IGREJA LUTERANA - Seminário Concórdia
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Igreja Luterana<br />
Como estão as coisas no protestantismo? Lutero deu alto valor à ratio<br />
ou razão em questões deste mundo (in rebus civilibus). Ele também sabia<br />
do obscurecimento da razão, levando-o a denominá-la de “prostituta<br />
razão”. Mas o Reformador também sempre de novo fez a seguinte afirmação:<br />
Affert gratia novum judicium omnium rerum. (Sob o ponto de vista<br />
da graça, tudo tem um aspecto diferente.) Se é possível falar sobre uma<br />
restauração da imagem de Deus na pessoa regenerada, então nossos pensamentos<br />
também são levados cativos à obediência de Cristo. E, no século<br />
19, tanto o luterano August Vilmar quanto o reformado Abraham Kuyper<br />
levaram a sério a afirmação de que, também no âmbito do conhecimento<br />
científico, “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”.<br />
Apesar disto, pode-se constatar que, no âmbito do protestantismo, pouco<br />
foi feito com vistas a atingir o alvo de pensar como cristão. Os grandes<br />
feitos ficaram como que restritos ao âmbito da formação da mentalidade<br />
e do caráter. Um catedrático católico (filósofo, médico, jurista ou pedagogo)<br />
está preparado a moldar sua área de especialização à luz do espírito<br />
católico; em contrapartida, o evangélico em geral acha que não é nem<br />
possível, tampouco necessário, assumir uma conscientização evangélica<br />
em sua pesquisa. No coração a gente é cristão. Os filhos são batizados, a<br />
contribuição para a igreja está em dia, o matrimônio é considerado digno<br />
de honra, vai-se ao culto, mas na cabeça a gente segue os pontos de vista<br />
de um famoso mestre da universidade ou, então, a gente acompanha o<br />
modismo da hora, seja ele naturalista, panteísta ou evolucionista.<br />
E, diante do fato de que não se visualizou mais nenhuma tarefa no<br />
sentido de pensar a partir da perspectiva da fé, e porque se esteve pronto<br />
a abrir mão de pensar ou, então, a pensar de forma desvinculada da fé,<br />
outras visões de mundo puderam se instalar com sucesso, ocupando o<br />
terreno abandonado. Aí entram a visão de história de Hegel (século 19),<br />
o racismo dos nazistas e o comunismo marxista. Por mais distintos que<br />
sejam, estes sistemas têm em comum o fato de submeterem todos os<br />
âmbitos da realidade à sua forma de pensamento: as escolas e o direito, a<br />
compreensão da natureza e da história, a formação das artes e da cultura.<br />
Quando uma ideologia destas se instala, ao menos uma coisa acontece:<br />
o ser humano é poupado de sempre de novo optar entre esta ou aquela<br />
explicação da realidade. Em cada cômodo da casa existe o domínio do<br />
mesmo espírito, do mesmo ponto de vista, da mesma organização.<br />
Em contraste com isto, quão dignos de pena são nossos filhos, mesmo<br />
quando frequentam uma “escola comunitária cristã”. Afora a devoção matinal<br />
e o esporádico culto escolar, não recebem uma orientação cristã definida<br />
em sua forma de pensar. A manhã de aulas pode transcorrer assim: das<br />
8 às 9 leciona um físico que ficou parado no tempo de Ernst Haeckel. Na<br />
aula seguinte, faz-se história na visão biológica de Oswald Spengler. Às 10<br />
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Revista Luterana 2010 gráfica.indd 6 8/4/2010 18:42:07