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III. A educação intercultural

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Roberto Carneiro<br />

Por isso, a acção é frequentemente destituída de propósito e o desgaste da<br />

vida quotidiana aparece tão aflitivo sempre que a paisagem da consciência<br />

não acompanha, em crescimento, a explosão da actividade.<br />

A consciência humana é o terreno privilegiado da metanoia. O aperfeiçoamento<br />

dos valores sobre que assenta a existência humana é o fermento da<br />

trans formação interior, única que proporciona a perspectiva sustentável do<br />

progresso espiritual, isto é, do thymos, e não apenas do eros ou do nous 13 .<br />

Ora, a verdadeira transformação da alma implica um renascimento de consciência<br />

e de consciencialização. Com efeito, o salto qualitativo da alma en -<br />

volve inevitavelmente a consciência de novos valores ou, no mínimo, a superação<br />

de visões limitadas de valores existentes.<br />

Nesta mesma medida, todo o acto educativo que se pretenda proporcionador<br />

de uma alteração na percepção da realidade ou de uma modificação no<br />

es tádio da consciência é uma educação para valores. A simples cognição é<br />

insuficiente para operar uma transformação profunda do ser humano, ainda<br />

que se possa revelar fértil no plano da paisagem da acção. Esta asserção é largamente<br />

subscrita pela generalidade dos educadores e investigadores pedagógicos,<br />

com a excepção minoritária dos advogados do niilismo moral.<br />

A divisão fundamental que subsiste, no plano conceptual das actuais teorias<br />

edu cativas, situa-se essencialmente no campo das estratégias que devem presidir<br />

a essa mesma educação para valores.<br />

De um lado, a corrente designada por Educação do Carácter sublinha a im -<br />

por tância do património de valores duráveis de uma comunidade e a necessidade<br />

de a escola os transmitir e desenvolver no seio das gerações futuras<br />

que tem a seu cargo. Valores como a honestidade, a lealdade, o apego à de -<br />

mo cracia ou a solidariedade, são considerados alicerçantes de uma ordem<br />

social coesa e estável e, como tal, incontestáveis numa ordem educativa<br />

moderna.<br />

Na posição diametralmente oposta coloca-se o movimento conhecido por<br />

Clarificação de Valores, segundo o qual nenhum sistema educativo pode<br />

arvorar-se em defensor de determinada ordem de valores nem lhe seria legítimo<br />

querer impô-los. A escola e o currículo deverão ser organizados para<br />

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