IGREJA LUTERANA - Seminário Concórdia
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<strong>IGREJA</strong> <strong>LUTERANA</strong><br />
Revista Semestral de Teologia<br />
1<br />
Revista Luterana 2010 gráfica.indd 1 8/4/2010 18:42:07
Igreja Luterana<br />
SEMINÁRIO<br />
CONCÓRDIA<br />
Diretor<br />
Gerson Luis Linden<br />
Professores<br />
Acir Raymann, Anselmo Ernesto Graff, Clóvis Jair Prunzel, Gerson Luis Linden,<br />
Leopoldo Heimann, Paulo Gerhard Pietzsch, Paulo Proske Weirich, Paulo Wille<br />
Buss, Raul Blum, Vilson Scholz<br />
Professores Eméritos<br />
Donaldo Schüler, Paulo F. Flor<br />
Norberto Heine<br />
<strong>IGREJA</strong> <strong>LUTERANA</strong><br />
ISSN 0103-779X<br />
Revista semestral de Teologia publicada em junho e novembro pela Faculdade de<br />
Teologia do Seminário Concórdia, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB),<br />
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.<br />
Conselho Editorial<br />
Paulo Wille Buss (Editor), Paulo Proske Weirich (Editor Homilético), Acir Raymann.<br />
Assistência Administrativa<br />
Nara Coelho do Rosário<br />
A Revista Igreja Luterana está indexada em Bibliografia Bíblica Latino-Americana<br />
e Old Testament Abstracts.<br />
Os originais dos artigos serão devolvidos quando acompanhados de envelope com<br />
endereço e selado.<br />
Solicita-se permuta<br />
We request exchange<br />
Wir erbitten Austausch<br />
Correspondência<br />
Revista Igreja Luterana<br />
Seminário Concórdia<br />
Caixa Postal 202<br />
93001-970 – São Leopoldo/RS<br />
Telefone: (0xx)51 3592 9035<br />
e-mail: revista@seminarioconcordia.com.br<br />
www.seminarioconcordia.com.br<br />
2<br />
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Índice<br />
ARTIGOS<br />
PENSAR COMO CRISTÃO 5<br />
Adolf Köberle - Tradução Vilson Scholz<br />
3º simpósio internacional de lutero 11<br />
Paulo Wille Buss<br />
O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO? 13<br />
Raul Blum<br />
MISSÃO URBANA E A <strong>IGREJA</strong> DE ANTIOQUIA EM ATOS 27<br />
Paulo Samuel Albrecht - Acir Raymann<br />
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS 51<br />
DEVOCIONAL<br />
CRUZ: CAMINHO DE CRISTO E DOS CRISTÃOS 164<br />
Anselmo Graff<br />
Igreja Luterana<br />
Volume 68 – Novembro de 2009 – Número 2<br />
3<br />
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Artigos<br />
PENSAR COMO CRISTÃO<br />
Adolf Köberle*<br />
Emil Brunner disse certa vez que não nos compete apenas viver como<br />
cristãos, mas também pensar como cristãos. É mais fácil dizer o que é<br />
viver como cristão: é ser servo de Cristo, amar o próximo e lutar contra<br />
o caos que quer se instaurar na nossa própria vida. E a igreja evangélica<br />
tem primado pelo fomento de qualidades como veracidade, fidelidade e<br />
eficiência na vocação. Mais difícil é dizer o que é pensar como cristão. Isto<br />
poderia ser entendido como saber valorizar o fato de se ter recebido do<br />
criador a racionalidade e a razão, que não apenas nos coloca acima das<br />
demais criaturas, mas permite, na vida cristã, fazer uso do senso crítico.<br />
Em questões ligadas à natureza e à história, o cristão não se deixará<br />
levar por toda e qualquer solicitação de entusiastas, sejam eles do tipo<br />
político, sejam de ordem religiosa. Nas questões da vida diária, o cristão<br />
sabe valer-se da sadia razão humana, ou seja, não espera por iluminação<br />
espiritual especial do alto para cada decisão que tiver de tomar. Mas isto<br />
não esgota o problema relacionado com este “pensar como cristão”.<br />
Pensar como cristão, isto deveria significar antes de tudo o seguinte:<br />
entrego a Deus não apenas a minha vontade, mas também a minha atividade<br />
intelectual. A palavra da verdade, que o Senhor de tudo proferiu no Logos<br />
encarnado, através de profetas e apóstolos, deve se tornar o critério para<br />
o conhecimento da verdade, a compreensão de Deus, do mundo e do ser<br />
humano, de morte e vida, de tempo e eternidade. Trata-se da concretização<br />
daquilo que o NT quer dizer com a afirmação de que Jesus Cristo tornou-se<br />
da parte de Deus não apenas justiça, santidade e redenção, mas também<br />
sabedoria. Tanto em 1 Coríntios como em Colossenses, Paulo contrapõe ao<br />
conhecimento filosófico que se orienta pelos rudimentos do mundo uma<br />
outra sabedoria, para a qual a norma passou a ser a revelação de Deus em<br />
Jesus Cristo, o Senhor crucificado e ressurreto. A Igreja Oriental acolheu<br />
este aspecto da mensagem cristã primitiva (começando com Clemente e<br />
Orígenes, passando por João Damasceno e chegando aos grandes filósofos<br />
religiosos russos dos séculos 19 e 20) na forma de um ensino da sabedoria<br />
de Cristo. Também a Igreja Católica sempre esteve convencida de que ao<br />
credere (crer) segue um intelligere (pensar) e lá se formou o conceito de<br />
uma visão de mundo católica. Aqui podem ser citados Agostinho e Anselmo,<br />
Tomás de Aquino e outros. Isto significa que tanto a Igreja Oriental quanto<br />
a Católica incluem em seus pressupostos a possibilidade de um pensar<br />
cristão, que é, então, colocado em prática.<br />
*Texto de Adolf Köberle, intitulado “Christliches Denken”, publicado na revista Quatember de<br />
1961, p. 61-67. Tradução de Vilson Scholz.<br />
5<br />
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Igreja Luterana<br />
Como estão as coisas no protestantismo? Lutero deu alto valor à ratio<br />
ou razão em questões deste mundo (in rebus civilibus). Ele também sabia<br />
do obscurecimento da razão, levando-o a denominá-la de “prostituta<br />
razão”. Mas o Reformador também sempre de novo fez a seguinte afirmação:<br />
Affert gratia novum judicium omnium rerum. (Sob o ponto de vista<br />
da graça, tudo tem um aspecto diferente.) Se é possível falar sobre uma<br />
restauração da imagem de Deus na pessoa regenerada, então nossos pensamentos<br />
também são levados cativos à obediência de Cristo. E, no século<br />
19, tanto o luterano August Vilmar quanto o reformado Abraham Kuyper<br />
levaram a sério a afirmação de que, também no âmbito do conhecimento<br />
científico, “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”.<br />
Apesar disto, pode-se constatar que, no âmbito do protestantismo, pouco<br />
foi feito com vistas a atingir o alvo de pensar como cristão. Os grandes<br />
feitos ficaram como que restritos ao âmbito da formação da mentalidade<br />
e do caráter. Um catedrático católico (filósofo, médico, jurista ou pedagogo)<br />
está preparado a moldar sua área de especialização à luz do espírito<br />
católico; em contrapartida, o evangélico em geral acha que não é nem<br />
possível, tampouco necessário, assumir uma conscientização evangélica<br />
em sua pesquisa. No coração a gente é cristão. Os filhos são batizados, a<br />
contribuição para a igreja está em dia, o matrimônio é considerado digno<br />
de honra, vai-se ao culto, mas na cabeça a gente segue os pontos de vista<br />
de um famoso mestre da universidade ou, então, a gente acompanha o<br />
modismo da hora, seja ele naturalista, panteísta ou evolucionista.<br />
E, diante do fato de que não se visualizou mais nenhuma tarefa no<br />
sentido de pensar a partir da perspectiva da fé, e porque se esteve pronto<br />
a abrir mão de pensar ou, então, a pensar de forma desvinculada da fé,<br />
outras visões de mundo puderam se instalar com sucesso, ocupando o<br />
terreno abandonado. Aí entram a visão de história de Hegel (século 19),<br />
o racismo dos nazistas e o comunismo marxista. Por mais distintos que<br />
sejam, estes sistemas têm em comum o fato de submeterem todos os<br />
âmbitos da realidade à sua forma de pensamento: as escolas e o direito, a<br />
compreensão da natureza e da história, a formação das artes e da cultura.<br />
Quando uma ideologia destas se instala, ao menos uma coisa acontece:<br />
o ser humano é poupado de sempre de novo optar entre esta ou aquela<br />
explicação da realidade. Em cada cômodo da casa existe o domínio do<br />
mesmo espírito, do mesmo ponto de vista, da mesma organização.<br />
Em contraste com isto, quão dignos de pena são nossos filhos, mesmo<br />
quando frequentam uma “escola comunitária cristã”. Afora a devoção matinal<br />
e o esporádico culto escolar, não recebem uma orientação cristã definida<br />
em sua forma de pensar. A manhã de aulas pode transcorrer assim: das<br />
8 às 9 leciona um físico que ficou parado no tempo de Ernst Haeckel. Na<br />
aula seguinte, faz-se história na visão biológica de Oswald Spengler. Às 10<br />
6<br />
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PENSAR COMO CRISTÃO<br />
horas é possível que entre na sala um pastor pietista. Às 11 horas, tem<br />
educação física, ministrada por uma professora que se orienta pela cultura<br />
do corpo dos gregos. O professor de alemão segue este ou aquele linguista.<br />
Assim, numa manhã as crianças passam por todo o mercado das mundivisões.<br />
Mesmo que não consigam entender com clareza qual é o sistema<br />
que está por trás daquilo que lhes está sendo “empurrado”, elas percebem<br />
que existe uma pluralidade e pontos de vista contrários que as levam à<br />
insegurança. Não admira que muitos pais optem pela escola pública, onde<br />
ao menos tudo é apresentado do ponto de vista da antroposofia. À luz disto<br />
fica a pergunta: Não seria possível explicar e formatar o todo da realidade<br />
do mundo a partir da fé evangélica? Por que só o Kremlin, o Vaticano e o<br />
Goetheanum podem apresentar uma visão de mundo universal, ao passo<br />
que na Igreja Evangélica fica mais ou menos aos cuidados do acaso que<br />
orientação de pensamento a gente vai seguir? A gente evita o conceito<br />
“mundivisão evangélica”, pois cheira a um sistema pronto que, por razões<br />
que ainda serão apresentadas, não nos podemos permitir. Karl Heim e seu<br />
discípulo Otto Dilschneider preferiram falar em “Mundivisão da Fé”, que é<br />
melhor, pois evita o mal entendido daquilo que está pronto e é estático.<br />
Vamos tentar colocar alguns marcos que são essenciais para esta tarefa<br />
do pensar como cristão. É preciso levar em conta que o ser humano<br />
afastado de Deus não apenas é mau, mas também erra em seus juízos<br />
e avaliações. “O pecado sempre tem esse poder de obscurecer o entendimento”<br />
(Adolf Schlatter). Todos sabemos que o ódio obscurece nossos<br />
juízos e a falta de amor nos torna cegos e injustos. Por isso, é preciso<br />
contar com a possibilidade de que dogmas científicos, vistos como alcançados<br />
de forma objetiva e, assim, tidos por confiáveis, podem ser fruto<br />
de observação e/ou conclusão equivocada. A isto se deve acrescentar<br />
que, a partir da revolução francesa, o pensamento ocidental se afastou<br />
cada vez mais do sol de verdade do evangelho. A superbia, que dispensa<br />
Deus, não é um bom ponto de partida para a pesquisa científica. Por isto,<br />
há uma profunda mudança na forma de pensar da pessoa que chega à<br />
fé. A fé, que é uma postura de confiança pessoal em Deus, que ganhou o<br />
meu coração em Jesus Cristo, se torna fundamento e diretriz, não apenas<br />
de todo o conhecimento de Deus, mas das compreensões humanas e da<br />
explicação do mundo.<br />
Como a fé se faz de sempre renovadas decisões no encontro diante de<br />
Deus, este intelligere ex fide e post fidem nunca pode assumir a forma de<br />
um sistema pronto. É, ao contrário, uma constante luta por conhecimento<br />
melhor e mais completo daquilo que Deus nos deu e de que ele nos encarregou,<br />
neste mundo. Nisto a visão de mundo da fé se distingue de todo<br />
tipo de gnose. Para a gnose, não há um “ainda não” (limite escatológico).<br />
Na iluminação, o gnóstico já tem tudo. Não conhece a humilitas, que diz:<br />
7<br />
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Igreja Luterana<br />
Conhecemos em parte. Todavia, por mais que a fé seja uma “sabedoria<br />
no pó” (como disse, entre outros, Bengel), ela se distingue claramente<br />
do ceticismo. A fé está disposta a permitir um autêntico relacionamento<br />
entre oração e pensamento, não no sentido superficial, como se a oração<br />
nos dispensasse de pensar, mas como promessa de que o Espírito de Deus<br />
pode nos guiar a toda a verdade, se pedirmos a ajuda do alto.<br />
A pergunta decisiva é: com que se parece tal fides quaerens intellectum<br />
(fé que procura entender) na prática e quem a torna realidade ou efetua?<br />
Esta tarefa de ativar o pensamento a partir da fé não deve de jeito nenhum<br />
se restringir às instituições de ensino teológicas, tampouco limitar-se a<br />
um repensar e expandir do dogma cristão. Por mais que tenha havido<br />
uma liderança dos teólogos neste campo, seria fatal se o pensamento a<br />
partir da fé se detivesse na fronteira da teologia e deixasse a explicação<br />
e formatação dos demais domínios da realidade do mundo entregues a<br />
sistemas estranhos ao cristianismo e até contrários a ele. Muito antes, é<br />
preciso fazer a tentativa de entrar também nos domínios não teológicos<br />
a partir da fé evangélica, em trabalho intelectual responsável.<br />
O teólogo sozinho não está à altura desta empreitada. Falta-lhe, em<br />
primeiro lugar, a formação ampla para tanto. Por outro, corre o risco de<br />
aparecer como alguém que quer impor um sistema teocrático ou clerical<br />
em nome de sua confissão. Isto não encontra eco em outras faculdades.<br />
Essa tarefa só poderá ser realizada por pessoas que são altamente competentes<br />
em suas áreas mas que ao mesmo tempo em sua vida tiveram<br />
um tão forte e poderoso encontro com o evangelho que não podem senão<br />
submeter, não apenas a sua vida, mas também a sua vocação, ao senhorio<br />
de Cristo. O papel do teólogo será o de acompanhar e dar apoio,<br />
procurando ver se aquele é de fato o evangelho, etc.<br />
Com certeza, há uma diferença, na consecução deste alvo, entre ciências<br />
naturais e ciências humanas. A soma dos ângulos do triângulo continua<br />
180 graus e o teorema de Pitágoras não muda só porque o matemático se<br />
tornou cristão. As descobertas da física e da química, os achados da anatomia<br />
e da fisiologia não são afetados pelo fato de um pesquisador ser ateu,<br />
outro cristão. Mas no momento em que deixamos o domínio das ciências<br />
exatas e entramos em áreas que têm a ver com a personalidade, será da<br />
máxima importância se me identifico com o marxismo ou a antroposofia,<br />
o cristianismo católico ou evangélico. Há uma diferença astronômica entre<br />
interpretar a história de modo materialista, determinada pelos dados<br />
da natureza, e entendê-la como “o desafio a decisões responsáveis em<br />
diferentes momentos históricos”. No primeiro caso, o decurso da história<br />
está obrigatoriamente determinado; no segundo, posso e devo agir historicamente<br />
e não preciso cair em desespero fatalista. Há uma grande<br />
diferença entre entender a questão judaica de forma racial e biológica,<br />
8<br />
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PENSAR COMO CRISTÃO<br />
na esteira de H. St. Chamberlain e Alfred Rosenberg, ou se permito que<br />
Romanos 9-11 me forneça a chave para decifrar este povo tão misterioso<br />
e sua caminhada tão sofrida ao longo dos séculos. Posso conceber as doenças<br />
apenas sob a perspectiva médica ou das ciências naturais, chegando<br />
necessariamente a um tratamento localizado de sintomas. Mas, no caso da<br />
doença, posso ter diante dos olhos o ser humano em sua totalidade, vendo<br />
como sofre sob conflitos de culpa, golpes do destino e falta de sentido em<br />
sua existência e me empenharei em ajudá-lo em seu todo, tanto em suas<br />
necessidades de ordem física quanto de ordem espiritual. A jurisprudência<br />
moderna conhece uma formulação positivista e uma fomulação metafísica<br />
do direito. Fará diferença se o ponto de vista do jurista for determinado por<br />
um ou por outro. Também a arte não é jamais uma questão meramente<br />
estética. Claro, há muitos artistas que querem ficar longe da discussão<br />
em torno do valor. O que vale, argumenta-se, é se a peça foi bem feita ou<br />
não, independentemente de seu valor ético. Nem por isso o artista escapa<br />
do fato de sempre estar a serviço de uma força espiritual, seja ela santa,<br />
nobre, ou comum e destrutiva. É totalmente impossível desvincular a<br />
tarefa da formação acadêmica das marcas da sua visão de mundo. Basta<br />
examinar os livros de texto ou livros escolares de uma escola marxista,<br />
uma escola de convento e uma escola antroposófica: em cada página se<br />
percebe qual o espírito que está por trás de tudo, na história mundial, na<br />
história da literatura e na história da cultura! Será que apenas a escola<br />
evangélica deveria abrir mão de ter sua própria cara?<br />
Hoje se ouve muitas vezes e sempre de novo a queixa de que a mentalidade<br />
cristã não aparece na vida pública. Esta é uma grande necessidade,<br />
mas há um problema bem maior no fato de termos banido a realidade<br />
do Deus vivo do âmbito das ciências. Nosso pensar passou a ser feito<br />
longe de Deus e de forma estranha a Deus, e não devemos nos admirar<br />
que isso tenha levado a sintomas de profunda enfermidade espiritual em<br />
nossos dias.<br />
O pensar a partir da fé fica subordinado à theologia crucis (“teologia<br />
da cruz”). Não há nada mais tolo do que supor que, numa atitude típica<br />
de orgulho gnóstico, se possa promover uma theologia gloriae (“teologia<br />
da glória”). O pensar na fé está consciente da fragmentariedade de seus<br />
esforços. Nunca está concluído, mas permanece em movimento rumo ao<br />
alvo final, que alegres aguardamos, na esperança. A visão de Deus e, com<br />
isto, a percepção plena de todos os seus caminhos e obras estão reservados<br />
ao ser humano da ressurreição, no novo mundo de Deus. E mesmo<br />
assim, a fé não pode senão pedir, já neste mundo, um olhar iluminado de<br />
entendimento. Tal meta-noética não passa de antegosto de bens futuros.<br />
Mas como poderíamos ter certeza do que é vindouro, se não recebermos<br />
já agora, na fé, o início de sua concretização?<br />
9<br />
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10<br />
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3º siMPÓSIO INTERNACIONAL DE LUTERO<br />
O Seminário Concórdia promoveu o 3º Simpósio Internacional de Lutero<br />
nos dias 7 a 10 de julho de 2009. O simpósio iniciou com um culto<br />
cuja mensagem foi proferida pelo Presidente da IELB, Dr. Paulo Moisés<br />
Nerbas. O tema do simpósio, “Lutero e o culto cristão: o que acontece<br />
quando Deus e homem se encontram no culto?” foi analisado em quatro<br />
palestras e em debates em grupos e em plenário. O Dr. Robert Rosin, do<br />
Concordia Seminary de Saint Louis, discorreu sobre “A teologia do culto:<br />
O que é e o que não é culto cristão para Lutero”. O Rev. Albérico Baeske,<br />
pastor aposentado da IECLB, palestrou sobre “A pregação no culto”. O<br />
Rev. Prof. Ms. Clóvis Gedrat, pastor da IELB, falou sobre “Liturgia, música e<br />
hinos em Lutero.” O Dr. Claus Schwambach, diretor da Faculdade Luterana<br />
de Teologia de São Bento, SC, da IECLB, apresentou o tópico “Formas de<br />
culto em Lutero.” Os pastores da IELB, Breno Thomé e Fernando Ellwanger<br />
Garske apresentaram uma reação às palestras na última sessão do encontro.<br />
Devoções no início de cada dia de atividades foram dirigidas pelos<br />
pastores Arnildo Schneider, Wilmar Meister e Dr. Acir Raymann.<br />
O 3º Simpósio Internacional de Lutero integra e deu início a uma<br />
série de programações previstas pelo Seminário Concórdia na contagem<br />
regressiva para a celebração dos 500 Anos de Reforma Luterana em 2017.<br />
Ao mesmo tempo, o simpósio marcou a etapa final na unificação dos<br />
Seminários da IELB visto que, com sua realização, todos os programas<br />
anteriormente desenvolvidos pela Escola Superior de Teologia de São Paulo<br />
estão agora sendo promovidos pelo Seminário Concórdia de São Leopoldo.<br />
Os dois primeiros simpósios, realizados em 1996 e 1999 em São Paulo,<br />
tiveram como temas, respectivamente: “Lutero e o ministério pastoral” e<br />
“Comunhão e separação no altar do Senhor”. O livro reunindo os textos<br />
do 2º Simpósio foi oficialmente lançado pela Editora Concórdia na sessão<br />
de encerramento do 3º Simpósio.<br />
Desde o início, foram estabelecidos dois objetivos principais para os<br />
simpósios de Lutero:<br />
1. Fomentar o estudo da teologia de Lutero<br />
1.1. Incentivar pastores e teólogos brasileiros e latino-americanos a<br />
lerem e pesquisarem as obras de Lutero;<br />
1.2. Criar um fórum onde a pesquisa em Lutero possa ser compartilhada<br />
e debatida;<br />
1.3. Manter vínculos com faculdades de teologia e outras instituições<br />
que se dedicam ao estudo da teologia de Lutero, convidando seus pesquisadores<br />
para apresentarem suas pesquisas no simpósio.<br />
11<br />
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Igreja Luterana<br />
2. Divulgar a teologia de Lutero<br />
2.1. Aprofundar o conhecimento da teologia de Lutero entre o povo<br />
luterano e evangélico do Brasil e da América Latina;<br />
2.2. Tornar Lutero e sua teologia conhecidos por um público brasileiro<br />
e latino-americano mais amplo, além do círculo das igrejas luteranas e<br />
evangélicas;<br />
2.3. Estimular a publicação de pesquisas em torno de Lutero.<br />
O 3º Simpósio Internacional de Lutero, ao enfocar o culto cristão,<br />
ocupou-se de um tema muito próximo de cada cristão. Cultos acontecem<br />
toda a semana, ou todo o domingo. Acontecem de uma ou de outra maneira.<br />
Podem ser simples rotina irrefletida ou podem ser celebrações bem<br />
conscientes, bem pensadas e elaboradas.<br />
É possível suscitar muitas indagações relativas ao culto. Por exemplo:<br />
qual é sua importância no contexto das atividades do pastor e da congregação?<br />
Quanto tempo pode/deve ser despendido em sua preparação?<br />
Que outras atividades do pastor competem em importância com o culto?<br />
E, conduzindo a reflexão para o campo teológico, se pergunta: O que<br />
acontece, realmente, no culto? Certamente, espera-se que ali aconteça um<br />
encontro entre Deus e o homem. Mas, como se dá esse encontro? Quem<br />
vai ao encontro de quem? Em outras palavras, o culto é primordialmente<br />
um evento antropocêntrico ou teocêntrico?<br />
Algumas épocas da história da igreja refletiram sobre tais questões<br />
mais do que outras. Uma dessas épocas foi a da Reforma. Quando Lutero<br />
redescobriu o Evangelho da justificação do pecador por causa de Cristo<br />
e de sua expiação vicária, esta descoberta se refletiu necessariamente<br />
também sobre o culto e a maneira como este é compreendido e celebrado.<br />
Por essa razão, os 101 participantes do simpósio tomaram as ponderações<br />
e propostas de Lutero como seu ponto de partida na reflexão sobre o culto<br />
cristão e seu significado para os cristãos de todos os tempos.<br />
Paulo Wille Buss<br />
Coordenador do Simpósio<br />
12<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
1. Introdução<br />
Raul Blum*<br />
“O SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra”<br />
(Hb 2.20). Este versículo nos faz refletir sobre a nossa participação no<br />
culto. Ele nos faz lembrar de que no culto Deus nos fala e nós ouvimos.<br />
Deus revelou-se a nós em sua palavra e é nesta palavra que Deus nos vai<br />
moldar e fazer seus discípulos. E Jesus nos garantiu: “Onde dois ou três<br />
estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20).<br />
Jesus está conosco em sua palavra. É sua palavra que vai nos orientar<br />
em tudo aquilo que fizermos, inclusive no culto. Nós não podemos cultuar<br />
como nós queremos ou inventamos; nós precisamos cultuar assim como<br />
Deus quer que ele seja cultuado.<br />
E Deus quer o nosso louvor; ele mesmo nos conduz a isso. Paulo<br />
nos estimula para o louvor quando escreve: “Habite ricamente em vós a<br />
palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a<br />
sabedoria, louvando a Deus com salmos, e hinos, e cânticos espirituais,<br />
com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra,<br />
seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a<br />
Deus Pai” (Cl 3.16-17). Tudo o que fizermos precisa ser feito em nome<br />
do Senhor Jesus.<br />
Nosso assunto é “O que é música sacra ou hino sacro?”. A música sacra<br />
ou hino sacro também precisa ser feita “em nome do Senhor Jesus”.<br />
Vamos, então, examinar este assunto.<br />
2. O surgimento dos hinos<br />
“E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras” (Mt<br />
26.30). No dia da instituição da Santa Ceia, Jesus e seus discípulos<br />
cantaram um hino. Era um salmo do Antigo Testamento. Ainda era uma<br />
cerimônia da Páscoa do Antigo Testamento.<br />
À música herdada do Antigo Testamento, aqueles salmos que o povo<br />
sabia cantar, a igreja cristã começou a acrescentar novos hinos. Podemos<br />
perceber que o apóstolo Paulo incentiva o surgimento de novas canções<br />
* Raul Blum é professor de música no Seminário Concórdia de São Leopoldo/RS. Palestra<br />
proferida no 4º Encontro de Músicos no Seminário Concórdia de São Leopoldo/RS, em 26 de<br />
setembro de 2009.<br />
13<br />
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Igreja Luterana<br />
quando estimula os colossenses a louvar a Deus com “salmos, hinos e<br />
cânticos espirituais” (Cl 3.16). Salmos, sem dúvida, são aqueles do Antigo<br />
Testamento e, talvez, também aqueles cânticos registrados nos primeiros<br />
dois capítulos de Lucas. Mas, “hinos e cânticos espirituais” nos levam a<br />
pensar em novas composições.<br />
Durante a Idade Média, com o avanço do império romano, a igreja<br />
também se alastrou rapidamente. A igreja cristã antiga cantava nos cultos.<br />
Mas, a partir do século IV, quando o cristianismo se tornou a religião<br />
oficial do império, o canto congregacional foi gradualmente diminuído.<br />
Grandes catedrais eram construídas com dinheiro do estado e cantores<br />
profissionais, os clérigos, eram cada vez mais utilizados para dar beleza<br />
ao desempenho do culto. Surgiu a Schola Cantorum, que preparava músicos<br />
profissionais para os cultos. O papa Gregório (Gregório I, papa de<br />
590-610 ou Gregório II, papa de 669-731) introduziu o canto gregoriano<br />
como o único canto a ser cantado nos cultos, que é muito complexo para<br />
a congregação cantar.<br />
O canto gregoriano era somente a uma voz; mesmo o coro cantava em<br />
uníssono. Após o século X, surgem composições a mais vozes, o organum,<br />
o conductus e, depois, o motetus. No entanto, são composições para coros<br />
e solistas treinados. O povo assiste ao culto; não tem condições de cantar<br />
junto, pois tudo precisa ser treinado. Além disso, a liturgia também era<br />
cantada numa complexidade que o povo não conseguia entoar.<br />
Com o surgimento da Reforma no século XVI, a situação do canto congregacional<br />
volta a ser semelhante à igreja antiga: o canto congregacional<br />
ressurge. E, junto com o canto congregacional, a composição de hinos<br />
na língua do povo. Lutero compõe hinos e pede colaboração de outros<br />
compositores e poetas. Calvino restringe o canto congregacional ao canto<br />
uníssono de salmos metrificados. Mas ambos os reformadores deixam<br />
o povo cantar. E isto fez grande diferença na participação do povo nos<br />
cultos. O povo agora se sentia parte da ação litúrgica na igreja. Zwínglio<br />
é exceção na Reforma, pois proíbe instrumentos no culto e, finalmente,<br />
também proíbe até o canto congregacional.<br />
3. Paradigmas de louvor em Lutero 1<br />
Para Lutero, a música é acima de tudo criação e dom de Deus. No seu<br />
escrito Symphoniae iucundae, que ele dirige a Jorge Rhau, escreve: “Eu<br />
certamente gostaria de exaltar a música de todo o meu coração como o<br />
1<br />
Lutero não tem um escrito específico sobre os paradigmas de louvor que ele teria usado. Carl<br />
Schalk, em seu livro Luther on Music: paradigms of praise, faz uma apanhado das referências<br />
de Lutero à música e estabelece os cinco paradigmas de louvor que ele encontrou em Lutero<br />
e que são citados neste artigo.<br />
14<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
dom excelente de Deus que é e recomendá-la a todos”. 2 Naquelas chamadas<br />
Conversas de mesa, Lutero enfatiza a necessidade de se ensinar<br />
este dom de Deus à juventude.<br />
A música é um dom destacado de Deus o mais próximo da<br />
teologia. Eu não gostaria de desistir do meu superficial conhecimento<br />
de música nem por um grande motivo. E à juventude<br />
deveria ser ensinada esta arte; pois ela faz pessoas excelentes<br />
e habilitadas. 3<br />
Outro paradigma de louvor para Lutero é a música como proclamação<br />
e louvor. O dom de Deus não tem um fim em si mesmo. Ele precisa servir<br />
para o louvor e a glória do Criador, especialmente para a proclamação<br />
de sua palavra. Em carta dirigida ao músico católico Ludvig Senfl, Lutero<br />
enfatiza que a música é singular para a proclamação do evangelho:<br />
Esta é a razão por que os profetas não fizeram uso de nenhuma<br />
arte exceto música; quando expuseram sua teologia, eles não<br />
a fizeram como geometria, nem como aritmética, nem como<br />
astronomia, mas como música, de maneira que eles seguraram<br />
teologia e música firmemente conectadas, e proclamaram a<br />
verdade através de Salmos e canções. 4<br />
Lutero queria conservar todas as tradições que não conflitassem com<br />
os ensinos bíblicos. Por isso manteve a estrutura da liturgia histórica e<br />
utilizou também a música como canto litúrgico. A diferença que Lutero<br />
promoveu no culto ou missa, é que o povo passou a cantar também a<br />
liturgia, além dos hinos. Conserva-se a liturgia tradicional, reformada nos<br />
erros doutrinários e dando participação ativa no canto do povo. Lutero<br />
entendia que o culto todo, inclusive os hinos, fazem parte da liturgia. Para<br />
que o povo pudesse participar com mais fluência na liturgia, versificou o<br />
Credo e o Sanctus, transformando-os em hinos.<br />
Outro paradigma de louvor para Lutero é a música como o canto dos<br />
sacerdotes reais. O canto congregacional é consequência natural do sacerdócio<br />
real de todos os crentes. No sermão de dedicação da Igreja do<br />
Castelo de Torgau, Lutero afirmou:<br />
Pois quando eu prego, quando nós nos reunimos como uma congregação,<br />
isto não é minha palavra ou meu fazer; mas é feito em<br />
2<br />
LW 53:321<br />
3<br />
PLASS, Ewald M. What Luther Says, p. 979.<br />
4<br />
LW 53:323-24.<br />
15<br />
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Igreja Luterana<br />
favor de todos vocês e em favor de toda a igreja... Assim também<br />
todos eles oram e cantam e dão graças em conjunto; aqui não<br />
há nada que alguém tenha ou faça por si mesmo somente; mas<br />
o que cada um tem também pertence ao outro. 5<br />
As consequências de entregar novamente ao povo a prática do sacerdócio<br />
de todos os crentes foram que a Bíblia e a liturgia foram dadas ao<br />
povo; os cantos de Lutero, muitos deles adaptados do canto gregoriano,<br />
facilitaram o canto congregacional; também o coro da congregação fez<br />
parte da assembleia do culto.<br />
Finalmente, mais um paradigma de louvor em Lutero é a música como<br />
um sinal de continuidade com toda a igreja. No seu escrito Recebendo<br />
ambas as espécies no sacramento, Lutero comentou: “Que a antiga prática<br />
continue. Que a missa seja celebrada com vestimentas consagradas, com<br />
cantos e todas as cerimônias usuais em latim, reconhecendo o fato que<br />
estes são meros fatores externos que não prejudicam as consciências dos<br />
homens”. 6 Lutero não abandonou a herança musical da igreja. Conservou<br />
a tradição possível, sem descuidar da criação de novos hinos. Para Lutero,<br />
aceitar a tradição é estar ligado aos cristãos de outros tempos e lugares e<br />
estar lembrado de que a igreja é única, santa, católica e apostólica, enfim,<br />
que a igreja é a comunhão dos santos. Assim, no seu escrito Tratado sobre<br />
as últimas palavras de Davi, Lutero escreve:<br />
Santo Ambrósio compôs muitos hinos da igreja. Eles são chamados<br />
hinos da igreja porque a igreja os aceitou e os canta simplesmente<br />
como se a igreja os tivesse escrito e como se eles fossem os cantos<br />
da igreja. Por isso, não é costume dizer “Assim canta Ambrósio,<br />
Sedúlio”, mas “Assim canta a Igreja Cristã”. Porque estes são agora<br />
os cantos da igreja, que Ambrósio, Sedúlio, etc. cantam com a<br />
igreja e a igreja com eles. Quando eles morrem, a igreja sobrevive<br />
a eles e prossegue em cantar suas canções. 7<br />
Lutero e seus colaboradores musicais trabalharam dentro destes paradigmas<br />
de louvor. Utilizaram a música como um dom de Deus para a proclamação<br />
do evangelho, louvor de Deus, participação do povo na liturgia,<br />
instrução do povo e fizeram da música um sinal de continuidade da igreja.<br />
A doutrina restaurada foi incutida nas mentes e nos corações do povo.<br />
5<br />
LW 51:343.<br />
6<br />
LW 36:254.<br />
7<br />
LW 15:274.<br />
16<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
4. Aplicações dos paradigmas de louvor de Lutero<br />
Se os pensamentos de Lutero sobre os paradigmas de louvor têm<br />
apenas aplicação histórica para a sua época, então é apenas um interesse<br />
histórico. No entanto, se seus pensamentos são úteis em si, então eles<br />
valem para todas as épocas. Façamos uma breve análise.<br />
Poderíamos dizer com Lutero hoje que o paradigma fundamental do<br />
louvor cristão é a música como criação e dom de Deus? É claro que a<br />
música tem servido como meio de louvor a Deus e ensino cristão durante<br />
séculos. No entanto, a música sempre foi e sempre será um dom de Deus,<br />
mesmo que alguns não reconheçam isso. “Toda boa dádiva e todo dom<br />
perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode<br />
existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17).<br />
Para Lutero, a música é meio para a “viva voz do evangelho”, ou seja,<br />
utilizar a música como proclamação e louvor. Portanto, o texto de hinos<br />
e músicas religiosas é de grande importância. Os textos precisam conter<br />
lei e evangelho, ou seja, a condenação dos pecados e a solução de nossa<br />
vida pecaminosa em Cristo. O que se prega no púlpito precisa ser confirmado<br />
naquilo que se canta. Johann Sebastian Bach fez isto com a sua<br />
obra. Suas cantatas, paixões e oratórios expõem a palavra de Deus. No<br />
final das obras sempre escrevia soli Deo gloria (somente a Deus a glória),<br />
reconhecendo a música como dádiva de Deus. Usando a música como<br />
proclamação da palavra de Deus, estamos louvando a Deus, reconhecendo<br />
que ele é a fonte de todo bem. Os salmos estão repletos de louvor a Deus<br />
e o apóstolo Paulo recomenda: “instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente<br />
em toda a sabedoria louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos<br />
espirituais” (Cl 3.16).<br />
Utilizar a música como canto litúrgico é colocá-la em sintonia com o<br />
ano litúrgico e com o lecionário, ou seja, com os assuntos do dia da igreja<br />
e de acordo com as leituras do dia. A música que está enquadrada com<br />
o assunto do dia ajuda a proclamar e enfatizar a palavra que está sendo<br />
anunciada dentro do tema do dia ou da época em que se está sendo<br />
oficiado o culto.<br />
A música como canto dos sacerdotes reais foi uma das grandes conquistas<br />
da Reforma, algo que a igreja havia deixado de lado por um milênio.<br />
O povo precisa participar da liturgia e do culto como um todo. O crente<br />
na congregação não é mero espectador. Aí a cultura local, os costumes<br />
locais podem ser utilizados. O povo precisa participar segundo seus dons<br />
e segundo suas habilidades musicais. Colocar instrumentos que o povo<br />
saiba tocar ou possa aprender, cantar músicas que o povo possa cantar<br />
ou possa aprender sem esquecer a cultura local. A música e o canto são<br />
da congregação e não de um grupo apenas.<br />
17<br />
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Igreja Luterana<br />
Finalmente, Lutero nos faz ver também nos dias atuais que precisamos<br />
utilizar a música como sinal de continuidade com toda a igreja. Lutero<br />
utilizou música do passado e do presente. Somos parte da igreja universal<br />
e a música composta em tempos passados e utilizada hoje representa isso<br />
vivamente. Mas a utilização de músicas antigas não despreza o presente,<br />
aquilo que se faz agora. É a continuidade da existência da igreja: olhamos<br />
para frente, examinamos nossos problemas e solução para agora e para o<br />
futuro e o expressamos em nossos hinos e nas nossas músicas atuais.<br />
5. Orientações para análise<br />
de hino cristão ou música cristã<br />
As orientações que seguem foram criadas pela Comissão de Culto da<br />
The Lutheran Church - Missouri Synod (LCMS) dos Estados Unidos. 8 O<br />
material publicado pela Comissão de Culto serve para analisar o conteúdo<br />
de hinos e também orienta sobre a música adequada para canto congregacional.<br />
Consequentemente, este material pode nos auxiliar também<br />
nas criações de nossos hinos e músicas atuais que estão surgindo em<br />
nossa igreja.<br />
5.1 Considerações sobre o texto<br />
Um hino ou outra composição sacra não vai conter cada assunto da<br />
doutrina cristã. Cada texto vai ter sua ênfase doutrinária: batismo, santa<br />
ceia, justificação pela fé, santificação, fim dos tempos. No entanto, mesmo<br />
que um texto não possa dizer tudo, ele precisa dizer algo sobre Deus e a<br />
fé cristã. Cuidado especial precisa haver para que um texto não diga algo<br />
que é contra a palavra de Deus.<br />
Examinemos as sugestões para análise de textos de hinos apresentados<br />
pela Comissão de Culto da LCMS. São questões diagnósticas que nos<br />
podem ajudar a avaliar o texto seguindo critérios doutrinários.<br />
Considere este exemplo ao revisar o hino “Em Jesus amigo temos”:<br />
O texto apresenta<br />
Jesus como o<br />
Salvador que morreu<br />
pelos pecadores?<br />
__X_______________<br />
Ou é a figura de Jesus<br />
meramente como um<br />
companheiro, amigo<br />
ou modelo?<br />
n/a<br />
Quanto mais o texto seja descrito de acordo com a questão da direita,<br />
tanto menos atenção aquele texto pode demandar. É importante lembrar<br />
8<br />
COMISSION ON WORSHIP, Text, Music, Context; a resource for reviewing worship materials.<br />
18<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
que tal taxação é mais uma arte do que ciência. Além disso, nem todas<br />
as questões se aplicarão a cada texto específico; em tais casos a caixa<br />
“n/a” (não aplicável) pode ser marcada.<br />
5.1.1 Este texto confessa o Deus triúno?<br />
Está claro que o texto é<br />
dirigido ou fala do Deus<br />
triúno?<br />
|___________________|<br />
Ou a<br />
identidade<br />
dirigida a Deus<br />
está sendo<br />
deixada vaga e<br />
incerta?<br />
n/a<br />
O texto dá evidência<br />
da relação das três<br />
pessoas e especialmente<br />
do papel do Filho em<br />
revelar a vontade<br />
graciosa do Pai?<br />
|___________________|<br />
Ou é<br />
mencionada<br />
apenas uma<br />
pessoa da<br />
Trindade com<br />
a exclusão das<br />
outras?<br />
n/a<br />
O texto dá evidência que<br />
nosso conhecimento de<br />
Deus é revelado através<br />
de sua Palavra?<br />
|___________________|<br />
Ou ele sugere<br />
que o Deus<br />
Triúno pode<br />
ser conhecido<br />
à parte de sua<br />
Palavra?<br />
n/a<br />
5.1.2 Este texto aborda a questão do pecado e a nossa condição pecaminosa?<br />
A realidade do pecado<br />
e suas consequências<br />
mortais são expressas<br />
adequadamente?<br />
|___________________|<br />
Ou é<br />
nossa total<br />
impotência<br />
ignorada ou<br />
subestimada?<br />
n/a<br />
19<br />
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Igreja Luterana<br />
O texto expressa nossa<br />
total inabilidade de crer<br />
em Cristo ou vir a ele?<br />
|___________________|<br />
Ou é alguma<br />
habilidade<br />
concernente<br />
à nossa<br />
conversão<br />
atribuída a<br />
nós, sugerindo<br />
talvez que<br />
somos capazes<br />
de nos decidir<br />
a seguir<br />
Jesus?<br />
n/a<br />
5.1.3 Este texto proclama o perdão dos pecados em Cristo Jesus?<br />
O texto apresenta Jesus<br />
como o Salvador que<br />
morreu pelos pecadores?<br />
|___________________|<br />
Ou é a figura<br />
de Jesus<br />
meramente<br />
aquela de<br />
companheiro,<br />
amigo ou<br />
modelo?<br />
n/a<br />
O texto proclama<br />
claramente que somos<br />
justificados diante de<br />
Deus somente pelo amor<br />
de Cristo?<br />
|___________________|<br />
Ou está<br />
este “artigo<br />
principal”<br />
ausente ou<br />
de alguma<br />
maneira feito<br />
irrelevante ou<br />
incerto?<br />
n/a<br />
O evangelho é<br />
apresentado em<br />
imaginação concreta,<br />
recorrendo ao<br />
testemunho bíblico?<br />
|___________________|<br />
Ou é o<br />
evangelho<br />
apresentado<br />
em termos<br />
abstratos,<br />
como “amor”,<br />
“alegria” ou<br />
“paz” – sem<br />
nenhuma<br />
conexão<br />
concreta ao<br />
perdão dos<br />
pecados em<br />
Jesus Cristo?<br />
n/a<br />
20<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
O texto apresenta<br />
boas obras como uma<br />
resposta ao evangelho?<br />
|___________________|<br />
Ou são nossas<br />
boas obras<br />
vistas como<br />
fins em si<br />
mesmas com<br />
a impressão<br />
dada que<br />
por elas<br />
merecemos<br />
salvação?<br />
n/a<br />
5.1.4 Este texto confessa a obra de Deus através dos meios da graça<br />
dentro da igreja?<br />
O texto confessa a<br />
atividade continuada do<br />
Deus triúno na sua igreja<br />
através da Palavra e<br />
Sacramento?<br />
|__________________|<br />
Ou não há<br />
direção dada a<br />
como estamos<br />
conectados<br />
através da<br />
Palavra e<br />
Sacramento<br />
com os dons de<br />
Deus de perdão<br />
e vida?<br />
n/a<br />
5.1.5 Este texto proclama apropriadamente e distingue entre a Lei e<br />
o Evangelho?<br />
É a Lei proclamada como<br />
o que Deus requer de<br />
todos os seres humanos,<br />
e como algo que nos é<br />
impossível observar?<br />
|_________________|<br />
Ou é a Lei<br />
completamente<br />
omitida, ou<br />
apresentada de<br />
tal maneira a nos<br />
fazer pensar que<br />
podemos, em<br />
parte, observá-la?<br />
n/a<br />
Cristo é proclamado<br />
como tendo observado<br />
a Lei perfeitamente para<br />
nós?<br />
|_________________|<br />
Ou é ele<br />
apresentado como<br />
um exemplo que<br />
devemos seguir?<br />
n/a<br />
21<br />
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Igreja Luterana<br />
O texto enfoca os atos<br />
salvíficos de Deus?<br />
|_________________|<br />
Ou é o foco<br />
em mim:<br />
meus desejos,<br />
necessidades e<br />
carências?<br />
n/a<br />
O Evangelho está<br />
fundamentado na<br />
encarnação, crucificação<br />
e ressurreição de Jesus?<br />
|_________________|<br />
Ou ele transmite<br />
meramente um<br />
vago senso de<br />
esperança?<br />
n/a<br />
Mais uma vez é necessário lembrar que a tarefa de revisar textos de<br />
hinos e canções é mais uma arte do que ciência. Por esta razão nenhuma<br />
tentativa foi feita aqui para designar um valor quantitativo para cada texto.<br />
Também é importante compreender que muito poucos hinos vão satisfazer<br />
todos estes critérios. O valor de revisar hinos textos com base nestas questões<br />
é que eles dão aos planejadores de culto uma série de instrumentos<br />
com os quais possam provar a força ou a fraqueza de um texto.<br />
6. Considerações sobre a música<br />
Para Lutero, a música estava secundada apenas pela teologia. Desde<br />
seu início, a Igreja Luterana sempre reconheceu a música como um dom<br />
criado por Deus – um dom que é bom e que deve ser recebido com ações<br />
de graças (1Tm 4.4-5), visto que a música serve como um veículo para<br />
a proclamação do evangelho. Precisamos ter em mente que a música<br />
não é neutra. Ela pode ter associações com contextos particulares e com<br />
épocas específicas. E, para uma melodia congregacional, é preciso ter<br />
em mente que ela seja “cantável” pelo cantor mediano, aquele que não<br />
tem preparo específico. Isto não quer dizer que uma melodia precisa ser<br />
fácil ao extremo, mas que uma melodia possa, com algum ensaio, ser<br />
cantada pela maioria.<br />
Examinemos, então, as sugestões para uma melodia congregacional<br />
dadas pela Comissão de Culto da LCMS.<br />
22<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
6.1 É a melodia adequada para canto corporativo?<br />
A melodia pode<br />
ser cantada<br />
confortavelmente por<br />
uma congregação, seja<br />
grande ou pequena?<br />
|_________________|<br />
Ou ela é<br />
solística no<br />
estilo, exigindo<br />
flexibilidade na<br />
execução que<br />
somente um<br />
solista pode dar?<br />
n/a<br />
A melodia é durável?<br />
Ela é interessante o<br />
suficiente para suportar<br />
uso repetido?<br />
|_________________|<br />
Ou ela é tão<br />
simples no<br />
estilo que a<br />
congregação não<br />
encontra desafio<br />
constante nela?<br />
n/a<br />
6.2 É a melodia cuidadosamente trabalhada para auxiliar no canto?<br />
A melodia ajustase<br />
confortavelmente<br />
na extensão da voz<br />
comum?<br />
|_________________|<br />
Ou ela contém<br />
preponderância<br />
de notas muito<br />
agudas ou muito<br />
graves?<br />
n/a<br />
A melodia exibe um<br />
balanço cuidadoso de<br />
intervalos de segunda e<br />
saltos?<br />
|_________________|<br />
Ou ela contém<br />
saltos difíceis<br />
que deixam a<br />
congregação<br />
surpreender-se<br />
com qual nota<br />
virá depois?<br />
n/a<br />
A melodia usa repetição<br />
de frases de uma<br />
maneira que ajuda o<br />
ensino sem, todavia,<br />
tornar-se enfadonha ou<br />
tediosa?<br />
|_________________|<br />
Ou ela consiste<br />
de constante<br />
material novo<br />
que a torna difícil<br />
de aprender?<br />
n/a<br />
23<br />
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Igreja Luterana<br />
A melodia usa sincopas<br />
de uma maneira que<br />
pareça natural e ajustese<br />
bem com o texto?<br />
|_________________|<br />
Ou as sincopas<br />
são usadas como<br />
uma ferramenta<br />
estilística<br />
com pouca<br />
consideração<br />
com o texto ou<br />
com a habilidade<br />
da congregação<br />
de cantá-la?<br />
n/a<br />
A melodia é capaz de<br />
permanecer por si só e<br />
assim encorajar forte<br />
canto congregacional?<br />
|_________________|<br />
Ou ela é tão<br />
dependente do<br />
acompanhamento<br />
que sem ele a<br />
melodia carece<br />
de caráter e<br />
interesse?<br />
n/a<br />
6.3 A melodia suporta o texto?<br />
A melodia reflete o<br />
texto em termos de<br />
temperamento e estilo?<br />
|_________________|<br />
Ou ela apresenta<br />
um forte<br />
contraste com<br />
o texto (isto é,<br />
uma linha jovial<br />
anexada a um<br />
texto de lamento<br />
ou súplica)?<br />
n/a<br />
As palavras e a<br />
melodia ajustam-se<br />
naturalmente?<br />
|_________________|<br />
Ou há<br />
irregularidades<br />
que resultam em<br />
confusão silábica<br />
de uma estrofe à<br />
seguinte ou um<br />
acento artificial<br />
do texto para<br />
ajustar-se à<br />
música?<br />
n/a<br />
A melodia é notável sem<br />
obscurecer o texto?<br />
|_________________|<br />
Ou ela domina o<br />
texto a tal ponto<br />
que é a melodia<br />
e não o texto que<br />
é lembrado?<br />
n/a<br />
24<br />
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O QUE É MÚSICA SACRA OU HINO SACRO?<br />
É a melodia capaz de<br />
carregar a palavra de<br />
Deus de uma maneira<br />
digna?<br />
|_________________|<br />
Ou a melodia<br />
torna o<br />
texto trivial,<br />
roubando-o da<br />
dignidade que<br />
é inerente a<br />
qualquer texto<br />
que proclama<br />
Cristo e seus<br />
benefícios?<br />
n/a<br />
Sem dúvida, estamos lidando aqui com elementos subjetivos sobre os<br />
quais pode haver discussões. No entanto, quando se trata de canto congregacional,<br />
o fato objetivo é que a congregação possa tomar parte ativa, cantando<br />
naturalmente sem a necessidade de ter alguém para “puxar” o canto<br />
com um microfone. Quando o canto é destinado a um solista, as orientações<br />
musicais acima para o canto congregacional não se aplicam necessariamente.<br />
Um solista é treinado e pode ser exigido mais em seu desempenho do canto<br />
do que a congregação. No entanto, as orientações doutrinárias para o texto<br />
precisam ser consideradas para qualquer tipo de música cristã.<br />
7. Conclusão<br />
Nossa tarefa como músicos cristãos é abençoada: lidamos com uma<br />
criação e dom de Deus. Por isso mesmo nossa tarefa como músicos cristãos<br />
é de grande responsabilidade: precisamos transmitir aquilo que Deus<br />
quer que transmitamos: a sua palavra. E é nesta tensão que precisamos<br />
trabalhar: Deus nos deu o dom da música e este dom precisa ser usado<br />
com responsabilidade: para Deus, o melhor. Para tanto, precisamos de<br />
constante aperfeiçoamento musical e doutrinário para que possamos utilizar<br />
da melhor maneira possível nosso dom e para que possamos também<br />
transmitir a palavra de Deus com precisão e pureza de doutrina.<br />
No culto não somos apresentadores de espetáculo; somos condutores<br />
da proclamação da palavra e do louvor a Deus. E a apresentação do<br />
louvor a Deus é de toda a congregação. Portanto, sejamos organistas,<br />
tecladistas, guitarristas ou bateristas, o volume de nossos instrumentos<br />
não pode sufocar o canto congregacional.<br />
Neste encontro de músicos estamos procurando resposta para a indagação:<br />
“Qual é o papel da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB)<br />
para a música cristã do século XXI?” Jamais, em toda a história da música<br />
sacra, foram produzidas tantas canções novas como em nossos dias.<br />
Isto é um dom de Deus. No entanto, é um dom que precisa ser utilizado<br />
adequadamente. Existem muitos textos que não expressam a fé cristã<br />
25<br />
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Igreja Luterana<br />
corretamente e que põem méritos na pessoa em vez de colocá-los em<br />
Deus. Precisamos saber fazer uma seleção dos textos que usamos para<br />
transmitirmos realmente aquilo que Deus quer que transmitamos.<br />
Portanto, temos uma importante tarefa a cumprir. O principal é que o<br />
texto que criarmos seja a expressão, interpretação e aplicação da palavra<br />
de Deus para nós hoje. Não podemos divagar, imaginar e criar fantasias<br />
em nossas letras. Precisamos expressar a pura palavra de Deus, a doutrina<br />
correta da fé cristã em linguagem atual. “Qual é o papel da IELB para a<br />
música cristã no século XXI?” Não resta dúvida: cabe a nós interpretarmos<br />
os nossos dias, nossas ansiedades e necessidade para com Deus e para<br />
com o próximo e expressar isto em nossas músicas com doutrina correta<br />
e aplicação adequada, segundo a perspectiva da revelação de Deus em<br />
sua palavra.<br />
O papel da IELB para a música cristã no século XXI está na resposta<br />
ao significado de música sacra ou hino sacro. Um hino sacro é aquele que<br />
transmite a palavra de Deus, fundamentado na Escritura, com clareza de<br />
Lei e Evangelho, sem divagações pessoais que contradigam a iniciativa de<br />
Deus em nos oferecer gratuitamente a salvação. O texto de um hino ou<br />
de qualquer obra sacra é que transmite este conteúdo e a música é que<br />
conduz este texto na arte que é uma criação e dom do próprio Deus.<br />
Deus nos conduza neste sentido.<br />
Referências<br />
BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil,<br />
1999.<br />
BLUM, Raul. Lutero e Seus Escritos em Forma de Poemas e Hinos. In:<br />
Lutero, o Escritor. Fórum Ulbra de Teologia – volume 3. Canoas: Editora<br />
da ULBRA, 2006, p. 67-115.<br />
COMISSION ON WORSHIP. Text, Music, Context: a resource for reviewing<br />
worship materials. Saint Louis: The Lutheran Church - Missouri Synod,<br />
2004.<br />
DREHER, Martin N. Lutero e a música. In: Martinho Lutero: obras selecionadas,<br />
v. 7. São Leopoldo/Porto Alegre: Editora Sinodal/Concórdia Editora,<br />
2000, p.473-484.<br />
HINÁRIO LUTERANO – 17 ed. Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Porto<br />
Alegre: Concórdia, 2007.<br />
LIEMOHN, Edwin. The Singing Church. Ohio: The Watburg Press, 1959.<br />
SCHALK, Carl F. Luther on Music: paradigms of praise. Saint Louis: Concordia<br />
Publishing House, 1988.<br />
WESTERMEYER, Paul. Te Deum: the church and music. Minneapolis: Fortress<br />
Press, 1998.<br />
26<br />
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MISSÃO URBANA E A<br />
<strong>IGREJA</strong> DE ANTIOQUIA EM ATOS<br />
Paulo Samuel Albrecht<br />
Acir Raymann*<br />
Deus sempre buscou o ser humano para estar do seu lado. Foi assim<br />
com Adão e Eva depois da queda (Gn 3.15) e será assim até a volta de<br />
Cristo. Deus incansavelmente vai atrás dos seus filhos, oferecendo a sua<br />
graça e amor, que se tornaram manifestos na plenitude do tempo em<br />
Jesus Cristo (Gl 4.4). Por isso é duvidoso que se possa falar da missão<br />
como obra da Igreja; o mais acertado seria falar que missão é obra de<br />
Deus, bem como o fundamento da própria existência da Igreja. É Deus<br />
quem vai atrás do seu povo e o busca, motivando aqueles que são seus<br />
a também ir em busca de outros 1 .<br />
Tendo isto em mente se quer aqui analisar o trabalho missionário e<br />
a congregação cristã na cidade de Antioquia da Síria, um dos mais importantes<br />
centros urbanos do Império Romano. A análise se baseará em<br />
dois textos do livro de Atos dos Apóstolos: 11.19-30 e 13.1-3. Visto não<br />
haver muitas controvérsias e variantes para os textos aqui analisados,<br />
optou-se por não se fazer uma comparação de traduções, mas oferecer-se<br />
uma tradução própria com notas explicativas sobre aspectos gramáticos,<br />
históricos e contextuais do texto. Além disso, na segunda parte, busca-se<br />
fazer uma análise do texto, baseando-se em palavras-chave do mesmo,<br />
as quais revelam a atividade missionária e congregacional daquela igreja,<br />
procurando relacioná-las com as atividades e realidades do mundo e da<br />
igreja hoje.<br />
O MUNDO ROMANO: SEUS<br />
OBSTÁCULOS E OPORTUNIDADES<br />
O mundo romano do primeiro século depois de Cristo apresentava<br />
uma realidade complexa e o evangelho encontrou o seu caminho, aproveitando<br />
os incentivos e tentando vencer os obstáculos que este império<br />
apresentava aos primeiros cristãos. Entre os incentivos estavam: a) a pax<br />
romana, aliada a um sistema de estradas invejável à época e ao constante<br />
*Paulo Albrecht é pastor no Rio de Janeiro, RJ.<br />
Acir Raymann é professor de Exegese no Seminário Concórdia, em São Leopoldo, RS e no curso<br />
de Teologia da Ulbra, Canoas, RS.<br />
1<br />
Obra clássica que trata deste assunto é VICEDOM, Georg. Missão como obra de Deus. São<br />
Leopoldo: Sinodal, 1996.<br />
27<br />
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Igreja Luterana<br />
deslocamento de tropas, especialmente para as regiões mais instáveis,<br />
que estavam sob controle direto do imperador; b) a língua grega, que<br />
era a língua comum do império, aliada à cultura helênica, as quais apresentavam<br />
um vocabulário teológico e filosófico desenvolvido; c) religiões<br />
gregas, que cada vez mais desiludiam o povo com o politeísmo pagão e<br />
que não aliviavam o senso de pecado do povo; d) a religião judaica, da<br />
qual o cristianismo emprestou diversas práticas, como o apego às Escrituras,<br />
padrões éticos elevados e conversão, que desfrutava o status de<br />
religião lícita no império; além disso, judeus e suas sinagogas estavam<br />
espalhados por todo o império. 2<br />
Os obstáculos que se interpunham à pregação do evangelho dos cristãos<br />
do Novo Testamento podem ser divididos em obstáculos colocados<br />
pela: a) religião judaica: pessoas sem formação erudita e formal pregando<br />
o Evangelho, até para sacerdotes e rabinos; a pregação de um Messias<br />
crucificado; e a Igreja como um grupo dentro do judaísmo com crenças<br />
que iam contra as doutrinas deste – heresia que devia ser expulsa; b)<br />
cultura greco-romana: o cristianismo era considerado uma superstitio e<br />
não uma religio licita; tinha padrões éticos muito altos; quanto a questões<br />
intelectuais, defendia a revelação particular de Deus em Jesus Cristo e<br />
proclamava a morte na cruz como algo que dava sentido para o universo,<br />
além de ser uma doutrina nova, o que não era muito do agrado dos cidadãos<br />
romanos. Associado a tudo isto ainda estava a inferioridade cultural<br />
dos cristãos, visto serem eles no começo, em sua maioria, provenientes<br />
de classes mais baixas da sociedade.<br />
As províncias romanas estavam sob o controle dos procônsules e só<br />
eles podiam executar a pena capital, não aceitando, contudo, denúncias<br />
anônimas. Além disso, durante as primeiras décadas havia certa confusão<br />
entre judaísmo e cristianismo, especialmente para os de fora. Os cristãos<br />
também sofriam sob três pesadas acusações: ateísmo, pois não adoravam<br />
os deuses pagãos; incesto, visto se reunirem em lugares particulares,<br />
tratarem-se por irmãos e terem a prática do ósculo santo; e canibalismo,<br />
por falarem que na Ceia comiam o corpo de Cristo. A tudo isso se adicione<br />
o fato de se recusarem a adorar a César e o caldeirão do Império Romano<br />
do primeiro século está prestes a ferver. 3<br />
Os desafios para os primeiros cristãos foram muito grandes. Michael<br />
Green, por isso, defende que foi em Antioquia que o cristianismo saiu<br />
do seu casulo judeu. Ela era uma espécie de microcosmo da antiguidade<br />
romana do primeiro século, pois gozava de quase todas as vantagens,<br />
possuía quase todos os mesmos problemas e perseguia os mais variados<br />
2<br />
GREEN, Michael. Evangelização na igreja primitiva. 2ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova,<br />
1989. p. 11-30.<br />
3<br />
GREEN, Michael. Evangelização na igreja primitiva. 2ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova,<br />
1989. p. 31-54.<br />
28<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
interesses humanos que a fé cristã teria que enfrentar. 4<br />
Se Roger Greenway está certo, poder-se-ia dizer que a Igreja de Cristo<br />
aqui no Brasil tem conexões com Antioquia e é devedora daquela igreja:<br />
Entender Antioquia é crucial para uma percepção bíblica de missão<br />
urbana, porque lá se estabeleceram modelos que definiram<br />
o curso da história da missão e mudaram o mapa religioso do<br />
mundo. [...] A igreja de Antioquia, ao comissionar e enviar os<br />
primeiros missionários para o mundo não-evangelizado, tornouse<br />
a mãe de todas as igrejas gentias. 5<br />
A Igreja de Antioquia em Atos 11.19-30 e 13.1-3<br />
Atos 11.19-30<br />
19 Agora, então 6 , os que foram dispersos 7 pela tribulação 8 , a qual<br />
ocorreu por causa de 9 Estevão, foram até a Fenícia e Chipre e Antioquia,<br />
a ninguém falando a palavra, exceto 10 somente a Judeus. 20 Porém alguns<br />
deles eram homens de Chipre e Cirene, os quais vindo para Antioquia<br />
4<br />
Ibidem, p. 139.<br />
5<br />
GREENWAY, Roger; MONSMA, Timothy. Cities: Mission’s New Frontier. 2a ed. Grand Rapids:<br />
Baker Books, 2000. p. 54.<br />
6<br />
Estas palavras dão a entender que este trecho é algo que não faz parte da narrativa principal,<br />
que acaba no versículo 18, com Pedro defendendo-se diante dos judeus por causa de seu<br />
ministério entre os gentios, e é retomada no primeiro versículo do capítulo doze, onde Herodes<br />
persegue a igreja de Jerusalém. Este trecho parece preparar o leitor para a grande virada de<br />
rumo do livro no capítulo 13, onde Paulo e Barnabé são escolhidos para levar o evangelho<br />
aos gentios. Newman e Nida apontam para o fato de que aquilo que vai ser contado neste<br />
trecho ocorre simultaneamente ao que acontece entre 8.5 – 11.18. (NEWMAN, Barclay M.;<br />
NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on the Acts of the Apostles. Londres: United Bible<br />
Societies, 1972. p. 226)<br />
7<br />
Particípio, aoristo, passivo, nominativo, plural. de diaspei,rw espalhar, dispersar. Os discípulos<br />
não partiram porque quiseram ou por zelo missionário, mas foram obrigados a tal pela<br />
perseguição ue se instaurou após o assassinato de Estevão.<br />
8<br />
Qli/yij tribulação, perseguição. Louw e Nida traduzem como “dificuldade envolvendo sofrimento<br />
direto” e traduzem a primeira parte do versículo como “portanto aqueles que foram<br />
espalhados como resultado da dificuldade e do sofrimento que aconteceu no tempo de (da<br />
morte de) Estevão”. (LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene A. Greek-English Lexicon of the New<br />
Testament: Based on Semantic Domains. Vol. 1 (Introduction and Domains). New York: United<br />
Bible Societies, 1989. p. 243.<br />
9<br />
evpi. esta preposição pode ser traduzida de diversas maneiras, mas aqui parece indicar razão,<br />
causa, motivo. Cf. Ibidem, p. 781. Por causa de seu testemunho diante do Sinédrio (Atos 7 e<br />
8) ele foi assassinado e, provavelmente depois disso, seguiu-se uma perseguição aos demais<br />
cristãos de Jerusalém. Assim, a perseguição foi “por causa de” Estevão, mesmo que indiretamente.<br />
10<br />
eiv mh. exceto. Cf. DANKER, Frederik W. A Greek-English Lexicon of the New Testament and other<br />
Early Christian Literature. 3a ed. Baseado em Bauer, Walter Grieschich-deutsches Wörterbuch zu<br />
den Schriften des Neuen Testaments und der frühchristlichen Literatur. 6a ed. Editado por Kurt<br />
Aland e Barbara Aland, com Viktor Reichmann e edições prévias em inglês de W.F. Arndt, F.W.<br />
Gingrich e F.W. Danker. Chicago: The University of Chicago Press, 2000. p. 278.<br />
29<br />
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Igreja Luterana<br />
começaram a falar 11 também para os Helenistas 12 , proclamando o Senhor<br />
Jesus. 21 E a mão do Senhor era com eles e assim muito [grande era] o<br />
número, que crendo, converteu-se ao Senhor. 22 E a palavra foi ouvida<br />
pelos ouvidos da igreja que está em Jerusalém com respeito a estas coisas<br />
e enviaram 13 Barnabé para ir até Antioquia 23 o qual chegando e vendo a<br />
graça de Deus, alegrou-se e exortava 14 a todos a permanecer no Senhor<br />
com propósito de coração, 24 porque era um homem bom e cheio do<br />
Espírito Santo e fé e uma considerável multidão foi acrescida ao Senhor.<br />
25 E ele partiu para Tarso para procurar Saulo. 26 E achando voltou para<br />
Antioquia. E aconteceu que eles reuniram-se 15 um ano inteiro na igreja e<br />
ensinavam 16 considerável multidão, assim pela primeira vez chamaram 17<br />
em Antioquia os discípulos “cristãos”.<br />
27 E naqueles dias 18 chegaram de Jerusalém profetas a Antioquia.<br />
28 E levantando-se um deles, seu nome Ágabo, comunicava 19 através do<br />
Espírito [que] uma grande fome prestes a acontecer 20 estaria sobre todo<br />
o mundo 21 , a qual aconteceu sob Cláudio. 29 E dos irmãos, assim como<br />
11<br />
O verbo lale,w está aqui no imperfeito (evla,loun). O imperfeito pode ser traduzido de diversas<br />
formas, uma delas sendo com o sentido de começar a fazer alguma coisa (Cf. VOELZ,<br />
James. Fundamental Greek Grammar. 2a ed. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1993.<br />
p. 70). Visto que no versículo 19 os que foram espalhados pela perseguição não falavam a<br />
Palavra aos gentios, e neste os de Cirene e Chipre o fazem, é natural traduzir o imperfeito<br />
aqui por “começaram a falar”. Lenski também é favorável a tal tradução (cf. LENSKI, R. C.<br />
H. The Interpretation of the Acts of the Apostles. Minneapolis: Augsburg Publishing House,<br />
1961. p. 449-450.<br />
12<br />
O termo ~Ellhnista.j é usado parar referir-se a judeus de fala grega e não gentios! (Cf.<br />
DANKER, Frederik W., op. cit., p. 319). Lenski, entretanto, argumenta que é impossível neste<br />
contexto entender esse termo desta maneira, mas que aqui o autor está se referindo a gregos<br />
gentios e o termo correto deveria ser {Ellhnaj (cf. LENSKI, op. cit., p. 449).<br />
13<br />
evxaposte,llw pode ser traduzido como enviar, mas carrega um sentido de enviar em uma<br />
missão oficial (cf. DANKER, op. cit., p. 345-6). Barnabé era um representante autorizado e<br />
legítimo da igreja de Jerusalém, carregava consigo a autoridade daquela igreja (SMITH, Robert<br />
H. Concordia Commentary: Acts. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1970. 182).<br />
14<br />
Imperfeito, indicativo, ativo, 3ª singular de parakale,w = exortar. Lenski defende que este<br />
imperfeito indica que essa exortação de Barnabé era contínua (Cf. LENSKI, op. cit., p. 454).<br />
15<br />
O verbo suna,gw esta aqui no infinitivo passivo, mas transmite mais a idéia reflexiva, isto é,<br />
eles “reuniam-se (uns com os outros)” (Cf. DANKER., op. cit., p. 962).<br />
16<br />
O verbo dida,skw está aqui no infinitivo aoristo. O aoristo no grego enfatiza a ação em si<br />
mesma. Aqui é o ensinar. Contudo fica impossível traduzir como no infinitivo em português.<br />
Uma tradução mais adequada parece ser como um imperfeito, isto é, uma ação contínua que<br />
se realizava durante aquele ano.<br />
17<br />
O verbo crhmati,zw também está no infinitivo aoristo. Os três infinitivos aoristos deste versículo,<br />
de acordo com Lenski, “são aoristos históricos com o simples objetivo de relatar os fatos”<br />
(cf. LENSKI, op. cit., Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1961. p. 457).<br />
18<br />
Ou seja, por aquela época em que Paulo e Barnabé estavam ensinando na igreja.<br />
19<br />
Imperfeito, indicativo, ativo, 3ª singular de shmai,nw = contar, comunicar, indicar, sugerir,<br />
significar (DANKER, op. cit., p. 920).<br />
20<br />
Infinitivo futuro de eivmi,. A fome estava prestes a “ser”, isto é, prestes a ocorrer.<br />
21<br />
Provavelmente o autor está se referindo ao Império Romano. Essa interpretação parece<br />
ser a melhor especialmente porque o autor menciona que tal fome ocorreu sob o imperador<br />
30<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
se tinha algo, determinaram, cada um deles enviar auxílio 22 aos irmãos<br />
que moravam na Judéia 23 , 30 o que fizeram enviando para os presbíteros<br />
através da mão de Barnabé e Saulo.<br />
Atos 13.1-3<br />
1 Estavam em Antioquia, de acordo com aqueles que estavam [na]<br />
igreja 24 , profetas e mestres, a saber: Barnabé e Simeão, que é chamado<br />
Negro, e Lúcio, o Cireneu, Menaém, amigo íntimo de Herodes, o Tetrarca,<br />
e Saulo. 2 Enquanto eles adoravam 25 o Senhor e jejuavam 26 , disse o<br />
Espírito Santo: “Separem-me 27 Barbabé e Saulo para o trabalho ao qual<br />
os chamei 28 .” 3 Então jejuando 29 e orando 30 e impondo 31 as mãos os despediram.<br />
Cláudio (cf. NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on the Acts of the<br />
Apostles. Londres: United Bible Societies, 1972. p. 229).<br />
22<br />
eivj diakoni,an pe,myai. A preposição demonstra propósito e o objeto direto é colocado<br />
antes do verbo.<br />
23<br />
O grego desse versículo é considerado difícil. Contudo, Lenski aponta que mesmo assim ele<br />
transmite dois pontos muito importantes sobre o auxílio enviado por Antioquia: 1) eles determinaram<br />
como um corpo, o verbo está no plural (w[risan); 2) cada um deu sua contribuição de<br />
acordo com o que tinha; o verbo está no singular (euvporei/to,). Cf. LENSKI, op. cit., Minneapolis:<br />
Augsburg Publishing House, 1961. p. 461.<br />
24<br />
BRUCE, F. F. The Acts of the Apostles. Grand Rapids: Eerdmans, 1984. p. 252 e NEWMAN,<br />
Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on the Acts of the Apostles. Londres:<br />
United Bible Societies, 1972. p. 244 “na igreja local”.<br />
25<br />
Particípio, genitivo de leitourge,w. O verbo utilizado sugere que eles estavam em um momento<br />
de culto. O verbo é utilizado no chamado genitivo absoluto, no qual o sujeito também<br />
se encontra no genitivo. Essa construção serve para introduzir uma ação que está ocorrendo<br />
simultaneamente a outra e que tem caráter secundário no contexto (cf. James VOELZ, op. cit.,<br />
p. 149-152). O que é destacado aqui não é o adorar e o jejuar deles ou as pessoas deles, mas<br />
a ênfase está no Espírito Santo e no que ele disse.<br />
26<br />
Particípio, genitivo absoluto de nhsteu,w = jejuar. Vide explicação na nota 25.<br />
27<br />
Imperativo, aoristo, ativo, plural de avfori,zw = separar, colocar de lado. O imperativo é<br />
seguido pela partícula dh,, que é rara e transmite um sentido de urgência. Ela enfatiza o imperativo<br />
e não tem um correspondente em português, por isso é deixada sem tradução. Talvez<br />
poderíamos traduzir como “Separem-me agora” (Cf. LENSKI, op. cit., p. 495).<br />
28<br />
Perfeito, médio, indicativo de proskale,w = chamar, chamar para seu serviço. De acordo<br />
com Voelz, o perfeito tem o seu foco no resultado e por isso ele diz dos verbos no perfeito:<br />
“O seu foco está na situação atual, a situação presente de uma ação passada. É importante<br />
notar que as formas do “perfeito” não dizem que uma ação passada ainda está acontecendo”<br />
(VOELZ, op. cit., p. 168 e 172).<br />
29<br />
Particípio, aoristo, ativo, nominativo, plural, masculino de nhsteu,w = jejuar.<br />
30<br />
Particípio, aoristo, médio/passivo, nominativo, plural, masculino de proseu,comai = orar.<br />
31<br />
Particípio, aoristo, ativo, nominativo, masculino, plural de evpiti,qhmi = colocar sobre, impor.<br />
“A imposição de mãos aqui expressa a comunhão com os dois e o reconhecimento da chamada<br />
divina (Bruce)” (RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento<br />
Grego. São Paulo: Vida Nova, 2003, p. 214.)<br />
31<br />
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Igreja Luterana<br />
O CONTEXTO DA PERÍCOPE<br />
Para se entender esta perícope, é necessário que se volte até o capítulo<br />
8, que narra o que sucedeu após o assassinato de Estêvão pelas autoridades<br />
judaicas. No versículo 5 narra-se que uma perseguição aconteceu<br />
contra os crentes e obrigou-os a fugir para diferentes regiões. O texto de<br />
Atos 11.19 retoma aquele momento e relata o que aconteceu aos crentes<br />
de outro ponto de vista. De 8.5 até 11.18 narra-se a perseguição chefiada<br />
por Paulo à Igreja, depois a sua conversão e o ministério de Pedro entre<br />
os gentios. Em Atos 11.19 se introduz o que estava acontecendo na região<br />
da Síria, mais especificamente em Antioquia, e como o evangelho estava<br />
fazendo o seu caminho tanto entre os judeus quanto especialmente entre<br />
os gentios. O capítulo 12 é um interlúdio na narrativa da igreja de Antioquia,<br />
que é retomada no capítulo 13, com a escolha de Barnabé e Saulo<br />
para a obra que o Espírito Santo os chamara e suas posteriores atividades<br />
como missionários daquela igreja local. Assim, Paulo parte em suas três<br />
viagens missionárias, contudo sempre surgiram dificuldades (13.4-14.28;<br />
15.36-20.38). Uma das maiores delas foi resolvida no Concílio de Jerusalém<br />
(15.1-35).<br />
O TEXTO<br />
O texto se conecta diretamente com a morte de Estevão e a posterior<br />
perseguição que se seguiu. As palavras oi` me.n ou=n remetem a Atos 8.4, onde<br />
se menciona a dispersão dos discípulos 32 . Similar construção se acha em 9.31,<br />
onde se introduz a experiência que Pedro teve entre gentios. A tribulação<br />
(qli/yij) se refere à perseguição (diwgmo.j) mencionada em 8.1 33 . Johannes<br />
Rottmann sugere que eles foram “semeados” pela perseguição. Isso faz<br />
parte da expansão do Evangelho 34 . Esses judeus seguidores de Cristo foram<br />
obrigados a deixar Jerusalém e foram até Chipre, Fenícia e Antioquia. Chipre<br />
é uma ilha a oeste da Palestina, com uma população judaica considerável. O<br />
próprio Barnabé vem a ser de lá (At 4.36). Fenícia era uma estreita faixa de<br />
terra com 24 quilômetros de largura e 192 quilômetros de comprimento ao<br />
norte da Galiléia que abrangia as cidades de Tiro e Sidom.<br />
A cidade de Antioquia era um grande centro comercial da época e<br />
era a terceira maior cidade do império, ficando somente atrás de Roma e<br />
Alexandria. A sua população era estimada em torno de meio milhão de pes-<br />
32<br />
NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on the Acts of the Apostles.<br />
Londres: United Bible Societies, 1972. p. 226.<br />
33<br />
BRUCE, op. cit., 1984. p. 235.<br />
34<br />
ROTTMANN, Johannes; SCHOLZ, Vilson. Atos dos Apóstolos: Atos 6.1 – 17.15. V. 2. Porto<br />
Alegre: Concórdia, 1997. p. 68.<br />
32<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
soas 35 . Os judeus que foram para estas localidades anunciavam a “palavra”,<br />
isto é, a mensagem do evangelho somente a judeus. Lenski ressalta que<br />
isso não aconteceu somente por causa de uma dificuldade linguística que<br />
poderia ter ocorrido entre judeus da Palestina, de fala aramaica, e judeus<br />
helenistas e/ou gentios, de fala grega. A língua grega era conhecida por<br />
todos e mesmo Pedro, um pescador da Galiléia, a falava 36 .<br />
Contudo, alguns judeus de Chipre e Cirene foram até Antioquia e anunciaram<br />
a mensagem para os Helenistas. Os comentaristas não concordam<br />
que este termo Helenistas (E~Ellhnista.j) refira-se a judeus helenistas,<br />
como usado anteriormente no livro de Atos (6.1; 9.29). Defendem que<br />
o termo certo seja {Ellhnaj (gregos), tendo em vista o contexto da<br />
passagem: no versículo 19 só falavam a judeus (VIoudai,oij), já no 20<br />
começam a fazer uma coisa nova (reparar no verbo no imperfeito com a<br />
idéia de começar alguma coisa), falar para um grupo diferente de pessoas.<br />
Não faria sentido este grupo de pessoas serem judeus helenistas,<br />
sendo que os próprios discípulos que vieram de Chipre e Cirene o eram 37 .<br />
Ainda para sustentar tal interpretação, não anunciavam Jesus, o Cristo,<br />
mas sim Jesus, o Senhor (to.n ku,rion VIhsou/n). Falar do Messias para<br />
não judeus não teria muito sentido, assim como não falar que Jesus era<br />
o Cristo, caso estes fossem judeus helenistas, seria uma falha enorme no<br />
comunicar o evangelho 38 . Ainda é dito que a mão do Senhor estava com<br />
eles e muitos se converteram. A expressão “mão do Senhor” (hwhy-dy) é<br />
muito comum no Antigo Testamento e refere-se ao seu poder 39 . A mão<br />
do Senhor busca e protege os seus.<br />
A Igreja em Jerusalém ficou sabendo do progresso do evangelho em<br />
Antioquia e resolveu comissionar Barnabé para ir até lá. É importante<br />
reparar que Barnabé foi enviado oficialmente (evxaposte,llw) pela igreja<br />
de Jerusalém, enquanto que os judeus que desceram até Antioquia no<br />
capítulo 15 e provocaram dissensão não o foram. Mais interessante ainda<br />
é notar o resultado disso. Enquanto estes provocaram dissensão, Barnabé<br />
alegrou-se em ver a graça de Deus e exortou-os a permanecer firmes de<br />
coração no Senhor, sendo então muita gente adicionada ao número dos<br />
35<br />
LENSKI, op. cit., p. 1285. Comblin estima que a população judaica perfazia 10% da população<br />
de Antioquia. Assim, haveria mais judeus naquela cidade do que em Jerusalém! Cf. COMBLIN,<br />
José. Atos dos Apóstolos. V. 1, p. 1-12. Petrópolis, São Bernardo do Campo e São Leopoldo:<br />
Vozes, Imprensa Metodista e Sinodal, 1988. p. 203. Smith defende que havia uma população<br />
de 800.000 em Antioquia. Cf. SMITH, op. cit., p. 195.<br />
36<br />
LENSKI, op. cit., p. 448.<br />
37<br />
LENSKI, op. cit., p. 449; NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on<br />
the Acts of the Apostles. Londres: United Bible Societies. p. 226-7; ROTTMANN, J.; SCHOLZ,<br />
op. cit., p. 466-7. Para uma análise levando em conta os diferentes manuscritos e suas opções<br />
ver BRUCE, op. cit., p. 235-6.<br />
38<br />
BRUCE, op. cit., p. 236; NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on the<br />
Acts of the Apostles. Londres: United Bible Societies, 1972. p. 227; SMITH, op. cit., p. 181.<br />
39<br />
BRUCE, op. cit., p. 236.<br />
33<br />
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Igreja Luterana<br />
discípulos. O curioso fato da Igreja de Jerusalém ter enviado Barnabé só<br />
pode ser explicado devido à ausência dos apóstolos de Jerusalém. Além<br />
disso, ele era cipriota, o que o ajudaria a se entender com os judeus que<br />
pregavam entre os gentios, visto parte deles também ser cipriota 40 .<br />
Há um jogo de palavras entre ver a graça (ca,rin) e alegrar-se (evca,rh)<br />
aqui. Ele se alegrou naquilo que era o motivo do sucesso do evangelho em<br />
Antioquia, a saber, a graça de Deus. O sucesso do evangelho não depende<br />
da capacidade humana, mas da graça de Deus. O filho da exortação<br />
faz o que lhe é próprio e exorta os crentes a permanecer no Senhor com<br />
propósito de coração. É surpreendente que um levita 41 exorte crentes para<br />
que façam apenas isso e não exorta à prática de nenhuma lei cerimonial<br />
ou observância da lei moral. Mais surpreendente é que depois, no capítulo<br />
15, homens que desceram da Judéia fizeram exatamente isso, sendo que<br />
um levita não o fez! Lucas explica porque isso era assim: “porque ele era<br />
um homem bom, cheio do Espírito Santo e fé” (v. 24). Barnabé é o único a<br />
ser chamado de bom em todo o livro de Atos 42 . Não há como não ser bom<br />
(avgaqo,j) tendo-se estes dois: fé em Jesus e o Espírito Santo, que leva o<br />
cristão a viver e testemunhar esta fé!<br />
Barnabé parte em busca de Saulo para que este o auxilie no trabalho<br />
em Antioquia. Tinha sido ele quem apresentara Saulo aos apóstolos em<br />
Jerusalém enquanto todos os demais não o quiseram fazer (At 9. 26-27).<br />
Provavelmente foi atrás dele por ser um profundo conhecedor das Escrituras,<br />
visto ter sido ensinado por Gamaliel (At 22.3) e o que aqueles cristãos<br />
gentios de Antioquia precisavam era de muita instrução na Palavra de Deus.<br />
Diante dos cristãos judeus, eles tinham a desvantagem de não conhecerem<br />
tão bem as Escrituras. Como W. Franzmann assinala, bastante instrução<br />
nas verdades das Escrituras era necessária em Antioquia, visto que muitos<br />
dos novos convertidos vinham de um ambiente pagão. Enquanto que<br />
os judeus convertidos tinham um bom conhecimento das Escrituras, os<br />
gregos pagãos não tinham nenhum. Nisso vemos que Paulo e Barnabé<br />
não estavam interessados em apenas adicionar números à congregação,<br />
mas queriam que os seus membros estivessem bem fundamentados na<br />
fé, para que pudessem permanecer fiéis ao seu Salvador e também para<br />
que testemunhassem dele para os outros. 43<br />
40<br />
LENSKI, op. cit., p. 452. Para ele, Barnabé foi a primeira opção da Igreja de Jerusalém logo<br />
depois dos apóstolos, já que estes estavam ausentes: “A Igreja não dirigia os apóstolos; os<br />
apóstolos sempre direcionavam a igreja, e a igreja sempre olhava para eles em busca de<br />
liderança para ela.” Também NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook<br />
on the Acts of the Apostles. Londres: United Bible Societies, 1972. p. 227: “Barnabé agora<br />
compartilha do mesmo papel que Pedro e João tiveram em Samaria”.<br />
41<br />
Atos 4.36.<br />
42<br />
SMITH, op. cit., p. 182.<br />
43<br />
FRANZMANN, Werner H. Bible History Commentary: New Testament. Vol. 2. Milwaukee:<br />
WELS Board for Parish Education, 1989. p. 1287-8.<br />
34<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
Provavelmente o seu reunir e ensinar constantes chamaram a atenção<br />
das pessoas ao redor e serviram de testemunho, ao ponto de receberem<br />
um apelido: Cristiano,j. Há ainda a variante Crhstiano,j, que até é<br />
mencionada nos escritos de Tácito e parece ser derivada do termo crhsto,j,<br />
que significa gentil ou fácil 44 . O que é intrigante é a terminação latina<br />
desse termo. Smith sugere que este foi um título inventado por soldados<br />
romanos que lá viviam e que, ao formularem tal termo, valeram-se de<br />
sua língua materna 45 . Este termo só aparece mais duas vezes na Bíblia<br />
(At 26.28 e 1 Pe 4.16) e no livro de Atos nunca os próprios cristãos se<br />
tratavam por tal título. Vale também ressaltar que, além da comunidade<br />
original de Jerusalém, Antioquia é a primeira comunidade a ser assim<br />
chamada 46 . Isto parece indicar que o evangelho vai traçando o seu caminho<br />
entre os cristãos gentios, que são tratados com igualdade diante<br />
dos cristãos judeus.<br />
Depois disso são introduzidos na história profetas que vêm de Jerusalém,<br />
dos quais somente o nome de um é mencionado: Ágabo. Este<br />
mesmo personagem vem a ser mencionado novamente em At 21.10, ao<br />
profetizar a respeito do aprisionamento de Paulo. Em o Novo Testamento<br />
profetas não têm tanta proeminência quanto no Antigo. Lenski entende<br />
que eram “homens de menor importância, nós poderíamos chamá-los de<br />
mestres cristãos a quem o Espírito em certos momentos fazia comunicações<br />
diretas especiais de apenas pouca importância” 47 . É dito que ele<br />
comunicava a mensagem. O verbo está no imperfeito e carrega uma idéia<br />
de ação repetida e o próprio verbo traz a idéia de que ele utilizava alguma<br />
ação simbólica 48 .<br />
Aconteceram diversas fomes sob o reinado de Cláudio, que reinou<br />
de janeiro de 41 até outubro de 54, não atingindo de uma só vez todo o<br />
império. Na Palestina, a situação ficou difícil em torno de 46 49 . Em vista<br />
disto, os cristãos de Antioquia decidiram em conjunto que cada um individualmente<br />
ofertaria para auxílio dos cristãos em Jerusalém, um ato de<br />
amor para com a Igreja-mãe. O termo serviço (diakoni,a) nos faz lembrar<br />
Atos 6.1, onde esse auxílio aos irmãos era tão importante que os apóstolos<br />
necessitaram escolher sete auxiliares, entre eles Estevão que, indiretamente,<br />
foi responsável pela evangelização em Antioquia. Seu testemunho<br />
provocou a perseguição e levou cristãos de Jerusalém até Antioquia.<br />
44<br />
LENSKI, op. cit., p. 458; BRUCE, op. cit., p. 238. DANKER, op. cit., p. 1090.<br />
45<br />
SMITH, op. cit., p. 183<br />
46<br />
BRUCE, op. cit., p. 238.<br />
47<br />
LENSKI, op. cit., p. 459.<br />
48<br />
Ibidem, p. 460. Dessa forma ele comunicou a sua outra mensagem a Paulo em Atos 21.10,<br />
utilizando-se de um cinto.<br />
49<br />
Ibidem, p. 460. BRUCE, op. cit., p. 239: “não houve apenas uma fome que atingiu todo o<br />
Império sob Cláudio; o seu reino, porém, foi marcado por assiduae sterilitates”<br />
35<br />
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Igreja Luterana<br />
Barnabé e Saulo foram encarregados de levar este auxílio a Jerusalém<br />
e o entregar aos presbíteros de lá. É a primeira menção a pessoas de tal<br />
cargo no Novo Testamento e é intrigante o fato de que os apóstolos não<br />
estão em Jerusalém. Provavelmente estavam em atividade missionária e<br />
deixaram anciãos tomando conta da congregação 50 .<br />
O capítulo 13 de Atos inicia uma nova seção do livro. Lucas, a partir<br />
daqui, não está mais tão interessado na divulgação do evangelho na Palestina,<br />
mas se volta para narrar a difusão do evangelho entre os gentios,<br />
através de Saulo e Barnabé, representantes legítimos da igreja de Antioquia<br />
da Síria 51 . No versículo 1, mais uma lista de nomes é dada, a saber, a dos<br />
cinco profetas e mestres de Antioquia 52 . Entre estes cinco estão Barnabé<br />
e Saulo, que são escolhidos pelo Espírito Santo para irem aos gentios 53 .<br />
Estão de volta a Antioquia depois da viagem de auxílio a Jerusalém, onde<br />
entregaram os donativos dos cristãos de Antioquia aos presbíteros de<br />
Jerusalém (cf. At 11.25). O versículo 2 diz que estavam adorando, o que<br />
muito provavelmente se refere a toda a igreja de Antioquia e não somente<br />
aos cinco mencionados no versículo 1 54 .<br />
Contudo, o mais interessante neste trecho é que é o Espírito Santo<br />
quem separa e chama aqueles quem lhe apraz. O autor não é específico<br />
à maneira como o Espírito Santo o faz. Pode ter sido por meio de uns dos<br />
profetas 55 . A Igreja de Antioquia reconhece tal decisão e no versículo 3<br />
três verbos resumem tudo o que fizeram: oraram, jejuaram e impuseram<br />
as mãos 56 ; então os despediram. Digno de nota é que mesmo sendo<br />
50<br />
NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. A Translator’s Handbook on the Acts of the Apostles.<br />
Londres: United Bible Societies, 1972. p. 230. Lenski aponta que podemos chamá-los pastores<br />
e que por vezes os próprios apóstolos chamavam a si mesmos de anciãos (1 Pe 5.1; 2 Jo 1; 3<br />
Jo 1). Cf. LENSKI, op. cit., p. 462-3.<br />
51<br />
NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A. op. cit., p. 243; FRANZMANN, W., op. cit., p. 1300.<br />
52<br />
BRUCE, op. cit., p. 252 entende profetas e mestres como dois grupos distintos, bem como<br />
NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A., op. cit., p. 244. Lenski e Franzmann, contudo, defendem<br />
que não é necessário fazer uma distinção de dois grupos, mas que ambos os termos se<br />
referem a cada um deles. De acordo com LENSKI, op. cit., p. 492: “‘Profetas e mestres’, assim,<br />
significam o mesmo: homens que entendem profundamente a Palavra e que são, ao mesmo<br />
tempo, aptos para ensiná-la a outros.”<br />
53<br />
Dos outros três pouco se sabe. Simeão é chamado de Negro, e este título latino parece indicar<br />
que era originário da África. Entretanto, não parece certo identificá-lo com aquele que carregou<br />
a cruz de Cristo (Lc 23.26). Lúcio dificilmente pode ser identificado com aquele mencionado<br />
em Rm 16.21 e mais difícil ainda seria identificar ele como o próprio Lucas. Quanto a Menaém,<br />
ele foi criado junto com Herodes na corte, sendo assim de nobre estirpe. Cf. LENSKI, op. cit.,<br />
p. 492-3; BRUCE, op. cit., p. 252-3; NEWMAN, Barclay M.; NIDA, Eugene A., op. cit., p. 244;<br />
SMITH, op. cit., p. 198.<br />
54<br />
LENSKI, op. cit., p. 494-5; BRUCE, op. cit., p. 253; NEWMAN, Barclay M; NIDA, Eugene A.,<br />
op. cit., p. 244; SMITH, op. cit., p. 198-9; FRANZMANN, W., op. cit., p. 1301.<br />
55<br />
LENSKI, op. cit., p. 495; SMITH, Robert H., op. cit., p. 198-9.<br />
56<br />
LENSKI, op. cit., p. 496 aponta que eles não foram ordenados ali. Eles já eram apóstolos e<br />
profetas. Com a imposição das mãos, eles foram separados à obra para a qual o Espírito os<br />
escolhera. CALVIN, John. Commentary upon the Acts of the Apostles. Vol. 1. Grand Rapids:<br />
Eerdmans Publishing Company, 1949. p. 503 defende que isto foi uma espécie de consagração<br />
36<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
Paulo e Barnabé missionários da Igreja de Antioquia, fato reconhecido<br />
pela imposição de mãos, não foi aquela igreja que os enviou, em última<br />
instância, mas o Espírito Santo. Ele chamou e ele envia. A igreja de Antioquia<br />
só pode reconhecer a decisão do Espírito e liberá-los para a obra<br />
para a qual ele chama 57 .<br />
Missão Urbana e a Igreja em Antioquia:<br />
possíveis caminhos para hoje<br />
Os textos de Atos 11.19-31 e 13.1-3 apresentam a ação missionária<br />
de uma igreja vigorosa. Isto se pode ver ao analisar-se o texto e reparar<br />
que as áreas de atuação dessa igreja estão bem desenvolvidas. O testemunho<br />
daqueles cristãos ajudou a trazer muitos membros para a igreja<br />
de Antioquia da Síria, primeiro judeus e depois gentios, estes através do<br />
testemunho dos que vieram de Chipre e Cirene. Essa igreja recebeu o<br />
reconhecimento da igreja de Jerusalém, que enviou Barnabé como seu representante<br />
oficial para conferir o que estava acontecendo lá. Barnabé, por<br />
sua vez, procurou edificar e fortalecer a congregação através de comunhão<br />
e de ensino. Neste empreendimento assessorou-se de Saulo, trazendo-o<br />
para Antioquia. Por um ano instruíram a igreja (At 11.26). Ao saberem da<br />
fome em Jerusalém, organizaram-se para enviar auxílio para os cristãos<br />
de lá. O serviço social daquela congregação estava funcionando.<br />
No começo do capítulo 13 informa-se que há mestres e profetas na<br />
igreja de Antioquia e, durante um momento de adoração junto com a<br />
congregação, o Espírito Santo comunica sua decisão à igreja. Não poderia<br />
ser outra a atitude da congregação do que enviar a Barnabé e Saulo para<br />
a missão. Assim, a igreja mista de Antioquia, formada pelo testemunho<br />
dado a judeus e gentios, envia seus representantes para a missão e se<br />
torna o “centro das operações missionárias da igreja cristã no primeiro<br />
século.” 58<br />
O testemunho daqueles que foram espalhados<br />
Em Atos 11.20 vemos que os que eram de Cirene e Chipre vieram a<br />
Antioquia “proclamando o senhor Jesus” (euvaggelizo,menoi to.n ku,rion<br />
para esta obra específica escolhida pelo Espírito. SMITH, op. cit., p. 199 advoga que, com a<br />
imposição das mãos, eles foram instituídos como “os representantes autorizados da igreja de<br />
Antioquia, bem como os emissários de Deus. No Judaísmo se dizia que a autoridade do emissário<br />
de um homem é a mesma que a do próprio homem, e Lucas viu evidentemente a igreja<br />
de Antioquia dessa forma expressando solidamente a sua própria preocupação e espírito em<br />
Barnabé e Saulo”.<br />
57<br />
LENSKI, op. cit., p. 494-6.<br />
58<br />
LÜDKE, Reinaldo. Barnabé: Estudo em At 11.19-31; 13.1-3 sob o tema “Barnabé, a formação<br />
de uma igreja missionária”. Vox Concordiana, v. 15, n. 1, 2000. p. 60.<br />
37<br />
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Igreja Luterana<br />
VIhsou/n). O verbo aqui utilizado é bem específico e refere-se a “anunciar<br />
as boas novas, proclamar o evangelho”. 59 Ele aparece 72 vezes no Novo<br />
Testamento e 25 vezes em Lucas-Atos. 60 Michael Green ressalta que enquanto<br />
Marcos utiliza mais o substantivo neutro euvagge,lion, Lucas, no seu<br />
evangelho e em Atos, utiliza mais o verbo euaggeli,zomaii. O substantivo<br />
era mais facilmente entendido pelas pessoas do império, enquanto que o<br />
verbo tinha correlação com o hebraico, sendo apreendido com facilidade<br />
pelos judeus. 61 Duas coisas chamam a atenção aqui. Uma é o caráter laico<br />
das pessoas que vieram e proclamaram as boas novas da salvação. Não<br />
é dito que eram missionários enviados por alguém ou que tinham algum<br />
ofício em alguma igreja. 62 Eles eram simplesmente aqueles que foram<br />
espalhados por causa da perseguição que se seguiu à morte de Estêvão<br />
(At 11.19). O outro aspecto é que o testemunho deles ocorria num contexto<br />
de missão urbana. Antioquia, como dito acima, era a terceira maior<br />
cidade do Império Romano, e ponto de contato entre a civilização grega e<br />
a oriental, ponto de encontro das culturas grega, romana e judaica. 63<br />
A importância dos leigos na obra missionária de Antioquia é evidente<br />
nestas perícopes. Lüdke aponta para isso ao dizer que “Certamente a igreja<br />
de Antioquia foi fundada por um missionário desconhecido, provavelmente<br />
por um leigo. Várias igrejas dos primeiros séculos foram fundadas por<br />
cristãos, cujos nomes nunca foram registrados nos livros da história.” 64<br />
Tais cristãos que deram o seu testemunho em Antioquia muito provavelmente<br />
fizeram isso no seu dia a dia, nos lugares onde se encontravam.<br />
59<br />
BAUER, Walter et al. A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian<br />
Literature. Chicago: The University of Chicago Press, 2000. p. 402. LOUW, J. e NIDA, E..<br />
Greek-English Lexicon of the New Testament Based on Semantic Domains. 2a ed. Vol 1. New<br />
York: United Bible Societies, 1989. p. 412. Essas boas novas no Novo Testamento são uma<br />
referência específica à mensagem do evangelho sobre Jesus.<br />
60<br />
BECKER, U.. Evangelho, Evangelizar, Evangelista: euvagge,lion. In: BROWN, C.; COENEN,<br />
L.. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2a ed. Vol 1. São Paulo: Vida<br />
Nova, 2000. p. 760.<br />
61<br />
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. 2ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova,<br />
1989. p. 59-60, 64-65. O verbo euaggeli,zomaii é utilizado pela Septuaginta e é o correspondente<br />
para a raiz hebraica rfb, que significa “trazer boas notícias”, que é bastante utilizada<br />
por Isaías, como por exemplo em 40.9, 60.6 e 61.1 (cf. BROWN, F.; DRIVER, S; BRIGGS, C.<br />
The BROWN-DRIVER-BRIGGS Hebrew and English Lexicon. 9ª reimpressão, 2005. p. 142). Na<br />
Septuaginta, o termo é utilizado para “proclamar a vitória universal de Javé sobre o mundo, o<br />
Seu reino soberano.” (BROWN, C.; COENEN, L.. op.cit., p. 759).<br />
62<br />
GREEN, op. cit, p. 213-5. Trabalho evangelístico de leigos, tanto homens quanto mulheres.<br />
63<br />
Ibidem, p. 139. Ele ainda ressalta que escavações arqueológicas feitas pelo professor Downey<br />
comprovam o baixo padrão moral da cidade, através dos grandes mosaicos encontrados com<br />
seus muitos deuses e o seu comportamento moral lascivo. Assim, é possível ver Zeus e seus<br />
amores com as mulheres, orgias em honra a Baco. Um grupo de flores retrata o culto à Ísis.<br />
Até a influência estóica é sentida, vista em túmulos com pares de animais hostis, como o leão<br />
e o boi, juntos, tendo inscrito neles a palavra “amizade” e virtudes estóicas como a amerimnia<br />
(liberdade das preocupações) e megalopsychia (estar acima do destino).<br />
64<br />
LÜDKE, op. cit., p. 61.<br />
38<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
De acordo com o apóstolo Pedro, eles estavam em suas vocações quando<br />
deram o seu testemunho, cumprindo com sua função sacerdotal (1 Pe<br />
2.9-10). Richard Carter expõe que serviço na vocação cristã se expressa<br />
em 4 áreas: “Serviço ao próximo pode ser descrito em termos de quatro<br />
estruturas: lar, trabalho, comunidade e congregação.” 65 Pode parecer<br />
muito simples falar-se simplesmente de vocação. Contudo Carter protesta<br />
contra isso: “Há uma tentação, eu acho, de desconsiderar vocação.<br />
Isso só nos traz prejuízos. Desconsiderar vocação é, no mínimo, ignorar<br />
o fato de que é na vida comum, em nossos contatos com o próximo, que<br />
temos a oportunidade para o testemunho, para falar sobre a nossa fé de<br />
um jeito que Deus pode usar para salvar alguém. Mais ainda, vocação é<br />
uma confissão de nossa fé, a visão cristã do trabalho de Deus em todas<br />
as pessoas.” 66<br />
Em 1800, apenas cinco por cento da população mundial era urbana.<br />
Em 1900, este número aumentou para quatorze por cento. Em 1980, a<br />
população urbana constituía quarenta por cento da população mundial e<br />
em 2000 metade do mundo era urbano. Previsões apontam que em 2050<br />
setenta e nove por cento da população mundial será urbana e dois terços<br />
da população mundial viverão em áreas urbanas do Terceiro Mundo, onde<br />
a maioria da pobreza se concentra. 67 Assim, diferentemente do tempo<br />
do apóstolo Paulo, “hoje, missões urbanas têm se tornado um fim em si<br />
mesmo.” 68 Não se faz missões urbanas com o intuito de se alcançar os que<br />
vivem no interior, mas porque a cidade é esse organismo vivo que cada<br />
vez tem menos contato com a realidade interiorana.<br />
O mundo romano era basicamente cosmopolita e integrado. O sistema<br />
de rodovias ligava o império e eram tão boas que até hoje são utilizadas.<br />
Havia grandes cidades, como Roma, Alexandria, Antioquia, Éfeso e Atenas.<br />
Havia uma língua comum, comercial, o grego. O mar Mediterrâneo<br />
era dominado pelos romanos e viagens marítimas tornavam-se cada vez<br />
mais comuns e o comércio florescia 69 .<br />
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) começou neste país basicamente<br />
como uma igreja de imigrantes alemães 70 . Até hoje verificam-se<br />
65<br />
CARTER, Richard, What do the Simple Folk do: a Lutheran Doctrine of Vocation as Mission<br />
Work. Missio Apostolica, Saint Louis, v. 14, n. 1, maio 2006. p. 52.<br />
66<br />
Ibidem. p. 56.<br />
67<br />
GREENWAY, Roger; MONSMA, Timothy. Cities: Mission’s New Frontier. 2a ed. Grand Rapids:<br />
Baker Books, 2000. p. 67.<br />
68<br />
SCHULZ, Klaus Detlev. Propostas para a Ação em Missões Urbanas. Vox Concordiana, São<br />
Paulo, v. 16, n. 2, 2001, p. 74.<br />
69<br />
PUSKAS, Charles B. An Introduction to the New Testament. Peabody: Hendrickon, 1989.<br />
p. 28-9.<br />
70<br />
Steyer ressalta que, na verdade, o Sínodo de Missouri (atual The Lutheran Church-Missouri<br />
Synod) não enviou missionários para o Brasil, mas sim pastores para arrebanhar os luteranos<br />
dispersos pelo país (STEYER, Walter. Os imigrantes alemães no Rio Grande do Sul e o Lutera-<br />
39<br />
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Igreja Luterana<br />
resquícios dessa história. Lüdke critica esse aspecto ao dizer que a IELB não<br />
tem vivência nos grandes centros urbanos, visto que suas congregações<br />
nas cidades surgiram para reunir os migrantes provenientes da zona rural.<br />
Na verdade, o que aconteceu foi que a igreja da zona rural transportou-se<br />
para as cidades, especialmente nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do<br />
Brasil. Por causa disso, não nos preocupamos muito em compreender as<br />
cidades, organizando-nos de tal forma a ficarmos, muitas vezes, alheios<br />
aos anseios, preocupações e necessidades dos centros urbanos. 71<br />
A edificação e o fortalecimento da igreja: comunhão e ensino<br />
A notícia do que estava acontecendo em Antioquia chegou até Jerusalém<br />
e a igreja daquela cidade mandou Barnabé como seu delegado<br />
para conferir tudo por lá. Barnabé alegrou-se muito com tudo o que viu e<br />
exortou a todos para que continuassem firmes na fé (At 11.22-24). Contudo,<br />
a reação de Barnabé não constituiu-se apenas de entusiasmo, mas<br />
ele logo procurou edificar aquela igreja por meio do ensinar (dida,skw) e<br />
do reunir-se em comunhão (suna,gw).<br />
Dida,skw é um verbo muito comum, tanto na Septuaginta quanto<br />
no Novo Testamento. Naquela aparece cerca de 100 vezes e geralmente<br />
traduz a raiz hebraica dml, mas às vezes também o hiphil de [dy e hry.<br />
Neste ela aparece 95 vezes, sendo 16 vezes em Atos. 72 Em muitos textos<br />
de Atos, também nos aqui estudados, “o fundo histórico destas passagens<br />
é a mensagem da salvação de após a ressurreição (cf. At 1:1; 4.18; 5.21;<br />
25, 28, 42; 11.26; 15.1, 35; 20.20), e é, portanto, a salvação conforme<br />
ela é entendida pela igreja de após a ressurreição, que forma a matéria de<br />
didasko em Atos.” 73 Suna,gw aparece na Septuaginta cerca de 350 vezes<br />
e refere-se a reunir, ajuntar frutos, animais, coisas ou pessoas. Traduz<br />
a raiz hebraica @sa e em poucas situações #bq. Em o Novo Testamento,<br />
o verbo suna,gw ocorre 59 vezes, sendo que, dessas, 11 vezes em Atos.<br />
Enquanto em outros livros (Mt, Lc, Jo,) pode referir-se a coisas e pessoas,<br />
em Atos refere-se somente a pessoas, especialmente à Igreja. 74<br />
Com certeza, por meio do ensino e comunhão foram formados líderes,<br />
como os mencionados no capítulo 13 do livro de Atos. Vale frisar também<br />
nismo. Porto Alegre: Singulart, 1999. p. 24). Ele também menciona que um dos requisitos para<br />
pedir filiação como Sínodo à igreja americana envolvia o uso exclusivo do alemão nas reuniões<br />
sinodais (p.112). Rehfeldt menciona também o caráter germânico do trabalho missionário da<br />
IELB no período entre 1900 e 1950 (REHFELDT, Mário. Um Grão de Mostarda: a História da<br />
Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Vol. 1. Porto Alegre: Concórdia, 2003. p. 173).<br />
71<br />
LÜDKE, op. cit., p. 25.<br />
72<br />
WEGENAST, K.. Ensinar, Instruir, Tradição, Educação, Disciplina: dida,skw. In: BROWN, C.;<br />
COENEN, L.. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol 1. São Paulo: Vida<br />
Nova, 2000. p. 634-5.<br />
73<br />
Ibidem, p. 638.<br />
74<br />
WEGENAST, op. cit., p. 2110-11.<br />
40<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
que o ensino de Barnabé e Saulo durou um ano inteiro em Antioquia.<br />
Barnabé organizou a igreja de Antioquia e instruiu os seus convertidos,<br />
pois reconheceu que eles precisavam naquele momento de estímulo<br />
para permanecerem na fé, bem como instrução e orientação sobre o<br />
rumo que deviam tomar. Além disso, ele reconheceu sua incapacidade<br />
de instruir a todo o povo sozinho, por isso foi em busca de Saulo em<br />
Tarso, visto ser ele um jovem convertido do farisaísmo a quem o próprio<br />
Barnabé apresentara aos apóstolos em Jerusalém (At 9. 27). Esta atitude<br />
de Barnabé, de pedir a ajuda de Paulo para auxiliar na educação cristã<br />
dos novos convertidos, foi de grande importância para a consolidação<br />
da igreja de Antioquia. 75<br />
Herbert Hoefer assinala que a escolha de Paulo deu-se por ele ser uma<br />
pessoa confortável em lidar tanto com judeus quanto com gregos: “Barnabé<br />
sabia o que este trabalho requeria. Ele tinha visto isto em Saulo. Ele tinha<br />
visto Saulo habilmente defender a fé tanto diante de judeus quanto diante<br />
de gregos. Barnabé sabia que Saulo teria a credibilidade e persuasão que<br />
ele nunca teria. Ele sabia que estes novos convertidos precisavam ter<br />
alguém do meio deles mesmos em quem poderiam se espelhar. Somente<br />
então eles acreditariam que poderiam liderar e promover a sua própria<br />
igreja e a missão para o seu próprio povo.” 76<br />
Os profetas e mestres da igreja de Antioquia, mencionados nos primeiros<br />
versículos de Atos 13, chamam a atenção por sua heterogeneidade.<br />
Barnabé era um judeu levita da ilha de Chipre, que vendera um campo<br />
que possuía e doou o dinheiro aos apóstolos em Jerusalém (At 4.36-37).<br />
Simeão era chamado de Niger, palavra latina e que, muito provavelmente,<br />
o identificava pela cor de sua pele, mostrando que a igreja antiga não<br />
tinha problemas raciais em sua liderança. Lúcio era de Cirene, no norte da<br />
África, e talvez também fosse negro. Talvez tenha até sido um daqueles<br />
que veio de Cirene e que pregaram o evangelho aos gregos de Antioquia<br />
(At 11.20). Menaém havia sido criado junto com Herodes, o tetrarca, e<br />
por isso era um homem da nobreza, acostumado a viver em palácios e<br />
no meio do luxo. Por fim, Saulo era um judeu nascido em Tarso da Cilícia,<br />
era cidadão romano por direito de nascimento (At 22.25) e havia sido<br />
instruído de acordo com o farisaísmo por Gamaliel, em Jerusalém (At<br />
22.3; 26.5). Assim, a liderança de Antioquia era formada por pessoas de<br />
diferentes cores de pele, posições sociais, condições financeiras e background<br />
religioso.<br />
O mais importante era o fato que estava se formando liderança local<br />
naquela igreja. Os profetas muito provavelmente eram encarregados de<br />
75<br />
LÜDKE, op. cit. p. 63.<br />
76<br />
HOEFER, Herbert, Principles of Cross-Cultural/Ethnic Ministry: The Stories of Barnabas and<br />
Paul and the Jerusalem Council. Missio Apostolica, Saint Louis, v. 14, n. 2, Nov.2005. p. 143.<br />
41<br />
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Igreja Luterana<br />
proclamar a mensagem de salvação de Deus aos que não eram cristãos,<br />
enquanto que os mestres eram responsáveis pela instrução daqueles<br />
que já eram cristãos, através do ensino das Escrituras e da vida cristã 77 .<br />
Segundo Roger Greenway, “Em Antioquia, Paulo e Barnabé investiram o<br />
seu talento e energia no desenvolvimento de líderes locais, e os versículos<br />
iniciais do capítulo 13 indicam que, com a bênção de Deus, a estratégia<br />
foi bem sucedida” 78 .<br />
Os cristãos de Antioquia, especialmente os gregos, eram conversos de<br />
pouco tempo e precisavam de instrução para evitar a volta à prática de<br />
religiões idólatras. 79 Para isto, num contexto urbano, “nenhuma estratégia<br />
urbana hoje pode esperar produzir algum fruto a não ser que inclua uma<br />
profunda instrução nas Escrituras, vida cristã e discipulado”. 80 “Quando a<br />
igreja falha no ensino, ela também falhará na evangelização. [...] Não se<br />
pode esperar que nenhuma estratégia urbana de evangelização produza<br />
muito fruto, a não ser que ela inclua um programa eficiente de ensino das<br />
Escrituras, que vai influenciar o modo de vida dos cristãos”. 81<br />
Essa influência no modo de vida cristão precisa ser sentida especialmente<br />
no que se refere à mordomia cristã. Cristãos precisam de instrução<br />
com relação a como viver sua vida cristã de fé em serviço aos semelhantes,<br />
utilizando da melhor maneira os seus dons. Trazendo isso para um contexto<br />
luterano, é pertinente a crítica que James Tino faz quanto à prática<br />
congregacional luterana:<br />
42<br />
Como luteranos, tenemos que mejorar nuestra manera de comunicar<br />
a nuestros miembros el privilegio y la bendición de utilizar<br />
nuestros dones en servicio al Señor. El pastor luterano en la ciudad<br />
tiene que dejar de iniciar programas que nadie va a continuar, y<br />
enfocar sus esfuerzos en capacitar a la feligresía para emplear sus<br />
dones en servicio a su Dios. De esta manera, la iglesia puede crecer<br />
más allá del alcance finito de un solo hombre, y desarrollarse a la<br />
medida del cuerpo entero de Cristo. 82<br />
O serviço da igreja: auxílio aos irmãos de Jerusalém<br />
Outros profetas, provavelmente um tanto diferentes daqueles mencionados<br />
no capítulo 13 de Atos, vieram de Jerusalém e um deles, chamado<br />
77<br />
LÜDKE, op. cit., p. 65.<br />
78<br />
GREENWAY, Roger; MONSMA, Timothy, op. cit., p. 62-3.<br />
79<br />
LÜDKE, op. cit., p. 62.<br />
80<br />
GREENWAY, Roger; MONSMA, Timothy. op. cit., p. 60.<br />
81<br />
LÜDKE, op. cit., p. 64.<br />
82<br />
TINO, James. Los Desafíos que la Ciudad le Plantea a la Misión. Vox Concordiana, São Paulo,<br />
v. 16, n. 2, 2001. p. 33.<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
Ágabo, predisse que uma fome sobreviria a todo o Império Romano. Diante<br />
disso, os cristãos de Antioquia decidiram organizar-se e mandar auxílio<br />
(diakoni,a) para os irmãos da Judéia. 83 Tal auxílio foi enviado pela igreja<br />
através de Saulo e Barnabé, que o repassaram aos presbíteros (At 11.27-<br />
30). O capítulo 12, versículo 25, ajuda a esclarecer que tais presbíteros<br />
eram muito provavelmente os de Jerusalém, pois é dito que os enviados<br />
de Antioquia de lá regressaram após a sua missão.<br />
Diakoni,a aparece na Septuaginta somente em casos sem importância.<br />
O termo dia,konoj aparece, mas referindo-se a servos da corte ou verdugos.<br />
O verbo diakone,w nem aparece. 84 Em o Novo Testamento, diakoni,a<br />
ocorre 34 vezes e significa “serviço à mesa” e é usado em At 11.29 “para<br />
o serviço amoroso mediante o levantamento de uma coleta”. 85<br />
A atitude da congregação de Antioquia levanta um tema muito discutido<br />
em missões: Qual é a tarefa missionária da Igreja? Pregar o evangelho<br />
ou auxiliar no melhoramento das condições sociais de seus membros e<br />
pessoas ao seu redor? Greenway é franco o suficiente para dizer que “De<br />
certa forma, todas as organizações cristãs de auxílio e desenvolvimento<br />
que são atuantes no mundo hoje tem a sua origem na igreja de Antioquia”.<br />
E, mais adiante, ele esclarece o possível motivo para tal atitude: “Obviamente<br />
os seus mestres os instruíram no preceito do Antigo Testamento,<br />
que dizia que entre o povo de Deus deveria haver um compartilhar mútuo<br />
e auxílio durante a pobreza. Eles aceitaram o preceito como a Palavra<br />
contemporânea e imutável de Deus para eles (Dt 15)”. 86<br />
A acelerada e descontrolada urbanização que ocorreu em todo o mundo<br />
no século passado, e continua ocorrendo ainda hoje, serviu para colocar<br />
mais à mostra a pobreza que não era tão visível em uma realidade rural.<br />
87 Exemplos crassos são as favelas nos morros do Rio de Janeiro. Não<br />
há como escondê-las. Basta levantar os seus olhos para o horizonte que<br />
você as verá!<br />
Os problemas urbanos são diversos e complicados. Harvie Conn defende<br />
que as necessidades sócio-econômicas estão na raiz deles e por<br />
trás deles estão as pressões sobre a família, tais como a instabilidade<br />
83<br />
Diakoni,a pode trazer o sentido de serviço, ministério, provisão e contribuição, sendo que<br />
no contexto do capítulo 11 de Atos estes dois últimos são os mais prováveis. Conforme LOUW,<br />
Johannes P..; NIDA, Eugene A.. Greek-English Lexicon of the New Testament Based on Semantic<br />
Domains. 2a ed. Vol 1. New York: United Bible Societies, 1989. p. 462: “um procedimento para<br />
tomar cuidado das necessidades de pessoas – ‘provisão para tomar cuidado de, preparativos<br />
para sustentar” e p. 571: “dinheiro dado para ajudar alguém em necessidade – contribuição,<br />
ajuda, sustento”.<br />
84<br />
HESS, K. Servir, Diácono, Adoração: diakone,w. BROWN, C.; COENEN, L.. Dicionário Internacional<br />
de Teologia do Novo Testamento. Vol 1. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 2342.<br />
85<br />
Idem, p. 2343.<br />
86<br />
GREENWAY, R.; MONSMA, T., op. cit., p. 60-1.<br />
87<br />
CONN, Harvie. Urban Mission. In: PHILLIPS, James (ed.). Toward the 21st Century in Christian<br />
Mission. Grand Rapids: Eerdmans, 1993. p. 324.<br />
43<br />
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Igreja Luterana<br />
crescente do matrimônio, as batalhas financeiras na cidade que dificultam<br />
os relacionamentos humanos, a mudança de papel das mulheres, que deixaram<br />
de ser donas de casa do interior para se tornarem co-provedoras<br />
do lar e as famílias dividindo o seu tempo entre a cidade e as suas raízes<br />
do interior. Além disso, há menos rendimentos para ajudar a sustentar a<br />
família em geral, conflitos entre pais e filhos, visto o sistema de valores<br />
rurais dos pais serem desafiados pelos urbanos adotados pelos filhos, e<br />
também por novos modelos de sociabilidade, baseados não na família,<br />
mas na profissão”. 88<br />
Diante disso, é válido o alerta: “É difícil imaginar estratégias de<br />
evangelização da igreja nas grandes cidades, hoje, que não incluam o<br />
serviço e a assistência significativa às pessoas, em suas mais diferentes<br />
necessidades.” 89 Tino bate na mesma tecla ao dizer: “Aunque debemos<br />
evitar la tendecia de sustituir la proclamación del Evangelio por programas<br />
sociales, la iglesia urbana tiene que estar pendiente de alguna manera<br />
de las necesidades materiales de la gente” 90 . Conn diz, citando a Oitava<br />
Consulta Teológica da Associação Teológica da Ásia, reunida em 1987,<br />
que se reconhece que o ministério nas cidades exige uma compreensão<br />
clara e inteligente das complexidades dos nossos contextos econômicos,<br />
ambientais, sociais e culturais. Por isso, é necessário o compromisso de se<br />
identificar tanto com as conveniências e benefícios da vida urbana, quanto<br />
com as suas tristezas e sofrimentos, sendo também necessário anunciar<br />
o evangelho de Jesus Cristo de uma forma acurada e relevante. O evangelho<br />
precisa alcançar as regiões pobres, esquecidas e marginalizadas da<br />
população urbana, assim como as ricas, poderosas e confortáveis. 91<br />
Assim, a igreja de Antioquia mostra que ouvir e praticar a Palavra<br />
andam juntos: “Na teologia e na estratégia missionária da igreja de Antioquia,<br />
bem como no ministério de Paulo, no decorrer do primeiro século,<br />
o ensino da palavra e as obras cristãs não estavam separadas, nem eram<br />
administradas separadamente, por diferentes agências. Estavam integradas,<br />
tanto na igreja como na missão apostólica.” 92<br />
A Igreja adora o seu Senhor e<br />
é orientada pelo Espírito na missão<br />
Nos primeiros versículos do capítulo 13, informa-se que a igreja de<br />
Antioquia estava adorando o Senhor quando o Espírito Santo lhes falou<br />
88<br />
Ibidem, p. 324-5.<br />
89<br />
LÜDKE, op. cit., p. 65.<br />
90<br />
TINO, op. cit. p. 23<br />
91<br />
CONN, op. cit., p. 328.<br />
92<br />
LÜDKE, op. cit., p. 64-5.<br />
44<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
para separarem Barnabé e Saulo para a obra missionária (At 13.2). O verbo<br />
leitourge,w transmite o sentido de render um serviço especial formal,<br />
servir, especialmente envolvendo responsabilidades cúlticas e rituais. 93<br />
Seria um tanto difícil de entender que os mestres e profetas estavam<br />
realizando atividades cúlticas (ou rituais) sozinhos, sem a participação da<br />
congregação. Na Septuaginta este verbo aparece cerca de 100 vezes e o<br />
substantivo leitourgi,a aparece cerca de 40, o primeiro representando<br />
a raiz verbal trvv e o segundo hd'Ab[]. Já em o Novo Testamento, o termo<br />
leitourge,w e seus derivados aparecem poucas vezes: leitourge,w (3<br />
vezes); leitourgi,a (6 vezes); leitourgo,j (5 vezes) e leitourgiko,j (1<br />
vez). 94 Além disso, o Novo Testamento parece emprestar o sentido do verbo<br />
da Septuaginta e não do uso clássico do grego: “O uso de leitourge,w em<br />
At 13.2, comparado com o uso da LXX, é algo completamente novo, mas é<br />
derivado deste. Aqui, o significado ritual é completamente espiritualizado<br />
e aplicado à adoração ao Senhor mediante a oração.” 95 .<br />
Além de adorar, eles também estavam jejuando (nhsteu,w), uma prática<br />
muito comum na igreja pós-neotestamentária.. Ainda, antes de liberarem<br />
Saulo e Barnabé para a obra missionária, a igreja orou (proseu,comaii) e<br />
impôs as mãos sobre eles, reconhecendo a decisão do Espírito Santo e<br />
conferindo-lhes a autoridade para a missão.<br />
Vê-se por estes textos de Atos que a igreja de Antioquia era uma<br />
igreja vibrante espiritualmente. No final, suas atividades diaconais e de<br />
ensino se deviam em grande parte ao vigor de sua vida espiritual, de sua<br />
adoração. Lüdke vai direto ao ponto ao destacar que havia equilíbrio na<br />
vida espiritual da igreja de Antioquia. O povo de Deus, escolhido para<br />
anunciar o evangelho, se distingue pela oração, comunhão e adoração e<br />
não há igreja que realize algo significativo na evangelização a não ser que<br />
seja vigorosa interna e espiritualmente. O vigor da igreja de Antioquia é<br />
visto no fato de ela ser a primeira igreja neo-testamentária a enviar missionários.<br />
Isto contrasta com a igreja de Jerusalém, onde as testemunhas<br />
foram espalhadas pela força da perseguição. Em Antioquia, os apóstolos<br />
foram enviados para a obra da evangelização (At 13.2). 96<br />
A obra missionária é atividade na qual a congregação local como um<br />
todo precisa se envolver. Claro que o cristão individualmente, no seu<br />
93<br />
DANKER, op. cit., p. 590-1. Louw e Nida esclarecem que de acordo com o uso geral do grego<br />
de leitourge,w e leitourgi,a trazem a idéia de um serviço prestado por um indivíduo, sem<br />
cobrar nada, em benefício do estado. Só que este sentido para estes termos não é encontrado<br />
no Novo Testamento e eles têm uma conotação religiosa menos específica do que latreu,w e<br />
latrei,a (Cf. LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene A., op. cit., p 533).<br />
94<br />
HESS, K. Servir, Diácono, Adoração: leitourge,w. BROWN, C.; COENEN, L. Dicionário Internacional<br />
de Teologia do Novo Testamento. Vol 1. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 2348-50.<br />
95<br />
HESS, op. cit., p. 2350.<br />
96<br />
LÜDKE, op. cit., p. 65-66.<br />
45<br />
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Igreja Luterana<br />
cotidiano, pode contribuir para a missão, através do seu testemunho, da<br />
sua vocação. Contudo, missão em um entendimento luterano abrange a<br />
congregação local como um todo. Schulz explana bem isto: “Para infundir<br />
e encorajar um caráter missionário distintivo próprio nosso, temos<br />
que desenvolver uma eclesiologia missionária que funcione concreta e<br />
contextualmente, e dê reconhecimento completo à congregação local<br />
visível. A congregação precisa ver-se a si mesma como instrumento<br />
divino na missão de Deus e não só como mera organização ou presença,<br />
mas como uma communio ou um organismo através do qual o Espírito<br />
Santo age.” 97 .<br />
Além disso, o centro das atividades de uma congregação é o culto,<br />
o momento de adoração. Maynard Dorow, missionário da The Lutheran<br />
Church-Missouri Synod na Coréia do Sul de 1958 até 1998, defende que<br />
em seus momentos de adoração a comunidade de crentes recebe bênçãos<br />
em duas direções, interna e externamente. Internamente porque os membros<br />
são edificados e fortalecidos na fé e externamente porque adoração<br />
move o povo de Deus à missão, unindo Sacramento à Palavra proclamada.<br />
E isto é tanto mais verdade no culto eucarístico. Assim ele pode afirmar<br />
que na Eucaristia todas as facetas da missão de Deus são expressas: o<br />
permanente amor de Deus pelo mundo que criou; a sua auto-identificação<br />
com o mundo caído pela encarnação; sua redenção do mundo por meio<br />
da morte e ressurreição de Cristo; o seu dom de nova vida por meio do<br />
Espírito Santo; sua promessa de uma nova criação no final dos tempos.<br />
Assim, a Eucaristia descortina e antecipa a unidade de Deus com toda a<br />
criação, o que vem a ser o objetivo da missão de Deus. 98<br />
Diante dessa realidade, a IELB também é conclamada a dar a sua<br />
contribuição missionária nas cidades: “Missões urbanas precisam ser<br />
holísticas. Portanto, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) é desafiada,<br />
assim como muitas outras igrejas do mundo inteiro, a contribuir<br />
ativa e holisticamente em palavras e ações em prol do corpo e alma das<br />
pessoas que as cercam”. 99<br />
Contudo, na prática missionária é necessário que a identidade luterana<br />
transpareça, senão esta prática será simplesmente imitação do que outros<br />
grupos cristãos fazem. Missão feita por luteranos precisa carregar impressa<br />
em si a estampa luterana. Para tanto, Schulz aponta que é necessário<br />
seguir-se cinco princípios nesta atividade missionária para que ela seja, de<br />
fato, luterana: o biblismo dogmático, a doutrina da justificação, a primazia<br />
da Palavra, a encarnação e a presença real de Cristo e a correta distinção<br />
97<br />
SCHULZ, op. cit., p. 84 (grifo e itálico do autor).<br />
98<br />
DOROW, Maynard. Worship is Mission. Missio Apostolica, Saint Louis, v. 9, n.2, Nov. 2001.<br />
p. 78-83.<br />
99<br />
SCHULZ, op. cit., p. 74.<br />
46<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
dos dois reinos. 100 E conclui dizendo: “É absolutamente imperativo para nós<br />
buscar e estabelecer uma fundação teológica para ação missionária que<br />
podemos chamar nossa própria. Fazendo assim, ultrapassaremos, por um<br />
lado, o secularismo do mundo ecumênico e, por outro lado, o entusiasmo<br />
espiritual. Se não pudermos manter esta clara caminhada, perderemos<br />
nossa contribuição às missões mundiais bem como a habilidade para trazer<br />
a herança luterana às almas no contexto urbano.” 101<br />
CONCLUSÃO<br />
A igreja cristã em Antioquia da Síria encontrava-se em um mundo<br />
bastante agitado cultural, religiosa e economicamente, embora ele desfrutasse<br />
de certa paz e tranquilidade ocasionadas pela pax romana. Com<br />
certeza, não era um mundo tão urbano quanto o que se apresenta no<br />
início do século XXI, mas já existiam muitas grandes cidades então, como<br />
Roma, Alexandria e Antioquia.<br />
Apesar de muitas similaridades, não se pode ser ingênuo e considerar a<br />
realidade daquele tempo igual à contemporânea. Exemplo disso é a língua<br />
comum. O grego era a língua comum daquele tempo, assim como de certa<br />
forma o inglês é hoje. Contudo, o grego era uma língua de subjugados,<br />
enquanto que o inglês é a língua de comércio imposta pelas grandes potências<br />
do mundo nos últimos três séculos. Assim, com certeza, o inglês<br />
traz consigo uma “bagagem” muito maior do que o grego trazia naquele<br />
tempo, representando dominação econômica, política, militar e cultural.<br />
Outro recente fator distinto é o incrível êxodo rural que ocorreu no século<br />
XX, especialmente na segunda metade do século. Cidades em todo o<br />
globo, especialmente no Terceiro Mundo, experimentaram um crescimento<br />
simplesmente absurdo. Ao mesmo tempo, Volker Stolle ressalta que Deus<br />
é um Deus que se identifica com pessoas em movimento e que cristãos,<br />
em última instância, são sempre estrangeiros onde quer que estejam.<br />
Deus chamou Abraão para que saísse de sua terra em uma jornada de<br />
fé. Deus guiou o seu povo, Israel, para fora do Egito, pelo deserto, até a<br />
Terra Prometida. Jesus não se apresentou aos discípulos como um ponto<br />
estático, mas disse ‘Eu sou o caminho’ por meio do qual se chega ao Pai<br />
(Jo 14.6). Cristo enviou os seus apóstolos por todo o mundo (Mt 28. 18-<br />
20; Mc 16.15). A carta aos Hebreus descreve os cristãos como o povo de<br />
Deus em sua jornada para o descanso eterno prometido e, antes que este<br />
alvo seja alcançado, os cristãos vivem como estrangeiros em uma terra<br />
estranha. Dessa forma, a grande comissão permanece sempre atual. 102<br />
100<br />
Para ver a discussão completa sobre estes princípios, veja SCHULZ, op. cit., p. 78-81.<br />
101<br />
SCHULZ, op. cit., p. 81.<br />
102<br />
STOLLE,Volker. How Lutherans Have Done Mission: a Historical Survey. Missio Apostolica,<br />
47<br />
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Igreja Luterana<br />
A igreja de Antioquia era vigorosa porque era bem estruturada e equilibrada.<br />
Assim podia crescer em meio a uma sociedade um tanto caótica e<br />
que impunha inúmeras dificuldades à fé cristã. Ela apresentava suas cinco<br />
“áreas de ação” bem desenvolvidas. O testemunho era algo constante.<br />
Foi ele que formou a igreja, através da pregação a judeus e a gentios. Foi<br />
algo tão vivo e poderoso que foi capaz de derrubar as barreiras religiosas<br />
entre ambos. A comunhão e o ensino, sob a liderança de Barnabé, que<br />
se assessorou de Saulo, foram importantíssimos para instruir e edificar<br />
aquela congregação no único fundamento, Jesus Cristo. Quando irmãos<br />
de longe, mais especificamente da igreja-mãe em Jerusalém, estavam<br />
em dificuldades eles não vacilaram, mas prontamente organizaram-se e<br />
enviaram auxílio (diakoni,a) para os irmãos na fé. Por fim, talvez no centro<br />
de tudo, eles valorizavam a adoração. Era uma igreja que estava em<br />
contato com Deus e que queria ouvir o que Ele tinha a dizer e o Espírito<br />
Santo chamou dois deles para a obra missionária que Ele tinha preparado<br />
para eles.<br />
A Igreja Cristã continua pregando Jesus Cristo às pessoas e cada vez<br />
mais precisa se conscientizar de que é imprescindível ministrar às pessoas<br />
onde elas estão, preferencialmente de uma forma holística. O lugar<br />
onde elas estão, cada vez mais, é a cidade. Importa que cristãos sempre<br />
estejam atentos e busquem novas formas de ministrar às pessoas, sem<br />
deixar de lado as antigas, comprovadas pelos séculos.<br />
Gilberto da Silva ressalta a importância da vocação no testemunho<br />
cristão, especialmente comparando as realidades do século XX e do século<br />
I, dizendo que o crescimento da igreja devia-se, primariamente, à propaganda<br />
boca a boca, através do impacto do indivíduo nos seus arredores,<br />
nos ambientes onde viviam, fossem escravos, negociantes, donas de casa<br />
ou políticos. Contudo, se esquece de enfatizar onde a vocação é ensinada,<br />
nutrida e estimulada, ou seja, dentro da congregação de crentes. 103<br />
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) sempre valorizou a excelência<br />
na educação teológica dos seus pastores e na instrução de seus<br />
novos membros. Ao mesmo tempo, sempre se teve uma valorização do<br />
culto congregacional, da Palavra proclamada e dos sacramentos. Nos últimos<br />
anos, inclusive, a maioria das congregações têm adotado a prática<br />
de se ter a Santa Ceia em todos os cultos.<br />
Por outro lado, no testemunho, de certa forma, fica-se devendo um<br />
pouco. Às vezes parece que luteranos estão satisfeitos com o fato de que<br />
eles já fazem parte do povo de Deus. Não se nota a urgência em pregar<br />
as Boas Novas da salvação às pessoas que estão se perdendo. Estratégias<br />
v. 13, n. 2, nov. 2005. p. 114.<br />
103<br />
SILVA, Gilberto da. The Lutheran Church as a Church of Mission against the Background of<br />
the Priesthood of all Believers. Missio Apostolica, v. 14, n. 1, Maio 2006. p. 27<br />
48<br />
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Missão urbana e a igreja de antioquia em atos<br />
missionárias sempre são olhadas com certa desconfiança e números e<br />
estatísticas olhadas com certo receio. Também quanto à comunhão, há<br />
pontos a melhorar, especialmente porque a IELB ainda não é uma igreja<br />
urbana, mas tem “importado” diversos usos e práticas do interior para a<br />
cidade. Na área de serviço social e diaconia se tem feito bastante, mas é<br />
possível fazer ainda muito mais. 104<br />
Felizmente, há uma conscientização cada vez maior para o fato de que<br />
missão não é atividade somente do pastor. O pastor é o servo da Palavra<br />
e não de pessoas. Missão é obra de Deus confiada a todos da congregação.<br />
Quem sabe a crescente urbanização do mundo, com seus desafios<br />
e oportunidades, seja percebida por mais e mais crentes luteranos que,<br />
chamados e motivados pelo Espírito Santo, possam engajar-se na Missão<br />
de Deus, especialmente nas cidades.<br />
Com certeza, com a liderança do Senhor da Igreja e o conselho do<br />
Espírito Santo, a IELB proclamará a mensagem de Jesus Cristo para muitas<br />
pessoas ainda, especialmente nas cidades. Assim como a Igreja de Antioquia<br />
foi guiada em todas as suas atividades e empregou o melhor que<br />
tinha nelas, nossas congregações esforçam-se para disponibilizar o melhor<br />
para o trabalho do Senhor. Assim, a tarefa congregacional se centrará na<br />
proclamação daquele a quem Deus Pai deu toda a autoridade no céu e<br />
na terra (Mt 28.18-20), e diante de quem todo o joelho se dobrará (Fp 2.<br />
9-11), através da proclamação do evangelho de acordo com as Escrituras<br />
e as Confissões Luteranas 105 .<br />
104<br />
A IELB possui a Associação das Entidades de Assistência Social da IELB (AESI) que reúne<br />
diversas entidades de assistência social. Exemplos são a Associação Amiga dos Meninos (AME),<br />
de Esteio/RS; Centro Comunitário Dorcas, de Toledo/PR; Serviço Médico Educacional de Atendimento<br />
e Reabilitação (SEMEAR), de Porto Alegre/RS; Instituto Santíssima Trindade, de Gramado/<br />
RS. Para ver a lista completa, acesse: http://www.ielb.org.br/old/somos/aesi.htm<br />
105<br />
STOLLE, op. cit., p. 116.<br />
49<br />
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Auxílios homiléticos<br />
Trienal C<br />
Primeiro Domingo No Advento<br />
CONTEXTO MAIOR<br />
O ministério profético de Jeremias começou em 626 a.C. e terminou<br />
depois de 586 a.C. Segundo uma tradição judaica, o profeta teria sido<br />
morto no Egito por apedrejamento (Hb 11.37).<br />
Fim trágico, vida e ministério complicado. Jeremias viveu num período<br />
muito turbulento para muitas nações, inclusive Judá, o povo de Deus.<br />
O grande evento político e de suma importância ocorreu em 605 a.C.,<br />
quando Nabucodonosor derrotou os egípcios em Carquemis (Jr 46.2).<br />
Babilônia conseguiu abrir as portas para avançar livremente, até sobre<br />
Jerusalém (Dn 1.1-2), levando os primeiros cativos. A propósito, cativeiro<br />
anunciado pelo profeta Jeremias (Jr 22.24-30).<br />
Em 598-597 a.C. houve um segundo ataque de Nabucodonosor a<br />
Jerusalém e mais exilados foram feitos e levados à Babilônia (Jr 24.1). A<br />
queda definitiva aconteceu em 586 a.C. (Jr 38.28; 2 Rs 25.8-17).<br />
A PREGAÇÃO DE JEREMIAS<br />
29 de novembro de 2009<br />
Jeremias 33.14-16<br />
No “olho desse furacão”, coube a Jeremias a missão de lembrar o povo<br />
de Judá que tudo isto tinha a ver também com eles (Jr 13.24-27). Havia<br />
um tsunami político e de interesses internacionais pressionando a história,<br />
mas a missão do profeta, em princípio, tinha um foco mais restrito:<br />
chamar o povo de volta ao Senhor.<br />
Sua mensagem consistia em denunciar o pecado do povo de Deus (Jr<br />
2.13; 7.8-10; 16.10-13; 22.9; 32.29) e apelar para que este povo, que<br />
tinha dado as costas para o Senhor (Jr 2.8; 3.14,22), voltasse e olhasse<br />
outra vez para o lugar certo (Jr 3.15; 30.3). Apesar da deprimente descrição<br />
do povo de Deus (Jr 4.22; 5.28; 10.14, 21), há luzes de salvação no<br />
fim do túnel e proclamadas através do profeta (Jr 3.15; 30.3). Resumindo,<br />
Jeremias estava cumprindo sua missão de arrancar, destruir, exterminar<br />
e demolir, mas também para construir e plantar (Jr 1.10).<br />
51<br />
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Igreja Luterana<br />
CONTEXTO IMEDIATO<br />
A missão para Jeremias estava clara: demolir e construir. Porém, o<br />
cenário não era nem dos mais atraentes nem favoráveis. Por causa do<br />
pecado, o juízo de Deus foi dolorido para Israel e também para o profeta.<br />
Apesar de ter recebido a garantia e a certeza da companhia de Deus (Jr<br />
1.8,18; 15.20), ele fraquejou (Jr 8.18-22; 12.1-4; 20.14-18) e apelou<br />
em oração à misericórdia de Deus (Jr 32.16-25). Na resposta do Senhor<br />
aparentemente não havia muita esperança. Ele listou razões de sobra para<br />
manter o juízo sobre a casa de Israel (Jr 32.26-30). Deus abriu a ferida e<br />
a fez arder ao expor toda a gravidade da situação. Havia uma lista muito<br />
grande de transgressões.<br />
Mas, quando Deus abre o ferimento, Ele o faz com a intenção de<br />
curá-lo. A cura é por sua misericórdia e graça. Talvez poderíamos dizer,<br />
considerando de maneira especial a situação deplorável do povo de Deus<br />
na época, com o apóstolo Paulo: “onde proliferou o pecado, superabundou<br />
a graça” (Rm 5.20b).<br />
Essa disposição graciosa de restauração e perdão perpassa o texto<br />
de Jeremias desde o capítulo 30.1, até 33.26, o que faz com que alguns<br />
chamem essa parte de “Livro da Consolação”. Tudo bem. Jerusalém será<br />
restaurada, voltará a paz e a segurança. A ira do Senhor realmente não<br />
passa de um momento (Salmo 30.5) e suas promessas de retorno do<br />
exílio foram cumpridas (Jr 31.23-25).<br />
Mas tem mais. A palavra do Senhor tem um alcance além desse horizonte.<br />
Suas promessas têm cores messiânicas e que se aplicam ao povo<br />
pecador, mas amado por Deus, do século XXI.<br />
O TEXTO – JEREMIAS 33.14-16<br />
Há um paralelo muito próximo dessa passagem em Jeremias 23.5-6.<br />
Lá, o foco está mais em Cristo, como um broto que executará o juízo e a<br />
justiça na terra. É necessário que estes dois termos sejam entendidos como<br />
sinônimos de salvação. O texto completa afirmando de que Cristo será a<br />
nossa justiça. Aqui, o nome de Jesus “Senhor Justiça Nossa” é passado<br />
para o instrumento de Deus na continuação da proclamação da salvação.<br />
Inicialmente foi Jerusalém. Agora é a igreja que “carrega” como corpo de<br />
Cristo o seu próprio nome e é denominada de “Senhor, Justiça Nossa”.<br />
O Senhor quer despertar o povo para o cumprimento de sua “boa palavra”<br />
para Israel e Judá. A promessa não é só para o retorno dos exilados<br />
(Jr 29.10), mas é a boa, melhor e última palavra de Deus à humanidade,<br />
seu Filho Jesus (Hb 1.1-2).<br />
Jeremias anunciou o salvador da linha davídica e que preencherá as<br />
52<br />
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Primeiro Domingo No Advento<br />
expectativas do povo de Deus. Salvador que executará juízo e justiça.<br />
A própria sequência do texto já mostra que estas palavras se referem à<br />
salvação, mas é importante ressaltá-las, considerando o sentido muitas<br />
vezes negativo que elas podem fazer para a maioria das pessoas (Salmo<br />
71.2).<br />
Embora essa profecia não seja explicitamente citada no Novo Testamento,<br />
a confissão é de que de fato Jesus Cristo é o ungido de Deus<br />
através do qual a justiça de Deus (salvação) foi executada e revelada em<br />
toda a sua plenitude (Mt 3.15; Rm 5.18-21; 1 Co 1.30) e que a Igreja de<br />
Cristo é portadora.<br />
CONSIDERAÇÃO HOMILÉTICA<br />
Uma das marcas do período de Advento, por causa da iminente entrada<br />
no mês de dezembro, é a intensa correria gerada pela proximidade<br />
do Natal. É natural e por si só não deveria ser motivo para se condenar<br />
toda essa mobilização. Mas ei! Está chegando o dia em que celebramos o<br />
cumprimento da “boa palavra do Senhor” também em nossas vidas.<br />
E Deus nos chama hoje a andar no seu caminho (Salmo 25.1-10).<br />
Caminho de arrependimento e confiança nele. Deus começa a construir<br />
seu relacionamento com os cristãos pelo Evangelho, seja pela pregação ou<br />
através do Batismo. E como fruto desta atividade salvadora de Cristo em<br />
suas vidas, ele exibirá responsavelmente os frutos da justiça de Cristo.<br />
O que dá sentido e valoriza realmente toda a agitação que se faz para<br />
comemorar mais um Natal, é olhar para o Salvador. Ao esperar o dia de<br />
Jesus Cristo, oramos com ações de graça para que o Senhor nos faça<br />
crescer no amor de uns para com os outros e na santidade de vida diante<br />
de Deus (1 Ts 3.9-13).<br />
Jesus Cristo também nos convida a vigiar em todo o tempo (Lc 21.25-<br />
36) para não sermos pegos desprevenidos e assim não celebrarmos essa<br />
época tão bonita sem o real sentido de sua existência. O convite de Cristo<br />
não visa meramente e somente à condenação eterna, mas para sermos<br />
animados e encorajados a desfrutar já agora dos benefícios de Cristo, em<br />
espírito de alegria e gratidão nas horas boas, em confiança e coragem<br />
nos tempos difíceis.<br />
Anselmo Ernesto Graff<br />
São Leopoldo/RS<br />
agraff@uol.com.br<br />
53<br />
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Igreja Luterana<br />
Segundo Domingo no Advento<br />
06 de dezembro de 2009<br />
Sl 66.1-12; Ml 3.1-7b; Fp 1.2-11; Lc 3.1-14(15-20)<br />
Malaquias anuncia a vinda do Senhor<br />
Advento significa a espera daquele que “há de vir”. E Malaquias dá<br />
sinais da vinda do Senhor ao seu povo. Ele descreve que um mensageiro<br />
iria preparar o caminho. No entanto, Malaquias detecta uma moléstia<br />
entre seu povo: a indignidade de receber seu Senhor. Pergunta o profeta:<br />
Quem pode suportar o dia de sua vinda? Quem poderá subsistir quando<br />
ele aparecer? Porque ele é como fogo do ourives (v.2). A moléstia é a<br />
condição do orgulho humano e esta característica do Senhor (como fogo<br />
do ourives) será para purificar os filhos de Levi como ouro e prata. Junto<br />
com a vinda do Senhor há um pronunciamento de juízo contra os feiticeiros,<br />
adúlteros, os que juram falsamente, os defraudadores, os opressores<br />
do órfão e da viúva e os que torcem o direito do estrangeiro e os que não<br />
temem. Essa atitude de Deus revela sua imutabilidade: apesar de Deus<br />
sempre ser misericordioso, seu povo não guardava os estatutos. Deus<br />
convida o povo a tornar a Ele, mas o povo pergunta: “Em que havemos<br />
de tornar?” v.7. Por isso Malaquias acusa os erros que desvirtuavam a<br />
imagem do Deus de amor e de aliança com seu povo.<br />
CONTEXTO DE MALAQUIAS<br />
Malaquias pode significar meu mensageiro e não um nome próprio. A<br />
referência em 3.1 meu mensageiro denota alguém abrindo o caminho para<br />
o advento – vinda do Senhor. Malaquias é a melhor janela para examinar<br />
as necessidades espirituais de seu povo. Na época reinava um ceticismo,<br />
desrespeito aos mandamentos (por isso a conotação Anjo da Aliança,<br />
visto a aliança feita com os pais pelos mandamentos estar rompida).<br />
Portanto, Malaquias pode ser um porta-voz da nova aliança, já que é<br />
o evangelho/boa mensagem/notícia. Essa nova aliança está no sangue<br />
de Cristo. As moléstias apontadas na perícope são como “uma ponta de<br />
iceberg”, visto que nessa época havia hostilidade do povo, questionavam<br />
o amor do SENHOR na eleição do povo de Israel, não respeitavam Seu<br />
nome, negligenciavam a oferta e eram arrogantes em relação a Deus,<br />
visto que achavam sair impunes os injustos e os tementes a Deus não<br />
teriam seus benefícios. Por isso, diz Lutero, Malaquias denuncia os sacerdotes<br />
por ensinarem a palavra de Deus de maneira infiel e abusando<br />
54<br />
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Segundo Domingo no Advento<br />
de seu ministério, não punindo os que sacrificavam animais defeituosos.<br />
“Chamado ao arrependimento” pode ser o tema de Malaquias para receber<br />
o que há de vir. Para Lutero, Malaquias 3.1 refere-se à vinda de João<br />
Batista, como Jesus afirma em Mt 11.10. Recebemos o Salvador somente<br />
em arrependimento, como João abriu o caminho dizendo em Mc 1.15:<br />
“Arrependei-vos e crede no evangelho”!<br />
O advento, em Malaquias, pode ser entendido como sendo em dois<br />
estágios: o primeiro com o advento em Cristo, que chamou pecadores,<br />
excluídos e marginalizados. O segundo estágio é o segundo advento<br />
em que de fato os opressores que oprimem em nome de Deus serão<br />
castigados. Embora isso não apareça em Malaquias, o primeiro advento<br />
mostra isso! (LASOR, p. 449-457 – LUTERO, M. Obras Selecionadas V. 8.<br />
p.110-112).<br />
TEMA A SER EXPLORADO: A VINDA DO SENHOR<br />
CHAMA AO ARREPENDIMENTO<br />
Em sua música “A Canção do Senhor da Guerra”, Renato Russo afirma<br />
aos que vão ao combate: “Lembre-se que Deus está ao lado de quem vai<br />
vencer”. Quando autoridades sociais (mão esquerda) e as autoridades religiosas<br />
(a serviço da mão direita de Deus) deixam transparecer que Deus<br />
está ao lado de quem tem mais poder, Deus precisa quebrar o orgulho<br />
humano, pois Deus quer atrair os pecadores, doentes, excluídos e aflitos<br />
que foram excluídos da “seleção natural” do homem. Assim foi com o ministério<br />
de Jesus, dirigido aos humildes de espírito, aos que choram, aos<br />
mansos, aos sedentos e famintos de justiça, aos misericordiosos, limpos<br />
de coração e pacificadores, perseguidos.<br />
Muitas vezes, dentro de nossas próprias igrejas, as pessoas vão à Santa<br />
Ceia como sendo resultado de um prêmio de uma vida sem pecado. Quando<br />
pessoas que caíram voltam à igreja, recebem dos “premiados” julgamento<br />
e condenação, afinal, Santa Ceia é para quem oferta e conseguiu “não<br />
pecar”. Quando a igreja torna-se uma estrutura que vive em torno de si<br />
mesma, começa a olhar os excluídos com certo preconceito, visto estes não<br />
entrarem no sistema estrutural. Oprime-se mais o oprimido e acalenta-se<br />
o que “compra” o favor de Deus com oferta e uma vida de aparências.<br />
Quando se transforma a igreja em empresa, cobrando dos ministros resultados<br />
meramente estruturais, esquece-se do evangelho como perdão<br />
incondicional, para a condição da estrutura à qual ele serve!<br />
Este texto aponta para a mais dura lei. No entanto, é uma lei pedagógica<br />
a serviço de um Deus de inclusão ao arrependido e quebrantado<br />
de coração. Torna-se evangelho à medida que Deus vai ao encontro dos<br />
“excluídos”, pois Deus não é um Deus de elite, mas o Deus dos arrepen-<br />
55<br />
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Igreja Luterana<br />
didos que encontram em Jesus o perdão de todos os pecados!<br />
A realidade brasileira de um “reino de Deus estrutural” está presente<br />
em todas as denominações, desde as tradicionais até os neopentecostais<br />
que relacionam a oferta proporcional à bênção de Deus, enquanto que,<br />
muitas vezes, o arrependimento pelos pecados é ignorado pelo orgulho, e<br />
pelo mesmo orgulho os sedentos pelo evangelho passam a ser indignos.<br />
Sendo assim, a proposta é a seguinte:<br />
VIVENDO O ADVENTO EM ARREPENDIMENTO<br />
1. Malaquias chama o povo ao arrependimento por seu orgulho<br />
em relação a Deus e o desprezo em relação ao próximo<br />
1.1 Arrependimentos quanto à situação pessoal: Quem pode suportar<br />
o dia da vinda? Quem poderá subsistir? Quem permanecerá diante do<br />
fogo do Senhor?<br />
1.2 A incredulidade no âmbito social: juízo para os feiticeiros, os adúlteros,<br />
os caluniadores, os fraudadores, o opressor.<br />
1.3 Este quadro social era a imagem da “igreja” – imagem de Deus<br />
revelada aos oprimidos<br />
2. O anjo da nova aliança<br />
2.1 Na nova aliança há uma boa notícia<br />
2.2 Na nova aliança há um Deus a favor do pobre e oprimido<br />
2.3 Na nova Aliança há arrependimento, perdão e nova vida em Cristo<br />
que trouxe Evangelho = Boa Nova anunciada por Malaquias.<br />
OBRAS CONSULTADAS<br />
LASOR, William S.; HUBBARD, Davi A.; BUSH, Frederic W. Introdução<br />
ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.<br />
LUTERO, Martinho. Interpretação bíblica - Princípios. Obras selecionadas<br />
Vol. VIII. São Leopoldo: Sinodal, Porto Alegre: Concórdia, 2003.<br />
Rafael Wilske<br />
Dois Irmãos/RS<br />
rafaelconcordia@pop.com.br<br />
56<br />
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Terceiro Domingo no Advento<br />
INTRODUÇÃO<br />
Alegrai-vos sempre no SENHOR<br />
Alegria – esta é a palavra-chave da perícope. Todas as colocações do<br />
apóstolo giram em torno da alegria, alegria que o povo de Deus vive em<br />
Jesus Cristo. Alegrai-vos! Alegrai-vos sempre! Alegrai-vos no Senhor Jesus!<br />
Esta é a mensagem central de Paulo em nosso texto.<br />
A alegria que Paulo recomenda aos cristãos de Filipos precisa ser enfocada<br />
em três contextos e perspectivas diferentes:<br />
- no contexto dos cristãos da igreja de Filipos;<br />
- no contexto dos cristãos da igreja no advento de Cristo de hoje;<br />
- no contexto da aplicação individual dos cristãos de nossos dias.<br />
CONTEXTO<br />
13 de dezembro de 2009<br />
Filipenses 4.4-7<br />
1. De ontem<br />
a) A Epístola aos Filipenses é conhecida como “a Carta da Alegria” e<br />
como “a mais pessoal” de todas as epístolas de Paulo. Embora a alegria do<br />
povo de Deus em Cristo seja o assunto principal de Filipenses, o apóstolo<br />
ainda aborda outras questões de relevância para os “cristãos alegres em<br />
Cristo” como estas: gratidão pela ajuda recebida na cadeia; o glorioso hino<br />
sobre o estado de humilhação e exaltação de Jesus Cristo; o cuidado com<br />
as doutrinas dos falsos mestres na igreja; as bênçãos da oração contínua;<br />
importância de Jesus Cristo ser anunciado ao mundo todo.<br />
Obs.: Antes de elaborar o sermão, é aconselhável o pregador ler toda<br />
a Epístola. O sermão será bem mais rico.<br />
b) Filipos, cidade da província romana da Macedônia (hoje: norte da<br />
Grécia), tem um grande valor histórico para a igreja cristã: nesta cidade<br />
foi fundada a 1ª igreja da Europa. É o mesmo Paulo da Epístola (acompanhado<br />
por Silas, Timóteo e, talvez, Lucas) que, pela primeira vez, pregou<br />
o evangelho de Cristo no continente europeu. O 1º culto aconteceu num<br />
“lugar de oração”. E a 1ª pessoa convertida ao Salvador na Europa é uma<br />
senhora chamada Lídia (At 16.11-18; 20.1-6).<br />
c) Paulo escreveu a Epístola aos Filipenses algemado numa cadeia<br />
pública, que pode ser em Roma ou Cesaréia. Paulo, o maior pregador de<br />
57<br />
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Igreja Luterana<br />
Cristo, é um prisioneiro, considerado um criminoso, e está aguardando<br />
a sua sentença de morte. E neste difícil contexto existencial acontece o<br />
mais surpreendente: Paulo “se sente feliz e cheio de alegria no Senhor” e<br />
escreve a “Carta da Alegria” e diz aos cristãos de jovem igreja: “Alegraivos!<br />
Alegrai-vos sempre! Alegrai-vos no Senhor!”<br />
Conhecendo e compreendendo este difícil contexto de ontem, toda a<br />
mensagem sobre a alegria cristã terá um novo valor, um novo sentido, um<br />
novo sabor! O pregador precisa considerar e valorizar este fundo histórico<br />
ao anunciar seu sermão.<br />
2. De hoje<br />
a) A perícope é para o período do ano eclesiástico chamado Advento<br />
– o 3º domingo. Advento significa vinda, chegada, espera de algo que<br />
está para acontecer. Aqui, no Advento, espera-se a dupla vinda de Jesus<br />
Cristo: no Natal, a 1ª vinda como Salvador do mundo; no Juízo Final, a<br />
2ª e última vinda, como Juiz para julgar o mundo.<br />
b) A igreja antiga classificava o tempo de advento como tempus clausum,<br />
isto é, tempo de reclusão, de penitência, de confissão de pecados,<br />
de arrependimento. Por quê? Porque só quando o cristão reconhece e<br />
se arrepende de seus pecados é que ele pode se alegrar com a vinda do<br />
Jesus Salvador e do Jesus Juiz.<br />
c) A mensagem sobre a “alegria no Senhor Jesus Cristo”, que Paulo<br />
pregou e recomendou aos cristãos da igreja de Filipos, é tão válida e atual<br />
para o povo de Deus de hoje como o foi para o povo de Deus de ontem.<br />
d) O contexto de ontem foi complexo e difícil para o pregador/escritor<br />
e para os ouvintes/leitores. O contexto de hoje é semelhante, apesar de<br />
enfoques e ênfases diferentes, isto é, complexo e difícil. Estas dificuldades<br />
de hoje o pregador conhece ou precisa considerar ao falar sobre a alegria<br />
dos cristãos.<br />
e) As colocações sobre o contexto do “alegrai-vos!” foram longas,<br />
porque são contextos difíceis, complexos e significativos para entender<br />
bem Fp 4.4-7. O contexto foi muito difícil, mas o texto da perícope e a<br />
disposição da mensagem sobre o “alegrai-vos sempre no Senhor” são<br />
simples, claros e fáceis para entender e anunciar.<br />
Por isso, apenas algumas observações sobre o texto e a disposição.<br />
TEXTO<br />
O texto de Fp 4.4-7 é simples e de fácil compreensão e pregação.<br />
Xairete – “alegrai-vos!” É uma recomendação, um pedido, um imperativo<br />
divino. Alegrar, regozijar, exultar, vibrar, jubilar, entusiasmar. É “estar<br />
feliz de todo o teu coração, toda a tua alma, todo teu entendimento, toda<br />
58<br />
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Terceiro Domingo no Advento<br />
tua força”. É uma vida interior que se manifesta no modo de ser e viver<br />
como cristão. É tão importante que o apóstolo repete: alegrai-vos! Paulo<br />
fala muito nesta Carta sobre a satisfação, a felicidade, o contentamento e<br />
a alegria dele e do povo de Deus: “oro com alegria; por isso estou alegre;<br />
terem alegria que vem da fé; completai a minha alegria; ficarei contente<br />
e me alegrarei com vocês; vocês devem ficar contentes e se alegrar<br />
comigo; vocês sintam a alegria; recebam Epafrodito com toda a alegria;<br />
irmãos, sejam alegres por estarem unidos com o Senhor; alegrai-vos<br />
sempre no Senhor; vocês são minha alegria; aprendi a viver contente<br />
em toda e qualquer situação”. Alegria, do início ao fim de Filipenses. O<br />
pregador deve explorar, enfatizar e aplicar esta mensagem aos ouvintes,<br />
lembrando estas citações:<br />
En Kúrio – “No Senhor, em o Senhor, unidos com o Senhor”. Logo,<br />
não é qualquer alegria. Só o cristão tem esta alegria, pois só o cristão<br />
“tem o Senhor, está no Senhor, está unido com o Senhor”. Este é o<br />
segredo da alegria cristã: é causada e motivada pelo Senhor. Tem pouco<br />
ou nada a ver com o riso, sorriso ou gargalhada. É mais profundo.<br />
O Senhor é o Salvador Jesus Cristo.<br />
Pantote – “Sempre”. Não só de vez em quando. É uma ação contínua,<br />
ao longo da vida. Em todos os momentos, circunstâncias e lugares<br />
(cf. 4.11). Difícil? Sim! Mas “no Senhor”, o cristão está sempre alegre:<br />
em horas de vibração e nas horas do “vale da sombra da morte”. É uma<br />
bênção especial que o Senhor Jesus confere aos redimidos.<br />
Eggus – “Perto”. Há duas interpretações sobre “o perto” ou “próximo”:<br />
1) No sentido espacial/vertical – Cristo está perto e bem junto de nós; 2)<br />
no sentido temporal – o retorno de Cristo para o juízo final está perto, está<br />
próximo. Parece-nos que o segundo significado é mais correto: a volta de<br />
Cristo está próxima! Este “próximo” ou “perto” é entendido melhor diante<br />
de 2 Pe 3.8: “... para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como<br />
um dia”. Contudo, “orai e vigiai” (Mc 14.38).<br />
Estes eram os principais destaques. As outras afirmações e recomendações<br />
sobre “a preocupação, a oração, a gratidão, a paz de Deus e em<br />
Deus, o coração, a prática na vida cristã, o modo de levar vida digna,<br />
correta, pura, agradável e decente”, o pregador pode incluir em seu sermão,<br />
se assim julgar oportuno.<br />
DISPOSIÇÃO – SUGESTÕES<br />
Introdução – sugestões: Sl 126 ou Sl 122 ou Tg 3.13 ou Lc 2.10.<br />
São textos e eventos que apontam para a alegria do povo de Deus.<br />
Tema – Alegrai-vos sempre no SENHOR (vv.4 e 7)<br />
59<br />
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Igreja Luterana<br />
Partes – (Por quê? As causas, razões, motivos. Como? As maneiras,<br />
modos, vida. Seis partes breves. Aproveitar texto e contexto.)<br />
1. (Por quê?) – Porque vocês foram feitos povo de Deus, creem no<br />
Salvador Jesus Cristo e estão unidos com o Senhor (1.1; 4.4)<br />
2. (Por quê?) – Porque o nome de vocês está escrito no Livro da Vida,<br />
que pertence a Deus (4.3)<br />
3. (Por quê?) – Porque o Senhor de vocês está perto/ ou virá logo (v.5)<br />
4. (Como?) – Como cristãos que são amáveis e agradecidos (vv. 5 e 6)<br />
5. (Como?) – Como cristãos que oram e louvam a Deus (vv. 6 e 7)<br />
6. (Como?) – Como cristãos que sabem estar guardados pelo Senhor<br />
Deus (v. 7)<br />
Conclusão – Sl 104.33 ou Lc 2.10 ou Jo 16.22,24 ou Fp 4.4 ou Hinário<br />
Luterano nº 220.<br />
Leopoldo Heimann<br />
São Leopoldo/RS<br />
secteologia@ulbra.br<br />
60<br />
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Quarto Domingo No Advento<br />
CONTEXTO<br />
20 de dezembro de 2009<br />
Miquéias 5.2-5a<br />
Miquéias foi um dos profetas do Século VIII a.C., contemporâneo de<br />
Isaías (Is 1.1), Oséias (Os 1.1) e Amós (Am 1.1). Natural de Moresete,<br />
povoado situado a uns 40 km a sudoeste de Jerusalém. Exerceu sua atividade<br />
em Judá, mas também endereçou suas proclamações a Israel, o<br />
Reino do Norte.<br />
Miquéias previu que Judá corria o mesmo perigo de sofrer o castigo que<br />
Israel sofrera em 722 a.C. Por isso fala contra os pecados do povo de Judá<br />
e de Israel. Judá será castigada por causa dos pecados das autoridades<br />
(3.1-4) e devido à corrupção dos profetas e sacerdotes (3.5-7,11). Por<br />
isso “Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do templo,<br />
numa colina coberta de mato” (3.12).<br />
Na segunda parte do livro (4-6) Miquéias aponta um futuro glorioso.<br />
Depois do castigo por causa de pecados como a idolatria e feitiçaria (5.12-<br />
14) vem a salvação. Deus ama e perdoa seu povo. É a esperança de um<br />
tempo final (4.1) quando Judá e Israel andarão para sempre “em nome<br />
do SENHOR” (4.5). Deus vai enviar um rei que vai nascer em Belém e vai<br />
fazer com que o povo viva em segurança e paz (5.2-5a).<br />
A terceira parte do livro (6-7) é uma mensagem de julgamento e castigo,<br />
mas também de bênção e salvação. A restauração de Israel depende<br />
somente da iniciativa de Deus em conceder perdão e misericórdia. O livro<br />
conclui com uma oração pedindo a misericórdia de Deus.<br />
Lutero sobre Miquéias:<br />
“O profeta Miquéias viveu no tempo de Isaías. Miquéias (4.1-3) até usa<br />
as palavras de Isaías 2 (2-4), e assim se percebe que estes profetas que<br />
viveram no mesmo tempo pregaram quase a mesma palavra a respeito<br />
de Cristo como se eles tivessem consultado um ao outro neste assunto”.<br />
“Miquéias é um dos profetas aguçados que censura o povo severamente<br />
pela sua idolatria e constantemente refere-se à vinda de Cristo e<br />
de seu reino. Em certo sentido ele é singular entre os profetas, visto que<br />
ele aponta com certeza para Belém, denominando-a como a cidade onde<br />
Cristo haveria de nascer (5.2). Por esta razão ele foi célebre sob a Antiga<br />
Aliança, como Mateus sem dúvida mostra no capítulo 2(3-6)”.<br />
“Em resumo, ele denuncia, profetisa, prega, etc. Essencialmente, no<br />
entanto, seu propósito é que mesmo que Israel e Judá teriam que se<br />
61<br />
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Igreja Luterana<br />
fragmentar, Cristo, no entanto, viria e faria boas todas as coisas” (LW<br />
35:324s.).<br />
TEXTO<br />
V. 2: Em contraste com a horrível predição do versículo 1, Miquéias<br />
agora passa para uma nota positiva. Efrata é a região na qual Belém está<br />
localizada. Desta pequena cidade viria o rei que seria enviado pelo Pai.<br />
Este rei viria de uma família de muito tempo atrás, desde os tempos do<br />
rei Davi, já planejada desde a eternidade, servindo aos planos de Deus.<br />
Mesmo que Jesus também seja o Deus eterno, assim como o Pai e o Filho,<br />
segundo a sua natureza humana ele viria de Belém, sujeitando-se ao<br />
tempo e nascendo de uma descendência humana.<br />
V. 3: Israel não seria redimido pelo seu próprio poder. Por isso seria<br />
entregue aos seus inimigos por um tempo até que fossem libertos do<br />
cativeiro. Mas a libertação que inclua a libertação dos pecados seria concretizada<br />
na vinda do Messias. Provavelmente aqui as dores de parto se<br />
refiram ao nascimento do Messias que viria para juntar um povo vindo<br />
de várias nações para formar o verdadeiro Israel espiritual. A humilhação<br />
da casa de Davi e de Israel havia sido incluída no plano de Deus, mas o<br />
resultado final seria que o Messias, assim como seu ancestral Davi, viria<br />
da humilde cidade de Belém.<br />
V.4: O Messias iria apascentar e reinar na força e majestade de Deus,<br />
o Pai, sendo o pastor de seu povo (2.12), que se estenderia “até aos<br />
confins da terra”.<br />
V. 5: Jesus é a “nossa paz” (Ef 2.14; Is 9.6). Ele providencia a cura da<br />
dissensão fatal entre Deus e a humanidade e finda a “inimizade” através<br />
da cruz (Ef 2.16).<br />
APLICAÇÕES HOMILÉTICAS<br />
O alvo deste texto é que o Messias traz a verdadeira paz.<br />
A moléstia que o texto aponta é a infidelidade de Israel em abandonar<br />
a Deus e seguir deuses de povos vizinhos e suas feitiçarias. Todo pecado<br />
é um abandono de Deus, por isso todos nós também constantemente<br />
abandonamos a Deus.<br />
O meio para se livrar da moléstia o próprio Deus providenciou planejando<br />
a vinda do Messias prometido com o nascimento de Jesus em Belém.<br />
62<br />
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Quarto Domingo No Advento<br />
PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
JESUS É A NOSSA PAZ<br />
I. Ele foi prometido desde os tempos antigos<br />
II. Nele Deus estabelece um grande povo vindo de todas as partes<br />
III. Diante de mais um Natal, ansiamos pela paz eterna.<br />
Raul Blum<br />
São Leopoldo/RS<br />
raulblum@yahoo.com.br<br />
63<br />
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Igreja Luterana<br />
Véspera de Natal<br />
Acaz é um rei prudente. Ele não aceita a palavra do profeta que lhe dissera:<br />
“Pede de Deus um sinal.” Acaz não pede sinal porque a seus próprios<br />
olhos isso soaria como provocação a Deus. Acaz não quer provocar Deus.<br />
Ele quer dar a impressão, ou ele mesmo pensa acreditar nisso, de que<br />
ele confia em Deus. Mas, ao mesmo tempo em que pretende ser alguém<br />
que confia em Deus, ele oferece aliança aos assírios que, na verdade, era<br />
uma aliança de submissão dele e de Israel ao povo assírio. Acaz pensa<br />
que confia em Deus. Mas essa confiança não inclui o agir com destemor<br />
e encarar o rei da Assíria. Ele confia em Deus o suficiente para dar culto<br />
e oferecer sacrifícios a Deus. Mas nas políticas de sustentação do povo,<br />
da economia e da autonomia como povo de Deus, aí Deus não lhe parece<br />
suficientemente presente e disposto a proteger a ele e seu povo.<br />
E o sinal que o profeta oferece parece confirmar que Deus não é suficiente<br />
para proteger o povo de Israel. O sinal é uma virgem e seu filho.<br />
Assim foi também em Jerusalém quando Jesus se apresentou. Ele não<br />
preencheu as expectativas que o povo tinha de um Messias, de um enviado<br />
de Deus. Ainda hoje as pessoas preferem cultuar as fantasias que fazem<br />
de Jesus do que confiar que perdão, paz e felicidade ao lado de Jesus<br />
possam preencher o vazio das esperanças que os homens cultivam. Ainda<br />
hoje muitos rendem louvor a Cristo nos templos e nas orações pessoais,<br />
entretanto na “vida prática” assumem estranhas alianças com as forças<br />
desse mundo.<br />
1 JOÃO 4. 7-16<br />
24 de dezembro de 2009<br />
Salmo 110.1-4; Isaías 7. 10-14; 1 João 4.7-16; Mateus 1.18-25<br />
Quando o apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios: “O amor é o dom<br />
supremo”, certamente tinha bem vivo em mente a sua experiência do<br />
encontro com Jesus, às portas de Damasco. Sua insistência sobre o tema<br />
é marcante em cada uma das suas cartas. O Pai e o Filho são, ao mesmo<br />
tempo, juízo e redenção. Mas acima e além do juízo brilha sempre a redenção<br />
como o que identifica Deus. E João vai mais além, ou, em uma frase,<br />
ou, melhor, em uma palavra apresenta Deus: Deus é amor. Exatamente,<br />
como Paulo, ele vê na ação coordenada do Pai e do Filho, a manifestação<br />
da qualidade e da dimensão desse amor: “Nisso se manifestou o amor<br />
de Deus em nós: em haver Deus enviado seu Filho unigênito ao mundo.”<br />
64<br />
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Véspera de Natal<br />
Nessa frase chama a atenção um detalhe interessante: o amor em nós se<br />
manifesta numa ação fora de nós, nessa ação coordenada do Pai através<br />
do Filho. Fruto dessa ação existe amor dentro de nós que nos faz sentir,<br />
ter uma emoção que nos aproxima das pessoas e nos faz sentir vivos.<br />
Essa vida se define a partir da ação revelada de Deus. Tudo aquilo que<br />
existe como nascendo e crescendo nesse amor é vida segundo a experiência<br />
desses apóstolos com a revelação do próprio Deus, Jesus Cristo.<br />
Essa identificação com o amor que Deus revela tem um aspecto ainda<br />
mais desafiante: esse sentimento de Deus em nós é vivo e ativo: ele busca<br />
estender-se permanentemente ao outro exatamente do modo como ele se<br />
fez sentir em nós. Isso define as pessoas como filhos de Deus (Jo 1.12).<br />
O que João, Paulo e todos os seguidores de Jesus sentiram, o que os<br />
tornou tão intensos e definitivos em suas manifestações? De alguma forma,<br />
serem convencidos do compromisso que Deus assume em assumir a<br />
pecaminosidade e a maldade da natureza humana e finalmente admitiram<br />
em si próprios a maldade viva como dominadora dos seus sentimentos<br />
naturais. Essa é a obra inicial que Deus precisa fazer: Convencer as pessoas<br />
do pecado. Somente Deus pode convencer alguém de que era necessário<br />
ser batizado para perdão dos pecados. Essa obra inicial o ser humano recusa<br />
a aceitar. Ao longo da vida, busca sempre de novo atribuir a si próprio<br />
a dignidade que lhe é dada todos os dias como presente de Deus.<br />
Portanto, o amor de Deus não se limita ao perdão dos pecados, mas<br />
efetivamente traduz as nossas mal formadas intenções de amor em amor<br />
realmente recebido por aqueles que intencionamos e tentamos amar. Crer<br />
que a educação e aperfeiçoamento dos nossos sentimentos também é obra<br />
de Deus na pessoa do Espírito Santo, essa é a fé que anima os filhos de<br />
Deus a prosseguir em suas tentativas de amar.<br />
A essa fé também pertence reconhecer que o amor que recebemos de<br />
tantas pessoas e de tantas maneiras diferentes é também obra do amor<br />
de Deus por nós. Não vemos Deus, diz João. O que vemos e sentimos é o<br />
amor de Deus através das mãos, dos olhos, da voz que expressam interesse<br />
pelo bem-estar daqueles que Deus aproxima de nós. Sentimentos<br />
são inevitáveis. Deus os desperta e aperfeiçoa. Podemos dizer que eles<br />
são espontâneos. Mas não são nossos. São vida que Deus sopra em nós<br />
na obra do Espírito Santo e que reconhecemos como sendo dele. O que<br />
podemos fazer? Louvar a Deus por ter-nos arrancado do indiferentismo<br />
egoísta denunciando a nossa natureza na cruz do Calvário e nos aceitando<br />
como somos e, finalmente, ensinando-nos a perceber a sua obra que ele<br />
realiza em nós e através de nós. Assim, o que antes era morto agora é<br />
vida.<br />
65<br />
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Igreja Luterana<br />
MATEUS 1.18-25<br />
Deus se faz criança por amor de cada pessoa que ele criou. Aliás, Deus<br />
nasce daqueles que ele criou. Não existe forma nem maneira de harmonizar<br />
esses fatos com a nossa maneira de ver e entender as coisas. Mesmo o<br />
mais cético ser humano para diante do quadro que está diante dos olhos.<br />
O que teria obrigado Deus a nascer da humanidade por ele criada?<br />
Talvez seja meramente uma impressão pessoal e, admito, talvez equivocada.<br />
Mas as celebrações de Natal a que tenho presenciado ultimamente,<br />
salvo algumas exceções, mais se parecem com qualquer espetáculo (show)<br />
que mais faz aparecer e dar visibilidade aos cantores com seus vocais e<br />
ritmos, com textos por vezes desconexos, do que induzir à contemplação<br />
do Natal que aconteceu em Belém. Nota-se nos pastores e suas equipes<br />
um esforço intenso de valorizar a data, torná-la marcante, mas José e<br />
Maria com o menino Jesus acabam por parecerem a mim naquele cenário<br />
figuras decorativas, personagens de ficção de um passado remoto.<br />
As próprias crianças que até há algum tempo tinham espaço central<br />
para expressar um certo jeito de ver o Natal, agora parece estar sendo<br />
espremidas para uma lateral para que atores e cantores e instrumentistas<br />
façam o papel central.<br />
O que provocou essa reflexão de cunho crítico? Um dos textos mais<br />
preciosos do Natal é o Cântico de Maria (Lc 1. 46-55). Ao contemplar o<br />
quadro natalino de Mateus, mais focado em José, vem à mente o olhar de<br />
Lutero sobre Maria no seu comentário sobre o Cântico de Maria*. Lutero<br />
sente nas palavras de Maria o reconhecimento da completa nulidade do<br />
ser humano diante da vida e diante de Deus. Nessa contemplação, Lutero<br />
se consola na contemplação de Maria diante da tremenda tarefa de<br />
comparecer diante das autoridades do Império em Worms onde lhe seria<br />
ordenado retratar-se da doutrina do Evangelho.<br />
Ao traduzir Pois contemplou a humildade da sua serva, Lutero prefere<br />
por na boca de Maria a palavra nulidade ou ser insignificante. O que Maria<br />
poderia oferecer a Deus para ter a dignidade de ser a mãe de Deus? Nada,<br />
é a resposta de Maria. Nada, é a resposta de Paulo em vários momentos<br />
das suas cartas. Lutero sente esse NADA diante de Worms. E isso lhe<br />
permite dar os passos naquela direção.<br />
Na verdade, como poderíamos testemunhar esse nada numa celebração<br />
em que queremos honrar Deus? Como podemos testemunhar ao mundo<br />
e a nós próprios para dentro das nossas igrejas e suas celebrações que,<br />
tal como Maria, temos de admitir que o nosso louvor é nada, mas que<br />
*Publicado em livrete na coleção “Lutero para Hoje” sob o título O Louvor de Maria (CIL, Concórdia<br />
e Sinodal, 1999. Também em Obras Selecionadas, vol. 6, pp. 20-78).<br />
66<br />
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Véspera de Natal<br />
Deus contempla esse nada, nasce desse nada para que ele nos faça ser<br />
tudo que Deus tem para dar e oferecer ao nada? Como podemos fazer<br />
algo assim? Nunca saberemos fazê-lo. Não conseguiremos jamais anular<br />
a nossa pretensão de querermos ser algo de nós próprios diante das<br />
pessoas e do próprio Deus.<br />
Em razão disso, minha própria crítica ao louvor que se faz em algumas<br />
cenas do Presépio é também nada. O que sei eu do que se passa no coração<br />
de qualquer pessoa? O que sei eu do que significou para cada uma<br />
daquelas pessoas estarem ali tentando do seu jeito expressar gratidão<br />
e louvor a Deus? O mesmo Deus que prometeu receber e aceitar o mais<br />
indigno e imperfeito louvor por causa do amor que tem pela sua criatura<br />
revelado no Natal?<br />
A perplexidade e confusão de José, mas finalmente a sua singeleza<br />
em seguir os fatos tal como lhe foram apresentados, é talvez também<br />
a única maneira de estar diante da representação do presépio. Mas não<br />
somente isso. É também o que consola cada pessoa que precisa enfrentar<br />
as tarefas que Deus impõe a cada um. Pessoas como José, Paulo, Maria,<br />
Lutero, você, seus familiares, não precisamos de coragem. Os nossos<br />
olhos, como os deles, foram abertos por Deus, para vermos a ele no comando<br />
das forças desse mundo. José não tem coragem para enfrentar a<br />
opinião de uma aldeia. Com ele podemos aprender a ver Deus em cada<br />
fato e acontecimento das nossas vidas, os impedimentos, os desafios, os<br />
atrasos, as acelerações, os momentos felizes e encorajadores, como as<br />
tristezas, as fugas e as perdas. Não importa como eu me sinto diante das<br />
coisas e das pessoas. Importa saber se reconheço Deus no comando de<br />
tudo para o louvor e honra do seu nome.<br />
Aquela criança é Deus para resgatar pessoas que são nada e fazer de<br />
todos os Nada filhos de Deus. Porque muitos Nada ainda necessitam saber<br />
disso, se consolar nisso e viver.<br />
ORGANIZAÇÃO DO EVANGELHO PARA A PREGAÇÃO<br />
Como José, estamos diante dos fatos da vida<br />
Como José, nos esforçamos para ter uma saída<br />
Como José, aprendemos que os fatos são palavra de Deus<br />
Essa palavra nos consola e anima a viver.<br />
Paulo P. Weirich<br />
São Leopoldo/RS<br />
ppweirich@yahoo.com.br<br />
67<br />
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Igreja Luterana<br />
Dia de Natal<br />
1. TEXTO E CONTEXTO<br />
Entre os vv. 1 e 2, o apóstolo estabelece três contrastes: “outrora ...<br />
nestes últimos dias”, “aos pais ... nos [=para nós]”, “pelos profetas ... pelo<br />
Filho”. Há ainda um quarto contraste, ressaltado pelas formas verbais do<br />
verbo “falar”: “falado [Particípio Aoristo = situação ocorrida mais de uma<br />
vez] muitas vezes e de muitas maneiras ...; “falou” [Indicativo Aoristo =<br />
fato histórico, talvez ênfase no evento único].<br />
A expressão “nestes últimos dias”, ou “no fim destes dias” (evp v evsca,tou<br />
tw/n h`merw/n tou,twn) tem um tom escatológico. Trata-se de uma manifestação<br />
definitiva de Deus (é o que evoca o termo e;scaton). O próprio<br />
uso das formas verbais também leva a esta direção. No versículo 1, o<br />
verbo no Particípio parece indicar a situação como um todo, que resume<br />
o Antigo Testamento: Deus tendo falado através dos profetas. Este era o<br />
modo usual de Deus falar, tornando conhecida sua vontade e manifestando<br />
juízo e salvação. É importante notar que o verbo lale,w é muitas vezes<br />
usado como referência à proclamação dinâmica da mensagem de Deus.<br />
Ele pode referir-se ao contexto do culto (por exemplo, o verbo é usado<br />
mais de vinte vezes no capítulo 14 de 1 Coríntios).<br />
No v. 2, o verbo no Indicativo Aoristo chama a atenção para o caráter<br />
de evento único da ação descrita: Deus falou ... pelo Filho. A ênfase não<br />
está em Deus ter falado diversas vezes através do Filho, como se estivesse<br />
focalizando cada uma das pregações de Jesus. Mas a idéia é que em<br />
Jesus aconteceu de forma definitiva e única a manifestação proclamatória<br />
de Deus. Tudo o que veio antes, até mesmo pelo seu caráter contínuo e<br />
repetitivo – “muitas vezes e de muitas maneiras” – era preparatório para<br />
a grande manifestação de Deus. Por assim dizer, Jesus é o discurso final<br />
de Deus ao mundo. Nele Deus descortina de forma plena sua vontade,<br />
seu projeto, seu juízo e sua redenção.<br />
Há um pensamento de progresso na revelação de Deus entre as duas<br />
etapas referidas no texto. Mas este progresso não é do tipo “do menos<br />
para o mais importante”, ou “do menos verdadeiro para o mais verdadeiro”,<br />
pois é o mesmo Deus que está falando em ambas situações. Aliás, é<br />
significativo que Deus fale! Toda a fé cristã está fundamentada no fato de<br />
que Deus é e se revela! Ele não fica escondido, não deixa para a reflexão<br />
humana descobrir Sua natureza e Seus desígnios. Deus fala! E sua fala,<br />
68<br />
25 de dezembro de 2009<br />
Hebreus 1.1-6<br />
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Dia de Natal<br />
ainda que inclua a proclamação do juízo sobre o pecado, tem como objetivo<br />
final proclamar redenção, vida, salvação.<br />
Que progresso está evidenciado na manifestação de Deus? É o “progresso”<br />
que vai da promessa para o cumprimento. Nos profetas é dada a<br />
promessa. Ela é verdadeira e eficaz, manifestada nas páginas do Antigo<br />
Testamento, pois é o único Deus que fala. No entanto, ela se cumpre tão<br />
somente quando da vinda em carne do Filho de Deus. Na encarnação Deus<br />
se deixa ver e ser conhecido na concretização da promessa, na realização<br />
do projeto de salvação. Em Cristo estão os definitivos “sim” e “amém” de<br />
Deus (2 Co 1.20).<br />
Voltamos novamente à expressão evp v evsca,tou tw/n h`merw/n tou,twn<br />
traduzida por “nestes últimos dias”. F. F. Bruce [The Epistle to the Hebrews,<br />
The New International Commentary on the New Testament, Eerdmans,<br />
1991] argumenta que por esta frase o autor não quer dizer apenas “recentemente”.<br />
Trata-se, segundo Bruce, da “tradução literal da expressão<br />
hebraica usada no Antigo Testamento para denotar a época quando as<br />
palavras dos profetas serão cumpridas e seu uso aqui significa que a vinda<br />
de Cristo ‘ao se cumprirem os tempos ... uma vez por todas’ (Hb 9.26)<br />
inaugurou aquele tempo de cumprimento.” (BRUCE, p. 46). A expressão<br />
evp v evsca,tou tw/n h`merw/n é usada pela Septuaginta literal ou ligeiramente<br />
modificada em textos como Gn 49.1; Nm 24.14; Dt 4.30; Is 2.2;<br />
Jr 23.20; Ez 38.16; Dn 10.14; Os 3.5; Mq 4.1. Neste sentido, o falar de<br />
Deus em Jesus configura-se num exemplo da escatologia inaugurada,<br />
ou seja, de que em Jesus, no seu ministério e na sua obra redentora, os<br />
fins dos tempos foram antecipados. Ele é o fato central da história e tudo<br />
o que ainda virá é fruto de sua obra neste mundo, realizada através da<br />
encarnação.<br />
O autor cita sete fatos a respeito de Jesus que acentuam sua grandeza,<br />
mostrando que nele de fato acontece a máxima revelação de Deus.<br />
Nestas sete observações Jesus é relacionado com Deus [“resplendor da<br />
glória”, “expressão exata do seu Ser”, “assentou-se à direita da Majestade,<br />
nas alturas”], com a criação [“herdeiro de todas as coisas”, “fez o<br />
universo”, “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”] e<br />
com a humanidade pecadora, através de seu caráter de sumo-sacerdote,<br />
que será uma das grandes ênfases de toda a Epístola [“fez a purificação<br />
dos pecados”]. O texto bíblico sugere que, por ocasião da celebração do<br />
nascimento de Jesus, se reflita a respeito da grandeza de Cristo a partir<br />
destas três perspectivas.<br />
2. APLICAÇÃO HOMILÉTICA<br />
Os profetas anunciaram a vinda de Jesus séculos antes dela acontecer.<br />
69<br />
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Igreja Luterana<br />
Por esta mensagem as pessoas de sua época foram consoladas, amparadas<br />
e orientadas a olharem para o futuro com esperança, quando Deus<br />
romperia os céus e manifestaria sua presença (cf. Is 64.1). A mensagem<br />
profética – sempre lembrada com muita propriedade nos cultos e programas<br />
de Natal – é a primeira parte de uma bela moldura para o quadro deste<br />
dia. O versículo inicial do texto vem sublinhar o papel dos profetas.<br />
A segunda parte da moldura vem da manifestação dos anjos, enviados<br />
por Deus para celebrar a chegada de Seu glorioso Filho. Os versículos<br />
seguintes do texto do dia (4-6) – na verdade, até o final do capítulo 1,<br />
mostram um dos aspectos da superioridade de Cristo: Ele é maior [literalmente,<br />
“melhor” – krei,ttwn] do que os anjos. É significativo que anjos<br />
tiveram um papel muito importante por ocasião dos eventos anteriores<br />
e imediatamente posteriores ao nascimento de Jesus – no anúncio a Zacarias,<br />
a Maria, a José, aos pastores. No entanto, assim como os relatos<br />
de Mateus e Lucas já deixam claro, agora Hebreus o expressa, Jesus é<br />
maior (melhor) do que os anjos, sendo eles seus servos, atuando para a<br />
promoção de sua glória.<br />
Profetas e anjos são a moldura colocada por Deus para anunciar a mais<br />
grandiosa mensagem – a chegada do Salvador. Ele, Jesus, é a própria<br />
mensagem, a concretização da vontade do Pai para a humanidade e o<br />
falar definitivo, escatológico de Deus para o mundo. Em Cristo Deus fala,<br />
é reconhecido e realiza o projeto de salvação da humanidade.<br />
Estamos nos “últimos dias”, os dias entre a primeira e gloriosa vinda e<br />
a segunda e definitiva chegada de Jesus. O Natal vem mostrar mais uma<br />
vez que é tempo de celebrar a salvação que Jesus veio trazer, e que fora<br />
anunciada anteriormente pelos profetas e proclamada pelos anjos. Esta<br />
mensagem, encarnada em Jesus, é agora manifestada por todos os que<br />
têm o privilégio de reconhecer a Ele como a suprema manifestação de<br />
Deus, em seu amor e graça.<br />
Gerson L. Linden<br />
São Leopoldo/RS<br />
gerson.linden@gmail.com<br />
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Primeiro Domingo após Natal<br />
TEXTOS<br />
27 de dezembro de 2009<br />
Êxodo 13.1-3a,11-15; Salmo 111; Colossenses 3.12-17; Lucas 2.22-40<br />
O primeiro é do SENHOR ou Fazei tudo para o SENHOR<br />
Êxodo 13.1-3a, 11-15: É a memorável saída de Israel do Egito. Já<br />
tinha acontecido a instituição da Páscoa. Já ocorrera a morte de todos os<br />
primogênitos dos egípcios. E aí ocorreu o que nosso texto relata. Deus dá<br />
uma ordem: TODO O PRIMOGÊNITO É MEU, disse Deus. E tanto de homens<br />
como de animais. Ou seja: O primeiro é do SENHOR. Havia ainda um<br />
detalhe entre os primogênitos de animais: todos os machos seriam do<br />
SENHOR. Mas os primogênitos da jumenta poderiam ser substituídos por<br />
um cordeiro no sacrifício ou seriam mortos. Mas o grande detalhe estava no<br />
fato de que os primogênitos de “meus filhos deviam ser resgatados”, comprados<br />
de volta, substituídos por outra vítima no sacrifício ao Senhor.<br />
Salmo 111: Um salmo acróstico. No versículo 9 está o centro do Salmo:<br />
“Enviou ao seu povo a redenção; estabeleceu para sempre a sua<br />
aliança”. A aliança que Deus fez com Israel e com toda a humanidade<br />
resultou na redenção enviada no Menino e Primogênito da Manjedoura.<br />
Os que conhecem a aliança e a redenção louvam a Deus por seus grandes<br />
feitos. Estar na aliança da salvação resulta no “temor do Senhor”, ou<br />
seja, em grande respeito em amor ao Senhor. Por isso, é o princípio de<br />
toda a sabedoria.<br />
Lucas 2.22-40: O Evangelho nos conduz ao templo em Jerusalém. Ao<br />
oitavo dia Jesus foi circuncidado, mas ao 40º dia Ele foi apresentado no<br />
templo, como primogênito de José e Maria. E foi resgatado, conforme a<br />
Lei do Senhor em Êxodo 13. Por serem os pais de origem humilde, eles<br />
puderam oferecer um par de rolas ou dois pombinhos. Lucas, quando fala<br />
do “primogênito que abre a madre”, fala no original como “aquele que<br />
abre a madre santa”. A expressão adquire um sentido mais profundo e<br />
significativo quando vemos o valor que Deus atribui onde o filho é gestado<br />
e Deus lhe deu vida por seus pais.<br />
Neste Menino Primogênito, Simeão viu sua salvação e cantou o Nunc<br />
Dimittis de nossa liturgia de Santa Ceia.<br />
Colossenses 3.12-17: É o texto para a mensagem.<br />
71<br />
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Igreja Luterana<br />
CONTEXTO<br />
A epístola aos Colossenses apresenta Jesus como o PRIMOGÊNITO de<br />
toda a criação e o PRIMOGÊNITO dentre os mortos (vv. 15 e 18), é a Cabeça<br />
da Igreja (v. 18), para ter a primazia em todas as coisas (v. 18), em<br />
quem habita corporalmente toda a plenitude da divindade, portanto como<br />
verdadeiro Deus e verdadeiro homem em uma só pessoa. Nele temos a<br />
verdadeira vida e com Ele seremos manifestados em glória.<br />
A seguir começa o texto propriamente dito. Observemos que Deus<br />
por Paulo fala numa metáfora do despir-se e vestir-se; do despojar-se e<br />
revestir-se. Do que deveriam os crentes despir-se? – Da velha natureza<br />
que consiste em prostituição, impureza , etc., detalhado nos versículos 5<br />
a 8 do capítulo 3. E do que revestir-se? – Do novo homem que é segundo<br />
a imagem daquele que o criou – 3.10,11. E as virtudes com as quais<br />
se vestir estão nos versículos 12 a 17 e também após estes versículos.<br />
Observe-se que estas virtudes que seguem são as próprias virtudes de<br />
Cristo. Vesti-las e praticá-las é fazer O MELHOR PARA O SENHOR, é FAZER<br />
PARA O SENHOR.<br />
Três títulos para os que vão vestir-se para Deus: eleitos, santos e<br />
amados.<br />
“Eleitos” – Rm 8.29-33; Ef 1.4; 1 Pe 1.2; “santos” – Rm 1.7; “amados”-<br />
Dt 4.37.<br />
A vestimenta, as virtudes a serem vestidas tornam a vida agradável.<br />
“[...] ternos afetos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão<br />
e longanimidade”. Ternos afetos [...], isto é, segundo o modelo de Deus<br />
(Lc 6.36), recomendada (Rm 12.20) e gravada nos corações (Pv 3.3) e as<br />
seguintes são todas frutos do Espírito, da relação de Gl 5.22ss.<br />
As virtudes seguintes resolvem conflitos:<br />
“Suportai-vos [...] perdoai [...] o amor como vínculo da perfeição<br />
[...] a paz de Cristo como árbitro e sede agradecidos” – vv. 13-15. Esse<br />
perdão é possível quando o amor de Cristo está nos corações. Os homens<br />
fazem coisas que exigem perdão, até entre os crentes. O amor (ágape)<br />
como alvo da perfeição. O coração, o homem interior deve contar com um<br />
poder que regula toda a vida do crente. E esse poder é a paz de Cristo,<br />
que Ele conquistou na cruz.<br />
O versículo 16 exalta a fonte que fortalece as virtudes: a Palavra<br />
de Deus, seu ouvir, seu ensino. O ensino por palavras, música e exemplo.<br />
Mas o conteúdo deve ser a Palavra, a Escritura, a Bíblia. Habite em vós<br />
quer dizer como fixar residência, usar sempre e sempre a Escritura.<br />
O versículo 17 é uma declaração, um resumo da perícope do domingo<br />
72<br />
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Primeiro Domingo após Natal<br />
e da vida do crente. Por isso o tema: Fazei tudo para o SENHOR ou O<br />
primeiro é do SENHOR.<br />
PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Considerando a relação entre todas as leituras e que elas serão lidas,<br />
oferecemos uma disposição com tema e tópicos para uma mensagem que<br />
pode ser mudada a critério de cada um.<br />
Introdução: Quem é Deus? No Catecismo Maior de Lutero no 1º<br />
Mandamento: “Deus é aquele de quem esperamos todo o bem, e em<br />
quem procuramos amparo em todas as angústias. Assim, ter um só Deus<br />
significa: confiar-se a Ele e crer nEle de todo o coração. Pv 3.9,10: “Honra<br />
ao Senhor .... primícias de toda a tua renda...”. “Fazei tudo o que Ele<br />
vos disser” (Jo 2.5). “Buscai em primeiro lugar o seu reino...” (Mt 6.33).<br />
Não tem outro Deus. ELE é exclusivo. Exclusiva e única deve ser nossa<br />
confiança nEle. Para Deus só serve o melhor. Por isso<br />
O PRIMEIRO É DO SENHOR ou FAZEI TUDO PARA O SENHOR<br />
1. Deus é isso para nós por causa da sua aliança e redenção que enviou:<br />
Sl 111.9; Gl 4.4,5. Resulta no temor (respeito em amor), que é o<br />
princípio de toda a sabedoria.<br />
2. Todo o primogênito é meu, disse Deus – Êx 13.2<br />
3. Ele também entregou o que tinha de melhor: o seu Primogênito –<br />
Lc 2.22-40<br />
4. Colossenses apresenta Jesus como Primogênito de toda a criação<br />
– Cl 1.15<br />
5. Também como Primogênito de entre os mortos – Cl 1.18<br />
6. Como Aquele em quem habita corporalmente toda a plenitude da<br />
Divindade – Cl 2.8,9<br />
7. Como Aquele que nos dá vida, nosso Salvador<br />
8. Os crentes se despem e se vestem ... com virtudes de Jesus: vv.<br />
12 a 15<br />
9. Com o que ensinam: ENSINAR, ENSINAR, ENSINAR A PALAVRA<br />
DO SENHOR – v. 16<br />
10. Para Ele FAZEI TUDO; O PRIMEIRO (o melhor) é do SENHOR – Cl<br />
2.17<br />
Conclusão: Dar a Deus o primeiro, fazer tudo para Ele dá à nossa<br />
vida sentido e grande prazer. E recebe o reconhecimento que Jesus deu<br />
à mulher que o ungiu: “Ela fez o que pôde” (Mc 14.8).<br />
Benjamim Jandt<br />
São Leopoldo/RS<br />
provedoriaseminario@ulbranet.com.br<br />
73<br />
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DIA DE ANO NOVO<br />
CIRCUNCISÃO E NOME DO SENHOR<br />
1. LEITURAS DO DIA<br />
1 de janeiro de 2010<br />
Números 6.22-27<br />
Salmo 8: Este salmo é um hino de louvor onde Davi expressa sua admiração<br />
à majestade do Senhor. Deus usa até os fracos (os seres humanos<br />
de modo geral – especialmente os pequeninos e crianças de peito – v.<br />
2) para derrubar os poderosos (vv.1-2); Davi também medita no fato de<br />
Deus ter confiado o domínio de sua criação ao homem (vv. 3-8) e conclui<br />
com tom de louvor e júbilo (v.9).<br />
Números 6.22-27: Fórmula da bênção divina também conhecida<br />
como “bênção araônica”. Pronunciada nos cultos pelos sacerdotes de Jerusalém<br />
(cf. Lv 9.22) e presente em nossas liturgias e cultos luteranos.<br />
O nome de Deus pronunciado três vezes é expressão semítica do favor<br />
divino, garantindo a Israel a presença de Deus que protege e vivifica. Tal<br />
bênção mostra que o povo pertence exclusivamente a Deus e que este o<br />
abençoa com a paz.<br />
Gálatas 3.23-29: A lei mostra que o mundo está em pecado, a fim de<br />
que as pessoas percebam que as obras não podem salvar e que somente<br />
Cristo pode fazê-lo. A lei ficou tomando conta de nós como um paidagogós*<br />
(literalmente guia de crianças) até que Cristo viesse para podermos<br />
ser aceitos por Deus por meio da fé.<br />
Lucas 2.21: Segundo a Lei de Moisés (Lv 12.3), todo menino deveria<br />
ser circuncidado uma semana depois de nascer. No mesmo dia de sua circuncisão,<br />
Jesus também recebe de maneira “oficial” seu nome, cumprindo<br />
a promessa do anjo Gabriel em Lc 1.31. O NOME que está sobre todos os<br />
nomes e pelo qual importa que sejamos salvos (At 4.12).<br />
*Este termo usado por Paulo e traduzido pela ARA como aio (guia, escravo) contrasta com o<br />
nosso atual termo para pedagogo, que se caracteriza como uma pessoa que ensina, educa,<br />
um professor ou instrutor em nossas escolas. No contexto social greco-romano o paidagogos<br />
caracterizava uma pessoa, geralmente escravo, cuja tarefa era conduzir um menino (dos 6 aos<br />
16 anos) para a escola e supervisioná-lo de modo geral. Não era professor.<br />
74<br />
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Dia de ano novo - circuncisão e nome dO SENHOR<br />
2. CONTEXTO<br />
Os primeiros dez capítulos do livro de Números cobrem cinquenta dias<br />
em que Moisés organizou Israel para a marcha de Sinai até a terra prometida.<br />
Esses dez capítulos iniciais mostram como os princípios de santidade<br />
de Levítico foram colocados em prática na organização da nação.<br />
Depois que o Tabernáculo fosse dedicado (Êx 40.1-33) e antes de Israel<br />
começar a peregrinação pelo deserto, Deus deu orientações para a vida<br />
do povo (Nm 1.1; 6.21). A graciosa atitude de Deus para com os israelitas<br />
seria expressa em uma fórmula que Arão usaria quando erguesse suas<br />
mãos sobre o povo (Lv 9.22). Os ecos desta bênção são encontrados em<br />
Sl 4.6; 67.1; 80.3,7,19; 119.135.<br />
A santidade do tabernáculo – aspecto esclarecido pela regulamentação<br />
detalhada de seu manuseio (caps 3-4) – deu origem à consideração<br />
de várias ordenanças ligadas à santidade e a separação como o exemplo<br />
clássico da lei dos nazireus no capítulo 6.<br />
A oração da bênção parece que está fora de contexto, imediatamente<br />
depois da lei dos nazireus, e antes das ofertas dos príncipes (capítulo 7),<br />
o que força o leitor a pensar por que ela foi colocada aqui. Sua introdução<br />
(v. 22) a liga com os regulamentos designados à purificação do acampamento<br />
israelita, e, portanto, para preparar o povo para o grande ato de<br />
adoração, a marcha em direção à terra prometida. A bênção que invoca<br />
a proteção de Deus sobre o povo vem em um momento muito apropriado.<br />
Também serve para mostrar que o objetivo permanente de Deus é<br />
abençoar todo o Seu povo, e não meramente aqueles que fazem o voto<br />
de nazireu. Enquanto que os nazireus geralmente faziam seus votos por<br />
um curto período de tempo, os sacerdotes estavam sempre ali, pronunciando<br />
esta bênção no fim dos trabalhos matutinos diários no templo, e<br />
mais tarde nas sinagogas. A proclamação desta oração pelos sacerdotes<br />
era uma garantia de que Deus de fato iria por o meu nome sobre os filhos<br />
de Israel (v. 27 ARA).<br />
3. TEXTO<br />
A oração é composta em forma poética, e é provavelmente um dos<br />
poemas mais antigos da Escritura. Segundo a gramática da língua portuguesa,<br />
não há necessidade de se repetir as palavras, neste caso o nome<br />
do Senhor, mas a repetição semítica enfatiza que o Senhor é a fonte de<br />
todos os benefícios de Israel, como o faz o versículo 27: e eu os abençoarei;<br />
“eu” é enfático em hebraico.<br />
À medida que as linhas da bênção se tornam mais longas, o seu conteúdo<br />
se torna mais rico, produzindo um crescendo que culmina na palavra<br />
paz (26). Cada linha (vv. 24-26) tem o Senhor como sujeito, e o Seu<br />
75<br />
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Igreja Luterana<br />
nome é seguido por dois verbos, o segundo dos quais expande a idéia do<br />
primeiro: abençoe, guarde; resplandece, tenha misericórdia; levante, dê<br />
a paz. Segundo P.D.Miller 1 , “A primeira cláusula de cada linha (invoca) o<br />
movimento de Deus em direção ao Seu povo, e a segunda cláusula, a Sua<br />
atividade em favor dele”. Deus abençoa as pessoas dando-lhes filhos, propriedades,<br />
terra, saúde e a Sua presença (Gn 17.16; 22.17ss.). O Salmo<br />
121, que aparentemente alude a Nm 6.24, explica nos versículos 7 e 8 o<br />
que significa ser guardado por Deus (de todo mal desta vida mortal).<br />
Faça resplandecer o seu rosto sobre ti (v.25). Esta metáfora,<br />
assemelhando Deus à luz, é característica da tipologia bíblica acerca de<br />
Deus (cf. Sl 31.16). Quando Deus sorri sobre o Seu povo, este pode estar<br />
certo de que ele terá misericórdia dele, isto é, Ele o libertará de todos<br />
os seus problemas. Ele responderá às suas orações e o salvará dos seus<br />
inimigos, doença e pecado (Sl 4.1; 6.2; 41.4; 51.1).<br />
Levante o seu rosto (v.26). Enquanto “resplandecer” refere-se<br />
ao aspecto benevolente de Deus, o levantar os olhos ou a face significa<br />
prestar atenção (Gn 43.29; Sl 4.6). Paz (shalôm em hebraico) significa<br />
mais do que ausência de guerra. Quer dizer bem estar, saúde, prosperidade<br />
e salvação. Ou seja, o total de todas as boas dádivas de Deus ao<br />
Seu povo.<br />
O Novo Testamento afirma que Jesus é Senhor, e que o Espírito<br />
Santo é Senhor (Rm 10.9; 2 Co 3.17). Em Jesus o significado pleno da<br />
paz é revelado inteiramente; Ele deu a paz e é a nossa paz (Jo 14.27 e<br />
Ef 2.14ss.). A dimensão deste novo pacto acrescenta uma profundidade<br />
adicional a uma oração que no seu contexto veterotestamentário já é<br />
extraordinariamente significativa.<br />
4. PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Viver sob as bênçãos de Deus é o desejo de todo mundo, especialmente<br />
em datas festivas. Ano novo é um período propício para desejar<br />
bênçãos de Deus para nossos familiares, amigos e irmãos na fé. Nada<br />
melhor do que começarmos o ano com as belíssimas palavras da bênção<br />
araônica. Nesta direção sugerimos os seguintes temas:<br />
Que o Senhor te abençoe e te guarde no novo ano<br />
1. Dando-lhe bênçãos materiais<br />
2. Principalmente as bênçãos espirituais<br />
Jesus - o Nome para o novo ano (Por quê?)<br />
1. Porque neste nome há poder<br />
2. Porque nEle teremos paz completa<br />
1<br />
MILLER, P.D. The Blessing of God: An Interpretation of Numbers 6:22-27, 1979, p. 243.<br />
76<br />
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Dia de ano novo - circuncisão e nome dO SENHOR<br />
Jesus, a fonte de todas as bênçãos<br />
1. Porque Ele é o único Deus (o que isso implica em nossa vida diária?)<br />
2. Porque Ele é o nosso Salvador<br />
Votos de bênçãos de Deus para você!<br />
1. Porque só Ele dá proteção<br />
2. Porque só nEle temos misericórdia<br />
3. Porque só nEle temos paz.<br />
Héber Guéter Fach<br />
São Paulo/SP<br />
heberfach@yahoo.com.br<br />
77<br />
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SEGUNDO Domingo após Natal<br />
CONTEXTO LITÚRGICO<br />
A epístola do domingo de hoje, escolhida para o segundo domingo após<br />
o Natal, ainda reflete toda a atmosfera natalina que nos mostra o grande<br />
amor e misericórdia do Deus Triúno em relação a seus filhos, que tanto os<br />
abençoou. Deus Pai os escolheu antes da fundação do mundo para serem<br />
seus filhos amados, através da redenção de seu Filho, Cristo Jesus, e fez<br />
nele convergir todas as coisas a fim de que obtivessem a sua herança no<br />
reino celestial, tendo sido selados com o Espírito Santo que se tornou o<br />
penhor desta sua herança, conservando-os na fé verdadeira.<br />
Os cristãos agraciados com tamanho benefício agora não podem deixar<br />
de louvar a Deus e ter o prazer em ouvir a sua palavra e andar em<br />
seus caminhos como o fez o salmista no Sl 119.97-104, quando exclama:<br />
“Quanto amo a tua lei! É a minha meditação todo o dia... os teus mandamentos<br />
me fazem mais sábios que os meus inimigos... de todo o mau<br />
caminho desvio os pés”.<br />
O jovem rei Salomão, na leitura do A.T., 1 Rs 3.4-15, que amava o Senhor,<br />
numa oração de noite, em sonhos, reconhece a grande benevolência<br />
divina e pede a Deus um coração compreensivo para julgar seu povo a<br />
fim de que prudentemente discirna entre o bem e o mal. E na leitura do<br />
Evangelho, Lc 2.40-52, o próprio Jesus mostra seu prazer de ficar na casa<br />
de seu Pai a fim de estar em permanente contato com a sua palavra e o<br />
último versículo nos informa de que crescia em sabedoria diante de Deus<br />
e dos homens. Todas as leituras do dia nos mostram o grande amor de<br />
Deus para com seus filhos e o prazer deles de permanecerem em contato<br />
com a sua palavra e de andarem em seus caminhos.<br />
CONTEXTO HISTÓRICO<br />
03 de janeiro de 2010<br />
Salmo 119.97-104; 1 Reis 3.4-15; Efésios 1.3-14; Lucas 2.40-52<br />
A epístola do domingo de hoje consta da abertura da carta de Paulo<br />
aos Efésios. Havia trabalhado na cidade de Éfeso principalmente na sua<br />
terceira viagem missionária. A cidade não era apenas a metrópole da<br />
província da Ásia, mas também culturalmente a mais importante, em<br />
que se destacava o famoso templo da deusa Diana, uma das sete maravilhas<br />
do mundo antigo. Era fonte não apenas da atração turística, mas<br />
também do lucro dos artífices de imagens sagradas, entre os quais se<br />
78<br />
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segundo Domingo após Natal<br />
destacava Demétrio, que até causou um tumulto contra Paulo porque a<br />
sua pregação evangelística diminuíra seus lucros substancialmente (cf.<br />
At 19. 23-40). Sendo a maioria dos convertidos de Paulo das camadas<br />
humildes, o apóstolo lhes desvenda a imagem gloriosa da igreja, a qual,<br />
segundo Stöckhardt, tem suas raízes na eternidade, no coração paterno<br />
de Deus, penetra com sua fronde de novo na eternidade junto ao trono<br />
de Deus e ramifica seus galhos em todas as ordens da criação através da<br />
história do desenvolvimento, e tudo isso em Cristo.<br />
O apóstolo tem a intenção de não apenas mostrar a glória da igreja,<br />
mas também a grandeza de seus membros que pela graça de um Deus<br />
bondoso e misericordioso são muito mais importantes que aqueles que<br />
são considerados grandes pelo mundo. Em lugar de ser inscrito no rol<br />
de homens famosos deste mundo, vale muito mais ser inscrito no livro<br />
da vida. Enquanto a glória do mundo passa, a glória da igreja dura para<br />
sempre e com ela seus membros. Salvos pela fé na graça de Deus, não<br />
pelas obras, são agora feitura de Deus, criados em Cristo Jesus para boas<br />
obras. As pessoas verdadeiramente ricas, possuidoras de tesouros imperecíveis,<br />
são aquelas que creem na salvação de um Deus misericordioso,<br />
que estabeleceu um plano de salvação para elas, segundo o beneplácito<br />
de sua vontade.<br />
TEXTO<br />
O texto inteiro é uma doxologia que glorifica a grandeza e majestade<br />
divinas. Está subdividido em três partes, dedicadas cada uma a uma<br />
pessoa da Trindade e cada parte termina com as palavras: “para louvor<br />
da glória de sua graça”, ou: “para louvor da sua glória”.<br />
V. 3: A primeira parte (vv. 3-6) é dedicada a Deus Pai. No v. 3, ele é<br />
bendito por ser o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e por causa das abundantes<br />
bênçãos que tem derramado sobre nós. O apóstolo aqui se inclui<br />
no número dos crentes e assim se aproxima mais deles. Deus nos tem<br />
abençoado em Cristo, isto é, as bênçãos de Deus nos alcançam por intermédio<br />
de Cristo, por causa de sua obra redentora. Nas regiões celestiais,<br />
uma expressão apenas usada na Epístola aos Efésios cinco vezes, significa<br />
que essas bênçãos são celestiais em sua origem e que elas descem dos<br />
céus aos crentes em Jesus na terra.<br />
V. 4: As bênçãos foram derramadas sobre nós por causa da obra<br />
redentora de Cristo, mas a escolha teve lugar antes da fundação do<br />
mundo, quando Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis<br />
perante ele, que são as características fundamentais da vida cristã. Essas<br />
características emanam da nossa fé. Todas as imperfeições dos cristãos,<br />
na presente vida, são cobertas pelos méritos perfeitos de Cristo. Outra<br />
79<br />
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Igreja Luterana<br />
característica fundamental que Paulo ainda acrescenta é o amor. A autenticidade<br />
da santidade e do caráter irrepreensível dos cristãos se dá a<br />
conhecer pelo amor agápe, aquele amor superior de compreensão e de<br />
um propósito correspondente, que ama o próximo mesmo se nele não<br />
existe nenhum motivo para isso e que ama a Deus porque ele nos amou<br />
primeiro. “Não tendes em vós o amor de Deus”, disse Jesus aos judeus<br />
incrédulos em Jo 5.42 (cf. 1 Coríntios 13).<br />
V. 5: Outro motivo pelo que Deus nos predestinou é para sermos seus<br />
filhos adotivos. Jesus é o Filho de Deus por natureza e nós somos filhos<br />
adotivos por designação e posição (Gl 4.5). Deus quis ter filhos na terra,<br />
aos quais pudesse aplicar todo o seu amor paterno e tudo isso ele fez<br />
não porque o merecessem, mas por causa do beneplácito de sua vontade.<br />
A palavra “beneplácito” foi também usada em Lc 2.14, onde os anjos<br />
cantaram: “... paz na terra aos homens de seu beneplácito”. Os cristãos<br />
devem tudo à boa vontade de Deus e, por isso, a primeira parte desta<br />
doxologia é encerrada com as palavras: “para louvor da glória de sua<br />
graça”. A palavra mais doce para o pecador em toda a Escritura é “graça”,<br />
que aqui é descrita na sua plenitude e que tem a sua fonte na eternidade<br />
e nos atos eternos de Deus. Essa graça ele nos concedeu gratuitamente<br />
no Amado, como Jesus é designado em vários lugares da Escritura (cf.<br />
Mt 3.17; 17.5; Cl 1.13).<br />
V. 7: No v. 7 inicia-se a segunda parte da doxologia dedicada à segunda<br />
pessoa da Trindade, a Jesus. As bênçãos da eleição da graça tornaram-se<br />
nossas graças à obra de Cristo, que pagou o nosso resgate pelo derramamento<br />
de seu sangue e assim nos obteve a remissão dos pecados,<br />
segundo a riqueza de sua graça. Mais uma vez a graça é mencionada e a<br />
sua abundância é enfatizada pela palavra ploutos, riqueza.<br />
V. 8: Essa graça ele nos deu com tanta fartura (NTLH) em termos de<br />
toda a sabedoria e entendimento (NTLH). Sabedoria é a substância do<br />
evangelho. É mais do que conhecimento. É o discernimento penetrante das<br />
realidades divinas. “Cristo se tornou para nós sabedoria ...” 1 Co 1.30). “A<br />
sabedoria, porém, lá do alto é ... plena de misericórdia e de bons frutos<br />
... “ (Tg 3.17). “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10).<br />
Salomão demonstrou essa sabedoria em sua oração e Jesus crescia nela.<br />
Frónesis é traduzida pela RA por “prudência” e pela NTLH por “entendimento”.<br />
Essa última tradução talvez seja a melhor e reforça uma idéia<br />
que já está em sofía, sabedoria.<br />
Vv. 9-10: Mistério denota o grande plano de Deus para a salvação do<br />
homem e a restauração de todas as coisas, fatos que apenas podem ser<br />
conhecidos pela revelação de Deus. Esse plano Deus desvendou na sua<br />
palavra, que é de fazer convergir em Cristo todas as coisas na plenitude dos<br />
tempos, determinados por Deus, quando seu propósito redentor alcançaria<br />
80<br />
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segundo Domingo após Natal<br />
a sua plena medida com o envio de seu Filho (cf. Mc 1.15; Gl 4.4).<br />
V. 11: Nele também fomos feitos a sua herança, tendo sido predestinados<br />
segundo o propósito daquele que opera tudo eficazmente segundo<br />
o plano da sua vontade.<br />
V.12: A finalidade de tudo isso é para que vivamos para o louvor da sua<br />
glória. E o apóstolo termina a segunda parte de sua doxologia, dedicada<br />
a Jesus Cristo, com uma frase cujo sentido é bastante discutido: “nós, os<br />
que de antemão esperamos em Cristo”. Provavelmente o significado mais<br />
adequado consiste na referência àqueles judeus, que como o próprio Paulo,<br />
tornaram-se crentes em Jesus antes que o fizessem muitos gentios.<br />
V. 13: “Em quem também vós...” provavelmente se refere à maioria dos<br />
efésios, que tinham sido gentios. Começa aqui a parte doxologia dirigida à<br />
obra do Espírito Santo. Também todos os cristãos gentios, como os cristãos<br />
judeus a quem já se fez referência, depois de ouvirem a palavra da verdade<br />
e crerem nela, foram selados com o Espírito Santo da promessa. É o<br />
Espírito Santo o selo, a garantia, que preserva os crentes na fé verdadeira,<br />
como já Lutero afirmou na explicação do Terceiro Artigo.<br />
V.14: O v. 14 apresenta mais uma imagem à obra do Espírito Santo,<br />
arrabón, que foi traduzida por “penhor” pela RA e por “garantia” pela NTLH.<br />
Sua tradução literal, porém, é “primeira prestação”. Era um termo técnico<br />
usado em transações comerciais nos papiros. A nossa posse presente do<br />
Espírito Santo é apenas a primeira prestação e ainda não a nossa completa<br />
herança envolvida em nossa adoção. A doxologia se encerra aqui com o<br />
refrão usado pela terceira vez: “em louvor de sua glória”.<br />
PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Se quisermos aprofundar apenas uma parte do texto, poderemos escolher<br />
uma doutrina específica como, por exemplo, a eleição da graça, a<br />
redenção, ou a conservação na fé verdadeira. Mas seria também oportuno<br />
dar uma visão global de todo o texto em que poderíamos incluir todo o<br />
plano da salvação como, por exemplo:<br />
Louvemos o Deus Triúno por causa das bênçãos derramadas sobre<br />
nós<br />
1. pelo Pai<br />
2. pelo Filho<br />
3. pelo Espírito Santo.<br />
Paulo F. Flor<br />
Dois Irmãos/RS<br />
pfflor@terra.com.br<br />
81<br />
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Igreja Luterana<br />
EPIFANIA<br />
CONTEXTO LITÚRGICO<br />
“Epifania” – a manifestação de Deus – é muito mais do que um dia<br />
na vida da igreja cristã. No seu sentido mais amplo é o que Deus sempre<br />
tem feito, a saber, fazendo-se conhecer e, pelos seus atos, fazendo-se<br />
ver. A criação é uma “epifania” de Deus porque os céus proclamam a<br />
sua glória. As visões que impulsionaram Abraão são epifanias. Yahweh<br />
falando a Moisés na sarça ardente, o êxodo do Egito, a aliança, o maná,<br />
a chegada à Terra Prometida – cada um destes episódios são de Deus.<br />
Até os profetas, ao se referir prolepticamente ao Messias, estão debaixo<br />
do guarda-chuva do conceito de epifania.<br />
A vida do “Verbo que se tornou carne e habitou entre nós” é uma<br />
epifania. A cruz, tanto quanto a manjedoura, é uma epifania. Deus deixa<br />
a nuvem da invisibilidade para se deixar conhecer e, em Cristo, se deixar<br />
ver. Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Esta é a<br />
maneira de Deus, o nosso Deus, agir na medida em que deseja a salvação<br />
do mundo. Esta é a única forma que tem o ser humano de conhecer e ver<br />
Deus, ou seja, na pessoa de Cristo. Vale lembrar a palavra de Lutero: “Se<br />
alguém procurar Deus fora de Jesus Cristo, não o encontrará”.<br />
O evangelho de hoje é o ponto zero da Epifania na nomenclatura do<br />
ano eclesiástico. A epifania em Belém é paroquial, mas com os Magos do<br />
Oriente é global – eles representam o mundo gentio, de onde procedem.<br />
A relação da leitura do Antigo Testamento com o evangelho é, como na<br />
maioria das vezes, direta, complementar e, aqui, uma relação de profecia<br />
e cumprimento.<br />
TEXTO E COMENTÁRIO<br />
06 de janeiro de 2010<br />
Isaías 60.1-6<br />
V.1: O texto da LXX e da Vulgata acrescenta “Jerusalém” depois dos<br />
verbos “levanta-te, resplandece” (cf. NTLH). Embora tenhamos de preferir<br />
a leitura mais breve, as duas traduções já indicam a quem se referem os<br />
dois verbos iniciais. Estes verbos estão no imperativo feminino; Jerusalém<br />
é descrita como uma mulher. Tais verbos dão a entender que “ela está<br />
prostrada por terra, em vergonha e fraqueza, cercada por uma noite de<br />
miséria” (Ridderbos, Isaías, p. 483). O povo pecou, sim, mas Sião é agora<br />
chamada a levantar-se do seu estado de prostração e abraçar a glória que,<br />
82<br />
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Epifania<br />
por meio de Deus, é sua. Não se trata de uma libertação da Babilônia.<br />
Trata-se de uma libertação para a vida empoderada pelo Espírito de Deus<br />
(cf. 59.21) na qual a luz de Deus é refletida no povo de Deus. Como uma<br />
cidade que refulge aos primeiros raios do sol matutino, o povo de Deus<br />
“reflete” a luz. Como a lua reflete a luz do sol (xrz), o povo reflete uma<br />
beleza que lhe foi presenteada.<br />
O verbo “vir” (awb) descreve a vinda salvífica de Deus, frequente desde<br />
o cap. 40. Agora Deus está aqui, como o sol nascente após uma noite de<br />
tormentos. A “glória” (dAbK') de Deus não tem nada de majestático como<br />
por vezes se sugere, mas é a presença visível de Deus no meio do seu<br />
povo. Deus se revela na nuvem no tabernáculo e no templo. A glória de<br />
Deus é a sua santidade escondida. Na sua “glória” Deus se revela para<br />
que possamos reconhecê-lo e vê-lo. A glória que aparece nas campinas de<br />
Belém é a marca da graça de Deus cujo desejo é a salvação do seu povo.<br />
A “glória do SENHOR” é o evangelho por excelência. Cristo é a “glória do<br />
SENHOR” (cf. Jo 1.14-18) que “nasce” sobre o povo.<br />
V. 2 apresenta o contraste. A linguagem nos reporta ao Êxodo: na terra<br />
do Egito havia espessas trevas, mas na terra de Gósen havia grande luz<br />
(Êx 10.22-23). “As trevas”, com artigo, são específicas; “escuridão” é treva<br />
densa. A conclusão é inevitável: as trevas cobrem a terra, mas sobre vós<br />
(observe o adversativo “mas”) “alvorece” (xrz) Yahweh e sua glória.<br />
V. 3 apresenta o resultado. O termo é “gentios”, sem artigo; assim<br />
também “reis”. Não apenas o povo de Deus, mas multidões de gentios<br />
vêm de todas as partes para ver a glória do SENHOR. Nações deixarão<br />
de gravitar ao redor da escuridão da sua experiência com os ídolos para<br />
apreciar a luz do “alvorecer” (xr;z
Igreja Luterana<br />
foram levadas a exílio. Agora estão voltando. Os que vêm com eles são<br />
amigos, embora antes olhados como inimigos. A luz transforma! Aniquila<br />
as trevas. Ilumina as consciências. As nações trazem os filhos e as filhas. A<br />
imagem é de carinho e sensibilidade: as nações trazem as filhas nos braços<br />
(dc;, lado do corpo). Esta é uma visão hollywoodiana. Quando o coração<br />
do povo vir esta cena, esse coração arderá de felicidade tão grande como<br />
o fogo que arde numa fornalha (Gn 15.17; Êx 8.3 [TM 7.28]).<br />
Se nos v. 4 o destaque é para filhos e filhas, no v. 5 o enfoque é sobre<br />
os gentios e suas riquezas. Camelos e dromedários estão abarrotados.<br />
Isaías fala de um dia em que camelos, descansando de suas longas viagens,<br />
cobrem os espaços ao redor de Jerusalém, suas ruas e vielas. Indicação de<br />
paz e serenidade. Midiã e seu primogênito Efa aparecem em Gn 25 como<br />
descendentes de Abraão por meio de Quetura. Estes filhos de Abraão,<br />
embora distantes, não foram esquecidos. Eles se estabeleceram no golfo<br />
de Elat (o sogro de Moisés vem dessa região). Nessa região tinham hegemonia<br />
sobre o comércio que vinha do sul (Sebá), do norte (Damasco) e<br />
se estendia por todo o planalto da Transjordânia. O foco do seu comércio<br />
estava no ouro e no incenso. O motivo para as nações trazerem de suas<br />
riquezas é claro. Não se trata de ganhar favor por parte do povo de Deus,<br />
ou para reparar eventuais danos causados pelo exílio. Nem tampouco<br />
como reconhecimento de que Israel era uma grande nação ou de raça<br />
superior. Não! As nações trazem suas riquezas com o único objetivo de<br />
“proclamar os louvores do SENHOR”. O Deus, a quem Israel trocara por<br />
outros deuses, é revelado como o único Deus. Israel, tanto como as nações<br />
que se aproximam de Jerusalém atraídas pela Luz resplandecente, dará<br />
testemunho deste Deus. Por meio deste testemunho virá o único Salvador<br />
raiando como o primeiro sol da manhã no dia da criação.<br />
SUGESTÕES HOMILÉTICAS<br />
1. O Natal fala do Messias, diz respeito a Israel; Epifania fala da luz<br />
que se expande com força solar: ela diz respeito ao mundo.<br />
2. O impacto da Luz de Deus não pode ser minimizado na suas implicações<br />
sobre o mundo. Pelo plano de salvação de Deus, seu gracioso<br />
convite se estende a todas as nações, do mais simples ao mais importante.<br />
Apenas esta luz pode trazer perdão e vida aos que se encontram<br />
oprimidos pelas trevas do pecado e da morte. É neste tempo especial de<br />
Epifania que enfocamos Cristo como a luz do mundo sobre o povo de Deus<br />
e especialmente sobre os gentios.<br />
3. O impacto da luz traz naturalmente uma reação. As nações trazem<br />
o que têm de mais precioso para oferecer ao Rei recém nascido. Assim<br />
como os Magos do oriente, trazemos os nossos tesouros para oferecer<br />
84<br />
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Epifania<br />
Àquele que nos criou e nos redimiu. Por meio das nossas riquezas também<br />
servimos ao nosso Deus.<br />
4. A luz e a estrela eram de Deus. As nações, assim como os Magos,<br />
viram, reconheceram e vieram para adorar. Neles a epifania estava resplandecendo.<br />
Que todos nós possamos ter a mesma bênção cada vez que<br />
“empreendermos a jornada” para nos prostrar diante da manjedoura e<br />
do trono.<br />
Acir Raymann<br />
São Leopoldo/RS<br />
raymann@ulbranet.com.br<br />
85<br />
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Igreja Luterana<br />
Primeiro Domingo após Epifania –<br />
Batismo dE NOSSO senhor<br />
1. TÍTULOS<br />
A nova vida em Cristo – NTLH.<br />
Livres do pecado para a graça – ARA.<br />
A nova vida – Lutero.<br />
2. CONTEXTUALIZAÇÃO<br />
Após dizer a seus leitores que todos somos justificados perante Deus<br />
pela fé, sem as obras da lei, Paulo fala agora dos frutos da fé. Ele afirma<br />
que a fé, bem assim a nova vida do filho de Deus, inicia no santo batismo.<br />
Pelo batismo o filho de Deus se torna participante de Cristo. Ele participa<br />
da morte, da ressurreição e da nova vida de Cristo para glória de Deus<br />
Pai. A graça de Deus nos conduz a deixar o pecado e a viver uma vida<br />
de santificação.<br />
Levando em conta o contexto litúrgico, é importante a lembrança de<br />
que somos herdeiros da graça de Deus mediante o batismo e que fomos<br />
chamados pelo nome (cf. Is 43.1-7) e que agora, como filhos e herdeiros<br />
de Deus, somos conclamados a louvar a Deus e anunciar a sua glória (Sl<br />
29), pois é o Senhor que dá força ao seu povo e o abençoa. O texto de<br />
Lucas 3.15-22 destaca o batismo de Cristo e a mensagem de que Ele nos<br />
batiza com seu Espírito Santo.<br />
3. CONTEÚDO DO TEXTO<br />
10 de janeiro de 2010<br />
Romanos 6.1-11<br />
O texto mostra com precisão que deixar de pecar não é uma atitude<br />
que procede da vontade humana, mas é um fruto da fé, produzido pelo<br />
poder de Deus Espírito Santo através da mensagem do evangelho.<br />
Vv. 1,2: “... será que devemos continuar vivendo no pecado para que<br />
a graça de Deus aumente ainda mais?” Há certa lógica nesta pergunta,<br />
porém seu conteúdo é frio, desprovido de amor, satânica, pois propõe<br />
explorar a bondade de Deus. A resposta do cristão, portanto, não pode<br />
ser outra: “É claro que não! Nós já morremos para o pecado!”<br />
Vv. 3,4: “... quando fomos batizados ... fomos sepultados com ele<br />
86<br />
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primeiro Domingo após Epifania - batismo DE NOSSO senhor<br />
... fomos ressuscitados com Cristo.” Pelo batismo somos participantes<br />
de Cristo. Participamos de sua morte, de sua ressurreição e de sua vida<br />
santa. O batismo nos reveste de Cristo, diz Paulo em Gl 3.27: “Assim se<br />
revestiram com as qualidades do próprio Cristo”.<br />
Vv.5-8: “... se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos<br />
com ele”. Com estas duas verdades em mente, o apóstolo descreve “a<br />
realidade de nossa união com Cristo”.<br />
V. 5: Ele afirma que somos semelhantes a Cristo em sua morte e<br />
ressurreição.<br />
V. 6: Ele diz que somos semelhantes a Cristo porque nosso velho homem<br />
foi crucificado com ele.<br />
V. 8: Ele declara que somos semelhantes a Cristo porque morremos<br />
e ressuscitamos com ele.<br />
Vv. 9-11: “... A sua morte foi uma morte para o pecado ... E a vida que<br />
ele agora vive é uma vida para Deus!”. Esta é uma morte gloriosa e uma<br />
qualidade de vida bem especial. Jesus fala em Mateus 5.29,30 de alguém<br />
que arranca o olho, ou corta a mão por serem a causa de seu pecado. Aqui<br />
Paulo mostra que o poder para morrer para o pecado e de ressuscitar para<br />
uma nova vida procede unicamente de Cristo. Vida na qual o nosso corpo<br />
não é mais um “corpo do pecado”, mas corpo que agora é um “sacrifício<br />
vivo e agradável a Deus”. Sabedores de que a morte não tem mais poder<br />
sobre nós e de que Cristo nos dá vida verdadeira por graça, nossa resposta<br />
não pode ser outra do que esta: “considerar-nos vivos para Deus”.<br />
E assim, viver e praticar as obras daquele que nos chamou das trevas<br />
para sua maravilhosa luz.<br />
4. IMPLICAÇÕES DO TERMO “GRAÇA”<br />
O termo grego para graça é káris e implica não uma mentalidade<br />
desconhecida ou ignorada até então, mas sua ação que ocorre agora. A<br />
graça, ao contrário do que muitos pensam, não é uma desculpa para se<br />
continuar no erro, como se tudo o que fizermos de errado irá ser perdoado<br />
em algum momento. Mas a graça é a certeza de que apesar de errarmos<br />
podemos contar com o perdão divino.<br />
A questão da culpa que assola tantas pessoas é trabalhada quando<br />
compreendemos que somos passivos do perdão divino e por isso não precisamos<br />
viver continuamente o peso de nossas escolhas erradas. Quando<br />
falamos em graça de Deus é necessário compreender que o ato máximo<br />
da graça de Deus consiste no fato de que entregou Cristo à morte, e isso<br />
como sacrifício expiatório pelos pecados dos seres humanos.<br />
Pode-se dizer então que a káris é o ato de Deus, um presente para os<br />
seres humanos. A graça também é tudo aquilo que Deus concede ao ser<br />
87<br />
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Igreja Luterana<br />
humano para que ele desenvolva seus dons e ministérios. Paulo chama<br />
de káris o dom do apostolado a ele confiado que, ao mesmo tempo, é<br />
missão: Rm 1.5; 12.3. A prática do amor cristão também é chamada de<br />
káris, pois ela é uma dádiva de Deus: 2 Co 8.1; 2 Co 9.8. Os dons especiais<br />
que os cristãos recebem são chamados karismata (dons da graça):<br />
Rm 12.6; 1 Co 7.7.<br />
Outra questão importante é que, para Paulo, por trás de todo o processo<br />
de salvação está sempre a ação e iniciativa de Deus. Nenhuma<br />
outra palavra expressa sua teologia tão claramente sobre a questão da<br />
salvação como “graça”. A graça em Paulo resume o evento de Cristo,<br />
mas também a graça que relizou a irrupção vital na experiência humana<br />
individual, ou seja, aquilo que nos é dado. A graça também expressa a<br />
capacitação divina que continua através das habilitações e missões especiais.<br />
Em resumo, káris está ligada a agape (amor) no centro mesmo do<br />
evangelho de Paulo.<br />
Mas porque Paulo usa este termo? Uma possível explicação está no<br />
contexto veterotestamentário. Havia duas palavras que tratavam da questão<br />
da graça, e essas duas palavras denotavam ato generoso superior a<br />
um inferior: hen – graça, favor. Mais unilateral, podia referir-se apenas<br />
a uma situação específica e ser retirada unilateralmente. Hesed – favor<br />
gracioso, bondade amorosa, amor de aliança. A segunda palavra era mais<br />
relacional. No seu uso secular implicava grau de reciprocidade: quem recebia<br />
um ato de hesed respondia com um ato semelhante de hesed. Mas,<br />
no uso religioso, estava profundamente arraigado o reconhecimento de<br />
que a iniciativa de Deus era compromisso duradouro.<br />
Para Paulo, então, podemos dizer que a palavra káris denota a unilateralidade<br />
de hen e o compromisso duradouro de hesed. Outra forma de<br />
se explicar este termo por Paulo é através do uso do grego em sua época.<br />
Embora seja um termo comum no grego com uma larga faixa de sentidos<br />
(beleza, boa vontade para com, favor, gratidão por prazer em), káris não<br />
tinha conotação particularmente teológica ou religiosa.<br />
No contexto grego, o termo káris trata de benefício, dos benefícios de<br />
deuses ou de indivíduos para cidades ou instituições, káris como favor<br />
feito, e regularmente no plural karites, “favores” concedidos ou retribuídos.<br />
Neste contexto o termo deve ter sido familiar para Paulo e seus<br />
leitores, diariamente visível nas numerosas inscrições que adornavam<br />
qualquer cidade grega, comemorando ou homenageando benfeitores do<br />
passado. Quando os leitores de Paulo liam a palavra káris, geralmente a<br />
linguagem do benefício terá sido o contexto imediato de significado para<br />
a sua compreensão do termo.<br />
Com base nos significados acima, podemos dizer então que káris pode<br />
ser entendida das seguintes formas:<br />
88<br />
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primeiro Domingo após Epifania - batismo DE NOSSO senhor<br />
1. A graça de Deus é sempre um presente – oriunda da relação com hesed.<br />
Isso é visto numa característica do uso paulino dos termos dorea (presente)<br />
e dorean (de presente), estes usualmente ligados com o conceito de káris.<br />
2. A graça é vista como ação. É um conceito dinâmico para Paulo. Káris<br />
descreve a experiência dinâmica de ser coberto pela graça (2 Co 12.9).<br />
3. É vista também como benefícios concedidos, isto é, derivado do conceito<br />
de hen, que evidencia. Toda graça é expressão da ação divina.<br />
4. A graça é ação generosa e não merecida de Deus do começo ao fim.<br />
5. A graça gera graça. Ao recebermos a graça de Cristo, isso gera em<br />
nós atos de bondade e fraternidade (1 Co 12.7). A graça se manifesta de<br />
forma concreta quando isso é compartilhado com a comunidade. A graça<br />
gera um benefício para o bem comum.<br />
5. SUGESTÃO DE TEMA<br />
Pela graça de Deus estamos unidos com Cristo Jesus!<br />
1. Unidos em sua morte!<br />
2. Unidos em sua ressurreição!<br />
3. Unidos em sua nova vida para a glória do Pai.<br />
Paulo Gerhard Pietzsch<br />
São Leopoldo/RS<br />
pgpietzsch@yahoo.com.br<br />
89<br />
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Igreja Luterana<br />
Segundo Domingo após Epifania<br />
17 de janeiro de 2010<br />
Salmo 128; Isaías 62.1-5; 1 Coríntios 12.1-11; João 2.1-11<br />
1. Contexto<br />
O texto faz parte da terceira grande seção do livro de Isaías. O povo<br />
repatriado da Babilônia tem que lidar com problemas do dia-a-dia, desânimo,<br />
imoralidade, injustiça social. E a fidelidade de Deus continua sendo<br />
relembrada como fundamental para a salvação. O Deus que se manifesta é<br />
justo e amoroso, poderoso para transformar água em vinho, para derrotar<br />
impérios, indicar os pecados e mostrar-se como a única salvação.<br />
2. Texto e intertextualidade/propostas homiléticas<br />
A. O amor de Deus pelo povo<br />
Muitas autores traduzem !AYci ![;m;l. como “por amor de Sião” (Almeida,<br />
NTLH, Reina-Valera). Já a Septuaginta e a Vulgata preferem “por causa de”.<br />
Em ambos os casos fica claro que Sião, Jerusalém, ou seja, o povo, está<br />
sob o olhar gracioso de Yahweh e o profeta continua a falar da consolação<br />
divina (Is 61.1ss.). O cuidado de Deus tem sido revelado de geração em<br />
geração. A própria sequência das profecias destaca este cuidado em Lei<br />
e Evangelho. Seja sob a ameaça dos assírios, seja no cativeiro babilônico<br />
ou ainda na reconstrução da nação após a escravidão, Deus anuncia seu<br />
desejo de salvar e seu desejo de justiça. O amor de Deus se revela apesar<br />
de Sião, apesar dos pecados do povo e de sua idolatria. O pecado é<br />
ameaça constante de separação de (com) Deus. Em Is 59.2ss. o profeta<br />
relembra a injustiça humana, a podridão do coração afastado de Deus.<br />
E nessa situação o ser humano, a sociedade, não pode encontrar a paz,<br />
não só escatologicamente, mas na realidade presente. Aliás, como seu<br />
contemporâneo Amós, Isaías não deixa de enfatizar a justiça agora, o<br />
~Alv' futuro que traz paz hoje.<br />
Se a missão cristã de levar a justiça da fé a todos os seres humanos<br />
se fundamenta sobre a promessa javista feita a Abraão (Gn<br />
12.3) e sobre a escatologia profética do livro de Isaías (Is 2.1-4;<br />
25.6-8; 45.18-25; 60.1-22), devendo ela transformar essas esperanças<br />
em realidades presentes, então seu horizonte não só<br />
abrange o estabelecimento da fé entre os gentios (Rm 15.18),<br />
90<br />
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Segundo Domingo após Epifania<br />
mas também aquilo que no Antigo Testamento se esperava como<br />
bênção, paz, justiça e plenitude de vida (ver Rm 15.8-13). Tudo<br />
isso é antecipado na força do amor, que une, em uma só comunidade,<br />
fortes e fracos, servos e livres, judeus e gentios, gregos<br />
e bárbaros. (MOLTMANN, 2005, p.409)<br />
A justiça que Deus traz ao povo, a salvação, é e será vista por<br />
todos (cf. Is 58.11).<br />
b. Justiça e Salvação<br />
O profeta não se calará, não descansará até (d[;) que a salvação fique<br />
totalmente descoberta, sob a luz do dia. A consequência da justiça divina/salvação<br />
é a glória de Jerusalém. A voz do profeta se confunde com<br />
a voz de Deus desde 61.8 para atestar que a obra graciosa de Deus será<br />
executada. E os versículos 2 e 3 mostram os desdobramentos desta ação<br />
divina. As nações e reis não têm glória que se compare (conf. Rm 8.18).<br />
O cântico de Simeão (Lc 2.29-33), a partir de Isaías, aponta o Cristo como<br />
a salvação que é luz para todos. E o povo de Deus (gentios e judeus justificados<br />
– a Igreja) será uma coroa de glória (NTLH: bela coroa) na mão<br />
de Deus, ou seja, o próprio Deus sustenta e ergue a coroa.<br />
c. Casamento Perfeito<br />
Os versículos 4 e 5 apresentam a imagem do casamento, o que nos<br />
leva a Ap 19.7 e 21.2 onde o Cordeiro é apresentado como o noivo. A união<br />
entre o Cordeiro e Jerusalém é festejada como uma festa de casamento,<br />
um momento inigualável de alegria (cf. 61.10-11).<br />
A união com Deus traz uma mudança radical até da visão que temos<br />
de nós mesmos. Em Is 49.14 Sião acusa Deus de tê-lo desamparado e<br />
em 62.4 Deus mostra que seu amor por Jerusalém a faz querida, esposa<br />
amada (NTLH).<br />
Novamente percebemos o quanto nós somos indignos do amor perfeito<br />
de Deus. E nossa união com Ele, o estabelecimento de uma aliança de<br />
paz, a Igreja, só é possível por causa da justiça da fé, não a justiça das<br />
nossas obras ou méritos. Lutero, numa breve exposição de Is 62.2 de<br />
1532 relembra que “o artigo da justificação e da graça é o mais prazeroso,<br />
e ele sozinho faz de uma pessoa um teólogo e de um teólogo um juiz da<br />
terra e de todos os assuntos. Mas há poucos que o tem entendido bem e<br />
que o ensinam corretamente.”<br />
Note que a salvação e a justiça (v.1) aparecem sinonimicamente (justificando<br />
a NTLH que usa “vitória” ao invés de justiça). A sua justiça (Hq'd>cii)<br />
e a sua salvação (Ht'['WvywI) já são plenamente ensinadas e apontadas no<br />
servo sofredor em Is 53. Paulo (Rm 5.1,2; 3.26) faz a conexão entre a<br />
91<br />
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Igreja Luterana<br />
justificação e a paz e ainda visualiza a glória de Deus (cf. Rm 8.18ss.). E<br />
então cada cidadão de Jerusalém, cada justificado, é beneficiado com um<br />
novo nome, uma nova vida (Is 62.10,12).<br />
Com a justiça e a salvação que Deus traz, o povo e cada indivíduo<br />
não precisam temer ameaças ou vergonha. O profeta Isaías (“o Senhor<br />
salva”) nos relembra que o Deus glorioso agradou-se em nos salvar e por<br />
mais que pareçamos desolados aos olhos do mundo, desamparados diante<br />
do materialismo e hedonismo atuais, seremos coroa de glória na mão do<br />
Senhor, queridos por ele, em paz eterna.<br />
3. Sugestão de Tema<br />
Justiça e Salvação (e um casamento glorioso)<br />
1. A noiva infiel<br />
a. Do cativeiro ao retorno: histórias e injustiças.<br />
b. Das trevas para a luz: ainda imperfeitos (nós).<br />
2. O noivo perfeito<br />
a. Deus santo e justo: a tristeza e ira de um Deus perfeito<br />
b. Deus amoroso: a justiça e a salvação.<br />
c. O Messias veio!<br />
3. O casamento glorioso<br />
a. Justificados: em paz com Deus.<br />
b. Aguardando a festa final e já brilhando a glória de Deus.<br />
Fernando Henrique Huf<br />
CEL Redentor - São Paulo/SP<br />
fhhuf@uol.com.br<br />
92<br />
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TeRCEIRO Domingo após Epifania<br />
24 de janeiro de 2010<br />
1 Coríntios 12.12-31a<br />
1. CONTEXTO HISTÓRICO E LITÚRGICO<br />
A primeira carta aos Coríntios é enviada para uma igreja que estava<br />
enfrentando muitos problemas, entre eles, confiar em outros deuses. A<br />
cidade possuía duas divindades locais, Poseidon, o deus do mar, e Afrodite,<br />
deusa do amor sexual. Paulo nesta carta quer alertá-los das falhas<br />
e assim tentar redirecioná-los.<br />
Corinto era uma das principais cidades comerciais do Império Romano.<br />
Sua localização fazia dela um centro natural de comércio e transporte,<br />
portanto muitas pessoas passavam por esta cidade.<br />
Neste texto, Paulo está falando sobre os dons espirituais. O uso dos<br />
dons espirituais era um dos temas que os Coríntios tinham pedido conselhos<br />
para o apóstolo. Muitos deles eram atraídos pelos dons mais espetaculares<br />
assim como também nos nossos dias muitas pessoas são atraídas pelos<br />
dons que “aparecem mais”.<br />
No que se refere ao contexto litúrgico, os textos falam da importância<br />
da Palavra de Deus. Na leitura do Antigo Testamento temos Esdras lendo<br />
a Palavra de Deus e as pessoas que o ouviram ficaram comovidas com o<br />
ouvir da Palavra.<br />
É importante destacar o que Jesus ensina no evangelho. Ele destaca<br />
através de exemplos que Deus não resolveu todos os problemas sociais dentro<br />
do povo de Israel, mas enviou, por exemplo, Elias a somente uma viúva<br />
de Sarepta. O que podemos entender disso em relação aos outros textos?<br />
Jesus quer mostrar que o mais importante é a fé em Jesus, que Ele não<br />
quer que nos vangloriemos por ter mais dons ou termos recebido de Deus<br />
mais do que os outros. Relacionando este texto com a Epístola, notamos a<br />
importância do dom do anúncio da Palavra de Deus e da importância do uso<br />
dos nossos dons para o bem de toda a Igreja. Nesta comparação podemos<br />
também destacar que na epístola o apóstolo coloca, entre os dons, os de<br />
apóstolo e profeta em primeiro lugar. Isso demonstra a grande importância<br />
do anúncio do Evangelho para edificação do Corpo de Cristo.<br />
2. ÊNFASES, EXPRESSÕES QUE SE DESTACAM, ANÁLISE<br />
V.12: O versículo 12 contém a partícula ga.r (pois) que relaciona este<br />
versículo com o contexto anterior. O contexto anterior fala da diversidade<br />
93<br />
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Igreja Luterana<br />
de dons, onde cada pessoa cristã recebe de Deus o seu dom. Mas estes<br />
são diversos. E isso é extremamente relevante quando agora o apóstolo<br />
fala do corpo com diversos membros. Pois assim como um corpo possui<br />
muitos membros, assim também a Igreja possui várias pessoas com dons<br />
diferentes.<br />
Paulo usa aqui a palavra sw/ma que significa “o corpo como um todo”.<br />
Ele usa esta imagem para ressaltar o aspecto da unidade. Ele mostra a<br />
realidade da unidade entre os membros em um só corpo. E esta unidade<br />
deve ser notada quando ele fala de Cristo como um só corpo. Quando ele<br />
fala do corpo de Cristo, ele destaca a natureza essencial da Igreja, a unidade<br />
sobre a cabeça do corpo, que é o próprio Cristo. Ele também ressalta<br />
as diferentes funções exercidas pelos diferentes membros do mesmo.<br />
Vv.13-16: “Em um só Espírito fomos batizados” – Outra vez mostra a<br />
unidade, mas agora ele destaca que ela está em torno do mesmo Espírito<br />
Santo, um único Espírito. E todos aqueles que são batizados em nome do<br />
Pai, do Filho e do Espírito Santo fazem parte de um só corpo. Aqui não<br />
importa qual a origem étnica (judeu ou grego), ou posição social (escravo<br />
ou livre); todos os que foram batizados fazem parte de um mesmo corpo.<br />
Essa referência parece ser uma resposta àqueles que estavam fazendo<br />
da Igreja uma grande divisão em diversos partidos (cf. 1 Co 1.12: Eu sou<br />
de Paulo, e eu, de Apolo, e eu de Cefas, e eu, de Cristo). Aqui podemos<br />
ressaltar um aspecto importante: é o batismo que nos faz membros do<br />
corpo de Cristo, da Igreja.<br />
V.17: O apóstolo mostra a importância de cada membro do corpo de<br />
Cristo. Não temos os mesmos dons e isso é muito bom. Se todos tivessem<br />
os mesmos dons, a Igreja seria o caos, assim como se o corpo somente fosse<br />
um membro não poderia realizar a maioria das suas funções vitais.<br />
V.18: Deus nos coloca onde Ele quer. É Ele quem nos dá os dons e<br />
devemos desempenhá-los onde Deus nos envia. Não devemos procurar<br />
por dons que não sejam os nossos, mas aceitar o dom que Deus nos deu<br />
e usá-lo.<br />
Vv.19-21: A Igreja precisa de todos os dons. Não podemos desprezálos,<br />
mas usar a todos. Assim como um corpo só funciona bem se todos<br />
os membros estão bem, assim também a Igreja precisa de todos para<br />
estar “saudável”.<br />
Vv.22-26: Todas as partes do corpo fazem suas atividades em conjunto.<br />
Assim também no corpo de Cristo todos estão unidos em um único<br />
objetivo. E se uma parte sofre, todas sofrem em conjunto.<br />
Vv.27-31a: Na Igreja há a necessidade de uma ordem, e Deus coloca<br />
um certo parâmetro para o seu bom funcionamento. Nesta ordem estão<br />
em primeiro lugar os apóstolos e profetas. Com isso ele quer ressaltar<br />
novamente a importância da centralidade no anúncio do Evangelho. Não<br />
94<br />
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Segundo Domingo após Epifania<br />
que os outros dons sejam menos importantes, mas eles provêm deste.<br />
O cristão deve buscar os melhores dons, isto é, aqueles que contribuem<br />
para o bem de todos.<br />
3. PARALELOS, PONTES, PONTOS DE CONTATO<br />
O texto da epístola vai na contramão do dia a dia em que vivemos.<br />
Estamos em um mundo que ressalta o bem estar pessoal. Denominações<br />
religiosas prometem resolver os problemas pessoais de cada indivíduo.<br />
Mas nós devemos buscar a unidade do corpo de Cristo, isto é, buscar o<br />
bem estar comum.<br />
Uma pergunta intrigante que devemos fazer após o estudo do texto:<br />
Estamos vivendo como corpo de Cristo? Estamos “sofrendo” ou nos importando<br />
quando algum membro do corpo de Cristo sofre?<br />
Todos os dons são impotantes. Todos nós temos de Deus um dom<br />
especial que deve ser usado para o bem do corpo.<br />
4. SUGESTÃO DE USO HOMILÉTICO<br />
Assunto: A unidade no corpo de Cristo<br />
Objetivo: Mostrar a importância da Palavra de Deus, que edifica todo<br />
o corpo.<br />
Tema: Buscai os melhores dons<br />
Desdobramentos:<br />
I. O que são dons? Qual o seu benefício? (Para Igreja e para mim).<br />
A busca por dons é um dos grandes objetivos de muitas pessoas. Mas<br />
diante disso devemos perguntar: Os dons que buscamos edificam o corpo<br />
de Cristo ou edificam somente a nós mesmos?<br />
II. A busca por dons que edificam somente a pessoa. Estamos<br />
cercados por pessoas que querem se vangloriar por terem melhores ou<br />
mais dons (ver também 1Co 14). Nós também muitas vezes caímos no<br />
erro de achar que somos melhores cristãos do que outros.<br />
III. Busquemos os melhores dons. Anunciar a Palavra de Deus é<br />
o melhor dom e cada dom é importante e precisa ser usado. Como um<br />
corpo precisa de todos seus membros, assim a Igreja precisa de todos os<br />
dons. Colocando-nos à disposição a serviço do Senhor com nossos dons<br />
podemos mostrar a Jesus e edificar a toda a Igreja, o corpo de Cristo.<br />
Clóvis Renato Leitzke Blank<br />
Itinga do Maranhão/MA<br />
clovisblank@yahoo.com.br<br />
95<br />
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Igreja Luterana<br />
Quarto Domingo após Epifania<br />
31 de janeiro de 2010<br />
Salmo 71.1-6(7-11); Jeremias 1.4-10 (17-19);<br />
1 Coríntios 12.31b-13.13; Lucas 4.31-44<br />
CONTEXTO (CENÁRIO LITÚRGICO, HISTÓRICO)<br />
Epifania e Antigo Testamento: É o momento de lembrar como Deus<br />
se mostra aos seus filhos: estamos no 4º. Domingo do período de Epifania.<br />
Quase um mês refletindo sobre as amostras grátis da glória divina.<br />
Quando Deus se manifesta e age, os homens reagem, respondem, atuam,<br />
vivem, amam de verdade. Deus nos cria com um propósito e atua inclusive<br />
antes da nossa vida: “Desde o ventre da minha mãe” (Salmo). “Antes<br />
de formá-lo no ventre, eu te escolhi. Antes de você nascer, eu o separei<br />
e o designei profeta às nações” (Jeremias). Esse ponto de partida, onde<br />
Deus trabalha em coisas que não vemos, permite que seus propósitos<br />
sejam cumpridos mais adiante. Ação divina, reação humana. “Tu és a<br />
minha esperança ... em ti está a minha confiança desde a juventude ...<br />
eu sempre te louvarei” (Salmo). Mesmo quando nos sentimos limitados,<br />
Deus nos diz: “Agora ponho em sua boca as minhas palavras” ... “Eu hoje<br />
dou a você autoridade sobre nações e reinos” (Jeremias). Precisamos<br />
ser lembrados que a capacidade sempre vem de Deus e ele atua onde e<br />
como quer.<br />
Epifania e Evangelho: Enquanto as pessoas buscam a fama (ser visto<br />
junto a famosos, aparecer em fotos e revistas, Big Brother, etc.), a fama<br />
de Jesus surgia sozinha. “Sua fama se espalhava por toda a região”. Sua<br />
missão, porém, não era ficar famoso, mas salvar a humanidade. As pessoas<br />
se concentravam mais nos milagres e resultados que no arrependimento e<br />
confiança no Filho de Deus. Por isso saiu para um lugar deserto dizendo:<br />
“É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às<br />
outras cidades”. Epifania nos ajuda a ver um Deus grande e poderoso,<br />
mas parafraseando a Jesus: “nem só de sobrenatural vive o homem”.<br />
Deus atua também nas coisas simples da vida. Deus segue atuando. Nós<br />
reagimos com amor.<br />
ANALISANDO E APLICANDO – 1 CORÍNTIOS 13<br />
O apóstolo Paulo analisa os diferentes dons na comunidade de Corinto,<br />
comparando-os com um corpo humano (1 Coríntios 12). Todos são<br />
importantes e necessários. Cada um tem uma função. Mas não era o que<br />
96<br />
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quarto Domingo após Epifania<br />
pensavam os coríntios. Havia orgulho e discriminação quanto ao uso dos<br />
dons. Alguns até mostravam determinadas capacidades, mas não necessariamente<br />
eram respostas ao amor de Deus. Por isso, antes de entrar no<br />
capítulo do amor, como é tão conhecido o capítulo 13 da Primeira Carta<br />
de Paulo aos Coríntios, está a seguinte observação (válida também para<br />
nossa atualidade): “Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais<br />
excelente”. Mais que qualquer dom ou qualidade espiritual, precisamos<br />
do amor, do amor na prática.<br />
Alguns destaques que podem ser úteis:<br />
- Amor: Paulo escolhe a palavra grega ágape. Deixa de lado o termo<br />
eros, que significava um objeto desejável, adorado, especialmente para<br />
o amor entre o homem e a mulher (herdamos algumas palavras como<br />
erotismo, erótico). O termo mais utilizado para a reação de afeto, filia<br />
também é desprezado por Paulo (filosofia, filantropia). Ele prefere ágape,<br />
que é mais que afeição mútua, mas expressa a valorização altruísta no<br />
objeto amado. Ama não para receber algo em troca, mas porque tem<br />
vontade de amar. Assim é o amor de Cristo por nós: imerecido e não tem<br />
exigências de retorno.<br />
Falar em outras línguas dos homens era o máximo para aquele contexto<br />
(ver 1 Coríntios 12). Imaginem então falar a língua dos anjos. “Mas se não<br />
tiver amor” é a expressão que se repete por três vezes, mostrando que<br />
estes dons podem ser importantes quando são respostas do amor de Deus<br />
em Cristo. Outras línguas nada mais seriam que um ruído como de um<br />
sino, de um prato, de uma bateria que toca fora do ritmo. Na Grécia, que<br />
priorizava o conhecimento, que visitava os oráculos para saber o futuro e<br />
desvendar os mistérios da humanidade, saber que isso não é importante<br />
quando falta o amor (características dos fracos e ingênuos), era um golpe<br />
muito forte na cultura e formação dos habitantes de Corinto. Estes também<br />
estavam animados com as palavras de Jesus que prometiam poder<br />
mudar montanhas só com a força da fé e da oração. Agora Paulo diz que,<br />
sem amor, tamanha fé não serve para nada. Inclusive a solidariedade é<br />
questionada. Nem se trata da quantia que é doada, de quem é ajudado ou<br />
inclusive do extremo de entregar o corpo para ser queimado por alguma<br />
causa: se não tiver amor, de nada serve.<br />
Então, o que realmente é o AMOR? Paulo não utiliza seu academicismo<br />
para aprofundar a definição de amor, mas prefere relacionar o amor<br />
adequado com suas características. Na teoria, amar é fácil. Na prática, é<br />
um interessante desafio. Amor que é paciente e não olha no relógio. Que<br />
é bondoso porque sim, independente do que o outro tenha me feito ou vai<br />
deixar de fazer. Amor, que na relação com outras pessoas, mantém uma<br />
característica de humildade total: todos os outros são mais importantes e<br />
necessitam de ajuda. Amor que respeita e não é agressivo nem autoritário.<br />
97<br />
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Igreja Luterana<br />
Amor que nunca pode ser vingativo. Amor que tenha compromisso sempre<br />
com a verdade e não se esconde quando a crise ou a injustiça aparece.<br />
Transitoriedade: antes de oferecer uma conclusão, Paulo abre uma janela<br />
para mostrar a pequenez do homem em relação ao Criador. Agora tudo<br />
é provisório, passageiro, instável. Para esses momentos de turbulência,<br />
precisamos do mais importante: o amor que sofre, aguenta, confia, espera<br />
pela superação das dificuldades. Isso um dia deixará de existir. Será outra<br />
dimensão. Agora recebemos como que um reflexo da luz mais importante.<br />
Depois, na presença gloriosa de Deus, estaremos cara a cara com o Criador.<br />
Agora reagindo como crianças ingênuas, depois como adultos maduros<br />
na companhia daquele que é especialista em amar e, por amor, nos leva<br />
de volta ao Paraíso. Agora como num espelho opaco, depois com toda a<br />
nitidez, desfrutando do que Deus preparou aos seus filhos.<br />
SUGESTÕES HOMILÉTICAS<br />
Introdução: Muito mais que aparências, é preciso ver o coração. Saint<br />
Exupéry: O essencial é invisível aos olhos. Como julgamos as pessoas:<br />
pelo que são ou pelo que têm ...<br />
- Nossa realidade na sociedade: importância da aparência e da fama,<br />
dos resultados, do imediato. Os motivos são ignorados. Não interessa se<br />
é por amor ou não. Ação social pode ser uma boa maneira de acalmar a<br />
consciência, de dar ibope, de melhorar a fama.<br />
- A realidade de Jesus: veio para servir e dar sua vida em favor de<br />
muitos. A fama era resposta do povo, pois Jesus se preocupava com os<br />
mais humildes e necessitados. Fama: ajuda, mas também pode tirar o<br />
foco da missão principal que era salvar os homens.<br />
Conclusão: Nossa realidade na igreja: o mais importante são os<br />
resultados? Estamos preocupados com nossa fama? O desafio de Paulo,<br />
inspirado por Deus, ainda é válido: “Se não tiver amor ... não tem valor”.<br />
Como viver esse amor que é fiel, que perdoa, que é paciente numa sociedade<br />
tão antagônica? Esse é o desafio que Cristo nos apresenta.<br />
P.S.: Estimado colega:<br />
Que Deus te utilize para levar uma mensagem de vida e amor aos que<br />
te chamaram como pastor. Que o Espírito Santo trabalhe tua mensagem<br />
para que o amor deixe de estar na mente e passe a estar no motor da vida,<br />
em cada coração. Desde Montevidéu, no Uruguai, um forte abraço.<br />
Christian Hoffmann<br />
Montevidéu/Uruguai<br />
luterana@adinet.com.uy<br />
98<br />
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Quinto Domingo após Epifania<br />
07 de fevereiro de 2010<br />
A. CONTEXTO<br />
Isaías 6.1-8(9-13)<br />
- Uzias começou a reinar sobre Judá, o reino do Sul, provavelmente<br />
em 791 a.C. Era, então, um jovem de dezesseis anos. Também era conhecido<br />
como Azarias (2 Reis 15.1). Ele reinou 52 anos (morreu em cerca<br />
de 740 a.C).<br />
- Diante de Deus, Uzias começou bem seu reinado, com reformas, e<br />
terminou mal, leproso, e excluído da casa do Senhor por causa de seu<br />
orgulho. Com a sua morte, indicada no texto de Isaías, a nação entrou<br />
em crise.<br />
- É nesse contexto que acontece a visão e o chamado de Isaías. Após<br />
a morte de Uzias, ele está no templo quando um cenário fantástico é<br />
construído para que ouvisse a voz de Deus e o chamamento para uma<br />
missão em nome dele.<br />
B. TEXTO<br />
- O texto é desenvolvido no contexto de uma visão. Na Bíblia, as visões<br />
costumam conter elementos sobrenaturais e figurados.<br />
- Isaías vê o Senhor em seu trono, vestido de vestes imponentes.<br />
Serafins (seres celestiais somente mencionados em Isaías) voam ao redor<br />
dele. Obviamente, a intenção da narrativa é também demonstrar a<br />
grandiosidade, o poder de Deus.<br />
- A mesma intenção aparece no trishagion dos serafins – a tríplice<br />
repetição do termo “santo” como referência a Deus. A tríplice repetição<br />
passou a fazer parte do culto cristão e é uma das marcas do Cristianismo.<br />
Alguns intérpretes também sugerem que é uma referência à Trindade.<br />
- Diante da imponência da cena e da presença de Deus, Isaías se sentiu<br />
impotente e temeroso. Seu brado foi “ai de mim! Estou perdido!” (v.5). Ele<br />
mesmo explica o contraste diante do qual se encontrava: era um homem<br />
de “lábios impuros”, que vive no “meio de um povo de impuros lábios” – e<br />
viu o Santo, o Senhor dos Exércitos (v. 6).<br />
- Mas bastou o poder de Deus tocar a boca de Isaías para que os seus<br />
pecados fossem perdoados e ele estivesse pronto para a missão diante<br />
do povo de Deus (vv. 6,7).<br />
- O versículo 8 concentra a essência do chamamento. De um lado,<br />
99<br />
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Igreja Luterana<br />
está a pergunta (digamos retórica) de Deus: “A quem enviarei, e quem há<br />
de ir por nós?”. De outro lado está a resposta positiva de Isaías: “Eis-me<br />
aqui, envia-me a mim”.<br />
- Os versículos 9-13, optativos para a leitura da perícope, concentram<br />
questionamentos de Isaías e orientações de Deus acerca da tarefa<br />
profética.<br />
C. SERMÃO – COMENTÁRIOS<br />
- O texto de Isaías oferece várias ideias que podem ser utilizadas em<br />
um sermão. Todavia, é evidente que o foco é o chamado de Isaías para<br />
ser mensageiro de Deus diante do povo.<br />
- O contexto do chamado de Isaías pode incorporar elementos importantes<br />
do ensino bíblico e que podem resultar em um ou mais sermões: a)<br />
O poder de Deus; b) O pecado humano (no caso, individual e coletivo); c)<br />
O perdão de Deus; d) O chamado propriamente dito como mensageiro.<br />
- A presença dos três “santos” sugere uma conexão com a estrutura<br />
litúrgica básica da Igreja Cristã.<br />
- O tema do chamado para ser mensageiro de Deus é evidente nos<br />
textos do dia, particularmente no Evangelho, Lucas 5.1-11.<br />
- A pecaminosidade humana é o foco da ação de Deus. Ele quer a salvação<br />
dos seres humanos. Essa é a sua natureza, a sua obra permanente.<br />
Essa é a missão dos seus mensageiros de todos os tempos, de acordo com<br />
a manifestação peculiar que o pecado toma no momento histórico.<br />
- Deus usa agentes humanos. Se, de um lado, isso pode parecer assustador,<br />
diante do contraste existente entre o Criador e a criatura, de<br />
outro lado é consolador. Mostra o interesse de Deus pelas suas criaturas<br />
e que quer envolvê-las em seu projeto de restauração.<br />
- O perdão de Deus é vital para o exercício profético. É ele quem chama<br />
e quem capacita. Hoje, ele o faz em nome e por causa de Jesus.<br />
- O chamado de Deus à fé em Jesus é um chamado ao serviço cristão,<br />
que se manifesta concretamente de diversas maneiras no dia a dia. A<br />
“denúncia profética” é uma delas. O cristão precisa ser lembrado e orientado<br />
a “ouvir” a voz de Deus e responder a ela criativamente.<br />
D. SERMÃO – IDEIAS<br />
Os comentários acima indicam um rumo para um desenvolvimento<br />
padrão do sermão. A seguir, algumas ideias de como agregar elementos<br />
que podem levar a novas perspectivas e promover a interação entre o<br />
pregador e o ouvinte. Note que certas interferências precisam de preparação<br />
prévia dos participantes.<br />
100<br />
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quinto Domingo após Epifania<br />
- Abrir o sermão com uma rápida encenação da essência do diálogo<br />
do texto de Isaías. Os atores podem ser o pregador e um ouvinte, ou dois<br />
ou três ouvintes.<br />
- Após contextualizar o chamado de Isaías, o pregador pode solicitar<br />
a um ou dois ouvintes para que façam um exercício de imaginação sobre<br />
como um chamado divino espetacular poderia ocorrer hoje.<br />
- O relato de Lucas pode ser usado para encenar rapidamente outra<br />
forma de como o chamado divino pode ocorrer.<br />
- Na aplicação, o pregador pode solicitar a um ou dois ouvintes o que<br />
farão de concreto para responder ao chamado de Deus hoje.<br />
Dieter Joel Jagnow<br />
Ribeirão Preto/SP<br />
dieterjj@gmail.com<br />
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Último Domingo após Epifania -<br />
Transfiguração do Senhor<br />
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES<br />
Por ser um texto, ou melhor, a descrição de um maravilhoso e especial<br />
acontecimento, que deixou os circunstantes extasiados, querendo muito<br />
“ficar ali porque era bom”, vale a pena reler e recordar a descrição da<br />
transfiguração no evangelho e reler e recordar também o texto do Antigo<br />
Testamento para esse domingo.<br />
Deuteronômio 34: “... assim, morreu ali Moisés, servo do Senhor<br />
... e ninguém sabe, até hoje, o lugar da sua sepultura. Nunca mais se<br />
levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o Senhor tivesse<br />
tratado face a face”.<br />
Lucas 9: “... E aconteceu que, enquanto ele (Jesus) orava, a aparência<br />
do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura. Eis<br />
que dois varões falavam com ele: Moisés e Elias, ... veio uma nuvem ... e<br />
dela veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi.<br />
Depois daquela voz, achou-se Jesus sozinho. Eles calaram-se e, naqueles<br />
dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham visto”.<br />
A partir disso, o passo seguinte é concluir e reconhecer que Jesus se<br />
assemelha a Moisés, porém, é superior na qualidade de apóstolo e sumo<br />
sacerdote. Cristo é o cumprimento do que Moisés apontava e previu. Cristo<br />
não aponta para outro senão para si mesmo.<br />
2. TEXTO<br />
V. 1: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial...”.<br />
O autor, sem dúvida, deseja nessas alturas enfatizar o estabelecido no<br />
início da epístola: o fato de que Deus diz sua palavra final e salvadora a<br />
respeito de seu Filho Jesus Cristo. Por isso os leitores são encorajados<br />
pelo definitivo nome de: santos irmãos. Todos cristãos são santos, santificados,<br />
consagrados a Deus em virtude da fé que foi acesa, iniciada em<br />
seus corações. Através do chamado de Deus pelo Evangelho, eles têm<br />
assegurada a participação em todas bênçãos e tesouros celestiais.<br />
Vv. 2,3: “... Jesus, todavia, tem sido...”. A qualificação especial de<br />
Jesus para seu importante ofício eram e são sua fidelidade “àquele que o<br />
constituiu” na qual nós e todos fiéis podemos nos agarrar e crer. Moisés<br />
102<br />
14 de fevereiro de 2010<br />
Hebreus 3.1-6<br />
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ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA - TRANSFIGURAÇÃO<br />
também o fora “em toda a casa de Deus”, na congregação dos crentes do<br />
Antigo Testamento. Porém, pode-se concluir que o texto indica não poder<br />
comparar-se verdadeiramente a fidelidade de Moisés com a de Jesus.<br />
V. 4: “Pois toda casa é estabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu<br />
todas as coisas é Deus”. Quem constrói, estabelece, equipa a<br />
“casa de Deus”, ou seja, a Igreja em toda sua plenitude é Jesus Cristo. Ele<br />
é, por assim dizer, o construtor da estrutura da Igreja. Deus, de qualquer<br />
modo, é o autor e criador de todas as coisas e, por conseguinte, Jesus,<br />
como Deus, merecedor de muito mais honra que Moisés.<br />
Vv. 5, 6: “E Moisés era fiel ... como servo ... Cristo, porém, como<br />
Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao<br />
fim, a ousadia e a exaltação da esperança”. Moisés, como servo, era fiel<br />
em toda casa de Deus como testemunha das coisas que precisavam ser<br />
anunciadas e estavam por vir. Jesus Cristo, porém, era fiel como Filho,<br />
em sua casa que somos nós. A esperança dos crentes não é instável, nem<br />
incerta, nem se apóia em certa quantidade de sentimentos. Ela, porém,<br />
está apoiada, sustentada nas promessas poderosas e amorosas do Senhor.<br />
E é muito importante não esquecer que todas as promessas e bênçãos<br />
são prometidas e asseguradas a aqueles que estiverem abraçados e firmados<br />
na esperança prometida em Cristo e que a guardarem firme, com<br />
ousadia e exaltação.<br />
3. INDICATIVOS HOMILÉTICOS<br />
Também dizemos com Pedro, como “novas criaturas” que querem estar<br />
sempre junto dos irmãos e irmãs e, principalmente, do Senhor: Bom é<br />
estarmos aqui!<br />
- Moisés foi o mediador humano da antiga aliança. Foi servo do Senhor<br />
especial e sem paralelo.<br />
- Jesus é o mediador da nova aliança como Apóstolo e Sumo Sacerdote:<br />
como Deus, foi enviado para revelar Deus aos homens. Como Homem,<br />
tornou-se Sumo Sacerdote a fim de reconciliar os homens a Deus.<br />
- É necessário, por todas essas coisas, “guardarmos firme, até o fim,<br />
a ousadia e a exaltação da esperança”, ou seja, aberta confiança e exultante<br />
testemunho.<br />
Norberto Ernesto Heine<br />
Porto Alegre/RS<br />
norbertoeh@via-rs.net<br />
103<br />
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Quarta-feira de Cinzas<br />
1. TEMÁTICA DAS LEITURAS<br />
Os textos do dia sinalizam que o legítimo arrependimento descarta<br />
rituais externos quando esta religiosidade transformou-se em ações vazias<br />
e simuladas. “O que tu queres é um coração sincero (...). Tu não queres<br />
que eu te ofereça sacrifícios; tu não gostas que animais sejam queimados<br />
como oferta para ti. Ó Deus, o meu sacrifício é um espírito humilde”<br />
(Salmo 51.6,16,17 - NTLH). É a confissão de um Davi que reconhece que<br />
os gestos do arrependimento não precisam de notoriedade. O profeta Joel<br />
segue no mesmo pensamento: “Em sinal de arrependimento, não rasguem<br />
as roupas, mas sim o coração” (Joel 2.13 - NTLH). O apóstolo Paulo, em<br />
meio à defesa do seu apostolado, exorta para que a graça de Deus não<br />
fique sem proveito, mas que reconheçam que o dia do arrependimento é o<br />
“agora” (2 Coríntios 6.1,2). Não deixar a graça sem proveito – em vão – é<br />
o resultado oculto da fé íntima que agarra oportunamente o Evangelho. E<br />
o Salvador, ao condenar o exibicionismo religioso dos fariseus, adverte:<br />
“Tenham cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público<br />
a fim de não serem vistos pelos outros” (Mateus 6.1 - NTLH).<br />
2. QUARTA-FEIRA DE CINZAS<br />
17 de fevereiro de 2010<br />
Salmo 51.1-13 (14-19); Joel 2.12-19;<br />
2 Coríntios 5.20b-6.10; Mateus 6.1-6, 16-21<br />
As leituras, portanto, resgatam a tradição litúrgica do culto cristão, ao<br />
lembrar-se do ritual das cinzas. Enquanto o período mundano e exibicionista<br />
do Carnaval termina – e cinzas apontam para a brevidade das alegrias<br />
terrenas – começa o período da Quaresma em preparação à Páscoa, festa<br />
cristã onde as “cinzas e o pó” da morte transformam-se em ressurreição<br />
e numa festa que não termina. O costume de se colocar cinzas sobre a<br />
cabeça em sinal de arrependimento surge no Antigo Testamento. Em<br />
Neemias (9.1,2) lemos: “... o povo de Israel se reuniu para jejuar a fim<br />
de mostrar a sua tristeza pelos seus pecados (...). Em sinal de tristeza,<br />
vestiram roupas feitas de pano grosseiro e puseram terra na cabeça. Então<br />
se levantaram e começaram a confessar os pecados que eles e os seus<br />
antepassados haviam cometido”. Na igreja cristã a tradição da Quarta-Feira<br />
de Cinzas foi introduzida por Gregório, no final do século V.<br />
104<br />
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Quarta-feira de cinzas<br />
3. TEXTOS EM DESTAQUE<br />
Salmo 51.6,19:<br />
ARA: “Eis que te comprazes na verdade no íntimo, e no recôndito me<br />
fazes conhecer a sabedoria (...). Então te agradarás dos sacrifícios de<br />
justiça” (ARA).<br />
NTLH: “O que tu queres é um coração sincero; enche o meu coração com<br />
a tua sabedoria (...). Então terás prazer em receber sacrifícios certos”.<br />
Joel 2.13:<br />
ARA: Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos<br />
ao Senhor vosso Deus.<br />
NTLH: Em sinal de arrependimento, não rasguem as roupas, mas sim<br />
o coração. Voltem para o Senhor, nosso Deus...<br />
2 Coríntios 5.20; 6.1:<br />
ARA: Em nome de Cristo, pois rogamos que vos reconcilieis com Deus<br />
(...). Também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus<br />
...<br />
NTLH: Em nome de Cristo nós pedimos a vocês que deixem que Deus<br />
os transforme de inimigos em amigos dele (...) pedimos o seguinte: não<br />
deixem que fique sem proveito a graça de Deus ...<br />
Mateus 6.1:<br />
ARA: Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com<br />
o fim de serdes vistos por eles;<br />
NTLH: Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos<br />
em público a fim de serem vistos pelos outros.<br />
4. COMENTÁRIO<br />
Os textos apontam para a unidade temática, que “o arrependimento<br />
agradável a Deus está no coração”. E se é do coração que brota o pecado<br />
(“tenho sido pecador desde o dia em que fui concebido” – Sl 51.5), é fora<br />
dele que surge o poder para uma nova vida, ou seja, o poder da “sabedoria”.<br />
“Encher o coração” ou “fazer conhecer” (Sl 51) aponta para esta<br />
ação de fora para dentro. Paulo aponta para esta ação divina ao falar sobre<br />
reconciliação – a transformação de inimigos em amigos. A NTLH tem a<br />
melhor tradução de katallágete (2 Co 5.20) – imperativo passivo do aoristo<br />
segundo: “deixem que Deus os transforme de inimigos em amigos”. Na<br />
ARA deveria ser “sede reconciliados” e não “vos reconcilieis”. É uma ação<br />
ativa de Deus e passiva do ser humano (não sinergista).<br />
A história oculta dos pecados de Davi (2 Samuel 11.1-12.15) desagradou<br />
a Deus (Sl 51.4) enquanto que o arrependimento oculto, no íntimo, no<br />
coração sincero, agradou o Senhor (Sl 51.6). Uma atitude recomendada<br />
105<br />
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Igreja Luterana<br />
pelo Salvador: “Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta<br />
e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você<br />
faz em segredo, lhe dará a recompensa” (Mt 6.6). Diferentemente dos<br />
hipócritas que oram de pé nas sinagogas e esquinas, simulando arrependimento.<br />
Nos dois casos há recompensas que vêm do alto: condenação<br />
e salvação, juízo e perdão.<br />
A pregação do profeta Joel conclamando para que rasguem o coração<br />
no lugar das roupas surge em meio a uma situação de calamidade<br />
pública: praga de gafanhotos e seca que arrasaram a terra de Judá. O<br />
“voltar para Deus com todo o coração” (2.12) aponta para o verdadeiro<br />
arrependimento destituído da falsidade religiosa. A resposta de Deus a<br />
esta conversão é o seu grande amor, demonstrado também em bênçãos<br />
materiais (2.18,19).<br />
5. CONTEXTUALIZAÇÃO<br />
Segundo alguns historiadores, o Carnaval tem origens no Egito antigo.<br />
O sagrado boi Apis era levado em procissão até o rio Nilo, numa<br />
festa repleta com orgias e promiscuidades sexuais de gente fantasiada.<br />
A festa chegou a outros lugares pela globalização da época. Na Grécia<br />
tomou o nome de Dionisíaca, em honra ao deus do vinho Dionísio. Em<br />
Roma chamou-se Bacanal, em homenagem a Baco, deus do vinho. Mais<br />
tarde, quando o império romano converteu-se oficialmente ao cristianismo,<br />
estas tradições deixaram de ser promovidas pelo poder público. Mas na<br />
Idade Média voltaram com outro nome: carnevale - vocábulo italiano que<br />
provavelmente significa “adeus à carne”. Foi a maneira para compensar o<br />
jejum da Quaresma, os quarenta dias antes da Páscoa quando nenhuma<br />
manifestação de alegria era permitida.<br />
Dedicado ao Momo, deus da mitologia grega que representa a zombaria<br />
e o sarcasmo, o carnaval brasileiro transformou-se na maior festa popular<br />
do planeta. Por ser uma festa de origem pagã e com apelos imorais, a<br />
liberdade cristã nesta hora requer esclarecimento e orientação. As leituras<br />
do culto da Quarta-feira de Cinzas são oportunas para a reflexão da<br />
vida que agrada a Deus. Segundo a mitologia grega, Momo é um deus<br />
morto que foi expulso do Olimpo para ser na Terra o rei dos loucos. Os<br />
cristãos se alegram com o Deus que veio espontaneamente à Terra, não<br />
para zombar mas para ser zombado, foi morto mas foi também ressuscitado.<br />
Uma alegria expressa por Davi: “Dá-me novamente a alegria da<br />
tua salvação” (Sl 51.12).<br />
106<br />
Marcos Schmidt<br />
Novo Hamburgo/RS<br />
marsch@terra.com.br<br />
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Primeiro Domingo na Quaresma<br />
INTRODUÇÃO<br />
Além do texto bíblico em duas versões e suas notas de rodapé, comentários<br />
de J.A.Thompson, Leon L. Morris, Martin Franzmann, Gerhard Von<br />
Rad, para enriquecimento do sermão será muito útil a leitura da Dogmática<br />
Cristã de John Theodore Mueller – A Doutrina da Fé Salvadora. “Fé<br />
salvadora é, pois, sempre um ato do crente, embora seja operado pelo<br />
Espírito Santo” (Lutero).<br />
Está conosco uma verdade que não precisa adendos, complementos,<br />
emendas, então proclamemos a todos ousadamente na forma dos apóstolos,<br />
Atos 4.20: “…pois nós não podemos deixar de falar das coisas que<br />
vimos e ouvimos”. “Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não<br />
tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta<br />
do seu caminho e viva” (Ezequiel 33.11). “Deus, nosso Salvador, … deseja<br />
que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da<br />
verdade (1Timóteo 2.3 e 4).<br />
TEXTOS<br />
21 de fevereiro de 2010<br />
Salmo 91.1-13; Deuteronômio 26.1-11;<br />
Romanos 10.8b-13; Lucas 4.1-13<br />
Salmo 91.1-13: Com uma linguagem cheia de imagens poéticas,<br />
este poema didático ou sapiencial convida a confiar em Deus. Uma grande<br />
verdade: tudo o que está em comunhão viva com Deus, está constantemente<br />
seguro sob sua proteção, e pode manter, a qualquer momento,<br />
uma serenidade santa, porque ele é o único refúgio seguro em todas as<br />
adversidades e perigos. Salmo 27.1-6. Todos os seres humanos deveriam<br />
aprender o caráter do cristão de habitar no esconderijo do Altíssimo e<br />
descansar à sombra do Onipotente. Os cristãos não só terão uma hospedagem,<br />
mas uma residência, debaixo da proteção de Deus; ele será para<br />
sempre o seu descanso e refúgio. Podemos aí estabelecer um paralelo<br />
com os textos 2 Coríntios 5.1-9 e Salmo 46.1.<br />
V. 2: “Meu refúgio; … em quem confio”. Outros fazem para si ídolos<br />
como seu refúgio, mas o salmista tem o Deus verdadeiro e vivo: qualquer<br />
outro é um refúgio falso – inexistente – ilusão. Ele é Deus e não homem,<br />
e então não há perigo de ser desapontado nele. A proteção oferecida ao<br />
seu povo ultrapassa a compreensão meramente humana.<br />
107<br />
Revista Luterana 2010 gráfica.indd 107 8/4/2010 18:42:11
Igreja Luterana<br />
O salmista ainda destaca a proteção angelical que aparece descrita<br />
em Hebreus 1.14: “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados<br />
para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?”<br />
Deuteronômio 26.1-11: Este texto é uma liturgia para apresentação<br />
das primícias. A entrada na terra prometida ainda era algo futuro. Não<br />
é difícil imaginar Moisés preparando a nação de Israel para o culto. V.2:<br />
O que se tomava era uma amostra das primícias de todos os frutos do<br />
solo, que recolheres da tua terra. V.3: A declaração que aqui aparece é o<br />
reconhecimento de que o povo não entraria em uma terra qualquer, mas<br />
na própria terra que o Senhor (hw"hy>) prometera a seus ancestrais. Essa<br />
declaração era um reconhecimento de que a promessa de Deus se cumprira.<br />
Este ato de trazer as primícias é, acima de tudo, um ato de fé.<br />
O sacerdote deveria tomar das mãos do adorador o cesto das primícias<br />
e colocá-lo diante do altar do Senhor. Diferente do v.4, o v.10 parece<br />
sugerir que o cesto era entregue só no final da adoração. O mais razoável<br />
é pensar que a declaração era feita enquanto se apresentava a oferta.<br />
Von Rad 1 afirma que os versículos 5-9 são confissão histórica. Associa<br />
o nome de Deus a um ato histórico: Javé “que fez sair da terra do Egito”<br />
é certamente a forma de confissão mais antiga e mais divulgada de todas.<br />
Ele descreve os vv. 5-9 como o credo do Deuteronômio, com características<br />
de grande antiguidade. Este texto não é uma oração, pois lhe faltam a invocação<br />
e o pedido. É uma confissão do princípio ao fim. É uma celebração<br />
dos atos de Deus, o que é característica dominante de toda a vida religiosa<br />
de Israel. Na glorificação de Deus, Israel sempre é mais forte do que na<br />
reflexão teológica. Apesar da estilização que o distingue, apresentando-se<br />
como o discurso de Deus, o texto retrospectivo que resume a história em<br />
Josué 24.2ss. está intimamente ligado com Deuteronômio 26.5ss. Possui<br />
maior número de pormenores, mas se mantém exclusivamente na esfera<br />
dos fatos objetivos. Seu ponto de partida é também a época patriarcal e<br />
seu ponto de chegada é a entrada na Terra Prometida.<br />
Romanos 10.8b-13 2 : “A ação justificadora de Deus está aí, ao alcance<br />
do homem, na Palavra que chega até ele (“que pregamos”); o homem<br />
não precisa descobri-la ou inventá-la. Só precisa crer nela; é “palavra da<br />
fé”. Palavra que exige fé e a cria (cf. Romanos 1.17). Essa Palavra está<br />
perto dele, criando a fé em seu coração e provocando de seus lábios uma<br />
confissão.<br />
V.10: Na linguagem da Bíblia, “coração” abrange todo o homem interior,<br />
sua mente não menos que suas emoções e sua vontade. Confessa e é<br />
1<br />
VON RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento. Aste. p. 129 e 130.<br />
2<br />
FRANZMANN, Martin H. Carta aos Romanos. Concórdia.<br />
108<br />
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Primeiro domingo na quaresma<br />
salvo. Fé e confissão são dois aspectos da mesma realidade; constituem<br />
uma vida perante Deus sob a soberania de Jesus Cristo.<br />
V.11: Paulo cita novamente Isaías 28.16, tal como o fizera em Romanos<br />
9.33. Porém, há duas pequenas, mas significativas diferenças aqui.<br />
Uma é esta: no Antigo Testamento o objeto da fé é o Senhor, o Deus<br />
da aliança de Israel; aqui, em Paulo, “Senhor” deve significar o Senhor<br />
Jesus Cristo. Esta é uma das muitas ocasiões no Novo Testamento em que<br />
passagens do Antigo Testamento que se referem ao Senhor, o Deus de<br />
Israel, são aplicadas sem hesitação a Jesus (cf. Romanos 10.13). A outra<br />
diferença é esta: Paulo enfatiza a universalidade da promessa feita em<br />
Isaías; “aquele que” torna-se “todo aquele que”.<br />
V.12: Todo aquele que crê não será confundido. Todos, judeus e gentios,<br />
pecaram (Romanos 3.23); todos são justificados pela fé.<br />
V.13: A universalidade implícita na palavra de Isaías é expressa na<br />
palavra de Joel (Joel 2.32). Por intermédio de Joel, Deus prometera que,<br />
quando chegasse o “grande e terrível dia do Senhor”, todo aquele que<br />
invocasse o nome do Senhor seria salvo. Pedro repetira esta palavra de<br />
Joel em Pentecostes quando conclamou todo Israel a se arrepender e a<br />
invocar àquele que Deus fizera tanto Senhor como Cristo para sua libertação<br />
(Atos 2.21, 36, 40).<br />
Lucas 4.1-13: Que tipo de Messias Jesus haveria de ser? Deveria<br />
usar seus poderes para fins pessoais? Estabeleceria um reino de poder<br />
mais poderoso que o romano? Ou seria um operador de milagres espetaculares<br />
sem um fim de ser? Rejeitou todos estes conceitos pelo que são:<br />
tentações do diabo.<br />
“Para nós não é uma tentação transformar pedras em pães e pular<br />
do pináculo do templo”. 3 Mas, para Jesus, era. Ele não estava restrito às<br />
nossas limitações. Para refutar o tentador Jesus usou o Está Escrito. Tudo<br />
o que não concorda com o que Está Escrito (Bíblia) não procede de Deus.<br />
Acedendo ao que o Diabo lhe oferecia, não passaria de um obreiro social,<br />
provendo pão para si e para outros depois do deserto.<br />
Isto ensina que o homem deve interessar-se por coisas muito além<br />
de pão (João 4.34). Não é simplesmente um animal, vivendo meramente<br />
no nível das necessidades físicas.<br />
Deuteronômio 8.3, 6.13 e 6.16 foram as respostas claras que Jesus deu<br />
ao diabo. Estes capítulos se referem às experiências de Israel no deserto.<br />
Havia paralelos entre a experiência do povo antigo e sua experiência.<br />
Estava unido com o povo de Deus.<br />
Enfrentou as tentações do mesmo modo que nós devemos enfrentálas,<br />
com o uso da Escritura. O diabo acabara de tentar Jesus de todas<br />
3<br />
BARCLAY.<br />
109<br />
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Igreja Luterana<br />
as formas, mas Jesus não cedera. O diabo deixou Jesus até momento<br />
oportuno (v.13). Nesta vida, não há isenção da tentação. Não houve para<br />
Jesus, e não há para nós.<br />
APLICAÇÃO HOMILÉTICA<br />
Tema: Fé, confiança em Deus<br />
Muitas são as nuances daquilo que se costuma denominar fé. Mas,<br />
fé em seu sentido absoluto é único e preciso. Tem um alvo único (Deus<br />
Triúno); tem uma única forma de acontecer (ação de Deus); usa meios<br />
exclusivos (meios da graça); destina-se à glorificação de Deus e salvação<br />
do ser humano. Não gera confusão.<br />
Nota: Para uma apresentação mais precisa e preciosa da doutrina da<br />
fé, aprofundar o teor com o capítulo da Dogmática Cristã de John Theodore<br />
Mueller: A Doutrina da Fé Salvadora.<br />
I - A realidade da fé<br />
A. Não é utopia; ela é real e Deus usa meios para implantá-la nas<br />
pessoas: Palavra (pregada) e Sacramentos (ministrados).<br />
B. Entrou e está dentro do cristão e o transforma.<br />
C. Tem um alvo e objetivo<br />
Proezas da fé<br />
II - A fé age e reage<br />
A. Ação e reação da fé<br />
1. Com o coração se crê (na linguagem da Bíblia, “coração” abrange<br />
todo o homem interior, sua mente não menos que suas emoções e sua<br />
vontade).<br />
2. Com a boca se confessa (essa Palavra está perto, criando a fé em<br />
seu coração e provocando de seus lábios uma confissão).<br />
B. Fé cria a confissão verbal de Jesus (com a vida) para a salvação<br />
de outros.<br />
1. Não por força de Lei, de imposição. É um estado natural.<br />
- Uma árvore frutífera no devido tempo produz frutos, sem que isso<br />
lhe seja penoso.<br />
2. A Palavra é o próprio poder de Deus (Romanos 1.16).<br />
- É necessário seriedade e respeito no uso apropriado da Palavra.<br />
- Amar ao próximo é resultado da transformação que acontece.<br />
- Amar é um ato sacrificial.<br />
III - Acessibilidade da fé<br />
É imparcial e destinada a todos (v. 11).<br />
Não confunde (v.11).<br />
Salva (v.13).<br />
O que cristão pode fazer com a fé que tem? – Deixá-la frutificar! Ela<br />
110<br />
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Primeiro domingo na quaresma<br />
ensina que o homem deve interessar-se por coisas muito além de pão (João<br />
4.34). Os cristãos – aprendem pela fé – não só terão uma hospedagem,<br />
mas uma residência, debaixo da proteção de Deus; ele será para sempre<br />
o seu descanso e refúgio. Esta orientação tem como fonte segura e única<br />
a Escritura: Palavra revelada de Deus.<br />
Günter Martinho Pfluck<br />
Passo Fundo/RS<br />
revgunter@yahoo.ca<br />
111<br />
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Igreja Luterana<br />
Segundo Domingo na Quaresma<br />
28 de fevereiro de 2010<br />
Salmo 4; Jeremias 26.8-15;Filipenses 3.17- 4.1;Lucas 13.31-35<br />
Salmo 4: o salmista expressa confiança no Senhor. É o Senhor quem<br />
separa para si o piedoso, o fiel (dysix'). É ele quem faz resplandecer a sua<br />
face sobre o seu povo (em Cristo, cf. Jo 1.14; 14.9). O piedoso é tal por<br />
depender da misericórdia (ds
segundo domingo na quaresma<br />
O TEXTO: JEREMIAS 26. 8-15<br />
Jeremias foi um profeta que viveu em tempos turbulentos de Israel,<br />
quando o reino de Judá sucumbiu diante dos babilônios. Seu ministério<br />
começou em torno de 626 a.C. e terminou algum tempo depois de 586<br />
a.C., isto é, pouco após a destruição da cidade e do templo, e aconteceu<br />
em Jerusalém. Jeremias é um profeta que anuncia julgamento sobre Judá<br />
e Jerusalém. Ele é contra o ritualismo e a vazia confiança que o povo colocava<br />
sobre o templo como inviolável por si só. É um crítico ferrenho do<br />
ex opere operato ensinado pelos líderes religiosos e vivido pelo povo.<br />
Nossa perícope narra o que se sucedeu após Jeremias ter entregue<br />
uma mensagem do Senhor na Casa do Senhor, o templo. É uma mensagem<br />
de destruição e castigo que visa trazer o povo ao arrependimento e<br />
fé no Senhor. Os profetas são proclamadores da ds
Igreja Luterana<br />
O problema do povo está em não darem ouvidos à “minha Torá” (ytir'AT),<br />
é a incredulidade do povo de Israel (mostrada em sua justificação ex opere<br />
operato). É o abandono da aliança feita pelo Senhor com o seu povo, lá<br />
no Sinai, quando Deus prometeu ser o Deus de Israel e este o seu povo.<br />
Nela, o mais importante era que o povo de Deus ouvisse a voz dele (cf.<br />
Jr 7. 22-26). Lutero, ao explicar o 1º mandamento, diz que “devemos<br />
temer e amar a Deus e confiar nele acima de todas as coisas”. Confiar em<br />
Deus é ouvir a sua Palavra e praticá-la. A confiança em práticas religiosas<br />
ou locais santos de nada adiantará. Tanto que, mais adiante, Jeremias<br />
enviará uma carta aos exilados da Babilônia dizendo que o seu futuro dependerá<br />
de viverem suas vidas lá (numa terra “pagã”), sem templo, mas<br />
em confiança no Senhor e em sua Palavra. (cf. cap. 29).<br />
Os seres humanos não são capazes de guardar a Torá do Senhor.<br />
Desprezo pela Palavra de Deus é visto em toda parte, por vezes também<br />
em nosso meio. Proliferam ao nosso redor mestres que, como Paulo disse,<br />
são inimigos da cruz de Cristo: pregam uma graça barata preocupados<br />
somente com o seu próprio ventre (umbigo) e voltada somente para coisas<br />
terrenas (leitura útil é Discipulado, de Bonhoeffer, e sua discussão sobre<br />
graça barata e graça preciosa).<br />
Em virtude dessa incapacidade, o Senhor mesmo escreverá a sua Torá,<br />
a sua Palavra nas mentes e nos corações de seu povo, conforme anuncia<br />
o próprio Jeremias (Jr 31.33). Ela será escrita em nossos corações por<br />
meio da fé naquele que a ouviu, cumpriu e seguiu fielmente, Jesus Cristo,<br />
pagando ele também pelo castigo que merecíamos por constantemente a<br />
desprezar. Para tanto era necessário (cf. Lc 9.22) ele ir para Jerusalém e,<br />
em três dias, morrer e ressuscitar. Por meio de sua morte e ressurreição,<br />
no terceiro dia, Jesus nos tornou filhos de Deus, cidadãos dos céus.<br />
Período de quaresma é época de chamada ao arrependimento. Chamar<br />
o povo a ouvir a voz do seu Senhor e relembrá-lo o quanto a sua<br />
infidelidade a Deus custou ao próprio Filho que ele enviou ao mundo. É<br />
época de enfatizar, sobretudo, que só podemos ser fiéis, piedosos (dysix'),<br />
cf. o Salmo 4, porque Deus age em sua bondade amorosa e fidelidade<br />
(ds
segundo domingo na quaresma<br />
ela ainda não se manifestou plenamente; para tanto aguardamos o seu<br />
retorno. Somos santos de Deus lutando contra a nossa natureza pecaminosa<br />
e as consequências do pecado em nossas vidas, relacionamentos,<br />
famílias, igreja e sociedade. Para tanto afogamos diariamente o velho<br />
homem para que ressurja novo homem que viva para justiça por meio da<br />
Palavra e do Sacramento.<br />
SUGESTÃO HOMILÉTICA<br />
Título: Ouça a Palavra do Senhor<br />
a) Que chama você em meio ao seu pecado<br />
b) Que o atrai para perto da cruz de Jesus<br />
c) Que faz com que você viva com confiança – já e ainda não.<br />
Paulo Albrecht<br />
Copacabana/RJ<br />
paulosamuelalbrecht@yahoo.com.br<br />
115<br />
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Terceiro Domingo na Quaresma<br />
1. PERÍCOPE<br />
07 de março de 2010<br />
Salmo 85; Ezequiel 37.7-20; 1 Coríntios 10.1-13; Lucas 13.1-9<br />
Salmo 85: Introduz o tema do dia. É um pedido de perdão que o povo<br />
de Israel faz a Deus. Isto fica bem claro nas afirmações:<br />
- “Restabelece-nos, ó Deus da nossa salvação, e tira de sobre nós a<br />
tua ira” (v. 4);<br />
- “Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije<br />
o teu povo?” (v. 6);<br />
- “Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação”<br />
(v. 7).<br />
Deixa claro que Deus perdoa os que, arrependidos, o buscam:<br />
- “Perdoaste a iniquidade de teu povo, encobriste os seus pecados”<br />
(v.2);<br />
- “Próxima está a salvação dos que o temem” (v. 9);<br />
- “Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram”<br />
(v. 10).<br />
Por último, mostra as consequências do perdão na vida dos filhos de<br />
Deus:<br />
- “A justiça irá adiante dele, cujas pegadas ele transforma em caminhos”<br />
(v.13).<br />
Ezequiel 33.7-20: Descreve como deve agir o verdadeiro atalaia, ou<br />
seja, deve anunciar o juízo ao pecador impenitente e o perdão ao pecador<br />
penitente. Os versículos 11 e 12 mostram o que Deus realmente deseja<br />
através do trabalho de seus servos: que o perverso se converta e viva,<br />
pois Deus não tem prazer na sua morte.<br />
1 Coríntios 10.1-13: Apresenta o exemplo negativo deixado pelos<br />
“pais” na época de Moisés. Eles foram ricamente agraciados por Deus,<br />
pois:<br />
- “estiveram sob a nuvem” (v.1 – Êx 13.21-22);<br />
- “passaram pelo mar” (v. 1 – Êx 14.22-29);<br />
- “comeram do manjar espiritual (v.3 – Êx 16.35);<br />
- “beberam da fonte espiritual” (v. 4 – Êx 17.6; Nm 20.11).<br />
116<br />
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terceiro domingo na quaresma<br />
No entanto, eles tornaram barata a graça de Deus, que, como o apóstolo<br />
diz, em Cristo, a pedra, lhes foi concedida:<br />
- “cobiçaram as coisas más” (v. 6 – Nm 11.4);<br />
- foram idólatras (v.7 – Êx 32.6);<br />
- praticaram imoralidades (v. 8 – Nm 25.1-18);<br />
- colocaram Deus à prova (v. 9 – Nm 21.5,6);<br />
- murmuraram (v. 10 – Nm 16.41-49).<br />
Por causa disso:<br />
- “Deus não se agradou da maioria deles” (v. 5);<br />
- “ficaram prostrados no deserto” (v. 5);<br />
- “caíram, num só dia, vinte e três mil” (v. 8);<br />
- “pereceram pelas mordeduras das serpentes” (v.9);<br />
- “foram destruídos pelo exterminador” (v. 10).<br />
Paulo diz que todas estas coisas foram escritas na Bíblia “para nossa<br />
advertência” (v. 11) e, então, acrescenta: “Aquele, pois, que pensa estar<br />
em pé, veja que não caia” (v. 12). Mas ele também nos consola ao dizer<br />
que Deus não permite que sejamos tentados além das nossas forças e<br />
que Ele proverá o livramento para as nossas tentações (v. 13).<br />
Lucas 13.1-9: Jesus usa dois incidentes marcantes que ocorreram<br />
naqueles dias (a morte violenta de alguns galileus pela espada de Pilatos<br />
e a queda de uma torre em Siloé que matou 18 pessoas) para mostrar<br />
a necessidade de arrependimento (vv. 3 e 5). Em seguida, Jesus conta<br />
a parábola da figueira estéril, onde enfatiza a necessidade dos filhos de<br />
Deus produzirem os frutos dignos do arrependimento. Fica claro que é<br />
Deus quem capacita o pecador para tal.<br />
2. PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Introdução: Quando viajamos, vemos muitas cruzes na beira das estradas.<br />
Elas nos lembram de pessoas que morreram e, ao mesmo tempo,<br />
servem de alerta sobre os perigos que rondam aqueles locais.<br />
Tema: Exemplos que não devem ser seguidos<br />
- Dos que cobiçaram coisas más – 1 Co 10.6 – Nm 11.4;<br />
- Dos que praticaram a idolatria – 1 Co 10.7 – Êx 32.6;<br />
- Dos que praticaram a imoralidade – 1 Co 10.8 – Nm 25.1-18;<br />
- Dos que colocaram o Senhor à prova – 1 Co 10.9 – Nm 21.5-6;<br />
- Dos que murmuraram contra Deus e contra seus servos – 1 Co 10.10<br />
– Nm 16.41-49.<br />
117<br />
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Igreja Luterana<br />
- Estes tornaram barata a graça de Deus – 1 Co 10.1-4;<br />
- As consequências foram desastrosas;<br />
- Estes exemplos foram escritos “para advertência nossa” (1 Co 10.11).<br />
São como as cruzes no caminho ...<br />
- Paulo alerta: “Quem pensa estar em pé, veja que não caia” (1 Co<br />
10.12);<br />
- Jesus nos alerta sobre a necessidade de arrependimento e a produção<br />
de frutos dignos do arrependimento, mas também mostra que Deus pode<br />
e quer nos capacitar para isso (Lc 13.1-9);<br />
- Deus é fiel e não permite que sejamos tentados além das nossas<br />
forças. E, o que é melhor, proverá o livramento da tentação. Podemos<br />
confiar nEle! E isso Ele faz através de seu Filho, Jesus Cristo, que age<br />
poderosamente em nós através dos meios da graça.<br />
Conclusão: As cruzes à beira das estradas servem de alerta para<br />
tomarmos os cuidados necessários para evitarmos que também sejamos<br />
vítimas dos perigos que rondam nossas estradas. Na mensagem de hoje,<br />
Deus, que, movido pelo seu grande amor, não quer a condenação de nenhum<br />
pecador, nos advertiu para que não cometamos os erros que levaram<br />
muitos à perdição eterna. Confiemos em Cristo e permitamos que ele nos<br />
mantenha sempre em alerta! Amém.<br />
Geraldo Schüler<br />
Cacoal/RO<br />
gschuler@uol.com.br<br />
118<br />
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Quarto Domingo na Quaresma<br />
14 de março de 2010<br />
Isaías 12.1-6<br />
1. O SANTO DE ISRAEL ESTÁ ENTRE O POVO<br />
O Quarto Domingo na quaresma é tradicionalmente chamado de Laetare,<br />
que pode significar, “regozijai-vos”. O consolo aqui consiste no fato de que<br />
o Santo de Israel (Is 12.6), apesar de ter motivos para irar-se contra o seu<br />
povo, permanece entre ele, com sua palavra de perdão. Ele não abandona<br />
no pecado, pelo contrário, onde existe pecado, lá Ele quer estar presente,<br />
quer receber o pecador, quer comer com ele e quer dar por achado o que<br />
estava perdido. Isso dá motivo para alegria e agradecimento.<br />
A ênfase do capítulo 12 está nas obras de Yahweh e a razão da alegria<br />
é a presença do Santo de Israel, que é a salvação do povo.<br />
A expressão “naquele dia” nos faz perguntar pelo referente. O capítulo<br />
11 fala do rebento que sairá do tronco de Jessé, o qual julgará com justiça<br />
e estabelecerá uma nova ordem, segundo a qual “não se fará mal ou dano<br />
algum em todo o santo monte”. “Naquele dia” o restante do povo será resgatado,<br />
de um modo semelhante ao resgate do Egito, embora com muito<br />
maior intensidade. Ele resgatará o restante do povo da Assíria, do Egito,<br />
de Patros, da Etiópia, de Elão, de Sinar, de Hamate e das terras do mar. “...<br />
recolherá desde os quatro confins da terra”. Yahweh, “naquele dia”, destruirá<br />
totalmente o braço do mar do Egito, ferirá até mesmo o Eufrates, dividindo-o<br />
em sete canais, sendo que será possível atravessá-lo de sandálias. O caminho<br />
será plano como foi para Israel no dia em que saiu do Egito.<br />
A saída do Egito permanece viva na mente do povo de Israel de todos<br />
os tempos, de sorte que serve de exemplo e comprovação dos grandes<br />
feitos de Yahweh. Algumas expressões do cântico de Moisés e dos filhos<br />
de Israel de Êx 15 se repetem aqui em Isaías 12. O povo de Deus canta<br />
para agradecer pela salvação realizada e expressa assim a sua confissão:<br />
“O Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha<br />
salvação”.<br />
A oração em Is 12 é um agradecimento, a ira de Yahweh se retirou e<br />
agora Ele consola. O voltar atrás da ira é uma característica de Yahweh,<br />
como Paulo explica em 2 Co 5.16-21: “Aquele que não conheceu pecado,<br />
ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.<br />
A verdade é que essa obra, essa troca, esse voltar atrás é resultado do<br />
amor do Senhor pelo seu povo. O Pai que recebeu o filho, o qual estava<br />
119<br />
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Igreja Luterana<br />
morto e reviveu, estava perdido e foi achado, fez uma festa e o recebeu<br />
de braços abertos, consolando-o (Lc 15).<br />
Esta oração será feita “naquele dia”, quando sair do tronco de Jessé<br />
um rebento. Mateus ajuda a explicar esse “tempo” quando diz que “todas<br />
as gerações, desde Abraão até Davi (filho de Jessé), são quatorze; desde<br />
Davi até ao exílio na Babilônia (tempo de Isaías), catorze; e desde o<br />
exílio na Babilônia até Cristo, catorze”. A referência ao exílio na Babilônia<br />
parece ter um significado especial quando visto na perspectiva de Isaías,<br />
que em profecia destacou que “naquele dia”, ou seja, quando surgir esse<br />
“rebento”, nesse dia “Yahweh tornará a estender a mão para resgatar o<br />
restante do seu povo ...”. Nesse dia também haverá razão para agradecer,<br />
pois a ira do Senhor voltará atrás.<br />
A salvação é possível, porque grande é o Santo de Israel no meio do<br />
povo. Essa profecia se concretiza na presença de Jesus entre pecadores e<br />
publicanos (Lc 15). Jesus atraiu para si os pecadores, recebeu-os e comeu<br />
com eles. A parábola do Pai que recebe o Filho, depois deste sair de casa<br />
e gastar toda a herança, ilustra o amor de Yahweh pelo seu povo. Ele abre<br />
os braços e faz uma grande festa pelo “perdido que foi achado”.<br />
O povo de Israel olhava as coisas que estavam para acontecer “naquele<br />
dia”, quando o rebento de Jessé estabeleceria o seu reinado. Ele também<br />
olhava para trás, para a salvação vivida na saída do Egito. Yahweh fez o<br />
povo passar pelo mar Vermelho em terra seca e salvou o povo. Com alegria<br />
também o povo de Deus atual olha para trás, para a salvação conquistada<br />
por Cristo na cruz e aguarda a travessia do “mar vermelho” de suas vidas.<br />
Em todas as situações da vida do cristão, especialmente aquelas que o<br />
colocam diante da realidade da morte, a Palavra de Deus quer consolar<br />
com o fato de que o Santo de Israel está presente, ele é o “Deus conosco”<br />
e, especialmente, ele quer receber e andar com os perdidos.<br />
O objetivo da proclamação neste domingo é assegurar a todos que<br />
Yahweh está presente entre o seu povo, apesar dos pecados.<br />
2. PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Tema e desdobramentos:<br />
“O Santo de Israel está entre o povo”<br />
1. Apesar de ter motivos para a ira,<br />
2. Ele agora consola<br />
3. Onde existe pecado, ali o Senhor quer consolar, quer achar, quer<br />
salvar.<br />
120<br />
Clécio Leocir Schadech<br />
Corbélia/PR<br />
schadech@hotmail.com<br />
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Quinto Domingo na Quaresma<br />
1. CENÁRIO HISTÓRICO<br />
21 de março de 2010<br />
Filipenses 3.8-14<br />
A comunidade de Filipos foi a primeira fundada por Paulo na Europa<br />
(At 16.11-40 – 2ª viagem missionária 49-51 AD). A carta aos Filipenses<br />
foi escrita por Paulo da prisão em Roma entre 59-61 AD. Filipenses mostra<br />
Paulo como um crente, um missionário e um teólogo. Como alguém<br />
que acredita que a fé em Cristo lhe possibilita enfrentar com alegria toda<br />
e qualquer situação (Fp 4.13). A Epístola retrata um apóstolo preso que<br />
escreve para a uma igreja perseguida. E o verso chave de sua carta diz:<br />
“Eu me alegro! Vocês também se alegram?” Onde isto é possível senão<br />
onde a fé está e onde o Espírito Santo age?<br />
O tema da perfeição cristã é latente em Filipenses. É necessário que<br />
aquela Comunidade seja alertada e instruída a respeito disto. No capítulo<br />
3, Paulo alerta contra duas falsas ideias do que seria perfeição cristã: a<br />
ensinada pelos judeus legalistas (3.2-11), que baseavam a perfeição no<br />
cumprimento da lei, e a ensinada pelos libertinos inimigos da cruz de<br />
Cristo (3.17-21), que pervertiam a graça de Deus e a interpretavam conforme<br />
sua licenciosidade (antinomistas - conferir também Judas 4). Paulo<br />
era aquela pessoa que teria todos os motivos para se vangloriar na sua<br />
observância da lei e dos costumes judeus. Era um fariseu exemplar. Teria<br />
a moral necessária para ser legalista. Mas seu ensino é diferente. Contra<br />
estas duas heresias, Paulo retrata a si mesmo, aquele que está em Cristo,<br />
como verdadeiro exemplo da perfeição e maturidade cristã (3.15).<br />
2. CENÁRIO LITÚRGICO<br />
O Quinto Domingo na Quaresma é o último antes do Domingo de Ramos.<br />
A Igreja está sendo conduzida para aquela semana na qual meditará<br />
profundamente nos eventos decisivos da obra de Cristo para a salvação<br />
do mundo. Tempo de relembrar que Cristo não fez nada menos do que<br />
tudo o que era necessário. Não devemos ofuscar a obra do Salvador<br />
intrometendo nela nossas “bondades” e “perfeições”. A Igreja deve ser<br />
preparada a chegar à Semana Santa dizendo: “Nu me venho em ti vestir,<br />
só a graça te pedir”. O culto deve focar este “despir-se” para que livres<br />
de toda justiça própria possamos nos deliciar com aquela santa e perfeita<br />
justiça que vem de Deus, em Cristo.<br />
121<br />
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Igreja Luterana<br />
3. ANÁLISE DO TEXTO<br />
V. 8: Tudo como perda – Diante do conhecimento de Cristo, tudo<br />
o que o Apóstolo era, tinha e fazia, suas boas obras e reputação (ver<br />
versículos 4-6) é reconhecido como “perda” (zhmi,a). zhmi,a significa perder<br />
algo trazendo real prejuízo, algo valioso que não desejamos perder.<br />
Conhecimento de Cristo – Não apenas no sentido intelectual. Trata-se<br />
de um encontro pessoal com Cristo e uma associação a ele, tê-lo como<br />
o único Senhor, sendo encontrado nele, crendo nele. Conhecer a Cristo<br />
e ser conhecido por ele vem a ser a mesma coisa (1Co 8.2-3 ; 13.12 ;<br />
Gl 4.9). É inevitável a relação com o sacramento do Batismo. Refugo<br />
(sku,balon) – algo que agora se tornou detestável, totalmente sem valor.<br />
São as boas obras nas quais colocamos nossa confiança.<br />
V. 9: Justiça própria (evmh.n dikaiosu,nhn) X justiça que procede de<br />
Deus (qeou/ dikaiosu,nhn) – não é possível conciliar as duas (Rm 10.3).<br />
Se crermos que a justiça de Deus é um dom, aceitamos que a salvação foi<br />
completamente conquistada por Cristo (Mt 5.6 ; 6.33 ; Rm 1.17 ; 3.21-31<br />
; 1Co 1.30 ; 2Co 3.9 ; 5.21 ; 3.10-11). A justiça do cristão é alheia. Através<br />
da fé, nos é imputada a justiça de Alguém outro, de Cristo. Somente<br />
esta conta para a justificação.<br />
V. 10: Conhecer a Cristo – Como no v.8, este conhecimento não é<br />
meramente factual. Ele inclui a experiência do poder da ressurreição (Ef<br />
1.17-20), a comunhão nos sofrimentos de Cristo (At 9.16) e o estar unido<br />
com ele em sua morte (2Co 4.7-12 ; 12.9-10). Os crentes sempre estão<br />
unidos com Cristo em sua morte e ressurreição (Rm 6.2-13 ; Gl 2.20 ;<br />
5.24 ; 6.14 ; Ef 2.6 ; Cl 2.12-13 ; 3.1). No versículo 10, entretanto, Paulo<br />
fala sobre sua própria experiência do poder da ressurreição de Cristo e<br />
do sofrimento com e por ele, mesmo que isto venha a significar a sua<br />
própria morte.<br />
V. 11: “de algum modo” – não é uma indicação de dúvida ou incerteza,<br />
mas de intensa expectativa e envolvimento.<br />
Vv. 12-14: A vida cristã é como uma corrida. O apóstolo Paulo costuma<br />
usar imagens esportivas como comparação. Outras ocorrências:<br />
1Co 9.24-27 ; 1Tm 6.12 ; 2Tm 4.7-8 ; Mt 24.13 ; Hb 12.1. “Nesta vida,<br />
constantemente avançamos em direção ao alvo, sem, contudo, alcançálo.<br />
Pode parecer a um cristão que em outros tempos era mais piedoso e<br />
santo e conseguia vencer melhor o pecado. Isto até pode ter sido o caso,<br />
e sua presente condição pode ser devido a seu retrocesso espiritual. Mas<br />
a explicação correta de seu estado atual também pode ser esta: que ele<br />
agora vê com muito maior clareza que ser frágil ele é. Um jovem cristão<br />
pode pensar que seu coração naquele exato momento está totalmente<br />
puro, que ele abandonou o mundo e tem o céu em seu coração. Mas ele<br />
122<br />
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quinto domingo na quaresma<br />
não está consciente das bestas vorazes que estão à sua espera. Quando<br />
a doçura de sua infância espiritual cessar e as tribulações chegarem a ele,<br />
ele pensará não poder mais lutar contra o pecado assim como costumava<br />
fazer. A verdade é, no entanto, que ele está sendo atacado com muito maior<br />
violência do que antes e que ele está bem mais consciente de seus desejos<br />
e vontades pecaminosos.” (WALTHER, Carl. Lei e Evangelho, p.271).<br />
4. PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Moléstia: A natural autoconfiança do ser humano de que pode contribuir<br />
com sua salvação.<br />
Meio: A obra de Cristo é completa e total. Mesmo as melhores obras<br />
humanas são refugo diante dela. Cristo nos dá gratuitamente a “justiça<br />
que vem de Deus” abrindo a nós as portas dos céus.<br />
Objetivo: Confiar na justiça própria e na justiça que vem de Deus ao<br />
mesmo tempo é impossível. Elas são auto-excludentes. O grande objetivo<br />
é animar o povo de Deus a seguir sua vida “esquecendo das coisas<br />
que para trás ficam” (seus méritos próprios) e “seguindo para o alvo da<br />
soberana vocação em Cristo”, firmes na fé e na esperança daquilo que foi<br />
conquistado por Cristo apenas (unidos com Cristo na sua ressurreição).<br />
Tema: Esquecendo das coisas que para trás ficam, seguimos para o<br />
alvo!<br />
Esboço:<br />
I - Esquecendo das coisas que para trás ficam (Esquecendo =<br />
não colocando a confiança):<br />
- Não colocando a confiança naquilo que consideramos boas obras<br />
- Não colocando a confiança em nossos próprios méritos<br />
- Não julgando outros pela aparência<br />
- Não considerando cristãos apenas aqueles que preenchem determinados<br />
critérios de “santidade”<br />
II - Vivendo unidos com Cristo<br />
- Acolhidos por Deus (já no Batismo)<br />
- Recebendo suas dádivas (Absolvição e Santa Ceia)<br />
- Ensinados por ele (na Palavra)<br />
- Apegados em sua justiça (rejeitando todo orgulho)<br />
- Unidos em Comunidade (que compartilha a justiça de Cristo e que,<br />
portanto, não tem “melhores” e “piores”).<br />
III- Seguimos para o alvo<br />
- Amando como somos amados por Deus<br />
- Proclamando esta salvação<br />
- Meditando continuamente no grande amor de Deus, em Cristo.<br />
123<br />
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Igreja Luterana<br />
- Convite a celebrarmos a Semana Santa, despidos de nossas justiças<br />
e crendo sem reservas na suficiência da obra de Cristo por nós.<br />
5. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA<br />
ROEHRS; FRANZMANN. Concórdia Self-Study Comentary.<br />
WALTHER, Carl. Lei e Evangelho.<br />
CONCÓRDIA SELF-STUDY BIBLE.<br />
Fernando E. Garske<br />
Pastor no Colégio Luterano Concórdia – São Leopoldo/RS<br />
pastorfernando@gmail.com<br />
124<br />
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DOMINGO DE RAMOS<br />
O DOMINGO<br />
28 de março de 2010<br />
João 12. 20-43<br />
Isso procede do Senhor<br />
Os textos desse domingo refletem a obra que Jesus tomou sobre si.<br />
Na palavra de Paulo aos Filipenses temos uma confissão que a igreja adotou<br />
que expressa o completo esvaziamento de Deus em Cristo. Deixou a<br />
majestade, assumiu a nossa humanidade e desceu até à morte de cruz<br />
onde as penas do inferno o afligiram. Todas as acusações que o diabo<br />
pode levantar, e efetivamente levanta contra nós, o atormentaram. Ele<br />
foi julgado e condenado com a nossa culpa. Não há como descrever o que<br />
aconteceu na sua morte de cruz. Abandonado por Deus, o diabo e suas<br />
forças certamente cantavam vitória.<br />
Pode parecer estranho dizer isso, mas é necessário que se diga: esse<br />
é o Cristo que pode nos consolar. Nossa natureza humana, assim como<br />
os próprios discípulos, não consegue ficar ao pé da cruz. O quadro é por<br />
demais dantesco. Pois a cruz, da qual extraímos o conteúdo do evangelho<br />
como na expressão daquele hino: “Foi por mim que tu morreste” é, ao<br />
mesmo tempo, a revelação e constatação da grandeza do meu pecado.<br />
Deus nos é tão gracioso que não nos obriga a vermos o quanto o pecado<br />
em nós é grande. Um segundo aspecto que revela a compaixão de Deus<br />
por nós está no fato de que ele, além de nos ter como perdoados, ainda<br />
nos impede de pecar segundo os impulsos da natureza em nós. Isso Jesus<br />
nos ensina a crer quando nos ensina a orar: “Não nos deixes cair em<br />
tentação”. Deus providencia instrumentos, pessoas, educação, e nos envia<br />
dores e sofrimentos pelos quais refreia os nossos impulsos e preserva a<br />
dignidade de que necessitamos para viver em família e sociedade. Por<br />
isso, ao contemplar e confessarmos o Cristo crucificado, a lei que ali está<br />
expressa pelo juízo severo de Deus, ao lado do evangelho que dali brota,<br />
podem nos manter boquiabertos diante amor que Deus ali expressa por<br />
nós. A lei, com todo o seu peso, que nos atinge na cruz, essa Deus lança<br />
sobre Cristo. Cada acusação que Satanás pode lançar sobre nós com<br />
justiça, essa precisamos reconhecer na pessoa do crucificado.<br />
Bem por isso, podemos reconhecer nos relatos dos evangelistas e<br />
apóstolos como que um retorno permanente ao Calvário, de onde eles<br />
num primeiro momento se mantiveram distantes e até medrosos e en-<br />
125<br />
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Igreja Luterana<br />
vergonhados. Talvez esse fato esteja melhor expresso nas palavras de<br />
Paulo, que, talvez lembrado que ele ajudava a prender e apedrejar os<br />
seguidores do crucificado, exclama: “Pois não me envergonho da cruz”,<br />
ou então quando diz: “Nós pregamos a Cristo e, este, crucificado.” Ou:<br />
“Cristo vive em mim”, não um Cristo a quem o mundo renda glórias, mas<br />
um Cristo que somente serve para pecadores.<br />
É talvez nesse ponto que os cristãos se dividem e a pedra angular<br />
(Salmo do dia, 118. 22) é rejeitada. O fato de Deus assumir essa cruz<br />
aniquila com todas as ilusões de justiça e piedade que o ser humano queira<br />
se atribuir. O ser humano é tão abençoado diária e constantemente por<br />
Deus ao ponto de achar que ter coisas boas é algo que lhe cabe naturalmente.<br />
Deus dá tudo de que o ser humano necessita para viver, dando até<br />
mais do que o necessário, que o ser humano não registra como benefício<br />
recebido sem merecimento. Estes, quando olham para a cruz, também<br />
veem nela o sinal e a prova do amor de Deus pela humanidade. Deste<br />
amor passam a esperar algo além, algo especial, algo extraordinário, além<br />
do “normal” e do “comum” a que estão habituados. Não só habituados,<br />
mas já enfastiados. Tal como Israel se enfastiou do maná. Lutero registra<br />
isso como “entediados da bondade de Deus” (OS 5, 25, O Sublime Louvor<br />
(Salmo 118). Convictos de que podem esperar de Deus mais do que o<br />
“normal” a que se julgam merecedores, desdobram-se a mostrar que sua<br />
fé é superior, melhor, comprometida com um programa de realizações em<br />
serviços prestados e notabilizados diante das pessoas e das instituições,<br />
grupos, igrejas e comunidades.<br />
Um outro equívoco teológico marcado pelos pietistas foi apontar para a<br />
cruz como aquele feito extraordinário de Deus que agora demanda dos que<br />
a ele se apegam uma religiosidade de sacrifícios pessoais que se mostrem<br />
à altura do que Deus demonstrou por eles. Característico desta postura<br />
é aquele quadro conhecido que põe na boca do crucificado a frase: “Isto<br />
eu fiz por ti. Que farás tu por mim?” Expressão essa também cristalizada<br />
num aparentemente piedoso refrão de uma canção que muitos ensinam<br />
às crianças na escolinha bíblica.<br />
O véu ainda lhes encobre o rosto na medida em que não se permitem<br />
articular com clareza e coragem a obra plena, perfeita e completa do<br />
crucificado, que é plena e incondicional no consolo e conforto. Rejeitam a<br />
pedra angular porque não se enquadra no seu anseio de adquirir aos olhos<br />
do mundo e do próprio Deus o status de dignidade superior, tal como o<br />
fariseu fazia no templo.<br />
O esvaziamento total de Deus na cruz deve dizer-nos que nada do que<br />
fazemos ou pensamos pode se manter diante de Deus. Tudo o que somos<br />
e fazemos está marcado pelo pecado, pelo egoísmo, orgulho, soberba e<br />
desejo de vanglória. Por mais que pensemos em esvaziar-nos, e espe-<br />
126<br />
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domingo de ramos<br />
cialmente se nos determinamos a tal, teremos de dar-nos conta que a<br />
própria tentativa de auto-esvaziamento é uma forma de soberba pessoal<br />
porque parte do pressuposto de que essa é uma possibilidade para o ser<br />
humano, mesmo o batizado e crente.<br />
Por causa de Cristo a vida está presente no mundo. Deus alimenta,<br />
sustenta e protege. Deus faz “nascer o seu sol sobre bons e maus e descer<br />
a chuva sobre justos e injustos.” Lutero acrescenta: “Sem nenhum mérito<br />
ou dignidade da nossa parte”, quando o normal seria descer sobre nós o<br />
seu juízo e sofrermos dele o merecido abandono e condenação. Nascer,<br />
amar, cultivar, são presentes e ofertas que Deus renova e cuida em nós<br />
e para nós diariamente. Somos vazios, mas nele estamos plenos de felicidade<br />
porque ele é bom.<br />
Não podemos por isso estranhar quando corrige e repreende a nossa<br />
soberba e orgulho enviando-nos sinais da nossa pequenez por meio de<br />
doenças, sofrimentos e amarguras. Ao comermos a comida dos porcos,<br />
e por vezes só então, nos damos conta que junto dele os jornaleiros são<br />
felizes.<br />
Esse Deus e Pai nos mantém em uma “zona de conforto e bem estar”<br />
às vezes por longos períodos. Chamo zona de conforto o fato de que Deus<br />
atende as expectativas que temos em termos de saúde, relativo conforto,<br />
amigos e bens que Lutero descreve na explicação do Primeiro Artigo<br />
nos Catecismos (Maior e Menor). É graça pura podermos, pecadores que<br />
somos, ter expectativas, poder planejar e realizar planos e até sonhos.<br />
Podemos aí fazer o bem ao próximo dentro dos limites dessa zona de<br />
conforto, como também nos faz encarar os perdidos, os abandonados e<br />
os maltratados para que sirvamos de seus instrumentos descendo/saindo<br />
da zona de conforto e prestando serviços sob a cruz e na cruz a estes<br />
enviados de Deus.<br />
Assim como também muitos, ao longo de nossas vidas pessoais, serviram<br />
de instrumentos de Deus a nos amparar, orientar, socorrer e corrigir<br />
para que sejamos as pessoas que hoje somos. Esvaziar-se com Cristo, em<br />
Cristo e ao lado de Cristo: ter o mesmo sentimento de Cristo em relação ao<br />
mundo e às pessoas; andar em simplicidade na vida diante das pessoas,<br />
serviços e trabalhos que Deus dispõe diante de nós na vida em família e<br />
no espaço social ao qual fomos conduzidos por Deus em nossas escolhas,<br />
nisso a luz de Deus brilha em cada e em qualquer pessoa.<br />
Paulo P. Weirich<br />
São Leopoldo/RS<br />
ppweirich@yahoo.com.br<br />
127<br />
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Sexta-feira santa<br />
1. CONTEXTO<br />
02 de abril de 2010<br />
Hebreus 4.14-16;5.7-9<br />
Pregar na sexta-feira santa é, com certeza, um desafio todo especial.<br />
Não pregar qualquer coisa, mas o que precisa ser pregado: o evangelho.<br />
Há um clima acentuadamente penitencial, um ambiente sombrio, que é<br />
próprio do dia. Fácil é fixar-se naquele “foi minha toda a culpa, que foste<br />
tu levar”, esquecendo o “Deus na cruz é meu amado” e o “grato sou por<br />
tanto amor, meu bendito Redentor”. Para pregar o evangelho é preciso,<br />
antes de tudo, focalizar Cristo. Toda reflexão centrada em nós mesmos<br />
não passará de lei. E para focalizar Cristo, nada melhor do que explorar<br />
o texto bíblico.<br />
O texto da epístola (Hb 4 e 5) permite uma reflexão de sexta-feira santa<br />
como raramente se ouviu. Aliás, quando foi a última vez que pregaste um<br />
texto de Hebreus? Bem que está na hora. Normalmente, vemos o Cristo<br />
crucificado e até ouvimos falar do véu do templo que se rasgou de alto<br />
a baixo. Mas e o que aconteceu além do véu, ou, se preferir, em outra<br />
“dimensão”? Hebreus nos propicia esta perspectiva que vai além. Aliás,<br />
Hebreus é, no meio das epístolas, sem ser propriamente uma “epístola”, o<br />
que João é entre os Evangelhos: um texto diferente, com uma perspectiva<br />
própria. E, de quebra, para quem acha que nenhuma pregação deveria<br />
terminar sem uma aplicação mais direta (o que é discutível), a aplicação<br />
está presente, no texto, na forma de dois apelos em primeira pessoa:<br />
conservemos firme; acheguemo-nos.<br />
Claro, seria possível fazer uma leitura em contraponto, relacionando<br />
Isaías 53 e o texto da epístola. Difícil dizer até que ponto será possível<br />
fazer isto, numa só pregação, mas poderia ser um enfoque ou um caminho<br />
a seguir. Ele, Jesus, tanto o sacerdote (Hebreus) quanto o sacrifício<br />
(Isaías). Normalmente só enxergamos a vítima. Ficamos impressionados<br />
com a dramaticidade de Isaías 53 e o impacto da narrativa da paixão.<br />
Um Cristo passivo, padecente, sofrendo até o último suspiro. O texto de<br />
Hebreus nos mostra um Cristo ativo. Pendurado na cruz, ele exerceu seu<br />
ofício sumo-sacerdotal. Só que o autor aos Hebreus não o vê entrando no<br />
Lugar Santíssimo do templo que estava edificado sobre o monte Sião; ele<br />
o vê “penetrando os céus”. Literalmente, atravessando os céus. Claro, indo<br />
128<br />
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sexta-feira santa<br />
até a presença de Deus, onde está o santuário real e perfeito, do qual o<br />
santuário terreno, em Jerusalém, era apenas uma cópia.<br />
2. DESTAQUES NA ANÁLISE DO TEXTO<br />
Interessante é a formatação do texto da epístola, ou seja, a justaposição<br />
de Hb 4.14-16 e Hb 5.7-9. Por que omitir os primeiros seis versículos<br />
de Hb 5? Acontece que neste trecho se fala sobre a escolha de um sumo<br />
sacerdote e suas funções, e como isto se aplica a Cristo. Na sexta-feira<br />
santa, este é um tópico menos importante. Urge passar diretamente ao<br />
que Cristo fez, e isto aparece a partir de 5.7.<br />
No que segue, colocamos o texto da tradução de Almeida em negrito,<br />
com alguns comentários entre colchetes:<br />
Tendo [e esta afirmação é a base para o apelo que virá mais adiante],<br />
pois, a Jesus, o Filho de Deus [junto com o nome “Jesus”, Filho de Deus<br />
é outro destaque cristológico em Hebreus], como grande sumo sacerdote<br />
[a novidade em Hebreus; só que nem nos damos conta da hipérbole:<br />
“grande grande sacerdote”; no grego, só um adjetivo – grande ou mégas<br />
– e um substantivo – archieréus; neste “grande” está sua superioridade<br />
em relação ao sacerdócio do AT] que penetrou os céus [literalmente<br />
“atravessou”; assim como o grande sacerdote passava os vários pátios<br />
ou recintos do templo para entrar no Lugar Santíssimo], conservemos<br />
firmes [isto é possível porque temos Jesus, o grande sumo sacerdote] a<br />
nossa confissão [pode ser tanto o ato de confessar quanto a doutrina<br />
que se confessa; sexta-feira santa é dia de professar lealdade a Jesus.<br />
Não é dia de ter pena de Jesus ou de se “sentir mal” pelo que fizemos a<br />
ele; é dia de culto]. 15 Porque não temos sumo sacerdote que não<br />
possa [aqui temos lítotes, ou seja, negação da negação – que resulta<br />
em afirmação com efeito retórico: com certeza temos!] compadecerse<br />
das nossas fraquezas [não necessariamente pecados; no contexto<br />
dos hebreus, vacilação na fé, entre outras]; antes, foi ele tentado em<br />
todas as coisas [em tudo mesmo? qual teria sido a última tentação<br />
de Cristo? segundo o relato dos Evangelhos, a agonia no Getsêmani], à<br />
nossa semelhança, mas sem pecado [temos aqui um resumo de Hb<br />
2.14-18]. 16 Acheguemo-nos [diferentemente de Jesus, que penetrou<br />
os céus, ainda precisamos aproximar-nos; sempre existe a ocasião oportuna<br />
de que fala o final do versículo], portanto [conclusão lógica baseada<br />
no que precedeu; por ele estar lá no céu e por compadecer-se de nossa<br />
fraqueza podemos nos achegar], confiadamente, junto ao trono [simboliza<br />
poder] da graça [construção de genitivo ambígua, mas que parece<br />
significar “onde está a graça”, ou “de onde provém a graça”; a melhor<br />
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Igreja Luterana<br />
tradução para “graça” ainda é “favor imerecido”], a fim de recebermos<br />
misericórdia e acharmos graça [no sentido de encontrar graça, ser<br />
alvo do favor] para socorro em ocasião oportuna [esta ocasião é um<br />
eu-kairón, um “bom tempo”, um tempo propício; cada culto, cada santa<br />
ceia é uma ocasião oportuna].<br />
Ele, Jesus [até ARA explicita o sujeito, neste caso, para que não se<br />
pense que o sujeito é Melquisedeque], nos dias da sua carne [poderia<br />
ser lido como afirmação de que ele deixou a humanidade para trás; NTLH<br />
é mais feliz: “durante a sua vida aqui na terra”], tendo oferecido [aqui<br />
aparece o termo técnico para “oferecer sacrifícios”, que é o que se espera<br />
de um sacerdote], com forte clamor e lágrimas [o uso de dois termos<br />
semelhantes, que se completam, tem um interessante efeito retórico de<br />
ênfase], orações e súplicas [outra duplicação para efeito retórico; equivalente<br />
a “fervorosas orações”] a quem o podia livrar da morte [possível<br />
referência ao “passa de mim este cálice”, o episódio no Getsêmani] e tendo<br />
sido ouvido [“ouvido” no sentido de “atendido”; mas como, “ouvido”? Ele<br />
não foi poupado da morte. Duas possibilidades: Deus o fortaleceu; Deus<br />
o vindicou, na ressurreição] por causa da sua piedade [não o mesmo<br />
termo que é traduzido por “piedade” em 1Tm; em Hb 12.28, única outra<br />
ocorrência no NT, é traduzido por “reverência”; poderia ser “submissão”<br />
ou “fidelidade”], 8 embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas<br />
coisas que sofreu 9 e, tendo sido aperfeiçoado [de forma ativa seria:<br />
“Deus o aperfeiçoou”. Linguagem desconcertante, aqui em Hebreus. Não<br />
que Jesus fosse imperfeito, mas no sentido de ter alcançado o seu objetivo],<br />
tornou-se o Autor [um termo diferente daquele empregado em<br />
2.10; literalmente, a “causa” (em grego, aitía); logo, “fonte da salvação”,<br />
na NTLH] da salvação eterna para todos os que lhe obedecem [implícita<br />
afirmação de divindade, pois obedecer/crer é algo que ocorre só<br />
em relação a Deus], 10 tendo sido nomeado [nomear é verbo raro no<br />
NT, mas expressa isto mesmo] por Deus sumo sacerdote, segundo a<br />
ordem de Melquisedeque. [Hb 5.7-10 é um longo período, bem formulado,<br />
em grego, sem ponto, reproduzido tal qual em ARA.]<br />
3. ORDENAMENTO DO MATERIAL<br />
Hebreus tem como uma de suas características a justaposição (ou até<br />
mesmo mistura) de trechos exortativos e trechos doutrinários. É o que<br />
acontece também na epístola de hoje. Não é, normalmente, a sequência<br />
que seguimos, na tradição aristotélica de ordenar as coisas. É uma lógica<br />
bíblica, diferente da grega. Uma opção é seguir esta lógica. Outra opção<br />
é reordenar os dados, para que a sequência seja mais “ocidental”. Neste<br />
caso, a sequência poderia ser, mais ou menos, esta:<br />
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sexta-feira santa<br />
a. Mesmo na cruz, aparentemente inerte, Jesus esteve ativo: penetrou<br />
o santuário dos céus, como grande sumo sacerdote (empático ou compassivo,<br />
diga-se de passagem) que é;<br />
b. Aprendeu pelo que sofreu e alcançou seu objetivo (“foi aperfeiçoado”):<br />
ofereceu o sacrifício definitivo [elemento a ser importado de outra<br />
parte, em Hebreus] e se tornou a fonte de salvação eterna e o Rei que<br />
governa a partir do trono da graça;<br />
c. Acheguemo-nos confiadamente dele, para recebermos misericórdia;<br />
e conservemos firmes a nossa confissão.<br />
Vilson Scholz<br />
São Leopoldo/RS<br />
vscholz@uol.com.br<br />
131<br />
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Domingo de Páscoa –<br />
a ressurreição do Senhor<br />
04 de abril de 2010<br />
1 Coríntios 15. 20-28<br />
1. CONTEXTO LITÚRGICO E HISTÓRICO<br />
Nunca é demais lembrar que o culto, e também especificamente o<br />
sermão, do domingo de Páscoa precisa refletir em tudo a celebração do<br />
maior evento de toda a história. Estamos celebrando o triunfo sobre o maior<br />
inimigo da humanidade: a morte. Se alguma coisa neste mundo merece<br />
ser celebrada, certamente é este acontecimento. Aqui o Evangelho—a Boa<br />
Nova—brilha em toda sua intensidade.<br />
O convite para a fé no Evangelho e para a celebração daí decorrente<br />
está presente tanto no texto da epístola como também nas demais leituras<br />
do domingo. O evangelho reproduz as palavras dos anjos: “Por que buscais<br />
entre os mortos ao que vive? Ele ... ressuscitou” (Lc 24.5,6). O Salmo 16<br />
celebra a ressurreição de Cristo (especialmente nos versículos 8-11, citados<br />
em At 2.25-28; 13.35; e com uma provável alusão no versículo 4 de<br />
nosso texto). Isaías 65.17ss. aponta para a esperança do futuro tornado<br />
possível pela Páscoa (“folgareis e exultareis perpetuamente”; “crio ...<br />
alegria ... regozijo”; “exultarei ... e me alegrarei no meu povo”).<br />
O convite para crer no Evangelho e para celebrá-lo está claro na Escritura.<br />
Mas a história da humanidade revela que esta fé e celebração não<br />
são a resposta natural do ser humano. É difícil crer no Evangelho. É bom<br />
demais para ser verdade. É difícil pregar o Evangelho.<br />
Já nos dias do apóstolo Paulo, os coríntios tinham dificuldade para se<br />
confortar e se alegrar com a ressurreição de Cristo. Séculos mais tarde,<br />
na teologia e pregação da Idade Média, a atenção foi desviada, quase<br />
inteiramente, dos grandes feitos de Deus para obras humanas.<br />
Lutero, que tem como foco de sua Reforma o objetivo de recolocar<br />
o Evangelho da graça de Deus em Cristo no centro da teologia e vida da<br />
igreja, queria que a ressurreição não fosse lembrada apenas no dia da<br />
Páscoa mas, de forma especial, também em todo o período entre a Páscoa<br />
e o Pentecostes. No lecionário medieval, lia-se, neste período, na missa,<br />
as epístolas – especialmente Tiago, considerada a melhor. Lutero sugeriu<br />
uma mudança na seleção das leituras bíblicas para os cultos deste período<br />
do calendário eclesiástico. Diz ele: “Seria melhor para a instrução e<br />
conforto das pessoas, e em consonância com o período, tratar o artigo<br />
132<br />
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domingo de páscoa - a ressurreição do senhor<br />
da ressurreição – a respeito tanto da ressurreição de Cristo quanto da<br />
nossa, ou de todos os mortos – entre Páscoa e Pentecostes”. [Complete<br />
Sermons, vol. 4:I, 286]. Lutero sugeriu a leitura do nosso texto para o<br />
3º Domingo após a Páscoa.<br />
2. DESTAQUES DO TEXTO<br />
A leitura da epístola é parte do famoso “capítulo da ressurreição”.<br />
É significativo como o apóstolo inicia o assunto – 15.1: “Irmãos, venho<br />
lembrar-vos o evangelho ...; v. 2: por ele, ... sois salvos”. A ressurreição<br />
é Evangelho puro!<br />
Para os coríntios, a ressurreição de Cristo (v. 4) não estava em dúvida,<br />
ao contrário de hoje (teologia existencialista de Bultmann, Código da<br />
Vinci, tumba de Talpiot, etc.). A dúvida deles era com relação à nossa<br />
ressurreição, ou à ressurreição dos mortos em geral (v. 12). Paulo argumenta<br />
que se os mortos em geral não ressuscitam (v. 16), “então Cristo<br />
também não ressuscitou”.<br />
V. 19: Se Cristo não ressuscitou, e se nós não ressuscitaremos, então<br />
“somos os mais infelizes de todos os homens”.<br />
Contra esse pano de fundo sombrio e negativo – da ausência de esperança<br />
na ressurreição própria e dos demais – Paulo realça o aspecto<br />
positivo:<br />
V. 20: Cristo, de fato, ressuscitou. Ele é as primícias dos que dormem<br />
(cf. v. 23).<br />
Cristo vive. Não apenas sua memória ou seus ensinamentos sobrevivem.<br />
Ele, pessoalmente e fisicamente, retornou da morte à vida. O mesmo<br />
corpo que foi pregado à cruz, morreu e foi sepultado ressuscitou.<br />
O conceito das “primícias” vem do AT. Os primeiros frutos duma colheita<br />
eram oferecidos a Deus como oferta de gratidão. (Êx 23.16; 34. 22,26; Lv<br />
23.9-14). “Mas há apenas uma colheita. E há apenas uma ressurreição.<br />
A ressurreição de Jesus é as primícias de nossa ressurreição. Sua vitória<br />
completa sobre a morte e o pecado é a nossa vitória completa prometida<br />
sobre a morte e o pecado”. (GIBBS, Jeffrey. “Our faith, our funerals, our<br />
future”, The Lutheran Witness, 123, nº 4 [abril 2004]: 8). Pelo batismo,<br />
estamos unidos a Cristo, por isso seremos a colheita final e completa da<br />
qual o próprio Jesus é a primeira parte.<br />
V. 26: A morte, embora já derrotada definitivamente, continua a nos<br />
atormentar. É verdade que a morte é como um sono para os cristãos (v. 20<br />
“dos que dormem”), que “Tragada foi a morte pela vitória” (54) e “Graças<br />
a Deus que nos dá a vitória” (57). Mas, a morte é o último inimigo a ser<br />
destruído. Ela não foi ainda completamente vencida. Há, aqui, um “já e<br />
ainda não”. Já somos vitoriosos com Cristo, mas ainda não estamos no<br />
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reino da glória. Ainda temos que passar pela morte antes de chegar lá. É<br />
como se estivéssemos numa guerra na qual o inimigo já se rendeu, mas<br />
a notícia ainda não alcançou seus aviões bombardeiros que já haviam<br />
partido para sua última missão e ainda continuam a causar destruição e<br />
sofrimento por um curto período. Pelo fato de a morte ainda causar terror<br />
e sofrimento, precisamos, tanto mais, reafirmar a vitória presente na<br />
ressurreição de Cristo e o significado e esperança que a mesma nos traz.<br />
A morte é “o último inimigo”. Após a nossa ressurreição não haverá mais<br />
dor, nem tristeza, nem qualquer tipo de sofrimento. O pecado e todas as<br />
suas consequências terão sido eliminados para sempre para todos os que<br />
são de Cristo.<br />
3. PONTOS DE CONTATO<br />
O pastor Ken Schurb, num artigo da revista Concordia Journal, alega<br />
que os pregadores da atualidade perderam a ênfase no significado da<br />
ressurreição de Jesus que se encontra na proclamação do Novo Testamento,<br />
especialmente em Atos e nas epístolas. Segundo ele, em muitas<br />
pregações do Evangelho se enfatiza apenas a morte expiatória de Cristo.<br />
Ele resume diversos aspectos do Evangelho presentes na ressurreição de<br />
Cristo da seguinte forma:<br />
1. A ressurreição confirma que Cristo realizou um sacrifício completo<br />
e aceitável a Deus como nosso substituto.<br />
2. A ressurreição nos assegura que o diabo, o pecado e a morte não<br />
podem ter nenhum poder sobre nós, uma vez que eles não têm nenhum<br />
poder sobre Cristo, que os suportou por nós mas triunfou.<br />
3. A ressurreição consiste em Deus absolver seu Filho de nossos pecados<br />
que foram imputados a ele, e, portanto, na nossa absolvição por<br />
Deus.<br />
4. A ressurreição significa que Jesus vive para nos imputar a justiça<br />
de sua obediência.<br />
5. A ressurreição sublinha a realidade do perdão que Cristo obteve<br />
para nós na expiação.<br />
6. A ressurreição nos capacita a ter comunhão contínua com o Cristo<br />
que obteve nossa paz.<br />
7. A ressurreição é a dádiva divina de vida que volta à tona agora que<br />
Jesus pagou pela culpa do pecado na expiação.<br />
8. A ressurreição nos assegura que o Deus-Homem, nosso Mediador,<br />
vive como ele deve.<br />
(SCHURB, Ken. “The Resurrection in Gospel Proclamation,” Concordia<br />
Journal, 18, nº 1 [January 1992], 37.<br />
Esses aspectos não precisam ser incluídos num único sermão, mas<br />
134<br />
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domingo de páscoa - a ressurreição do senhor<br />
podem ser desdobrados e explicados ao longo de uma série de pregações<br />
e estudos em que o tema da ressurreição é apresentado.<br />
O significado da ressurreição de Cristo pode e deve ser aplicado a situações<br />
concretas de nossa vida e de nossos ouvintes. Convém enfatizar<br />
e aplicar o conforto e esperança que resultam desta sua ressurreição.<br />
Se há um momento em nossas vidas onde a mensagem da primeira<br />
Páscoa deveria ter um lugar bem especial para nos trazer conforto e esperança,<br />
esse momento deveria ser por ocasião de sepultamentos. Ou<br />
não?<br />
O Dr. Jeffrey Gibbs, professor de Teologia Exegética no Seminário Concórdia<br />
de Saint Louis, fez uma descoberta desconcertante com relação a<br />
isso. Conta ele, no artigo acima mencionado, que, num período de 12 anos<br />
em St. Louis, ele participou de vários funerais de cristãos “comuns” e de<br />
líderes sinodais mais conhecidos. E, raramente, ele ouviu uma referência<br />
às boas novas da ressurreição física nas alocuções fúnebres. Felizmente,<br />
diz ele, a liturgia sempre oferece esse consolo mas, por que, com o corpo<br />
ali presente, só se ouve que a alma do crente partiu para estar com Cristo?<br />
Claro que isso também é confortador e bíblico. Mas, continua Gibbs,<br />
a Bíblia também diz que nossos corpos são importantes para Deus. (A<br />
criação é importante para Deus).<br />
Rm 8. 22-23 diz: “Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo,<br />
geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também<br />
nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso<br />
íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.” E,<br />
v. 11: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre<br />
os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos<br />
vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito,<br />
que em vós habita” (ver tb. 1 Pe 1.3-5).<br />
No credo confessamos: Creio na ressurreição da carne. Mas, por que<br />
esquecemos isso na hora dum funeral? Seria por causa de uma visão<br />
neoplatônica? (cf. Paulo em Atenas). Mas, não somos um corpo corrupto<br />
existindo numa alma pura. A razão do esquecimento talvez seja, diz Gibbs,<br />
que as boas novas da Páscoa e do Último Dia não estão no centro da<br />
atenção no resto do tempo.<br />
Para os tessalonicenses preocupados com seus entes queridos que<br />
haviam falecido antes do retorno de Cristo, Paulo não diz: “Não se preocupem,<br />
suas almas estão com Cristo no céu.” Mas ele diz: “os mortos em<br />
Cristo ressuscitarão primeiro ... Consolai-vos, pois, uns aos outros com<br />
estas palavras” (1 Ts 4.16, 18). Este mesmo consolo pode ser nosso e<br />
também podemos consolar outras pessoas, que temem a morte, com a<br />
esperança da Páscoa e a promessa da ressurreição do corpo.<br />
Na última parte de seu artigo, Gibbs acentua: A Páscoa é nosso futuro.<br />
135<br />
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Igreja Luterana<br />
Cristo, as primícias, já ressuscitou dos mortos. No tempo determinado por<br />
Deus virá o restante da colheita. Todos os que já morreram em Cristo e a<br />
última geração que ainda estiver vivendo na terra será parte desta colheita<br />
final. Pela fé já iniciamos nossa nova vida em Cristo. Isso envolve também<br />
nosso corpo. Podemos honrar a Deus com as escolhas que fazemos com<br />
nosso corpo (1 Co 6. 13b-15a). Mas, o mais importante é a esperança<br />
certa que podemos ter de que um dia nosso corpo vai ressuscitar e viver<br />
com Cristo no mundo que há de vir.<br />
4. SUGESTÃO DE TEMA E PARTES<br />
Tema: Cristo, as primícias da ressurreição<br />
1. O significado da ressurreição de Cristo<br />
2. O conforto e a esperança que resultam dessa sua ressurreição.<br />
Paulo W. Buss<br />
São Leopoldo/RS<br />
pwbuss@hotmail.com<br />
136<br />
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Segundo Domingo de Páscoa<br />
1. LEITURAS BÍBLICAS DO DIA<br />
Sl 148: Hino de louvor que convida todos os seres do céu e da terra<br />
a cantar glórias ao Deus de Israel.<br />
At 5.12-20(21-32): O crescimento da Igreja Cristã; a perseguição e<br />
prisão dos apóstolos; a coragem dos apóstolos para testemunhar a morte<br />
e ressurreição de Cristo.<br />
Ap 1.4-18: João obedece a ordem do todo-poderoso Deus e, então,<br />
escreve a visão do Cristo glorificado e envia às igrejas de sete cidades da<br />
província romana da Ásia.<br />
Jo 20.19-31: De forma milagrosa, Jesus entra no local em que os discípulos<br />
estavam reunidos de portas trancadas e lhes deseja paz e também<br />
lhes concede o Espírito Santo. Jesus também prova a Tomé que, de fato,<br />
está vivo. É afirmado que alguns milagres de Jesus foram registrados neste<br />
Evangelho para que creiamos que Ele é o Messias, o Filho de Deus.<br />
Relação entre as leituras e o período litúrgico: O poder de Deus e a<br />
obra de salvação (morte e ressurreição) de Cristo causam louvor, adoração<br />
e honra dirigidos ao único e verdadeiro Deus. Não é possível ficar calado<br />
frente à história da salvação.<br />
2. TÍTULOS<br />
Almeida Revista e Atualizada: Os apóstolos fazem muitos milagres<br />
(At 5.12-16). A prisão dos apóstolos (At 5.17-32). Nova Tradução na<br />
Linguagem de Hoje: Milagres e maravilhas (At 5.12-16). Os apóstolos<br />
são perseguidos (At 5.17-42). Concordia Self-Study Bible – NVI: The<br />
Apostles Heal Many (At 5.12-16). The Apostles Persecuted (At 5.17-42).<br />
3. CONTEXTO<br />
11 de abril de 2010<br />
Atos 5.12-32<br />
O livro de Atos narra o começo da Igreja Cristã (At 1.1-2.42). A leitura<br />
bíblica de At 5.12-32 é apresentada no contexto em que o evangelho<br />
é anunciado em Jerusalém (At 2.43-8.3). Após a mentira de Ananias e<br />
Safira e a consequente morte deles (At 5.1-11) e o, então, crescimento<br />
espantoso da Igreja, ocorre a segunda prisão e o segundo julgamento<br />
dos apóstolos (At 5.12-32). Observação: Jesus também teve dois julga-<br />
137<br />
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Igreja Luterana<br />
mentos perante aquele grupo de juízes. O Sinédrio (Conselho Superior)<br />
já estava aborrecido com os apóstolos Pedro e João, porque falavam ao<br />
povo do Jesus ressuscitado como prova da ressurreição dos mortos (At<br />
4.2). Foram presos por causa disso e ameaçados para que não ensinassem<br />
mais nada sobre Jesus. Naquela ocasião eles responderam: “... pois nós<br />
não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4.20).<br />
Foram ainda mais ameaçados, mas acabaram soltos, pois não tinham<br />
como condená-los (At 4.1-22). Os apóstolos continuaram a ser perseguidos<br />
além de continuarem a receber sérias advertências do Sinédrio<br />
para não falarem mais a respeito de Jesus (At 5.17-32), mas Pedro e os<br />
outros apóstolos responderam: “Antes, importa obedecer a Deus do que<br />
aos homens” (At 5.29). Não fosse o medo do povo e a influência pacífica<br />
de Gamaliel, teriam apedrejado os apóstolos. Gamaliel era o mais famoso<br />
rabino daquele tempo, era fariseu. A hostilidade entre fariseus e saduceus<br />
era considerável. Sacerdotes e saduceus faziam a maioria do Conselho<br />
e detestavam a idéia da ressurreição dos mortos. Gamaliel, embora não<br />
fosse cristão, parecia simpatizar com os cristãos contra os saduceus. Os<br />
apóstolos, apesar de serem açoitados, continuavam a proclamar Jesus<br />
e regozijavam-se por sofrerem pela causa de Cristo (At 5.33-42). Observação:<br />
O Sinédrio era o mais alto tribunal religioso dos judeus, do<br />
qual faziam parte os sumos sacerdotes (o atual e os anteriores), chefes<br />
religiosos (anciãos) e professores da Lei. Tinha 71 membros, incluindo o<br />
presidente (Jo 11.47).<br />
4. DOUTRINA RELACIONADA<br />
O texto bíblico de At 5.12-32 está relacionado com 4º Mandamento,<br />
especialmente o versículo 29 (“Antes, importa obedecer a Deus do que aos<br />
homens.”). O Catecismo Menor de Schwan cita At 5.29, após as perguntas<br />
48 e 49. “Que nos ordena, ao contrário, o Quarto Mandamento? Devemos<br />
honrar, servir, obedecer e amar os nossos pais e superiores e querer-lhes<br />
bem. Quando sucede isto? Veneramos nossos pais e superiores quando<br />
do íntimo os tomamos por representantes de Deus, fazendo-lhes também<br />
voluntariamente o que podemos, obedecendo-lhes em todas aquelas cousas<br />
em que Deus os constituiu nossos superiores e estimando-os como<br />
preciosos dons de Deus.” A Confissão de Augsburgo cita At 5.29 no Artigo<br />
16 (Da Ordem Política e do Governo Civil): “... os cristãos têm o dever<br />
de estar sujeitos à autoridade e de lhe obedecer aos mandamentos e leis<br />
em tudo o que não envolva pecado. Porque se não é possível obedecer à<br />
ordem da autoridade sem pecar, mais importa obedecer a Deus do que aos<br />
homens” (Atos 5). E num estudo do artigo, tratando sobre a “Obediência<br />
Condicional”, Horst Kuchenbecker escreve: “Nossa obediência ao governo<br />
138<br />
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Segundo domingo de páscoa<br />
não é absoluta. Se o governo nos ordena fazer algo contra a lei de Deus ou<br />
contra nossa fé, cabe-nos responder com Pedro: ‘Antes, importa obedecer<br />
a Deus do que aos homens.’ (At 5.29), mesmo se isto nos levar à prisão,<br />
sofrimentos ou à morte.<br />
5. COMENTÁRIOS E REFLEXÕES<br />
V.12: Todos os apóstolos estavam ensinando no Pórtico de Salomão<br />
quando os oficiais do Sinédrio os surpreenderam e prenderam a todos<br />
eles.<br />
Vv.12-18: Era como uma repetição do ministério de Jesus na Galiléia,<br />
tantas eram as pessoas curadas pelos apóstolos. Não é de se admirar que<br />
as autoridades judaicas tenham ficado com inveja.<br />
Vv.13-14: A falta de coragem para se aproximarem do grupo de seguidores<br />
de Jesus, mesmo com o terrível medo da perseguição aos cristãos,<br />
não impediu o crescimento da Igreja Cristã.<br />
V.15: “Sua sombra”: Acreditava-se que a sombra da pessoa tinha<br />
poderes mágicos.<br />
Vv.19-21: Um “anjo do Senhor” foi o agente especial de Deus para abrir<br />
as portas da prisão e comissionar os apóstolos novamente a testemunhar<br />
a salvação. Assim, o caráter milagroso desta façanha ficou impresso sobre<br />
o Sinédrio. O fato de serem logo soltos da prisão bem como a ordem do<br />
anjo do Senhor ajudaram a convencer os apóstolos da sua missão.<br />
Vv.21-32: Nem as ameaças, nem a prisão, nem os açoites conseguem<br />
fazer frente ao poder de Deus. O poder de Deus ultrapassa os limites humanos<br />
(os apóstolos foram soltos por Deus). Mesmo diante de ameaças, os<br />
apóstolos não ficaram quietos. Não existe poder humano que interrompa<br />
a propagação do evangelho.<br />
V.28: Os apóstolos haviam declarado publicamente que o Sinédrio era<br />
responsável pela morte de Jesus, e agora eles temiam represálias.<br />
Vv.29-32: A defesa de Pedro ante o Sinédrio é novamente um testemunho<br />
dos apóstolos a respeito da morte e ressurreição de Cristo.<br />
V.31: “Destra / Direita”: Não é uma referência ao lado direito, literalmente,<br />
mas é um sinal de poder e glória dados a Cristo.<br />
Contrastes entre Deus e o ser humano: Deus comissionou os apóstolos<br />
para serem mensageiros do evangelho, levando o arrependimento e o<br />
perdão dos pecados – os homens estão obrigando os apóstolos a não falar<br />
mais ou ensinar o nome de Jesus (vv.17-21, 28; Mt 28.18-20; Mc 16.15);<br />
obedecer a Deus – desobedecer aos homens (v.29); Deus ressuscitou a<br />
Jesus – os homens mataram Jesus num madeiro (v.30; Dt 21.23).<br />
Observações: a) O poder (dado por Deus) e popularidade admiráveis<br />
dos apóstolos (v.12-16). b) Semelhança entre os milagres e as maravi-<br />
139<br />
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Igreja Luterana<br />
lhas que os apóstolos estavam realizando (vv.12-16) e os dias de Jesus<br />
na Galiléia (Lc 4.14-9.50). c) Inabalável ousadia de Pedro em desafiar as<br />
autoridades (At 4.8-14; 5.29-32), o mesmo Pedro que, poucas semanas<br />
antes, negou a Jesus de forma covarde (Lc 22.54-65).<br />
Passagens paralelas:<br />
At 5.12-32 – v.12: Jo 4.48; At 2.43; 4.32; Jo 10.23; At 3.11. v.13:<br />
At 2.47; 4.21. v.14: At 2.41. v.15: At 19.12. v.16: Mt 8.16; Mc 16.17.<br />
v.17: At 15.5; 4.1. v.18: At 4.3. v.19: Gn 16.7; Êx 3.2; Mt 1.20; 2.13,<br />
19; 28.2; Lc 1.11; 2.9; Jo 20.12; At 8.26; 10.3; 12.7, 23; 27.23; 16.26;<br />
Sl 34.7. v.20: Jo 6.63, 68. v.21: At 4.5-6; 5.27, 34, 41; Mt 5.22. v.22: At<br />
12.18-19. v.24: At 4.1. v.26: At 4.21. v.27: Mt 5.22. v.28: At 4.18; Mt<br />
23.35; 27.25; At 2.23, 36; 3.14-15; 7.52. v.29: Êx 1.17; At 4.19. v.30:<br />
At 3.13; 2.24; 10.39; 13.29; Gl 3.13. v.31: Mc 16.19; Lc 2.11; Mt 1.21;<br />
Mc 1.4; Lc 24.47; At 2.38; 3.19; 10.43. v.32: Lc 24.48; Jo 15.26.<br />
6. SUGESTÃO DE USO HOMILÉTICO<br />
Assunto: O poder e a autoridade de Deus.<br />
Objetivo: a) Fé: Confiar no poder de Deus, pois sempre nos concede<br />
forças para enfrentarmos qualquer situação, inclusive nos ajuda a superar<br />
as dificuldades para a propagação do evangelho. b) Vida: Na certeza da<br />
proteção e ajuda de Deus, testemunhar a salvação destemidamente, sabendo<br />
que a palavra que anunciamos tem autoridade, pois é de Deus.<br />
Tema: Deus faz a sua Igreja crescer. a) Motivando seus seguidores a<br />
anunciar as maravilhas da salvação. b) Concedendo o seu poder e a sua<br />
autoridade através de sua palavra.<br />
Conclusão: O amor de Deus supera qualquer barreira para que o<br />
mundo conheça o evangelho.<br />
7. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA<br />
Catecismo Menor de Schwan – Editora Concórdia. p.48-50; Confissão da<br />
Esperança – Exposição Histórica e Doutrinária da Confissão de Augsburgo.<br />
p.109-113; Manual Bíblico – Edições Vida Nova; Manual Bíblico SBB – SBB;<br />
Comentários Bíblicos – Editora Concórdia; Bíblia de Estudo NTLH – SBB;<br />
Bíblia de Estudo Almeida – SBB; Dicionário da Bíblia de Almeida – Bíblia<br />
Online; Notas Introdutórias NTLH – Bíblia Online; Concordia Self-Study<br />
Bible – NIV – CPH.<br />
140<br />
Ezequiel Blum<br />
Novo Hamburgo/RS<br />
ezequielblum@gmail.com<br />
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Terceiro Domingo de Páscoa<br />
1. CONTEXTO<br />
O apóstolo João relata nos capítulos 4 e 5 a adoração cheia de glória<br />
no templo celestial. Da “Epifania do Pai” (Ap 4 – capítulo do Pai – Criação)<br />
passa-se para o possível relato da Ascensão, vista de cima (Ap 5 – capítulo<br />
do Filho – Redenção). João vê Cristo recebendo um livro selado com sete<br />
selos (5.1-7), no qual contém o futuro. Enquanto Jesus se prepara para<br />
abrir o livro, toda a criação começa a cantar porque o Pai salvou o mundo<br />
do pecado através do Filho (5.8-10).<br />
Enquanto o futuro é descrito por seis visões do fim do mundo, a visão<br />
celestial da corte de Deus reaparece várias vezes (7.9-17; 14.1-5; 15.2-8;<br />
19.1-10). A visão da corte de Deus sustenta a promessa do descanso eterno<br />
aos filhos redimidos de Deus, que estão seguros na mão de Deus.<br />
2. TEXTO<br />
18 de abril de 2010<br />
Apocalipse 5.1-7<br />
V. 1: Deus segura o livro que simboliza o seu plano de salvar a humanidade.<br />
Como o livro está todo escrito, por dentro e por fora, isso mostra<br />
que a salvação está completa, não há nada para acrescentar.<br />
Vv. 2-4: O anjo proclama uma dura lei: quem é digno, equivalente,<br />
está à altura para abrir o livro? Ninguém! Em todo o Universo não havia<br />
ninguém que pudesse abrir o livro. João começa a chorar de tristeza e<br />
desespero por isso.<br />
V. 5: O único digno e qualificado é Cristo, por causa da sua morte sacrificial<br />
e gloriosa ressurreição, para revelar e cumprir o plano da salvação<br />
de Deus. Os títulos messiânicos que aparecem no texto (Gn 49.8-12)<br />
comprovam a humanidade de Cristo e sua descendência real de Davi.<br />
Assim João não precisava continuar chorando. O livro fechado e selado<br />
tem solução, apresentou-se o Cordeiro, o único em todo o Universo que<br />
é digno de abrir o livro.<br />
V. 6: O trecho “como tendo sido morto” não enfatiza a morte de Jesus<br />
em sacrifício no passado, mas o efeito dela para o presente: a salvação.<br />
V. 7: A morte do Cordeiro o fez Vencedor para sempre. O único digno<br />
de tomar e abrir o livro está pronto para julgar o futuro dos seres humanos.<br />
Ele tomou o livro da mão direita do Pai.<br />
141<br />
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Igreja Luterana<br />
3. SUGESTÃO DE USO HOMILÉTICO<br />
Os comentários a seguir foram retirados da revista Boas Novas, Apocalipse<br />
(nº. 12), p. 20-21.<br />
Quando um médico fala para um paciente que ele tem uma doença muito<br />
séria, o paciente fica preocupado com o futuro. Mas o médico garante ao<br />
paciente que, mesmo que ele tenha que passar por um tratamento longo,<br />
doloroso e desanimador, de acordo com as informações muito confiáveis<br />
de um livro de medicina especializado, tudo vai acabar bem no final.<br />
Assim como um médico usa um livro de medicina para explicar ao seu<br />
paciente os estágios do seu tratamento, da mesma forma Cristo usa o livro<br />
com sete selos para nos avisar e consolar sobre “o que deve acontecer”<br />
antes que Ele volte. Mesmo em tempos difíceis nós podemos encarar cada<br />
novo dia com confiança porque, como Jesus explica em Apocalipse, vamos<br />
passar por momentos de tribulação até a sua volta, quando então seremos<br />
espiritualmente curados e totalmente restaurados por Deus.<br />
Se estamos preocupados com o futuro, uma certeza podemos ter:<br />
depois que Jesus ressuscitou dentre os mortos, ascendeu ao céu, naquele<br />
momento Deus Pai colocou nas mãos de Jesus o segredo do futuro: o livro<br />
com os sete selos.<br />
Esse livro mostra “o que deve acontecer” no futuro (Ap 4.1). À medida<br />
que Jesus abre cada um dos selos, revela como guerras, fome e morte<br />
continuarão a afligir a terra (Ap 6.1-8). Ele mostra que o povo de Deus<br />
irá enfrentar violenta perseguição (6.9-11) e que a terra vai começar a<br />
se destruir (6.12-17) – um diagnóstico aterrorizante!<br />
Mas não há o que temer! Apocalipse 5 nos lembra que, como Cristo<br />
pagou o preço dos pecados ao morrer na cruz, Ele é digno de guiar o<br />
nosso futuro!<br />
Assim como um médico preocupado, Jesus, através de Apocalipse, avisa<br />
que os cristãos irão passar por dias difíceis. Perante esses dias de angústia<br />
e incerteza, Jesus promete cuidar de cada filho redimido de Deus.<br />
Embora Apocalipse profetize que o futuro irá trazer grande tribulação e<br />
desastres, nosso Médico celestial promete nos proteger e guardar. Assim<br />
como os anjos e santos descritos em Apocalipse 4 e 5, nós podemos louvar<br />
e glorificar a Cristo. O nosso futuro está em suas mãos!<br />
Tema: O nosso futuro está nas mãos de Cristo.<br />
Marcos Jair Fester<br />
Scharlau – São Leopoldo/RS<br />
marcosfester@yahoo.com.br<br />
142<br />
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Quarto Domingo de Páscoa -<br />
Domingo do bom pastor<br />
1. O DOMINGO<br />
Para muitos cristãos, este é o Domingo mais belo do ano da Igreja.<br />
É maravilhoso podermos ler o Salmo 23 com nosso povo atribulado, que<br />
vive os dias da grande perseguição! É confortador podermos ouvir dos<br />
lábios de Jesus que Ele é o Pastor de quem Davi fala poeticamente no<br />
Salmo 23!<br />
Quem já conseguiu escrever alguma coisa mais simples e ao mesmo<br />
tempo mais profunda que o Salmo do pastor e rei Davi?<br />
O Domingo do Bom Pastor está refrigerando tanto a Páscoa quanto o<br />
Pentecostes. Neste culto lembramos que o Bom Pastor morreu para salvar<br />
o rebanho e no terceiro dia venceu a morte e é vitorioso sobre ela para<br />
sempre. Olhando para frente, para o Pentecostes, pode-se lembrar aos<br />
ouvintes que o Bom Pastor, que está vivo, alimenta a Igreja, com tudo o<br />
que ela precisa para ir se juntando à grande multidão que já é alimentada<br />
pelo Cordeiro e Pastor no céu.<br />
2. CONTEXTO<br />
25 de abril de 2010<br />
Apocalipse 7.9-17<br />
Para muitos, o que mais importa no livro de Apocalipse são os mistérios.<br />
Investem horas, noites e madrugadas preocupados (e ocupados) com a<br />
besta, com os monstros e outras coisas que o livro apresenta e que são<br />
importantes, mesmo que não sejam as mais importantes. Ao invés dos<br />
mistérios, eu prefiro aquilo que é muito claro, as revelações.<br />
Para mim, o mais importante é aquilo que tenho como o centro teológico<br />
do Livro: os capítulos 5-8. Tudo bem que tem o Diabo. Mas tem o Cordeiro!<br />
Tudo bem que o Diabo tem poder. Mas o Cordeiro tem todo o poder! Tudo<br />
bem que tem as aflições, as perseguições e as tribulações. Mas o Cordeiro<br />
está conosco e um dia estaremos com a “grande multidão” e cantaremos<br />
com “uma forte voz” ao Cordeiro e ao que está sentado no trono.<br />
No capítulo 5 estão o livro e o Cordeiro. O abrir dos seis selos forma o<br />
capítulo 6. O capítulo 7 começa com a informação que é dada a João sobre<br />
o número de pessoas que formam a grande multidão: cento e quarenta e<br />
quatro mil; isso em linguagem apocalíptica, simbólica, como quase tudo<br />
no Livro. E aí começa a perícope em foco.<br />
143<br />
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Igreja Luterana<br />
João está vendo e ouvindo o céu; está diante Daquele que está sentado<br />
no trono e diante do Cordeiro.<br />
3. TEXTO<br />
- A multidão. Nos versículos anteriores, João ouve quantos são. Aqui<br />
ele vê quantos são e afirma: “... vi uma multidão tão grande que ninguém<br />
podia contar.” Se ninguém podia contar, então não podem ser só 144 mil,<br />
claro. João vê toda a Igreja reunida.<br />
Sobre a multidão, Lenski faz três destaques que julgo importantes:<br />
1. Esta multidão aqui não pode ser contada por ninguém, ao passo que<br />
os 144 mil podem ser contados; 2. Os 144 mil foram marcados (selados)<br />
e sobre isso nada é dito dessa multidão aqui; 3. Os 144 mil estão na terra<br />
enquanto que os incontáveis estão no céu.<br />
“144 mil é um número simbólico e aqui é interpretado como sendo um<br />
número tão grande que nenhum ser humano tem a habilidade para fazer<br />
a conta desse número literal que está simbolizado por 144 mil. A marca é<br />
feita quando cada um ainda está na terra; e esta é a razão porque todos<br />
estão agora no céu” (LENSKI, p. 257).<br />
- Todas as nações, povos, tribos e línguas. Aparecem assim e nessa<br />
ordem aqui e em 5.9; 11.9; 13.7; 14.6. Parece evocar a ordem de Jesus<br />
em Mt 28.19.<br />
- De pé diante do trono e do Cordeiro. Assim escreve o Dr. Rottmann:<br />
“Ninguém na terra é capaz de ficar de pé face a face com Deus. A Igreja<br />
que lá está reunida diante do trono e do Cordeiro, porém, não precisa ter<br />
medo; os eleitos no céu vivem em glória face a face com Deus.” E assim<br />
estamos também no culto aqui na terra; embora ainda com as dores da<br />
aflição e da tribulação, estamos de pé, diante do trono e do Cordeiro,<br />
unicamente por meio da fé.<br />
- Vestidos de roupas brancas. Para o Dr. Rottmann, roupas brancas são<br />
um símbolo de santidade e de justiça. Para ele as palmas que eles tinham<br />
nas mãos são símbolo de salvação; ele nos lembra da entrada triunfal de<br />
Jesus em Jerusalém, quando as pessoas O receberam com palmas nas<br />
mãos. Podem significar ainda mais. Podem ser também um símbolo de<br />
vitória. No céu está a festa da Vitória. Vitória final.<br />
- Do nosso Deus e do Cordeiro vem a nossa salvação. Monergismo<br />
puro, que é reforçado mais adiante (7.12), quando homens e anjos cantam<br />
com uma forte voz. Vale a pena uma olhadinha nos Salmos; sugiro<br />
40.1-3 e 119.166. Também lembrar de Hebreus 12.2, conforme ARA e<br />
de Isaías 43.11.<br />
- A grande voz do coro celeste. Contrasta bastante com as nossas cantorias<br />
em nossas comunidades, mesmo quando cantamos bem afinadinho.<br />
144<br />
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Quarto domingo de páscoa - domingo do bom pastor<br />
Quero exclamar com o Dr. Rottmann: “Que Deus, por sua infinita graça,<br />
me permita também cantar neste coro!”. O que a Igreja faz de forma imperfeita<br />
aqui ela fará no céu, de forma magnificamente perfeita.<br />
- A grande perseguição. Para Rottmann, trata-se da soma de todas<br />
as tribulações pelas quais os fiéis têm de passar antes de entrar, no fim<br />
de sua vida, no grande e eterno gozo da glória no céu, pois “através de<br />
muitas tribulações importa entrar no reino de Deus.” (Atos 14.22).<br />
- São os que lavaram suas roupas no sangue do Cordeiro. O ancião<br />
não diz nada sobre méritos humanos, pessoais ou eclesiais. Ele não aponta<br />
para a uma suposta consagração ou dedicação no serviço a Deus. Não há<br />
espaço para as nossas justiças (Is 64.6). Ele não diz nada sobre qualquer<br />
coisa além do lavar as roupas sujas do pecado no sangue do Cordeiro. É o<br />
lavar por meio da fé. Todo aquele que lavar suas roupas sujas de pecados<br />
no sangue do Cordeiro as terá verdadeiramente brancas como a neve.<br />
Somos santos porque nos lavamos no sangue de Jesus (Lv 19.2). É a fé<br />
que nos faz ficar de pé na presença de Deus, mas não é por causa da fé.<br />
“... É por isso que essas pessoas estão de pé diante do trono de Deus...”<br />
(1Jo 1.7; Jo 1.36).<br />
- O Cordeiro será o pastor dessas pessoas. Assim chegamos ao enfoque<br />
doce do Domingo do Bom Pastor. Aparece aqui a linguagem do Salmo 23<br />
e também de Ezequiel 34-11-31. O autor aos Hebreus também escreve:<br />
“Deus ressuscitou Jesus Cristo, que, por causa de sua morte e ressurreição,<br />
é o Grande Pastor do rebanho...” (Hb 13.20). O profeta Isaías tem a<br />
mesma linguagem (40.11).<br />
O Cordeiro, que é o Supremo e Bom Pastor, nos dará simplesmente<br />
isto: vida. Pois como Ele mesmo disse, Ele é a vida (Jo 14.6). E vida é o<br />
que o Pastor mais quer para as suas ovelhas! E Jesus se alegra muito por<br />
nos “guiar às fontes das águas da vida!”.<br />
Nestor Duemes<br />
Esteio/RS<br />
nestorduemes@hotmail.com<br />
145<br />
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Quinto Domingo de Páscoa<br />
25 de abril de 2010<br />
Salmo 148; Atos 11.1-8; Apocalipse 21.1-7; João 16.12-22<br />
1. TEXTOS DO DIA<br />
a) Salmo 148: O Sl 148 é um coro de aleluias. Nele, o salmista convida<br />
todas as criaturas para louvar ao seu criador. Começa no céu, com<br />
os anjos, os corpos celestes, passa pelos elementos da natureza e termina<br />
na terra habitada pelos seres humanos, rapazes, donzelas, velhos e<br />
crianças. Todos são convidados a louvar ao SENHOR porque o seu nome<br />
é excelso, a sua majestade está acima dos céus, ele exalta o poder do<br />
seu povo que lhe é chegado.<br />
b) Atos 11.1-8: Os apóstolos do Senhor Jesus Cristo souberam que<br />
Pedro esteve na casa de Cornélio e que eles tinham recebido a palavra de<br />
Deus. Quando Pedro chegou em Jerusalém, foi questionado por ter entrado<br />
na casa de gentios, ao que Pedro respondeu que tivera uma visão, na qual<br />
Deus lhe mostrou uma série de animais, considerados imundos para os<br />
judeus, ordenando que os comesse. Pedro não o quis, ao que Deus lhe<br />
disse: “Ao que Deus purificou, não consideres comum”.<br />
c) Apocalipse 21.1-7: O texto em foco começa a descrição da nova<br />
Jerusalém. É a parte final do livro, que começou com a mensagem de<br />
Deus às sete Igrejas da Ásia (1-3), os sete selos (4-8), as sete trombetas<br />
(8-11), os sinais simbólicos (12-14), os sete flagelos (15-1), as visões do<br />
juízo (17-20). Nele, o apóstolo João diz que viu novo céu e nova terra.<br />
Ele viu também Jerusalém, a cidade santa, que descia da parte de Deus,<br />
adornada como noiva. Ele ouviu a voz de Deus, que disse: Eis o tabernáculo<br />
de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povo<br />
de Deus. Deus lhes enxugará dos olhos toda a lágrima, e a morte já não<br />
existirá, nem luto, nem pranto, nem dor. Deus disse: eis que faço novas<br />
todas as coisas. Conclui, dizendo: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e<br />
o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O<br />
vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho”.<br />
d) João 16.12-22: Esse texto é parte do discurso de despedida de<br />
Jesus, quando ele falava da missão do Consolador. Ele diz que o Espírito<br />
Santo, que ele enviará, guiará seus discípulos a toda a verdade, e a<br />
principal delas é que Jesus iria realizar tudo o que seria necessário para<br />
a salvação da humanidade, na sua morte e ressurreição, e que, depois,<br />
voltaria para o céu. Isso, a princípio, deixou os discípulos tristes; mas Jesus<br />
lhes garantiu que a alegria iria tomar conta dos seus corações.<br />
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Quinto Domingo de Páscoa<br />
2. O TEXTO E SUA EXPOSIÇÃO<br />
V.1: “Vi novo céu e nova terra” – João vê o cumprimento de todas as<br />
profecias que dizem respeito à glória do fim, Is 65. 17; 66. 22; 2 Pe 3. 12,<br />
13. Os cristãos herdam o reino que lhes foi preparado desde a fundação<br />
do mundo, Mt 25. 34. São chamados novo céu e nova terra, porque são<br />
completamente diferentes deste mundo atual, manchado pelo pecado. Tudo<br />
quanto tem alguma ligação com pecado será completamente afastado.<br />
Por isso, também o mar, que sempre foi obstáculo para o povo de Israel<br />
e do qual saiu o dragão, não mais existirá.<br />
V.2: “A Cidade Santa, a Nova Jerusalém” – João viu a cidade santa,<br />
Nova Jerusalém, descendo do céu, da parte de Deus, toda adornada<br />
como uma noiva enfeitada para o seu noivo (Ef 5.25-27,32). Agora é o<br />
momento máximo: Cristo, o noivo, que comprou a sua noiva com o preço<br />
do seu sangue derramado na cruz, que a adornou com os dons da graça e<br />
da misericórdia, derramados pelo seu Espírito nos meios da graça, agora<br />
une-se definitiva e intensamente com a sua noiva, a Igreja.<br />
V. 3: “Eis o tabernáculo” – Ouve-se uma voz que anuncia: Eis o tabernáculo<br />
de Deus com os homens. Essas palavras lembram a história<br />
do povo de Israel que, peregrinando pelo deserto, desfrutou da presença<br />
de Deus que, no seu tabernáculo, esteve com ele. Esse foi um tipo que<br />
apontava para frente, para Cristo, que veio “tabernacular” (João 1.14)<br />
com o mundo. Agora, esse tipo aponta para a eternidade, para a bendita<br />
perfeição no céu. Lá Deus habitará conosco. Ele será o nosso Deus e nós<br />
seremos seu povo, pois fomos comprados com o sangue do Cordeiro.<br />
V. 4: Todas as lágrimas que derramamos aqui, por causa das tristezas,<br />
angústias, pecados, sofrimentos, serão enxugadas dos nossos olhos.<br />
Não haverá mais qualquer ocasião para choro, não haverá mais morte,<br />
nenhuma tristeza, nenhum lamento, nenhuma dor. Todas as coisas foram<br />
características deste mundo, todas elas passaram quando o último dia nos<br />
trouxer a consumação de nossa salvação.<br />
V. 5: As palavras aqui descritas têm o selo do próprio Deus: elas são<br />
fiéis e verdadeiras. Nossa fé e nossa esperança não se baseiam sobre<br />
nossas próprias opiniões e ideias, mas sobre a infalível palavra de Deus,<br />
que permanecerá quando céu e terra passarão.<br />
V. 6: Lá na cruz Jesus exclamou: “Está consumado” (Jo 19.30) e, agora,<br />
com o selo da eternidade do Deus que é o Alfa e o Omega, o princípio e o<br />
fim, agora o Pai afirma: Feito está! A espera chegou ao fim. A salvação é<br />
unicamente obra de Deus, e cada pessoa no vasto mundo que tem sede<br />
desta salvação, que tem desejo da misericórdia de Deus em Cristo Jesus,<br />
pode ter, sem dinheiro e sem preço, a maravilhosa água da vida – Is. 55.<br />
1,2; Jo 7.37,38 .<br />
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Igreja Luterana<br />
V. 7: O vencedor – Em 1 Jo 5.4, o apóstolo João diz: “Esta é a vitória que<br />
venceu o mundo, a nossa fé”. Essa vitória não é produto do esforço e obra<br />
humana; mas é dádiva de Jesus, pelo evangelho. Ele venceu todas as coisas.<br />
Quem está nele é vencedor de tudo e sobre tudo. O Vencedor sempre tem<br />
uma coroa, uma medalha, um prêmio. O prêmio é “essas coisas”, ou seja,<br />
a bem-aventurança descrita nos versículos anteriores e a graça de chamar<br />
Deus de seu Deus, e de ter sido feito seu filho desde o batismo.<br />
3. PERSUASÃO<br />
a) Pensamento central: João descreve o novo céu e a nova terra.<br />
b) Objetivo de fé: que meus ouvintes confiem que Deus cumprirá as<br />
promessas fiéis e verdadeiras que fez: levar para o céu todo aquele que<br />
crê em Jesus e fazer desfrutar de todas as coisas maravilhosas do novo<br />
céu e nova terra.<br />
c) Lei: no mundo onde reina a tristeza, por causa do pecado e suas<br />
consequências, somos tentados a não confiar nas promessas de Deus,<br />
especialmente de reconciliar-se conosco através de Jesus, de perdoar nossos<br />
pecados. Somos tentados a viver para o aqui e agora, a desprezar as<br />
promessas de Deus, a não ter a perspectiva de uma vida eterna feliz com<br />
Deus. Preferimos as lágrimas daqui a confiar nas promessas de alegria da<br />
vida eterna. Preferimos as vitórias insignificantes e pecaminosas da vida<br />
daqui à esperança da vitória perene da vida eterna. Isso tem reflexos na<br />
nossa vida: não consideramos a palavra de Deus santa, não a gostamos<br />
de ouvir e estudar; não buscamos em primeiro lugar o reino de Deus; não<br />
os envolvemos no serviço da igreja aqui; não testemunhamos nossa fé<br />
ao mundo. Quem perde a perspectiva da vida eterna, perde todo o ânimo<br />
para seguir e servir a Jesus aqui.<br />
d) Evangelho: a visão do novo céu e nova terra invade a realidade de<br />
lágrimas, tristezas e sofrimentos da nossa vida. Eleva a nossa fronte para<br />
o céu, onde estão as promessas maravilhosas que ainda aguardamos. O<br />
texto bíblico aponta para a obra redentora de Jesus, que morreu e ressuscitou<br />
para nos reconciliar com Deus e nos dar a garantia da vida eterna.<br />
Essa certeza e garantia não vem sem meios; o Espírito Santo as traz a nós<br />
pelos meios da graça, pelas palavras e promessas fiéis e verdadeiras, que<br />
nos alcançaram no batismo, nos alimenta e nutre na palavra, certifica-nos<br />
pessoalmente do perdão e nos leva para o céu (água da vida, v.6; Is 55);<br />
lá todas as nossas lágrimas serão enxugadas, todos os sofrimentos e angústias<br />
não existirão mais. Mas, estamos aqui, por enquanto – aqui, onde<br />
Deus nos nutre com palavra e sacramentos e nos envolve no seu reino, no<br />
testemunho da ressurreição e da vida que só existem em Jesus.<br />
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Quinto Domingo de Páscoa<br />
4. ESBOÇO<br />
Tema: Deus faz tudo novo<br />
Introdução: Você pode imaginar a alegria de quem morou a vida inteira<br />
numa casa bem velha, cheia de infiltrações, com muitas rachaduras, sem<br />
nenhum conforto e segurança, e agora ganha uma casa novinha, bonita,<br />
com boa estrutura e conforto. Morar numa casa boa e nova é o sonho de<br />
todos! O texto de hoje fala da nossa nova morada, que Deus preparou<br />
para todos os que crêem em Jesus. Ele criou o novo céu e a nova terra.<br />
Parte 1 – Cria o novo céu e a nova terra<br />
1.1 – O primeiro céu e a primeira terra com suas dificuldades irão<br />
passar (v. 12; 2 Pe 3.10)<br />
1.2 – No novo céu e nova terra, estaremos para sempre com o Senhor<br />
Transição: Vai ser maravilhoso morar nessa “casa nova”<br />
Parte 2 – Nos faz desfrutar de todas as coisas que existem ali<br />
2.1 – Deus enxugará dos nossos olhos toda a lágrima: morte, luto,<br />
pranto não existirão mais<br />
2.2 – Deus antecipa essas bênçãos aqui. Na Palavra e sacramentos,<br />
nos perdoa, anima, consola e motiva<br />
Conclusão: Vamos para a “casa nova”.<br />
Hino do Sermão: 529.<br />
Silvio F. da Silva Filho<br />
Vila Velha/ES<br />
revsilviop@yahoo.com.br<br />
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Sexto Domingo de Páscoa<br />
1. CENÁRIO LITÚRGICO<br />
09 de maio de 2010<br />
Salmo 67; Atos 16.9-15; Apocalipse 21.9-14,21-27;<br />
João 16.23-33 ou João 5.1-9<br />
Salmo 67: Este é um cântico de ação de graças pela misericórdia de<br />
Deus a favor do seu povo. Israel é lembrado de ser agradecido ao Senhor<br />
e, assim, olhar para além das limitações humanas. Os versos iniciais são<br />
uma rememoração da Bênção Aaraônica (Nm 6.24-26).<br />
Atos 16.9-15: Paulo, o apóstolo, tem uma visão na qual Deus o chama<br />
a anunciar o Evangelho na Macedônia. Lá chegando, pregam na cidade de<br />
Filipos. Lídia (uma comerciante) aceita a mensagem e é batizada, bem<br />
como a sua família.<br />
Apocalipse 21.9-14,21-27: O texto faz referência à nova Jerusalém<br />
(a esposa do Cordeiro), na qual o povo de Deus fará morada eterna. João<br />
faz uma comparação para demonstrar o antagonismo entre Babilônia (a<br />
cidade prostituta, onde a besta habita) e Jerusalém (a cidade celestial,<br />
onde Deus habita).<br />
João 5.1-9: A cura de um paralítico durante o Shabat demonstra que<br />
Jesus pode desobedecer à Lei de Moisés (proibição de trabalhar no Shabat)<br />
devido ao seu relacionamento com o Pai.<br />
2. ESTUDO DO TEXTO BASE COM PARALELOS<br />
E PONTOS DE CONTATO: ATOS 16.9-15<br />
V.9: o[rama – visão divinamente concedida durante um êxtase ou durante<br />
um sono – Deus utiliza-se de diversas formas para comunicar a sua<br />
palavra a outras pessoas. Ao oportunizar a visão a um mensageiro, Deus<br />
pretende que este, o mensageiro, comunique uma mensagem a alguém.<br />
Assim como, em nosso texto, fez com Paulo, já havia feito com Isaías (Is<br />
1.1) e com Amoz (Am 1.1).<br />
parakalw/n – rogar, solicitar, pedir de forma humilde e sem orgulho.<br />
O clamor por auxílio demonstra uma profunda necessidade daquele que<br />
está sedento pela palavra de Deus. O pedido por auxílio, dentro desta<br />
perspectiva, necessita de uma resposta sem demora, o que nos lembra Pv<br />
3.27-28: “Não te furtes a fazer o bem a quem de direito, estando na tua<br />
mão o poder de fazê-lo. Não digas ao teu próximo: Vai e volta amanhã;<br />
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sexto Domingo de Páscoa<br />
então, to darei, se o tens agora contigo”. Dentro dessa pespectiva que o<br />
grupo de Paulo comprendeu a visão e sua mensagem.<br />
V.10: O comprometimento para com a obra do Senhor passa pela priorização<br />
dada à resposta de seu chamamento. Nada deve impedir os servos<br />
de Deus na realização das tarefas a eles concedidas. O grupo, neste caso,<br />
consistia de Paulo, Silas, Timóteo e Lucas, todos interessados em conseguir<br />
imediatamente lugar em um barco que fosse rumo à Macedônia.<br />
Todos os que estão envolvidos na tarefa de pregar o evangelho precisam<br />
se encher da mesma ansiedade para assumir a obra. É preciso<br />
que os envolvidos percebam a urgência e a necessidade premente de<br />
trabalharem na seara do Senhor. Atitudes letárgicas que bloqueiam a<br />
ação não são bem-vindas, visto que atrapalham e destroem a unidade e<br />
o trabalho de equipe.<br />
Vv.11 e 12: Nesta época, os portos do Mar Egeu contavam com um<br />
comércio florescente e de grande atividade. Não era difícil encontrar<br />
navios para viajar de um a outro porto. A rota indicada no versículo 11<br />
mostra que Paulo e seus companheiros foram favorecidos por ventos bons<br />
e constantes, de sul para o leste, o que os levou sem demora à ilha de<br />
Samotrácia, localizada no extremo norte das ilhas gregas. Dali, seguiram<br />
em direção ao porto macedônico de Neápolis.<br />
O texto nos relata que a viagem foi realizada de maneira excepcional,<br />
pois as condições atmosféricas, extremamente favoráveis, e a demora<br />
entre a chegada e a saída dos barcos, permitiu que o objetivo fosse alcançado<br />
rapidamente.<br />
Ao chegarem no porto de Neápolis, o grupo seguiu rumo à cidade de<br />
Filipos, colônia romana de importância histórica para o Império Romano,<br />
pois ali encontrava-se o leste e o oeste.<br />
V.13: Paulo, o apóstolo, normalmente ia até a sinagoga para encontrar<br />
os judeus e os prosélitos que lá se reuniam. Como em Filipos a população<br />
judaica não contava com um número elevado de membros para manterem<br />
uma sinagoga, os judeus, ali, reuniam-se fora dos portões da cidade<br />
para orarem, por isso o lugar ficou conhecido como lugar de oração. As<br />
autoridades locais não permitiam que os judeus tivessem seus encontros<br />
dentro dos portões da cidade. Portanto, não havia um culto formal como<br />
acontecia nas sinagogas. Outro fator importante era o número expressivo<br />
de mulheres, muitas das quais estavam em posições sociais avantajadas.<br />
Entre estas havia ao menos uma que era prosélita: Lidia.<br />
V.14: Como Lídia se havia tornado seguidora da fé judaica não se sabe<br />
ao certo, mas de onde ela provinha, Tiatira, onde havia uma comunidade.<br />
Provavelmente, ali ela aderira à fé judaica.<br />
Apesar de a conversão de Lídia se atribuir ao fato de que o Senhor<br />
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Igreja Luterana<br />
lhe abrira o coração, também é verdade que a resposta do grupo de missionários<br />
em atender ao chamado do Senhor foi um importante meio de<br />
Deus anunciar a sua Palavra salvadora.<br />
V.15: Ao batismo de Lídia seguiu-se o batismo de toda a sua casa e,<br />
também, a oferta de hospitalidade a Paulo e aos que com ele estavam.<br />
Rapidamente ela passou a praticar a sua fé e as boas obras seguiram-se<br />
à sua conversão. A hospitalidade é uma marca do cristão (Rm 12.13; 1<br />
Tm 3.2; Hb 13.2; 1 Pe 4.9; 3 Jo 5-8), assim como compartilhar bens materiais<br />
com aqueles que ensinam a palavra de Deus (Gl 6.6; 1 Co 9.14).<br />
A hospitalidade de Lídia é como uma prova da mudança de coração que<br />
a fé produz, agradando ao Senhor.<br />
As pessoas, quando passam a fazer parte do povo de Deus, a Igreja<br />
Cristã, não podem deixar de falar das coisas que viram e ouviram nem<br />
de terem atitudes que comprovem a sua nova situação, agora salvos por<br />
Cristo.<br />
3. SUGESTÃO DE ESBOÇO HOMILÉTICO<br />
A sugestão é utilizar um dos hinos, 327 ou 330 (Hinário Luterano),<br />
construindo a ponte da exposição do texto e da sua aplicação à vida da<br />
comunidade, cantando uma estrofe entre as partes do sermão.<br />
Exemplo: Estrofes 1 e 2<br />
Tema da mensagem: Deus nos chama e capacita para a missão<br />
I. A maneira que deus nos chama é particular, mas a missão é sempre<br />
universal: “Ide por todo o mundo...”<br />
a) Paulo e o contexto do texto de Atos 16.9-15;<br />
b) o chamado é atendido com urgência;<br />
c) o chamado para servir não valoriza os problemas, mas as oportunidades.<br />
Estrofe 3<br />
II. Em nossa vida, hoje, somos desafiados ao trabalho da missão de<br />
Deus<br />
a) meditação – o estudo da palavra de Deus, que dá conhecimento e<br />
autoridade para o cristão falar de sua fé;<br />
b) oração – a poderosa arma que o cristão tem para manter sua fé<br />
“no bom combate da fé”;<br />
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sexto Domingo de Páscoa<br />
c) tentação – uma parte que deve ser lembrada, pois a vida cristã<br />
é fortalecida na tentação. Precisamos trabalhar em equipe a fim de nos<br />
fortalecermos mutuamente na palavra e nos sacramentos.<br />
Estrofe 4.<br />
Clóvis Gedrat<br />
São Leopoldo/RS<br />
clovis@sinodal.com.br<br />
153<br />
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Ascensão do Senhor<br />
13 de maio de 2010<br />
Salmo 47; Atos 1.1-11; Efésios 1.15-23; Lucas 24.44-53<br />
1. CONTEXTO LITÚRGICO E DEMAIS LEITURAS<br />
O escritor Philip Yancey, em seu livro “O Jesus Que Eu Nunca Conheci” 1 ,<br />
relata que “se o Domingo de Páscoa foi o dia mais emocionante na vida<br />
dos discípulos, para Jesus foi talvez o Dia da Ascensão. Ele, o Criador,<br />
que descera tanto e desistira de tanto, estava agora voltando para casa.<br />
Como um soldado retornando de uma guerra longa e sangrenta através<br />
do oceano... Finalmente em casa.”<br />
Jesus, ao retornar para a sua glória, para assentar-se à direita de Deus<br />
Pai, pode retornar feliz, com a certeza da missão cumprida. Essa certeza<br />
Jesus expressou antes de morrer, quando disse “Está consumado!” ( Jo<br />
19.30). A obra que tinha que ser feita, para qual ele havia “se esvaziado”,<br />
para a qual ele abriu mão de poder e glória para estar entre os homens<br />
estava realizada. Como a leitura do Evangelho aponta, “importava se<br />
cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas<br />
e nos Salmos” (Lc 24.44b).<br />
A ascensão é o terceiro estágio do estado de exaltação de Jesus, descrita<br />
no Credo Apostólico. O estado de exaltação tem início na descida de<br />
Jesus ao inferno, quando Ele vai até Satanás e seus anjos para mostrar<br />
que está vivo, que Ele venceu a morte (1 Pe 3.18-19). Essa notícia, tida<br />
por nós cristãos como uma boa notícia, como Evangelho, para o diabo<br />
e seus anjos soou como lei, como má notícia, pois nesse momento eles<br />
entenderam que estavam derrotados.<br />
O segundo estágio da exaltação de Jesus foi a ressurreição dos mortos<br />
no terceiro dia. Dali em diante, durante 40 dias, Jesus aparece aos seus<br />
seguidores a fim de apresentar provas incontestáveis de que estava vivo,<br />
até o dia do seu retorno ao céu.<br />
Como podemos ver, no estado de exaltação, terminou a humilhação.<br />
Jesus já triunfou, já é vencedor. O Salmo do dia expressa essa vitória:<br />
“Subiu Deus por entre aclamações”, ou como a NTLH nos esclarece: “Deus<br />
vai subindo para o seu trono. Enquanto ele sobe, há gritos de alegria e<br />
sons de trombeta” (Sl 47.5). A epístola do dia nos lembra que Jesus está<br />
“acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio... e pôs todas<br />
as coisas debaixo dos pés” (Ef 1.21-22).<br />
1<br />
YANCEY, Philip. O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Vida, 2002, p.220.<br />
154<br />
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ascensão do senhor<br />
2. TEXTO: ATOS 1.1-11<br />
Vv. 1-2: O “primeiro livro” (Evangelho de Lucas) destaca os ensinamentos<br />
e acontecimentos da vida de Jesus até a sua subida ao céu. O<br />
segundo livro (Atos dos Apóstolos) relata os acontecimentos da ascensão<br />
em diante. A obra iniciada pelo Jesus encarnado agora prossegue através<br />
do testemunho da Sua nova encarnação: a Igreja.<br />
Vv.3-4: “apresentou-se vivo” – o fato de Jesus apresentar-se vivo<br />
aos discípulos nesse interlúdio entre a Páscoa e a Ascensão é a grande<br />
diferença na vida dos discípulos, é nessa certeza que a Igreja se estabelece.<br />
“Com muitas provas incontestáveis” – Jesus procurou tirar todas as<br />
dúvidas dos discípulos. Permitiu que o apalpassem, que com suas próprias<br />
mãos percebessem que Ele não era um fantasma, mas que estava entre<br />
eles em carne e osso, além de ter participado de refeições junto com eles<br />
(Jo 24.39-43). A promessa do Pai a que Jesus se refere se cumpre com a<br />
descida do Espírito Santo sobre os discípulos dez dias depois (At 2.33).<br />
V. 5: É importante destacar que baptisqh,sesqe (sereis batizados) está<br />
na voz passiva 2 . O batismo no Espírito Santo não é resultado de esforços<br />
de quem o recebe. Além disso, não é algo a ser buscado pelos discípulos,<br />
mas é uma promessa do Pai. A condição para receber o batismo no<br />
Espírito Santo também não é psicológica. O único pedido de Jesus é que<br />
os discípulos permaneçam em Jerusalém, pois a promessa se cumprirá<br />
“não muito depois destes dias”. A obra do Espírito Santo não é diferente<br />
e separada da obra de Jesus. Jesus é o próprio sujeito da obra do Espírito<br />
Santo.<br />
V. 6: Apesar de diversas vezes Jesus ter ensinado que o seu reino<br />
não seria um reino terreno e sim um reino espiritual (Lc 17.20-21), ainda<br />
estava enraizada na mente dos discípulos a ideia de que Jesus faria<br />
a nação de Israel independente e poderosa, como no tempo do rei Davi.<br />
Johannes Rottmann 3 escreve que, ao meditar sobre esta passagem,<br />
imagina-se diante de um estudante de teologia na última semana antes<br />
da sua formatura, pronto a receber o chamado fazendo a pergunta: – “E<br />
este Jesus Cristo – seu reino – sua obra – que significam?” Os discípulos<br />
tinham estado três anos com Jesus, mas o seu entendimento sobre o<br />
Reino de Deus ainda estava obscuro.<br />
Vv.7-8: Se diante da pergunta dos discípulos, Jesus, como professor de<br />
teologia, tivesse todos os motivos para sentir-se frustrado, Ele demonstra<br />
uma grande paciência “ajeitando” a pergunta feita pelos discípulos e<br />
afirmando que não cabia a eles saber o tempo exato do estabelecimento<br />
2<br />
BRUNER, Frederick Dale. Teologia do Espírito Santo: a experiência pentecostal e o testemunho<br />
do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1989, 2ª ed., p.127.<br />
3<br />
ROTTMANN, Johannes H. Atos dos Apóstolos. v.1. Porto Alegre: Concórdia, 1997, 2ª ed.,<br />
p.22.<br />
155<br />
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Igreja Luterana<br />
do Seu Reino. Jesus promete aos discípulos que o Reino virá por meio da<br />
descida do Espírito Santo, o qual dará a eles poder para testemunhar. O<br />
Reino não virá apenas para Israel, mas para todo o mundo e eles serão<br />
testemunhas nos lugares mais distantes da terra.<br />
Vv.9-10: Chama a atenção que um evento tão extraordinário como a<br />
subida de Jesus ao céu é descrito de forma tão breve. Parece que Jesus<br />
sobe de repente, sem que os discípulos estivessem esperando por isso.<br />
A reação dos discípulos é como de crianças que se perderam dos pais.<br />
O céu já estava limpo e vazio, mas eles continuavam parados e olhando<br />
para o céu, sem saber para onde ir e o que fazer.<br />
V.11: Este mesmo Jesus que subiu voltará da mesma forma. O mesmo<br />
Jesus que desceu ao inferno, ressuscitou dos mortos voltará de forma<br />
corpórea e visível, assim como subiu aos céus. Jesus subiu com a sua<br />
missão cumprida, com a vitória sobre os inimigos assegurada, com a paz<br />
selada entre Deus e o ser humano. Mas ainda há um capítulo final a ser<br />
concluído para o restabelecimento total do Reino de Deus: Jesus voltará<br />
para compartilhar o banquete messiânico com seus seguidores (Mc 14.25).<br />
E este dia é aguardado com ansiedade, pois também subiremos para onde<br />
Jesus já está, para os lugares que Ele nos preparou e estaremos eternamente<br />
na Sua presença gloriosa.<br />
3. SUGESTÃO DE USO HOMILÉTICO<br />
Tema: Jesus voltou para casa<br />
- Voltou para casa depois de:<br />
a) Descer humilde e encarnado para fazer a vontade do Pai.<br />
- A vontade do Pai consistia em que Jesus restabelecesse o Seu Reino,<br />
entregando o seu corpo como sacrifício concedendo-nos, assim, a absolvição<br />
dos pecados e nos livrando do poder do diabo, do mundo e da nossa<br />
própria carne. Jesus desistiu e abriu mão de poder e glória para nos dar<br />
a salvação gratuitamente.<br />
b) Consumar o plano de salvação.<br />
- A missão de Jesus na terra foi bem sucedida. Ele consumou (completou)<br />
a Sua obra de salvação entregando-se na cruz, descendo ao inferno,<br />
ressuscitando dos mortos, subindo aos céus “por entre aclamações”,<br />
sentando-se à direita de Deus Pai e colocando todas as coisas debaixo<br />
do Seu domínio.<br />
c) Aparecer aos discípulos, dando-lhes provas incontestáveis de que<br />
havia ressuscitado e fazendo deles, a partir da descida do Espírito Santo,<br />
testemunhas do Reino; não apenas para Israel, mas para todos os confins<br />
da terra.<br />
156<br />
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ascensão do senhor<br />
d) Hoje confiamos na promessa de que Ele voltará visível e glorioso<br />
para nos buscar.<br />
- Com esse retorno, o Reino de Deus será definitivamente restabelecido.<br />
Timóteo Ramson Fuhrmann<br />
Morro Redondo/RS<br />
timoteorf@yahoo.com.br<br />
157<br />
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Sétimo Domingo de Páscoa<br />
16 de maio de 2010<br />
Salmo 133; Atos 1.12-26; Apocalipse 22.1-6 (7-11)12-20;<br />
João 17.20-26<br />
1. CONTEXTO - CENÁRIO LITÚRGICO E/OU HISTÓRICO<br />
O sétimo domingo de Páscoa divide dois dos maiores acontecimentos<br />
da ação de Deus em favor da salvação do pecador: Ascensão e Pentecostes.<br />
Na despedida de sua presença visível, Jesus reafirma a incumbência<br />
dada aos discípulos quando eles perguntaram: “Será este o tempo<br />
em que restaures a Israel?” (Atos 1.6). O Mestre direciona os discípulos<br />
para outra questão: “Não vos compete ... mas recebereis poder ao descer<br />
sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” (Atos 1.8).<br />
No dia de Pentecostes cumpre-se a promessa de Jesus com a descida do<br />
Espírito Santo e, como nunca, a igreja testemunhou a vitória de Cristo<br />
em favor do pecador.<br />
As leituras bíblicas do domingo estão neste contexto:<br />
1. O Salmo 133 afirma que é muito bom e agradável viverem unidos<br />
os irmãos. Era o cântico favorito dos peregrinos que iam a Jerusalém para<br />
tomar parte das grandes festas do Antigo Testamento, quando desfrutavam<br />
da companhia dos outros irmãos. Esta, aliás, é a grande lacuna dos<br />
cultos transmitidos pela mídia.<br />
2. Atos 1.12-26 detalha a providência dos discípulos, reunidos com<br />
os demais cristãos da comunidade de Jerusalém, enquanto aguardavam a<br />
vinda do Consolador. Eles escolheram Matias como o substituto de Judas<br />
para “preencher a vaga neste ministério e apostolado”.<br />
3. Apocalipse 22.1-6(7-11)12-20 retrata a questão dos discípulos<br />
por ocasião da ascensão quando perguntaram: “Será este o tempo em que<br />
restaures a Israel”? A nova Jerusalém, com a árvore da vida no meio de<br />
sua praça, se estabelece no tempo que o Pai reservou pela sua exclusiva<br />
autoridade. Jesus, que com seu sangue nos deu o direito à árvore da vida,<br />
garante: “Certamente, venho sem demora”.<br />
4. João 17.20-26 é parte da oração sacerdotal de Jesus proferida<br />
por ocasião da instituição da Santa Ceia na noite em que foi traído. Nessa<br />
oração Jesus intercede junto ao Pai também em nosso favor: “Não rogo<br />
somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim,<br />
por intermédio da sua palavra”.<br />
158<br />
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sétimo domingo de páscoa<br />
2. ÊNFASES, EXPRESSÕES QUE SE DESTACAM<br />
NA ANÁLISE DE APOCALIPSE 22.1-20<br />
Os primeiros versículos de Ap 22 continuam a descrição da Nova Jerusalém<br />
iniciada no capítulo anterior. Há a referência à árvore da vida de Gn<br />
2.9, a qual de acordo com Gn 3.17,22-24 ficou sem acesso aos homens por<br />
causa do pecado, mas que em Cristo será restabelecido (Rm 8.20,21).<br />
A descrição da Nova Jerusalém é interrompida no v. 6, a partir do qual<br />
se destaca uma série de exortações não relacionadas entre si, dadas pelo<br />
anjo (Ap 6.9-11; 19;10) e por Jesus mesmo (Ap 22.12,20).<br />
No v. 7 Jesus garante: “Eis que venho sem demora”. Segue-se a estas<br />
palavras: “Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia<br />
deste livro”. O livro termina como havia iniciado em Ap 1.3.<br />
Enquanto Jesus é aguardado, o mundo continua seu curso. O verbo<br />
usado no vers. 11 é avdikw/n (part. pres. at. de avdike,w = cometer injustiças).<br />
O particípio, usado como substantivo, indica aquela pessoa que<br />
tem o hábito de praticar erros, talvez com uma referência especial ao<br />
perseguidor.<br />
A referência à brilhante Estrela da Manhã feita no v. 16 certamente<br />
está relacionada à profecia messiânica de Números 24.17: “Uma estrela<br />
procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de<br />
Moabe e destruirá todos os filhos de Sete”.<br />
Jesus, aquele que dá testemunho destas coisas, diz: “Certamente, venho<br />
sem demora. Amém”. Em 1 Coríntios 16:22 Paulo diz: “Se alguém não<br />
ama o Senhor, seja anátema. Maranata!” Esta palavra aramaica significa<br />
“Vem, nosso Senhor!”. Provavelmente a frase tenha sido incorporada, na<br />
forma aramaica, na oração dos cristãos.<br />
3. PARALELOS, PONTES, PONTOS DE CONTATO<br />
Não é tarefa difícil estabelecer paralelos entre os textos bíblicos selecionados<br />
para esse domingo. A igreja reunida em torno da Palavra testemunha<br />
aquele que é o Primeiro e o Último (Ap 22.13). É muito bom e agradável<br />
quando os irmãos se reúnem na Palavra (Sl 133.1; At. 1.15). Ali Deus<br />
ordena a sua bênção para sempre (Sl 133.3). O nosso Sumo Sacerdote<br />
Jesus intercede por nós junto ao Pai (Jo 17.21) para que todos sejam um<br />
em Cristo. Nele se fundamenta a nossa esperança de vida e salvação e,<br />
por conseguinte, aguardamos seu retorno final. Nossa oração é: “Vem,<br />
Senhor Jesus” (Ap 22.20).<br />
“Vem, Senhor Jesus” é a súplica constante do cristão que, em meio às<br />
tentações presentes, não pode perder de vista aquilo que confessa no Credo<br />
Apostólico: “(Jesus) ... há de vir para julgar os vivos e os mortos”.<br />
159<br />
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Igreja Luterana<br />
4. APLICAÇÕES HOMILÉTICAS<br />
Texto: Vem, Senhor Jesus” (22.20).<br />
“Vem, Senhor Jesus” engloba o amoroso feito de Deus ao reconciliar-se<br />
com o pecador. Na época do apóstolo Paulo havia um termo aramaico para<br />
proferir a mesma oração: Maranata. Dependendo da acentuação, esta palavra<br />
adquiria os seguintes sentidos: o nosso Deus veio; o nosso Deus vem<br />
ou vem, Senhor. Portanto, há referência ao passado, presente e futuro.<br />
O Senhor Jesus veio. João faz sua dedicatória inicial da parte “daquele<br />
que é, que era e que há de vir” (Ap 1.4). Esta expressão é derivada<br />
daquela usada no Antigo Testamento quando Deus apareceu a Moisés e<br />
disse: “Eu sou o que sou” (Êx 3.14).<br />
Deus cumpriu sua promessa e fez-se história quando seu querido Filho<br />
Jesus nasceu em Belém, morreu no Gólgota e ressuscitou no Domingo da<br />
Páscoa e, assim, “pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos<br />
constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai” (1.5).<br />
O Senhor Jesus vem. É o que ele nos garantiu quando, por ocasião<br />
de sua ascensão, prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias, até<br />
a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Esta promessa acontece conosco<br />
diariamente.<br />
Para nos conscientizarmos de sua presença, costumamos orar antes<br />
das refeições: “Vem, Senhor Jesus, sê o nosso convidado, e tudo o que<br />
nos dás nos seja abençoado”. No momento da insegurança, do medo, da<br />
angústia, do pânico, da proliferação das religiões de auto-ajuda, precisamos,<br />
mais do que de outra coisa, da presença viva do Senhor Jesus.<br />
O Senhor Jesus vem. Isto acontece diariamente através da palavra do<br />
Evangelho que perdoa, reanima e põe novo rumo em nossa vida.<br />
O Senhor Jesus virá. Ele garantiu: “Certamente, venho sem demora”.<br />
Crendo ou não, querendo ou não, o Senhor Jesus virá. Teremos que prestar<br />
contas a Deus de nossa vida.<br />
Apocalipse é um livro de conforto para a igreja que sofre muito em<br />
meio ao mundo em pecado. Viver na expectativa da segunda vinda de<br />
Cristo nos permite estar vigilantes.<br />
Não é bom ficarmos olhando apenas para baixo, para as preocupações<br />
desse mundo, e ficar narcotizados por elas. Quem sabe precisamos exercitar<br />
mais a última oração da Bíblia. “Vem, Senhor Jesus”. Jesus garante:<br />
“Certamente venho sem demora. Amém” (22.20).<br />
“A graça do Senhor Jesus seja com todos” (Ap 22.21).<br />
Edgar Lemke<br />
Petrópolis, Porto Alegre/RS<br />
lemke@terra.com.br<br />
160<br />
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Pentecostes<br />
1. CONTEXTO LITÚRGICO<br />
O Salmo 143 é uma súplica por libertação escrita por Davi, que sente<br />
que o seu espírito esmorece e desfalece, mas que roga pela resposta do<br />
Senhor: “guie-me o teu bom Espírito”. Pela ação do Espírito Santo o filho<br />
de Deus é vivificado para andar no caminho do Senhor.<br />
Gênesis 11.1-9, a história da Torre de Babel, mostra que o dilúvio<br />
destruiu apenas as pessoas pecadoras, e não a natureza pecaminosa.<br />
Quando o ser humano dá oportunidade ao seu espírito corrompido, sua<br />
natureza pecaminosa o leva para longe de Deus.<br />
Atos 2.1-21 relata o cumprimento da promessa de Jesus – o Espírito<br />
Santo é dado aos discípulos. Há uma clara conexão entre este episódio e<br />
o relato da Torre de Babel, pois lá Deus confundiu com diversas línguas e<br />
aqui Deus fala uma só linguagem, a do seu amor, ainda que em diversos<br />
idiomas. O objetivo do Pentecostes está claro nas palavras de Pedro, ao<br />
citar o profeta Joel: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome<br />
do Senhor será salvo” (v. 21).<br />
A leitura do Evangelho, João 14.23-31, destaca as palavras de Jesus<br />
com relação à obra do Espírito Santo, o Espírito que consola, ensina<br />
e lembra. É pela sua ação que a paz conquistada pelo Salvador – a paz<br />
entre Deus e o ser humano, e do ser humano consigo mesmo – torna-se<br />
real na vida do cristão.<br />
Se o espírito da pessoa esmorece e desfalece, se a natureza pecaminosa<br />
nos tenta a tornar famoso o nosso espírito empreendedor, a ação<br />
do Espírito do Senhor nos alcança com a salvação e a paz e reverte a<br />
dispersão causada pelo pecado, tornando-nos povo de Deus.<br />
2. ANÁLISE DO TEXTO<br />
23 de maio de 2010<br />
Gênesis 11.1-9<br />
11.1-4 – A rebelião: O fato de em toda a terra haver uma só linguagem<br />
não causa surpresa, pois todos eram descendentes de Noé. A partir<br />
do monte Ararate, houve migração para o leste, até que acharam uma<br />
planície fértil e a ocuparam. A Planície de Sinear fica na Mesopotâmia, no<br />
Crescente Fértil, entre os rios Tigre e Eufrates. Temos a informação da<br />
técnica usada para a construção: tijolos de barro queimados e betume<br />
(asfalto) como argamassa. Como naquela região as pedras eram escas-<br />
161<br />
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Igreja Luterana<br />
sas e argila havia em quantidade, desenvolveu-se o processo de queimar<br />
tijolos. Os habitantes da Planície de Sinear resolvem construir uma cidade<br />
e uma torre. Havia dois objetivos na construção: tornar célebre o nome e<br />
não ser espalhado pela terra. Questões que esta ação levanta: Será que<br />
havia medo de um novo dilúvio? Haveria propósitos religiosos nesta construção?<br />
Deus havia abençoado Noé e seus filhos, dizendo: “Sede fecundos,<br />
multiplicai-vos e enchei a terra” (9.1). A ideia dos construtores de Babel<br />
coloca-se contra a bênção de Deus: “para que não sejamos espalhados<br />
por toda a terra”.<br />
11.5-9 – O juízo: O “descer do Senhor” é uma descrição antropomórfica<br />
da presença de Deus diante dos atos dos homens. Deus vê a intenção<br />
do coração humano e o perigo de deixar que siga seu caminho – o que<br />
poderia levar a um novo momento de violência extrema. Deus resolve intervir<br />
para confundir a linguagem, donde vem o nome Babel, que significa<br />
“confusão”. Esta confusão de linguagem faria com que as pessoas não se<br />
entendessem e, assim, seriam espalhadas pela face da terra. E Deus faz<br />
isto não porque eles queriam construir uma cidade e uma torre, mas por<br />
causa dos motivos que estavam por trás desta atitude.<br />
Estavam os construtores de Babel querendo estabelecer um governo<br />
centralizado e uma estrutura de poder e dominação? Se não estavam, sua<br />
atitude logo os levaria a isto, pois queriam “tornar seu nome célebre”. Não<br />
seria bom ter um governo centralizado, uma luta por uma nação única e<br />
forte – nacionalismo? A pluralidade de nações e linguagem não impede<br />
avanços culturais, econômicos e religiosos? O processo de globalização<br />
não é algo bom? Talvez tudo isso fosse bom, mas não sendo o ser humano<br />
pecador e o coração humano corrupto. Um governo mundial provavelmente<br />
resultaria não em progresso, mas em totalitarismo, destruição.<br />
3. PONTES E PONTOS DE CONTATO<br />
Deus não permite que a rebelião humana chegue ao mesmo nível<br />
de antes do dilúvio. Ele intervém ao agir com amor para preservar o ser<br />
humano. É melhor a divisão do que o afastamento de Deus.<br />
A ação de Deus tem um caráter escatológico, pois, em contraste com<br />
a confusão deste episódio, temos a grande bênção do Pentecostes (Atos<br />
2). O uso de uma linguagem comum pelo Espírito Santo demonstra que<br />
o evangelho, longe de estar restrito cultural ou linguisticamente, é para<br />
pessoas de todas as nações, conforme a promessa do Senhor: “derramarei<br />
do meu Espírito sobre toda a carne... e acontecerá que todo aquele que<br />
invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2.17,21).<br />
As pessoas quiseram chegar ao céu por suas próprias obras. Esqueceram<br />
que é Deus quem vem do céu ao seu encontro. Babel mostra que<br />
162<br />
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Pentecostes<br />
a rebelião contra Deus leva a divisões entre as pessoas. Mas revela que o<br />
Senhor estava preparando reunir e abençoar todas as nações através do<br />
nascimento do Prometido, que viria da linhagem de Sem.<br />
4. PROPOSTA HOMILÉTICA<br />
Assunto: Pela ação do Espírito Santo, Deus vence a rebelião do ser<br />
humano e as divisões causadas por ele. Com a palavra ensinada pelo<br />
Espírito, Deus capacita sua Igreja a vencer as barreiras causadas pela<br />
linguagem e pelo pecado com o Evangelho da salvação em Jesus Cristo.<br />
Tema: O Espírito Santo vence barreiras<br />
I. O Espírito Santo é enviado por Deus aos nossos corações<br />
1. A rebelião humana busca fama e poder<br />
2. O juízo de Deus confunde e condena<br />
3. O Espírito de Deus ensina e salva<br />
4. Está vencida a barreira entre Deus e nós<br />
II. O Espírito Santo envia a Igreja ao mundo<br />
1. A divisão entre Deus e os seres humanos<br />
2. O Espírito Santo une e reúne os salvos<br />
3. A Igreja capacitada pelo Espírito é enviada ao mundo<br />
4. Está vencida a barreira entre Deus e os seres humanos.<br />
Rony Ricardo Marquardt<br />
Porto Alegre/RS<br />
rony@ielb.org.br<br />
163<br />
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dEVOCIONAL<br />
Cruz: caminho de Cristo e dos cristãos<br />
Introdução<br />
Marcos 8.27-38<br />
Adoniram Judson foi o primeiro missionário americano a ser enviado a<br />
Burma (Mianmar, perto da China e Índia), em 1812, junto com sua esposa<br />
Nancy. Quando chegou lá, foi preso sob suspeita de ser um espião britânico.<br />
Pouco depois, perdeu sua amada esposa, por causa de uma febre,<br />
e em seguida perdeu seu filho. Teve transtornos psicológicos e chegou a<br />
viver um tempo escondido na floresta.<br />
Sarah, sua segunda esposa, ele perdeu quando retornava ao seu país<br />
natal pela primeira vez depois de 33 anos. Ele casou de novo e retornou<br />
a Burma e, depois de ficar muito doente, tentou retornar para ser curado,<br />
mas acabou morrendo durante a viagem de navio.<br />
Algo parecido aconteceu com o primeiro missionário americano de<br />
nossa igreja enviado à Índia. Em 1894 ele foi e, em 1899, ele já havia<br />
sepultado dois dos seus quatro filhos. A sua própria morte foi por causa<br />
da peste bubônica, contraída quando do sepultamento de um jovem na<br />
missão. Para evitar contaminação, vestiu-se com um terno branco e deitouse<br />
num caixão, pedindo que ninguém o tocasse depois de morrer.<br />
O fato<br />
Não é preciso esforçar-se muito para reconhecer o que foi mais importante<br />
na vida desses e de tantos outros missionários. Eles confessavam<br />
a Jesus Cristo como seu Salvador, disseram “não” para si mesmos, para<br />
seus desejos e sua vontade, tomaram a cruz e seguiram o Senhor de<br />
suas vidas. Foi uma “determinação sacrificial e um impulso incansável<br />
para compartilhar o Evangelho com aquelas pessoas para as quais foram<br />
enviados” (SCHULZ, Klaus Detlev. O testemunho cristão num contexto de<br />
diálogo inter-religioso, 2007, p. 35).<br />
Transição<br />
No texto do Evangelho de hoje, Jesus nos mostra os três grandes e<br />
mais importantes elementos da nossa fé. Em três cenas distintas, mas<br />
inter-relacionadas, o Filho de Deus ensina a seus discípulos o que realmente<br />
importa.<br />
164<br />
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devocional<br />
O contexto nos revela que só Jesus, em sua graça, pode operar a confissão<br />
e a compreensão da vida dos discípulos e, às vezes, é necessário<br />
que haja repetição.<br />
Jesus havia realizado a primeira multiplicação dos pães (Mc 6.30-44),<br />
andou sobre o mar (6.45-51) e, no final disso, o evangelista Marcos nos<br />
diz que os discípulos estavam com o coração endurecido (6.52) e não<br />
compreenderam o milagre dos pães.<br />
Jesus faz a segunda multiplicação dos pães (8.1-10) e, mais uma vez,<br />
os discípulos não compreendem nada e são chamados de cegos e surdos<br />
pelo próprio Jesus (8.17-21).<br />
Foi então que Jesus preparou o ambiente para saber se os discípulos<br />
sabiam da sua verdadeira identidade e missão. Como que fazendo um<br />
prelúdio, ele cura um cego e gradualmente restabelece a visão dele.<br />
Primeiro, ele via homens pensando que eram árvores, para depois ver<br />
claramente (Mc 8.22-26).<br />
O texto – Marcos 8.27-30<br />
Claramente Jesus perguntou para seus discípulos sobre a opinião das<br />
pessoas sobre ele. Eles repetem basicamente o que está escrito em Mc<br />
6.14-16: uns dizem que é João Batista (talvez porque Herodes estava<br />
com medo) e outros Elias, talvez uma lembrança da profecia de Malaquias<br />
(Ml 4.5).<br />
Essas idéias estavam de acordo com as idéias populares e a maioria<br />
delas conectando Jesus a títulos messiânicos judaicos, insuficientes para<br />
definir a verdadeira identidade de Cristo e sua verdadeira missão.<br />
Então ele perguntou a seus discípulos: e vocês? Pedro se antecipou e,<br />
em nome do grupo, confessou: “Tu és o Cristo”. Tu és o ungido de Deus,<br />
o verdadeiro Messias. Pedro confessou a Jesus como o Cristo e o colocou<br />
acima de todo nome (Fp 2.9-11).<br />
O evangelista Mateus nos ajuda a entender que a grandiosidade dessa<br />
confissão não pode ser elaborada por um coração e lábios humanos, mas<br />
isto lhe foi revelado pelo Pai, que está nos céus (Mt 16.17).<br />
Curiosamente, à primeira vista, mas não sem motivos, Jesus pede<br />
silêncio dessa confissão. Por causa da expectativa da libertação política,<br />
os olhos e corações de pessoas estavam sendo alimentados por esperanças<br />
políticas e econômicas. Por isso Jesus aconselha seus discípulos a se<br />
calarem por enquanto.<br />
Ele não queria ser visto como um milagreiro, ver seu ministério vinculado<br />
tanto aos milagres de cura; queria evitar sua morte prematura, por<br />
acontecer na plenitude do tempo. Nem os discípulos, nem as multidões<br />
estavam aptos a assimilar a forma como Cristo realizaria a missão.<br />
165<br />
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Igreja Luterana<br />
Marcos 8.31-33<br />
E esse último motivo é facilmente percebido quando Jesus fala abertamente<br />
que, como Cristo, ele deveria tomar o caminho do sofrimento,<br />
da rejeição e da cruz - a morte mais humilhante e repulsiva que poderia<br />
ser imaginada na época. Pedro se nega a aceitar isso. Talvez ele tenha<br />
se lembrado das palavras de Dt 21.23, onde Moisés faz referência àquele<br />
que é pendurado no madeiro como maldito de Deus e não o Cristo, o<br />
Ungido de Deus.<br />
Jesus não justifica os pensamentos de Deus, mas afirma que a obra<br />
messiânica não segue modelos e expectativa humanas. Assim como já<br />
havia acontecido nas tentações, Cristo resiste de novo a Satanás, que<br />
agora estava tentando a Pedro.<br />
Jesus deixa claro que não pode haver acordo ou meio termo, e o caminho<br />
da cruz está traçado.<br />
Marcos 8.34-38<br />
A cruz foi o caminho de Cristo e é o caminho de todos os cristãos.<br />
Jesus chamou também a multidão para lhe dizer que aquele que quiser<br />
segui-lo, vai ter de tomar o caminho da cruz. Dizer “não” para si mesmo<br />
e seus desejos, olhar para Jesus e segui-lo. É o sofrimento por amor a<br />
Cristo e seu Evangelho. Não é uma nova lei, mas um convite e chamado<br />
do Senhor Jesus a viver em sua companhia pela fé nele.<br />
Aplicação<br />
O eco do convite original de Jesus ouvimos hoje em sua palavra.<br />
Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.<br />
Na companhia de Jesus começamos a andar pelo nosso batismo. Nele<br />
fomos unidos a Cristo com sua morte e sua ressurreição (Rm 6.4). Estamos<br />
na graça, somos filhos e herdeiros. Com Cristo sofremos e com ele<br />
somos glorificados. Confessamos com Pedro que Jesus é o Cristo, o nosso<br />
Salvador. Sabemos que Cristo morreu e ressuscitou. O nosso problema é<br />
a cruz. É o negar-se a si mesmo. O sofrimento por amor a Cristo. Talvez<br />
fosse preferível pular essa parte e ir direto para a transfiguração, a fim de<br />
vermos o céu e dizer com Pedro: “Bom é estarmos aqui”.<br />
Mas assim não é. Os nossos pensamentos, vontade e desejos não são<br />
os de Deus. Jesus nos convida a caminhar com ele, fechar os olhos e nele<br />
confiar. E essa é justamente a cruz. É o negar-se a si mesmo e ouvir a<br />
vontade de Deus.<br />
Assim como Pedro, confessamos a Jesus como Cristo e nos alegramos<br />
166<br />
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devocional<br />
com a esperança do céu. Mas também como Pedro não aceitamos a cruz,<br />
negamos a Jesus dizendo sim para os nossos desejos (Mt 26.75).<br />
Assim como aconteceu com os discípulos, queremos saber quem é<br />
o mais importante no Reino de Deus (Mc 9.34-35). Como Tiago e João,<br />
fazemos pedidos estranhos a Jesus, um sentar do lado direito, outro do<br />
lado esquerdo de Jesus (Mc 10.35-36).<br />
São manifestações que revelam traços de orgulho e atenção aos desejos<br />
e anseios pessoais, vaidades e, acima de tudo, incompreensão com<br />
o que realmente importa.<br />
A cruz muitas vezes é difícil de compreender, aceitar e suportar. O sofrimento<br />
nos baqueia. Na verdade, é impossível carregá-la. Jesus precisa<br />
continuar dizendo “arreda Satanás” quando este nos tentar.<br />
Assim, gradualmente Jesus nos convence sobre o que é mais importante<br />
em nossas vidas. Dizer “não” para nós mesmos e para os nossos desejos<br />
e vontades e “sim” para o Senhor Jesus. Aos poucos Jesus nos convence<br />
que a vida não consiste na quantidade de bens e realizações pessoais; que<br />
a paz do perdão do Senhor Jesus é mais importante que qualquer outra<br />
paz que o mundo oferece; que é preciso fechar os olhos para as ondas e<br />
tempestades e caminhar com Jesus em fé.<br />
Conclusão<br />
Jesus precisou repetir milagres e palavras para convencer seus discípulos<br />
sobre o que realmente importa. Ele continua repetindo na sua<br />
Ceia Santa e no seu Evangelho que não é preciso fugir da cruz e querer<br />
pular essa parte para ir direto à transfiguração. Ele nos convence do que<br />
realmente importa.<br />
Ele nos faz ver que é preciso olhar para sua cruz e tirar perdão, esperança,<br />
vida e salvação; que a nossa existência e missão são preciosas<br />
aos seus olhos e que não há nada no mundo que possa ser dado em troca<br />
deles.<br />
Negar a nós mesmos, tomar a nossa cruz e segui-lo em fé é motivo<br />
de regozijo, pois com Ele já somos cidadãos da transfiguração e já aqui<br />
podemos dizer: “Bom é estarmos aqui e viver confiando as nossas vidas<br />
ao Senhor Jesus”. Amém.<br />
Mensagem proferida pelo professor Anselmo Graff na devoção do Seminário<br />
Concórdia, em 11 de março de 2009<br />
167<br />
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