III. A educação intercultural
III. A educação intercultural
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Roberto Carneiro<br />
As concepções de Giroux 35 , no sentido de formas inovadoras de «pedagogias<br />
de fronteira», são um expoente marcante das escolas ditas de «pedagogia crítica».<br />
Orientam-se estas novas abordagens no sentido da afirmação e legitimação<br />
de sentidos – e constelações de sentidos – locais, que crescem no seio<br />
de comunidades discursivas, e de formas híbridas de conhecimento.<br />
«It is a space of borders where teachers may be able to recognize another narration<br />
of identity, another resistance. One that asserts a difference yet cannot be<br />
absorbed into the pleasures of the global marketing culture. One that locates its<br />
different voice, yet will not take a stand on the unmoving ground of a defensive<br />
fundamentalism. One that speaks its location as more than local, yet makes no<br />
claim to universality for its viewpoint of language. One that knows the border and<br />
crosses the line.» 36<br />
Neste hibridismo, feito de mestiçagem de culturas e encontros de memórias,<br />
a pedagogia valoriza a adição de diferenças por modos que não replicam a<br />
essen cialização monocultural dos «centrismos» (eurocentrismo, anglocentrismo...),<br />
fazendo jogar, em paridade de estatuto, periferia e centro.<br />
As pedagogias críticas demandam o desenho e o uso de «subjectividades tácticas»<br />
que se definem por oposição a práxis hegemónicas. A subjectividade táctica<br />
habilita os educadores como agentes sociais a melhor compreender as<br />
subjectividades múltiplas que os rodeiam e a mais eficazmente construir coligações<br />
entre diferenças e interesses diversos.<br />
Na sua essência, e redução ao núcleo mais íntimo da pedagogia crítica da in -<br />
terculturalidade, a Educação Intercultural é um convite ao diálogo, sem condições,<br />
sem fronteiras e sem preconceitos.<br />
Na verdade, conforme os ensinamentos perenes do mestre Paulo Freire 37 ,o<br />
contrato dialógico é a base de toda a inclusão e de cada gesto educativo comunitário.<br />
Nas palavras mágicas do pedagogo em Língua Portuguesa, essa atitude<br />
dialógica, a assumir por parte dos verdadeiros educadores, é absolutamente<br />
indispensável:<br />
«Para que façam realmente educação e não domesticação. Exactamente por -<br />
que, sendo o diálogo uma relação “eu-tu”, é necessariamente uma relação de<br />
dois sujeitos. Toda vez que se converta o “tu” desta relação em mero objecto,<br />
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