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Reme cap 00 v9 n3 - Escola de Enfermagem - UFMG

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O cuidado a família <strong>de</strong>...<br />

à família se dá em uma seqüência <strong>de</strong> atos e parcerias<br />

orientados pela singularida<strong>de</strong> das vivências subjetivas e<br />

culturais dos membros do grupo familiar, que objetivam<br />

auxiliar os indivíduos envolvidos a superar os problemas<br />

vividos e a promover a saú<strong>de</strong> física e mental. (15)<br />

Pelo exposto, <strong>de</strong>vido a relevância <strong>de</strong> estudos na área<br />

do cuidado humano que contribuem para a formação do<br />

enfermeiro, justifica-se a importância <strong>de</strong> uma pesquisa<br />

que, ao consi<strong>de</strong>rar os princípios que orientam o processo<br />

da Reforma Psiquiátrica em curso no país, possibilite<br />

conhecer como a família está sendo inserida no projeto<br />

terapêutico dos equipamentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, ou seja,<br />

como a família está sendo cuidada pelos trabalhadores<br />

<strong>de</strong>sse serviço.<br />

METODOLOGIA<br />

O estudo foi realizado em um Centro <strong>de</strong> Atenção<br />

Psicossocial (CAPS II), equipamento financiado pela<br />

Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, pertencente a um Distrito<br />

Sanitário da Região Oeste da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, cuja<br />

área <strong>de</strong> abrangência inclui seis bairros, com 270 mil<br />

habitantes.<br />

O serviço aten<strong>de</strong> adultos com quadro <strong>de</strong><br />

neuroses graves e/ou psicoses os quais chegam<br />

espontaneamente ou encaminhados por outros<br />

serviços, entre eles Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Pronto Socorro<br />

<strong>de</strong> Hospital Geral e Hospital Psiquiátrico da referida<br />

área <strong>de</strong> abrangência.<br />

Os trabalhadores, após serem esclarecidos a<br />

respeito dos objetivos do estudo, foram convidados<br />

a participar da pesquisa. Dezenove pessoas<br />

concordaram em participar e cinco recusaram-se. As<br />

entrevistas foram realizadas no serviço, no horário<br />

<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> do trabalhador. Em conformida<strong>de</strong><br />

com os aspectos éticos da pesquisa científica, cabe<br />

ressaltar que, antes do início das entrevistas, o<br />

Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido foi<br />

apresentado aos trabalhadores.<br />

A primeira etapa consistiu na caracterização dos<br />

trabalhadores, quanto a sexo, escolarida<strong>de</strong>, formação<br />

profissional, tempo que trabalha na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental,<br />

função e/ou cargo que ocupa e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />

no serviço. Dos <strong>de</strong>zenove trabalhadores entrevistados,<br />

treze eram do sexo feminino e seis do masculino e<br />

ocupavam diferentes funções como: vigia, auxiliar <strong>de</strong><br />

enfermagem, enfermeiro, psicólogo, médico, terapeuta<br />

ocupacional, assistente social, oficial administrativo e<br />

visitador sanitário.<br />

Os entrevistados apresentaram níveis <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> variados, sendo que <strong>de</strong>z possuíam nível<br />

superior completo, quatro nível superior incompleto,<br />

três ensino médio completo, e um ensino fundamental<br />

incompleto. Aqueles que possuíam nível superior<br />

completo foram classificados como técnicos, os <strong>de</strong>mais<br />

trabalhadores faziam parte da equipe <strong>de</strong> apoio. O tempo<br />

que trabalhavam na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental variou <strong>de</strong> três<br />

meses a trinta e três anos.<br />

A segunda etapa foi <strong>de</strong>stinada à caracterização do<br />

cuidado prestado à família do portador <strong>de</strong> transtorno<br />

mental pelos trabalhadores do equipamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

mental.<br />

Os dados coletados foram analisados por meio<br />

da técnica <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> conteúdo do tipo temática<br />

que segundo Bardin (16) , consiste em “um conjunto <strong>de</strong><br />

técnicas <strong>de</strong> análise da comunicação visando obter, por<br />

procedimentos sistemáticos e objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição<br />

do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos<br />

ou não) que permitam a inferência <strong>de</strong> conhecimentos<br />

relativos às condições <strong>de</strong> produção/recepção <strong>de</strong>stas<br />

mensagens”.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Neste estudo, buscamos compreen<strong>de</strong>r como<br />

os trabalhadores cuidam da família e, por meio<br />

da análise dos <strong>de</strong>poimentos, i<strong>de</strong>ntificamos que<br />

a maior parte dos entrevistados compreen<strong>de</strong><br />

que esta é uma aliada importante no processo<br />

<strong>de</strong> reabilitação psicossocial do portador <strong>de</strong><br />

enfermida<strong>de</strong> mental.<br />

Entretanto, estes profissionais encontram dificulda<strong>de</strong>s<br />

para incluí-la no seu plano <strong>de</strong> assistência por conhecerem<br />

muito pouco as famílias <strong>de</strong> seus pacientes, olharem-nas<br />

<strong>de</strong> forma i<strong>de</strong>alizada e equivocada, concebendo-as sempre<br />

como um recurso terapêutico para o tratamento do<br />

portador. (17)<br />

O reflexo <strong>de</strong>ssa constatação é que a maior parte das<br />

ativida<strong>de</strong>s voltadas para as famílias são planejadas sem que<br />

as necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>mandas dos sujeitos envolvidos sejam<br />

conhecidas, tratando-os <strong>de</strong> forma homogeneizada. (18)<br />

Para a maioria dos sujeitos do estudo, o cuidado é<br />

entendido como intervenções sobre sinais e sintomas<br />

para obtenção da cura ou melhora do prognóstico da<br />

doença. Para as autoras do trabalho, a verda<strong>de</strong>ira ação<br />

terapêutica amplia o cuidado dos aspectos biológicos<br />

englobando aspectos sociais e psicológicos.<br />

Cuidar <strong>de</strong> modo integral do ser humano é a ação<br />

terapêutica prevalente no processo <strong>de</strong> cuidar. Portanto,<br />

o cuidado <strong>de</strong>ve ser entendido como uma forma <strong>de</strong><br />

estar e <strong>de</strong> se relacionar com o mundo e com o outro;<br />

nesse processo aquele que cuida e aquele que é cuidado<br />

vivenciam experiências que proporcionam o crescimento<br />

e o fortalecimento individual dando significados às suas<br />

existências.<br />

Os <strong>de</strong>poimentos dos trabalhadores nos permitiram<br />

i<strong>de</strong>ntificar a convergência das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado para<br />

dois gran<strong>de</strong>s temas que respondiam como é prestado o<br />

cuidado às famílias dos portadores <strong>de</strong> transtorno mental.<br />

São eles: Atendimento não reconhecido como cuidado e<br />

Formas distintas <strong>de</strong> cuidar.<br />

No tema “Atendimento não reconhecido como<br />

cuidado”, constatamos que os trabalhadores sempre<br />

prestam algum tipo <strong>de</strong> atendimento aos familiares, mas<br />

não reconhecem esse ato como uma ação efetiva <strong>de</strong><br />

cuidar, apresentam uma visão <strong>de</strong> cuidado como uma ação<br />

a ser <strong>de</strong>senvolvida com uma finalida<strong>de</strong> específica, isto é,<br />

uma ação orientada por uma concepção do processo<br />

saú<strong>de</strong>-doença pautada no mo<strong>de</strong>lo médico, centrado e<br />

estruturado em torno da caracterização da doença e da<br />

intervenção nos sinais e sintomas, com vistas a obter a<br />

estabilização do quadro. Além disso, as ativida<strong>de</strong>s dos<br />

trabalhadores estão organizadas pela lógica da divisão<br />

do trabalho <strong>de</strong> acordo com a especialização e formação<br />

• REME – Rev. Min. Enf.; 9(3)206-211, jul./set., 2<strong>00</strong>5

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