Luciana Vilma Oliveira Quintino - Universidade Estadual do Ceará
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[...] dan<strong>do</strong> amor, atenção, procurar investigar o que foi que aconteceu, há<br />
quanto tempo. A gente procura conversar, escutar com atenção, dialogan<strong>do</strong><br />
com a criança, ver se ela solta alguma coisa (E10).<br />
[...] Primeiro de tu<strong>do</strong> a gente tem que tratar com carinho porque quan<strong>do</strong> a<br />
criança é maltratada ela fica muito ferida, ela tem me<strong>do</strong> da gente (E1).<br />
A violência contra a criança gera, em alguns profissionais, emoções que<br />
os fazem prestar um atendimento diferente daquele dispensa<strong>do</strong> às crianças com<br />
outros tipos de agravos. Alguns estudiosos apontam que, durante o cuida<strong>do</strong>, eles<br />
substituem a técnica mecanicista pelo carinho, pelo amor e pela escuta com<br />
atenção, e com isso, ampliam os laços relacionais e desenvolvem afetos,<br />
possibilitan<strong>do</strong> a potencialização <strong>do</strong> processo terapêutico (ASSIS et al., 2010; FERRI<br />
et al., 2007).<br />
Com o estreitamento das relações, torna-se mais fácil identificar os casos<br />
que poderiam passar despercebi<strong>do</strong>s, especialmente os que não são visíveis, que<br />
acontecem no ambiente familiar e que causam maior constrangimento para os<br />
envolvi<strong>do</strong>s. Além da produção de emoções, percebeu-se nas falas que alguns<br />
participantes faziam a projeção, colocan<strong>do</strong>-se no lugar da criança que sofreu maus<br />
tratos, bem como <strong>do</strong>s seus familiares:<br />
[...] é como se eu me colocasse no lugar da família, da criança também.<br />
Mais da criança <strong>do</strong> que a família, que muitas vezes é a própria agressora e<br />
a criança, a vítima. Tenta acolher, tenta acalmar [...] (E5).<br />
A gente se sensibiliza porque poderia até ser um filho seu (E3).<br />
Como se pôde constatar, ao imaginar que a criança maltratada poderia<br />
ser um filho ou alguém próximo, alguns profissionais dirigem um olhar diferencia<strong>do</strong>,<br />
com maior compromisso e responsabilidade. Para Merhy (1994), a ação acolhe<strong>do</strong>ra<br />
exige <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r relações tão próximas e tão claras que são capazes de fazê-lo<br />
colocar-se no lugar <strong>do</strong> outro e sensibilizar-se com o seu sofrimento.