Neoinstitucionalismo como modelo de análise para as ... - pucrs
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C. V. Rocha – <strong>Neoinstitucionalismo</strong> <strong>como</strong> <strong>mo<strong>de</strong>lo</strong> <strong>de</strong> análise... 23<br />
número substancial <strong>de</strong> indivíduos, se não houver algum ganho nessa troca, a<br />
instituição se torna injustificável. Toda sua estrutura, por mais repressiva que<br />
seja, contém um elemento contratual: se os que <strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer não recebem<br />
a “mínima parte <strong>de</strong> uma má barganha”, <strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> implementação tornamse<br />
cada vez mais custos<strong>as</strong>, a instituição enfraquece, criando uma situação<br />
propícia <strong>para</strong> a mudança. A estabilida<strong>de</strong> institucional se mantém: 1. quando<br />
os benefícios oferecidos forem significativos; 2. quando o custo da mudança<br />
for muito alto, pela capacida<strong>de</strong> institucional <strong>de</strong> monitorar e reprimir a rebeldia;<br />
e 3. pela falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> dos insatisfeitos <strong>de</strong> conceber alternativ<strong>as</strong> à<br />
situação vigente.<br />
O foco analítico proposto pela autora visa, então,<br />
<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões institucionais que produzem <strong>como</strong> conseqüência não-intencionada<br />
um solapamento daquilo que chama consenso contigente e que, por isso, elevam<br />
os custos <strong>de</strong> implementação d<strong>as</strong> regr<strong>as</strong>. O abandono do consenso contingente<br />
precipita a mudança quando eleva o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha daqueles que não mais<br />
aceitam ou <strong>de</strong>slegitimam os recursos coercitivos em voga (Levi, 1991, p. 84).<br />
Quando os fatores subjacentes à obediência contingente entram em colapso,<br />
há abandono do consentimento e elevação dos custos <strong>de</strong> implementação<br />
d<strong>as</strong> regr<strong>as</strong>. Os que <strong>de</strong>sejam a mudança usam a <strong>de</strong>sobediência <strong>como</strong> barganha,<br />
ao p<strong>as</strong>so que os que protegem o status quo per<strong>de</strong>m recursos coercitivos.<br />
O resultado provável é a mudança d<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> sociais, com a criação <strong>de</strong><br />
nov<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> e/ou recursos coercitivos adicionais. Porém, a ação coletiva é<br />
difícil <strong>para</strong> os relativamente mais fracos, 8 o que coloca entraves ao processo<br />
<strong>de</strong> mudanç<strong>as</strong>. Como principal instrumento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dos relativamente mais<br />
fracos é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização coletiva e a recusa à obediência, <strong>as</strong><br />
regr<strong>as</strong> vigentes mudam ou porque os subordinados adquirem novos recursos<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ou por perceberem possuir recursos não utilizados, e/ou ainda por<br />
perda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha dos que controlam <strong>as</strong> instituições. Freqüentemente,<br />
argumenta Levi, a <strong>de</strong>sobediência individual, coletivamente informada, é<br />
mais fácil, pois não coloca o problema <strong>de</strong> ação coletiva. Aqui a autora não<br />
leva em conta, no entanto, que a <strong>de</strong>sobediência individual geralmente é mais<br />
8<br />
Um trabalho fundamental sobre o tema, e que enfatiza a <strong>as</strong>simetria d<strong>as</strong> condições <strong>de</strong> ação<br />
eficaz entre cl<strong>as</strong>ses sociais, é: Offe, C.; Wiesenthal, H. Du<strong>as</strong> lógic<strong>as</strong> da ação coletiva: anotações<br />
teóric<strong>as</strong> sobre cl<strong>as</strong>se social e forma organizacional. In: Offe, C. Problem<strong>as</strong> estruturais<br />
do estado capitalista. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Tempo Br<strong>as</strong>ileiro, 1984.