguinte forma:<br />
Os Estímulos Iniciais Antecedentes (EIA) são aquelas dicas<br />
que precedem a resposta controlada (RC + ou RC -). No caso<br />
da superalimentação, fome ou máquina de doce, pode ser<br />
o Estímulo Inicial Antecedente. A resposta positiva<br />
controlada (RC) é aquele comportamento que provavelmente<br />
será aumentado, (ex. Não comer alimentos que produzem<br />
Obesidade). O comportamento negativo controlado (RC) é o<br />
comportamento a ser desacelerado (ex. Comer em excesso).<br />
Em padrões de hábitos de longa permanência, o EIA pode<br />
ser inexistente ou inespecificado, como se pode observar<br />
na explicação de Premack (1971), [como no caso de] quando<br />
um fumante acende um cigarro, sem conhecimento do ato<br />
em si mesmo, como das dicas ambientais, antecedentes.<br />
A probabilidade de uma resposta de controle (RC) pode ser<br />
modificada por várias respostas de autocontrole (RAC). Isto<br />
é usualmente feito, alterando a consequência de uma ou<br />
mais respostas de controle (RCs) ou pela mudança Estímulo<br />
Inicial Antecedente (EIA) (CUNHA, 1985a, p. 52).
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A autora destacou do modelo exposto os tipos de respostas de<br />
autocontrole: 1. Planejamento do ambiente e; 2. Planejamento do comportamento.<br />
Como exemplos do primeiro tipo temos: “EIA modificações<br />
(estímulo de controle) e a programação de RC conseqüentes; exposição<br />
a estímulos de autorregulação (ex. dessensibilização auto-administrada)”<br />
(CUNHA, 1985a, p.52). No caso do segundo tipo, temos<br />
como exemplo: “auto-observação; autorrecompensa (positiva e negativa,<br />
encoberta e descoberta)” (idem).<br />
A mesma finalizou a exposição do modelo afirmando que respostas<br />
de autocontrole são sensíveis à efetividade em alterar as respostas<br />
controladas, bem como à variedade de fatores externos.<br />
No trecho seguinte do texto a própria autora apresentou os estudos<br />
clássicos na área de autocontrole, representados, em sua maioria, por experimentos<br />
desenvolvidos ao longo da década de 70. Dentre os estudos<br />
citados e sumarizados estão: Ferster, Nurnberger e Levitt em 1962, Stuart<br />
em 1967 e 1971, Harris em 1973, Harris e Hallbauer em 1973, Wollerheim em<br />
1970 e Rozensky e Bellack em 1976. Outro conjunto de estudos, na sua<br />
maioria, derivados de teses de doutorado feitas por autores estrangeiros,<br />
exceto Kerbauy (1977), foram apenas mencionados sem detalhamento.<br />
A autora finalizou o texto elencando os problemas metodológicos<br />
do conjunto total de estudos analisados. Para ela, já há dados robustos<br />
que comprovam a eficácia das técnicas de autocontrole na redução de<br />
peso, embora haja lacunas importantes no que tange ao seu efeito prolongado,<br />
já que os follow ups 12 realizados não ultrapassaram o período<br />
de um ano. Para consubstanciar sua análise, a autora parte de um trabalho<br />
de revisão da literatura sobre o tema produzido entre os anos de 1959<br />
e 1973 feito por Hall e Hall em 1974. Segundo estes autores, as técnicas de<br />
automonitoria isoladas ou mesmo combinadas com outras técnicas são<br />
as que produzem a maior perda de peso durante o follow up. Técnicas de<br />
monitoria externa produzem tanto a perda quanto a manutenção do peso.<br />
Sendo assim, os autores indicaram a necessidade da realização de pesquisas<br />
que combinem as duas em um mesmo programa.<br />
Na mesma direção, Brightwell e colaboradores em 1977 analisaram<br />
outros seis estudos e concluíram que: “... Há um mínimo de evidência<br />
para sustentar a posição de que o peso pedido é mantido ...” (CU-<br />
NHA, 1985a, p. 56).<br />
12<br />
Fase realizada em um período de tempo posterior ao encerramento da pesquisa e/ou intervenção,<br />
visando avaliar a generalização dos resultados obetidos durante a mesma.<br />
59
Universidade da Amazônia<br />
A autora indicou, no entanto, como uma questão crítica dos estudos<br />
realizados até aquele momento, o fato de nenhum deles ter continuado<br />
o tratamento até o ponto em que os sujeitos tenham atingidos o<br />
peso normal e que o tivessem mantido por pelo menos três anos. Além<br />
disso, a autora considerou que os estudos têm um delineamento muito<br />
complexo e deixa neste sentido algumas questões:<br />
Uma outra questão, levantada dos estudos revisados, é<br />
que técnicas muito complexas, nem sempre produzem<br />
melhores efeitos de que técnicas mais simples de<br />
autocontrole.<br />
Será que um experimento com técnicas bem simples, não<br />
teria os mesmos efeitos? Usando técnicas tão simples, se<br />
houver uma perda razoável de peso, qual seria a<br />
manutenção deste peso, qual seria o grau de autocontrole<br />
adquirido? (CUNHA, 1985a, p. 57).<br />
A julgar pelas proposições feitas no final desse artigo e pelo título<br />
da dissertação da autora: “Uma solução simples para um problema<br />
comportamental complexo: uma contribuição para o estudo da Obesidade”<br />
(UnB, 1980), estas perguntas finais devem ter se transformado<br />
nos problemas de pesquisa tomados como eixo principal da pesquisa<br />
desenvolvida durante o seu mestrado.<br />
A análise dos estudos localizados nesta década revelou que todas<br />
as pesquisas realizadas eram pesquisas do tipo experimental, realizadas<br />
na sua maioria tendo mulheres como sujeitos e encerradas<br />
antes que os sujeitos tivessem chegado ao peso ideal. Em geral, as<br />
pesquisas tinham como um dos passos de seus procedimentos o ensino<br />
de técnicas de autocontrole aos sujeitos, uma vez que suas autoras<br />
comungavam da visão de Ferster e colaboradores em 1962 de que a<br />
Obesidade é um quadro orgânico gerado por déficits de autocontrole.<br />
No entanto, as autoras indicaram a ausência de dados conclusivos acerca<br />
dos efeitos em longo prazo dos programas comportamentais de<br />
redução de peso (fase de manutenção), já que nos estudos realizados,<br />
inclusive os citados na literatura internacional, o período de follow<br />
up não ultrapassou um ano.<br />
Com relação aos efeitos diferenciais de cada técnica de autocontrole<br />
utilizadas nos estudos, houve um claro destaque à efetividade das<br />
técnicas de autorreforçamento e automonitoria. Com relação à primeira,<br />
as autoras indicaram que a técnica resolveria uma limitação dos pro-<br />
60
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
gramas de comportamentais de redução de peso: o não reforçamento<br />
contingente de novos hábitos alimentares, sobretudo na fase de instalação<br />
desses comportamentos. Com relação à segunda, ao permitir que<br />
o próprio sujeito analise funcionalmente seu comportamento, o autoconhecimento<br />
seria favorecido, base para o autocontrole.<br />
Outro aspecto comum observado nos trabalhos dessa década foi<br />
a indicação de que o treino de autocontrole deveria ser iniciado por<br />
situações mais simples, talvez não relacionadas ao comportamento alimentar,<br />
nos quais o custo da resposta seja menor e a probabilidade de<br />
reforçamento maior.<br />
4.2 A PESQUISA NA DÉCADA DE 80<br />
Foram identificados 13 trabalhos nesta década, distribuídos da<br />
seguinte forma: seis artigos, todos de autoria de Jacira Cunha da UCG<br />
(CUNHA, 1983; 1985a; 1985b; 1985c; 1985e; 1985f); duas dissertações de<br />
mestrado (Duarte em 1981; HELLER, 1990); três resumos publicados em<br />
anais de congresso (Cunha, Mettel e Todorov em 1981; Cunha em 1982 e<br />
em 1983); um trabalho completo publicado em anais de congresso (Kerbauy<br />
em 1985) e; um capítulo de livro (KERBAUY,1987).<br />
A análise qualitativa da produção dessa década abarcou diretamente<br />
oito trabalhos (CUNHA, 1983, 1985a, 1985b, 1985c, 1985e, 1985f; KERBAUY,<br />
1987; HELLER, 1990). No entanto, na análise dos trabalhos, percebeu-se que<br />
um destes trabalhos não obtidos (Cunha em 1982) foi integralmente apresentado<br />
na forma de artigo um ano depois (CUNHA, 1983). Desta forma,<br />
podemos considerar que, ao todo, foi possível compor a análise qualitativa<br />
de nove trabalhos desta década, um número bastante representativo da<br />
produção da mesma (69,23%).<br />
O artigo em questão, publicado por Cunha (1983), derivou de uma<br />
pesquisa experimental que teve como objetivo verificar a contribuição<br />
do registro público do peso e de sua combinação com outros componentes<br />
em programas comportamentais de redução de peso, bem como<br />
seus efeitos no período posterior ao encerramento do mesmo (manutenção<br />
do peso atingido).<br />
Participaram da pesquisa 19 sujeitos, sendo 17 mulheres e dois<br />
homens, distribuídos em quatro grupo/condições, a saber: Grupo A = peso,<br />
registro público e dicas de autocontrole (PRP + DA); Grupo B = peso, registro<br />
público e registro de alimentos (PRP + RA); Grupo C = peso e registro<br />
público (PRP) e; Grupo D (controle) = peso (P) sem registro público. Os<br />
61
Universidade da Amazônia<br />
sujeitos desconheciam o grupo a que pertenciam. Nos grupos que tinham<br />
em seu programa o registro público, o peso era aferido à vista de<br />
todos e colocado em um gráfico que ficava exposto. Embora, a proposta<br />
do programa seja maior, os dados analisados dizem respeito a um período<br />
de oitos semanas, com pesagem três vezes por semana, e um período de<br />
16 semanas de follow up, durante as quais os contatos com o experimentador<br />
foram sendo progressivamente descontinuados (no primeiro mês<br />
foram realizados dois contatos; no segundo mês foi realizado um contato;<br />
daí para frente um contato por semestre).<br />
A autora apresentou os resultados dos sujeitos tomando como<br />
parâmetro cinco valores de peso: o peso inicial; o peso normal; o peso<br />
desejado (a expectativa do sujeito); o peso final (na 8ª semana) e; por<br />
fim, o peso pós-programa (follow up). A comparação dos índices obtidos<br />
pelo sujeito demonstrou grande variabilidade, tanto no que tange<br />
à redução de peso durante o programa (peso inicial – peso final), quanto<br />
no que tange à perda de peso no período de follow up.<br />
Os resultados do estudo foram submetidos à Análise de Variância<br />
de Kruskal e Willis, com nível de significância de 0,05. A análise revelou:<br />
[...] uma diferença significativa entre os grupos<br />
experimentais e grupo controle. Ficando evidenciado que<br />
registro público é um fator importante na perda de peso. E<br />
o Registro público pode aumentar significativamente sua<br />
importância, quando se acrescentam dicas de auto-controle<br />
ou registro de alimentos, como ficou demonstrado nos<br />
Grupos A (PRP + DA) e B (PRP + RA).<br />
Na segunda fase do Grupo controle, quando se acrescentou<br />
Registro público o aumento na perda de peso foi de mais<br />
de 20% (CUNHA, 1983, p. 107).<br />
Além disso, a análise revelou também que: “... Os sujeitos continuaram<br />
perdendo peso nos quatro meses de follow-up. O que pressupõe<br />
que os sujeitos adquiriram um ótimo grau de autocontrole”(Idem).<br />
Além disso, Cunha (1983) concluiu que as condições mínimas<br />
para a perda de peso seriam as que compunham o delineamento do<br />
Grupo C (PRP).<br />
A mesma autora, em 1985, apresentou seu trabalho em um número<br />
especial do periódico “Ciência do Comportamento: teoria, pesquisa<br />
e prática”, em seis artigos. Como já se comentou, três dos seis<br />
artigos já foram analisados no item anterior devido ao fato de que seu<br />
conteúdo foi, na verdade, desmembrado da dissertação de mestrado<br />
62
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
da autora, produzida ainda na década de 70. Apresenta-se abaixo a análise<br />
dos três outros artigos.<br />
Cunha (1985b) realizou uma pesquisa experimental com o objetivo<br />
de analisar os efeitos de um dos componentes do autocontrole, o reforçamento<br />
próprio ou autorreforçamento, no desempenho de perda de peso.<br />
A autora iniciou o texto estabelecendo a diferença entre a conceituação<br />
de autocontrole configurada por outras abordagens, pelo senso<br />
comum e pela Análise do Comportamento, defendendo que esta<br />
última pode, ao oferecer um tratamento científico, viabilizar a criação<br />
de uma “tecnologia de autocontrole”, que pode vir a ser usada por qualquer<br />
pessoa. Apresentou, desta forma, o resumo de pesquisas preliminares<br />
nesta direção e sintetizou o processo de aquisição de autocontrole<br />
em três passos básicos: 1. auto-observação; 2. planejamento do ambiente<br />
e; 3. programação de consequências para o comportamento de<br />
autocontrole, especificando o caminho para a aquisição de cada passo.<br />
A autora destacou, dentre os diversos trabalhos citados, o realizado<br />
por Rozensky e Bellack em 1976 que investigou a relação entre as diferenças<br />
individuais no estilo de reforçamento próprio e o desempenho em<br />
programas de redução de peso, já que havia na literatura da época certo<br />
consenso em considerar que as diferenças individuais manifestas no desempenho<br />
de autocontrole são resultado da história de aprendizagem de<br />
cada indivíduo. Partindo desse pressuposto, os autores passaram a classificar<br />
os indivíduos em dois tipos: indivíduos com alta capacidade de reforçamento<br />
próprio e indivíduos com baixa capacidade de reforçamento próprio;<br />
e a relacionar cada tipo com uma forma de desempenho em programas<br />
de redução de peso. Sobre isso, a autora afirmou que:<br />
[...] Os sujeitos com alta capacidade de reforçamento<br />
próprio, perdem peso e conservam o peso perdido em<br />
condições mínimas de controle [externo]; são refratárias à<br />
perda de peso, quando há um alto grau de controle<br />
[externo]. Enquanto que os sujeitos com baixa capacidade<br />
de reforçamento próprio, só perdem peso dentro de<br />
condições de maior controle [externo] e praticamente não<br />
perdem peso, quando as condições de controle são mínimas<br />
(CUNHA, 1985b, p. 17-18).<br />
A autora indicou essa variável – reforçamento próprio – como<br />
responsável pela grande variabilidade intersujeitos encontrada em programas<br />
de redução de peso. A despeito disso, ao definir seu objetivo no<br />
63
Universidade da Amazônia<br />
meio de seu artigo diz que “O presente estudo tem como propósito<br />
investigar o problema da variabilidade inter-sujeito, sem contudo analisar<br />
este componente do autocontrole: estilo de reforçamento próprio”<br />
(CUNHA, 1985b, p. 18). Em outro trecho, afirma que “A variável<br />
independente foi o controle alto, médio e mínimo, os esquemas” (CU-<br />
NHA, 1985b, p. 20). Reafirmando que, apesar da fundamentação teórica<br />
apresentada, não consideraria a variável reforçamento próprio nesse<br />
estudo ao dizer em outro trecho “Não foi aplicado um instrumento para<br />
medir o grau de reforçamento próprio de cada sujeito, pois o estudo em<br />
referência não exigiu isto” (CUNHA, 1985b, p. 20).<br />
Foram selecionados inicialmente trinta indivíduos obesos 13 ,<br />
sendo 12 homens e 18 mulheres na faixa etária de 21 a 60 anos, que não<br />
realizavam tratamento psiquiátrico e não tinham suspeita de gravidez,<br />
dos quais apenas 25 compareceram para a realização das sessões 14 .<br />
Os participantes foram distribuídos em três grupos, a saber:<br />
Grupo A (alto controle) com sete participantes; Grupo B (médio controle)<br />
com oito participantes e; Grupo C (fraco controle) com dez<br />
participantes. O nível de controle foi definido pelo número de sessões<br />
de 60 minutos que os grupos teriam por semana, respectivamente,<br />
três sessões (segunda, quarta e sexta-feira), duas sessões<br />
(segunda e sexta-feira) e uma sessão (quarta-feira) nos níveis de<br />
alto, médio e baixo controle. Além disso, a autora nomeou cada nível<br />
como Esquema III, Esquema II e Esquema I, com referência ao<br />
número de sessões por semana.<br />
Os participantes assinavam um contrato de permanência no<br />
experimento até o final e estabeleciam como meta a perda de peso de<br />
meio a um quilograma por semana, visando a perder um total de dez<br />
quilos. O experimento durou ao todo 36 semanas, sendo 16 semanas de<br />
exposição às condições experimentais e 20 semanas de pesagem para<br />
verificação de manutenção de peso. Além disso, todos os participantes<br />
receberam informações sobre Obesidade, nutrição e balanceamento<br />
da alimentação, bem como foram instruídos de como deveriam ser procedidos<br />
a pesagem e o registro do peso em gráfico. A figura a seguir<br />
apresenta o delineamento completo da pesquisa:<br />
13<br />
Utilizou-se como parâmetro para aferição de Obesidade o Índice de Broca, corrigido para o Brasil.<br />
14<br />
A autora não esclareceu quais sujeitos não participaram efetivamente.<br />
64
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
SELEÇÃO TRATAMENTO SEGUIMENTO<br />
2 SEMANAS 16 SEMANAS 20 SEMANAS<br />
Critérios para<br />
ser admitido:<br />
- Ter um índice de obesidade<br />
de pelo menos<br />
15 por cento.<br />
- Não estar envolvido<br />
em tratamento psiquiátrico.<br />
- Sem suspeita de gravidez.<br />
N = 30<br />
GRUPO A<br />
Esquema III<br />
(48 sessões)<br />
N = 7<br />
GRUPO B<br />
Esquema II<br />
(32 sessões)<br />
N = 8<br />
GRUPO C<br />
Esquema I<br />
(16 sessões)<br />
N = 10<br />
Sessões uma vez por<br />
semana para todos os<br />
grupos.<br />
N = 25<br />
acompanhamento de cinco anos<br />
Exames médicos<br />
e<br />
curva glicêmica<br />
Contratos<br />
Exames médicos<br />
e<br />
curva glicêmica<br />
Figura 1. Delineamento geral do experimento de Cunha (1985b).<br />
Embora os participantes estivessem divididos em grupos expostos<br />
a diferentes esquemas, os resultados foram analisados individualmente<br />
(sujeito seu próprio controle 15 ), levando em consideração<br />
os cinco tipos de peso aferidos por Cunha (1983). A análise comparativa<br />
do desempenho intergrupos foi realizada visando a avaliar as diferenças<br />
individuais em diferentes esquemas.<br />
Os resultados indicaram mostraram que:<br />
Quanto ao objetivo específico de perder de meio a um quilo<br />
por semana, o desempenho do grupo A foi de 79 por cento,<br />
durante o tratamento e chegando a 112 por cento no seguimento.<br />
No grupo B, foi de 69 por cento no tratamento e 95 por cento no<br />
seguimento. No grupo C, foi de 59 por cento no tratamento e 71<br />
por cento, no seguimento (CUNHA, 1985b, p. 20).<br />
Os resultados indicaram ainda que:<br />
15<br />
Para mais detalhes ver Sidman (1977).<br />
Pela análise de variância por postos de Kruskal-Willis,<br />
conclui-se que não houve uma diferença significativa entre<br />
as amostras...<br />
Nos resultados das comparações múltiplas, também não<br />
houve diferença significativa nas amostras, durante o<br />
experimento e acompanhamento (CUNHA, 1985b, p.23).<br />
65
Universidade da Amazônia<br />
A autora concluiu que a proposição de Rozensky e Bellack em<br />
1976, sobre o efeito dos estilos de reforçamento sobre o desempenho<br />
de sujeitos expostos a diferentes níveis de controle externo, seria<br />
adequada para compreender os resultados de seu estudo. A partir<br />
disso, propõe:<br />
[...] E se concluirmos que o processo, realmente, se<br />
desenvolve desta forma, seria então desejável, que nos<br />
referidos programas se selecionassem os sujeitos de<br />
acordo com o seu grau de auto-reforçamento. Naturalmente,<br />
isto traria benefícios aos sujeitos, dando-lhes um programa<br />
de acordo com sua capacidade de reforçamento próprio<br />
(CUNHA, 1985b, p.23).<br />
Outro artigo escrito pela autora (CUNHA, 1985f), publicado no<br />
mesmo periódico, teve o objetivo de responder às perguntas: o que é<br />
Obesidade e o que fazer? Sobre o primeiro questionamento, a autora<br />
apresentou, inicialmente, algumas definições e métodos de aferição<br />
da Obesidade. Partiu, então, para a análise das respostas dadas na literatura<br />
sobre a sua etiologia. Neste sentido, analisou brevemente algumas<br />
teorias explicativas e concluiu que não há como concebê-la fora de<br />
um processo multicausal.<br />
A autora defendeu a ideia de que a melhor forma de reverter o<br />
quadro, não apenas momentaneamente, é investir em programas de<br />
reeducação em vários níveis: social, físico e alimentar.<br />
Na tentativa de sistematizar os achados feitos em pesquisas<br />
comportamentais sobre o tema, a autora indicou que: 1. o conjunto de<br />
técnicas a serem usadas no processo deve ser simples, de forma a viabilizar<br />
o manejo e a aplicação pelo próprio obeso e por pessoas significativas<br />
de seu meio; 2. deve ocorrer uma análise prévia das variáveis ambientais<br />
que instalaram e mantêm os padrões de comportamento alimentar<br />
problemáticos; 3. devem ser observados parâmetros de confecção<br />
da alimentação (preparação e balanceamento, por exemplo); 4. deve<br />
ser estabelecida uma linha de base da frequência do comportamento<br />
de comer, levando em consideração o registro, ao menos três vezes por<br />
semana, de aspectos como tempo, natureza e quantidade do alimento,<br />
circunstâncias e local e; 5. os eventos que servem de ocasião para a<br />
emissão do comportamento desejado devem ser “encorajados”/apresentados,<br />
bem como os que servem de ocasião para a emissão do comportamento<br />
problemático devem ser “desencorajados”/removidos.<br />
66
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A autora destacou ainda que além do processo descrito acima é<br />
necessário realizar alterações no processo de comer, evitando longos<br />
períodos de privação de alimentos (situação potencialmente aversiva)<br />
e aprendendo a comer em uma velocidade menor, aumentando o número<br />
de mastigações. Além disso, a autora indicou a necessidade de<br />
limitar o número de estímulos pareados ao comer, evitando emitir o<br />
comportamento durante ou em conjunto com outras atividades e em<br />
diferentes locais. Por fim, a autora discutiu estratégias para lidar com os<br />
estados corporais frequentemente associados ao comer, como “ter uma<br />
sensação de vazio”, que muitas vezes é resultado da exposição do indivíduo<br />
a situações de tensão/ansiogênicas e não sinalizam, a verdade,<br />
carência de alimentos. A autora então passou a listar um conjunto de<br />
recomendações para a modificação das condições ambientais visando a<br />
aumentar a frequência do comportamento autocontrolado.<br />
Como resultado dessa síntese comportamental, a autora apresentou<br />
um programa composto de oito passos para a redução e manutenção<br />
do peso:<br />
1º passo:<br />
- Comer sempre no mesmo local;<br />
- Escolher um lugar na casa: mesa da sala de jantar, mesa<br />
da cozinha etc. comer sempre no mesmo local.<br />
- Ter uma companhia, enquanto come.<br />
2º passo:<br />
- Conservar a lista dos grupos de alimentos adequados e<br />
dos alimentos de alto valor calórico, à vista.<br />
- Preparar e servir pequenas quantidades, usar pratos rasos<br />
para ver exatamente quanta comida tem no prato.<br />
- Usar a ficha de registro de alimento, durante as refeições;<br />
Faça o registro na hora, enquanto está comendo.<br />
3º passo:<br />
- Tornar fácil apenas o comer apropriado:<br />
a) fazer a lista de compras;<br />
b) fazer as compras do supermercado, somente após as<br />
refeições.<br />
- Comer devagar, mastigar bem, deixar o garfo descansar.<br />
- Deixar o cartaz de registro de peso, onde fica a maior<br />
parte do dia.<br />
4º passo:<br />
- Limpar o prato diretamente na vasilha de lixo.<br />
- Deixar alguma coisa no prato.<br />
- Separar um dinheiro extra para os alimentos próprios; e<br />
experimentar como é atrativo a preparação dos alimentos<br />
da dieta.<br />
67
Universidade da Amazônia<br />
5º passo:<br />
- Permitir que as crianças tirem seus próprios doces.<br />
- Se for comer alimentos de alto valor calórico, eles devem<br />
ser preparados pela própria pessoa.<br />
- Fazer uma lista de atividades desejáveis:<br />
a) cultivar certos tipos de plantas;<br />
b) escolher um esporte: natação, voley, ginástica etc.;<br />
c) andar rapidamente meia hora toda manhã ou à tarde;<br />
d) não dormir durante o dia;<br />
e) não deitar após o almoço.<br />
6º passo:<br />
- Engolir todo o alimento que está na boca, antes de colocar<br />
mais.<br />
- Comer em prato raso com garfo e faca.<br />
- Mastigar o alimento devagar, inteiramente.<br />
7º passo:<br />
- Tomar a menor quantidade de água, ou qualquer líquido,<br />
durante a refeição.<br />
- Introduzir paradas planejadas, durante as refeições.<br />
Deixar o garfo descansar, conversar com alguém.<br />
- Concentrar no que está comendo. Sinta o gosto bom da<br />
comida.<br />
8º passo:<br />
- Verificar sempre a lista de alimentos que engordam, evitá-los.<br />
- Conseguir que não haja desvio do programa proposto.<br />
- Ler muitas vezes as pistas propostas. Refletir se realmente<br />
está praticando estes exercícios (CUNHA, 1985f, p.10-11).<br />
Além desses passos, a autora chamou a atenção para o controle<br />
do ambiente, sugerindo que sejam evitados alimentos de alto valor<br />
calórico à vista em casa, bem como, estar em locais onde eles estejam<br />
expostos (certas prateleiras de supermercado, por exemplo). O planejamento<br />
da alimentação também foi ressaltado, na medida em que a<br />
autora considerou importante investir na realização de um esquema<br />
adequado de alimentação, composto de seis refeições por dia. A pesagem<br />
ao menos duas vezes ao dia (pela manhã e à noite) permite que<br />
sejam avaliadas as variações naturais de peso, devido aos ciclos de sono<br />
e vigília, e permite que o sujeito tenha evidências diretas da relação<br />
dos alimentos e bebidas com a redução de seu peso corporal.<br />
Por fim, a autora advertiu para a necessidade da adequação de<br />
qualquer programa ao cliente e para a necessidade de evitar o controle<br />
estabelecido pela contagem de calorias.<br />
68
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Embora o número de artigos assinados por Jacira Cunha no<br />
periódico que estamos analisando tenha sido sete ao invés de seis,<br />
um deles (CUNHA, 1985d) não atendeu ao critério de inclusão na<br />
análise, haja vista apresentar uma explicação para a Obesidade que<br />
não foi consubstanciada em princípios da Análise do Comportamento.<br />
Como um exemplo tem-se o trecho abaixo, quando a autora comentou<br />
os resultados de uma pesquisa realizada com sujeitos expostos<br />
a duas condições: previsibilidade e imprevisibilidade da apresentação<br />
do estímulo aversivo:<br />
As duas situações podem provocar problemas psicossomáticos,<br />
uma pelo medo, agressão desencadeada contra o<br />
objeto agressor ou pela impossibilidade de fugir ou agredir.<br />
A outra, pela agressão dirigida para si mesmo, pelo<br />
desamparo, desejo de morte para fugir à situação de incontrolabilidade,<br />
ou pode dirigir a agressão contra um objeto<br />
imaginário, um possível responsável por aquela situação<br />
(CUNHA, 1985d, p. 39).<br />
Kerbauy (1987) confeccionou um capítulo de livro que define<br />
Obesidade na visão médica e na visão comportamental, apresentando as<br />
linhas gerais para a elaboração de um programa de intervenção comportamental.<br />
Desta forma, a Obesidade caracterizaria-se por uma ingestão<br />
excessiva e/ou inadequada de alimentos em relação ao gasto calórico do<br />
organismo, o que levaria ao acúmulo de tecido adiposo, contribuindo<br />
para o aparecimento de outras doenças como o diabetes e a hipertensão,<br />
além de gerar quadros de retraimento social, baixa autoestima etc. Neste<br />
sentido, a autora propõe que a Obesidade seja compreendida como<br />
um quadro gerado por uma relação tridimensional entre comportamento<br />
alimentar, gasto de energia e consumo de alimentos. Sendo assim, no<br />
tratamento deve constar necessariamente mudanças nos hábitos alimentares<br />
e o exercício físico; visão compartilhada por médicos e psicólogos.<br />
Logo de início indicou que os dois maiores problemas observados nos<br />
tratamento de Obesidade são a manutenção dos resultados obtidos com<br />
a exposição aos programas de redução de peso e o emprego por parte dos<br />
clientes de ações preventivas.<br />
A autora apresentou no texto uma caracterização da abordagem<br />
comportamental da Obesidade. Inicialmente, mostrou que o próprio<br />
termo não era utilizado, sendo mais comum encontrar na literatura<br />
expressões como controle alimentar e controle de superalimen-<br />
69
Universidade da Amazônia<br />
tação, uma vez que a intenção era ressaltar que os estudos comportamentais<br />
enfatizariam o padrão do comportamento alimentar e não<br />
somente questões orgânicas, tradicionalmente tratadas no campo<br />
médico. A autora afirmou, no entanto, que o termo Obesidade passou<br />
a ser utilizado na literatura comportamental, indicando o caráter multiprofissional<br />
do problema.<br />
Historiando a produção da Análise do Comportamento acerca<br />
da Obesidade, a autora informou ter sido de Ferster, Nurnberger e Levitt<br />
em 1962 a primeira pesquisa realizada sobre o problema,<br />
[...] Destacando as situações que causam dificuldades<br />
quanto à seleção e ingestão de alimentos pelo indivíduo,<br />
propondo técnicas de modificação e delimitação à<br />
Obesidade como um problema de autocontrole.<br />
Com essa análise, evidenciou-se o problema de<br />
autocontrole em geral: a diferença entre as conseqüências<br />
imediatas da resposta e suas conseqüências tardias<br />
(KERBAUY, 1987, p. 217).<br />
A partir da pontuação dos autores acima, Kerbauy afirmou que<br />
as contingências presentes (reforçadoras) e futuras (aversivas) não são<br />
discriminadas pelo indivíduo, uma vez que há contingências reforçadoras<br />
para a resposta de comer em excesso alimentos inadequados. A<br />
autora indicou o controle exercido pelo estímulo antecedente como<br />
um obstáculo ao autocontrole. Neste sentido, temos como exemplo o<br />
comer ao estudar, ao ver televisão e durante um bate-papo. A autora<br />
colocou o problema do autocontrole alimentar como:<br />
[...] Decorrente de circunstâncias com conseqüências<br />
reforçadoras imediatas que têm o efeito controlador sobre<br />
respostas como as já citadas, enquanto há consequências<br />
posteriores para a resposta que tem efeitos aversivos<br />
(aumentar o peso, adiposidade e problemas médicos)<br />
(KERBAUY, 1987, p. 217).<br />
Desta forma, a configuração de qualquer programa comportamental<br />
requer a realização de uma análise funcional do comportamento<br />
alimentar do cliente. Neste sentido, a autora sintetizou em alguns<br />
pontos as características de um programa comportamental:<br />
70
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
1. identificar as contingências das quais o comportamento de comer<br />
em excesso é função e a interação entre elas, visando a favorecer a<br />
individualização do programa;<br />
2. ensinar o obeso a automonitorar seu comportamento, por meio da<br />
auto-observação e do autorreforçamento;<br />
3. enfatizar com o obeso que o comportamento de comer excessivamente<br />
foi aprendido e pode ser modificado e, portanto, pode ser<br />
autocontrolado por ele;<br />
4. definir as metas de perda de peso claramente, especificando a quantidade<br />
de peso a ser perdida dentro de um período de tempo;<br />
5. colocar o comportamento de alimentar-se sob o controle de novos<br />
estímulos, dispensando especial atenção à emissão deste comportamento<br />
em situações sociais;<br />
6. estruturar um programa que permita a consequenciação para os comportamentos<br />
do cliente, ensinando o mesmo a discriminar mudanças<br />
e maneiras de iniciar e reiniciar comportamentos, preparando o mesmo<br />
para lidar com insucessos, analisá-los e planejar novos comportamentos<br />
quando situações semelhantes ocorrem novamente;<br />
7. introduzir um programa de atividades físicas para aumentar a quantidade<br />
de energia gasta pelo organismo;<br />
8. ensinar ao obeso as regras básicas de nutrição para que ele modifique<br />
a composição de sua dieta alimentar e;<br />
9. ampliar o repertório comportamental do obeso, desvinculando-o<br />
da alimentação.<br />
A autora afirmou que estas indicações estão baseadas nos resultados<br />
de pesquisa experimentais e clínicas. Neste sentido, a eficácia<br />
em curto prazo de programas comportamentais aplicados à obesidade<br />
passou a ser atestada, embora, ainda não tenha sido observada a mesma<br />
eficácia na fase de manutenção. A autora, levando isto em conta,<br />
comentou que:<br />
[...] Esses problemas estão interligados com uma série de<br />
outros comportamentos, aconselhando-se, portanto, um<br />
processo de terapia que apresente como uma das queixas<br />
o comportamento alimentar. Com isso, não se exclui o<br />
tratamento do comportamento alimentar isolado, se esse<br />
for o caso, ou a intenção do cliente, que deverá discutir<br />
esse fato com o terapeuta e delimitar, na medida do<br />
possível, a previsão dos resultados (KERBAUY, 1987, p. 222).<br />
71
Universidade da Amazônia<br />
A autora finalizou o texto indicando a necessidade da realização<br />
de novas pesquisas para compreender os resultados desencorajadores<br />
de tratamentos comportamentais da Obesidade em longo prazo, que<br />
poderiam fornecer dados para a confecção de programas preventivos<br />
junto às famílias e à sociedade de forma geral, caso estes programas<br />
não sejam capazes de propor técnicas que garantam a generalização<br />
dos resultados na fase de manutenção.<br />
No final dessa década, foi defendida a dissertação de mestrado de<br />
Denise Heller, sob a supervisão da professora Rachel Rodrigues Kerbauy.<br />
Heller (1990) realizou uma pesquisa experimental que teve o objetivo de<br />
identificar as variáveis controladoras da perda, da manutenção e do aumento<br />
de peso em oito mulheres obesas submetidas a um programa comportamental<br />
para a redução de peso. As participantes foram recrutadas por<br />
meio de divulgação da pesquisa em alguns setores do Hospital Escola de<br />
Curitiba (endocrinologia, clínica médica, enfermagem, nutrição). Os critérios<br />
de seleção foram: estar com índice de excesso de peso superior a 20%;<br />
não estar realizando tratamento psicológico; não fazer uso de anorexígenos;<br />
não ter diabetes e; não ter suspeita de gravidez. Todas as participantes<br />
eram inicialmente atendidas por uma nutricionista que procedia a avaliação<br />
dietética, orientava com relação ao balanceamento da dieta e lhes<br />
fornecia uma ficha de substituição de alimentos.<br />
As participantes eram encaminhadas para a entrevista inicial<br />
com a experimentadora, realizada individualmente, com o objetivo de<br />
‘Estabelecer um histórico de excesso de peso do sujeito, identificando<br />
início, causa, casos na família, além de dados pessoais como: doenças<br />
anteriores, atividade física, altura, índice de excesso de peso e razões<br />
para emagrecer” (HELLER, 1990, p. 36). Todos as participantes foram esclarecidas<br />
sobre o tipo de trabalho que seria realizado e estabeleceram<br />
um acordo com a experimentadora que previa a sua participação até o<br />
final do programa. Em caso de desistência, deveriam explicar as razões<br />
para sua saída.<br />
A média de excesso de peso inicial dos participantes foi de 29,<br />
56%. O programa era divido em duas etapas, a saber: 1. programa de<br />
autocontrole do comportamento alimentar e; 2. seguimento. A primeira<br />
etapa teve a duração de 24 sessões. Sendo que a primeira foi realizada<br />
individualmente (entrevista inicial) e as outras 23 em grupo. A periodicidade<br />
das sessões foi alterada, de quinzenal para semanal, na quinta<br />
sessão, a pedido do grupo de participantes. A segunda etapa teve o<br />
objetivo de manter os desempenhos adquiridos na etapa anterior e foi<br />
72
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
desenvolvida ao longo dos 12 meses posteriores ao encerramento da<br />
primeira etapa, totalizando um número de 15 sessões realizadas, sendo<br />
que sua periodicidade era quinzenal até o quarto mês e passou a mensal<br />
a partir do quinto mês.<br />
A sessão durava com média 60 minutos e seguia a ordem descrita<br />
abaixo:<br />
[...] Pesagem dos sujeitos e registro de peso em um gráfico<br />
pessoal; distribuição de prêmios para o sujeito que perdia<br />
mais peso – a partir da quinta sessão; análise das fichas<br />
preenchidas pelo sujeito; relato pelo sujeito das<br />
modificações comportamentais obtidas e das dificuldades<br />
encontradas, acompanhado de discussões e propostas de<br />
solução alternativas; apresentação de conceitos da análise<br />
experimental do comportamento através de explicações<br />
sempre depois que as tarefas eram propostas; tarefas<br />
propostas para iniciar ou manter desempenhos (HELLER,<br />
1990, p. 35).<br />
A ordem dos acontecimentos nas sessões foi alterada apenas por<br />
ocasião das 7ª, 8ª, 12ª, 16ª e 20ª sessões, em que foram incluídos esclarecimentos<br />
sobre a dieta alimentar, realizados por estagiárias de nutrição.<br />
A primeira etapa do programa teve um excelente índice de presença<br />
(em torno de 23 sessões). A análise dos dados revelou que todos<br />
os participantes indicaram como razão para a participação no programa,<br />
o fato de não se sentirem bem por estarem gordos e desejarem emagrecer,<br />
adicionalmente a isso, cinco alegaram querer experimentar um<br />
“tratamento diferente” e um alegou ser a sua participação no grupo<br />
uma exigência de seu médico.<br />
A perda de peso média por mês foi de 1.185 gramas por participante,<br />
perfazendo uma média total de 9.800 gramas. A autora fez a<br />
análise da perda de peso em função da técnica empregada e indicou<br />
que a técnica de registro da alimentação, sozinha, foi capaz de produzir<br />
perda de peso em todos os sujeitos, que variou de três quilos a 700<br />
gramas em 15 dias com o acréscimo da técnica de controle de estímulos,<br />
ao mesmo tempo em que foi indicado o início da dieta, cinco dos oito<br />
emagreceram, um manteve o peso e dois engordaram, sendo que estes<br />
últimos declararam não ter cumprido as tarefas, alegando problemas<br />
familiares. A introdução da pausa durante a alimentação, das garfadas<br />
espaçadas, do relaxamento diário e da prática de duas atividades reforçadoras<br />
e concorrentes com o comportamento de comer foi capaz de<br />
73
Universidade da Amazônia<br />
produzir perda de peso em sete dos oito sujeitos. A utilização da sugestão<br />
de mudança na ordem de ingestão dos grupos de alimentos durante<br />
uma refeição foi capaz de gerar perda de peso para todos os sujeitos, os<br />
mesmo declararam estar usando conjuntamente ao menos quatro técnicas<br />
aprendidas no programa.<br />
Este processo de introdução de técnicas se desenvolveu entre a<br />
segunda e a nona sessão, a partir daí procedeu-se nas reuniões a discussão<br />
sobre as dificuldades encontradas na execução do programa. Foram<br />
registradas igualmente perdas de peso no período compreendido entre<br />
a décima e vigésima quarta sessão.<br />
Com relação às dificuldades enfrentadas individualmente por<br />
todas as participantes ao longo do programa, as sugestões para a superação<br />
das mesmas (destacando-se a fonte) e o nível de adesão dos participantes,<br />
estão sumarizadas e apresentadas no quadro abaixo, com<br />
um resumo do que está demonstrado nas oito tabelas expostas no trabalho<br />
desta autora, acrescentando-se a coluna “sujeitos”.<br />
74
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
DIFICULDADE<br />
Comer em resposta à<br />
situação estressante<br />
Comer muito rápido<br />
Não ter horário para<br />
as refeições<br />
Pular refeições<br />
(café da manhã)<br />
Não ter atividade<br />
física/inatividade<br />
Gostar muito<br />
de doces<br />
Não saber recusar<br />
doces (festas e casa<br />
de amigos<br />
Falta de condições<br />
financeiras para<br />
comprar frutas e<br />
verduras<br />
Não ter geladeira<br />
Comer para passar<br />
o tempo<br />
Sentir muita fome e<br />
comer muito às<br />
refeições<br />
Comer doces no<br />
trabalho (bar)<br />
Comer em um<br />
bandejão<br />
Enjoar verduras e<br />
frutas<br />
SUGESTÃO<br />
Fazer relaxamento e/ou praticar uma atividade<br />
reforçadora.<br />
Descansar o garfo, pausa.<br />
Fixar horários.<br />
Acordar dez minutos antes.<br />
Fazer todas as refeições.<br />
Andar 10 minutos diariamente ou fazer ginástica.<br />
Fazer ginástica ou natação.<br />
Andar a pé. Fazer ginástica.<br />
Usart gelatina dietética.<br />
Usar gelatina dietética ou salada de frutas.<br />
Dar respostas que impeçam as pessoas de<br />
continuar a oferecer doces.<br />
Idem+ lembrar de situações desagradáveis<br />
suscitadas por estar gorda...<br />
Fixar uma cota de doces.<br />
Comprar fruas e verduras ao invés de doces e<br />
iogurte. Comprar no CEASA. Usar menos óleo<br />
para economizar.<br />
Comprar frutas e verduras da estação.<br />
Fazer horta em casa.<br />
Conservar verduras em plástico na água.<br />
Plantar em casa...<br />
Praticar atividade reforçadora em substituição ao<br />
comer.<br />
Mastigar lentamente e fazer pausa após cada<br />
grupo de alimento (carne, salada etc.)<br />
Sistema de economia de fichas (uma moeda para<br />
cada doce não comido), comprar um presente para<br />
si como o dinheiro...<br />
Pedir para colocar menos arroz e feijão. Comer<br />
primeiro a salada e carne, o feijão e o arroz no<br />
final.<br />
Mudar cardápio.<br />
FONTE DA<br />
SUGESTÃO<br />
Experimentadora<br />
(E)<br />
E<br />
16<br />
A autora relata que a adesão é apenas parcial, já que o sujeito não realizava a atividade sistematicamente.<br />
E<br />
E<br />
Grupo (G)<br />
E<br />
E<br />
G<br />
E e G<br />
E<br />
E<br />
E<br />
E<br />
G<br />
E<br />
G<br />
G<br />
G<br />
G<br />
E<br />
E<br />
E<br />
Nutricionista (N)<br />
(N)<br />
SUJEITOS<br />
D.M.<br />
L.M.<br />
D.M.<br />
M.A.<br />
M.C.<br />
L.<br />
D.M.<br />
M.H.<br />
L.M.<br />
M.C.<br />
L.M.<br />
L.M.<br />
D.M.<br />
M.A.<br />
E.<br />
M.E.<br />
L.M.<br />
M.H.<br />
D.M.<br />
E.<br />
D.M.<br />
M.A.<br />
M.C.<br />
M.A.<br />
M.E.<br />
L.M.<br />
M.E.<br />
L.M.<br />
D.M.<br />
M.A.<br />
L.<br />
L.<br />
M.C.<br />
ADESÃO<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM 16<br />
SIM<br />
NÃO<br />
NÃO<br />
SIM<br />
NÃO<br />
NÃO<br />
SIM<br />
NÃO<br />
SIM<br />
SIM<br />
NÃO<br />
SIM<br />
NÃO<br />
NÃO<br />
SIM<br />
Quadro 4. Dificuldades relatadas pelos sujeitos para o seguimento da 1ª<br />
etapa do programa desenvolvido por Heller (1990).<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
SIM<br />
75
Universidade da Amazônia<br />
(continuação do Quadro 4)<br />
DIFICULDADE<br />
SUGESTÃO<br />
FONTE DA<br />
SUGESTÃO<br />
SUJEITOS<br />
ADESÃO<br />
Fazer e comer bolo Não fazer bolo em casa. Ussar gelatina dietética. N M.C. SIM<br />
Não discriminar o<br />
teor calórico dos<br />
alimentos<br />
Utilizar a tabela de composição química. N M.H. SIM<br />
Não saber escrever<br />
para usar a folha de<br />
registro<br />
Descrever o conteúdo de suas refeições a partir<br />
do manual de alimentação<br />
E. e G. M.H. SIM<br />
Fazer bolo a pedido<br />
da família e comê-lo<br />
Esconder o bolo para não vê-lo. G. E. SIM<br />
Fazer bolo só no final de semana. Comer uma<br />
fatia no sábado e outra no domingo (cota).<br />
E. E. SIM<br />
Gostar de fazer mais<br />
do que de comer<br />
doces<br />
Fazer e esconder.<br />
Fazer outra atividade (visitar pessoas, crochê).<br />
E. E. SIM<br />
Desejar comer os<br />
doces dos filhos<br />
Comprar para os filhos frutas ao invés de doces. G. M.E. NÃO<br />
A autora destacou que, em ordem de frequência, as dificuldades<br />
mais relatadas pelas participantes foram: a velocidade acelerada ao<br />
comer (pouca mastigação), inatividade física, predileção por doces, fatores<br />
socioeconômicos, comer em resposta à exposição a estímulos aversivos<br />
e; habituação ao cardápio. A autora avaliou que:<br />
76<br />
Em suma, observou-se que, nesta primeira etapa do<br />
programa, ocorreram modificações no comportamento<br />
alimentar dos sujeitos nos seguintes aspectos: velocidade<br />
de mastigação e pausas durante as refeições, horário e<br />
local para as refeições, diminuição da ingesta e<br />
balanceamento da dieta (HELLER, 1990, p. 72).<br />
A autora pontuou, ao avaliar a eficácia das técnicas utilizadas,<br />
que diferentemente do estudo de Kerbauy (1972), no qual as técnicas<br />
de controle de estímulos, atividades incompatíveis e garfadas espaçadas<br />
foram indicadas como o conjunto básico de técnicas para a aquisição<br />
de autocontrole do comportamento alimentar, em seu estudo, os<br />
sujeitos elegiam as pausas durante as refeições, ao invés das garfadas<br />
espaçadas, como técnica de maior eficácia, tempo este que foi utilizado
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
para a feitura de trabalhos domésticos, os quais eram de responsabilidade<br />
das participantes.<br />
Com relação à segunda fase do programa, a autora relatou ter<br />
sido necessário constituir-se um novo contrato, que para alguns sujeitos<br />
envolveu perda de peso e manutenção do mesmo, devido ao pouco<br />
peso perdido na primeira fase e, para outros, se restringiu apenas à<br />
manutenção do peso perdido. Os resultados mostraram variabilidade<br />
intersujeitos como relatou a autora no trecho abaixo:<br />
A média inicial do índice de excesso de peso era de 29,56,<br />
passando para 14,29. O sujeito que mais diminuiu seu índice<br />
de excesso de peso foi D. M.: de 53,8 para 28,2. Dois sujeitos<br />
apresentaram no final do programa índice de excesso de<br />
peso negativo: L. -1,1; M. C. -1,5.<br />
Outros sujeitos também reduziram seus índices de excesso<br />
de peso a números abaixo do considerado obeso (20%)<br />
permanecendo em torno de 10%. Somente três sujeitos estão<br />
pouco acima dos 20% (HELLER, 1990, p. 74).<br />
A autora iniciou a segunda etapa do programa após as festas de<br />
final de ano. Neste contexto, três sujeitos prosseguiram a perder peso<br />
e três engordaram. Os três primeiros relataram ter continuado a usar as<br />
estratégias aprendidas, ter cumprido a dieta e mantido o exercício. Os<br />
três sujeitos que engordaram alegaram não ter seguido a mesma conduta,<br />
ficando sob o controle das consequências imediatas do comer em<br />
excesso. Outro aspecto que chama atenção no comportamento dos sujeitos<br />
que emagreceram foi que todos “... Mostram pensamentos focalizados<br />
em atividades diferentes da superalimentação” (HELLER, 1990,<br />
p.75-76). Chamam atenção igualmente, as alegações de um dos sujeitos<br />
que engordou, de que enfrentou problemas familiares, confirmando a<br />
literatura, que afirma ser a resposta de superalimentação reforçada<br />
negativamente. Outra alegação para o ganho de peso foi a condição<br />
financeira dos sujeitos que impedia o acesso a alimentos perecíveis<br />
(verduras e legumes) durante todo o mês.<br />
Partindo da associação do uso de estratégias de perda de peso,<br />
amplamente defendidas na literatura, a autora realizou inicialmente um<br />
levantamento das estratégias mais frequentes e menos frequentes, as<br />
explicações para esta seleção e os efeitos em termos de perda de peso.<br />
Os resultados mostraram que as estratégias mais usadas foram<br />
comer em um só local, mastigar bem, usar pouco sal, não repetir<br />
o prato e fazer pausa durante as refeições. A autora indicou que estu-<br />
77
Universidade da Amazônia<br />
dos semelhantes chegaram mais ou menos ao mesmo resultado e que<br />
os autores alegaram que estratégias deste tipo são de mais fácil manutenção<br />
que estratégias que envolvam o autorreforçamento. A autora,<br />
no entanto, encontrou uma diversidade muito grande de justificativas<br />
para a seleção das estratégias. A estratégia menos usada foi<br />
descansar o garfo/garfadas espaçadas. Os sujeitos alegaram que descansar<br />
o garfo é percebido por eles como “perda de tempo”, uma vez<br />
que todos são extremamente ocupados durante o dia. A autora, por<br />
fim, relatou não ter identificado relação entre o uso de estratégias e a<br />
perda de peso. Para exemplificar a questão, a autora referiu-se a uma<br />
situação específica:<br />
78<br />
O caso de E. é ilustrativo, pois este sujeito, embora tenha<br />
utilizado as estratégias em maior freqüência, proporcionalmente<br />
a esta utilização, este sujeito emagreceu menos<br />
que MH; supõe-se que variáveis biológicas estejam influenciando<br />
na perda ponderal (HELLER, 1990, p. 84).<br />
A autora inventariou as situações e os motivos que estão mais<br />
frequentemente associados à superalimentação, a partir de registros<br />
realizados pelos sujeitos que descreviam as situações em que este comportamento<br />
ocorre e os motivos para o mesmo. Os resultados mostraram<br />
que os motivos alegados com mais frequência são a tristeza, a preocupação<br />
e o nervosismo. As situações desencadeadoras da superalimentação<br />
são as mais diversas, desde reuniões sociais até situações<br />
familiares e profissionais. A autora afirmou que há uma relação estreita<br />
entre ganho de peso e superalimentação, mas que esta relação só seria<br />
bem compreendida com o levantamento da quantidade exata de alimentos<br />
ingeridos (porções).<br />
Durante esta segunda etapa, a autora introduziu uma ficha de<br />
registro de atividade física, o que na opinião dela teve efeito sobre o<br />
comportamento dos sujeitos. A autora, informou, por outro lado, que<br />
nesta etapa não foi requerido o preenchimento da ficha de registro alimentar,<br />
e que foi possível inferir apenas pelos níveis de redução de peso<br />
que o consumo de alimentos calóricos foi reduzido.<br />
A autora procurou saber, por meio das discussões em grupo,<br />
qual o significado da “festa” para os sujeitos, espaço onde frequentemente<br />
estes sujeitos diziam não resistir a alimentos hipercalóricos. A<br />
análise da verbalização confirmou a associação entre festa e comida. A<br />
autora, então, introduziu o treino de um repertório social a ser usado
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
em situações festivas. Os resultados desse treino mostraram que sete<br />
dos oito sujeitos passaram a não ingerir alimentos nessas situações. O<br />
único sujeito que não modificou seu comportamento afirmou ser este<br />
o único lugar em que é possível ingerir estes alimentos, e que prosseguiria<br />
a fazê-lo. O caso deste sujeito exemplificou bem o efeito da privação<br />
sobre a superalimentação.<br />
A autora relatou que ao final de 15 semanas, três dos oito sujeitos<br />
aumentaram de peso, sendo que os relatos colhidos dos mesmos indicaram<br />
que neste período foram expostos novamente a situações estressantes.<br />
Sobre esta questão ela afirmou: “Estes resultados nos fazem<br />
supor que este padrão comportamental (de superalimentação em<br />
situações estressantes) dificilmente será alterado, o que põe em risco a<br />
manutenção do peso perdido” (HELLER, 1990, p. 90).<br />
A autora destacou e descreveu pormenorizadamente a trajetória<br />
de dois sujeitos (M.H. e L. M.) no programa, com vistas a utilizar<br />
estes dados na construção das considerações finais de sua dissertação.<br />
M. H., 18 anos, com índice de excesso de peso de 32,1 %, não<br />
frequentava escola e era semi-analfabeta, fato este que a levou a<br />
ingressar no programa mediante o acordo estabelecido com seus familiares<br />
de cooperação na execução das tarefas escritas, o que perdurou<br />
apenas até a primeira etapa do programa. No início da segunda<br />
etapa, M. L. pretendia se retirar do programa, haja vista que seus familiares<br />
se recusavam a prosseguir com o auxílio na leitura. A autora<br />
indicou este, como o momento em que houve um investimento do<br />
grupo e dela mesma, na confecção de materiais (fichas) adaptados à<br />
compreensão de M. H., utilizando desenhos e referências externas<br />
para a contagem de tempo (horas ditas no rádio; o surgimento e movimento<br />
do sol e da lua). M. H. obteve durante as duas etapas do programa<br />
perda de peso modesta, mas constante, chegando a ganhar peso<br />
em alguns momentos da segunda etapa, mas voltando a perdê-lo no<br />
seguimento. Na avaliação da autora:<br />
Os resultados obtidos com M. L. foram muito positivos, pois<br />
esse sujeito não só perdeu peso, como também modificou<br />
seus hábitos alimentares, adquiriu noções sobre<br />
balanceamento dietético e aumentou sua atividade física.<br />
No final do programa, era capaz de escrever várias palavras,<br />
apresentava uma caligrafia legível e estava matriculada<br />
em uma escola pública.<br />
79
Universidade da Amazônia<br />
80<br />
Este caso, mostra as dificuldades encontradas por profissionais<br />
que trabalham com populações de analfabetos.<br />
Os materiais estrangeiros nem sempre podem ser utilizados,<br />
necessitando uma adaptação. Parece importante que<br />
se realize mais pesquisas na área, e que sejam divulgadas<br />
as soluções encontradas nos diversos trabalhos (HELLER,<br />
1990, p. 95).<br />
L. M., 16 anos, trabalhava como babá por meio período, ao ingressar<br />
no programa apresentava índice de excesso de peso de 31 %. Seu ingresso<br />
no programa foi motivado pelo estabelecimento, por parte do médico, da<br />
perda de peso como pré-requisito para a realização de uma cirurgia plástica<br />
nas mamas. L.M. relatou que enfrentava muitas dificuldades financeiras,<br />
algumas delas que interfeririam no seguimento das recomendações alimentares,<br />
como não possuir geladeira. Além disso, identificou-se que L.M.<br />
apresentava eventos de superalimentação após brigas com a mãe e que no<br />
trabalho procurava se alimentar, já que em casa só existia, em geral, pão e<br />
macarrão. Embora, os seus patrões fossem vegetarianos, doces e guloseimas<br />
eram francamente disponibilizadas para os filhos e para ela não existia<br />
qualquer restrição no acesso ao alimento.<br />
Outros fatores também afetaram o processo de perda-de-peso<br />
L. M., tais como: alegava ter um trabalho muito cansativo; fazia o mínimo<br />
de atividade física; alegando que morar em local muito perigoso<br />
para realizá-la no período da noite; alegava não poder construir uma<br />
horta por morar em terreno pequeno.<br />
A análise quantitativa do desempenho de L. M. indicou que a<br />
mesma foi o sujeito que teve a menor redução de peso do grupo. Por<br />
outro lado, a autora chamou a atenção para a necessidade de realização<br />
da análise qualitativa de seu desempenho:<br />
Observa-se resultados modestos em termos quantitativos.<br />
Entretanto, uma análise qualitativa dos resultados mostra<br />
modificações nos hábitos alimentares do sujeito, tais como:<br />
fixar horários e local para as refeições, mastigar bem os alimentos<br />
e aumentar o consumo de saladas (HELLER, 1990, p. 99).<br />
Ao final do programa, o sujeito foi submetido à cirurgia plástica<br />
pretendida, uma vez que seu índice de excesso de peso estava em 22, 9<br />
%, valor este que representa um risco moderado à saúde.<br />
Por fim, à altura das Considerações Finais, a autora indicou que<br />
os resultados, demonstraram, do ponto de vista quantitativo, que hou-
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ve perda de peso tanto na primeira, quanto na segunda etapa, a ponto<br />
de dois dos oito sujeitos terem atingido o peso ideal e os outros terem<br />
reduzido seu excesso de peso 24%, no mínimo.<br />
Na discussão dos dados do ponto de vista qualitativo, a autora<br />
apresentou indicativos e reflexões importantes para a compreensão do<br />
desempenho dos oito sujeitos. Inicialmente, a autora mostrou que dos<br />
quatro hipertensos que participaram do programa, três reduziram o peso<br />
para um índice menor que o considerado para aferir Obesidade, diminuindo<br />
os riscos para a saúde física, com reflexos na longevidade dos<br />
indivíduos.<br />
Outro aspecto destacado foi o impacto da perda de peso na vida<br />
social dos sujeitos. A redução de peso permitiu que o deslocamento<br />
dos mesmos em transporte público se desse de forma tranquila, alguns<br />
passaram a vestir certos tipo de roupa (calça jeans, por exemplo) que<br />
antes não podiam em virtude da numeração e passaram a frequentar<br />
festas e reuniões sociais. Sobre este último efeito, a autora advertiu<br />
para a associação entre excesso de comida-riqueza-fartura, que geralmente<br />
se verifica na percepção da situação de festa por indivíduos de<br />
baixa-renda. Para a autora, o valor cultural do alimento pode dificultar<br />
a modificação de hábitos alimentares nestas situações.<br />
Além disso, o programa foi capaz de produzir efetiva modificação<br />
em seus hábitos alimentares, a autora listou algumas delas no trecho<br />
abaixo:<br />
Atualmente, comem mais salada e legumes, não repetem<br />
os pratos quentes, mastigam bem os alimentos, estabelecem<br />
horário e local para as refeições, adquiriram noções<br />
sobre balanceamento dietético, sendo capazes de identificar<br />
o valor calórico e nutricional dos alimentos que ingerem<br />
(HELLER, 1990, p. 102).<br />
Sobre esta questão, a autora incitou a reflexão ao dizer que:<br />
Não existe tratamento específico para esse tipo de população<br />
no que concerne à dieta pois, em geral, os alimentos<br />
prescritos em dietas hipocalóricas são caros e inacessíveis...<br />
Parece que alegar dificuldades econômicas é mais<br />
simples e fácil que admitir a dificuldade na introdução<br />
de novos hábitos, especialmente alimentares (HELLER,<br />
1990, p. 104).<br />
81
Universidade da Amazônia<br />
Neste ponto, a autora ainda ressaltou a necessidade da família<br />
como um todo alterar seus hábitos alimentares.<br />
No que diz respeito à atividade física, sete dos oito sujeitos<br />
incluíram sistematicamente esta atividade em seu cotidiano, a despeito<br />
do fato de todos serem trabalhadores braçais e desenvolverem atividades<br />
extremamente cansativas, por conta de sua condição econômica.<br />
A este respeito, a autora traçou a seguinte reflexão:<br />
[...] Nesse estudo pode-se afirmar que, a partir do momento<br />
que passaram a registrar sistematicamente sua atividade<br />
física diária, os sujeitos não só aumentaram-na, como também<br />
perderam peso. Continuam, entretanto, apresentando o<br />
mesmo nível sócio-econômico e desempenhando o mesmo<br />
trabalho braçal (HELLER, 1990, p. 106).<br />
A autora pontuou que as relações de cooperação que se desenvolveram<br />
entre os membros do grupo, sem dúvida, funcionaram como variáveis<br />
controladoras importantes dos novos hábitos adquiridos durante o<br />
programa. Além disso, estas relações foram decisivas no sentido de oferecer<br />
alternativas aos problemas relatados pelos sujeitos, na medida em que<br />
o grupo apresentava soluções adequadas para a sua realidade.<br />
Outro aspecto levantado pela autora foi a interferência de variáveis<br />
biológicas no processo de redução de peso. Os dados da entrevista inicial demonstraram<br />
que a maior parte dos sujeitos já havia se submetido a dietas<br />
hipocalóricas, perdido e retornado ao peso anterior (efeito sanfona), bem como,<br />
eram egressos de famílias que tinha membros próximos com Obesidade e já<br />
apresentavam Obesidade desde a infância ou a tinham adquirido há certo<br />
tempo (uso de remédios e gravidez). A autora observou que questões metabólicas<br />
e/ou genéticas interferem no ritmo da perda de peso e podem levar à<br />
necessidade de fixar metas de perda de peso individualizadas, ao invés de<br />
grupais (meio a um quilo por semana) como ocorreu nesse estudo.<br />
A análise dos trabalhos deste período revelou que, embora a<br />
maioria dos estudos tenha tido como participantes mulheres, um dos<br />
estudos analisados contou com uma participação expressiva de homens<br />
(CUNHA, 1985b).<br />
A maior parte das pesquisas analisadas (3/5) foi do tipo experimental.<br />
Nas três pesquisas experimentais analisadas, bem como em toda<br />
a literatura que as consubstanciou, observaram-se relatos de grande variabilidade<br />
intersujeitos com relação à perda de peso. No entanto, na<br />
discussão dos resultados, eixos de explicação bastante diversos foram<br />
82
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
observados. Cunha (1985b) optou por atribuir esta variabilidade ao estilo<br />
de autorreforçamento; por outro lado, Heller (1990) resolveu argumentar<br />
na direção de identificar as técnicas ensinadas que tinham tido mais<br />
dificuldades de ser implementadas pelas participantes, levando em consideração<br />
a história de cada um e seu nível socioeconômico.<br />
Os dois outros trabalhos que não eram experimentais tomaram a<br />
forma de pesquisas bibliográficas. Estas pesquisas tiveram um traço comum:<br />
realizaram um levantamento de pesquisas clínicas e experimentais<br />
(em maioria) no campo da Análise do Comportamento e Obesidade e<br />
tiveram a intenção de propor programas, mais ou menos estruturados,<br />
baseados no dados dessas pesquisas. A análise comparativa desses programas<br />
permite notar que: 1. indicam a necessidade de análise funcional<br />
prévia do comportamento alimentar; 2. indicam como uma das dificuldades<br />
para a instalação de novos hábitos alimentares o controle exercido<br />
pelos estímulos antecedentes; 3. indicam a automonitoria do comportamento<br />
alimentar como técnica básica, visando a propiciar condições para<br />
que o obeso discrimine as contingências das quais o seu comportamento<br />
alimentar é função; 4. indicam a necessidade da introdução de atividades<br />
físicas, de preferência registrando-as; 5. indicam a necessidade de planejamento<br />
alimentar e; 5. indicam a necessidade da ampliação do repertório<br />
comportamental do obeso, pela instalação de comportamentos concorrentes<br />
ao comportamento de comer excessivamente e pelo favorecimento<br />
do contato com outros reforçadores além da comida.<br />
Com relação às indicações feitas pelos programas, a análise dos<br />
dados das três pesquisas experimentais dessa década suscita algumas<br />
reflexões. A pesquisa de Heller (1990) demonstrou, que a simples introdução<br />
de uma ficha de registro de atividade física, mesmo sem o estabelecimento<br />
de metas, foi capaz de aumentar e/ou tornar mais constante a<br />
atividade física da maioria de seus sujeitos (7/8). Este aspecto é especialmente<br />
importante, já que até aqui os procedimentos expostos enfatizaram<br />
a automonitoria apenas do comportamento alimentar, não estendendo<br />
esta técnica a outros comportamentos interligados e partícipes do<br />
processo que culminou na construção do quadro de Obesidade.<br />
Este mesmo estudo também dá outra contribuição importante<br />
no sentido de ampliar o espectro de comportamentos-alvo de intervenção<br />
em programas comportamentais de combate à Obesidade: a<br />
introdução do treino de repertório para situações sociais (sobretudo<br />
festas) que envolvam alimentos. Neste sentido, a observação de que<br />
7/8 dos sujeitos foram capazes de controlar a ingesta nestes contex-<br />
83
Universidade da Amazônia<br />
tos, a despeito das contingências dispostas, mostra uma linha interessante<br />
de intervenção e de pesquisa: a relação entre repertório de<br />
habilidades sociais, superalimentação e Obesidade.<br />
Destaca-se ainda, nesta década, a indicação de Heller (1990) do<br />
papel representado pelo grupo de participantes para o estabelecimento<br />
dos novos hábitos alimentares de cada um dos seus membros, na<br />
medida em que partiu diversas vezes do próprio grupo a iniciativa de<br />
buscar alternativas para a implementação das estratégias componentes<br />
do programa no dia-a-dia. Este dado fica especialmente interessante<br />
se cruzado com os obtidos por Kerbauy (1972; 1977), em que o menor<br />
desempenho, em termos de perda de peso, ocorreu nos sujeitos que<br />
foram atendidos em grupo. Neste sentido, parece ser bastante significativa<br />
a realização de pesquisas sobre o papel do grupo na adesão ao<br />
programa e na redução de peso, como sugere Heller (1990).<br />
Afirmações com relação à dificuldade em garantir a manutenção<br />
do peso atingido no período de follow up e com relação à necessidade<br />
de individualizar os critérios e as metas de perda de peso são novamente<br />
retomadas nos textos dessa década, indicando a sua pertinência<br />
e a ausência de pesquisa nesta direção.<br />
4.3 A PESQUISA NA DÉCADA DE 90<br />
Foi identificado nesta década um conjunto de 14 trabalhos, distribuídos<br />
da seguinte forma: sete resumos publicados em anais de congresso;<br />
um resumo publicado em periódico; três artigos; duas monografias<br />
de conclusão de curso de especialização e; um trabalho de conclusão<br />
de curso de graduação em Psicologia.<br />
A análise qualitativa da produção dessa década abarcou diretamente<br />
cinco trabalhos. No entanto, na análise dos trabalhos, percebeuse<br />
que dois dos trabalhos não obtidos foram integralmente apresentados<br />
na forma de dissertação de mestrado um ano depois, dissertação<br />
esta captada e analisada dentro do conjunto de trabalhos pertencentes<br />
ao período de 2001 a 2004. Além disso, a leitura e análise do artigo de<br />
Smokowicz (1997) relevou que ele abarca o conteúdo integral da monografia<br />
da autora não captada, o que permite dizer que a mesma compõe<br />
nossa análise sobre a produção dessa década. Sendo assim, podemos<br />
considerar que ao todo, foi possível compor a análise qualitativa de oito<br />
trabalhos deste período, um número bastante representativo da produção<br />
do mesmo (57,14 %).<br />
84
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Brandão, Neves e Silveira (1994) relatam brevemente, em forma de<br />
resumo, a pesquisa desenvolvida durante psicoterapia de grupo com indivíduos<br />
obesos. O objetivo da pesquisa em questão foi avaliar os efeitos do uso<br />
de estratégias de intervenção baseadas no controle pelas contingências dispostas<br />
nas sessões sobre a mudança nos hábitos alimentares de obesos.<br />
Segundo os autores, estudos anteriores priorizavam o estabelecimento de<br />
controle instrucional (regras) em detrimento do “controle vivencial” (contingências).<br />
Participaram da pesquisa nove obesos que frequentavam sessões<br />
de psicoterapia de grupo semanalmente. Durante o período de intervenção,<br />
“A abordagem vivencial foi adotada para trabalhar questões relativas<br />
à autoimagem, percepção dos estados corporais, atribuição da responsabilidade<br />
do problema da Obesidade, entre outras” (BRANDÃO, NEVES e<br />
SILVEIRA, 1994, p. 56). Além dessa estratégia, adotou-se a análise funcional<br />
da relação terapêutica nas sessões. Os resultados mostraram redução de<br />
peso de 4.500 gramas, em média, para sete dos nove obesos; manutenção do<br />
peso inicial em um obeso e ganho de peso de 1.200 gramas em outro<br />
obeso participante. Os dados apresentados compreenderam a comparação<br />
do peso inicial com peso aferido no final da 16ª sessão. Os<br />
autores concluíram que as estratégias utilizadas – abordagem vivencial<br />
e análise funcional do comportamento (públicos e privados) dos<br />
terapeutas nas sessões – foram responsáveis pelo estabelecimento<br />
do contato dos obesos com as contingências relacionadas à Obesidade<br />
e pelas mudanças observadas em seus comportamentos 17 .<br />
Florenzano (1994) realizou uma pesquisa com os indivíduos obesos<br />
atendidos pelo projeto de extensão do curso de Psicologia da Universidade<br />
Estadual de Londrina - PR “Autocontrole no tratamento da<br />
Obesidade”, que visava a identificar as razões alegadas para a desistência<br />
do programa. O programa era voltado para pessoas que desejavam<br />
reduzir e/ou manter o peso, e tinha como objetivo principal propiciar<br />
condições para que as mesmas passassem a ser capazes de:<br />
[...] Analisar e compreender suas dificuldades, com relação<br />
ao hábito alimentar, podendo continuar seu tratamento<br />
sozinho após o encerramento do programa. Perder peso<br />
deverá se tornar uma conseqüência boa e importante, mas<br />
não imprescindível para o sucesso do tratamento<br />
17<br />
O texto do resumo não esclarece se a análise funcional da relação terapêutica era feita durante as<br />
sessões na presença dos sujeitos e se as mudanças que foram observadas se referem aos hábitos<br />
alimentares e/ou outros comportamentos dos indivíduos relacionados à Obesidade, como é o caso da<br />
atividade física.<br />
85
Universidade da Amazônia<br />
(FLORENZANO, 1994, p. 10).<br />
Os obesos, após avaliações médica, nutricional e de capacidade física,<br />
foram encaminhados para o atendimento psicológico, responsável inicialmente<br />
pela formação dos pequenos grupos para atendimento semanal.<br />
A intervenção psicológica tinha por objetivos levar os participantes a:<br />
[...] Se comprometerem com a dieta e exercícios indicados<br />
pelas outras áreas através de: reconhecimento da<br />
impropriedade de seu próprio peso; assumindo<br />
responsabilidades pelo seu próprio peso, dieta e mudança<br />
de vida que se fizeram necessárias; desenvolvendo o autoconhecimento;<br />
melhorando a auto-estima; identificando e<br />
analisando a função que o comer ou o manter-se gordo<br />
tem na sua vida; analisando e alterando comportamentos<br />
abertos ou privados que colaboram na manutenção do<br />
excesso de peso e desenvolvendo gradualmente controle<br />
sobre sua vontade, sensação e outros sentimentos<br />
(FLORENZANO, 1994, p. 10 - 11).<br />
O programa continha em seu desenvolvimento outras atividades<br />
específicas de cada uma das três outras áreas envolvidas: Medicina,<br />
Nutrição e Educação Física. Apesar da elevada demanda, expressa no<br />
grande volume de inscrições, o programa que tinha duração de um ano<br />
apresentava uma taxa considerável de evasão (68,5% em 1993, ano da<br />
coleta de dados da pesquisa), o que motivou a prática de incluir novos<br />
membros em grupos onde ocorreram desistências.<br />
Participaram da pesquisa nove obesas, sendo seis pacientes<br />
desistentes e três pacientes não desistentes de um dos grupos submetidos<br />
ao programa no ano de 1993, com o mínimo de um mês de participação.<br />
A pesquisa desenvolvida pela autora se estruturou em torno dos<br />
seguintes objetivos principais: 1. no grupo de pacientes desistentes:<br />
identificação dos motivos e das causas da desistência; 2. no grupo de<br />
pacientes não desistentes: identificar os motivos para a sua permanência;<br />
3. obter a avaliação dos dois grupos de pacientes sobre a atuação<br />
das diferentes áreas (Psicologia, Nutrição, Medicina e Educação Física);<br />
4. Analisar os motivos e as avaliações feitas pelos dois grupos sobre as<br />
áreas e; sugerir mudanças no programa para reduzir a evasão.<br />
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista individual,<br />
desenvolvida por meio de dois instrumentos: 1.Questionário com uma<br />
questão aberta “Qual ou quais foram as razões para você ter desistido de<br />
participar do projeto?” (para as pacientes desistentes) e “Qual ou quais<br />
86
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
razões a fez continuar participando com o projeto?” (para as pacientes não<br />
desistentes) e; 2. questionário com questões fechadas que solicitavam o<br />
parecer de cada paciente sobre cada uma das atividades desenvolvidas<br />
pelas quatro áreas, para as quais o paciente indicaria considerar “Positivo”<br />
ou “Negativo”. No caso das pacientes desistentes foi oferecida uma lista de<br />
sete justificativas/razões para a sua desistência, para que as mesmas indicassem<br />
qual se enquadraria em seu caso e especificassem de que forma.<br />
A autora, no início da seção Resultados, historicizou o processo<br />
de composição do grupo de onde as nove participantes da pesquisa eram<br />
oriundas. A composição inicial do grupo contava com 18 pacientes, após<br />
um mês de funcionamento oito pacientes desistiram do programa, fato<br />
este que não gerou ingresso de nenhum novo membro, uma vez, que o<br />
grupo já havia sido considerado muito grande no início. Em meados do<br />
ano, mais cinco pacientes desistiram do programa, sendo substituídas<br />
por outras em mesmo número. Três das seis pacientes desistentes entrevistadas<br />
pertenciam às oito pacientes que desistiram com apenas um<br />
mês de participação no grupo. Para estas pacientes foi aplicada apenas o<br />
primeiro instrumentos de coleta de dados, já que o curto tempo de permanência<br />
não permitiria um julgamento adequado das questões referentes<br />
ao segundo instrumento. Com relação ao restante da composição<br />
do grupo, o texto da autora apresentou algumas contradições observadas<br />
na comparação de dois trechos distintos:<br />
[1º trecho:] Foram entrevistados seis pacientes desistentes e<br />
três pacientes não desistentes [e;] (FLORENZANO, 1994, p. 14)<br />
[2º trecho:] Para essas três pacientes que desistiram em<br />
torno de um mês, foi aplicado apenas a primeira etapa da<br />
entrevista, justamente por elas não terem freqüentado o<br />
projeto tempo suficiente para poderem avaliar as atividades<br />
das áreas. Já das outras seis pacientes desistentes, o tempo<br />
de participação no projeto foi de aproximadamente cinco<br />
meses, e por isso foram submetidas às duas etapas da<br />
entrevista (FLORENZANO, 1994, p. 16).<br />
Da forma como está colocado no texto, fica a dúvida sobre a distribuição<br />
da amostra entre pacientes desistentes e não desistentes. A<br />
despeito disso, a autora apresentou os motivos alegados para a desistência:<br />
A - mudança de horário (do grupo); B - falta de tempo; C - melhoras<br />
em aspectos como depressão, autoaceitação, autocontrole, autoconhecimento;<br />
D - estar doente; E - falta da área médica; F - orientação inadequada<br />
das nutricionistas; G - falta de companhia para frequentar o grupo;<br />
87
Universidade da Amazônia<br />
H - ocupação com outras atividades; I - falha na área de educação física; J<br />
- local de funcionamento do grupo era de difícil acesso; K - dificuldade<br />
com recém-nato e; L - estar fazendo tratamento à base de remédios para<br />
emagrecer. Para favorecer a interpretação dos resultados, a autora informou<br />
que no período de tempo analisado não esteve disponível o atendimento<br />
médico periódico. Além disso, a autora informou que os motivos<br />
J, K e L foram dados pelas três pacientes que deixaram o grupo com apenas<br />
um mês, destacando que o motivo L conflitava com um dos critérios<br />
de permanência no grupo: não fazer uso de medicação com este fim.<br />
A autora apresentou as respostas das pacientes desistentes com<br />
relação às quatro áreas que compõem o programa. Os resultados mostraram<br />
que a área médica foi avaliada como 100 % negativa pelas pacientes,<br />
a área nutricional obteve uma avaliação equilibrada com distribuição<br />
igual entre pontos positivos e negativos. A Educação Física foi<br />
considerada predominantemente negativa e, por outro lado, a área psicológica<br />
foi julgada positiva. Para favorecer a compreensão dessas avaliações,<br />
a autora apresentou as respostas dadas pelas pacientes acerca<br />
dos motivos para desistência, desta feita disponibilizando uma lista<br />
para a escolha. Os resultados mostraram que os mais encolhidos foram:<br />
“ausência de alguma área” (três pacientes), “dificuldade em seguir normas<br />
do grupo (horário, dias, duração)” (dois pacientes) e “expectativa<br />
contrária à proposta do projeto” (uma paciente). Uma vez que as respostas<br />
ainda eram justificadas, a autora acrescentou que as pacientes<br />
que selecionaram “ausência de alguma área”, indicaram as áreas de<br />
Medicina e Educação Física. As que escolheram “dificuldade em seguir<br />
normas do grupo” alegaram a mudança de horário de funcionamento<br />
do grupo e, a que indicou a “expectativa contrária à proposta do projeto”,<br />
afirmou ter procurado o programa para obter rápida perda de peso.<br />
Com relação aos dados obtidos com as pacientes não desistentes,<br />
a autora destacou que todas indicaram que o trabalho realizado pela Psicologia<br />
foi o fator decisivo para a sua permanência, uma vez que favoreceu<br />
o autoconhecimento e a autoaceitação. Com relação à avaliação, que<br />
estas pacientes faziam acerca de cada uma das quatro áreas de atuação<br />
do programa, os dados demonstraram que a Psicologia teve um avaliação<br />
100% positiva, a Medicina e a Nutrição obtiveram uma avaliação predominantemente<br />
positiva e a Educação Física obteve, por outro lado, uma<br />
avaliação com equilíbrio entre pontos positivos e negativos.<br />
A autora destacou, na seção Discussão, a necessidade da participação<br />
das quatro áreas no programa, uma vez que, algumas das justifi-<br />
88
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
cativas para a desistência foram falhas no funcionamento das áreas de<br />
Medicina, Nutrição e Educação Física. Este dado, segundo a autora, reforçou<br />
a idéia de Stuart em 1980, exposta pela autora em sua fundamentação<br />
teórica, de que as falhas na perda de peso não podem ser<br />
atribuídas apenas aos sujeitos, mas podem estar associadas ao delineamento<br />
experimental do programa. Baseado no pensamento desse autor,<br />
Florenzano (1994, p. 24) infere que:<br />
[...] Pode-se levantar a hipótese de que as técnicas de<br />
educação física e da nutrição, de alguma maneira talvez<br />
tenham se comportado da maneira como Stuart (1980)<br />
ressaltou, dando excessiva atenção à diminuição, sem se<br />
preocuparem em reforçar os sucessos das pacientes e<br />
também em observar e criar condições para que o indivíduo<br />
manipule a situação precedente, isto é, a urgência de se<br />
alimentar entrevista.<br />
A autora acrescentou a esta possibilidade uma outra, segundo a<br />
qual as justificativas dadas pelas desistentes poderiam ser na verdade “desculpas”.<br />
Para consubstanciar esse eixo de análise, a autora referiu-se a Schonbach<br />
em 1985, uma vez que este autor indicou a existência de benefícios<br />
nas desculpas formuladas pelos obesos, que se traduzem na mudança do<br />
lócus de atribuição da causalidade do obeso para fora dele. Desta forma,<br />
acusar áreas de não ter fornecido tratamento adequado seria mais fácil do<br />
que assumir suas próprias responsabilidades. Neste sentido, a autora recapitulou<br />
a discussão de Hirschamann e Munter em 1991, que afirmaram ter o<br />
excesso de peso função de justificar “... Incapacidades em produzir respostas<br />
sexuais adequadas no companheiro” (FLORENZANO, 1994, p. 24-25).<br />
Outros exemplos de justificativas para a desistência são questionados pela<br />
autora, como “morar longe do Campus Universitário”, fato este de conhecimento<br />
prévio de todas as participantes ao ingressar no programa.<br />
A autora analisou os resultados da avaliação das participantes<br />
desistentes e não desistentes em relação à área psicológica. Para ambos<br />
os grupos de pacientes, esta foi a única área considerada predominantemente<br />
positiva, o que na visão da autora é justificado pelo fato de<br />
que a maioria dos obesos come excessivamente em respostas à exposição<br />
a situações ansiogênicas e que para o planejamento de comportamentos<br />
alternativos ao comer, nestas situações, é preciso que o indivíduo<br />
identifique os contextos ansiogênicos e passe a controlar o comportamento<br />
de comer.<br />
89
Universidade da Amazônia<br />
A autora, sugeriu, ao final do trabalho, as seguintes modificação<br />
no programa: 1. enfoque predominante clínico no atendimento psicológico;<br />
2. participação esporádica das outras áreas fornecendo orientações;<br />
3. implementação do levantamento das causas da desistência do<br />
programa por meio de ficha aplicada no momento da comunicação da<br />
mesma e; 4. implementação do levantamento das causas que contribuíram<br />
para a permanência dos pacientes no programa aplicada no final<br />
de cada ano.<br />
Silveira e Kerbauy (1995) realizaram uma pesquisa que tinha<br />
como objetivo identificar os fatores envolvidos na manutenção do peso<br />
após a exposição a um programa comportamental de redução de peso.<br />
As autoras introduziram a questão de pesquisa destacando a evidente<br />
dificuldade de programas comportamentais de redução de peso produzirem<br />
efeitos duradouros em termo de manutenção. O que tem, segundo<br />
elas, contribuido para a construção de críticas a estes programas e às<br />
dietas em geral, já que outros estudos têm mostrado que a flutuação no<br />
peso é mais perigosa para a saúde do que o próprio nível elevado de<br />
excesso de peso, desde que ele se torne estável.<br />
Participaram da pesquisa 15 mulheres obesas que se encontravam<br />
em fase de manutenção, definida pelas autoras “... Menos de seis<br />
meses pós-tratamento” (SILVEIRA e KERBAUY, 1995, p.13), das quais cinco<br />
ainda frequentavam um programa de autocontrole no tratamento da<br />
Obesidade. As autoras aplicaram um questionário com perguntas abertas.<br />
Acerca dos resultados obtidos, as autoras descrevem que:<br />
90<br />
Dois terços das mulheres garantiram que sempre usaram<br />
as técnicas ensinadas pelo programa. Mastigar<br />
adequadamente os alimentos, apesar de ser uma das<br />
técnicas mais utilizadas, foi também apontada como uma<br />
das mais difíceis de ser executadas, sugerindo que os<br />
sujeitos executaram com mais freqüência aquelas técnicas<br />
que julgam mais eficazes e não as mais fáceis. Todas<br />
consideraram os encontros semanais do grupo como o fator<br />
mais agradável do programa. A atividade física aparece<br />
como um recurso utilizado pelas pacientes egressas do<br />
programa que têm mantido o peso (SILVEIRA e KERBAUY,<br />
1995, p.13).<br />
As autoras concluem que os resultados obtidos são compatíveis<br />
com os de outras pesquisas que investigaram e comprovaram a efetividade<br />
de programas comportamentais associados à prática de exercícios
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
físicos. Por fim, elas indicaram que futuras pesquisas poderiam investigar<br />
o papel de variáveis sociais como um “fator motivacional” para o<br />
envolvimento dos sujeitos no programa.<br />
Smokowicz 18 (1997) realizou uma pesquisa exploratória com o objetivo<br />
de identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por pessoas<br />
que fazem dieta em situações de alto risco de recaída, definidas por ela<br />
como: “... Ações ou respostas, de acordo com as habilidades pessoais, para<br />
lidar adequadamente com as situações que possam colocar em risco o autocontrole<br />
quanto ao comportamento de ingerir alimentos” (SMOKOWICZ,<br />
1997, p. 78). Além disso, a autora pontuou como seriam definidos os conceitos<br />
“recaída” e “manutenção” em relação ao comportamento alimentar:<br />
A manutenção define-se então, como o uso continuado de<br />
regras que regulam a ingestão alimentar. E a recaída é a<br />
violação de uma ou mais dessas regras. A abordagem, que<br />
considera o comportamento adicto como padrão de hábitos<br />
adquiridos, considera que uma recaída pode ser vista<br />
como um erro único, um engano, um deslize, um lapso.<br />
A probabilidade de ocorrência de um lapso, no comportamento<br />
de alimentar-se, vai depender da habilidade da<br />
pessoa em envolver-se em algum comportamento de enfrentamento,<br />
na situação de risco (SMOKOWICZ, 1997, p. 79).<br />
Um aspecto que chama atenção no Referencial Teórico do artigo<br />
é que, apesar da autora referenciar o trabalho de duas Analistas do<br />
Comportamento (RACHEL KERBAUY e JACIRA CUNHA), passa parte desse<br />
item do artigo a apresentar as idéias de Marlatt em 1993, que inspiram<br />
afirmações como a que se segue:<br />
Nos últimos anos, tem havido interesse pelas intervenções<br />
que enfocam a aplicação de programas de autocontrole e<br />
automanejo, em uma grande variedade de transtornos.<br />
Inicialmente, houve a utilização de processos operantes,<br />
como controle de estímulos e técnicas de auto-reforço, mas<br />
as abordagens contemporâneas salientam os componentes<br />
cognitivos, como a reestruturação cognitiva, o treinamento<br />
para a solução de problemas, e a tomada de decisões...<br />
(SMOKOWICZ, 1997, p. 77).<br />
18<br />
Na captação desse trabalho encontrei o sobrenome da autora com outra grafia: Smokiwicz.<br />
91
Universidade da Amazônia<br />
A despeito dessa afirmação, observa-se que a autora utiliza em<br />
sua interpretação dos dados como suporte teórico-epistemológico a<br />
Análise do Comportamento e o Behaviorismo Radical de B. F. Skinner.<br />
A coleta de dados foi dividida em duas fases. Na primeira fase,<br />
a autora ouviu quatorze sujeitos que tinham frequentado programas<br />
comportamentais para a redução de peso e se encontravam no estágio<br />
de manutenção há dois meses no mínimo. Foi aplicado o “Inventário<br />
das habilidades para lidar com situações de risco” (KNAPP e BERTOLO-<br />
TE, 1994), adaptado pela autora para situações relacionadas à Obesidade,<br />
como objetivo de levantar as situações de maior risco para a recaída.<br />
Neste instrumento, as situações estavam agrupadas em tipos e cada<br />
sujeito selecionou três situações em cada um deles. A aplicação do instrumento<br />
foi realizada individualmente ou em duplas.<br />
Com base nos dados colhidos na primeira fase, a autora elaborou<br />
um questionário composto pelas situações escolhidas por 44% ou<br />
mais de sujeitos, que foi aplicado a outros seis sujeitos na segunda<br />
fase. Nesta fase, o objetivo era identificar as estratégias de enfrentamento<br />
usadas naquelas situações. A aplicação do questionário com respostas<br />
abertas foi complementada pela realização de entrevistas gravadas<br />
acerca das respostas dadas pelos sujeitos.<br />
A análise das respostas dos sujeitos, tanto ao questionário quanto<br />
na entrevista, foi realizada por três psicólogas. Os resultados da primeira<br />
fase levaram a categorização das seguintes situações de maior<br />
risco de recaída: Tipo I - Lidar com emoções negativas; Tipo II - Lidar com<br />
situações difíceis; Tipo III - Lidar com a diversão e o prazer; Tipo IV -<br />
Lidar com problemas físicos ou psicológicos; Tipo V - Lidar com o hábito<br />
de comer em excesso; Tipo VI - Lidar com o tratamento.<br />
As estratégias de enfrentamento foram identificadas e categorizadas<br />
da seguinte forma: A - Discriminar sensações corporais de fome<br />
e saciação; B - Fazer planejamento alimentar; C - Discriminar as relações<br />
de contingência; D - Autoverbalização; E - Comportamentos alternativos;<br />
F - Viver adequadamente as emoções; G - Recusar alimentos inadequados<br />
em situações sociais e; H - Autorreforçamento. Ela identificou a<br />
existência da relação da história de aprendizagem de cada sujeito com<br />
a escolha da estratégia de enfrentamento a ser utilizada.<br />
A autora avaliou de forma quantitativa a frequência de utilização<br />
de cada uma das estratégias categorizadas, os dados revelaram que as<br />
estratégias mais utilizadas pelos sujeitos foram a C (31,85%), D (17,15%) e<br />
E (15, 01%), da mesma forma as que apresentaram a menor frequência<br />
92
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
foram G (2,38%), H (5,10%) e A (6,45%). As outras estratégias obtiveram<br />
freqüência que orbitaram em torno de 10,34% a 10,91%. A autora, no<br />
trecho abaixo, inferiu que variáveis do procedimento poderiam ter contribuído<br />
para a baixa frequência de utilização da Estratégia G:<br />
[...] nas questões em que apareciam situações específicas<br />
sobre a adequação em recusar alimentos inadequados em<br />
situações sociais, todos os sujeitos responderam de forma<br />
adequada, isto é, que sabem dizer não a alimentos<br />
inadequados oferecidos nessas situações. O índice pouco<br />
aparente nas respostas justifica-se, provavelmente, pelo<br />
número reduzido de questões específicas neste tipo de<br />
situação (SMOKOWICZ, 1997, p. 84).<br />
A autora identificou a frequência da utilização das estratégias<br />
em cada uma das situações investigadas (Tipo I a VI). A estratégia A foi<br />
utilizada mais frequentemente nas situações Tipo III (9,37%) e Tipo V<br />
(13,46%). A estratégia B foi utilizada mais frequentemente nas situações<br />
Tipo III (28,12%) e Tipo V (17,30%). A estratégia C foi utilizada mais<br />
frequentemente nas situações Tipo IV (68,75%), Tipo II (33,33%), Tipo I<br />
(31,14%) e Tipo III (18,75%). A estratégia D foi utilizada mais frequentemente<br />
nas situações Tipo III (28,12%), Tipo V (21,21%) e Tipo IV (21,43%).<br />
A estratégia E foi utilizada mais frequentemente nas situações Tipo I<br />
(26,22%), Tipo IV (13,13%), Tipo (12,50%) e Tipo V (9,61%). A estratégia<br />
F foi utilizada mais frequentemente nas situações Tipo IV (40%) e Tipo<br />
V (37,5%). A estratégia G só foi escolhida pelos sujeitos em situações do<br />
Tipo V (9,61%). A estratégia H foi utilizada mais frequentemente nas<br />
situações Tipo IV (9,75%) e Tipo V (9,61%). A autora conclui que houve<br />
diferença no nível de frequência da utilização nas diversas situações.<br />
Além disso, a autora problematiza os resultados obtidos nesta análise<br />
ao inferir que:<br />
Considerando-se que a discriminação das relações de<br />
contingências ocorrem por meio do comportamento verbal,<br />
aberto ou encoberto, o que irá permitir a tomada de decisões<br />
sobre a execução de um comportamento alternativo ao<br />
comportamento de comer, surge a questão: o relato das<br />
estratégias utilizadas com freqüência mais altas mostra que<br />
estas são as que apresentam os primeiros elos das cadeias<br />
comportamentais de evitar comer (SMOKOWICZ, 1997, p. 88).<br />
Além disso, a autora destacou a utilização da estratégia F em<br />
situações do Tipo II e IV e sugeriu que, por serem situações que envol-<br />
93
Universidade da Amazônia<br />
vem fortemente as emoções, a forma mais adequada de vivenciá-las é<br />
apresentar comportamentos compatíveis, como chorar e gritar, mas que<br />
estes não se apresentam como comportamentos concorrentes com outros<br />
comportamentos, inclusive o de se alimentar em excesso. Somado<br />
a isso, a autora destacou que a própria vivência da emoção pode criar<br />
condições para uma recaída. Neste contexto, a estratégias mais utilizada<br />
para evitá-la é a estratégia de enfrentamento D.<br />
A autora destaca também a alta frequência da seleção das estratégias<br />
D, C e B em situações do Tipo III, uma vez que o próprio comer é uma<br />
fonte de prazer, “... Daí a necessidade de se recorrer ao uso de regras e/ou<br />
informações como, por exemplo, um cardápio específico com baixas calorias,<br />
como parte de um planejamento adequado” (SMOKOWICZ, 1997, p. 89).<br />
Por fim, a autora apontou que todas as estratégias são usadas<br />
quando se trata de combater o hábito de comer em excesso, principalmente<br />
a estratégia C. Por outro lado, a estratégia H teve a sua utilização<br />
restrita a situações de tratamento (Tipo V) e as que envolvem o hábito<br />
de comer em excesso (Tipo VI).<br />
A autora apresentou ainda um outro eixo de análise, que procurou<br />
relacionar o tempo de manutenção e a frequência do uso das estratégias<br />
catalogadas. Os resultados mostraram que as estratégias E e B<br />
não apresentaram alteração significativa em sua frequência de utilização<br />
em função do tempo, bem como a estratégia D demonstrou um<br />
aumento significativo (de 12,11% para 22,20%). A estratégia C se manteve<br />
como a mais utilizada de todas as estratégias, por outro lado, a<br />
estratégia F teve a sua frequência de utilização reduzida (de 12,27 para<br />
8,40%) ao longo do tempo. Neste sentido, a autora concluiu: “Observase<br />
que, ao longo do tempo, a frequência de utilização da maioria das<br />
estratégias de enfrentamento permaneceu inalterada, apenas a estratégia<br />
categorizada como autoverbalização [D] aumentou significativamente<br />
sua frequência” (SMOKOWICZ, 1997, p. 91).<br />
A autora teceu suas considerações finais sobre os dados no item<br />
Conclusão, ressaltando que dentre as estratégias mais utilizadas por<br />
seus sujeitos esteve a estratégia C (discriminar as relações de contingência),<br />
considerada fundamental para a redução de peso e sua consequente<br />
manutenção nos mesmos níveis, uma vez que viabiliza que o<br />
indivíduo “... Aprenda a reconhecer e lidar com as situações de alto risco<br />
de recaída” (SMOKOWICZ, 1997, p. 91), o que, segundo ela, é condizente<br />
com o pensamento de Marlatt em 1993.<br />
94
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A autora afirmou, portanto, que o Modelo de Prevenção e Recaída<br />
(desenvolvido por aquele autor, provavelmente da Psicologia Cognitiva)<br />
está baseado na aquisição e uso da estratégia C, que:<br />
[...] Possibilita o autocontrole, que é um aspecto extremamente<br />
importante para o tratamento da Obesidade e baseia-se no<br />
autoconhecimento. O autoconhecimento é determinado<br />
socialmente e é produto de um processo de discriminação<br />
das relações de contingência, que ocorrem quando o indivíduo<br />
as descreve verbalmente (SMOKOWICZ, 1997, p. 91).<br />
A autora indicou a relevância de pesquisas que identificam e<br />
categorizam estratégias de enfrentamento, sobretudo para a prática<br />
clínica, e indicou a necessidade da realização de replicações e de outras<br />
pesquisas que investiguem a eficácia dessas estratégias com um contingente<br />
maior de sujeitos.<br />
Como última produção científica dessa década, temos o artigo<br />
publicado por Heller em 2000 (HELLER, 2000), na Revista Brasileira de<br />
Terapia Comportamental e Cognitiva. A análise do artigo revelou que o<br />
seu conteúdo é uma síntese da dissertação de mestrado da autora (HE-<br />
LLER, 1990), já analisada com o conjunto de textos da década passada.<br />
A análise dos trabalhos dessa década revela uma maior preocupação<br />
com a fase da manutenção do peso atingido após a participação<br />
em programas comportamentais de redução de peso, uma vez que dois<br />
dos estudos tiveram como sujeitos indivíduos que se encontravam nessa<br />
fase. Os resultados apresentados confirmam a literatura, na medida<br />
em que, apontam como a estratégia de enfrentamento mais utilizada a<br />
discriminação das contingências, que favorece, sem dúvida, a ocorrência<br />
de respostas controladoras como o engajamento em comportamentos<br />
alternativos e a autoverbalização, respectivamente a segunda e terceira<br />
estratégias mais usadas. No entanto, os dados de um estudo em<br />
especial, comparados a outros apresentados em outras décadas, cria a<br />
necessidade de mais esclarecimentos sobre o papel do autorreforçamento<br />
como estratégia de enfrentamento, haja vista que ao menos na<br />
fase de manutenção esta foi a estratégia menos utilizada pelos sujeitos<br />
da pesquisa de Smokowicz (1997).<br />
A atividade física aparece novamente como uma estratégia para a<br />
manutenção do peso e permite cogitar a possibilidade da mesma integrar<br />
o conjunto de comportamentos alternativos ao comer, citados na<br />
estratégia D do estudo de Smokowicz (1997).<br />
95
Universidade da Amazônia<br />
O papel do grupo na adesão e no engajamento ao programa foi<br />
novamente enfocado, agora não apenas em pesquisas experimentais,<br />
mas dessa feita, em pesquisas clínicas (BRANDÃO, NEVES e SILVEIRA,<br />
1994). Este mesmo aspecto foi ressaltado já na fase de manutenção,<br />
uma vez que os encontros periódicos com os membros do grupo que se<br />
submeteu ao programa são apontados como extremamente motivadores<br />
pelos sujeitos (SILVEIRA e KERBAUY, 1995).<br />
Mas foi, sem dúvida, a proposição de uma pesquisa que avaliou<br />
os motivos de desistência de programas comportamentais, a contribuição<br />
mais original dessa década, uma vez que, não raro, os trabalhos<br />
anteriores relataram a redução do número de sujeitos durante a aplicação<br />
do programa e, a despeito disso, não apresentavam explicações e/<br />
ou hipóteses que conseguissem explicitar as razões. A busca por variáveis<br />
de procedimento que tenham gerado a desistência permitiu refletir<br />
sobre a organização dos programas, seus pontos positivos e negativos.<br />
Embora, o trabalho em questão (FLORENZANO, 1994) tenha por<br />
diversas vezes justificado as possíveis falhas do programa, ao invés de<br />
avaliar criticamente suas limitações, permitiu que a voz dos desistentes<br />
suscitassem novos e interessantes caminhos de investigação.<br />
4.4 A PESQUISA ENTRE OS ANOS DE 2001 A 2004<br />
Este período representa, por um lado, a menor unidade de tempo<br />
da amostra de trabalhos analisados (apenas quatro anos) e, por outro,<br />
a maior produtividade registrada (48 trabalhos).<br />
Os trabalhos identificados estão distribuídos da seguinte forma:<br />
22 resumos em anais de congresso, sendo dois em língua inglesa e<br />
20 em língua portuguesa, dos quais três estão disponibilizados on line<br />
no site da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental<br />
(ABPMC) (www.abpmc.org) e os outros somente na versão impressa;<br />
três capítulos de livro, sendo um em língua inglesa; quatro dissertações<br />
de mestrado; 13 trabalhos de conclusão de curso; três artigos, sendo<br />
um em língua inglesa; um resumo em periódico e; dois trabalhos<br />
completos publicados em anais.<br />
A análise qualitativa da produção dessa década abarcou diretamente<br />
quatorze trabalhos. Este número se ampliou para vinte trabalhos,<br />
se considerado que alguns desses trabalhos são fruto da mesma<br />
pesquisa, a exemplo do que ocorreu nos períodos anteriores.<br />
96
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
Sendo assim, pode-se considerar que ao todo foi possível compor<br />
a análise qualitativa (41,66%) da produção do período.<br />
Silva (2001) escreve um artigo que tem como objetivo indicar o<br />
que psicólogos comportamentais podem fazer com relação a quadros<br />
de Obesidade. A autora iniciou o texto apresentando algumas falas comuns<br />
em pessoas obesas acerca da causa do aumento de peso e da<br />
expectativa sobre o processo psicoterápico: “Como porque estou ansiosa.<br />
Estou gorda assim por causa dessa minha ansiedade. Preciso aprender<br />
a controlá-la para poder perder peso” (SILVA, 2001, p. 265). Neste<br />
sentido, a autora apresentou as contingências que fortalecem essa compreensão<br />
da causalidade elaborada pelos pacientes obesos:<br />
- Quando está ansiosa, come (conseqüência positiva<br />
imediata).<br />
- Quando come, engorda (consequência aversiva a médio e<br />
longo prazos).<br />
- Engordando, fica ansiosa.<br />
- E quando está ansiosa...<br />
- Repetindo-se o círculo (SILVA, 2001, p. 265).<br />
A autora acrescentou a isso o fato de que a ingestão excessiva de<br />
comida é indicada na literatura médica como um fator estressor para o<br />
organismo, contribuindo para o aumento da ansiedade.<br />
A autora identificou algumas características comuns em pessoas<br />
obesas: 1. dificuldade de delimitar seu espaço pessoal, pois constantemente<br />
sua privacidade é invadida e seus direitos básicos desrespeitados<br />
por pessoas de sua convivência mais próxima; 2. autoestima e autoimagem<br />
rebaixadas, gerados, por uma história de exposição a ambientes<br />
pouco reforçadores e pelas consequências atuais dispensadas pela comunidade<br />
verbal para a sua condição de obesa; 3. desânimo, inferioridade<br />
e frustração devido não ser possível atender ao modelo de “corpo<br />
perfeito” apresentado pela mídia; baixo autocuidado, não valorizam a<br />
qualidade de vida, não fazem exercícios, não cuidam da aparência (compra<br />
de roupas, por exemplo). Para a autora este conjunto de “... Situações<br />
aversivas passam a ter status de determinantes do comportamento de<br />
comer em excesso, o que reforça a relação entre estar mal ou ansiosa e<br />
comer” (SILVA, 2001, p. 267).<br />
A autora elencou outro fator importante que está relacionado à manutenção<br />
do comportamento de comer em excesso: ausência de outras fontes<br />
de prazer (reforçadores positivos) no ambiente do obeso. Desta forma,<br />
97
Universidade da Amazônia<br />
“... Sempre que se sente entediada ou com sensação de vazio, cansada...<br />
come” (SILVA, 2001, p. 267). A autora afirmou ser na infância, a origem da<br />
associação mal estar-alimentação, uma vez que a consequência administrada<br />
pelos pais ao comportamento de chorar da criança é alimentá-la.<br />
A autora usou como exemplo do círculo vicioso do qual o comer<br />
excessivamente faz parte, a situação em que o obeso sente raiva. Segundo<br />
a autora, desde a infância os indivíduos obesos aprenderam que<br />
este não é um sentimento nobre e que ao senti-lo deve-se desenvolver<br />
formas de eliminá-lo, pois ele causa muita ansiedade. Desta forma,<br />
É freqüente a pessoa com excesso de peso usar a comida<br />
como uma forma de aliviar este sentimento, até porque<br />
além do reforço social que, geralmente acompanha essa<br />
ação, existe um prazer mais forte e imediato que é a<br />
sensação gustativa agradável e o alívio imediato.<br />
Logo, o comer não é a resposta adequada ou a resposta<br />
que se quer. Essa resposta, aqui, tem a função de controlar<br />
ou afastar situações aversivas e sentimentos negativos.<br />
Com relação aos sentimentos, quanto mais se quer<br />
controlá-los, mais eles estarão presentes e com maior<br />
intensidade (SILVA, 2001, p. 267).<br />
A autora, portanto, indicou ser a tentativa de eliminar sentimentos<br />
engajando em comportamento de superalimentação como o principal<br />
obstáculo para a identificação dos fatores que geram estes sentimentos<br />
(ansiedade, por exemplo), uma vez que não permite que o<br />
obeso identifique os eventos eliciadores. Portanto, impede a aprendizagem<br />
de outras formas de lidar e de expressar adequadamente estes<br />
sentimentos. A autora afirmou ainda que: “... A ansiedade ora aparece<br />
como conseqüência e ora como estímulo antecedente ao comer. Por<br />
isso, tanto comer em excesso, como a ansiedade, devem ser alvos de<br />
investigação e intervenção” (SILVA, 2001, p. 267).<br />
A autora apontou ainda um outro aspecto comumente observado<br />
em pessoas obesas: a insensibilidade às contingências geradas pelo<br />
controle estabelecido por regras. Dentre essas regras estão:<br />
- Nunca vou emagrecer porque na minha família todos têm<br />
problemas de peso.<br />
- Tudo que eu como me engorda.<br />
- Fazer exercícios é muito chato (SILVA, 2001, p. 268).<br />
98
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A partir da exposição sobre os fatores que contribuem para a manutenção<br />
do comportamento de comer em excesso, a autora respondeu<br />
no parágrafo apresentado abaixo a questão “o que podemos fazer?”:<br />
Enquanto psicólogos comportamentais, podemos trabalhar<br />
com autocontrole e mudança de hábito alimentar,<br />
identificando as funções que o comer assume para a pessoa.<br />
Podemos ajudá-la a analisar sua história de vida e identificar<br />
as variáveis ambientais (físicas e sociais), condições<br />
emocionais e relações entre elas, que funcionam para o comer<br />
em excesso. Criar condições para que a pessoa altere as<br />
contingências presentes em seu ambiente, que exercem<br />
controle sobre o seu comportamento (SILVA, 2001, p. 268).<br />
Como um exemplo da aplicação dessas diretrizes de intervenção,<br />
a autora descreveu o projeto criado e coordenado à época pela Professora<br />
Maria Zilah Brandão na UEL, no qual a autora do texto foi supervisora<br />
e sumarizou o funcionamento do projeto:<br />
• Grupos de 15 clientes, em média (mulheres);<br />
• Dois encontros semanais: um com a Psicologia e outro<br />
para orientação médica, nutricional e exercícios físicos;<br />
• Em um primeiro momento, fazia-se o Psicodiagnóstico e<br />
autoconhecimento do hábito alimentar;<br />
• Em um segundo momento, trabalhava-se a informação<br />
sobre nutrição e saúde, reestruturação do hábito<br />
alimentar, orientação para exercícios físicos, identificação<br />
das funções que o comer tem para cada um e organização<br />
do ambiente externo, de forma a facilitar o autocontrole;<br />
• Em um terceiro momento, a ênfase era nas dificuldades<br />
pessoais relacionadas ao autocontrole, no<br />
desenvolvimento da autoimagem positiva e autoestima,<br />
expressão de pensamentos e sentimentos e aumento<br />
de repertórios que tenham consequências positivas<br />
(SILVA, 2001, p. 268).<br />
A autora destacou que os resultados obtidos no terceiro momento<br />
eram os mais expressivos do conjunto do programa, uma vez<br />
que era nesta fase que ocorria o investimento no desenvolvimento do<br />
autocontrole. Tomando como referência este dado, a autora passou a<br />
atender em seu consultório particular os pacientes com queixa de Obesidade<br />
e a desenvolver com os mesmos uma intervenção nomeada de<br />
“passeio pela sua história de vida”, que consistiu na identificação de<br />
99
Universidade da Amazônia<br />
seu repertório comportamental e na identificação do seu processo de<br />
produção, permitindo a identificação de seus limites e suas possibilidades.<br />
A autora sintetizou sua intervenção nos seguintes pontos:<br />
• Melhorar e ampliar aspectos do seu repertório pessoal,<br />
social, afetivo e que tragam consequências gratificantes;<br />
• Avaliar sua rotina: o que gosta e faz; o que gosta e não faz,<br />
o que não gosta e faz, o que não gosta e não faz;<br />
• Estimular a expressão de pensamentos e sentimentos de<br />
forma adequada;<br />
• Desenvolver várias fontes de reforçamento;<br />
• Descobrir pontos positivos no seu corpo e explorá-los,<br />
valorizando-os;<br />
• Valorizar a função do corpo: caminhar, sentir as coisas e<br />
pessoas, fazer amor, até comer (já que é através dele que<br />
se tem acesso ao mundo);<br />
• Encorajar a mudança de alguns hábitos: reforma de<br />
guarda-roupa adequando-o as suas características, de<br />
forma que valorize os aspectos positivos do corpo e o<br />
conforto deste, corte de cabelo, maquiagem;<br />
• Experimentar diferentes atividades físicas com o objetivo<br />
de identificar o que melhor se adapta a ela, observando:<br />
horários de maior probabilidade (em função do que está<br />
fazendo antes e o que fará depois), local, pessoas que<br />
fazem companhia estimuladora;<br />
• Quanto ao fazer exercícios físicos, prestar atenção no<br />
prazer, resistência, coordenação e não na queima de<br />
calorias e aparência;<br />
• Estimular prazer físico com massagens, cremes, banho<br />
(SILVA, 2001, p. 269).<br />
A autora relatou que os clientes passam a cuidar mais de sua<br />
alimentação e de sua qualidade de vida à medida que ficam mais generosos<br />
consigo mesmos, gostam-se mais, valorizam-se e priorizam-se<br />
mais. Para a autora, estas mudanças facilitaram as discussões e consequente<br />
discriminação das funções do comer em excesso e predispuseram<br />
às mudanças necessárias para a perda de peso e às condições para<br />
a espera a médio e longo prazo até se chegar ao peso ideal.<br />
Barbosa (2001) realizou uma pesquisa do tipo Estudo de Caso<br />
com dois adolescentes obesos, que teve como objetivo investigar a<br />
relação entre mudanças na competência social, realizadas a partir de<br />
um processo psicoterapêutico comportamental, e mudanças no peso.<br />
100
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
No sentido de fundamentar teoricamente a relevância da investigação,<br />
a autora afirmou que:<br />
A revisão de literatura sobre Obesidade indicou que<br />
freqüentemente existe uma relação entre Obesidade e<br />
variáveis não fisiológicas tais como: as emocionais, familiares<br />
e sociais. Análises funcionais de problemas clínicos, também<br />
freqüentemente indicam que comportamentos-problema estão<br />
relacionados a outras partes do repertório comportamental do<br />
indivíduo, especialmente com ausência de repertórios sociais.<br />
Parece ser útil, então, analisar relações entre respostas [DOW<br />
em 1994]. Com tal análise, seria possível modificar um ou alguns<br />
dos comportamentos que estão relacionados e observar<br />
mudanças em todos eles. Esta forma de análise e de intervenção<br />
foi utilizada no presente estudo ao invés de tratamentos já<br />
testados para a Obesidade, que focalizam os comportamentos<br />
de dieta e exercício. Isto porque estes tratamentos, apesar de<br />
permitirem perda de peso, não garantem que esta não retorne.<br />
Pretende-se verificar, com este estudo, se um tratamento que<br />
focalize comportamentos relacionados com o comer excessivo,<br />
selecionados através de análise funcional, e que não focalize<br />
os padrões comportamentais de comer e de exercitar-se,<br />
também levaria à redução de peso e uma boa manutenção<br />
(BARBOSA, 2001, p. 16).<br />
Inicialmente, participaram do estudo seis adolescentes selecionados<br />
por atenderem aos seguintes critérios: 1. ter IMC superior a 25<br />
(sobrepeso ou Obesidade); 2. apresentarem outras queixas comportamentais,<br />
tais como: ansiedade, cefaléia, timidez e/ou dificuldades de<br />
relacionamento familiar e social e; 3. não estar realizando ou vir a realizar,<br />
durante a pesquisa, outro tratamento psicológico ou psiquiátrico,<br />
ou mesmo outro tratamento para emagrecer.<br />
Para os fins de análise, a autora incluiu os dados de apenas dois<br />
dos seis adolescentes submetidos ao procedimento da pesquisa. Desta<br />
forma, os participantes foram: C.S.O., sexo feminino, 13 anos e 10 meses,<br />
cursando a 7ª série, renda familiar em torno de mil reais, com IMC<br />
32,1, que relatou que o seu aumento de peso se deu com a entrada na<br />
escola e se intensificou no início da adolescência e; R.M., sexo masculino,<br />
16 anos e seis meses, cursando a 8ª série, renda familiar setecentos<br />
reais, com IMC 33,8, que relatou sempre ter estado acima do peso, mas<br />
que isso se intensificou há um ano.<br />
101
Universidade da Amazônia<br />
A autora utilizou durante todo o processo um conjunto de escalas,<br />
inventários e entrevistas que visavam a fornecer dados sobre os<br />
níveis de competência social e indicar os comportamentos a serem alterados<br />
durante o tratamento. Desse conjunto fizeram parte:<br />
1. Questionário de Disponibilidade e Interesse: para identificar expectativas<br />
e preocupações referentes à Obesidade e outros fatores interligados<br />
(usado só no início do tratamento);<br />
2. Entrevistas semi-estruturadas com pais ou familiares e com os adolescentes:<br />
para levantar dados acerca da história de vida, características<br />
familiares, hábitos alimentares passados e atuais, problemas de saúde,<br />
dificuldades de relacionamento afetivo e social, autoimagem, conhecimentos<br />
prévios acerca da Obesidade e de tratamento e a motivação<br />
para a psicoterapia (aplicada só no início do tratamento);<br />
3. Youth Self-report (Achenbach em 1991): composto de duas partes com<br />
questões a serem respondidas pelos clientes. A primeira era uma<br />
escala de competência e apresentava itens relacionados à prática de<br />
esporte, relacionamento interpessoal, interesses escolares e gerais<br />
e participação em organizações. Pontuação menor que 37 indicou<br />
problemas. A segunda era a Escala Total de Problemas e realizava a<br />
medida da adaptação frente a problemas físicos, emocionais e comportamentos<br />
ligados a várias síndromes. Pontuação maior que 60<br />
indicava problemas (foi aplicado antes, durante e depois do tratamento);<br />
4. Child Behavior Checklist/4-18 (Achenbach em 1991): teve a mesma<br />
composição do instrumento 3, mas foi respondido pelos pais ou familiares<br />
(foi aplicada antes, durante e depois do tratamento);<br />
5. Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE): este instrumento avaliou<br />
a ansiedade-estado (estado emocional transitório) e a ansiedade-traço<br />
(diferenças individuais mais ou menos estáveis na propensão<br />
à ansiedade). Cada tipo de ansiedade foi avaliada em um conjunto<br />
de 20 afirmações, para as quais o sujeito deveria escolher entre<br />
quatro respostas possíveis (de absolutamente não até muitíssimo),<br />
sendo que em 20 afirmações selecionava a resposta com base<br />
no que estava sentindo no momento específico e em 20 afirmações<br />
selecionava a resposta de acordo com que sentia habitualmente.<br />
Este instrumento foi utilizado na pesquisa, como medida do nível de<br />
ansiedade dos adolescentes (foi aplicado antes, durante e depois<br />
do tratamento);<br />
102
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
6. Índice de Reatividade Pessoal (IRI) (Davis em 1980): instrumento que<br />
avaliou uma das habilidades sociais (a empatia), por meio de 28 itens<br />
divididos em quatro subescalas: Adoção de Perspectiva, Preocupação<br />
Empática, Fantasia e Mal Estar Pessoal, para os quais o sujeito<br />
deveria selecionar uma entre cinco categorias de respostas (desde<br />
não me descreve bem até descreve-me muito bem) (foi aplicado antes,<br />
durante e depois do tratamento);<br />
7. Escala de Assertividade de Rathus (Rathus em 1973): lista de 30 itens<br />
que forneceu uma medida de comportamentos relacionados com<br />
situações cotidianas que podem indicar um comportamento assertivo<br />
do indivíduo em situações sociais, para os quais o sujeito deveria<br />
escolher entre seis opções de respostas (desde condiz muitíssimo<br />
comigo até não condiz nada comigo) (foi aplicado antes, durante e<br />
depois do tratamento);<br />
8. Escala de Timidez e Sociabilidade: composta de 14 itens, cinco sobre<br />
timidez e nove sobre sociabilidade, para os quais o sujeito deveria<br />
selecionar uma entre cinco categorias de resposta (desde tem tudo<br />
a ver comigo até não tem nada a ver comigo) (foi aplicado antes,<br />
durante e depois do tratamento).<br />
Além desses instrumentos e técnicas já citados acima, foi utilizado<br />
o autoregistro (data, hora, antecedentes, problema, sensação<br />
e sentimentos associados, consequências) que foi preenchido em<br />
casa, ou quando isto não ocorria, no início de cada sessão junto com<br />
a terapeuta.<br />
A autora esclareceu ainda que:<br />
O tratamento psicológico realizado baseou-se em objetivos<br />
e diretrizes gerais semelhantes para todos os clientes da<br />
pesquisa, porém, cada um participou, juntamente com a<br />
terapeuta, na elaboração dos objetivos específicos,<br />
identificando as mudanças de comportamento que eram<br />
almejadas. Todos os clientes também foram informados,<br />
na entrevista inicial, de que o tratamento não enfocaria<br />
diretamente a queixa da Obesidade e de que não seriam<br />
dadas orientações em relação a este problema (BARBOSA,<br />
2001, p. 23-24).<br />
A autora, visando qualificar a análise dos dados, procedeu à filmagem<br />
de todas as sessões, exceto duas, uma para cada um dos clientes.<br />
Assim como os clientes foram pesados no término de cada sessão,<br />
103
Universidade da Amazônia<br />
momento em que não foi emitido nenhum comentário pela terapeuta.<br />
O número total de sessões realizadas com cada sujeito foi 16 sessões e<br />
40 sessões, respectivamente, para R.M. e para C.S.O.<br />
A autora indicou que a condução dada a cada atendimento foi<br />
baseada nos dados colhidos e analisados via análise funcional. Durante<br />
as sessões, a autora informou ter criado situações que auxiliaram os<br />
clientes a analisar funcionalmente seus próprios comportamentos relacionados<br />
às 13 habilidades sociais (CABALLO, 1996) e para o desenvolvimento<br />
da capacidade de percepção de si mesmo e dos outros. Para<br />
um dos clientes foi necessária ainda a utilização de um treino de relaxamento<br />
(C.S.O.).<br />
Para viabilizar a análise qualitativa dos dados foram criadas diferentes<br />
categorias de comportamento. No caso dos clientes, elas foram<br />
divididas em dois tipos: categorias desejáveis (espontaneidade no<br />
relato; aproximação dos colegas; atividade física; tarefa escrita; análise<br />
do próprio comportamento; identificação dos próprios sentimentos;<br />
identificação dos sentimentos dos outros; expressão adequada de sentimentos;<br />
identificação de qualidades em si mesmo; relaxamento; comportamento<br />
concorrente ao comer; emoção ao falar de si; enfrentamento;<br />
iniciativas e; eventos agradáveis) e categorias indesejáveis (ansiedade;<br />
dependência da mãe; esquiva/isolamento dos colegas; inassertividade<br />
com colegas; inassertividade com mãe; competitividade;<br />
inflexibilidade; justificativas; cognições pessimistas; brigas familiares<br />
e; eventos aversivos).<br />
Além de categorizar os comportamentos dos clientes, categorizou-se<br />
os comportamentos da terapeuta em 11 categorias, a saber:<br />
empatia; ênfase nos objetivos; investigação; questionamento; técnicas<br />
gráficas e imaginárias; encenação; interpretação; confrontação; aprovação;<br />
orientação / aconselhamento e; silêncio. O processo de categorização<br />
dos comportamentos dos clientes e da terapeuta contou com a<br />
participação de dois estudantes de pós-graduação para a avaliação da<br />
concordância em relação à ocorrência das categorias em cada sessão.<br />
A autora iniciou a seção Resultados relatando que tanto os clientes<br />
quanto seus familiares atribuíram grande importância para o<br />
emagrecimento e para a diminuição de outras queixas comportamentais.<br />
Todos os adolescentes fizeram relatos de desconforto em relação<br />
ao peso atual. Outro dado semelhante nos casos atendidos foi o fato de<br />
que os dois clientes tinham ao menos um membro com história de Obesidade<br />
na família.<br />
104
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A autora optou por descrever cada caso separadamente. A autora<br />
iniciou a análise pelo uso de CSO destacando que CSO afirmava no<br />
início do tratamento que seu quadro de Obesidade era causado por dois<br />
motivos: “vício de comer muito” e o “nervosismo”. Este último, presente<br />
em provas escolares, discussões dos pais, discussões com os pais e<br />
irmãos e a perante recriminações das pessoas, em geral, referentes a<br />
sua Obesidade.<br />
A análise funcional das primeiras sessões revelou que as classes<br />
de comportamentos centrais a serem modificadas seriam: Comer<br />
em excesso; Isolamento e dificuldades de relacionamento social; Dificuldades<br />
de expressão de sentimentos nos ambientes familiar e social;<br />
Dependência excessiva da mãe e; Nervosismo. A autora indicou como<br />
hipóteses de instalação dos comportamentos: Déficit de habilidades<br />
sociais; Reforçamento contínuo e único da mãe para comportamentos<br />
de dependência; Falta de incentivo e até controle familiar excessivos,<br />
que impedem a cliente de aproximar-se de outras pessoas; Ausência<br />
de outras fontes de reforçamento social (lazer) e; História de exposição<br />
a situações aversivas em contatos sociais com colegas e familiares. Como<br />
hipóteses de manutenção, a autora identificou: Ganho secundário do<br />
comportamento de dependência; atenção diferenciada da mãe; Controle<br />
excessivo da mãe; Cognições pessimistas; Vida sedentária e; Hábitos<br />
alimentares inadequados da família.<br />
A análise quantitativa do desempenho de CSO nas escalas e<br />
inventários aplicados denotou, na maioria das vezes, grandes oscilações<br />
entre a primeira, a segunda e a terceira aplicação. Com relação ao<br />
desempenho na escala de competência social, a cliente inicialmente<br />
apresentou déficits que se agravaram na segunda aplicação e que, por<br />
fim, foram significativamente reduzidos na terceira aplicação, o que<br />
permitiu enquadrá-la no nível da normalidade. Com relação à apreciação<br />
do Distúrbio Total, a cliente inicialmente apresentou desempenho<br />
compatível com a normalidade, tornou-se limítrofe na segunda aplicação<br />
e evoluiu novamente à normalidade na terceira aplicação, com índice<br />
melhor que o inicial. Este dado pode ser explicado em termos do<br />
Total de Internalizantes e Externalizantes. Com relação ao primeiro,<br />
CSO apresentou pontuação inicialmente no nível da normalidade, tornou-se<br />
limítrofe na segunda aplicação e evoluiu novamente à normalidade<br />
na terceira aplicação com índice melhor que o inicial. Com relação<br />
ao segundo, CSO nas duas primeiras aplicações apresentou índice na<br />
faixa limítrofe, evoluindo para a normalidade na terceira aplicação.<br />
105
Universidade da Amazônia<br />
A análise quantitativa do desempenho de CSO nas escalas de<br />
Ansiedade-Traço e Ansiedade-Estado revelou que a cliente apresentou<br />
índices elevados de início, que sofreram uma elevação ainda maior na<br />
segunda aplicação, mas que evoluíram para níveis menores, inferiores<br />
aos obtidos inicialmente, na última aplicação. Com relação à Reatividade<br />
Pessoal foi observado que CSO apresentou desde o início sentimentos<br />
de calor e compaixão e que, ao longo do tratamento, desenvolveu<br />
bastante a capacidade de experimentar sentimentos de desconforto e<br />
ansiedade diante da experiência negativa dos outros. No entanto, as<br />
pontuações para a adoção da perspectiva do outro e para a fantasia<br />
indicaram problemas em ver pelo ponto de vista do outro e se identificar<br />
com outras pessoas em situações fictícias.<br />
As pontuações obtidas demonstraram que a dificuldade inicial<br />
de expressar sentimentos de forma não agressiva estava diminuindo.<br />
Com relação à timidez observou-se um processo de melhora na última<br />
aplicação. Com relação à sociabilidade, CSO teve uma piora significativa<br />
na segunda aplicação com uma tendência maior ao isolamento, que<br />
demonstrou uma reversão na terceira aplicação.<br />
Com relação as pontuações obtidas nas escalas aplicadas para a<br />
mãe de CSO, acerca de sua percepção sobre a filha, notou-se pouca alteração<br />
nos resultados entre as aplicações. No que tange à competência<br />
social, a mãe não percebeu muitas mudança da 1ª para a 2ª aplicação, mas<br />
houve melhora na 3ª aplicação. No que tange ao Distúrbio Total, não houve<br />
alteração significativa, uma vez que na primeira e terceira aplicações a<br />
pontuação ficou na faixa limítrofe, sendo verificada uma piora na segunda,<br />
quando a pontuação passou à área clínica. Este dado pode ser explicado<br />
em termos do Total de Internalizantes e Externalizantes. Com relação<br />
ao primeiro, as pontuações da primeira e segunda aplicação indicaram<br />
valores dentro da área clínica, sendo a segunda pontuação pior que a<br />
primeira, mas que evoluiu para a faixa limítrofe na última aplicação. Com<br />
relação ao segundo, não houve alteração já que na percepção da mãe<br />
sempre esteve no nível da normalidade.<br />
Com relação à análise qualitativa dos dados realizada por meio<br />
do cálculo do índice de correlação entre as categorias e o peso do cliente,<br />
feito no SPSS, utilizando o teste de Spearman bilateral com níveis de<br />
significância aceitos de 0.01 e 0.05, observou-se que durante o tratamento<br />
ocorreu um aumento das categorias desejáveis e uma diminuição<br />
das categorias indesejáveis. No entanto, houve grande oscilação de<br />
peso. A autora afirma que se tomarmos as 10 últimas sessões (31ª a 40ª<br />
106
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
sessão) é possível verificar uma tendência de queda de peso. A autora<br />
aplicou o teste de correlação para os dados sobre o total de categorias<br />
indesejáveis, o total de categorias desejáveis e o peso, identificando,<br />
desta forma, uma correlação positiva significativa entre peso e indesejáveis<br />
e uma correlação negativa significativa entre peso e desejáveis,<br />
bem como entre desejáveis e indesejáveis. Sendo assim, conforme<br />
aumentavam os desejáveis diminuíam os indesejáveis e o peso.<br />
O fato de a mãe não ter identificado as mudanças ocorridas no<br />
comportamento de CSO pode indicar uma dificuldade da mãe em aceitar<br />
as mudanças em direção a uma maior independência da filha, já que<br />
o seu comportamento superprotetor deixaria de ser reforçado.<br />
A autora, no entanto, relatou que apesar dos ganhos obtidos<br />
por CSO na área social, a mesma ainda mostra uma alta frequência do<br />
comportamento de superalimentação. A autora traçou algumas possíveis<br />
explicações para a manutenção desse comportamento: o duplo<br />
ganho secundário obtido com o mesmo, já que por um lado CSO recebia<br />
atenção e cuidados especiais da mãe e por outro quando o comportamento<br />
se manifestava durante as brigas conjugais de seus pais, os mesmos<br />
interrompiam as discussões. A autora analisou a relação das contingências<br />
presentes no ambiente familiar e os resultados da intervenção<br />
psicoterápica:<br />
Para CSO, o ambiente familiar se caracteriza como reforçador<br />
de comportamentos de dependência e ao mesmo tempo<br />
aversivo devido às várias discussões com irmãos, com o<br />
pai e com a mãe, sendo que com está última, era devido ao<br />
controle excessivo. Este tipo de situação familiar desfavorável,<br />
dificulta a ação de qualquer tipo de tratamento psicológico,<br />
então, para casos onde não é possível modificar<br />
o ambiente hostil ou as normas impostas, devem ser desenvolvido<br />
no cliente comportamentos que possibilitem<br />
contra-controle (BARBOSA, 2001, p.82).<br />
A autora traçou algumas explicações para os resultados apresentados<br />
por CSO. Na primeira explicação ter CSO atravessado diferentes<br />
fases durante a terapia. Por exemplo, o período em que ela começou a<br />
aumentar de peso coincide com o diagnóstico de diabetes na irmã mais<br />
velha, levando a mesma a experimentar sentimento de medo de adquirir<br />
a doença e levando à redução da atenção da mãe. A autora indicou<br />
a 20ª sessão como marco da passagem dessa fase para outra, na qual<br />
107
Universidade da Amazônia<br />
a cliente conseguiu analisar melhor seu próprio comportamento, permitindo<br />
uma observação maior e mais precisa de suas habilidades e<br />
suas dificuldades, quando a relação terapêutica já esta bastante desenvolvida<br />
e prazerosa para a cliente. Na segunda explicação, afirmou que<br />
nas últimas sessões (31ª a 40ª sessão), a cliente passou a vivenciar com<br />
mais frequência situações reforçadoras em sua vida, o que pode ter<br />
contribuído para que, mesmo com a reaparição das brigas entre os pais,<br />
ela mantivesse os ganhos obtidos na psicoterapia.<br />
Com relação a RM, a autora destacou que o cliente no início do<br />
tratamento atribuia o seu quadro de Obesidade a dois motivos: comer<br />
em exagero e não se exercitar. RM afirmou ainda que comia em excesso<br />
à noite e em fase de provas escolares. O cliente afirmou também ter<br />
muitos colegas, mas não sair com eles, além de ter se dito tímido na<br />
presença de estranhos e meninas.<br />
A análise funcional das primeiras sessões revelou que as classes<br />
de comportamentos centrais a serem modificadas seriam: Comer<br />
em excesso; Comportamento de esquiva e/ou isolamento nos relacionamentos<br />
sociais e familiares (timidez) e; Ansiedade generalizada<br />
em situações sociais (sudorese, perda da fala). Como hipóteses de<br />
instalação, a autora identificou: Falta de assertividade; Reforço social<br />
reduzido; Vizinhança com ambiente perigoso, o que dificultava interações<br />
com outros adolescentes; Ausência de modelos parentais adequados<br />
no que se refere ao modo de expressar sentimentos (pai ausente,<br />
mãe não demonstrou dificuldades nesta questão) e; Eventos<br />
aversivos vivenciados anteriormente em situações escolares cujo cliente<br />
foi ameaçado e repreendido. Como hipóteses de manutenção, a<br />
autora identificou: Incentivo familiar inadequado ou ausente que pudesse<br />
promover interações com pares; Cognições distorcidas da realidade<br />
(imaginava que tudo iria dar errado e não saberia enfrentar situações<br />
novas na família e na escola) e; Esquiva de situações sociais nas<br />
quais ficava muito tenso.<br />
A análise quantitativa do desempenho de RM nas escalas e inventários<br />
aplicados denotou pontuações no nível da normalidade para<br />
a maioria deles, desde o início. Com relação ao desempenho na escala<br />
de competência social, o cliente apresentou pontuações no nível da<br />
normalidade nas duas aplicações realizadas, no entanto, com índices<br />
muito próximos da faixa limítrofe. Com relação à apreciação do Distúrbio<br />
Total, o cliente apresentou pontuações situadas na faixa da normalidade,<br />
embora tenha apresentado um índice um pouco pior na segun-<br />
108
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
da aplicação. Este dado pode ser explicado em termos do Total de Internalizantes<br />
e Externalizantes. Sendo que as queixas de RM estavam relacionadas<br />
a problemas internalizantes – isolamento – a queda na pontuação<br />
indicou que houve uma melhora, embora desde o início as pontuações<br />
estivessem na linha de normalidade. Com relação ao segundo,<br />
não houve alteração, uma vez que desde o início apresentou pontuações<br />
situadas na área da normalidade.<br />
A análise quantitativa do desempenho de RM nas escalas de<br />
Ansiedade-Traço e Ansiedade-Estado relevou que o cliente apresentava<br />
inicialmente um índice elevado com relação ao segundo tipo de ansiedade,<br />
que foi sendo reduzido a níveis bem menores na segunda aplicação.<br />
Com relação ao primeiro tipo de ansiedade notou-se estabilidade<br />
em um nível aceitável. Com relação à Reatividade Pessoal foi observado<br />
que RM apresentou desde o início sentimentos como calor, compaixão<br />
e preocupação com os outros. Verificou-se também que ocorreu<br />
um aumento nas pontuações de mal estar pessoal, indicando que o<br />
sujeito ainda experimentava ansiedade e desconforto ao observar a<br />
experiência negativa dos outros e que RM passou a utilizar mais a perspectiva<br />
do outro em seus julgamentos. Por outro lado, persistiu a dificuldade<br />
de se imaginar em situações fictícias.<br />
Com relação à Assertividade, observou-se uma melhora nas pontuações,<br />
embora o cliente não tenha atingido a média. Com relação à<br />
timidez, RM teve uma melhora nas pontuações que atingiram a média<br />
na segunda aplicação. Com relação à sociabilidade, não houve alteração<br />
já que o cliente não apresentava dificuldades nessa área.<br />
Com relação as pontuações obtidas nas escalas aplicadas para a<br />
mãe de RM, acerca de sua percepção sobre o filho, notou-se uma alteração<br />
significativa nos resultados entre as aplicações. No que tange a competência<br />
social, a mãe apresentou nas duas aplicações pontuações circunscritas<br />
na faixa da normalidade, no entanto com uma melhora significativa<br />
na segunda aplicação. No que tange ao Distúrbio Total foi verificado<br />
uma variação significativa que indicou que ocorreu a redução da<br />
frequência de comportamentos considerados problemáticos para o tratamento,<br />
demonstrando mudanças significativas na percepção da mãe<br />
com relação aos Distúrbios Internalizantes e Externalizantes.<br />
Com relação à análise qualitativa dos dados, realizada por meio<br />
do cálculo do índice de correlação entre as categorias e o peso do cliente,<br />
feito no programa SPSS, utilizando o teste de Spearman bilateral<br />
com níveis de significância aceitos de 0.01 e 0.05, a autora verificou que<br />
109
Universidade da Amazônia<br />
houve uma correlação positiva entre a categoria inassertividade com a<br />
mãe e peso, sendo assim à “ ... Medida que o cliente foi aprendendo a<br />
eliminar esse comportamento, também foi perdendo peso” (BARBO-<br />
SA, 2001, p. 74). Por outro lado:<br />
[...] O peso se correlacionou negativamente com vários desejáveis,<br />
análise do próprio comportamento, aproximação<br />
de colegas, enfrentamento, espontaneidade, eventos agradáveis,<br />
expressão adequada de sentimentos, identificação<br />
dos próprios sentimentos, identificação de qualidades<br />
em si. Estes resultados mostram que as classes de<br />
comportamentos citados concorrem com o comportamento<br />
de ganhar peso para o cliente R.M. (BARBOSA, 2001, p. 74).<br />
Com relação às categorias indesejáveis, foi possível notar que<br />
desde o início elas se apresentavam em baixa frequência, mas que à<br />
medida que o peso diminuía e as categorias desejáveis aumentavam, as<br />
indesejáveis foram sendo suprimidas chegando mesmo a não se registrar<br />
sua presença no final do tratamento. Como este cliente passou para<br />
a fase de seguimento, verificaram-se as mesmas tendências na sessão<br />
de seguimento após dois meses. O comportamento de comer excessivamente<br />
era mantido por reforçamento negativo, funcionando como<br />
esquiva de situações sociais aversivas em que o RM não sabia como agir.<br />
Devido à rápida obtenção de mudanças eleitas como fundamentais para<br />
o tratamento, a autora concluiu que:<br />
Enfim, para este cliente 2 as transformações aconteceram<br />
muito rapidamente, confirmando assim a hipótese de que<br />
não havia grandes ganhos reais ligados ao comportamento<br />
de comer em excesso e à Obesidade, caracterizando-se mais<br />
como um déficit de habilidades que pode ser promovido<br />
mais rapidamente durante um processo terapêutico<br />
(BARBOSA, 2001, p. 85).<br />
A autora, na seção Considerações Finais, afirmou que para os dois<br />
clientes a qualidade da relação terapêutica foi uma variável decisiva na produção<br />
das mudanças eleitas como metas do tratamento. A autora indicou<br />
também que tais mudanças, obtidas na vida social e familiar dos clientes e na<br />
percepção dos familiares e amigos acerca dos clientes, podem contribuir<br />
para a manutenção dos comportamentos adquiridos e/ou fortalecidos.<br />
110
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A autora destacou que o ambiente familiar se mostrou um fator<br />
que influenciou o processo terapêutico (favoreceu RM, dificultou CSO)<br />
e que futuras pesquisas deveriam avaliar este aspecto.<br />
Com relação ao comportamento de comer em excesso, a autora<br />
destacou o fato de que o mesmo tinha função diferente para cada sujeito,<br />
demonstrando que há a necessidade de realizar a análise funcional<br />
de cada caso e individualizar cada tratamento.<br />
A autora discutiu também os efeitos da estratégia de trabalho<br />
adotada. Para ela, organizar uma intervenção em casos de Obesidade<br />
sem ter como foco o comportamento alimentar, mas sim outros comportamentos,<br />
que pela análise funcional estavam relacionados à Obesidade,<br />
produziu dados bastante interessantes. Por este caminho, foi<br />
possível observar no cliente RM esta relação, uma vez que foram observadas<br />
mudanças tanto em seu repertório de habilidades sociais quanto<br />
em seu peso (redução de peso). No entanto, apesar de um processo<br />
com grandes oscilações de peso e piora na maior parte das pontuações<br />
nas escalas e inventários, a partir da 31ª sessão observou-se uma tendência<br />
semelhante à apresentada por RM.<br />
A autora finalizou o trabalho discutindo a sua opção metodológica<br />
de não analisar as sessões por meio da transcrição na íntegra, mas sim,<br />
por meio da criação de categorias de comportamento, que foram usadas<br />
para a avaliação da ocorrência ou não dos comportamentos selecionados<br />
para a análise durante as sessões, sem preocupação com a freqüência de<br />
ocorrência dos mesmos. Segunda ela, esta pode ser uma forma útil para a<br />
realização de pesquisas clínicas, gerando dados que podem desencadear<br />
futuras pesquisa. Os dados e conclusões dessa pesquisa foram apresentados<br />
de forma mais sucinta em capítulo de livro publicado pela autora e<br />
sua orientadora de Mestrado, em 2004 (MEYER e BARBOSA, 2004).<br />
Rocha, Vanetta e Abdelnor (2001) realizaram uma pesquisa com<br />
o objetivo de avaliar a influência de regras e autoregras formuladas<br />
sobre Obesidade no estabelecimento de relacionamentos amorosos.<br />
Participaram da pesquisa seis adultos obesos, sendo três homens<br />
(M1, M2, M3) e três mulheres (F1, F2, F3), na faixa etária de 22 a 40<br />
anos, que já haviam sido magros e que não estavam no momento da<br />
pesquisa mantendo relacionamento amoroso fixo. As autoras utilizaram<br />
como técnica de coleta de dados, uma entrevista semiestruturada<br />
realizada por meio de um roteiro de perguntas acerca do padrão de<br />
beleza, o estabelecimento de relacionamentos amorosos antes e depois<br />
da instalação do quadro de Obesidade.<br />
111
Universidade da Amazônia<br />
Os resultados mostraram que nenhum dos sujeitos descreveu<br />
seu padrão físico como modelo de beleza. F3 e M2 relataram de forma<br />
consistente que o aumento de peso dificultou o estabelecimento de<br />
relacionamentos amorosos e justificaram este fato com frases como: “A<br />
aparência é fundamental na primeira olhada”, “Quando comecei a engordar<br />
as pessoas começaram a mudar comigo” e “A maior parte das<br />
mulheres preservam um homem escultural, como estou gordo é difícil<br />
alguém me cantar”. Os sujeitos em questão também relataram comportamentos<br />
que denunciam esquiva de situações sociais. F1, F2 e M1 apresentaram<br />
diversas contradições em seus relatos, a exemplo das duas<br />
frases ditas por F2: “Era bem mais fácil arrumar namorado para mim<br />
antes de eu ter aumentado de peso” e “Olha, eu acho que não! Se tu<br />
tiveres bem contigo mesmo, não tem problema algum”. M3 foi o único<br />
sujeito que não indicou problemas em estabelecer relacionamentos<br />
amorosos após o aumento de peso, um exemplo disso são as seguintes<br />
verbalizações: “Nem hoje e nem ontem, este aumento de peso não<br />
influenciou a minha vida, estou bem assim”.<br />
As autoras destacaram na análise dos resultados que não foi possível<br />
para a maioria dos sujeitos afirmar que regras e autoregras acerca da<br />
Obesidade podem influenciar na emissão de comportamentos necessários<br />
ao estabelecimento de relacionamentos amorosos. Por outro lado,<br />
elas apontaram que as contradições nas falas de três sujeitos e a afirmação<br />
de outros dois sobre dificuldades experimentadas no estabelecimento<br />
de relacionamentos amorosos podem indicar um caminho de pesquisa.<br />
Um ano mais tarde, as autoras expuseram este trabalho em forma de<br />
painel, desta vez com o acréscimo do nome da orientadora como última<br />
autora (ROCHA, VANETTA, ABDELNOR e SILVA, 2002).<br />
Bezerra (2001) realizou uma pesquisa experimental que teve<br />
como objetivo investigar os efeitos do automonitoramento de peso<br />
corporal e do registro diário de alimentos em indivíduos com sobrepeso<br />
ou Obesidade, visando avaliar a utilização dessas duas técnicas em<br />
processo de controle de peso, bem como identificar possíveis variáveis<br />
causadoras da Obesidade. Participaram do estudo quatro adultos, de<br />
ambos os sexos, portadores de Obesidade ou sobrepeso, segundo Tabela<br />
de classificação do Índice de Massa Corpórea (IMC). Os participantes<br />
foram submetidos à avaliação nutricional (análise de inquéritos alimentares,<br />
coleta de indicadores antropométricos e bioquímicos) no<br />
início e no final do procedimento. O procedimento experimental em si<br />
constou de oito etapas, sendo que a metade delas, funcionou como<br />
112
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
linha de base. Os dados revelaram que os participantes subestimavam<br />
o seu consumo alimentar e que o registro diário de alimentos produziu<br />
modificações na percepção do seu padrão alimentar e contribuiu para a<br />
redução de peso. Desta forma, a autora concluiu que esta técnica foi<br />
eficaz no tratamento da Obesidade e sobrepeso e que, além de alterar<br />
a percepção dos sujeitos, pôde ser usada para a individualização da<br />
orientação dietética.<br />
Albuquerque e Gomes (2002) realizaram uma pesquisa com crianças<br />
obesas e suas respectivas mães, visando a identificar dificuldades<br />
no seguimento das regras nutricionais de uma dieta alimentar. Participaram<br />
do estudo quatro crianças de sete a onze anos, sendo três do sexo<br />
feminino e um do sexo masculino, que realizavam tratamento para emagrecer<br />
e suas respectivas mães, incluídas por serem as familiares responsáveis<br />
pela execução da dieta. A coleta de dados foi realizada por meio de<br />
entrevistas semiestruturadas, efetuadas separadamente e ao mesmo<br />
tempo com cada dia de mãe-criança. O roteiro de questões solicitava<br />
informações sobre: a estrutura familiar e número de pessoas residentes<br />
na casa (mãe); motivos para a busca do tratamento (mãe); preferência<br />
alimentar e acesso a estes alimentos (criança); descrição dos hábitos alimentares<br />
(mãe e criança); descrição dos hábitos alimentares na escola<br />
antes e depois da dieta (criança); opinião da criança sobre deixar de comer<br />
seus alimentos preferidos e sobre a dieta (criança) e; dificuldades<br />
para o seguindo das regras nutricionais (mãe e criança).<br />
Os resultados mostraram que as crianças moravam com as famílias<br />
em casas que têm de quatro a oito pessoas. As mães levaram seus filhos para<br />
o tratamento devido às consequências sociais da Obesidade (C1 e C4) e por<br />
preocupações com relação aos reflexos da mesma na saúde (C2 e C3), sendo<br />
que C3, foi encaminhado por um pediatra. Com relação à preferência alimentar<br />
e acesso a estes alimentos, C1, C2 e C4 elegeram alimentos hipercalóricos<br />
como preferidos e indicaram não ter acesso a eles (C1 e C4) ou mesmo ter<br />
acesso restrito (uma vez por semana, C2). C3 foi o único que elegeu um<br />
alimento hipocalórico (salada), informando, no entanto, que não tem acesso<br />
a ele. Neste item, as mães sempre são apontadas como reguladoras no acesso<br />
ao alimento. Com relação aos hábitos alimentares, tanto as crianças quanto<br />
as mães relataram consumir alimentos que compõem a dieta. Entretanto,<br />
duas mães indicaram que alimentos hipercalóricos ainda encontram-se disponíveis<br />
no ambiente (M1 e M4). M4 e C1 relataram que outros membros da<br />
família disponibilizam estes alimentos para a criança. Percebeu-se que as<br />
mães desenvolveram estratégias diferentes para que seus filhos seguissem<br />
113
Universidade da Amazônia<br />
a dieta: mudar toda a alimentação da família (M3); fazer a alimentação da<br />
criança separadamente (C1) e comer comidas hipercalóricas escondido da<br />
criança (C1 e C3). Observou-se uma contradição nas respostas da díade M2-<br />
C2. A mãe disse ter se alimentado de forma saudável sempre e a criança<br />
afirma que isso passou a ocorrer apenas após o início da dieta.<br />
Com relação aos hábitos alimentares na escola, observou-se que<br />
apenas uma criança levou constantemente seu lanche de casa (C1), as outras<br />
com frequência compravam na própria escola. A maioria das crianças<br />
relatou não gostar do cardápio da dieta, atribuindo a necessidade de seguilo<br />
a diferentes razões: a mãe dizer-lhe que é bom para ele (C1); para emagrecer<br />
(C2 e C4); apenas C3 afirmou não ter pensando sobre o assunto.<br />
Por fim, com relação às dificuldades alegadas para o seguimento<br />
da dieta, verificou-se diferenças entre os relatos de mães e crianças.<br />
Na díade M1-C1, a mãe afirmou que o filho reclamava muito e o filho<br />
disse ter dificuldade somente quando o irmão comia alimentos hipercalóricos<br />
na sua frente. Nas díades M2-C2 e M3-C3, as crianças não relataram<br />
nenhuma dificuldade, enquanto as mães indicaram, respectivamente,<br />
impedir a criança de comer doces e o apelo da tv em propagandas<br />
de comidas hipercalóricas. Na díade M4-C4, a mãe indicou que a<br />
dificuldade foi a retirada dos alimentos preferidos da criança (pizza,<br />
sanduíches) e o estabelecimento de horário para se alimentar, dificuldades<br />
igualmente elencadas pela criança.<br />
Na interpretação dos resultados, as autoras afirmaram que a<br />
maioria das dificuldades alegadas têm sua causa na histórica instalação<br />
do comportamento alimentar e na ausência do planejamento de contingências<br />
que reforcem imediatamente o seguimento das regras nutricionais.<br />
Com relação a segunda causa, as autoras indicaram que a<br />
única responsável pelo supervisão da dieta era a mãe e que em alguns<br />
casos, outros familiares fornecem alimentos inapropriados à criança, o<br />
que não viabiliza a exposição da criança a contingências que reforçassem<br />
imediatamente o seguimento de regra. Somado a isso, a maioria<br />
das crianças não foi capaz de indicar os benefícios futuros do seguimento<br />
das regras (reforço em longo prazo), o que dificultou sobremaneira o<br />
seguimento das mesmas.<br />
Ferreira e Casseb (2002) realizaram um estudo de caso com uma<br />
paciente portadora de diabetes tipo 2 e Obesidade moderada, com o<br />
objetivo de investigar os efeitos do uso do registro de automonitoração<br />
no seguimento de regras nutricionais. A paciente era do sexo feminino,<br />
tinha 65 anos, ensino fundamental incompleto, com diagnóstico de di-<br />
114
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
abetes há dez anos, com Obesidade classe I, além de outras complicações<br />
de saúde que a faziam consumir alguns medicamentos continuamente.<br />
As autoras utilizaram cinco instrumentos, a saber:<br />
1. Roteiro de entrevista, com o objetivo de colher informações sobre<br />
características sociodemográficas, histórico de Obesidade e conhecimentos<br />
sobre diabetes;<br />
2. Registro de automonitoração semanal da alimentação, com o objetivo<br />
de compor uma linha de base do desempenho da participante,<br />
composto de seis colunas, uma para cada dia da semana, e espaços<br />
para o registro de alimentos ingeridos a cada refeição;<br />
3. Registro diário da alimentação, com o objetivo de treinar a participante<br />
no procedimento de automonitoração, com colunas correspondentes<br />
a horário da refeição, tipo de alimento e quantidade ingerida.<br />
Neste instrumento havia espaço para a anotação de alimentos<br />
ingeridos entre as principais refeições;<br />
4. Registro de planejamento diário da alimentação, composto de colunas<br />
para o registro do planejamento prévio das refeições do dia seguinte,<br />
para o registro das refeições realizadas (horário, quantidade<br />
e qualidade do alimento) e para a avaliação de correspondência entre<br />
planejamento e execução, bem como para a descrição do contexto<br />
em que se deram as refeições e;<br />
5. Registro simples de manutenção das regras nutricionais, com colunas<br />
correspondentes às refeições de cada dia, nas quais a participante<br />
deveria marcar um X no espaço referente às refeições realizadas,<br />
compatíveis com as orientações do serviço de nutrição.<br />
O procedimento utilizado no estudo foi dividido em seis fases.<br />
A seleção da participante foi realizada na primeira fase do procedimento<br />
e envolveu a análise do prontuário, a aplicação do roteiro de entrevista<br />
e a obtenção do consentimento.<br />
Na segunda fase do procedimento foi estabelecida a linha de<br />
base de comportamentos de seguimento de regras nutricionais pela<br />
participante, por meio do registro de automonitoração semanal da alimentação<br />
e da requisição para a participante da descrição verbal das<br />
regras nutricionais. Além disso, nesta fase foi realizado o treino do preenchimento<br />
do registro diário da alimentação e de sua análise posterior.<br />
Na terceira fase foi realizado o treino de registro de comporta-<br />
115
Universidade da Amazônia<br />
mento de seguimento de regras nutricionais, por meio da análise do<br />
preenchimento do registro diário da alimentação com a comparação do<br />
registro com as regras nutricionais. Além disso, foi realizado o planejamento<br />
das refeições com a participante e fornecidas instruções sobre o<br />
preenchimento do registro do planejamento diário da alimentação.<br />
A quarta fase, denominada de Treino no registro de automonitoração<br />
com planejamento, constou da realização do planejamento das<br />
refeições diárias, da comparação dos registros com as regras nutricionais,<br />
da análise da execução do planejamento (comparação planejado X<br />
executado), da análise do contexto em que ocorreram as refeições e,<br />
por fim, da análise do registro diário da alimentação referente ao dia<br />
anterior. Além disso, forneceram-se as instruções para o preenchimento<br />
do registro simples de manutenção das regras nutricionais. As autoras<br />
informaram que nesta fase:<br />
Durante as entrevistas, os comportamentos de adesão às<br />
regras nutricionais eram reforçados positivamente e analisados<br />
com a paciente, com o objetivo de fazê-la identificar<br />
as variáveis que estavam controlando seu comportamento<br />
alimentar, a fim de orientar o planejamento posterior<br />
(FERREIRA e CASSEB, 2002, p. 456).<br />
Na quinta fase, realizou-se a análise funcional do comportamento<br />
alimentar com a participante, por meio do registro simples de manutenção<br />
das regras nutricionais, o que ocorreu até a obtenção de 50% das<br />
refeições diárias compatíveis com as regras nutricionais (critério mínimo).<br />
Além disso, solicitou-se o preenchimento do registro diário da alimentação<br />
referente ao dia anterior à visita, que seria tomado com medida<br />
de manutenção da adesão às regras. Por fim, a sexta fase correspondeu<br />
à entrevista final em que foi realizada a análise funcional com a paciente<br />
sobre os resultados positivos gerados pela manutenção dos comportamentos<br />
de adesão às regras nutricionais, bem como a generalização<br />
para outros comportamentos de adesão ao tratamento mais global.<br />
Os resultados mostraram incompatibilidade entre as descrições<br />
das regras nutricionais feitas pela participante e as descrições feitas<br />
pelo Serviço de Nutrição, o que gerou a caracterização do comportamento<br />
alimentar da paciente como o de não adesão à dieta.<br />
As autoras categorizaram o comportamento alimentar da participante<br />
em três tipos: refeições executadas com adesão (EA); refeições<br />
executadas sem adesão (EN) e; refeições não executadas (NE). Os resul-<br />
116
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
tados apresentados na segunda fase, referentes à linha de base, indicaram<br />
um baixo nível de adesão às regras nutricionais (33,4 % de EA; 40% de<br />
EN; 26,6% NE). A análise dos registros revelou que as refeições de maior<br />
adesão foram o jantar e o lanche, por outro lado, as de menor adesão<br />
foram o desjejum e o almoço. Estes resultados se repetiram na fase seguinte,<br />
diferindo desta apenas pela discreta redução no número de NE.<br />
Para a análise dos resultados apresentados na quarta fase, as<br />
autoras criaram novas categorias que incluíram o componente Planejamento,<br />
a saber: refeições planejadas e executadas com adesão (PA.EA);<br />
refeições planejadas em discordância com a regra, mas executadas com<br />
adesão (PD.EA); refeições não planejadas mas executadas com adesão<br />
(NP.EA); refeições planejadas com adesão, mas executadas sem adesão<br />
(PA.EN); refeições planejadas e executadas sem adesão (PD.EN); refeições<br />
não planejadas, mas executadas sem adesão (NP.EN) e; refeições<br />
planejadas, mas não executadas (PA.NE).<br />
Os resultados da quarta fase foram compostos a partir da análise<br />
de 17 Registros de Planejamento Diário da Alimentação, totalizando<br />
102 refeições. Nesta fase, a participante realizou 59% das refeições com<br />
adesão, 28% sem adesão e 13% das refeições não foram realizadas, indicando<br />
um aumento da adesão às regras nutricionais a partir da utilização<br />
do uso de registros de automonitoração com planejamento das refeições.<br />
A refeição de maior adesão às regras foi o jantar, a de menor<br />
adesão, foi o desjejum, e a de maior omissão a ceia.<br />
Os resultados da quinta fase foram analisados levando em consideração<br />
duas categorias: refeições executadas com adesão (EA) e refeições<br />
não executadas (NE). As autoras verificaram, em comparação<br />
com as fases anteriores, maior adesão no jantar, almoço e lanche 2 e<br />
uma melhora na adesão do desjejum. No entanto, não foi verificada<br />
mudança significativa no fracionamento das refeições já que a ceia e o<br />
lanche 1 ainda apresentavam baixa freqüência.<br />
Outros efeitos foram observados, dentre eles, a estabilização<br />
do peso corporal, embora a perda de peso tenha sido discreta, fato este<br />
que pode ter sofrido a influência da medicação a base de corticóide<br />
ingerida pela paciente no período, que dificultou a perda de peso. Além<br />
disso, observou-se a estabilização da taxa de normoglicemia que, apesar<br />
de desde o início da pesquisa já ser considerada normal, gerou a<br />
suspensão do remédio (hipoglicemiante oral) e a introdução de atividade<br />
física leve. Com relação aos efeitos comportamentais da suspensão<br />
do medicamento, as autoras pontuaram que:<br />
117
Universidade da Amazônia<br />
Pode-se observar também que há dificuldade dela em aceitar<br />
a retirada do hipoglicemiante oral. Isto, provavelmente,<br />
deve-se ao reforçamento obtido com o uso da medicação<br />
pelos efeitos imediatos que ela oferece – isto é, controle<br />
da glicemia sem a mudança imediata de hábitos (FER-<br />
REIRA e CASSEB, 2002, p. 457).<br />
A análise dos relatos verbais da participante permitiu verificar<br />
que a partir da quarta fase a paciente passou a apresentar comportamento<br />
de adesão às regras nutricionais, não observados nas fases anteriores,<br />
uma vez que esta fase introduziu a automonitoração com planejamento<br />
alimentar prévio. Estes resultados foram observados também<br />
na fase de manutenção.<br />
As autoras iniciaram a seção Discussão afirmando que a melhora no<br />
nível de adesão às regras nutricionais ocorrida após o uso de registro de<br />
automonitoração do comportamento alimentar, confirmou as evidências<br />
já disponíveis na literatura. Outrossim, as autoras ressaltaram que esta técnica<br />
utilizada, a partir dos princípios da Análise do Comportamento Aplicado,<br />
permitiu o fornecimento de um treino adequado às características e à<br />
realidade da participante, o que confirmou a necessidade de avaliar as<br />
idiossincrasias de cada paciente para o estabelecimento do tratamento.<br />
Para as autoras, o reconhecimento das contingências das quais<br />
o seu comportamento alimentar é função, por meio da análise funcional<br />
oportunizada pela automonitoração, foi decisivo para o planejamento<br />
das refeições e consequente modificação nos hábitos alimentares<br />
da participante.<br />
As autoras indicaram que o planejamento das refeições associado<br />
à automonitoração foi fundamental no processo de instalação com<br />
seguimento de regras nutricionais, uma vez que se verificou que a participante<br />
apresentava no início do tratamento um déficit no comportamento<br />
de planejar a alimentação. No caso em análise, observou-se também<br />
que a variável situação financeira afetou fortemente o comportamento<br />
alimentar. Sobre esta questão, as autoras afirmaram que:<br />
Fatores econômicos, como baixa renda familiar, má<br />
administração do dinheiro, déficit na análise de custo na<br />
escolha dos alimentos a serem comprados, favorecem o<br />
consumo de alimentos inadequados, levando à baixa<br />
adesão à dieta (FERREIRA e CASSEB, 2002, p. 459).<br />
118
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
As autoras indicaram também que a introdução de registro de<br />
automonitoração deve ser feita gradualmente e iniciar com protocolos<br />
mais simples para que os pacientes não experimentem muitas dificuldades<br />
neste período inicial de modelagem do comportamento. Posteriormente<br />
seria possível introduzir registros mais detalhados e, portanto,<br />
de preenchimento mais complexo, que inclusive permitiriam que o<br />
próprio cliente analisasse as contingências das quais o seu comportamento<br />
alimentar é função, favorecendo a instalação e/ou fortalecimento<br />
de comportamentos de autocontrole. As autoras ainda sugeriram<br />
a introdução posterior de registros que permitam a discriminação<br />
dos ganhos na manutenção dos novos hábitos alimentares.<br />
Por fim, as autoras ressaltaram a importância da realização de atendimento<br />
psicoterápico durante a exposição ao procedimento, bem como a<br />
viabilização de apoio da rede social e de uma equipe multiprofissional, com<br />
vista a viabilizar a instalação e a manutenção da adesão às regras nutricionais.<br />
Gonçalves e Oliveira (2003) realizaram uma pesquisa com terapeutas<br />
analítico-comportamentais atuantes em Belém do Pará com o<br />
objetivo de sintetizar os casos de Obesidade em adultos atendidos por<br />
eles. Participaram da pesquisa quatro terapeutas com tempo de atuação<br />
clínica variando de quatro a oito anos, com número de atendimentos<br />
variando de três a trinta clientes obesos adultos.<br />
Os dados foram coletados por meio de um questionário composto<br />
de dois grupos de perguntas, a saber: dados do psicólogo (tempo<br />
de formação, tempo de atuação, estudos pós-graduados) e dados sobre<br />
os casos (quantidade de casos, dados sociodemográficos dos clientes,<br />
comorbidades, interferências da Obesidade na vida social, iniciativa<br />
para o tratamento, queixa inicial, atribuição de causalidade, histórico<br />
do comportamento alimentar, contingências do comportamento de comer<br />
em excesso, estratégias de intervenção, ocorrência de atendimento<br />
multiprofissional e dados gerais do atendimento como tempo total<br />
de atendimento, motivo do término). O questionário, que perfazia um<br />
total de 23 perguntas, foi enviado por fax ou e-mail para os psicólogos.<br />
As autoras verificaram que a maioria dos clientes atendidos<br />
pelos quatro psicólogos era do sexo feminino e estava casada. As idades<br />
dos mesmos variavam de 17, 25 anos e 42, 45 anos. O nível de instrução<br />
dos clientes variou em três dos quatro psicólogos, de Ensino Médio<br />
incompleto até superior completo. Apenas um psicólogo atendeu clientes<br />
que adquiriram a Obesidade já na idade adulta, enquanto os outros<br />
psicólogos trabalharam com clientes que a adquiriram na infância e<br />
119
Universidade da Amazônia<br />
adolescência. Três dos quatro psicólogos atenderam clientes que apresentavam<br />
alterações orgânicas que variavam de hipertensão a problemas<br />
endocrinológicos (diabetes, hipotiroidismo). Por fim, com exceção<br />
de um psicólogo, em que todos os clientes já haviam se submetido<br />
antes a tratamento psicológico, a maioria dos psicólogos atendeu clientes<br />
que nunca tinham se submetido a atendimento psicológico.<br />
O tratamento psicológico foi iniciado por indicação médica, ou<br />
mesmo por pressão familiar, em raros casos partiu dos próprios clientes.<br />
As queixas iniciais apresentadas foram ansiedade, depressão e dificuldade<br />
de estabelecer controle sobre a ingesta alimentar. Na atribuição<br />
da causalidade da Obesidade apareceu novamente a ansiedade,<br />
bem como a falta de força de vontade e dificuldades de lidar com seus<br />
próprios problemas. Todos os psicólogos relataram que a Obesidade<br />
interferiu na vida social dos clientes produzindo esquiva de situações<br />
sociais e afetivas, o que segundo os mesmos foi reforçado pelas características<br />
físicas dos locais que não estão adaptados a pessoas obesas.<br />
A análise das contingências das quais o comportamento de comer<br />
excessivamente é função permitir traçar as seguintes hipóteses de<br />
instalação do comportamento: hábitos alimentares familiares e; exposição<br />
a ambientes carentes de reforços alternativos à comida e muito<br />
estressantes. Da mesma forma foi possível identificar os eventos que<br />
contribuíram e contribuem para a manutenção do comportamento: a<br />
comida funciona como reforçador negativo, eliminando ou atenuando<br />
os efeitos orgânicos causados pelo contato com um estímulo aversivo<br />
e/ou funciona como reforçador positivo único em situações em que o<br />
obeso não dispõe de outras fontes de reforço.<br />
Com relação às estratégias de intervenção utilizadas verificouse<br />
que o auto-registro do comportamento alimentar foi o mais utilizando,<br />
visando a dispor contingências para que os clientes discriminem as<br />
contingências das quais o seu comportamento de comer é função. Um<br />
dos psicólogos ainda afirmou que arranjava contingências para a ampliação<br />
do repertório comportamental dos clientes, visando a ensiná-los a<br />
buscar outras fontes de reforço positivo. Dentre as dificuldades relatadas<br />
pelos clientes para seguir o tratamento estão problemas no seguimento<br />
de regras nutricionais, devido à sua história prévia, as sensações<br />
físicas experimentadas, ao sedentarismo e a déficits de autocontrole.<br />
Todos os clientes analisados realizavam atendimento concomitante<br />
com outros profissionais de saúde (médicos, nutricionistas). Dois<br />
dos quatro psicólogos informaram que este atendimento multiprofissi-<br />
120
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
onal era obrigatório, pois seus clientes já tinham se submetido ou iriam<br />
se submeter à cirurgia bariátrica.<br />
Por fim, as autoras verificaram que os clientes atendidos pelos<br />
quatro psicólogos abandonaram o tratamento, não receberam alta. Na<br />
maioria dos casos o abandono ocorreu assim que o cliente experimentou<br />
as primeiras melhoras (perda de peso e alívio da ansiedade). Como<br />
o comportamento de comer em excesso não é a única demanda de<br />
atendimento trazida, em geral, eles retornaram para o tratamento após<br />
um longo período de tempo.<br />
Pereira, Daleffe e Amaral (2004) apresentaram um trabalho em<br />
uma mesa redonda durante o XIII Encontro Anual da ABPMC e II Congresso<br />
Internacional da ABA, em Campinas, que discutiu as propostas<br />
de avaliação psicológica de candidatos à cirurgia bariátrica, uma vez que<br />
a aprovação desse procedimento cirúrgico depende de parecer psicológico<br />
favorável. Os autores delineiam o que seriam as linhas básicas para<br />
a elaboração de um protocolo de avaliação:<br />
O psicólogo deve discriminar, diante das contingências<br />
inerentes à cirurgia, comportamentos que precisam fazer<br />
parte do repertório do paciente para sua adaptação à nova<br />
rotina e também definir critérios de exclusão, para prevenir<br />
insucessos e evitar riscos. O laudo psicológico, com parecer<br />
para a cirurgia, deverá conter informações da linha de base<br />
dos comportamentos considerados relevantes para o<br />
sucesso do procedimento cirúrgico (PEREIRA, DALEFFE e<br />
AMARAL, 2004).<br />
Os autores concluíram afirmando que este protocolo deve ser elaborado<br />
de forma a permitir ainda a identificação de comportamentos desfavoráveis<br />
e de possíveis transtornos psicológicos impeditivos à cirurgia.<br />
Fernandes, Immer, Ferreira e Malcher (2004) realizaram uma pesquisa<br />
com pacientes portadores de diabetes Tipo 2 com Obesidade moderada,<br />
com o objetivo de investigar os efeitos de registro de automonitoração<br />
e relato verbal no seguimento de regras nutricionais. Os sujeitos<br />
foram três pacientes atendidos por um programa multiprofissional de<br />
um hospital universitário de Belém-Pa, sendo dois homens (A com 50<br />
anos e C com 54) e uma mulher (B com 39), com respectivamente um ano,<br />
cinco anos e um ano de tempo de diagnóstico. Todos os pacientes eram<br />
alfabetizados e de classe socioeconômica distintas, mas apresentavam<br />
dificuldades na adesão às prescrições nutricionais em pelo menos 50%<br />
121
Universidade da Amazônia<br />
das refeições. A coleta de dados foi dividida em cinco etapas, a saber: 1.<br />
Linha de base de comportamentos de seguir a regras nutricionais; 2. treino<br />
em auto-observação do comportamento alimentar, realizado em dias<br />
alternados, em duas condições: Condição 1 = uso de registro de automonitoração<br />
e Condição 2 = uso de relato verbal, ambas referentes a alimentação<br />
do dia anterior, o critério de mudança da condição 1 para a condição<br />
2, foi obter no mínimo de 50% do índice de adesão à dieta alimentar em<br />
três sessões consecutivas; 3. avaliação dos custos e benefícios de cada<br />
condição, feita por meio de entrevistas com os pacientes; 4. treino no<br />
planejamento da dieta e; 5. entrevista de encerramento.<br />
A análise dos dados mostrou a existência de variabilidade intersujeitos<br />
no que tange ao número de sessões/entrevistas, necessário<br />
para a mudança de Condição. No entanto, em todos os casos foi possível<br />
verificar melhora nos repertórios de auto-observação em relação à qualidade,<br />
quantidade e fracionamento da dieta, bem como verificar que o<br />
uso de registros de automonitoração (Condição 1) contribuiu para a<br />
melhora no relato verbal (Condição 2), epara a ampliação do repertório<br />
de autoobservação e para a obtenção de melhores índices de adesão à<br />
dieta. As autoras ressaltaram, contudo, a necessidade de discutir algumas<br />
dificuldades verificadas na execução do procedimento como: “... A<br />
imprecisão das informações contidas nos protocolos nutricionais e a<br />
interferência de problemas de saúde associados ao diabetes na melhora<br />
da adesão ao tratamento” (FERNANDES, IMMER, FERREIRA e MAL-<br />
CHER, 2004). Esta pesquisa foi apresentada ainda com os dados parciais<br />
na VII Semana Científica do Laboratório de Psicologia da UFPa, no mesmo<br />
ano (FERNANDES, IMMER e FERREIRA, 2004).<br />
Laloni (2004) realizou uma pesquisa apresentando a análise de<br />
alguns transtornos alimentares, a saber: a Bulimia, a Anorexia, o Transtorno<br />
da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) e a Obesidade. Para os<br />
fins da presente pesquisa analisou-se apenas o item concernente à<br />
Obesidade. Neste item específico do texto, a autora estabeleceu como<br />
objetivo a demonstração da análise de contingências do comportamento<br />
de comer em pacientes obesos, com vistas à sugestão de intervenções<br />
e promoção de orientação a grupos interdisciplinares.<br />
Após esclarecimentos iniciais sobre a definição, critérios de aferição,<br />
prevalência e interação com outros transtornos (como o TCAP), a<br />
autora passou a apresentar a análise funcional do comportamento alimentar<br />
de dois grupos de obesos que buscaram ajuda psicológica. Neste<br />
sentido, a autora esclareceu que:<br />
122
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A funcionalidade do comportamento foi analisada, tanto a<br />
partir das condições que propiciam a sua ocorrência, quanto<br />
às condições da sua manutenção. O estudo dessa relação<br />
funcional entre estímulos antecedentes, comportamento<br />
e estímulos conseqüentes, foi efetuado em cada caso<br />
individualmente, buscando-se a compreensão para cada<br />
indivíduo da funcionalidade de seu próprio comportamento<br />
de comer excessivamente.<br />
A hipótese adotada foi que os comportamentos de comer<br />
em excesso podiam estar tanto sob controle de contingências<br />
positivas quanto de contingências negativas (LALONI,<br />
2004, p. 172).<br />
O primeiro grupo, chamado grupo do emagrecimento por dieta,<br />
foi formado por dez mulheres obesas encaminhadas pelo Ambulatório<br />
de Endocrinologia para participar de um programa de controle alimentar<br />
em grupo. Nenhuma delas tinha indicação para a realização de cirurgia<br />
bariátrica, mas deveriam mudar o hábito alimentar para reduzir o<br />
peso corporal. O objetivo desse grupo foi observar e descrever as contingências<br />
mantenedoras do comportamento de comer em excesso,<br />
visando intervir terapeuticamente com os pacientes e orientar médicos<br />
e nutricionista que os atendiam.<br />
O segundo grupo, chamado grupo do emagrecimento por ato cirúrgico,<br />
formado por 13 pacientes obesos mórbidos, sendo cinco homens<br />
e oito mulheres, que procuraram o atendimento psicológico por<br />
necessitarem de um parecer psicológico; parte dos procedimentos para<br />
a aprovação da cirurgia bariátrica. Os objetivos específicos deste grupo<br />
foram a elaboração de um laudo psicológico, de orientações à equipe<br />
multiprofissional que realizaria a cirurgia e o estabelecimento de programa<br />
de acompanhamento pós-cirúrgico. Apesar dos objetivos específicos<br />
de cada grupo, todos deveriam ter o seu comportamento de comer<br />
em excesso modificado.<br />
A análise dos dados revelou que a instalação do comportamento<br />
de comer em excesso se deu ao longo da história de vida dos sujeitos e<br />
que as contingências atuais fornecem reforços positivos e/ou negativos<br />
para este comportamento, mantendo-o. No trecho abaixo, a autora<br />
apresentou a classificação do comportamento de comer em três diferentes<br />
tipos de classe de respostas:<br />
123
Universidade da Amazônia<br />
a) o comportamento de comer caracterizado por dieta rica<br />
em gordura e carboidratos e poucos exercícios físicos no<br />
repertório comportamental, b) o comportamento de comer<br />
é compulsivo, ocorre ingestão periódica e recorrente em<br />
grandes quantidades de alimentos, c) o comportamento<br />
de comer ocorre de forma desordenada, associado a estados<br />
de tensão e ansiedade, e o repertório de exercícios físicos<br />
pode ou não estar presente.<br />
[...] o comportamento de comer excessivamente é mantido<br />
por reforçamento negativo, em pessoas com baixa<br />
resistência à frustração, e por reforçamento positivo, em<br />
pessoas com hábitos alimentares associados a sucesso<br />
social e qualidade de alimentos, os pacientes têm<br />
reforçamento imediato, não havendo diferenças nos dois<br />
grupos (LALONI, 2004, p. 173).<br />
A autora classificou algumas “contingências antecedentes” observadas<br />
e as dividiu em Antecedentes históricos recentes e Antecedentes<br />
aversivos. Dentro do conjunto de Antecedentes históricos recentes<br />
está um histórico de não seguimento de regras (em especial médicas),<br />
a exposição constante a alimentos (fartura em reuniões sociais) e uma<br />
alimentação ricamente preparadas por outros. Dentro do conjunto de<br />
Antecedentes aversivos estão ter de pagar contas e não ter dinheiro<br />
suficiente, ter sido punido ao emitir opinião, e assistir a brigas familiares,<br />
doença e morte na família.<br />
Além disso, a autora classificou também algumas “contingências<br />
consequentes” observadas e as dividiu em Consequências positivas e<br />
Consequências negativas. Dentro do conjunto de Consequências positivas,<br />
estão a ingestão de alimentos mais baratos (farináceos e doces),<br />
ingestão de guloseimas, bolachas, chocolates, refrigerantes e balas e o<br />
experimentar pratos variados durante o ensino de preparo de alimentos<br />
a outros. Dentro do conjunto de Consequências negativas estão evitar<br />
pensar que tem de pagar contas, evitar subir na balança e olhar para<br />
o espelho, evitar situações de exposição, evitar falar de doenças e morte<br />
e evitar exames médicos.<br />
A autora verificou também que, em ambos os grupos, os pacientes em<br />
geral se comportavam em função de reforçamento positivo imediato e tinham<br />
uma baixa frequência de seguimento de regras. Em vista desse quadro,<br />
a autora configurou linhas de intervenção específicas para cada grupo:<br />
no grupo de emagrecimento por dieta foram selecionados para a composição<br />
do tratamento os comportamentos de manejo de ansiedade como treino de<br />
124
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
enfrentamento de situações aversivas, ampliação do repertório de comportamentos<br />
de seguir instruções e a modelagem de comportamentos de discriminar<br />
as qualidades calóricas e nutricionais dos alimentos; no grupo de emagrecimento<br />
por ato cirúrgico, o procedimento básico foi a análise funcional<br />
do comportamento de comer em excesso, visando a identificar os comportamentos<br />
a serem modificados tanto antes quanto depois da cirurgia bariátrica,<br />
dentre os quais destacou-se o comportamento de seguir regras.<br />
Como resultado da aplicação dos procedimentos, a autora observou<br />
que o grupo de emagrecimento por dieta apresentou perda de peso<br />
lenta e pequena, demonstrando um alto índice de flutuação no peso.<br />
Por outro lado, o grupo de emagrecimento por ato cirúrgico apresentou<br />
uma grande e rápida perda de peso, com pequena flutuação.<br />
Além disso, a autora observou que a forma de configuração dos<br />
procedimentos favoreceu a adesão das equipes multiprofissionais que<br />
atendiam ambos os grupos, já que os profissionais passaram também a<br />
avaliar o desempenho dos pacientes levando em considerações os aspectos<br />
elencados pela autora, o que favoreceu também a adesão ao<br />
tratamento pelos pacientes.<br />
A autora concluiu afirmando a importância de psicólogos Analistas<br />
do Comportamento se envolverem na construção de critérios para<br />
a composição de laudos pré-cirurgia bariátrica. Indicou, nesse sentido,<br />
a necessidade de realizar análises funcionais dos comportamentos relevantes,<br />
com previsão de respostas futuras com e sem intervenções.<br />
Além disso, a autora indicou que é preciso:<br />
[...] Discriminar contingências para propor protocolos de<br />
avaliação, definir critérios de exclusão nos casos de cirurgia<br />
bariátrica, identificar o repertório comportamental mínimo<br />
que deve estar presente antes e depois do ato cirúrgico, e<br />
ser capaz de discriminar transtornos psicológicos<br />
impeditivos para a cirurgia (LALONI, 2004, p. 174).<br />
Marques e Graim (2004) realizaram uma pesquisa com pacientes<br />
submetidos à cirurgia bariátrica, com o objetivo de avaliar o nível de<br />
adesão ao tratamento recomendado após a cirurgia. Foram entrevistados<br />
um médico e uma nutricionista que compunham uma das equipes<br />
que realizava a cirurgia e acompanhava os pacientes no período posterior<br />
a esta, para identificar as condutas em geral indicadas para os pacientes<br />
(tipo de alimento, tipo de exercício físico, medicações etc.). Foram<br />
entrevistados também três pacientes obesos, todos do sexo femi-<br />
125
Universidade da Amazônia<br />
nino, na faixa etária de 27 a 47 anos, que tinham sido submetidos à<br />
cirurgia, em um período de tempo que variou de três meses a um ano,<br />
pela mesma equipe da qual faziam parte o médico e a nutricionista<br />
entrevistados previamente. Na entrevista com os pacientes foram abordados<br />
os seguintes assuntos: dia típico (semana e final de semana);<br />
sintomas no pós-cirúrgico; descrição do tratamento pós-cirúrgico; justificativas<br />
para as condutas conflitantes com o tratamento descrito.<br />
A análise dos resultados demonstrou que não havia pontos ou<br />
orientações conflitantes, indicando que há uma articulação entre os<br />
profissionais atuantes na equipe acerca da conduta a ser requerida dos<br />
pacientes. A única modificação observada foi feita no tratamento de<br />
RSC, que devido a outras complicações de saúde não iniciou a atividade<br />
física no mesmo período que as outras pacientes. Todas as participantes<br />
apresentaram algum sintoma após a cirurgia: gases e hérnia incisional<br />
(ENC); gases, dores no estômago e enjôo (MCS); enjôo e vômitos (RSC).<br />
As autoras passam a descrever os resultados de cada participante<br />
individualmente, indicando que, dessa forma, a análise respeitaria<br />
os princípios da Análise do Comportamento. Sendo assim, a análise se<br />
iniciou pelos dados colhidos com ENC. Na comparação do tratamento<br />
descrito pela equipe e do tratamento descrito pela participante foi possível<br />
identificar que as únicas recomendações seguidas foram a ingestão<br />
de medicamentos e a realização de exames periódicos, por outro<br />
lado, observou-se que a maior parte das condutas da paciente vão de<br />
encontro ao tratamento, como a ingestão constante de alimentos hipercalóricos<br />
(chocolate todos os dias). A análise das justificativas de<br />
ESC para esta conduta conflitante, demonstrou que ela, algumas vezes,<br />
distorceu as recomendações (“eu como assim um pão de queijo... eu<br />
não posso ficar muito tempo sem comer!”) e outras vezes apresentou<br />
regras como “Já emagreci e não vou engordar mais”, para justificar frases<br />
como: “Eu não mudei nada a comida... só no início”.<br />
A análise dos dados de MCS iniciou-se pela comparação do tratamento<br />
descrito pela equipe e do tratamento descrito pela participante,<br />
quando foi possível identificar que a paciente compreendeu a necessidade<br />
de fracionar as refeições, realizando-as de duas em duas horas<br />
com pequenas quantidades de alimento, conforme recomendação.<br />
No entanto, MSC ainda compunha as refeições com alimentos hipercalóricos,<br />
apresentados de foram diferente para permitir a ingestão (antes:<br />
açaí e farinha; agora: picolé de açaí). A seguinte verbalização de<br />
MSC reforçou esta análise: “Eu não podia comer nada que engorde, mas<br />
126
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
eu como assim mesmo”. Observou-se também nesta participante a distorção<br />
das recomendações componentes do tratamento. A frase a seguir<br />
exemplifica isto: “Eu preciso arrotar para poder comer... mas se eu<br />
tomar uma coca-cola eu consigo”.<br />
A análise dos dados de RCS iniciou-se pela comparação do<br />
tratamento descrito pela equipe e com o tratamento descrito pela<br />
participante, quando foi possível identificar que a paciente demonstrava<br />
conhecer o tratamento e tentava segui-lo, no entanto, sua condição<br />
financeira se apresentou como um obstáculo à modificação de<br />
seus hábitos alimentares e à ingestão do medicamento recomendado.<br />
A atividade física leve que foi indicada para as duas outras pacientes<br />
não constava do tratamento de RCS. No entanto, na descrição<br />
de sua rotina, observou-se a realização de tarefas doméstica que<br />
exigiam grande esforço físico, como lavar roupas. Observou-se também<br />
que, na tentativa de só ingerir alimentos mais saudáveis, RCS<br />
selecionou frutas ácidas, o que não era indicado na fase do tratamento<br />
em que se encontrava, ou ingeriu apenas água, comprometendo<br />
o seu estado nutricional.<br />
As autoras concluíram que a exposição ao ato cirúrgico não promoveu<br />
alteração na dieta alimentar para a maioria das pacientes, apenas<br />
promoveu uma redução na quantidade de comida ingerida e eliminou<br />
a ingesta de determinados alimentos por conta de sintomas físicos<br />
pareados a eles (açaí líquido, por exemplo). Outro aspecto em que não<br />
se observou alteração foi o padrão de atividade física dos pacientes, já<br />
que a maioria ainda não realizava os exercícios físicos recomendados<br />
(caminhada, por exemplo).<br />
Orsati e Tomé (2004) realizaram um estudo de caso com uma<br />
paciente de 39 anos, submetida à cirurgia bariátrica sem acompanhamento<br />
psicológico e nutricional. A coleta de dados se deu por meio de<br />
entrevistas semi-abertas com o objetivo de levantar o “histórico da<br />
Obesidade e o processo do procedimento cirúrgico” (ORSATI e TOMÉ,<br />
2004). As autoras identificaram nos relatos a existência de um histórico<br />
de Obesidade tanto na paciente quanto em familiares, bem como oscilações<br />
de peso (de obesa a eutrófila) e abuso de substâncias desde a<br />
adolescência. A análise funcional do comportamento de comer da paciente<br />
revelou que o padrão alimentar não foi alterado após a cirurgia,<br />
uma vez que:<br />
127
Universidade da Amazônia<br />
[...] Sua relação com a alimentação permanece a mesma:<br />
frente a uma contingência aversiva o sujeito utiliza o<br />
alimento como reforço imediato, alívio, esquema de<br />
reforçamento negativo; e pelo ganho de peso não ser uma<br />
punição imediata não evita o comportamento alimentar<br />
compulsivo (ORSATI e TOMÉ, 2004).<br />
As autoras perceberam, no entanto, que a paciente só apresentava<br />
mudanças no repertório comportamental, quando estava frente a<br />
duas situações de punição: a relação com o marido e o excesso de queda<br />
de cabelo. Desta forma, as autoras concluíram que é imprescindível a<br />
avaliação multidisciplinar prévia dos candidatos à cirurgia bariátrica,<br />
uma vez que é preciso diagnosticar a existência de Transtorno de Compulsão<br />
Alimentar Periódica (TCAP), com 39% de incidência em candidatos<br />
a esta cirurgia. Outro aspecto apontado foi a importância da adequação<br />
de expectativas e compreensão do caráter permanente da cirurgia<br />
pelos pacientes. Sendo assim, as autora defenderam um efetivo acompanhamento<br />
psicológico para a modificação do comportamento alimentar<br />
dos pacientes.<br />
128
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
À GUISA DA<br />
CONCLUSÃO<br />
129
Universidade da Amazônia<br />
Na busca por historiar, sintetizar e analisar a produção científica<br />
brasileira da Análise do Comportamento sobre o tema Obesidade<br />
nos 33 anos que compuseram esta amostra foram localizados<br />
78 trabalhos produzidos, dos quais foi possível analisar diretamente<br />
trinta trabalhos e indiretamente mais oito trabalhos, perfazendo um<br />
montante de 48,72% do total da produção.<br />
No entanto, a análise mais atenta dos trabalhos revelou que, na<br />
verdade, o número real de pesquisas realizadas ficou em torno de 53, uma<br />
vez que em vários casos os resultados de uma mesma pesquisa foram veiculados<br />
de formas e em espaços diferentes. Tomando este novo parâmetro<br />
é possível afirmar que da década de 70 analisou-se 50% das pesquisas; da<br />
década de 80 analisou-se 57,14% das pesquisas; da década de 90 analisouse<br />
44,44% das pesquisas e; por fim, dos primeiros anos do Século XXI (2001-<br />
2004) analisou-se 34,28% das pesquisas. Sendo assim, do total de pesquisas<br />
identificadas foi possível acessar os resultados de 21 pesquisas, perfazendo<br />
um montante de 39,62%. Dos quatro períodos de tempo analisados,<br />
aquele em que se obteve o menor índice de trabalhos analisados, foi o<br />
último (2001-2004). Sem dúvida, a ausência mais significativa na análise<br />
dessa produção científica é representada pelos trabalhos realizados e/ou<br />
orientados pela profª. Mª Cristina Di Benedetto (UNIPAR), da qual não foi<br />
possível captar nenhum trabalho. Dois fatores contribuíram para o não acesso<br />
a este material: muito dos trabalhos realizados por esta autora foram<br />
veiculados exclusivamente na forma de resumos publicados em anais de<br />
congresso e; a recentecidade das pesquisas, uma vez que publicar uma<br />
pesquisa na forma de artigo e/ou livro requer um tempo maior do que o<br />
necessário para apresentá-la em congressos.<br />
O caminho de análise traçado permitiu a composição de um perfil<br />
das pesquisas em cada um dos quatro períodos de tempo analisados. Da<br />
década de 70, observou-se um número reduzido de trabalhos (3), derivados<br />
de duas pesquisas, ambas realizadas durante cursos de pós-graduação<br />
stricto sensu em duas das mais tradicionais universidades brasileiras<br />
(USP e UnB). Nos dois casos, o tipo de pesquisa realizado foi a<br />
pesquisa experimental e buscou-se por meio do ensino de técnicas de<br />
autocontrole intervir no comportamento alimentar de indivíduos obesos<br />
ou com sobrepeso do sexo feminino, sobretudo, visando reduzir<br />
seu peso. Um aspecto interessante é que uma das recomendações e/ou<br />
indicações para novas pesquisas presente na primeira pesquisa (KER-<br />
BAUY, 1972, 1977) – treinar o autocontrole em situações mais simples –<br />
foi levada a efeito na última pesquisa realizada nesta década, fato este<br />
130
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
explicitado já no título do trabalho: “Uma solução simples para um problema<br />
comportamental complexo: uma contribuição para o estudo da<br />
Obesidade” (CUNHA, 1980).<br />
Na década de 80 foi possível identificar um número maior de<br />
trabalhos realizados, mas ainda concentrados nas mãos das duas pesquisadoras<br />
presentes na década anterior – Jacira Cunha e Rachel Kerbauy.<br />
Embora, o número de pesquisadores envolvidos nos trabalhos<br />
tenha crescido, alguns deles já mantinha estreita ligação com os trabalhos<br />
da década anterior, a exemplo de Tereza Mettel e João Cláudio<br />
Todorov que orientaram a dissertação de Jacira Cunha.<br />
Uma outra prova da extensão da influência das duas autoras para<br />
a produção da década de 80, é que a dissertação de mestrado de Denise<br />
Heller (1990) foi orientada por Rachel Kerbauy e seu delineamento experimental<br />
foi bastante semelhante ao utilizado por sua orientadora<br />
em sua tese de doutorado. No entanto, é preciso destacar a contribuição<br />
prestada por Denise Heller à construção de instrumentos de intervenção<br />
adaptados à população de nível socioeconômico mais baixo,<br />
permitindo que pessoas consideradas analfabetas funcionais possam<br />
ter acesso a instrumentos como o registro de alimentos, fundamental<br />
para o treino de automonitoria do comportamento alimentar. Além disso,<br />
a identificação das dificuldades mais frequentes para o seguimento<br />
do programa, tanto na fase inicial, quanto na fase de manutenção, e a<br />
socialização das estratégias sugeridas para superar estas dificuldades,<br />
construídas não apenas pela pesquisadora, mas também pelos próprios<br />
participantes em sessões de grupo, aparece como uma fonte inspiradora<br />
de reflexões sobre os motivos da não manutenção do peso após encerramento<br />
do programa e foi bastante promissor na indicação de alternativas<br />
à manautenção do peso.<br />
O único trabalho identificado que não mantém, ao menos aparentemente,<br />
relação com a produção das duas autoras foi a dissertação<br />
de Egle Duarte em 1981, mas que por ter sido defendida na UnB no<br />
programa de pós-graduação em Psicologia apenas um ano após a dissertação<br />
de Jacira Cunha, muito provavelmente deve ter sofrido algum<br />
grau de influência. Outro aspecto que chama a atenção é que, exceto<br />
um dos artigos publicados no periódico: “Ciência do comportamento”,<br />
que foi derivado de uma pesquisa experimental realizada após a dissertação<br />
de Jacira Cunha, financiada pelo CNPq, todos os outros artigos<br />
se apresentam como desdobramento de sua dissertação, sobretudo,<br />
do capítulo da Fundamentação teórica.<br />
131
Universidade da Amazônia<br />
Da década de 80 ainda é preciso destacar a importância do capítulo<br />
de livro elaborado por Rachel Kerbauy em 1987, que se configurou como<br />
um “Estado da Arte” dos resultados de pesquisas experimentais e clínicas<br />
sobre a Obesidade, realizadas principalmente nos EUA, grande pólo de<br />
produção da Análise do Comportamento, que permitiu ratificar o caráter<br />
interdisciplinar do problema e delinear uma proposta de intervenção clínico-comportamental<br />
baseada, sobretudo, na análise funcional.<br />
Na década de 90 ocorreu uma ampliação do contingente de pesquisadores<br />
envolvidos, dos tipos de pesquisas realizados e dos objetivos.<br />
A maioria das pesquisas realizadas nas décadas anteriores tinha<br />
como objetivo principal produzir a redução de peso e manter o peso<br />
nos níveis alcançados e mesmo até em níveis menores; na década de 90<br />
surgem pesquisas interessadas em avaliar os programas e compreender<br />
as variáveis envolvidas na desistência de sujeitos ainda na fase inicial<br />
(FLORENZANO, 1994); pesquisas que visavam a identificar as estratégias<br />
de enfrentamento em situações de alto risco de recaída, utilizadas<br />
pelos indivíduos que tinham sido expostos a programas comportamentais<br />
que se encontravam em fase de manutenção (SMOKOWICZ,<br />
1997) e; pesquisas que adquirem um delineamento mais clínico (BRAN-<br />
DÃO, NEVES e SILVEIRA, 1994). Desta forma, outro grupo de variáveis<br />
passa a ser objeto de estudo dos Analistas do Comportamento interessados<br />
no fenômeno Obesidade em outros settings.<br />
Mas é, sem dúvida, no último período de tempo analisado que se<br />
encontra além da maior quantidade de trabalhos a maior diversidade<br />
de objetivos e delineamento. Os delineamentos de pesquisa variaram,<br />
de forma a incluírem estudos de caso que promoveram o refinamento<br />
de técnicas tradicionalmente usadas, como a automonitoria (FERREIRA<br />
e CASSEB, 2002) a estudos de caso que passaram a utilizar o arsenal de<br />
instrumentos disponibilizado por outras abordagens (inventários e escalas)<br />
na intervenção e pacotes estatísticos, corroborando para a confirmação<br />
dos resultados observados na análise funcional do comportamento<br />
(BARBOSA, 2001). Os objetivos das pesquisas variaram da descrição<br />
das contingências mais comumente envolvidas em casos de superalimentação<br />
(LALONI, 2004) até a adesão ao tratamento após a cirurgia<br />
bariátrica (MARQUES e GRAIM, 2004). Além disso, novos temas passaram<br />
a fazer parte do conjunto de estudos realizados nesta época: a Obesidade<br />
infantil, avaliação e acompanhamento psicológico pré e póscirurgia<br />
bariátrica, Obesidade na terceira idade, Obesidade e gênero,<br />
Obesidade em pacientes diabéticos, por exemplo.<br />
132
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
A análise dessa produção permite afirmar que temas significativos<br />
e atuais em relação à Obesidade em cada período de tempo foram<br />
objeto de pesquisa dos Analistas do Comportamento brasileiros, demonstrando<br />
que este grupo de profissionais manteve-se atento às demandas<br />
sociais relacionadas ao problema. A própria diversificação de<br />
temas, delineamentos e objetivos consubstancia tal percepção. A despeito<br />
disso, verificou-se que estas incursões de pesquisa foram levadas<br />
a efeito por um número reduzido de profissionais, que juntamente com<br />
seus orientados, abordaram aspectos diferentes do fenômeno. Uma<br />
consequência disso pode ser o fato de não ter sido identificado no Diretório<br />
de Grupos de Pesquisa do CNPq nenhum grupo formado em torno<br />
dessa temática que fundamentasse suas investigações na Análise do<br />
Comportamento. Parece que, com raras exceções, as investigações sobre<br />
Obesidade surgem no contexto da investigação de outros fenômenos<br />
ou outros agravos à saúde relacionados. Por conta disso, em diversos<br />
momentos foi possível perceber que as sugestões de novas pesquisas,<br />
feitas no final de um trabalho, não inspiraram outros profissionais<br />
ou mesmo o próprio autor a realizarem a investigação das questões<br />
sugeridas.<br />
Estudar um fenômeno complexo requer uma empreitada de fôlego<br />
e passos relacionados. Na verdade, requer a criação de programas<br />
de pesquisa. Desta forma, a produção analisada, apesar de profícua,<br />
não pode ser encarada como o resultado de um programa brasileiro de<br />
pesquisa sobre a Obesidade. Uma consequência disso é o fato de que<br />
algumas questões, como a manutenção do peso perdido é repetidamente<br />
indicada ao longo desses 33 anos analisados como questão para<br />
a qual não se tem respostas ainda consolidadas.<br />
O presente trabalho chega ao final tendo composto mais que um<br />
mapa da produção da Análise do Comportamento sobre o tema Obesidade,<br />
uma vez que, o estudo dessa produção, nos permitiu compor<br />
outro mapa, o das pesquisas que ainda precisam ser realizadas. Neste<br />
sentido, cumpre sua função como um trabalho científico: mais que respostas,<br />
abastece de perguntas, combustível essencial à produção do<br />
conhecimento científico.<br />
133
Universidade da Amazônia<br />
REFERÊNCIAS<br />
134
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ADES, L. KERBAUY, R. R. Obesidade: realidades e indagações. Psicologia,<br />
São Paulo, USP, v. 13, n. 1, p. 197-216. Disponível em: http://<br />
www.scielo.br. Acesso em: 23 out. 2003.<br />
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humana. Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, UFRGS, v. 15, n. 2,<br />
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out. 2003.<br />
ALBUQUERQUE, A. C. P. GOMES, J. M. O. Obesidade infantil: as dificuldades<br />
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e cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação<br />
em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Santo André:<br />
ARBytes, 1999. V.1, cap. 9, p. 82-87.<br />
TEIXEIRA, C. M. Avaliação de condições de ensino e conceituações básicas<br />
em Análise do Comportamento, a partir da opinião e do desempenho<br />
de alunos do Curso de Psicologia. Dissertação (Mestrado em Teoria<br />
e pesquisa do comportamento). 2001. 71f. - Universidade Federal do<br />
Pará, Belém, Pará, 2001.<br />
145
Universidade da Amazônia<br />
TODOROV, J. C. A Psicologia como estudo das interações. 1981. Disponível<br />
em: http://www.cemp.com.br. Acesso em: 23 nov. 2003.<br />
______. Behaviorismo radical e analise experimental do comportamento.<br />
Disponível em: http://www.inspac.com.br. Acesso em: 23 nov. 2003.<br />
(texto publicado originalmente em 1982).<br />
______. O conceito de contingência tríplice na Análise do Comportamento<br />
humano. Psicologia: teoria e pesquisa, Brasília, Departamento<br />
de Psicologia, UnB, v. 1, n. 1, p. 75-88, jan./abr. 1985.<br />
TORRES, N. Ansiedade: um enfoque do Behaviorismo Radical respaldando<br />
procedimentos clínicos. In: WIELESKA, R. C et al (Orgs.). Sobre<br />
comportamento e cognição: psicologia comportamental e cognitiva:<br />
questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas em outros<br />
contextos. São Paulo: ARBytes, 2000. V. 6, cap. 27, p. 288 – 298.<br />
TOURINHO, E. Z. Sobre o surgimento do Behaviorismo Radical de Skinner.<br />
Psicologia, São Paulo, Sociedade de Estudos Psicológicos, v. 13, n. 3,<br />
p. 1-11, nov. 1987.<br />
______. Conseqüências do externalismo Behaviorista Radical. Psicologia:<br />
teoria e pesquisa, Brasília, Instituto de Psicologia, UnB, v. 15, n. 2, p.<br />
107 – 115, maio/ago. 1999.<br />
______; TEIXEIRA, E. R.; MACIEL, J. M. Fronteiras entre Análise do Comportamento<br />
e fisiologia: Skinner e a temática dos eventos privados.<br />
Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, UFRGS, vol. 13, n. 3, 2000.<br />
Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 14 abr, 2002.<br />
WEBER, L. N. D. Conceitos e preconceitos sobre behaviorismo. Psicologia<br />
Argumento, Curitiba, UFPR, v. 20, n. 31, p. 29-36, out. 2002.<br />
ZANNON, C. M. L. C.; ARRUDA, P. M. Tecnologia comportamental em<br />
saúde - adesão ao tratamento pediátrico da doença crônica: evidenciando<br />
o desafio enfrentado pelo cuidador. Santo André: ESETec, 2002.<br />
146
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANEXO E APÊNDICE<br />
147
Universidade da Amazônia<br />
APÊNDICE<br />
Ficha de Análise<br />
148
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
APÊNDICE: FICHA DE ANÁLISE DE<br />
DADOS TEÓRICO-METODOLOÓGICOS<br />
Autor/Ano<br />
Problema de<br />
Pesquisa<br />
Objetivos<br />
Referencial Teórico<br />
Pesquisa<br />
Local de<br />
Investigação<br />
Fonte de Dados<br />
Técnica de<br />
Coleta<br />
Técnica de<br />
Análise<br />
Resultados Conclusões Indicação de Futuras<br />
Pesquisas<br />
149
Universidade da Amazônia<br />
ANEXO<br />
Catálogo de Trabalhos sobre Obesidade<br />
e Análise do Comportamento<br />
1972 – 2004<br />
150
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
DÉCADA DE 70<br />
151
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
1972 USP/SP Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
Auto-controle:<br />
manipulação de<br />
condições<br />
antecedentes e<br />
conseqüentes do<br />
comportamento<br />
alimentar<br />
Tese de<br />
doutorado(em<br />
Psicologia<br />
Experimental)<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Citada em<br />
outros textos<br />
1977 USP/SP Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
Autocontrole:<br />
manipulação das<br />
condições<br />
antecedentes e<br />
conseqüentes do<br />
comportamento<br />
alimentar<br />
Artigo<br />
Periódico<br />
científico:<br />
Psicologia, v.3,<br />
pp. 101-131<br />
1980 UnB/DF Jacira<br />
Aparecida<br />
da CUNHA<br />
Uma solução simples<br />
para um problema<br />
comportamental<br />
complexo: uma<br />
contribuição para o<br />
estudo da Obesidade<br />
Dissertação<br />
de Mestrado<br />
(em<br />
Psicologia)<br />
Lattes do<br />
orientador:<br />
João Cláudio<br />
Todorov<br />
Base on line da<br />
UnB.(http://<br />
www.unb.br/ip/<br />
web/pos/<br />
res_m_1995.htm)<br />
TOTAL: 03 trabalhos<br />
152
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
DÉCADA DE 80<br />
153
154<br />
Universidade da Amazônia
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
155
156<br />
Universidade da Amazônia
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
DÉCADA DE 90<br />
157
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
1994 UEL/PR Maria Zilah<br />
BRANDÃO,<br />
Eduardo<br />
Campos de<br />
Psicoterapia de<br />
grupo: autocontrole<br />
no tratamento da<br />
Obesidade<br />
Almeida<br />
NEVES 19 e<br />
Jocelaine<br />
Martins da<br />
SILVEIRA.<br />
Resumo em<br />
Periódico<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
Lattes do<br />
Eduardo<br />
Torre de<br />
Babel: revista<br />
de Psicologia<br />
Experimental e<br />
Análise do<br />
Comportamento,<br />
v. 1, p. 56<br />
1994 USP/SP João JULIANI<br />
e Rachel<br />
Obesidade: seguese<br />
as prescrições?<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Biblioteca da<br />
USP<br />
Anais da 24ª<br />
Reunião Anual<br />
da Sociedade<br />
Brasileira de<br />
Psicologia,<br />
Ribeirão Preto,<br />
p. 392<br />
1994 UEL/PR Ana Paula<br />
FLORENZANO<br />
Razões da Desistência<br />
de Indivíduos<br />
Monografia.<br />
(Aperfeiçoa-<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
em Grupos mento/<br />
Submetidos a um Especialização<br />
Programa de Alto<br />
em<br />
Controle da Psicoterapia<br />
Obesidade na Análise<br />
do Comportamento)<br />
Orientador:<br />
Vera Lucia<br />
Menezes da<br />
Silva<br />
1995 USP/SP Jocelaine<br />
Martins da<br />
SILVEIRA;<br />
Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
Fatores relacionados<br />
com a manutenção<br />
e perda do peso<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
III Congresso<br />
Interno do<br />
Instituto de<br />
Psicologia da<br />
USP, São Paulo.<br />
Anais do<br />
Congresso<br />
Interno do<br />
Instituto de<br />
Psicologia da<br />
USP, p. 13.<br />
19<br />
O autor declara ter feito este trabalho na Análise do Comportamento, muito embora hoje se oriente<br />
pela Cognitivo comportamental.<br />
158
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
1995 USP/ P Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
e<br />
Marina<br />
Plastina<br />
BUZZO<br />
A Análise da<br />
História Alimentar<br />
da Mãe Em Relação<br />
Ao<br />
Comportamento<br />
Alimentar dos<br />
Filhos<br />
Resumos<br />
em<br />
congresso<br />
Plataforma<br />
Latte<br />
&<br />
III Congresso<br />
Interno do<br />
Instituto de<br />
Psicologia USP,.<br />
III Congresso<br />
Interno do<br />
Instituto de<br />
Psicologia USP.<br />
SÃO PAULO-SP.<br />
p. 3-3<br />
1996<br />
UFPR/PR<br />
Terezinha de<br />
Jesus<br />
SMOKOWICZ<br />
Obesidade:<br />
Estratégias de<br />
Enfrentamento de<br />
Situações de Alto<br />
Risco<br />
Monografia<br />
de conclusão<br />
do curso de<br />
Aperfeiçoamento/<br />
Especialização<br />
em<br />
Psicologia<br />
Clínica-<br />
Behaviorismo.<br />
Orientadora<br />
Maria Zilah<br />
Brandão e<br />
Yara K.<br />
Ingberman<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Nas<br />
referências de<br />
artigo<br />
derivado da<br />
mesma<br />
1997<br />
UFPR/PR<br />
Terezinha de<br />
Jesus<br />
SMOKOWICZ<br />
Obesidade:<br />
Estratégias de<br />
Enfrentamento de<br />
Situações de Alto<br />
Risco<br />
Artigo<br />
Interação,<br />
Curitiba, v. 1, p.<br />
73-93, jan./dez.<br />
1997<br />
1998<br />
UCG/GO<br />
Viviane de<br />
Amorim<br />
Fleury<br />
SANTANA<br />
Ansiedade,<br />
Obesidade,<br />
Aprendizagem<br />
Trabalho de<br />
Conclusão de<br />
Curso.<br />
(Graduação<br />
em<br />
Psicologia)<br />
Orientador:<br />
Luc Marcel<br />
Adhemar<br />
Vandenberghe<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
1999<br />
UNIPAR/PR<br />
Cristina DI<br />
BENEDETTO<br />
Grupo Informativo<br />
sobre Obesidade<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
In: II Jornada<br />
de Psicologia<br />
Internacional,<br />
Umuarama.<br />
Anais da<br />
Unipar<br />
159
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
1999 USP/SP<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
e<br />
Marina<br />
Aparecida<br />
Pastana<br />
BUZZO<br />
A história<br />
alimentar de mães<br />
e a influência em<br />
relação ao<br />
comportamento<br />
alimentar dos<br />
filhos<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
VIII Encontro<br />
da ABPMC,<br />
1999, São<br />
Paulo, v. 8<br />
2000<br />
UTP/PR<br />
Denise<br />
Cerqueira<br />
Leite<br />
HELLEReRachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
Redução de peso:<br />
identificação de<br />
variáveis e<br />
elaboração de<br />
procedimentos<br />
com uma<br />
população de baixa<br />
renda e<br />
escolaridade<br />
Artigo<br />
Disponível na<br />
www.bvspsi.org.br,<br />
no<br />
Lattes da<br />
orientadora e<br />
da autora<br />
&<br />
Revista<br />
Brasileira de<br />
Terapia<br />
Comportamental<br />
e Cognitiva,<br />
v.2; n .1, pp.<br />
31- 52, jan-jun<br />
2000.<br />
2000<br />
USP/SP<br />
Débora<br />
Regina<br />
BARBOSA<br />
Adolescentes<br />
Obesos:<br />
Identificação e<br />
Modificação de<br />
Habilidades Sociais<br />
Resumo de<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: Reunião<br />
Anual da<br />
Associãção<br />
Brasileira de<br />
Medicina e<br />
Psicoterapia<br />
Comportamental,<br />
2000,<br />
Campinas.<br />
Resumos do IX<br />
Encontro da<br />
Associação<br />
Brasileira de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental,<br />
2000. p. 66-66<br />
160
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
2000 USP/SP<br />
Débora<br />
Regina<br />
BARBOSA<br />
Obesidade: uma<br />
abordagem<br />
comportamental<br />
Resumo de<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: Simpósio<br />
da Associação<br />
Brasileira de<br />
Psicologia<br />
aplicada à<br />
clínica e a<br />
cirurgia da<br />
Obesidade,<br />
2000, São<br />
Paulo.<br />
Resumos do<br />
Simpósio. São<br />
Paulo :<br />
Faculdade de<br />
Medicina-Usp,<br />
2000..<br />
2000<br />
UEL/PR<br />
Fátima C. S.<br />
CONTE eE.<br />
GROSS<br />
Conheça um pouco<br />
sobre a Obesidade<br />
infanto-juvenil.<br />
Artigo em<br />
Jornal /<br />
revista<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Informativo<br />
PSICC,<br />
Londrina, v. 1,<br />
p. 3- 3, 01 dez.<br />
TOTAL: 14 trabalhos<br />
161
Universidade da Amazônia<br />
OS PRIMEIROS ANOS DO<br />
SÉCULO XXI (2001-2004)<br />
162
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO/<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2001 UEL/PR Vera Lúcia<br />
Menezes da<br />
SILVA<br />
Obesidade: O Que<br />
Nós, Psicólogos,<br />
Podemos Fazer?<br />
Capítulo de<br />
Livro<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
In: WIELENSKa,<br />
R. C.. (Org.).<br />
Sobre<br />
Comportamento<br />
e Cognição:<br />
Questionando<br />
e Ampliando a<br />
Teoria e as<br />
Intervenções<br />
Clínicas e em<br />
Outros<br />
Contextos.<br />
Santo André –<br />
SP: ARBytes,<br />
vol. 6 , p. Cap.<br />
33, p. 276 – 281<br />
2001<br />
UNIPAR/PR<br />
Cristina DI<br />
BENEDETTO,<br />
Camila da<br />
Silveira<br />
FRAGERRI,<br />
Fabiana<br />
Aleixo<br />
GOMES,<br />
Késiene do<br />
Amaral<br />
TOLEDO,Nívia<br />
Dornellas<br />
MORELLI,<br />
Rosa Maria<br />
SARTORI,<br />
Tatiana Nara<br />
VIVAN<br />
Obesidade: Terapia<br />
Multidisciplinar<br />
(Enfoque na área<br />
psicológica)<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: V Jornada<br />
Internacional<br />
de Psicologia,<br />
2001,<br />
Umuarama.<br />
Anais da V<br />
Jornada<br />
Internacional<br />
de Psicologia.<br />
Umuarama :<br />
Gráfica e<br />
Editora<br />
Campana Ltda,<br />
2001. p. 94-94<br />
2001<br />
UNIPAR/PR<br />
Cristina DI<br />
BENEDETTO,<br />
Intervenção<br />
Psicológica em<br />
pacientes obesos<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: Jornada<br />
Internacional<br />
de psicologia<br />
da Unipar, ,<br />
Umuarama.<br />
Anais da<br />
Unipar<br />
163
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2001 USP/SP<br />
Débora<br />
Regina<br />
BARBOSA<br />
Relação entre<br />
Mudanças de peso<br />
e Competência<br />
Social em Dois<br />
Adolescentes<br />
Obesos Durante<br />
Intervenção<br />
Clínica Comportamental<br />
Dissertação<br />
de Mestrado<br />
em Psicologia<br />
Clínica.<br />
Orientador:<br />
Sonia Beatriz<br />
Meyer.<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
www.teses.usp.br<br />
2001<br />
USP/SP<br />
Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
e<br />
Andréia<br />
Elena<br />
MOUTINHO<br />
Pesquisa sobre<br />
emagrecimento em<br />
uma empresa de<br />
produtos químicos<br />
de Minas Gerais.<br />
Um estudo sobre<br />
Obesidade<br />
Resumos em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: V Congresso<br />
Interno do<br />
IPUSP, 2001,<br />
São Paulo. V<br />
Congresso<br />
Interno do<br />
IPUSP. São<br />
Paulo: Instituto<br />
de Psicologia,<br />
p. 115-115.<br />
2001<br />
USP/ P<br />
Rachel<br />
Rodrigues<br />
KERBAUY<br />
e<br />
Andréia<br />
Elena<br />
MOUTINHO<br />
Pesquisa sobre<br />
emagrecimento em<br />
uma empresa de<br />
produtos químicos<br />
de Minas Gerais.<br />
Um estudo sobre<br />
Obesidade<br />
Resumos em<br />
Congresso<br />
Biblioteca da<br />
USP<br />
&<br />
In: XX Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental,<br />
Campinas,<br />
p. 128<br />
2001<br />
UNIPAR/PR<br />
Fernanda N.<br />
A. Del<br />
GROSSI<br />
A auto-imagem da<br />
adolescente com<br />
sobrepeso e<br />
Obesidade<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso<br />
(Orientador:<br />
Cristina Di<br />
Benedetto)<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
2001<br />
UNAMA/PA<br />
Elianne de<br />
Jesus Maciel<br />
ROCHA,<br />
Elisangela<br />
ABDELNOR,<br />
Paloma<br />
VANNETA<br />
Regras, auto-regras<br />
e dificuldades no<br />
estabelecimento<br />
de relacionamentos<br />
amorosos em<br />
indívíduos obesos.<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso de<br />
Psicologia.<br />
Orientador:<br />
Lúcia<br />
Cristina<br />
Cavalcante<br />
da Silva<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
164
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEICULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2001 UnB/DF Patrícia Registro alimentar Dissertação Plataforma<br />
Costa<br />
Lattes<br />
BEZERRA<br />
2002 UNIPAR/PR Cristina Di<br />
BENEDETTO<br />
2002<br />
2002<br />
2002<br />
UNIPAR/<br />
CESUMAR<br />
UNIPAR/PR<br />
Cristina DI<br />
BENEDETTO,<br />
Fabiana<br />
Aleixo<br />
GOMES,<br />
Késiene Do<br />
Amaral<br />
TOLEDO,<br />
Nívia<br />
Dornellas<br />
MORELLI,<br />
Rosa Maria<br />
SARTORI;<br />
Camila da<br />
Silveira<br />
FRAGERRI<br />
Sabrina<br />
Hermandez<br />
ROCHA<br />
UNIPAR/PR Maira C.<br />
BAPTISTUSSI,<br />
A. GRESSANA,<br />
A. M.<br />
MARANGONI,<br />
Lais Michele<br />
NONCIBONE,<br />
Wanessa<br />
Aguilera<br />
BRUNO<br />
e automonitoramento:<br />
uma<br />
contribuição para o<br />
controle da<br />
Obesidade<br />
A Obesidade e<br />
seus enfoques<br />
psicológicos<br />
Obesidade: terapia<br />
multidisciplinar (a<br />
intervenção<br />
psicológica)<br />
Terapia Nutricional<br />
PréNutricional<br />
para pacientes<br />
que serão<br />
submetidos à<br />
Gastroplastia<br />
Obesidade mórbida<br />
- um trabalho de<br />
intervenção<br />
de Mestrado<br />
em<br />
Psicologia -<br />
Orientador:<br />
Lincoln da<br />
Silva<br />
Gimenes<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Trabalho<br />
completo<br />
publicado<br />
em Anais de<br />
congresso<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso<br />
(Orientador:<br />
Cristina Di<br />
Benedetto)<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
VI Jornada<br />
Internacional<br />
de Psicologia<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: XI Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental,<br />
2002,<br />
Londrina.<br />
Anais do XI<br />
Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental.<br />
Londrina : UEL,<br />
2002. p. 23-24.<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Plataforma Lattes<br />
& .<br />
In: VI Jornada<br />
Internacional de<br />
Psicologia, 2002,<br />
Umuarama. Anais<br />
da VI JOP.<br />
Umuarama :<br />
Gráfica e Editora<br />
Campana, 2002. v.<br />
único<br />
165
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2002 UNIPAR/PR Simone<br />
MATOS; Suely<br />
Ansiedade - um<br />
sentimento<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
TASCA; correlacionado à de Curso<br />
Izildinha Obesidade (Orientador:<br />
RAMPANI<br />
Maira<br />
Cantarelli<br />
Baptistussi)<br />
2002<br />
2002<br />
2002<br />
166<br />
UNAMA/PA<br />
UNAMA/PA<br />
Elianne<br />
ROCHA,<br />
Elisangela ;<br />
ABDELNOR,<br />
Paloma<br />
VANETTA, P. O.<br />
e Lúcia<br />
Cristina<br />
CAVALCANTE<br />
DA SILVA<br />
Ana Cláudia<br />
ALBUQUERQUE<br />
e Jacilena<br />
Maria de<br />
Oliveira<br />
GOMES<br />
UNIPAR/PR Maira C.<br />
BAPTISTUSSI,<br />
Wanessa<br />
Aguilera<br />
BRUNO, Lais<br />
Michele<br />
NONCIBONE,<br />
A. GRESSANA,<br />
A. M.<br />
MARANGONI<br />
Obesidade: regras,<br />
autorregras e<br />
dificuldades no<br />
estabelecimento de<br />
relacionamentos<br />
amorosos<br />
Obesidade infantil:<br />
as dificuldades da<br />
criança em relação<br />
à obediência de<br />
regras impostas por<br />
uma dieta<br />
alimentar<br />
Obesidade<br />
mórbida - um<br />
trabalho de<br />
intervenção<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso.<br />
(Graduação<br />
em Curso de<br />
Psicologia) -<br />
Orientador:<br />
Lúcia<br />
Cristina<br />
Cavalcante<br />
da Silva<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
XXXII Reunião<br />
anual de<br />
Psicologia,<br />
Florianópolis.<br />
Anais da XXXII<br />
Reunião anual<br />
de Psicologia.<br />
Florianópolis:<br />
SBP, 2002. v.<br />
1. p. 130-131<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: XI Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental,<br />
2002,<br />
Londrina.<br />
Anais do XI<br />
Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental.<br />
Londrina :<br />
ABPMC, 2002.<br />
volume único
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2002 UFPA/PA<br />
Eleonora. A.<br />
P. FERREIRA<br />
e<br />
M. S. CASSEB<br />
Efeitos do uso de<br />
registros de<br />
automonitoração<br />
no seguimento de<br />
regras nutricionais<br />
por uma paciente<br />
diabética obesa<br />
Artigo em<br />
periódico<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Diabetes<br />
Clínica, Rio de<br />
Janeiro, v. 6,<br />
n. 6, p. 452-<br />
459<br />
2002<br />
USP/SP<br />
Débora<br />
Regina<br />
BARBOSA<br />
e<br />
Sônia Beatriz<br />
MEYER<br />
The Effects of<br />
Targeting Other<br />
Behaviors in<br />
Behavior Therapy<br />
on the Weight of<br />
two Obese<br />
Adolescents<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
18th World<br />
Congress of<br />
Psychotherapy,<br />
2002,<br />
Tordhein,<br />
Noruega. 18th<br />
World<br />
Congress of<br />
Psychotherapy,<br />
Norwean.<br />
Trondheim:<br />
Nordic Journal<br />
of Psychiatry,.<br />
v. 56. p. 31-31<br />
2002<br />
PUCCAMP/SP<br />
Vera Lúcia<br />
Raposo do<br />
AMARAL<br />
O prazer de comer e<br />
a dor de engordar<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Anais do XI<br />
Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental.<br />
Londrina - PR:<br />
Faculdade<br />
Teológica Sul-<br />
Americana,. v.<br />
1, p. 138-139.<br />
2002<br />
UnB/DF<br />
Paula Costa<br />
BEZERRA, D.<br />
A. SOUZA,<br />
Lincoln S.<br />
GIMENES<br />
Daily food<br />
ingestion recording<br />
and selfmonitoring:<br />
a<br />
contribution to<br />
obesity control<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: 9th<br />
Internatinal<br />
Congress on<br />
Obesity, São<br />
Paulo<br />
167
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2002 UNINCOR/MG<br />
2002 PUCRS/RS<br />
2002 UFPA<br />
2002 PUCCAMP/SP<br />
2002 UCG<br />
Neuza<br />
Rezende<br />
BOGARIMe<br />
Adriana<br />
Guimarães<br />
RODRIGUES<br />
Cristina Di<br />
BENEDETTO<br />
Mariene da<br />
Silva CASSEB<br />
Lucilene de<br />
Alencar<br />
OSÓRIO<br />
Bianca de<br />
Oliveira<br />
Batista<br />
LOJA<br />
Modificando o<br />
comportamento<br />
alimentar de uma<br />
criança através do<br />
delineamento A/B/A<br />
Obesidade<br />
mórbida,<br />
hostilidade<br />
encoberta e suas<br />
implicações nas<br />
interações sociais<br />
Efeitos do uso de<br />
automonitoração<br />
no seguimento de<br />
regras nutricionais<br />
por uma paciente<br />
diabética obesa<br />
Avaliação de um<br />
programa de<br />
modificação de<br />
hábitos<br />
alimentares em<br />
indivíduos obesos<br />
da 3ª idade<br />
Obesidade infantil:<br />
um enfoque da<br />
Análise do<br />
Comportamento,<br />
verificação das<br />
variáveis<br />
envolvidas e maior<br />
assertividade na<br />
resolução de<br />
problemas<br />
relacionados<br />
Resumo em<br />
periódico<br />
Dissertação<br />
de<br />
Mestrado<br />
em<br />
Psicologia<br />
Social e da<br />
Orientador:<br />
Cícero<br />
Emídio Vaz<br />
Trabalho de<br />
Conclusão de<br />
Curso.<br />
(Graduação<br />
em<br />
Psicologia) -<br />
Orientador:<br />
Eleonora<br />
Arnaud<br />
Pereira<br />
Ferreira<br />
Dissertação<br />
(Mestrado<br />
em<br />
Psicologia) -<br />
Orientador:<br />
Vera Lucia<br />
Adami<br />
Raposo do<br />
Amaral<br />
Trabalho de<br />
conclusão<br />
do curso de<br />
Psicologia<br />
da<br />
Universidade<br />
Católica de<br />
Goiás<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Revista da<br />
Unincor,<br />
Universidade<br />
Vale do Rio<br />
Verde, V.2, P.<br />
83-83<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Bibliogrfia<br />
citada no TCC<br />
de Garcia<br />
(2004)<br />
168
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
2003 Universidade Luciana<br />
Análise Trabalho de Plataforma<br />
Presbiteriana Rodrigues<br />
Lattes<br />
Mackenzie/SP THEODORO<br />
2003 USP/SP<br />
2003<br />
UNIPAR/PR<br />
Débora R.<br />
BARBOSA<br />
eSônia<br />
Beatriz<br />
MEYER<br />
Leila ROSINA;<br />
Mariana<br />
Maria<br />
ZANELLA;<br />
Paulo<br />
Alexandre<br />
MÜNCHEN<br />
comportamental<br />
da relação entre<br />
padrões culturais,<br />
autorregras e<br />
emoções em<br />
pessoas<br />
portadoras de<br />
Obesidade<br />
mórbida<br />
The effects of<br />
behavior therapy<br />
targeting other<br />
behaviors related<br />
to overeating in<br />
two obese<br />
adolescents<br />
A depressão como<br />
aspecto<br />
psicológico em<br />
casos de<br />
Obesidade<br />
mórbida<br />
Conclusão<br />
de Curso em<br />
Psicologia<br />
(Orientador:<br />
Cibele<br />
Freire<br />
Santoro)<br />
Artigo em<br />
periódico<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso de<br />
Psicologia<br />
(Orientador:<br />
Maira<br />
Cantarelli<br />
Baptistussi)<br />
Plataforma<br />
Lattes&Journal<br />
of behavior<br />
therapy and<br />
experimental<br />
psychiatry.<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
2003<br />
UNIPAR/PR<br />
CESUMAR/PR<br />
Cristina Di<br />
BENEDETTO<br />
Obesidade<br />
Mórbida,<br />
Hostilidade<br />
Encoberta e suas<br />
Implicações no<br />
Processo de<br />
Interação Social<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes&Anais<br />
do III Encontro<br />
Paranaense de<br />
Psicologia<br />
Social<br />
2003<br />
UNIPAR/PR<br />
CESUMAR/PR<br />
Cristina Di<br />
BENEDETTO<br />
Questões<br />
Investigativas<br />
sobre Obesidade e<br />
Gênero<br />
Trabalho<br />
completo<br />
publicado<br />
em anais de<br />
Congresso<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
VII Jornada<br />
Internacional<br />
de Psicologia<br />
e III Encontro<br />
Paranaense<br />
de Psicologia<br />
Social, 2003,<br />
Umuarama.<br />
Anais da VII<br />
Jornada<br />
Internacional<br />
de Psicologia<br />
e III Encontro<br />
169
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO ou<br />
/DIVULGAÇÃO<br />
Paranaense de<br />
Psicologia<br />
Social.<br />
Cascavel PR :<br />
Gráfica<br />
Assoeste e<br />
Editora Ltda,<br />
2003. p. 132-<br />
133<br />
2003 UFPA/PA<br />
2003<br />
2003<br />
UFPA/PA<br />
UNIPAR/PR<br />
CESUMAR/PR<br />
Eleonora<br />
Arnaud<br />
Pereira<br />
FERREIRA e<br />
Mariane S.<br />
CASSEB<br />
Mariene S.<br />
CASSEB,M. S..<br />
MALCHER,<br />
Eleonora A.<br />
P. FERREIRA<br />
Cristina DI<br />
BENEDETTO<br />
Efeitos do uso de<br />
automonitoramento<br />
no seguimento de<br />
regras nutricionais<br />
em pacientes<br />
diabéticos obesos<br />
Automonitoramento<br />
do comportamento<br />
alimentar e<br />
adesão à dieta em<br />
pacientes<br />
diabéticos obesos<br />
Um olhar<br />
psicológico sobre<br />
a Obesidade<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Artigo em<br />
periódico<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
VI Semana<br />
Científica do<br />
Laboratório de<br />
Psicologia.<br />
Ciências do<br />
Comportamento:<br />
Novos Tempos,<br />
Novas<br />
Práticas,. v.1<br />
p. 14-14.<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
In: XII<br />
Encontro<br />
Nacional de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental,<br />
2003,<br />
Londrina, PR.<br />
ABPMC, 2003.<br />
p. 282-283<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Boletim de<br />
Nutrição e<br />
Ciência de<br />
Alimentos,<br />
Umuarama -<br />
PR, v. 1, n. 1.<br />
170
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO/<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2003 UNAMA/PA<br />
2003<br />
Érika Torres<br />
GONÇALVES<br />
e Hilda<br />
OLIVEIRA<br />
PUCCAMP/SP Diana. T.<br />
LALONI<br />
e Daniela<br />
Aparecida<br />
DALEFFE<br />
2003 PUCCAMP/SP<br />
2003<br />
2003<br />
Diane T.<br />
LALONI<br />
PUCCAMP / SP Diane T.<br />
LALONI<br />
CESUMAR/PR<br />
Ana Carolina<br />
Dallalio<br />
Obesidade em<br />
adultos: análise de<br />
casos atendidos por<br />
terapeutas<br />
analíticocomportamentais<br />
Análise de<br />
Contingências dos<br />
Comportamentos<br />
Relevantes para o<br />
Preparo da Cirurgia<br />
Bariátrica<br />
Transtorno<br />
Alimentar:<br />
Obesidade, Análise<br />
das Contingências<br />
do Comportamento<br />
de Comer<br />
Análise do<br />
Comportamento de<br />
Comer<br />
Excessivamente<br />
Estudo investigativo<br />
da imagem corporal<br />
em mulheres<br />
obesas mórbidas na<br />
cidade de Maringá-<br />
PR<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso de<br />
Psicologia<br />
Orientador:<br />
Lúcia<br />
Cristina<br />
Cavalcante<br />
da Silva<br />
Resumo em<br />
anais de<br />
congresso<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Trabalho de<br />
Conclusão<br />
de Curso.<br />
(Graduação<br />
em<br />
Psicologia) -<br />
Orientador:<br />
Cristina Di<br />
Benedetto<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
&<br />
Evento: XII<br />
Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental;<br />
Londrina/PR<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
XII Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental;<br />
Londrina/ PR<br />
XII Encontro<br />
Brasileiro de<br />
Psicoterapia e<br />
Medicina<br />
Comportamental,<br />
2003,<br />
Londrina/PR,<br />
2003.<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
171
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO/<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2004 Gustavo Sevá PEREIRA Cirurgia Bariátrica: Resumo em Anais on line<br />
da ABPMC 2004<br />
(www.abpmc.org.br)<br />
2004<br />
2004<br />
(Associação Brasileira de<br />
Cirurgia Digestiva;<br />
Instituto<br />
Progastro)Daniela DALEFFE<br />
(Centro de Psicologia,<br />
Napsi)Vera Lúcia Raposo<br />
do AMARAL (Puc Campinas;<br />
Sobrapar)40<br />
UFPA/PA<br />
UNINCOR/MG<br />
Andressa<br />
Fernandes,<br />
Ingrid<br />
Immer,<br />
Eleonora<br />
Ferreira,<br />
Michele<br />
Malcher<br />
Neuza<br />
Rezende<br />
BOGARIM;<br />
Adriana<br />
Guimarães<br />
RODRIGUES<br />
Como e Por Que<br />
Desenvolver um<br />
Perfil Psicológico<br />
Adesão à dieta por<br />
pacientes<br />
diabéticos: eficácia<br />
de registros de<br />
automonitoração e<br />
do relato Verbal<br />
Modificação do<br />
comportamento<br />
alimentar de uma<br />
criança utilizando o<br />
delineamento A-B-A<br />
Anais de<br />
congresso<br />
(on line)<br />
Mesa<br />
redonda<br />
Resumo em<br />
Anais de<br />
congresso<br />
Resumo Em<br />
Congresso<br />
Anais on line<br />
da ABPMC<br />
2004<br />
(www.abpmc.org.br)<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
In: V Jornada<br />
Mineira De<br />
Ciência Do<br />
Comportamento,<br />
São João Del<br />
Rei<br />
2004 UFPA/PA<br />
2004<br />
PUCCAMP/SP<br />
Eleonora<br />
Arnaud<br />
Pereira<br />
FERREIRA;<br />
I. A. IMMER;<br />
A. L.<br />
FERNANDES<br />
Diana Tolselo<br />
LALONI<br />
Transtorno<br />
alimentar:<br />
Uso de registros de<br />
automonitoração<br />
e de relato verbal<br />
na promoção da<br />
adesão ás regras<br />
nutricionais por<br />
pacientes<br />
portadores de<br />
diabetes e<br />
Obesidade<br />
Obesidade,<br />
Análise das<br />
contingências do<br />
comportamento<br />
de comer<br />
Resumo em<br />
Congresso<br />
Capítulo de<br />
livro<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
VII Semana<br />
Científica do<br />
Laboratório de<br />
Psicologia,<br />
EDUFPA, p.24-24.<br />
Site<br />
ESETec&In:<br />
Maria Zilah da<br />
Silva Brandão;<br />
Fátima<br />
Cristina de<br />
Souza Conte;<br />
Fernanda<br />
Silva Brandão;<br />
Yara<br />
Kuperstein<br />
Ingberman;<br />
Vera Lúcia<br />
172
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Menezes da<br />
Silva; Simone<br />
Mantin Oliani.<br />
(Org.). Sobre<br />
Comportamento<br />
e Cognição:<br />
Contingências<br />
e<br />
Metacontingências:<br />
Contextos<br />
Sócios-verbais<br />
e o<br />
Comportamento<br />
do Terapeuta.<br />
1a.ed. Santo<br />
André/SP, v. 13,<br />
p. 168-174<br />
2004 UNAMA/PA Mayla Neno<br />
MARQUES<br />
e<br />
Rivonilda<br />
Machado<br />
dos Santos<br />
de Santana<br />
GRAIM<br />
Adesão ao<br />
tratamento após<br />
cirurgia bariátrica:<br />
um olhar<br />
comportamental<br />
Trabalho de<br />
conclusão<br />
de curso<br />
(Bacharelado<br />
em<br />
Psicologia)<br />
(Orientadora:<br />
Lúcia<br />
Cristina<br />
Cavalcante<br />
da Silva)<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
2004 CESUMAR/PR Elizandra A influência familiar Trabalho de Plataforma<br />
Mello da<br />
Lattes<br />
SILVEIRA<br />
2004 USP/SP Sônia Beatriz<br />
MEYER<br />
e<br />
Débora<br />
Regina<br />
BARBOSA<br />
na aquisição e<br />
manutenção de<br />
hábitos<br />
alimentares<br />
inadequadas em<br />
crianças obesas<br />
Analysis of<br />
response<br />
relationships in<br />
case studies using<br />
repeated<br />
measures: social<br />
competence and<br />
weight loss in two<br />
obese adolescents<br />
Conclusão<br />
de Curso.<br />
(Graduação<br />
em<br />
Psicologia) -<br />
Orientador:<br />
Cristina Di<br />
Benedetto)<br />
Capítulo de<br />
Livro<br />
Plataforma<br />
Lattes<br />
n: T. C. C.<br />
Grassi. (Org.).<br />
Contemporary<br />
Challenges in<br />
the Behavioral<br />
Approach. 1<br />
ed. Santo<br />
André, SP:<br />
ESETec, 2004, v.<br />
1, p. 141-152.<br />
173
Universidade da Amazônia<br />
ANO<br />
INSTITUIÇÃO/<br />
ESTADO<br />
AUTOR TÍTULO TIPO DE<br />
TRABALHO<br />
VEÍCULO DE<br />
PUBLICAÇÃO /<br />
DIVULGAÇÃO<br />
2004 Universidade Fernanda<br />
Presbiteriana Tebexreni<br />
Mackenzie/ ORSATI<br />
SP<br />
e<br />
Fátima<br />
Aparecida<br />
Miglioli<br />
Fernandez<br />
TOMÉ<br />
A Importância do<br />
Acompanhamento<br />
Psicológico para<br />
Cirurgia<br />
Bariátrica: Um<br />
Estudo de Caso<br />
Resumo em<br />
congresso<br />
Anais on line<br />
da ABPMC 2004<br />
(www.abpmc.org.br)<br />
TOTAL: 48 trabalhos<br />
174
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO<br />
SOBRE A AUTORA<br />
Lúcia Cristina Cavalcante é analista do comportamento,<br />
graduada em Psicologia, mestre em<br />
Psicologia pelo Programa de pós-graduação em<br />
Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento<br />
da UFPA, professora e pesquisadora da Universidade<br />
da Amazônia (UNAMA). Tem se dedicado<br />
a investigações sobre a obesidade desde<br />
2001, a partir de quando passou a orientar trabalhos<br />
de graduação e iniciação científica no Curso<br />
de Psicologia da UNAMA. O presente livro nasceu<br />
do projeto de pesquisa “Obesidade e Análise<br />
do Comportamento: o estado da arte da produção<br />
científica brasileira”, financiado pela Fundação Instituto pelo Desenvolvimento<br />
da Amazônia (FIDESA).<br />
Frequentemente podemos ver cientistas recebendo questões como “O<br />
que a ciência tem a dizer sobre ... ?”, “O que a ciência pode fazer para<br />
melhorar, para mudar ... ?”. Há muito as ciências compreenderam a<br />
relação vital entre produção do conhecimento e modificação da realidade,<br />
uma prova disso é que as epidemias que assolam o mundo são<br />
temas centrais de investigação. A Psicologia e em especial uma de suas<br />
abordagens mais produtivas, a Análise do Comportamento, não poderia<br />
deixar de contribuir com a construção de explicações e de estratégias<br />
de enfrentamento a um dos problemas de Saúde Pública mais incidentes<br />
e prevalentes nos últimos tempos: a Obesidade. O leitor encontrará<br />
neste volume uma análise sincera e detalhada do “Estado da Arte”<br />
dessa linha de pesquisa na área da Psicologia da Saúde, que pretendeu<br />
não apenas radiografar o já feito, mas, sobretudo, convidar a comunidade<br />
científica ao engajamento do que há por fazer.<br />
175
176<br />
Universidade da Amazônia