ALCIDES RIBEIRO SOARES.indd - UNIESP
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conhecimentos históricos e sua ampla formação filosófica,<br />
demonstra, nessa “prova”, evidente incompreensão de<br />
aspectos essenciais da diversidade cultural dos povos.<br />
Além disso, ao envolver-se na alienação constituída pelo<br />
fetichismo da mercadoria, superdimensiona o valor de uso<br />
do ouro – num evidente posicionamento etnocêntrico, em<br />
detrimento dos colares de vidro, apreciados pelos negros.<br />
Prosseguindo em suas justificativas para a escravidão<br />
dos negros, Montesquieu chega mesmo a considerar que<br />
eles não são homens, já que, no seu entender, se o fossem,<br />
nós – referindo-se aos europeus – começaríamos a crer que<br />
não somos cristãos. Segundo suas próprias palavras, “É<br />
impossível supormos que tais gentes sejam homens, pois,<br />
se os considerássemos homens, começaríamos a acreditar<br />
que nós próprios não somos cristãos.” 5<br />
Mesmo para a época em que vive e escreve sua<br />
principal obra – quando os mais poderosos estados da<br />
Europa praticam sistematicamente as guerras de rapina<br />
e de extermínio, o tráfico de escravos, e utilizam de<br />
maneira ampla o trabalho escravo nas colônias, como<br />
parte integrante do processo de acumulação de capital –,<br />
o pensamento de Montesquieu, no que se refere a essa<br />
questão, pode ser considerado preconceituoso. Prova<br />
disso pode ser apoiada, de maneira inequívoca, em suas<br />
próprias palavras, quando ele critica e procura ridicularizar<br />
as vozes que então se levantam contra a injustiça praticada<br />
em relação aos africanos, afirmando que essas partem de<br />
espíritos mesquinhos e cometem exageros. Neste sentido,<br />
o autor expressa-se nos seguintes termos:<br />
“Os espíritos mesquinhos exageram muito a<br />
injustiça que se faz aos africanos, pois, se ela<br />
5 Idem, ibidem.<br />
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