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IGREJA LUTERANA<br />

Revísta Semestral de Teologia<br />

Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia<br />

São Leopoldo, RS.<br />

89-01<br />

ANO 49


ANO 48 — N.° 01<br />

JAN — JUN/89<br />

ÍNDICE<br />

IGREJA LUTERANA<br />

REVISTA<br />

SEMESTRAL<br />

DE TEOLOGIA<br />

Publicada pela Faculdade de<br />

Teologia do Seminário<br />

Concórdia<br />

Av. Getulio Vargas, 4.388<br />

Cx. Postal 202<br />

Fone: (0512) 92-4190<br />

93030 — São Leopoldo, RS<br />

O Concilio Nacional da Igreja . 2<br />

Buscamos um Aperfeiçoamento<br />

Contínuo 4<br />

Editor:<br />

Leopoldo Heimann<br />

Estudos Homiléticos 12<br />

Professores:<br />

A Ortodoxia Luterana 86<br />

Acir Raymann<br />

Arnaldo Schüler<br />

Christiano Joaquim Steyer<br />

Curt Albrecht<br />

Donaldo Schüler<br />

Elmer Flor<br />

Hans - Gerhard F. Rottmann<br />

Hans Horsch<br />

Leopoldo Heimann<br />

Martim Carlos Warth<br />

Vilson Scholz<br />

Walter Otmar Steyer<br />

De Outras Fontes 100<br />

Comentários 114<br />

Eméritos:<br />

Arnaldo J. Schmidt<br />

Johannes H. Rottmann<br />

Otto A. Goerl<br />

Composição, Arte,<br />

Diagramação e Expedição:<br />

Editora LA SALLE - Canoas<br />

A correspondência deve ser<br />

enviada ao Editor.<br />

IMPORTANTE<br />

Aceitamos livros para recensões<br />

ou apreciações.<br />

Aceitamos permuta com revistas<br />

congêneres.<br />

Aceitamos matérias voluntárias,<br />

reservando o direito de publicá-las<br />

ou não.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 1


EDITORIAL<br />

0 Concilio Nacional da Igreja<br />

Querendo atingir e envolver, direta ou indiretamente, todos<br />

os membros no trabalho da igreja, a Direção Nacional da Igreja<br />

Evangélica Luterana do Brasil (IELB), conforme seus Estatutos<br />

e Regimento, promove, em âmbito nacional ou regional, especialmente<br />

as seguintes programações:<br />

— Convenção Nacional, de dois em dois anos;<br />

— Conferência Regional, sempre que necessário;<br />

— Concilio Regional, uma vez ao ano;<br />

— Concilio Nacional, de seis em seis anos.<br />

Dos Concílios participam apenas os classificados como<br />

"obreiros da Igreja", i.e. pastores e professores, "para o aperfeiçoamento<br />

na doutrina e praxe da Igreja".<br />

De 5 a 9 de julho próximo, acontecerá o II Concilio Nacional<br />

da IELB que, conforme o Regimento, é previsto como a programação<br />

nacional que poderá somar maior número de participantes.<br />

Considerando o significado do Concilio para a IELB e a<br />

importância da temática que será abordada, julgamos oportuno<br />

destacá-lo neste Editorial.<br />

Numa entrevista coletiva, João Batista teve que responder<br />

duas grandes perguntas: "Quem és tu?" e: "que dizes a respeito<br />

de li mesmo?" (Jo 1.19,22). No Concilio, os obreiros da igreja<br />

farão perguntas semelhantes: Quem sou eu? Como desempenho<br />

meu magistério ou ministério? Que penso de mim mesmo? Sou<br />

grande ou pequeno? Sou orgulhoso ou humilde? Sou acomodado<br />

ou fiel e responsável? Qual é, enfim, a minha identidade?<br />

Qual é a minha auto-imagem? O assunto do Concilio é delicado<br />

e sensível, mas importante e necessário.<br />

Com base nas Cartas Pastorais, especialmente 1 Tm 4.12,<br />

será estudada a temática geral: O Obreiro da Igreja, Exemplo<br />

dos Fiéis, uma análise do ministério/magistério hoje, bem como<br />

uma auto-avaliação do professor/pastor numa perspectiva escatológica.<br />

Os cultos e devoções e os estudos estarão vinculados à<br />

temática. Os quatro estudos — cada um terá dois preletores —<br />

estão fundamentados no texto de 1 Tm 4.12 e são os seguintes:<br />

Página 2 — IGREJA LUTERANA


1° Estudo: O Valor Pedagógico do Exemplo (educação pela<br />

postura — "vendo");<br />

2º Estudo: O Exemplo dos Fiéis na Palavra (manejando<br />

bem a palavra de Deus, no púlpito — o sermão<br />

— e na cátedra — a aula — "fazendo");<br />

3º Estudo: O Exemplo dos Fiéis no Procedimento (a conduta<br />

como homem, sacerdote, bispo e teólogo<br />

na vida civil e eclesiástica — "sendo");<br />

4º Estudo: O Exemplo dos Fiéis nas Virtudes Cristãs (estudo,<br />

meditação e edificação espiritual particular<br />

— "tendo").<br />

Os dois cultos públicos tem objetivos específicos: O Culto<br />

de Abertura, considerando Mc 3.7, quer ressaltar a importância<br />

do Concilio e o significado contextualizado da temática; o Culto<br />

de Encerramento, baseado em Ef. 4.11,12, quer valorizar as verdades<br />

debatidas, as "mudanças de comportamento" e apontar<br />

para a necessidade e urgência de se "preparar o povo de Deus".<br />

As devoções dos três dias também estão vinculadas a temática<br />

geral:<br />

— 1ª: Cristo nos deu o exemplo a ser imitado (Jo 13.7)<br />

— 2ª: Os obreiros devem tornar-se modelos do rebanho<br />

(1 Pe 5.3)<br />

— 3ª: Os membros se tornaram exemplos para seus irmãos<br />

na fé (1 Ts 1.7).<br />

Esta é a programação principal deste II Concilio Nacional<br />

da IELB. Também haverá momentos de lazer, diálogo e debates<br />

sobre assuntos previamente enviados à Comissão Organizadora.<br />

0 II Concilio Nacional é o grande programa da IELB em<br />

1989. Espera-se a presença e participação de todos os pastores<br />

e professores-ativos e aposentados.<br />

Para que este Concilio possa atingir seus objetivos — e<br />

quem sabe, imprimir uma nova dinâmica ministerial na igreja —<br />

lembramos a todos os pastores e professores, congregações e escolas<br />

fazer, diariamente, a partir de hoje, o que Paulo recomenda<br />

em 1 Tm 2.1:<br />

— Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de<br />

súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor<br />

de todos os homens — também dos conciliares!<br />

L.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 3


ENTREVISTA<br />

"Buscamos um aperfeiçoamento<br />

Contínuo"<br />

A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) tem dois<br />

Centros Educacionais Concórdia (CEC): um, em São Paulo, SP;<br />

outro, em São Leopoldo, RS. Tanto em São Paulo como em São<br />

Leopoldo funcionam escolas dos três níveis (1» grau, 2" grau, 3"<br />

grau=superior). No CEC/SL estão abrigados o "Instituto Concórdia,<br />

Escola de 1º e 2º graus" e a "Faculdade de Teologia do<br />

Seminário Concórdio". O 1º grau tem seu Diretor. O 2° grau<br />

tem seu Diretor. Mas o Diretor da Faculdade de Teologia leva<br />

o título de Diretor Geral do CEC porque responde pelo Instituto<br />

Concórdia e pelo Seminário Concórdia. O Diretor é eleito para<br />

um período de quatro anos.<br />

Em sua última reunião de 1988 (24-27/novembro), o Conselho<br />

Diretor (CD) da IELB elegeu, como Diretor Geral do<br />

CEC/SL, para um período de quatro anos, o pastor Hans Horsch<br />

que, desde 1986, era Professor de Sistemática na Faculdade do<br />

Teologia/SL.<br />

Julgamos correto que os leitores de Igreja Luterana conhecessem<br />

algo mais sobre a pessoa e os pensamentos do Diretor<br />

Geral.<br />

Hans Horsch nasceu em 13 de junho de 1941, na Alemanha,<br />

e foi criado num Orfanato Luterano. Formado pastor no<br />

Seminário de Missões da Igreja Evangélica Luterana Livre, foi<br />

comissionado para a IELB, e chegou ao Brasil em 1966. Foi<br />

pastor em Pomerode, SC, (1967-1969) e em Porto Alegre, RS,<br />

(1969-1979) e, a partir de 1986, é Professor do Seminário Concórdia.<br />

Em 1973 recebeu o título de Bacharel de Teologia pelo<br />

Seminário Concórdia/Brasil; e de 1979-1984 fez o Curso de Pós-<br />

Graduação na Universidade Frederico Alexandre de Erlangen,<br />

Nuremberg, Alemanha, onde fez seu Doutor em Teologia. É<br />

casado com a senhora Theda Gunilde Reuter, filha do pastor<br />

Theodor Reuter, que trabalhou no Brasil, retornou para a Alemanha<br />

e faleceu recentemente. Tem três filhos: Nadia (1968),<br />

Bettina (1970) e Nicolai (1977).<br />

Agora, as perguntas da Igreja Luterana (Igreja) e as respostas<br />

do Doutor Hans Horsch (Horsch):<br />

Página 4 — IGREJA LUTERANA


Educação abrangente<br />

IGREJA:<br />

Dr. Horsch sua visão sobre a filosofia educacional do<br />

CEC é...<br />

HORSCH: O Centro Educacional Concórdia tem sua história peculiar.<br />

Ele é fruto de uma idéia nascida no seio da<br />

Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Esta idéia, ou preocupação,<br />

envolveu, ao longo da história da igreja, muitas pessoas<br />

que queriam servir ao seu Senhor, especialmente na área da<br />

educação. Entendemos a nossa missão da seguinte maneira: queremos<br />

dar continuidade a um trabalho que faz parte do planejamento<br />

da igreja e é sustentado por ela. Visamos a adaptação<br />

permanente desta instituição às necessidades sociais e educacionais,<br />

assim como tentamos corresponder com as necessidades da<br />

própria igreja. Deve-se, por isto, zelar sempre pela qualidade<br />

do ensino. A busca constante de melhoramentos no ensino envolve<br />

a liderança e os professores. As mudanças da época, que<br />

caracterizam e formam o nosso aluno, requerem a aplicação de<br />

novos métodos ou técnicas de ensino. Hoje em dia, se faz necessário<br />

visar uma educação abrangente. Esta educação se preocupa<br />

não somente com a formação intelectual ou cognitiva, mas<br />

muito mais com a formação espiritual dos alunos.<br />

IGREJA:<br />

Terminam ai as preocupações?<br />

HORSCH: Não. Mas faz parte desta preocupação tudo o que<br />

envolve o bom andamento da vida escolar. Citamos<br />

como exemplo a administração financeira ou contábil da escola.<br />

Sem uma visão abrangente das possibilidades financeiras é impossível<br />

administrar esta escola. Tanto os professores como os<br />

alunos necessitam a tranqüilidade de que o seu empenho é garantido<br />

pelo suporte financeiro. Nossa escola quer oferecer as<br />

condições para a evolução do aluno em muitos sentidos. O ambiente<br />

de vivência e de estudo deverá ser favorável ao desenvolvimento<br />

da criatividade do aluno. As atividades acadêmicas<br />

visam a boa formação do aluno e do futuro profissional.<br />

IGREJA:<br />

Como o senhor vê a grande finalidade do CEC?<br />

HORSCH: O Centro Educacional Concórdia deve ser entendido<br />

como instrumento de missão ou evangelização. É do<br />

interesse cia Igreja Evangélica Luterana do Brasil que os alunos<br />

desta escola possuam um bom conhecimento da doutrina bíblica<br />

e saibam aplicar a mensagem evangélica à sua vida. A vida<br />

devocional na escola cultiva a vivência da fé em Jesus Cristo e<br />

fornece as condições necessárias para a sociabilidade e integra-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 5


ção do aluno na comunidade de adoração e comunhão. O Centro<br />

Educacional Concórdia quer ser uma família cristã. Esta família<br />

é o núcleo de treinamento para as fases mais importantes na<br />

vida do aluno. Pela sua formação integral, o aluno sentirá segurança,<br />

pois o equilíbrio psicosomático garantir-lhe-á enfrentar<br />

os perigos ou conseqüências de uma sociedade em decadência e<br />

total desintegração.<br />

Educação teológica<br />

IGREJA:<br />

E qual é, especialmente, a atenção que a Faculdade<br />

de Teologia do Seminário Concórdia receberá?<br />

HORSCH: Aqui estão os maiores desafios. Querer falar sobre o<br />

Seminário Concórdia, hoje parte do Centro Educacional<br />

Concórdia, significa lembrar-se de uma história que envolve<br />

a educação teológica de nossa igreja. Fizeram parte desta história<br />

os nomes de grandes professores, que dedicaram toda sua<br />

vida ao serviço da igreja, e os alunos, que vivem e trabalham<br />

hoje como pastores neste vasto Brasil em toda sua extensão.<br />

Sendo conhecido e reconhecido pelas igrejas luteranas, inclusive<br />

em outros continentes, o Seminário Concórdia tem voz ativa na<br />

educação teológica brasileira como demonstra sua filiação na<br />

ASTE (Associação de Seminários Teológicos Evangélicos). Somos<br />

portadores desta herança recebida e reconhecemos os desafios<br />

que a realidade social e eclesial nos impõe.<br />

IGREJA:<br />

Há consciência desta herança e missão?<br />

HORSCH: Sim. A Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia<br />

está consciente de sua nobre missão. Esta Faculdade<br />

entende que a educação teológica abrange todas as áreas<br />

da teologia cristã. O centro de toda atividade desta Faculdade<br />

é a mensagem do evangelho de Jesus Cristo. Isto significa aceitar,<br />

compreender e seguir os propósitos de Deus que se revelou<br />

em seu Filho amado (cf. Mc 1.15; 2 Co 5.18-19). O projeto principal<br />

desta Faculdade visa uma aprendizagem que capacita o<br />

aluno a estudar e viver de maneira cristocêntrica. A partir deste<br />

centro, é possível "fazer teologia" como resposta viva e atuante<br />

à fé cristã.<br />

IGREJA:<br />

E o projeto principal para o Seminário Concórdia?<br />

HORSCH: O projeto principal gera todos os outros projetos que<br />

visam uma adaptação gradativa e criteriosa da igreja<br />

à realidade presente. Vindo do passado, a igreja se vê inserida<br />

Página 6 — IGREJA LUTERANA


no contexto histórico. O estudo minucioso da evolução da igreja<br />

aqui no Brasil evidenciará falhas cometidas e vitórias obtidas.<br />

Sem o conhecimento das raízes é impossível visar o futuro. A<br />

teologia histórica fornece as condições para uma avaliação cautelosa<br />

do passado e estimula a aceitação dos desafios do presente<br />

e do futuro. A teologia sistemática se preocupa com a formulação<br />

das verdades eternas, reveladas na Escritura Sagrada e<br />

tenta expressar a boa confissão da fé em termos doutrinários<br />

compreensíveis para a nossa geração. Esta formulação necessita<br />

do estudo exegético tanto do AT como do NT. A evolução teológica<br />

nesta área da pesquisa representa um desafio especial a<br />

todas as igrejas cristãs. Nesta área deveriam surgir muitos projetos<br />

que ajudam a igreja cristã a ter uma orientação clara num<br />

contexto social c cultural que solicita uma reflexão profunda<br />

sobre as verdades bíblicas. A teologia prática se preocupa especialmente<br />

com o "habitus practicus" do ensino teológico. Precisamos<br />

urgentemente refletir sobre a contextualização ou indigenização<br />

de tudo o que ensinamos e praticamos na igreja.<br />

Contextualização<br />

IGREJA: Que significa "contextualização brasileira da Palavra"?<br />

HORSCH: É claro que o processo de aculturação não pode ocupar<br />

o primeiro lugar na vida ou no ensino da igreja,<br />

mas este fator não pode ser esquecido ou posto de lado. O evangelho<br />

de Cristo quer penetrar todas as camadas sociais. Ele procura<br />

sua expressão genuína de fé num meio social que solicita<br />

o respeito perante o homem brasileiro, o receptor desta maravilhosa<br />

mensagem. Neste sentido, o nosso culto, a liturgia e as<br />

formas ou alternativas de promover ou viver a comunhão cristã<br />

sofrerão, naturalmente, grandes mudanças. Uma teologia sadia<br />

terá que refletir sobre todas estas evidências e visar uma orientação<br />

espiritual suficiente e agradável aos olhos do Senhor da<br />

igreja. A teologia deve ser inserida na realidade contextual e<br />

produzir formas de comunicação que correspondam com as necessidades<br />

de uma igreja que enfrenta, de maneira crescente, os<br />

desafios de uma sociedade industrializada e urbanizada. A adaptação<br />

gradativa da IELB à realidade brasileira, em si, já é um<br />

imenso projeto. Não podemos esquecer que, momentaneamente,<br />

fazemos parte da história das transformações e mudanças. Os<br />

desafios em todas estas áreas necessitam de muita pesquisa e<br />

reflexão. Teremos que analisar sempre de novo o espírito do<br />

tempo, as necessidades da igreja em regiões diferentes e aperfeiçoar<br />

os métodos de pesquisa e de aplicação. Um desafio claro<br />

IGREJA LUTERANA — Página 7


percebemos na área interdisciplinar. Perante uma manifestação<br />

de vida multiforme e complexa, a igreja precisa conhecer e usar,<br />

sem dúvida com todo cuidado e responsabilidade, as disciplinas<br />

da sociologia, antropologia e psicologia. Na busca de um aperfeiçoamento<br />

contínuo, a Faculdade de Teologia respeitará resultados<br />

obtidos nestas áreas do conhecimento humano ou científico<br />

e saberá usá-los em conformidade com os propósitos divinos.<br />

IGREJA:<br />

Outros desafios práticos?<br />

HORSCH: Grandes desafios nos esperam no campo da missão e<br />

da evangelização. A literatura é imensa c os estímulos<br />

acadêmicos e espirituais não deixam parar o pesquisador.<br />

Na área da evolução de religiões ou seitas percebemos falhas<br />

próprias e voltamos novamente à base, o evangelho de Cristo.<br />

Faz parte de uma teologia responsável analisar a própria atuação<br />

como igreja ou Seminário no contexto cultural e social em que<br />

vivemos. Precisamos de coragem e força para enfrentar as tradições<br />

que muitas vezes se opõem à mensagem do evangelho e<br />

buscar novas formas de vida e atuação em concordância com<br />

toda a igreja.<br />

Teologia e Igreja<br />

IGREJA:<br />

Qual a relação ou responsabilidade entre a "formação<br />

teológica" (seminário) e a "edificação do povo de<br />

Deus" (igreja)?<br />

HORSCH: Com estas afirmações declaramos que a educação<br />

teológica é função da igreja. Ela é o elemento chave<br />

na formação e evolução do povo de Deus. Se faz necessário<br />

manter sempre um relacionamento sadio entre a IELB e a Faculdade<br />

de Teologia. Este relacionamento visa o intercâmbio<br />

frutífero entre teoria e prática. Por isso, a igreja mantém seus<br />

seminários teológicos. Os seminários são instrumentos valiosos<br />

na mão da igreja. Eles servem à igreja com tudo o que neles<br />

existe. Tanto os professores quanto os alunos dos seminários<br />

jamais podem esquecer que servem a Jesus Cristo, cabeça da<br />

igreja cristã. O projeto permanente dos seminários é a capacitação<br />

de pessoas para que possam atuar ou servir em todas as<br />

áreas nas quais possam vir a surgir necessidades. Levarão a luz<br />

da verdade às pessoas por serem portadores de uma mensagem<br />

que liberta do pecado e da morte. Viver o evangelho significa<br />

expressar, por comportamento e atitude ética, a justificação pela<br />

fé. Toda vivência no Seminário e fora dele refletirá a fé evangélica<br />

como fruto e boa obra da atuação do Espírito Santo vinda<br />

Página 8<br />

IGREJA LUTERANA


por intermédio da palavra proclamada. Seu poder motiva o<br />

aprofundamento teológico e estimulará um engajamento ativo<br />

pela causa de Cristo. Neste sentido, a Faculdade de Teologia<br />

assume uma função singular. Quer e deve ser exemplo de uma<br />

vida cristã devota e autêntica.<br />

IGREJA: Novos planejamentos.. .<br />

HORSCH: A Faculdade de Teologia necessita de um planejamento<br />

permanente. Jamais pode descansar, pois surgirão,<br />

sempre de novo, outros desafios. Gostaríamos de abordar<br />

assuntos que facilmente podem ser transformados em projetos, a<br />

curto ou longo prazo. Segundo a nova filosofia da igreja, a<br />

preocupação com os seminários deve fazer parte e isto de maneira<br />

crescente, das reuniões distritais. Já existe um plano preventivo<br />

que tenta evitar surpresas. Entendemos que, futuramente,<br />

fará parte do planejamento orçamentário dos distritos e contribuição<br />

regular para os seminários teológicos, pois estes são<br />

da responsabilidade imediata da igreja. Por outro lado, os seminários<br />

deveriam ficar alertas e abertos para as necessidades<br />

da igreja. E isto significa uma melhor integração ou comunicação<br />

com os distritos. Na área da publicidade temos que aprender<br />

muito ainda. Deveríamos planejar, publicar ou executar as<br />

seguintes idéias: o uso dos seminários para retiros, reuniões ou<br />

outras atividades, visando o aperfeiçoamento dos santos; promovei<br />

muito mais o intercâmbio entre alunos, pastores e as próprias<br />

congregações, visando estudos bíblicos, palestras ou atividades<br />

evangelísticas ou missionárias. O envolvimento do aluno<br />

na vida congregacional é indispensável para a aprendizagem.<br />

Poderíamos fazer do intercâmbio entre os dois seminários (escolas<br />

de teologia) uma forma de trabalho ou convivência frutífera<br />

que promoveria o crescimento acadêmico e espiritual de ambas<br />

as partes interessadas. Os seminários deveriam combinar, ano<br />

por ano, quais os estudos específicos oferecidos. Necessitamos<br />

do intercâmbio entre as escolas teológicas luteranas na Europa<br />

e na América. Necessitamos de novos cursos em conformidade<br />

com as necessidades. Na área da literatura há muito o que fazer.<br />

Necessitamos do próprio intercâmbio de idéias entre a administração<br />

da igreja, dos distritos, dos seminários etc.<br />

História e trabalho da IELB<br />

IGREJA: A IELB comemora 85 anos. Quais suas observações<br />

iniciais?<br />

HORSCH: Queremos parabenizar a aniversariante. Acreditamos<br />

que oportunamente aparecerão artigos que tratarão<br />

IGREJA LUTERANA — Página 9


da história e da evolução da IELB. Queremos nos restringir e<br />

fazer algumas observações. Vivemos na época das migrações<br />

internas. A IELB acompanha, já há muito tempo, a saída de<br />

muitos colonos de um estado para outro. O pedido constante de<br />

atendimento espiritual fez a IELB cruzar fronteiras. O mesmo<br />

acontece com o êxodo rural. Muitos luteranos desaparecem nas<br />

grandes cidades brasileiras. Para as congregações destas cidades<br />

surge o dever de buscar e acolher estas "ovelhas perdidas".<br />

Isto requer planejamento e organização, mas também uma nova<br />

estruturação da vida congregacional. Concomitantemente com<br />

este processo, muitos luteranos tradicionais se afastaram de sua<br />

igreja. Outros, no entanto, buscaram novas formas de viver a<br />

fé cristã. Isto significa que a IELB do futuro sofrerá uma maior<br />

brasileirização.<br />

Independência<br />

IGREJA: E a independência da IELB. . .<br />

HORSCH: Ouço muitos "luteranos autênticos" dizerem que está<br />

na hora da IELB assumir a si mesmo como igreja.<br />

Outros dizem: "vamos viver como igreja aqui no Brasil e como<br />

uma igreja brasileira". Estas observações me fazem lembrar o<br />

que aprendi como estudante. Uma regra infalível para a independência<br />

de uma igreja é a sua auto-conservação (manutenção),<br />

auto-administração e auto-expansão. Medindo nossa atividade<br />

eclesial com esta regra, acredito que temos muito a aprender ou<br />

corrigir ainda. A história da igreja é algo fascinante. Ela torna<br />

evidente o que muitas vezes não conseguimos ou queremos enchergar.<br />

Acordei para a história quando precisei de relatos históricos.<br />

De repente, vi como é importante escrever e descrever<br />

acontecimentos que para a história da igreja são importantes.<br />

Eu gostaria de fazer um apelo a todos os membros da IELB:<br />

não esqueçam de escrever a história de sua congregação! Muitas<br />

pessoas idosas virão a faltar. Com estas pessoas desaparecerá<br />

talvez a única documentação que poderia testemunhar os acontecimentos<br />

que conduziram a origem da comunidade cristã nesta<br />

ou noutra região.<br />

Bênçãos<br />

IGREJA:<br />

Há bênçãos sobre a história da IELB?<br />

HORSCH: Falta uma análise da história da IELB. Foram escritos<br />

teses sobre certas épocas da igreja. Mas desco-<br />

Página 10 — IGREJA LUTERANA


nhecemos uma descrição abrangente da história da IELB. Isto<br />

poderia ser também um projeto dos nossos seminários. Fica<br />

aqui o registro e a esperança de que alguém comece a colher o<br />

material um dia. Acredito que nossa IELB foi muito abençoada<br />

por Deus. Quem tem olhos para ver, percebe que em tão pouco<br />

tempo a mensagem do evangelho de Cristo está sendo pregada<br />

e vivida pelo povo luterano em todo território nacional. O que<br />

foi entregue aos nossos pais e o que eles souberam guardar ou<br />

trabalhar como bom talento, nós, os herdeiros, teremos que<br />

assumir como compromisso perpétuo e obrigação, obedecendo à<br />

voz do Senhor da igreja que nos envia a anunciar o evangelho<br />

à todas as nações.<br />

L.<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Porventura poderia haver vantagem maior do que ser posto numa<br />

atividade que o próprio Cristo declarou prova de amor por ele?<br />

Crisóstomo (354-407) 0 Sacerdócio, p. 38<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Todas estas tarefas enumeradas facilmente poderiam ser empreendidas<br />

por súditos não só homens, mas também mulheres. Se, porém, se<br />

tratar de ser chefe de uma Igreja, de assumir a incumbência de cuidar<br />

de tantas almas, de tão grande missão deverão ser excluídas as mulheres<br />

todas e não poucos dos homens. Devem ser escolhidos somente aqueles<br />

que se sobressaem de maneira excepcional, que, em nobreza espiritual,<br />

superam a todos ainda mais do que Saul superava todo o povo hebraico<br />

em altura corporal.<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 40<br />

De maneira alguma pode-se permitir aos cristãos querer corrigir, à<br />

força, os erros dos pecadores. Não há ninguém que consiga curar um<br />

doente por coação e contra a vontade dele.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 42<br />

IGREJA LUTERANA — Página 11


HOMELÉTICA<br />

Estudos Homeléticos<br />

Epístolas Série Trienal C<br />

(2ª parte — final)<br />

Conforme prometido, concluímos nesta 1ª Edição/89 os<br />

Estudos Homiléticos sobre as Perícopes das Epístolas da Série<br />

Trienal C.<br />

Para a 2ª Edição/89 e a 1ª Edição/90 estão sendo preparados<br />

os Estudos Homiléticos sobre as Perícopes do Antigo Testamento<br />

(AT) da Série Trienal A. Portanto o novo ano eclesiástico<br />

(1º Dom. Advento, 03/12/89) poderá ser iniciado com<br />

sermões baseados cm Perícopes do AT da Série Trienal A — pois<br />

a Igreja Luterana estará oferecendo subsídios homiléticos. Além<br />

do eventual auxílio aos pregadores, estes Estudos Homiléticos são<br />

mais uma das diversas maneiras de dizer o que nós, aqui, na<br />

Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia, "cremos, ensinamos<br />

e confessamos". (L.)<br />

Contexto<br />

FESTA DE PENTECOSTES<br />

At 2.37-41<br />

Era o dia de Penlecostes. 50 dias após a Páscoa do AT.<br />

Jerusalém encontrava-se repleta de peregrinos, "de todas as nações<br />

debaixo do céu" (At 2.5). Neste dia estratégico, cumpriu-se<br />

a profecia de Joel (Jl 2.28-32) e do próprio Jesus (Jo 14.26).<br />

Os discípulos "ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a<br />

falar em outras línguas" (At 2.14). O objetivo era atingir a todos<br />

os peregrinos com a pregação (lei e evangelho) da palavra de<br />

Deus, "na sua própria língua materna" (At 2.8) para: 1) conscientizá-los<br />

que Deus estava se dirigindo individualmente a cada<br />

um deles; 2) para que realmente compreendessem e entendessem<br />

o conteúdo doutrinário da mensagem em sua língua; 3) e assim<br />

levassem es!a boa notícia das "grandezas de Deus" (At 2.11).<br />

Página 12 — IGREJA LUTERANA


aos seus respectivos lugares de procedência (At 2.9-11). A missão<br />

é obra de Deus (1 Tm 2.4); a Igreja, o seu instrumento<br />

(At 1.8).<br />

Texto<br />

O contexto dá a impressão que o sermão de Pedro e dos<br />

demais discípulos (At 2.14) foi interrompido pela inquietação da<br />

multidão. Uma vez que a pregação de Pentecostes "compungiu-se-lhes<br />

o coração" (At 2.37). Certamente parte da platéia<br />

havia participado, tanto do "Hosana ao Filho de Davi" (Mt 21.9),<br />

na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, como no "seja crucificado"<br />

(Mt 27.22), no dia do julgamento perante Pilatos. Pedro<br />

fora taxativos: "vós o matastes, crucificando-o" (At 2.23).<br />

A acusação de traição os deixara com remorso. Como enfrentar<br />

agora o juízo de Deus? Daí a angustiante pergunta: "Que faremos,<br />

irmãos?" (v. 37). Angústia de todo o pecador penitente<br />

atingido pela pregação da lei de Deus (At 22.10 e 16.30).<br />

"Arrependei-vos" — foi a pronta resposta dos discípulos.<br />

Nada de jejuns, peregrinações ou o inflingir-se de flagelos físicos,<br />

mas arrependimento. A base bíblica do arrependimento procede<br />

cio coração. É a metanóia do pensamento, das palavras e ações.<br />

É o chorar amargamente, a exemplo de Pedro (Mt 26.75). É a<br />

reparação e devolução da aquisição indevida, a exemplo de Zaqueu<br />

(Lc 19.8). É o humilde voltar ao lar paterno, a exemplo<br />

do filho pródigo (Lc 15.21). É o confessar os pecados a Deus, a<br />

exemplo de Davi (SI 51 c 32).<br />

Arrependimento, porém, ainda não significa fé e salvação.<br />

Daí a ênfase no sacramento do santo batismo: "e cada um de<br />

vós seja batizado" (v. 38). O "em nome de Jesus Cristo", corresponde<br />

a instituição do próprio Mestre (Mt 28.19). O "para<br />

remissão dos pecados", comprova o batismo como meio da graça<br />

pelo qual Deus transmite os méritos de Cristo, ou seja, remissão<br />

dos pecados, vida e salvação, a favor do batizado. O batismo é<br />

um meio de justificação (LC, Catecismo Maior, p. 474 ss). O<br />

"dom do Espírito Santo", é justamente esta fé (fiducia) no sacrifício<br />

vicário de Jesus (Ef 2.8,9). E assim o batizado torna-se<br />

morada do Espírito Santo (1 Co 5.19). Está completada a reconciliação<br />

entre o Criador e sua criatura. Por isto Jesus é chamado<br />

de "Autor da Salvação" (Hb 5.9) e "a nossa paz" (Ef 2.13-22).<br />

Esta "remissão dos pecados" não é restrita a uma determinada<br />

geração ou nacionalidade (no caso os judeus), mas constitui<br />

uma promessa (juramento) de Deus, "para vossos filhos<br />

(descendentes), e para todos os que ainda estão longe" (os pagãos).<br />

É uma confirmação da salvação universal efetuada por<br />

Cristo (Jo 3.16; 1 Tm 2.4). E assim, arrependimento e batismo.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 13


ou seja, a mesma pregação do dia de Pentecostes, deve ser levada<br />

'"a cada nação, e tribo, e língua e povo" (Ap 14.6). Uma vez que<br />

não há salvação em nenhum outro (At 4.12 e 1 Tm, 2.5).<br />

A advertência final: "Salvai-vos desta geração perversa"<br />

(v. 40), é uma severa exortação contra a impenitência e desprezo<br />

do batismo e suas bênçãos: a remissão dos pecados, vida e salvação.<br />

Também no dia de Pentecostes havia o grupo sempre<br />

presente dos zombadores (At 2.13), que sempre acompanha os<br />

passos da Igreja.<br />

Mas os quase três mil batizados, comprovam, por sua vez,<br />

o poder da palavra de Deus. Onde houver correta aplicação de<br />

lei e evangelho, cumpre-se a profecia de Is 55.11. O fruto do<br />

primeiro Pentecostes, sempre deve ser assim o grande alvo da<br />

Igreja, ou seja, a evangelização de cada nação, e tribo, e língua<br />

e povo (Ap 14.6). Pois para vós outros é a promessa, para vossos<br />

filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para<br />

quantos o Senhor- nosso Deus chamar" (v. 39).<br />

Disposição<br />

1<br />

QUE FAREMOS, IRMÃOS?<br />

I — Arrependei-vos dos pecados<br />

II — Deixai-vos batizar<br />

III — Crede em Jesus Cristo<br />

A GRANDE COMISSÃO INICIOU COM PENTECOSTES<br />

I — Porque os discípulos pregaram a palavra<br />

II — Porque a palavra pregada foi poderosa<br />

III — Porque a palavra pregada trouxe grandes bênçãos<br />

Walther O. Steyer<br />

Página 14 — IGREJA LUTERANA


FESTA DA SS. TRINDADE<br />

1° DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Rm 5.1-5<br />

Contexto<br />

Nem sempre éramos cristãos. Lembremo-nos do que aprendemos<br />

por ocasião da instrução de confirmandos (Catecismo<br />

Menor, perg. 181): "Creio, segundo a Escritura, que por natureza<br />

sou espiritualmente cego, morto e inimigo de Deus". O pecado<br />

afasta de Deus. Rompe com Deus. Condena à morte física<br />

e eterna. O homem não tem condições de, pela sua própria força,<br />

capacidade, inteligência, salvar-se desta condenação eterna (Ef<br />

2.1). Primeiramente, ele nem quer esta salvação. Minimiza o<br />

pecado e suas conseqüências. Segundo, quando a consciência o<br />

acusa, julga-se apto de contornar a realidade de pecado, condenação<br />

eterna, mediante processos pessoais e religiões humanas.<br />

Texto<br />

Nem sempre éramos cristãos. Agora o somos. Por quê?<br />

Porque Deus veio ao nosso encontro e nos convidou: "Vinde,<br />

porque tudo já está preparado" (Lc 14.17). Apenas Jesus é o<br />

caminho, e a verdade, e a vida. Sem Jesus ninguém vem ao Pai<br />

(Jo 14.6). Segundo o plano da SS. Trindade, coube à segunda<br />

Pessoa, Jesus Cristo, justificar o homem perante Deus (v. 1). Na<br />

verdade, caberia ao próprio homem salvar-se. Como para o<br />

homem isto era impossível, a segunda pessoa da SS. Trindade<br />

assumiu esta responsabilidade para, em lugar do homem, como<br />

substituto do homem, cumprir a lei (os dez mandamentos), padecer<br />

e morrer, "para que, por sua morte, destruísse aquele que<br />

tem o poder da morte, a saber, o diabo" (Hb 2.14). E sendo<br />

também verdadeiro Deus, venceu o inimigo maligno, pela sua<br />

gloriosa ressurreição (Lc 24.5,6). Assim, através de sua vida<br />

santa e sacrifício vicário, expiou a ira de Deus, ou seja, satisfez<br />

as exigências de Deus quanto à salvação do homem pecador.<br />

Através deste sacrifício vicário de Jesus, Deus agora justifica<br />

o pecador. Deus lhe atribui os méritos de Cristo. Ele é<br />

justificado. Declarado justo. E com esta declaração, há paz.<br />

Reconciliação. A imagem divina foi, parcialmente, estabelecida.<br />

O cristão sabe e crê que tudo deve unicamente a Cristo. Jesus<br />

possibilitou o acesso ao Pai (Jo 10.9; 1 Tm 2.5). Jesus possibilitou<br />

este convívio íntimo com o Deus triúno, que permite chamar<br />

Deus de Pai (Lc 11.2), Jesus, de irmão (Mt 12.50; Mt 25.40;<br />

IGREJA LUTERANA — Página 15


Mt 28.10); e o Espírito Santo, de Consolador (Jo 15.26), nobre<br />

Ensinador (Hinário Luterano, hino n. 140, cf. Lc 12.12). Tudo<br />

isto é graça. A salvação é graça (Jo 3.16; 1 Jo 4.9; Ef 2.8,9;<br />

Rm 3.24). O relacionamento paternal e filial, entre Deus e o<br />

cristão (1 Jo 3.1), é graça (Rm 8.15). O próprio estar firme e<br />

convicto nesta graça, é também graça (At 4.12; Jo 19.25-27; 2<br />

Co 4.13). Esta fé em, Jesus é a força dos cristãos (Hb 11.1).<br />

Assim o "gloriar-se na esperança da glória de Deus" é a certeza<br />

da herança celestial (1 Pe 1.3,4).<br />

Neste embasamento espiritual, construído pela ação do Espírito<br />

Santo, através da palavra e dos sacramentos, o cristão<br />

enfrenta as tribulações (doenças, conflitos, perseguições, angústias,<br />

adversidades, problemas materiais e familiares...) O cristão,<br />

pelo estudo da palavra de Deus, e pela oração, e pela experiência,<br />

compreende que tribulações contribuem para seu crescimenío<br />

espiritual. Não como obra meritória, visto que Cristo o<br />

salvou completamente, mas a tribulação produz a necessária perseverança.<br />

Tão decisiva na vida cristã (Ap 3.11; Ap 2.10; Mt<br />

10.22). A perseverança é a comprovação da fé genuína, "fé sem<br />

fingimento" (2 Tm 1.5). Permite também falar com autoridade<br />

para, através do exemplo, fortalecer, encorajar os demais irmãos<br />

atribulados (2 Co 8.2).<br />

Esta esperança em Deus, mesmo na tribulação, "não confunde<br />

" (v. 5), não falha, não engana, não nos desampara. O<br />

auxílio e socorro de Deus sempre acontecem, a seu tempo e a<br />

seu modo. Compete ao cristão orar: "Seja feita a tua vontade".<br />

"Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado"<br />

(decepcionado) (SI 25.3). Deus sempre cumpre as suas promessas.<br />

Assim nas próprias tribulações, o cristão pode gloriar-se,<br />

pois além de lhe fortalecerem a fé, aproximam-no mais de Deus,<br />

seu Pai, de Jesus, seu Redentor, do Espírito Santo, seu Santificador.<br />

São por outro, um sinal visível perante o mundo, um<br />

testemunho de fé autêntica.<br />

Esta certeza inabalável do amor de Deus foi "derramado"<br />

no coração do cristão pelo Espírito Santo, que lhe foi outorgado<br />

por ocasião do seu batismo. Na explicação do Terceiro Artigo,<br />

Lutero mostra as diferentes etapas com que o Espírito Santo<br />

trabalha junto ao cristão: chama, congrega, ilumina e santifica<br />

e conserva na fé verdadeira.<br />

Este amor do Deus triúno nos dá alento, força e ânimo<br />

na tribulação ser perseverantes, e esta perseverança nos dará<br />

experiência (amadurecimento espiritual), e nesta experiência<br />

adquirimos esperança da glória de Deus. Uma vez que "se com<br />

ele sofrermos, para que também com ele sejamos glorificados"<br />

(Rm 2.17).<br />

Página 16 — IGREJA LUTERANA


Disposição<br />

1<br />

A SS. TRINDADE TRABALHA EM NOSSO FAVOR<br />

I — Procurando remover nossos pecados<br />

II — Promovendo a nossa justificação pela fé<br />

III — Dando-nos perseverança, experiência e, esperança<br />

IV — Concedendo-nos a presença do Espírito Santo<br />

2<br />

O DEUS TRIÚNO É UM DEUS GLORIOSO<br />

I — Porque ele nos justifica por amor<br />

II — Porque ele nos ampara nas dificuldades<br />

III — Porque ele nos dá um amor novo<br />

Walther O. Steyer<br />

Contexto<br />

2" DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Gl 1.1-10<br />

A carta circular de Paulo, "às igrejas da Galácia" (Gl 1.2),<br />

provavelmente foi escrita da cidade de Éfeso, no verão de 55 d.c.<br />

(ou de Corinto, ano 50). Estas igrejas (Antioquia da Pisídia,<br />

Icônio, Listra e Derbe (At 13.14), foram fundadas por Paulo na<br />

sua primeira viagem missionária e visitadas por ele novamente<br />

na sua segunda (At 15.36 e 16.1 e 6).<br />

Foi muito difícil para Paulo e Barnabé fundar estas igrejas.<br />

A oposição foi acirrada. Em Antioquia, onde Paulo proferiu um<br />

dos seus mais vigorosos sermões, o sucesso foi tremendo. Mas os<br />

judeus, "vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando,<br />

contradiziam o que Paulo falava" (At 13.45). Em Icônio,<br />

Paulo e Barnabé, "falaram de tal modo que veio a crer grande<br />

multidão, tanto de judeus como de gregos" (At 14.1). Mas também<br />

aqui, "os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos<br />

dos gentios contra os irmãos" (At 14.2). Em Listra, após a cura<br />

de um aleijado, e grande repercussão deste milagre, os judeus<br />

procedentes de Antioquia e Icônio instigaram as multidões, "e<br />

apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade dando-o<br />

por morto" (At 14.19).<br />

IGREJA LUTERANA — Página 17


A persistência de Paulo e Barnabé, no entanto, garantiu a<br />

fundação destas igrejas. Não cederam espaço ao inimigo malgino.<br />

Mesmo perseguidos, apedrejados e sob grande perigo de<br />

vida, retornaram ousadamente a Listra, Icônio e Antioquia, fortalecendo<br />

os irmãos, exortando-os a permanecer firmes na fé,<br />

"e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa<br />

entrar no reino de Deus" (At 14.21,22). E para suprir a ausência<br />

deles (Paulo e Barnabé), uma vez que eram missionários<br />

itinerantes, promoveram entre eles a eleição de presbíteros e os<br />

encomendaram ao Senhor em quem li aviam crido (At 14.23).<br />

Entrementes, o inimigo maligno também não se deu por<br />

vencido. Pelo contrário, a ausência agora de Paulo e Barnabé,<br />

lhe deu ensejo de executar seu plano destruidor. As recém fundadas<br />

congregações sofreram o ataque dos assim chamados judaizantes.<br />

Partido que queria transformar o cristianismo numa<br />

seita judaica, ou seja, exigir especialmente dos cristãos de origem<br />

gentílica, o cumprimento de leis, ritos, tradições judaicas, como<br />

por exemplo, a circuncisão. A doutrina que pregavam achamos<br />

registrada em At 15.1: "Se não vos circuncidardes segundo o<br />

costume de Moisés, não podeis ser salvos". E para se promoverem<br />

especialmente perante os judeus convertidos ao cristianismo,<br />

e confundi-los na sua fé, atacaram a pessoa de Paulo. Segundo<br />

os judaizantes, Paulo não era um apóstolo, uma vez que não<br />

fazia parte do grupo original dos doze (Lc 6.13). Conseqüentemente,<br />

segundo eles, Paulo carecia de autoridade, conhecimento<br />

doutrinário e credibilidade.<br />

Texto<br />

Infelizmente, as igrejas da Galácia, deixaram-se iludir pelos<br />

judaizantes. Ingenuamente lhes deram crédito. Abandonaram<br />

o evangelho da graça em Cristo e seguiram as práticas da<br />

lei mosaica. Paulo passa então a escrever-lhes. A epístola é<br />

mais que uma advertência. Na verdade Paulo, ao contrário das<br />

suas demais epístolas, repreende severamente as igrejas da Galácia.<br />

Extravasa toda a sua decepção com a inconstância espiritual<br />

dos gálatas, que tão estupidamente passaram "para outro evangelho"<br />

(v. 6). A severa repreensão de Paulo faz sentido. Trata-se<br />

de doutrina e não de uma prática de santificação. A doutrina<br />

da justificação (v. 4 e 5) estava sendo desprezada pelas<br />

igrejas da Galácia. Por isto mesmo Paulo usa de tanta severidade,<br />

franqueza, objetividade, para mostrar que se os gálatas<br />

voltassem ou seguissem a lei mosaica, não seriam salvos (Gl 5.4<br />

e 9), e todo o seu trabalho e sofrimento a favor dos gálatas teria<br />

sido em vão (Gl 4.11). E assim Paulo faz um último esforço e<br />

tentativa para convencer os gálatas da autenticidade do seu apostolado<br />

(v. 1 e 2), e do próprio evangelho por ele anunciado (v.<br />

Página 18 — IGREJA LUTERANA


8 e 9). Não há outro evangelho, a não ser este da graça de<br />

Cristo (v. 4 e 6; cf. At 2.36 e Dt 4.2; Jo 8.31; Ap 22.18,19). Por<br />

isto mesmo, ele, Paulo é servo de Cristo. A serviço do único<br />

Salvador. A sua pregação, portanto, é a pregação de Jesus, e<br />

Paulo seu apóstolo.<br />

Disposição<br />

1<br />

EU SOU SERVO DE CRISTO JESUS<br />

I — Porque fui chamado para o ministério<br />

II — Porque eu anuncio o único evangelho<br />

III — Porque eu recebi autoridade para repreender<br />

2<br />

SEJA<br />

ANÁTEMA<br />

I — Quem procurar e pregar "outros evangelhos"<br />

II — Quem desprezar e rejeitar o "único evangelho de<br />

Cristo".<br />

Walther O. Steyer<br />

Contexto<br />

3º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Gl 1.11-24<br />

1. O texto é a segunda epístola, numa série de seis (2º ao<br />

7º domingo após Pentecostes), extraída de Gálatas. Ainda é tempo<br />

de pregar uma série de sermões sobre essa epístola que Lutero<br />

chamava de "minha Catarina von Bora".<br />

2. Gálatas não é poesia; é brado de guerra. Basta conferir<br />

Gl 3.1-5 e Gl 5.7-12. Os textos escolhidos na série trienal são<br />

mais serenos e calmos, embora sejam representativos do todo.<br />

Os seis textos tirados de Gálatas trazem assuntos apropriados ao<br />

tempo de Pentecostes c ajudam o pregador a anunciar todo o<br />

desígnio de Deus (e não apenas alguns assuntos prediletos).<br />

3. Que ênfase do texto poderia interessar a meu ouvinte e<br />

a mim? Que é que ele precisa ouvir? Que parte devo enfatizar?<br />

À primeira vista o texto parece interessar mais a biógrafos de<br />

Paulo, lançando luz sobre um período da vida do apóstolo a<br />

IGREJA LUTERANA — Página 19


espeito do qual sabemos menos do que gostaríamos de saber.<br />

Confira, por exemplo, o título na Bíblia na Linguagem de Hoje:<br />

"Como Paulo se tornou apóstolo". Seria até possível discorrer<br />

sobre a vida de Paulo. No entanto, levando em conta o objetivo<br />

de Paulo no texto — mostrar que o evangelho e sua missão apostólica<br />

não podem ser qualificados como sendo de segunda mão —<br />

sugerimos um tema relacionado com "o evangelho".<br />

1. Os demais textos litúrgicos do domingo (SI 116.1-9;<br />

1 Rs 17.17-24; Lc 7.11-17) favorecem o tratamento do tema "evangelho".<br />

Afinal, livrar a alma da morte (SI 116.8) e devolver a<br />

vida (tipificando a ressurreição de Cristo e também a nossa — 1<br />

Rs 17 e Lc 7) são evangelho no melhor sentido da palavra.<br />

Texto<br />

5. Algumas observações podem ajudar a entender o texto:<br />

a) um evangelho "segundo o homem" (kata anthropon, v. 11)<br />

seria um evangelho "de inspiração humana", uma "invenção<br />

humana" (BLH); b) Paulo tem o evangelho "mediante revelação<br />

de Jesus Cristo" (v. 12). "De Jesus Cristo" é ambíguo. Pode<br />

ser "revelação da qual Jesus Cristo foi o autor" (cf. BLH), ou<br />

revelação da qual Jesus Cristo foi o conteúdo. Também é possível<br />

entender como revelação da qual Jesus Cristo foi ao mesmo<br />

tempo autor e conteúdo (cf. nota na Bíblia de Jerusalém); c)<br />

"Tradição de meus pais" (v. 14) refere-se "ao corpo de ensino<br />

oral que era complementar à lei escrita e possuía igual autoridade"<br />

(Chave Lingüística, p. 371); d) "Revelar seu Filho em<br />

mim" (v. 16) pode também ser traduzido "me revelar seu Filho"<br />

(BLH). A locução en emoi permite isto; e) Consultar "carne e<br />

sangue" (v. 16) é forma semítica de dizer "procurar conselho<br />

de alguém"; f) "Glorificavam a Deus a meu respeito" (v. 24)<br />

pode ser traduzido "e viram em mim razão para glorificar a<br />

Deus". Relacionar, a propósito, a conclusão do evangelho do<br />

dia (Lc 7.16).<br />

6. Ao estudarmos o conceito "evangelho", precisamos começar<br />

pelo que o próprio texto diz a respeito. Paulo fala do<br />

"evangelho por mim anunciado" (v. 11) e dele se diz que "evangeliza<br />

a fé" (v. 23). Isto lembra que, mesmo sendo um depósito<br />

a ser guardado (1 Tm 6.20), o evangelho é, antes de tudo, uma<br />

viva vox, uma mensagem proclamada. O texto diz mais: o evangelho<br />

não é "segundo o homem"; não era, na experiência do<br />

apóstolo, uma simples tradição recebida (v. 12: parélabon — o<br />

verbo paralambano era termo técnico para transmissão de tradições);<br />

o evangelho apostólico é revelação de Jesus Cristo; o<br />

evangelho não tem nada a ver com o ser "zeloso das tradições<br />

Página 20<br />

IGREJA LUTERANA


de meus pais" (v. 14) e tem tudo a ver com a graça divina (v. 15).<br />

7. Num segundo momento, interessa o que o apóstolo tem<br />

a dizer sobre euangelion em toda a carta aos Gálatas. Pode-se<br />

começar (não, todavia, parar) com as passagens em que ocorre<br />

o termo "evangelho": Gl 1.6,7,11; 2.2,5,7,14.<br />

8. Interessa igualmente o conceito "evangelho" em Paulo.<br />

Seguem algumas afirmações tiradas do Dicionário Internacional<br />

de Teologia do Novo Testamento (vol. II, p. 169-171): "Há boa<br />

razão para se acreditar que foi Paulo quem estabeleceu o termo<br />

euangelion no vocabulário do NT" (p. 170). "Em Paulo, euangelion<br />

ficou sendo um conceito central da sua teologia. Significa<br />

as boas-novas conhecidas: que Deus agiu em prol da salvação<br />

do mundo na encarnação, morte e ressurreição de Jesus" (p.<br />

170). "Euangelion, conforme Paulo o prega, não significa apenas<br />

o comentário daquilo que é pregado, como também o ato, o processo<br />

e a execução da proclamação. O conteúdo da pregação e<br />

o seu processo são a mesma coisa. ...Isto porque, no próprio<br />

ato da proelamação, seu conteúdo fica sendo a realidade e leva<br />

a efeito a salvação que ela contém" (p. 170-171).<br />

Disposição<br />

CREIA E PROCLAME O EVANGELHO<br />

I — Que não é invenção ou tradição humana<br />

II — Que é revelação de Jesus Cristo (Cristo é autor e conteúdo)<br />

III — Que é chamado gracioso de Deus dirigido a todos<br />

Vilson<br />

Scholz<br />

4º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Gl 2.11-21<br />

Contexto<br />

1. A perícope encerra três núcleos temáticos estreitamente<br />

relacionados: a) Paulo repreende Pedro; b) justificação pela fé;<br />

c) vida para Deus. Resta saber que aspecto ou tema enfatizar<br />

neste domingo.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 21


2. Levando em conta a época litúrgica e a unidade do<br />

culto (a ênfase das demais leituras), fica claro que a ênfase<br />

deveria recair sobre os versículos 15 a 18: a justificação pela fé.<br />

O Salmo 32, 2 Sm 11 a 12 e Lucas 7.36-50 enfatizam o perdão,<br />

que é sinônimo de justificação.<br />

3. Sugerir um sermão com ênfase na justificação pela fé<br />

não soa bem aos ouvidos de muitos (pregadores em especial).<br />

Não faltam justificativas de que já se pregou demais justificação<br />

na igreja luterana e que é chegado o momento de pregar<br />

santificação. Um tal "esboço de heresia" não precisa ser aqui<br />

refutado. Basta mencionar que, se fizéssemos uma pesquisa entre<br />

luteranos, ficaríamos alarmados em ver quão pouco a justificação<br />

pela fé em Cristo, o artigo sobre o qual a igreja se mantém<br />

de pé ou sucumbe, é crida, valorizada, entendida, aplicada.<br />

Nunca é demais expor o evangelho da justificação. Sem isso não<br />

haverá verdadeira vida cristã.<br />

Texto<br />

4. Algumas observações, para melhor compreensão do texto:<br />

a) não é fácil de traduzir o versículo 11, como o indicam<br />

as diferentes versões: "resisti-lhe face a face, porque se tornara<br />

repreensível" (Almeida), "eu o repreendi em público, porque ele<br />

estava inteiramente errado" (BLH), "eu o enfrentei abertamente,<br />

porque ele se tinha tornado digno de censura" (Bíblia de Jerusalém)<br />

; b) "gentios" (v. 12) e "judeus" (v. 13) são respectivamente<br />

"irmãos que não eram judeus" e "irmãos judeus" (cf.<br />

BLH); c) é difícil dizer onde terminam as palavras de Paulo<br />

dirigidas a Pedro (v. 14). Tudo indica que no versículo 15<br />

Paulo está outra vez falando aos judaizantes da Galácia; d) nos<br />

versículos 16 e 17 aparecem quatro formas do verbo dikaioo<br />

("justificar"): "é justificado", "fôssemos justificados", "será justificado",<br />

"ser justificado". Em todos os casos temos a voz passiva,<br />

mostrando que "ninguém se justifica, mas é declarado justo<br />

por outra pessoa" {Chave Lingüística, p. 374).<br />

5. Importante é atentar para o que o texto diz de Cristo.<br />

Ele não é ministro (diakonos) do pecado (apesar de eu descobrir,<br />

ao ser por ele justificado, que sou somente e apenas pecador<br />

— v. 17). Cristo é o Filho de Deus, que me amou e a si<br />

mesmo se entregou por mim (v. 20). Este é o Cristo em que se<br />

crê para a justificação (v. 16).<br />

6. Quem tem acesso a uma edição grega de Nestle-Aland<br />

encontrará, à margem do v. 16, uma "mina" de passagens bíblicas,<br />

todas relacionadas com justificação. São elas: Gl 3.2; Rm<br />

3.28; Gl 3.8,24; Rm 4.5; Rm 5.1; Ef 2,8,9; Fp 3.9. Por aí se<br />

Página 22<br />

IGREJA LUTERANA


pode ver que o apóstolo aborda a justificação — ao menos sob<br />

este nome — apenas em Gl, Rm, Ef e Fp.<br />

7. Justificação é o conceito-cbave neste estudo. Algumas<br />

anotações são oportunas: "É Paulo quem faz o emprego mais<br />

freqüente deste grupo inteiro de palavras (justo, justificação,<br />

etc), dando-lhe sua gama mais larga de sentidos. De todos os<br />

escritores do NT, é ele quem estabelece a conexão mais estreita<br />

com o AT, ao falar da justiça de Deus, e da justificação dos pecadores,<br />

da parte de Deus. A justiça de Deus é essencialmente<br />

Seu modo de tratar seu povo, baseado na Sua aliança, que assim<br />

se constitui em uma nova humanidade..." (Dicionário Internacional<br />

de Teologia do Novo Testamento, vol. II, p. 537). Que se<br />

entende por "justiça de Deus" no AT? "A justiça de Deus aparece<br />

no Seu modo divino de tratar com Seu povo, i.e., na redenção<br />

e na salvação" (Ibid., p. 529). "A justiça de Deus é, realmente,<br />

a própria em si" (Ibid.). "O AT nunca identifica a<br />

justiça com a condenação" (Ibid.) / Alguns apontamentos tirados<br />

de The Apostolic Preaching of the Cross, de Leon Morris: "No<br />

AT o justo é aquele que é aceito diante de Deus" (p. 269) ."O<br />

que São Paulo entende por justificação é simplesmente o perdão<br />

dos pecados expresso em linguagem jurídica (forense)" (p. 284).<br />

"Muitas vezes se diz que falar de 'justificação pela fé' é empregar<br />

linguagem que não faz sentido para o homem moderno. O que<br />

se esquece é que tal linguagem também não fazia sentido para<br />

o contemporâneo de Paulo, a não ser quando o evangelho a tornava<br />

significativa" (p. 287). "Justificação é o nome que, na<br />

Bíblia, se dá a uma mudança de estado, não mudança de natureza"<br />

(p. 291).<br />

Disposição<br />

Pregar a justificação pela fé é um renovado desafio. Justificar<br />

tem outros sentidos em linguagem coloquial: apresentar<br />

desculpas, explicar, etc. Por isso a Bíblia na Linguagem de Hoje<br />

traduz dikaioo (justificar) por "ser aceito por Deus".<br />

A melhor maneira de pregar a justificação é fazê-lo sem<br />

empregar o termo, usando, de preferência, exemplos. A leitura<br />

do AT e o evangelho desse domingo são um excelente ponto de<br />

partida.<br />

Nosso objetivo deveria ser, não dar uma aula sobre justificação,<br />

mas fazer do sermão viva vox evangelii. Em outras palavras:<br />

mais do que conhecer os contornos da doutrina, o ouvinte<br />

precisa saber e crer que, em Cristo, pela fé, também ele é aceito<br />

por Deus e que suas boas intenções, sua dedicação ao trabalho<br />

da igreja, sua freqüência aos cultos, e tudo mais que se quiser<br />

enumerar não podem contribuir em nada neste sentido.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 23


VOCÊ É ACEITO POR DEUS<br />

I — Nunca por fazer o que a Lei manda<br />

II — Unicamente pela fé em Jesus Cristo<br />

Vilson Scholz<br />

Contexto<br />

5º DOM, APÓS PENTECOSTES<br />

Gl 3.23-29<br />

1. Gálatas 3.23-29 é um dos textos mais conhecidos e citados<br />

desta epístola. Especialmente o versículo 29 — "não pode<br />

haver... homem nem mulher" — aparece sempre de novo em<br />

tentativas de justificar a ordenação de mulheres. O pregador<br />

talvez não queira levar este dehate ao púlpito, mas não custa<br />

estar informado e de sobreaviso.<br />

2. Na Almeida Revista e Atualizada a perícope aparece<br />

como um só parágrafo, sob o título: "A tutela da lei para nos<br />

conduzir a Cristo". A Bíblia na Linguagem de Hoje apresenta<br />

a perícope em dois parágrafos (v. 23-25 e v. 20-29), inseridos<br />

numa secção maior (v. 21 a 29) intitulada "O objetivo da Lei".<br />

A Bíblia de Jerusalém, dá a nosso texto o título de "Advento da<br />

fé". Este é, por certo, o ponto alto de texto.<br />

Texto<br />

3. Algumas observações, para auxiliar na compreensão do<br />

texto: a) "antes que viesse a fé" (v. 23) — De que fé se está falando?<br />

É "o tempo da fé" (BLH), o tempo da nova aliança em<br />

que, pela fé, somos descendentes de Abraão e filhos de Deus.<br />

Fé, neste caso, opõe-se a lei e é, praticamente, o mesmo que<br />

Cristo. Comparar, neste sentido, Gl 4.4: Cristo é enviado (a fé<br />

veio), e tomou nosso lugar sob a lei; b) Com o "estávamos sob<br />

a tutela da lei", "nela encerrados", e com o termo "aio", Paulo<br />

fala da natureza subordinada e provisória da ação da lei; c) A<br />

lei serviu de aio (v. 24, 25). O termo grego é paidagogós, que é<br />

transliterado na Bíblia de Jerusalém: "nedagogo". A Bíblia na<br />

Linguagem de Hoje traduz por "guia". A imagem é a do escravo<br />

encarregado de conduzir os filhos de seu senhor ao mestre, ocasião<br />

em que terminava sua missão ou tarefa; d) "A lei nos serviu<br />

de aio para nos conduzir a Cristo" (v. 24), até que viesse a<br />

Página 24 — IGREJA LUTERANA


fé. Aqui Paulo parece pensar mais em termos de Heüsgeschichte,<br />

ou seja, o povo de Deus do Antigo Testamento sob a tutela da<br />

lei antes da vinda de Cristo, e não tanto em indivíduos sob a lei<br />

antes de pessoalmente crerem em Cristo. Desse último aspecto<br />

o apóstolo passa a falar no v. 26; c) "A fim de que fôssemos<br />

justificados por fé" (v. 24b) — Retorna o tema abordado em<br />

Gl 2.16; f) "Filhos de Deus mediante a fé em Cristo... fostes<br />

batizados em Cristo" (v. 26, 27) — Fé e batismo estão intimamente<br />

ligados. O batismo é o sacramento da justificação, o sacramento<br />

da fé. A fé não resulta de uma experiência mística,<br />

mas é criada no batismo; g) "Filhos de Deus" (v. 26) — Para<br />

este conceito, conferir Gl 4.5 e Rm 8.14, onde Paulo inclui o Espírito<br />

Santo SS; h) Este texto, como, de resto, toda a carta aos<br />

Gálatas, pode e precisa ser estudado em paralelo com a carta<br />

aos Romanos; i) "De Cristo vos revestistes" (v. 27b) — Conferir<br />

Rm 13.14 e Ef 4.24 (o "novo homem" tem tudo a ver com Cristo!);<br />

j) O v. 28a encontra paralelos em Gl 6.15, Rm 10.12, 1 Co<br />

12.13, e Cl 3.11; 1) "Nem homem nem mulher" (v. 28) — 0<br />

texto não pode ser ignorado, tampouco transformado em "chave<br />

hermenêutica" ano abre o sentido ou permite rejeitar as demais<br />

afirmações da Escritura sobre a questão da ordenação de mulheres<br />

ao ministério. Deve-se considerar o contexto de Gálatas,<br />

ouvir o que o texto diz, e respeitar o texto naquilo que não diz.<br />

Vista no contexto, a afirmação do apóstolo esclarece que "do<br />

ponto de vista da redenção em Cristo e dos dons do Espírito por<br />

Ele concedidos, não existe favoritismo do judeu em relação ao<br />

grego (gentio), do senhor em relação ao escravo, do homem em<br />

relação à mulher" (RIDDERBOS, Herman N. The Epistle of Paul<br />

to the Churches of Galatia, p. 149). O texto não ensina, como<br />

se insiste em afirmar, que as diferenças naturais (homem/mulher)<br />

e sociais (senhor/escravo, judeu/gentio) simplesmente deixaram<br />

de existir. Afinal, as mesmas são levadas em conta por<br />

textos como Ef 6.5; 1 Tm 6.1; Tt 2.9; 1 Pe 2.18; 1 Co 11.3; 1 Co<br />

14.34,35; 1 Tm 2.11; Gl 3.28, portanto, não pode ser usado como<br />

texto definitivo para a questão "ordenação de mulheres". A argumentação<br />

é a seguinte: "Somos um em Cristo; as mulheres<br />

estão na fé em Cristo; logo, deveriam ser ordenadas também".<br />

Tal argumentação não é legítima, como mostra o seguinte reduetio<br />

ad absurdum: "Todos somos um em Cristo; as crianças<br />

estão em Cristo, pela fé; logo, também crianças deveriam ser<br />

ordenadas..."; m) O indicativo "todos vós sois um em Cristo<br />

Jesus" (v. 28b) aparece como subjuntivo cm Jo 17.11,21: "para<br />

que todos sejam um".<br />

Disposição<br />

Sugerimos enfatizar o ensino dos versículos 26 a 29, especialmente<br />

o que diz respeito ao batismo:<br />

IGREJA LUTERANA — Página 25


COMO BATIZADOS EM CRISTO<br />

I — Vocês são de Cristo (v. 29) e são aceitos por Deus por<br />

meio da fé (v. 24)<br />

II — Vocês são filhos de Deus (v. 26) e estão livres do<br />

"pedagogo"<br />

III — Vocês se revestiram de Cristo (v. 27) e são um em<br />

Cristo Jesus (v. 28).<br />

Vilson Scholz<br />

Contexto<br />

6º DOM. APÔS PENTECOSTES<br />

Gl 5.1,13-25<br />

1 . A carta aos Gálatas é a epístola que Lutero chama de<br />

"minha própria pequena epístola". Fala da graça e da fé: sola<br />

gratia e sola fide. É a epístola que coloca claramente o simul<br />

iustus et peccator. Por graça o Espírito Santo nos dá a fé que<br />

nos declara justos pelo evangelho, embora ainda sejamos pecadores<br />

sob o ponto de vista da lei. Pela fé o Espírito Santo nos<br />

dá a vida em liberdade.<br />

2. A perícope cabe bem no período de Pentecostes em<br />

vista desta obra do Espírito Santo pelo poder do evangelho. Não<br />

somente dá a evidência de sua presença pela língua de fogo no<br />

Pentecostes, mas continua a garantir a vida em liberdade que<br />

se manifesta nos maravilhosos "frutos do Espírito" (v. 22).<br />

Texto<br />

3. A vida em liberdade significa liberdade da culpa do<br />

pecado, liberdade para dizer não ao pecado, liberdade para viver<br />

no mundo da maravilhosa criação de Deus, liberdade para viver<br />

nas diferentes ordens sociais, liberdade para servir a Deus, liberdade<br />

para servir ao próximo pelo trabalho de amor de cada<br />

dia (v. 1 e 13).<br />

4. A vida em liberdade não significa uma vida em licenciosidade.<br />

As "obras da carne" escravizam (v. 19) e nos fazem<br />

perder a liberdade. Quem é livre não pode voltar ao jugo de<br />

escravidão. Esta escravidão pode ser criada por aqueles que<br />

querem obrigar os cristãos pela lei, que querem restaurar velhos<br />

Página 26 — IGREJA LUTERANA


modelos superados pela obra de Cristo, que querem proclamar<br />

uma falsa liberdade da lei que leve às "obras da carne" e da<br />

licenciosidade.<br />

5. Quem foi libertado pelo Espírito Santo pela fé precisa<br />

conservar a liberdade. "Se vivemos no Espírito, andemos também<br />

no Espírito" (v. 25). Esta liberdade se manifesta pelo amor<br />

que serve o próximo (vv. 13, 1). "Somos livres para servir" é<br />

um excelente lema para a verdadeira vida de mordomia c serviço<br />

cristãos.<br />

6. "Carne" não é o mundo físico, mas a nossa natureza<br />

pecaminosa (v. 13). Não pode continuar qualquer destruição<br />

mútua (v. 15), mas amor (v. 14). A "carne" se opõe ao Espírito,<br />

mas o Espírito Santo nos dá vitórias (vv. 18, 24, 25). O mundo é<br />

um mundo lindo que podemos usufruir, desde que nos afastemos<br />

a lista de "obras da carne". Nada tem a ver com o reino de<br />

Deus (v. 21).<br />

7. Os "frutos do Espírito" são lindos. São sentimentos,<br />

como o amor, a alegria, a paz. São qualidades para conviver<br />

com o próximo, como longanimidade (paciência), benignidade<br />

(ternura), e bondade. São princípios básicos para a conduta do<br />

cristão, como a fidelidade, a mansidão (amabilidade), e o domínio<br />

próprio (auto-controle). Para que os "frutos do Espírito"<br />

possam aparecer é necessário crucificar a "carne" (v. 24). Este<br />

é o contínuo "exercício da fé", quando vivemos em contínuo<br />

arrependimento e fé.<br />

Disposição<br />

Introdução: O apóstolo insiste na necessidade de "permanecer<br />

firmes" na liberdade (v. 1). Por quê é importante? Que<br />

liberdade é essa? Como podemos obtê-la?<br />

NOSSA<br />

LIBERDADE EM CRISTO<br />

I. Precisamos desta liberdade.<br />

a. A lei nos acusa e não pode dar esta liberdade.<br />

1. Exemplos da Escritura e da vida.<br />

2. Gálatas 5.1,17,19 mostram esta escravidão.<br />

b. Somente pela graça, somente pela fé, somente por Cristo<br />

há liberdade.<br />

1. Esta é a promessa de. toda a Escritura.<br />

2. Cristo nos deu a liberdade por sua morte e ressurreição.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 27


3. O Espírito Santo nos dá e garante a liberdade pelo<br />

poder do evangelho e dos sacramentos.<br />

II.<br />

Que liberdade é esta?<br />

a. Não é licenciosidade. As "obras da carne".<br />

b. Liberdade é servir os outros em amor. Os "frutos do<br />

Espírito".<br />

c. É a liberdade que o Espírito Santo dá pela fé para<br />

resistir à carne e ao mal (injustiça, indiferença, cobiça).<br />

III.<br />

Os meios que nos dão a liberdade.<br />

a. 0 Espírito Santo nos dá nova vida. É o Senhor e doador<br />

da vida (Credo Niceno).<br />

b. O Espírito Santo luta contra a "carne". Mas devemos<br />

andar no Espírito pelo arrependimento e pela fé.<br />

c. A garantia está na ressurreição de Cristo:<br />

tência.<br />

nova exis­<br />

Somos livres para deci­<br />

Conclusão: Andemos no Espírito.<br />

dirmos a favor e com o Espírito.<br />

Martim C. Warth<br />

7º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Gl 6.1-10,14-16<br />

Contexto<br />

1. Esta perícope fala da vida cristã no mundo de Deus.<br />

A base de toda a vida cristã é "ser nova criatura" (v. 15). Quem<br />

é o "Senhor e Doador da vida" (Credo Niceno) é o Espírito<br />

Santo (ciclo de Pentecostes). Ele dá nova vida e nos torna nova<br />

criatura pelo poder do evangelho que cria a fé em nós. O próprio<br />

Espírito Santo entra em nossas vidas, tornando Cristo presente,<br />

sim o Deus Triúno (pela união mística).<br />

2. Agora não podemos mais "semear para a carne", mas<br />

podemos e queremos "semear para o Espírito", do qual vamos<br />

colher para a vida eterna (v. 8). Semear para o Espírito é o<br />

mesmo que praticar os "frutos do Espírito" (cf. 5.22,23).<br />

Página 28 — IGREJA LUTERANA


3. Quando nos tornamos nova criatura, Deus não nos tira<br />

do mundo. Antes nos coloca exatamente dentro do mundo para<br />

semear para o Espírito. O "mundo" tem dois sentidos: de um<br />

lado é o "mundo mau" (com a natureza pecaminosa que está<br />

em nós mesmos) e o devemos evitar (não podemos mais semear<br />

para a carne); de outro lado o mundo é bom, pois é criatura<br />

sublime de Deus em que Deus nos coloca para vivermos o "sermos<br />

nova criatura" para os outros. Como "Deus amou o mundo"<br />

(Jo 3.16), assim também devemos amar o mundo: de um<br />

lado como preciosa criação de Deus que precisa ser preservada<br />

e vivida plenamente, e, de outro lado, para aliviarmos os estragos<br />

causados pelo "mundo mau" da nossa natureza pecaminosa.<br />

Texto<br />

4. Assim, se houver falta do próximo, somos solicitados a<br />

corrigi-lo com brandura e evitar tentação semelhante (v. 1). É<br />

difícil viver no mundo de cicatrizes do pecado. Precisamos "levar<br />

as cargas uns dos outros" (v. 2). São as cargas causadas pelo<br />

pecado. Servir o próximo e aliviar as cicatrizes do pecado é<br />

cumprir a lei do amor de Cristo e viver a vida plena de "ser<br />

nova criatura." em Cristo. Nós não somos nada, mas em Cristo<br />

somos vencedores e filhos do Rei. Claro, cada um também precisa<br />

carregar "o seu próprio fardo" (v. 5). Não podemos fugir<br />

da cruz, mas podemos aliviá-la.<br />

5. Um dos temas esquecidos é a ajuda ao que prega a<br />

palavra e nos instrui (v. 6). Precisamos fazer o bem a todos,<br />

mas vamos começar em casa, com nosso pastor, nossa familia, e<br />

a família da fé (v. 10). Fazer o bem é algo muito precioso, mas<br />

pode também cansar por causa da luta que precisamos enfrentai<br />

com nossa velha natureza que não quer se colocar à disposição<br />

do serviço ao próximo. Mas é preciso continuar com alegria e<br />

não desfalecer (v. 9). Só podemos vencer a tarefa pelo poder<br />

do Espírito Santo na fé.<br />

6. O cristão pode gloriar-se: não em suas próprias obras<br />

e suas capacidades, mas na cruz de Cristo. Ali tudo aconteceu:<br />

nosso perdão e a nova vida. Em Cristo podemos viver uma vida<br />

alegre de serviço a Deus e ao nosso próximo. É a paz do cristão<br />

(v. 16).<br />

Disposição<br />

Introdução: O homem tem o impulso de agir, de julgar<br />

sua ação, de aprovar ou corrigir-se (consciência). Por isso é tão<br />

difícil ao homem entender que é aceito por Deus como é. É difícil<br />

aceitar sua aceitação pela fé em Cristo. O homem quer<br />

IGREJA LUTERANA — Página 29


auto-afirmar-se diante de Deus. Mas Deus nos chama ao arrependimento<br />

(metanóia) e à fé. Quando somos nova criatura temos<br />

uma tarefa sublime; agir não mais para nos auto-afirmar<br />

diante de Deus, mas agir pelo poder de Deus para servir os<br />

outros.<br />

FAÇAMOS O BEM A TODOS<br />

I. Porque somos nova criatura de Deus.<br />

A. Paulo diz que a velha carne precisa ser crucificada.<br />

1. A força natural só leva a resultados parciais.<br />

a. Nas ordens sociais é bom (família, economia,<br />

governo).<br />

b. Assim Deus governa o mundo.<br />

2. Mas a força natural termina em morte (pecado e<br />

morte eterna).<br />

3. O "mundo" em nós precisa ser crucificado (v. 14).<br />

B. Em Cristo o mundo está crucificado e surgiu nova criatura.<br />

1. Cristo amou o mundo e o salvou.<br />

a. Assumiu nossa natureza e cumpriu tudo em<br />

nosso lugar.<br />

b. Sofreu por nossos pecados e crucificou o "mundo"<br />

por nós.<br />

2. Pela fé somos crucificados para o "mundo" (fé,<br />

perdão, vida nova).<br />

3. Somos o Israel de Deus (v. 16), que faz o bem (v.<br />

10) no mundo, implantando a nova lei do amor<br />

(vv. 2, 16).<br />

II.<br />

Porque podemos semear para o Espírito.<br />

A. Somos nova criatura com nova semeadura.<br />

1. Ainda estamos no mundo: é o lugar da nossa nova<br />

vida.<br />

2. Ainda não somos perfeitos (simul): mas o "espírito<br />

voluntário" (Sl 51.12) quer decidir pelo Espírito<br />

(v. 8).<br />

Página 30 — IGREJA LUTERANA


3. Ainda vivemos de arrependimento e perdão, mas já<br />

colhemos sinais da "vida eterna" (v. 8) pela semeadura<br />

de amor ao próximo.<br />

B. Já que estamos no mundo, vamos "fazer o bem" (v. 9)<br />

1. Vamos perdoar, restaurar, carregar as cargas (vv.<br />

1, 2).<br />

2. Vamos partilhar a liberdade que recebemos para<br />

amar.<br />

a. Não queremos esquecer os que nos ensinaram<br />

o amor (pastor).<br />

b. Queremos semear pelo mundo a semente do<br />

Espírito (v. 8).<br />

3. O mundo de Deus precisa notar que somos nova<br />

criatura.<br />

Conclusão: Temos paz e misericórdia (v. 16) em Jesus<br />

Cristo. No mundo amado por Deus queremos amar em, nome de<br />

Jesus. Não se trata de obras excepcionais, mas de nossa vida<br />

diária nas ordens sociais, na nossa vocação, nas oportunidades<br />

diárias que Deus nos dá para amar o próximo. Vamos carregar<br />

as cargas da família, do trabalho, do ambiente social e político<br />

em que fomos colocados por Deus.<br />

Martim C. Warth<br />

Contexto<br />

8º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Cl 1.1-14<br />

1. A perícope introduz a carta aos Colossenses. Paulo escreve<br />

a favor da fé, da perfeição e da perseverança dos fiéis de<br />

Colossos e a heresia que se aninhava na congregação. Epafras,<br />

o pastor da congregação, tinha ido a Roma para visitar Paulo e<br />

saber como enfrentar a heresia que se mostrava semelhante à<br />

verdade, mas confundia totalmente os cristãos. Paulo escreve a<br />

carta para fortalecer positivamente a fé dos cristãos, sem falar<br />

diretamente da heresia. Mas pode-se deduzir que foi de origem<br />

judaico-cristã, com forte tendência gnóstica. A fé simples no<br />

evangelho não seria suficiente, segundo a heresia, mas deveria<br />

haver um conhecimento teosófico ou místico mais profundo (se-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 31


melhante aos carismáticos de hoje). A heresia exigia uma<br />

abstinência ascética (2.21), como em todos os cultos falsos, especialmente<br />

de origem oriental. A heresia era judaizante, pois<br />

exigia rituais superados (2.11,16).<br />

Texto<br />

2. Paulo reforça positivamente os cristãos para resistir a<br />

esta heresia. Chama-os de santos e fiéis (v. 2). Não precisavam<br />

de mais nada. Eram perfeitos em Cristo pela fé no evangelho<br />

(v.. 4, 5). O evangelho é válido universalmente, não precisa de<br />

adendos, nem de experiências especiais (como os carismáticos<br />

querem). Em todo mundo age o evangelho pelo poder do Espirito<br />

(vv. 6, 8). Isso é motivo de graças a Deus que Paulo oferece<br />

a Deus (v. 3).<br />

3. Essa fé os leva ao pleno conhecimento, a toda a sabedoria<br />

e ao entendimento espiritual necessários (v. 9) para produzir<br />

os frutos e crescer para transbordar (vv. 6, 9). Pela fé podem<br />

viver dignos no mundo, sem precisar fugia: do mesmo (v. 10). O<br />

poder vem da força da sua glória no Espírito Santo através do<br />

evangelho (v. 11).<br />

4. Agora os colossenses podem continuar nesta vida na luz,<br />

iluminando o seu ambiente (v. 12). Já não estão no reino das<br />

trevas, mas foram em Cristo colocados no reino da luz (v. 13).<br />

Claro, não será uma vida perfeita, pois ainda continuam sendo<br />

pecadores. Mas já estão no reino do Filho do seu amor e possuem<br />

a redenção, isto é, a remissão dos pecados (vv. 13, 14). Com<br />

isso são perfeitos aos olhos de Deus, segundo a graça proclamada<br />

no evangelho e recebida pela fé.<br />

5. Os colossenses já demonstraram que são filhos da luz<br />

quando manifestaram sua fé pelo amor que tiveram aos outros<br />

santos, ajudando em todas as necessidades do próximo (v. 4).<br />

6. A causa de todo esse amor é a certeza da esperança em<br />

Cristo (v. 5). Esta esperança firmada em Cristo sustenta a fé e<br />

o amor (vv. 5, 4). A maneira de sustentar a fé e o amor é permanecer<br />

na Palavra do evangelho gritada no mundo. Os colossenses<br />

ouviram esta mensagem da graça de Deus (v. 6). Nada<br />

mais é necessário, nem experiências pessoais, nem ritos superados,<br />

nem mistérios superiores, como a heresia de Colossos sugeria.<br />

O mundo atual está cheio de novas heresias de Colossos, quando<br />

tudo é mais importante do que a simples fé na Palavra do evangelho<br />

proclamada, que produz o amor e a vida cristã na luz<br />

neste mundo de trevas.<br />

Página 32<br />

IGREJA LUTERANA


Disposição<br />

Introdução: Paulo fortalece uma congregação cristã que<br />

sofre as tentações de um mundo cheio de ceticismo e de filosofias<br />

que procuram substituir ou melhorar o simples evangelho da<br />

graça de Deus em Cristo. Nossa situação, hoje, é muito semelhante.<br />

Basta olhar para os carismáticos, os renovados, os cultos<br />

orientais, os pentecostais, os cultos africanos e espíritas.<br />

COMO CRESCER NA FÉ E NO AMOR<br />

I. Paulo louva a fé dos colossenses (vv. 3-8).<br />

1. Epafras havia instruído na Palavra de Deus: eram fiéis<br />

ao evangelho. Como está a nossa fidelidade?<br />

2. A graça de Deus em Cristo era o centro de sua esperança.<br />

Não é possível reformar o mundo pela lei, por ideologias,<br />

por fuga do mundo.<br />

3. Podiam confiar no poder do Espírito Santo através do<br />

evangelho. Não havia outro poder: nem reformas, nem<br />

punições, nem ascetismo.<br />

4. Cresceram pela fé: o amor se mostrou na santificação<br />

da vida. Não fugiram do mundo, mas também não<br />

aceitaram os seus padrões.<br />

II.<br />

Paulo ora a Deus por contínuo crescimento da congregação<br />

(vv. 9-13).<br />

1. Somos filhos do reino da luz: somos aceitos pelo perdão<br />

em Cristo.<br />

2. Queremos crescer na vida cristã: isso leva a perseverança,<br />

longanimidade, e grande alegria de viver (v. 11).<br />

3. Queremos viver de modo digno do Senhor: representamos<br />

Cristo no mundo (v. 10). Lutero dizia que somos<br />

Cristos para os outros.<br />

Conclusão: Quanto mais pertos do evangelho, tanto mais<br />

luz na nossa vida. Estamos no mundo para iluminá-lo. Como é<br />

feliz a vida do cristãos e o ambiente que cria ao seu redor.<br />

Martim C. Warth<br />

IGREJA LUTERANA — Página 33


9º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Cl 1.21-28<br />

Contexto<br />

1. Os textos que formam as perícopes para os próximos<br />

três domingos, encontram-se na Epístola de Paulo aos Colossenses.<br />

Cabe a nós a elaboração dos três estudos. Julgamos,<br />

pois, oportuno apontar, já nesta primeira reflexão, para alguns<br />

fatos históricos sobre a cidade, a congregação, o autor, o conteúdo<br />

e finalidade da Epístola — informações que podem servir<br />

de subsídios para o 10º e 11º Domingos após Pentecostes.<br />

2. A cidade de Colossos situava-se a sudoeste da Frigia,<br />

na Ásia Menor. Já tivera sua importância quando servia de centro<br />

comercial entre o Oriente e Ocidente. Posteriormente, perdeu<br />

sua posição e riqueza para as cidades vizinhas de Laodicéia e<br />

Hierápolis (Cl 2.1; 4.13). Nesta cidade nasceu uma congregação<br />

cristã.<br />

3. Esta congregação de Colossos, a quem Paulo redige uma<br />

Carta, certamente não foi fundada, organizada, pastoreada nem<br />

visitada pelo apóstolo dos gentios (1.3,1; 2.1). Embora, em sua<br />

2ª e 3ª viagens missionárias tenha passado pela região da Frígia,<br />

nada é dito sobre uma eventual passagem por Colossos (At 16.5;<br />

18.23; Cl 2.1; 1.4.7-9). Esta igreja da Ásia Menor, portanto,<br />

apresenta uma peculiaridade histórica: foi fundada e dirigida<br />

por um grupo de líderes leigos, fiéis que provavelmente foram<br />

convertidos ao cristianismo durante o ministério que Paulo exerceu<br />

em Éfeso (At 19.10). A atividade de Epafras, Filemom,<br />

Árquipo e Onésimo tinham destaque nesta congregação (1.7;<br />

4.9; 4.17; Fm 2). Os dois primeiros — Epafras e Filemom —<br />

vão a Roma, onde Paulo está no presídio, para relatar sobre a<br />

existência da jovem congregação e buscar orientações bíblicas<br />

para edificar os irmãos na fé e para combater os falsos líderes,<br />

mestres e profetas que agiam e subvertiam "os santos e fiéis<br />

irmãos em Cristo" (1.1) de Colossos. É diante deste relatório<br />

que o "prisioneiro de Cristo em Roma" escreve a Epístola aos<br />

Colossenses.<br />

4. Da prisão de Roma, entre os anos 58-62, Paulo escreve<br />

a Epístola aos "santos e fiéis irmãos em Cristo" (1.1) de Colossos,<br />

congregação formada, não só por judeus, mas predominantemente<br />

por gentios (1.21.27; 2.13; 3.7). As Epístolas aos Colossenses<br />

c aos Efésios foram entregues aos destinatários por "Tíquico,<br />

irmão amado, e fiel ministro e conservo no Senhor" (4.7; Ef<br />

6.21, 22).<br />

Página 34 — IGREJA LUTERANA


5. Lida com atenção, descobre-se que Paulo divide sua<br />

Epístola em duas grandes partes: nos primeiros dois capítulos<br />

apresenta conteúdos que dizem mais respeito à teologia sistemática;<br />

nos capítulos 3 e 4 arrola uma multidão de questões relativas<br />

à teologia prática. Inspirada por Deus, também esta<br />

Epístola, conforme 2 Tm 3.16, é útil para o ensino (ensinar a<br />

verdade cristã), para a repreensão (combater o erro doutrinário,<br />

para a correção (corrigir as faltas das pessoas), para a educação<br />

na justiça (ensinar a maneira certa de viver — santificação).<br />

Diante de seu conteúdo atualíssimo e seu estilo dinâmico, a<br />

Epístola aos Colossenses é um texto que, sem parar, quer ser<br />

lido do começo ao fim.<br />

Texto<br />

6. Os diversos e pequenos blocos do texto do Capítulo 1,<br />

arrolados num crescendo, acabam por formar uma grande unidade<br />

doutrinária sobre a vida da igreja, a pessoa e obra do<br />

Senhor da igreja e o ministério da reconciliação: Paulo saúda<br />

os filhos de Deus em nome de Deus (v. 1 e 2); na vida dos cristãos<br />

de Colossos existem três grandes virtudes — fé, amor e<br />

esperança (v. 3-10; cf. 1 Co 13.13); as grandes bênçãos que Deus<br />

concede à sua igreja — ensinamentos dogmáticos (Glaubenslehre)<br />

e éticos (Lebenshilfe) (v. 9-14); a insondável grandeza da divindade,<br />

glória, pessoa e obra de Jesus Cristo — toda riqueza do<br />

2" Artigo do Credo Cristão (v. 18-21).<br />

7. Nos v. 21-23 — primeiro bloco de nossa perícope — o<br />

apóstolo lembra a doutrina de Cristo que acaba de expor e,<br />

agora, ensina como os cristãos devem aplicar a si esta mensagem<br />

("E a vós outros tamém"), apontando a vida do passado,<br />

do presente e do futuro da igreja. Na segunda parte da perícope<br />

(v. 23-28), Paulo fala da disposição de sofrer pelo Salvador<br />

Jesus e Senhor da Igreja, sublinhando a importância do exercício<br />

de seu ministério pastoral.<br />

8. A palavra-chave ou a idéia-mãe deste primeiro bloco<br />

(v. 21-23) é: reconciliação (apokatallásoo: reconciliar; katallagee:<br />

reconciliação): "... por meio dele reconciliasse; vos reconciliou<br />

no corpo..." (v. 20 e 22). O verbo reconciliar significa<br />

mudar a inimizade em amizade; fazer as pazes; tem um sentido<br />

soteriológico, compreende a vitória sobre todos os poderes ou<br />

potestades mediante o senhorio de Cristo, como também a restauração<br />

dos pecadores ao favor e à família de Deus. A preposição<br />

apó, re (reconciliar, reconciliar) tem o significado de volta<br />

e faz pensar na restituição de um estado do qual a pessoa se<br />

separou (antes e depois da queda em pecado, e ruptura com<br />

Deus). Portanto, o termo reconciliação tem o profundo signi-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 35


ficado de completa reviravolta — conversão, renascimento, nova<br />

vida com Deus em Cristo — suspensão da ira de Deus contra<br />

nós, suspensão de nossa inimizade contra Deus. O custo desta<br />

obra de reconciliação está descrita nos v. 13, 14, 20, 22. A grandiosidade<br />

do Reconciliador está descrita nos v. 13-19. A mensagem<br />

da reconciliação aplica-se aos membros e não membros da igreja<br />

de Colossos. São os "estranhos e inimigos" (v. 21) ou "estrangeiros<br />

e inimigos" (cf. Ef 2.19) em virtude de seus "pensamentos<br />

maus e desviados" e suas "obras más ou coisas ruins". É a<br />

ação do pecado?<br />

9. Reconciliados, Cristo os quer apresentar (parísteemi) a<br />

Deus. Apresentar, aqui, tem significado muito rico: estar presente,<br />

ser oferecido a Deus, ser colocado diante do Pai, ser levado,<br />

trazido ou carregado à presença de Deus.<br />

10. Cristo nos reconciliou com a finalidade expressa de<br />

nos apresentar a Deus, não mais como "imundos, estranhos c<br />

inimigos", mas como homens, descritos como "santos, inculpáveis<br />

e irrepreensíveis" (v. 22). Santos (ámoomos), i.e. sem mancha<br />

(heilig), limpos; na LXX o termo era empregado como termo<br />

técnico para designar a ausência de qualquer coisa errada em<br />

um sacrifício, de qualquer coisa que pudesse torná-lo indigno<br />

de ser oferecido. Inculpáveis (anegkleetos), i.e. sem acusação<br />

(untadelig, vorwurfsfrei, unsträflich), imaculados, puros; livre<br />

de qualquer suspeita, acusação ou condenação; é uma "palavra<br />

legal, indicando que não há acusação jurídica que possa ser levantada<br />

contra a pessoa". Irrepreensíveis (katenóopion) é um<br />

advérbio que expressa a idéia: na presença de, perante, ante,<br />

"bem diante dos olhos", intocável por qualquer tipo de julgamento<br />

(Gl 24; Ef 1.4; 2 Co 2.17; 12.19). O trinômio (santo,<br />

inculpável, irrepreensível) quer sublinhar que a reconciliação é<br />

total e completa, que Cristo nos libertou de tudo e nos remiu<br />

de todos os pecados; o sangue purifica de todo o pecado. Ausência<br />

total de pecado.<br />

Disposição<br />

Baseia-se, fundamentalmente, sobre o primeiro bloco da<br />

perícope (v. 21-23) — mensagem de justificação. A 2ª parte (v.<br />

24-28) poderá ser muito bem aproveitada na conclusão — mensagem<br />

de santificação. Julgamos que o sermão poderá ser desenvolvido<br />

sobre a palavra-chave: a reconciliação que Cristo<br />

realizou. E para justificar este tema, o texto nos leva para três<br />

perguntas diretivas: a) por quê? a causa, a razão, o motivo;<br />

b) como- a maneira, a modalidade; c) para que? a finalidade,<br />

objetivo último. Gomo introdução damos algumas sugestões:<br />

a) a frase: "eu não tenho nada contra ele; se ele quiser que<br />

Página 36 — IGREJA LUTERANA


venha comigo"; b) a frase: "perdôo, mas não esqueço"; c) um<br />

dos muitos "Tratados de Paz" entre as nações; d) a história do<br />

filho pródigo; e) o encontro entre Esau e Jacó.<br />

CRISTO NOS RECONCILIOU<br />

I. Por quê? Porque éramos estranhos e inimigos (v. 21; 13)<br />

1. Contexto histórico sobre a origem da congregação de<br />

Colossos.<br />

2. Significado e importância da reconciliação<br />

3. Pelo pecado todos são estranhos e inimigos de Deus.<br />

4. Aplicação da mensagem da reconciliação dos "colossenses"<br />

de hoje.<br />

II. Como? Mediante a sua morte (v. 22; 20)<br />

1. Impossível auto-salvação: cf. SI 49.7,8<br />

2. Morte e sangue: Calvário, purificação<br />

3. Alto preço: cf. Is 43.24,25; 53.1-11<br />

4. Morte que trouxe vida; mais que vencedores.<br />

III. Para quê? Para apresentar-nos a Deus (v. 22; 28)<br />

1. Paralelo em Ef 5.25-27. Cristo, o noivo; igreja, a noiva;<br />

assim cônjuges — "apresentar" (Cristo, Salvador e Advogado<br />

— 1 Jo 21).<br />

2. Apresentar santos<br />

3. Apresenta inculpáveis<br />

4. Apresentar irrepreensíveis<br />

Há muitos versículos bíblicos para apoiar c confirmar o<br />

exposto.<br />

Com conclusão, sugerimos: fazer um sumário de 24-28. E,<br />

então, explorar e envolver todos os "santos, inculpáveis e irrepreensíveis"<br />

da igreja — já reconciliados — na tarefa (2 Co<br />

5.18-21) de exercer, aqui e agora, o ministério da reconciliação.<br />

Leopoldo<br />

Heimann<br />

IGREJA LUTERANA — Página 37


10º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Cl 2.6-15<br />

Contexto<br />

1. Informações gerais sobre a cidade, a congregação, o<br />

autor, o conteúdo e o propósito da Epístola aos Colossenses encontram-se<br />

no início do estudo anterior — 9º Domingo após<br />

Pentecostes.<br />

2. Além destes dados gerais sobre o fundo histórico da<br />

Epístola, algumas colocações do contexto imediato são oportunas.<br />

Tendo exposto a consoladora doutrina da reconciliação através<br />

de Cristo (1.13-23), e defendido a importância de seu ministério<br />

público (1.24-29), Paulo considera seu trabalho eclesiástico uma<br />

grande luta, da qual todos os filhos de Deus devem participar<br />

Texto<br />

3. Paulo deseja e busca o crescimento espiritual de seus<br />

congregados, e lembra que todos os sistemas filosóficos, religiosos<br />

e culturais (v. 8) — que são poderes humanos — não podem<br />

ser substituídos pela gloriosa comunhão espiritual (Glaubensgemeinschaft<br />

mit Christus) com Cristo — o poder divino — pois<br />

"nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (v. 9).<br />

4. Todos os costumes e cerimônias do formalismo e tradicionalismo<br />

religiosos (v. 10-12) precisam ser substituídos pela<br />

nova vida espiritual que surge no morrer e ressuscitar com Cristo<br />

Jesus (Lebensgemeinschaft mit Christus). Toda a escravidão do<br />

pecado sofrida na vida do passado, bem como todas as ameaças<br />

c tentações das forças espirituais do mal (v. 13-15) no presente<br />

século, devem dar lugar à graça e vitória de Cristo Jesus (Siegesgemeinschaft<br />

mit Christus).<br />

5. Parece-nos que, diante desta rica e profunda exposição<br />

doutrinária sobre tudo aquilo que Cristo é, fez e faz em favor<br />

dos pecadores, Paulo objetiva levar os fiéis da congregação de<br />

Colossos a uma nova maneira de ser, sentir, viver e expressar a<br />

felicidade cristã: "Crescendo em ações de graça" (v. 7). Este é<br />

o pensamento fundamental, que também nós pretendemos sublinhar<br />

no presente estudo. Esta temática sobre o crescimento na<br />

gratidão do povo de Deus, Paulo a justifica, nesta perícope, com<br />

uma série de razões, das quais queremos enumerar algumas.<br />

6. "Crescendo" (perissenoo) isto é, aumentar, progredir,<br />

abundar, avançar, não parar, ter em abundância, derramar por<br />

cima. Logo, não retroceder nem estacionar, mas cada dia explodir<br />

mais em alegria e agradecimento (v. 7).<br />

Página 38 — IGREJA LUTERANA


"Ações de graça" (eucharistia) i.e. gratidão, sentimentos<br />

e gestos que expressam alegria, favores, reconhecimento; é júbilo<br />

e cântico, é contentamento, é uma doxologia ao Senhor — é<br />

O "muito obrigado" através de palavras, vida e atividades (Dankbarkeit,<br />

Danksagung). A Escritura apresenta centenas ou milhares<br />

de textos que falam sobre o assunto.<br />

7. Para justificar este constante crescimento de gratidão<br />

na vida do cristão, o apóstolo traz uma "medida recalcada e<br />

sacudida" de "argumentos. Relacionaremos os principais nas<br />

diversas partes da disposição. Será muito difícil explorar todas<br />

estas razões, em sua profundidade, num só sermão. Não faremos<br />

a análise dos diversos termos que aparecem nas justificativas do<br />

"crescei era ações de graças" porque, além de claros, o colega<br />

terá facilidade de compreendê-los e explicá-los.<br />

Disposição<br />

Como introdução, além de outras tantas, poderia ser aproveitado<br />

algum item das seguintes sugestões: a) No cativeiro, o<br />

povo de Israel dependura seus instrumentos de música e gratidão<br />

nos salgueiros; b) hino: "Ao meu Deus não cantaria..."; c) o<br />

hábito: gostamos de pedir e esquecemos de agradecer; d) "nada<br />

dói tanto como a ingratidão"; e) escrever a ingratidão na areia,<br />

gravar a gratidão em pedra; f) quem é Jesus Cristo? etc.<br />

CRESCEI EM AÇÕES DA GRAÇA<br />

I — Porque recebestes (Aceitastes) e andais (viveis em união)<br />

com Cristo Jesus (v. 6, 9)<br />

II — Porque estais radicados (enraizados), edifiçados (construídos)<br />

e aperfeiçoados (vida completa) em Cristo Jesus (v.<br />

7, 10)<br />

III — Porque fostes sepultados (enterrados) e ressuscitados (nova<br />

vida) com Cristo Jesus (v. 12)<br />

IV — Porque em lugar da morte (estáveis espiritualmente mortos)<br />

recebestes a vida (Deus vos trouxe à vida) em Cristo<br />

Jesus (v. 13)<br />

V — Porque foi perdoada (apagada) e cancelada (anulada) a<br />

dívida por Cristo Jesus (v. 13, 14)<br />

VI — Porque a vitória (triunfo) final sobre todos os principados<br />

e potestades (governos e autoridades espirituais) pertence<br />

a Cristo Jesus (v. 15)<br />

Na conclusão, não esquecer de repetir a idéia-mãe da gratidão:<br />

cânticos, orações, ofertas, missões, testemunhos. Também<br />

1 Co 15.45-58 ou Fp 2.5-11 ou Ap 6.12 são apropriados.<br />

Leopoldo Heimann<br />

IGREJA LUTERANA — Página 39


11º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Cl 3.1-11<br />

Contexto<br />

1. No estudo de Cl 1.21-28, perícope para o 9º Dom. após<br />

Pentecostes, encontram-se os principais dados sobre o contexto<br />

histórico da Epístola aos Colossenses.<br />

2. Nos primeiros dois capítulos Paulo apresenta e desenvolve,<br />

principalmente, questões doutrinárias que se enquadram<br />

mais na teologia sistemática: o ensino da verdade revelada e o<br />

combate às heresias humanas (teoria — doutrina cristã — ação<br />

de Deus).<br />

3. Agora, a partir do capítulo 3, o apóstolo entra, especialmente,<br />

na área da teologia prática: a aplicação pessoal dos<br />

ensinos aprendidos, corrigindo as faltas e mostrando a maneira<br />

correta de viver (prática vivência cristã — ação dos filhos de<br />

Deus).<br />

Texto<br />

1. Importa sublinhar que nossa perícope fala, fundamentalmente,<br />

sobre a santificação do cristão e não sobre a justificação<br />

do pecador; a justificação precede a santificação; a santificação<br />

é uma conseqüência imediata da justificação. A inversão<br />

da ordem é heresia. As duas são inseparáveis. Para a correta<br />

compreensão da mensagem da perícope, é preciso saber que<br />

Paulo está expondo a doutrina da santificação aos que já foram<br />

justificados. O apóstolo, contudo, não apresenta uma santificação<br />

legalista, mas uma santificação evangélica, i.e. todas as recomendações<br />

aos cristãos de Colossos para fazer ou deixar de<br />

fazer isto ou aquilo (v. 1,5,8) tem a pessoa e obra de Jesus Cristo<br />

como ponto de partida. Redimidos por Cristo, os cristãos vivem<br />

vida santa em Cristo.<br />

5. Paulo faz clara distinção entre a vida antes da fé em<br />

Cristo (velho homem — v. 5-9) e depois de crer no Salvador<br />

(novo homem — v. 10,11). A mudança na vida do pecador é<br />

radical e total. Ao falar sobre a vida santificada, o apóstolo faz<br />

uma divisão didática perfeita neste capítulo 3: depois da recomendação<br />

de buscar a vida celestial (v. 1,3), aponta para as<br />

maldades para as quais o cristão precisa dizer não (v. 4-9) e<br />

logo a seguir (v. 12-25) aponta para as obras para as quais o<br />

cristão precisa dizer sim. A santificação do cristão acontece de<br />

duas maneiras: pela omissão das coisas más (v. 5-9) e pela comissão<br />

das coisas boas (v. 10-28).<br />

Página 40 — IGREJA LUTERANA


G. Parece-nos que, com estas colocações, o texto da perícope<br />

torna-se clara e compreensível e, certamente, não haverá<br />

maior dificuldades para a elaboração da mensagem. Optando<br />

por um sermão sintético/temático, apontaremos sete fortes razões<br />

para justificar o apelo/convite: Buscai as coisas lá do alto.<br />

7. Como as partes do sermão saltam à vista, apenas alguns<br />

breves comentários sobre uma ou outra palavra:<br />

— os verbos buscar (zeeteite) e pensar (fronéoo) não aparecem<br />

como meros sinônimos, mas um reforça o outro para mostrar<br />

que todo o ser, estar e fazer do cristão devem estar voltados<br />

para "as coisas do alto";<br />

— com "as coisas lá do alto" (tá ánoo), i.e. o movimento<br />

para cima, as alturas, como muitos textos o comprovam, Paulo<br />

está fazendo referência ao céu, à vida eterna, à glória celestial;<br />

— com "do velho homem (palaion anthroopon) Paulo descreve<br />

toda a natureza corrupta do pecador, antes de seu renascimento,<br />

conversão, justificação por Cristo, enquanto que com<br />

"do novo" (néon) está falando do pecador após a regeneração<br />

e justificação; é o restabelecimento "rudimentar da imagem divina";<br />

— mesmo não sendo mais do mundo mas ainda estando<br />

no mundo, o cristão vive neste estado paradoxal de, simultaneamente,<br />

ser "pecador e justo" ("simul iustus et peccator") e precisa<br />

ouvir e levar a sério o que o apóstolo diz com o "despojar<br />

do velho" e do "revestir do novo"; esta é a luta da vida santificada.<br />

Disposição<br />

Como introdução, o pregador poderia aproveitar uma das<br />

seguintes idéias: a) o materialismo, o aqui e agora; b) qual é<br />

a nossa maior preocupação (pensar, procurar); c) afirmação do<br />

astronauta: "estive nas alturas c não vi Deus"; d) a história<br />

bíblica do rico — Lc 12; e) história de Jó.<br />

BUSCAI AS COISAS LÁ DO ALTO<br />

I — Porque morrestes e ressuscitastes em e com Jesus Cristo<br />

(v. 1,3,4)<br />

II — Porque as coisas daqui da terra são transitórias (v. 2)<br />

III — Porque lá vive e reina o Senhor Jesus Cristo (v. 1,4,11)<br />

IV — Porque Jesus Cristo quer manifestar-vos em glória no dia<br />

do Juízo (v. 4)<br />

IGREJA LUTERANA — Página 41


V — Porque já vos despistes do velho homem com seus pecados<br />

(v. 5-9)<br />

VI — Porque já vos revestistes do novo homem com suas virtudes<br />

(v. 10)<br />

VII — Porque na presença eterna de Cristo todos serão iguais<br />

(v. 11).<br />

Leopoldo<br />

Heimann<br />

12º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Hb 13.1-8<br />

Contexto<br />

A Epístola aos Hebreus tem por destinatário os cristãos,<br />

especialmente, oriundos do judaísmo. A Carta mostra, com muita<br />

clareza, como os textos proféticos do AT relativos ao Messias,<br />

da velha aliança, encontraram seu cumprimento na pessoa de<br />

Jesus Cristo. Esta Epístola é o livro do NT que mais fala sobre<br />

os sacrifícios do AT e aponta para o seu cumprimento em Jesus<br />

Cristo, o Filho de Deus. Jesus Cristo é apresentado como o Apóstolo,<br />

o Mediador, o Sumosacerdote, o Redentor que derramou seu<br />

sangue para a remissão dos pecados, como verdadeiro Deus e<br />

verdadeiro homem — o Salvador. Nele todas as profecias e todos<br />

os tipos que apontavam para o Messias encontraram seu cumprimento<br />

numa Nova Aliança, aliança que reconciliou o pecador<br />

com o seu Deus através da obra redentora daquele que Deus<br />

enviou ao mundo — Jesus Cristo.<br />

Texto<br />

A perícope de hoje é extraída do último capítulo da Epístola,<br />

e apresenta inúmeras possibilidades de enfoques para sermões,<br />

pois quase a cada versículo é abordado um outro assunto.<br />

Sugerimos a escolha do versículo 8 como texto para o sermão,<br />

pois ele apresenta com clareza o cerne de toda a carta. O Autor<br />

apresenta uma infinidade de recomendações ou conselhos para<br />

o dia-a-dia na vida do cristão sob a direção e bênção de Jesus<br />

Cristo. Aponta e lembra a importância da prática e da vivência<br />

da fé em Cristo:<br />

— o verdadeiro amor entre os irmãos na fé (v. 1)<br />

— a hospitalidade para com os estrangeiros (v. 2)<br />

Página 42 — IGREJA LUTERANA


— a visita e assistência aos prisioneiros (v. 3)<br />

— a honra e respeito pelo casamento (v. 4)<br />

— a punição de Deus aos transgressores do 6º Mandamento<br />

(v. 4)<br />

— a cautela diante da arapuca da avareza e amor ao dinheiro<br />

(v. 5)<br />

— o respeito e a honra para com os "guias, mestres, pregadores,<br />

pastores" que, como instrumentos de Cristo,<br />

ensinaram a mensagem da salvação (v. 7)<br />

— a imitação ao trabalho e dedicação dos "obreiros da<br />

igreja", que devem mostrar-se exemplos e padrões dos<br />

fiéis (v. 7).<br />

E, então, no meio de tantas recomendações para a vida<br />

cristã de cada dia (coisas falíveis e transitórias), o Autor, num<br />

só versículo, faz uma verdadeira profissão de fé, apontando para<br />

a eternidade de Jesus Cristo. Todas as outras coisas (recomendações)<br />

podem passar ou mudar, mas Jesus Cristo não passa,<br />

não muda — é eternamente o mesmo.<br />

Cristo, pois, é apresentado como Filho de Deus, superior<br />

aos anjos e a todos os profetas e outros enviados de Deus no AT.<br />

Através dele, o mundo foi criado (Jo 1), estando em suas mãos<br />

todo o poder. Ele é o Autor da salvação, é o verdadeiro Sumosacerdote<br />

que se compadece dos pecadores. Seu sacerdócio é<br />

único — é superior ao do AT, que apontava para o sacrifício de<br />

Cristo. A Antiga Aliança era somente um símbolo da aliança<br />

eterna realizada por Cristo, mediante sua obra redentora. Este<br />

sacrifício de Cristo, Filho de Deus, Sumosacerdote, realizado<br />

uma única vez, tem valor eterno, enquanto os outros sacrifícios<br />

no AT eram humanos e de valor transitório. A expiação feita<br />

por Cristo é eficaz para toda a humanidade e para todo o sempre.<br />

Ela só precisa ser aceita pela fé. Estas verdades aparecem ao<br />

longo de toda a Epístola.<br />

Este Cristo, com seu amor, que esteve com o seu povo no<br />

passado, com ele está agora, e estará com os seus até o fim dos<br />

tempos e receberá os fiéis nos lugares celestes que foi preparar<br />

para eles nos novos céus e nova terra, em glória eterna.<br />

Disposição<br />

Na introdução poderia ser apresentado um fato (ou mais)<br />

que aponta para a transitoriedade das coisas e da vida do presente.<br />

IGREJA LUTERANA -- Página 43


JESUS CRISTO É O MESMO<br />

I — Ontem: passado<br />

II — Hoje: presente<br />

III — Para sempre: faturo<br />

Como conclusão, poderia ser apresentado o Credo Niceno<br />

ou a explicação que Lutero faz do 2º Artigo da Fé Cristã.<br />

Hans-Gerhard F.<br />

Rottmann<br />

13º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Hb 12.1-8<br />

Contexto<br />

Como interpretamos nossa vida de fé, devoção e adoração?<br />

Está tudo em ordem? Não existe nenhum problema? Alcançamos<br />

os objetivos espirituais em nossa vida? Ou existe preocupação?<br />

Inquietação? Percebemos perigos? Enfrentamos dificuldades?<br />

Necessitamos corrigir nossa vida pecaminosa? Vivemos o<br />

arrependimento? Procuramos viver a nova vida?<br />

A igreja cristã necessita lutar. Combater o bom combate.<br />

Em toda sua história enfrentou as mais diversas dificuldades e<br />

desafios. Sempre que parou, a igreja estagnou. Faltou envolvimento<br />

e, conseqüentemente, desenvolvimento. Uma igreja parada<br />

não progride. Não consegue seguir os passos de seu Senhor. No<br />

passado, a igreja travou muitas lutas. Aprendeu a usar as armas<br />

espirituais para combater todo e qualquer perigo. Em todas as<br />

lutas a igreja cresceu. Seus membros saíram fortalecidos. Aprenderam<br />

a confiar no Senhor da Igreja e nas suas promessas.<br />

Antigamente, as fronteiras da luta eram conhecidas. Os<br />

cristãos sabiam de onde vinha o perigo. Em nossos dias, a situação<br />

parece ser diferente. A igreja de hoje se preocupa, realmente,<br />

com as forças da época que ameaçam sua existência?<br />

Assumimos nossas responsabilidades no discernimento do tempo?<br />

Conhecemos as trincheiras e arapucas que impedem o crescimento<br />

espiritual em nosso meio? Nossa atenção se concentra em<br />

que direção? Admitimos o enfraquecimento de nossa fé? Buscamos,<br />

em tudo, a vontade do Senhor? Não é somente interessante,<br />

mas muito mais importante ler e estudar com atenção o<br />

nosso texto. A voz do apóstolo solicita o reexame de nossa posição<br />

como igreja e como membro na igreja. Da experiência do<br />

Página 44<br />

- IGREJA LUTERANA


passado, nasce a coragem e o compromisso para enfrentar os<br />

perigos que ameaçam a igreja cristã de nossos dias.<br />

Texto<br />

"Portanto, também nós" (v, 1). Isto é um apelo. Faz lembrar<br />

o passado (cf. Cap. 11) e viver o presente. Um apelo que<br />

envolve. Não deixa escapar ninguém. Faz lembrar que o povo<br />

do Senhor vem atravessando a história, enfrentando situações<br />

peculiares. Recorda as lutas passadas e encoraja para enfrentar<br />

os perigos presentes. Recebeu-se uma herança. Temos a obrigação<br />

de guardá-la fielmente e entregá-la às mãos da próxima<br />

geração.<br />

"... visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de<br />

testemunhas" (v. 1). Consolo para uma igreja que luta e sofre<br />

c o saber de ser acompanhado pelas fiéis testemunhas. A igreja<br />

militante vive na expectativa de um dia participar na igreja<br />

triunfante. Para alcançar este objetivo não pode haver vacilação.<br />

Todos os membros da igreja vivem sob a solicitação constante<br />

de concentrar suas forças no prosseguimento da caminhada em<br />

direção à eternidade. Tudo o que poderia impedir ou obstruir<br />

o "seguir a Jesus" deve ser evitado. A cristandade vive na arena<br />

do mundo. Há muitos expectadores que observam o procedimento<br />

do povo de Deus. Nesta jornada ninguém está só. O testemunho<br />

dos fiéis no passado fortalece o testemunho no presente.<br />

Vivemos rodeado de irmãos que passam pelas mesmas dificuldades.<br />

Importa repartir a carga e compartilhar as dádivas espirituais<br />

que o Senhor oferece para o fortalecimento da fé. A<br />

comunhão no Senhor é indispensável.<br />

"... desembaraçando-nos de todo peso" (v. 1). Olhando<br />

somente para si, o homem acumula cargas insuportáveis. É a<br />

carne, o espírito do mundo, que prende o cristão. As cousas do<br />

mundo desviam a fé. Fazem o homem usar todas as suas forças<br />

intelectuais e corporais, concentrando-as em objetivos imanentes.<br />

Perde-se a visão do transcendente. Facilmente perde-se o costume<br />

da vida autêntica espiritual de fitar os olhos em Cristo, o<br />

autor e consumador da fé. É o "pecado que tenazmente nos<br />

assedia". O pecado impede a luta a favor da fé em Cristo.<br />

"... corramos com perseverança" (v. 1). Tudo o que desfavorece<br />

o viver a fé deveria estar em segundo lugar (cf. Fp<br />

4,8,9). Vida cristã necessita treinamento permanente. 0 cristão<br />

necessita aprender a viver em auto-disciplina. Necessita concentrar<br />

toda sua força para "correr no estádio" (cf. 1 Co 9.24-27).<br />

Seguir a Jesus Cristo não é mero passeio. O Senhor do mundo<br />

exige o empenho máximo em favor de sua obra. Todo cristão<br />

deveria concentrar sua atenção no objetivo espiritual de sua vida.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 45


Deveria esquecer-se de tudo o que poderia impedi-lo de alcançar<br />

este objetivo. Motivado pelo espírito voluntário (cf. o lema da<br />

igreja) e repleto de um espírito de disposição, o cristão deveria<br />

desconhecer fenômenos como comodidade, indiferença, demorar<br />

no tempo etc. O cristão é solicitado a correr com santa inquietação,<br />

pois ele não sabe quanto tempo lhe resta na jornada<br />

terrena.<br />

Faz parte desta "corrida" a renúncia em muitos sentidos.<br />

Cada cristão enfrenta dificuldades e tentações pessoais. Existem<br />

tantos problemas que muitas vezes sufocam a vida do cristão.<br />

As necessidades surgem, as dúvidas abalam e a falta de segurança<br />

na vida espiritual ameaça o crescimento espiritual das<br />

pessoas. Para a congregação cristã, os perigos vêm de todos os<br />

lados (cf. Jo 15.20; 1 Pe 4.12-13 etc). Em toda e qualquer tribulação<br />

se faz necessária a perseverança (cf. Rm 5.1-5).<br />

"... olhando firmemente" (v. 2). Envolver-se na luta significa<br />

conhecer as regras. As regras para a luta encontramos em<br />

2 Co 10.4; Ef 6.10ss; 2 Tm 2.5ss. A regra maior, porém, é o<br />

olhar para o próprio Cristo. "Olhando firmemente" a ele significa<br />

dar menos importância para as cousas materiais que nos<br />

cercam. Os "frutos da carne" (cf. Gl 5) desviam a atenção. Entregar-se<br />

às preocupações (cf. Mt 6.25ss), o amor ao dinheiro<br />

(cf. 1 Tm 6,6-10;) e o envolvimento total para viver somente o<br />

bem-estar fisico, alienam a vida de fé. É necessário viver uma<br />

vida de fé desprendida dos valores terrenos e confiante nos valores<br />

eternos. Existe uma regra que diz: tudo o que fixamos<br />

com atenção, toma poder sobre nós.<br />

Olhar firmemente para Cristo significa contar com a realidade<br />

de Deus que se manifestou e manifestará por intermédio<br />

dele. Em, Cristo está presente o invisível (cf. Cl 1.15ss;). Deus<br />

está presente sempre quando seus filhos se reúnem em nome de<br />

Jesus Cristo. Isto acontece quando lemos a Escritura, oramos<br />

com e em favor do próximo e quando ouvimos a proclamação<br />

da palavra divina. A congregação cristã vive da força que provêm<br />

do Cristo presente no meio daqueles que o seguem. Com o<br />

espírito de Cristo é possível enfrentar a resistência do mundo e<br />

da própria carne. Caminhando com ele e sob sua proteção evitaremos<br />

qualquer cansaço na vida espiritual. Tendo uma boa<br />

disciplina cristã e sabendo lutar com destemor contra os perigos<br />

a igreja cristã, terá sempre um bom motivo para obedecer a<br />

palavra do Senhor e se submeterá a qualquer medida disciplinária<br />

que vem daquele que ama o seu povo escolhido. O resultado<br />

será o fortalecimento da fé e uma maior dedicação de cada<br />

membro querendo servir ao Senhor com alegria.<br />

Página 46 — IGREJA LUTERANA


Disposição<br />

CORREMOS COM CRISTO A CARREIRA QUE NOS ESTÁ<br />

PROPOSTA<br />

I — Enfrentando todas as dificuldades;<br />

II — Olhando firmemente para o futuro;<br />

III — Aceitando a disciplina divina.<br />

Hans Horsch<br />

Contexto<br />

14º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Hb 12.18-24<br />

No mundo secularizado, a congregação cristã enfrenta inúmeras<br />

dificuldades. O homem de nosso tempo, às vezes, distante<br />

de Deus, sente as conseqüências de uma vida sem sentido. Sofre<br />

com o vazio existencial. Procura valores espirituais. Tem fome<br />

de Deus. Necessita uma orientação segura para toda vida. Clama<br />

por proteção e amparo. Este homem faz parte de nossas congregações.<br />

Sua vida espiritual é ameaçada. Ele passa por dúvidas<br />

e tentações. Necessita de uma reciclagem espiritual. A crise espiritual<br />

da igreja cristã tem sua origem na crise espiritual do<br />

homem que dela participa. Isto não é novidade. O Novo Testamento,<br />

em sua admoestação espiritual, reflete estas crises. O que<br />

podemos aprender de nosso texto para melhor enfrentar as "nossas<br />

crises" espirituais na vida congregacional, familiar e individual?<br />

Texto<br />

Nosso texto (Hb 12.18-24;) tenta superar uma crise. Membros<br />

do povo de Deus ficaram cansados em sua vida de fé e<br />

amor a Deus. O contexto (Cap. 11 e 12.1,3 etc.) induz a uma<br />

conscientização e reflexão sobre esta realidade. O povo de Deus<br />

necessita exortação, disciplina, correção, aconselhamento e perseverança.<br />

Deve enfrentar os perigos (cf. 12.9-13;). Em sua fraqueza<br />

espiritual, muitas pessoas correm o perigo de perder o<br />

que mais apreciaram. Com o próprio destino o cristão não pode<br />

brincar. Quem se nega a seguir, viver ou realizar os valores<br />

IGREJA LUTERANA — Página 47


espirituais, uma vez adquiridos, joga fora sua salvação. Surge a<br />

necessidade de examinar o estado espiritual da congregação. O<br />

apóstolo alveja o passado, o presente e o futuro do povo de<br />

Deus (cf. 12.14-17 p.ex. o caso de Esaú). Os fatos históricos<br />

fundamentam o seu ensino.<br />

0 texto apresenta uma comparação entre os acontecimentos<br />

da antiga e da nova aliança. Fala sobre as promessas de<br />

Deus e o seu cumprimento. Evoca o passado do povo de Deus.<br />

Por intermédio de conceitos específicos (fogo, escuridão, trevas,<br />

tempestade, som de palavras etc.) lembra o povo da nova aliança,<br />

o zelo e a santidade de Deus que, no passado, transpareceu<br />

no meio de fenômenos naturais. O vocabulário usado ilustra não<br />

somente o fato mas também a intenção do acontecimento. Em<br />

contraposição, o autor explica os fatos da nova aliança e abre<br />

a visão para o presente e o futuro. Nesta exposição o autor se<br />

expressa como profeta (apelo profético), escriba (provérbios de<br />

sabedoria) e defensor da lei. Encontramos uma exosição de lei<br />

c evangelho. Percebemos distinção clara entre afirmações mosaicas<br />

e cristãs. O Deus da aliança antiga permanece oculto.<br />

O Deus da nova aliança é revelado, no mediador Jesus Cristo.<br />

Importante é a distinção entre o Sinai (cf. o caráter perecível, a<br />

ameaça, à condenação seg. Ex 19.12ss; 20,18ss; Dt 5.19ss; 9.19 —<br />

cf. Hb 12.18 "não tendes chegado" a aliança da lei) e o Sião<br />

(v. 22 "Mas tendes chegado" (v. 22) invoca o tempo messiânico:<br />

Is 2.2; Mq 4.1,2; SI 2.16; 110.2; etc).<br />

Parece que o povo da nova aliança se esqueceu quem é o<br />

seu Senhor. Necessita ser lembrado da santidade de Deus. Perante<br />

esta santidade tremeram os antigos guias do povo e os profetas.<br />

Pela lei, é garantido o respeito perante a santidade de<br />

Deus. O homem sente sua distância de Deus. As imagens invocadas<br />

lembram o zelo e a sinceridade de Deus. Deus é sincero<br />

em seu trato para com o povo. Ele quer que o povo o respeite<br />

em atitude e comportamento. Mas, ao mesmo instante, a sinceridade<br />

da vontade de Deus é superada pela sua graça. A revelação<br />

da graça divina supera a expectativa da antiga aliança.<br />

O Deus que se revelou em Cristo é um Deus de amor. Pelo<br />

mediador da nova aliança, Jesus Cristo, Deus manifestou a profundidade<br />

de seu imenso amor a todos os homens. A palavra<br />

apostólica desdobra a riqueza da graça divina. Jesus Cristo é o<br />

centro da revelação divina. Toda vivência da fé cristã tem sua<br />

experiência e o seu centro na pessoa de Jesus Cristo, o Mediador<br />

da nova aliança. Nele encontramos o resumo da santidade e da<br />

glória divinas.<br />

O leitor atento descobrirá que atrás de qualquer afirmação<br />

percebemos o "temor de Deus que é o princípio da sabedoria".<br />

E, de fato, cada frase, cada palavra, cada imagem falam daquele<br />

Página 48 — IGREJA LUTERANA


que e o Senhor da história. Especialmente da história do povo<br />

de Deus. Nosso texto invoca a presença de Deus. Ensina ao povo<br />

de Deus que ele não é o dono de seu próprio destino. Nossa perícope<br />

ensina, por palavra e imagem, que Deus é o criador de<br />

seu povo. Ao longo da história, Deus se ofereceu e se aproximou<br />

do seu povo. Deus quer e procura a proximidade com aqueles<br />

que o amam e seguem o seu chamado. Tomar conhecimento da<br />

proximidade de Deus significa preparar-se com corpo e alma a<br />

ter um encontro com o Senhor da vida. O encontro com Deus,<br />

tanto na antiga como na nova aliança, provoca temor e tremor.<br />

O homem, como criatura, é abalado em toda sua existência. Mas,<br />

no mesmo instante, recebe a ação salvívica divina e esta ação<br />

fornece o equilíbrio espiritual em sua vida. O encontro com<br />

Deus, em Cristo Jesus, abala as estruturas do mundo e do homem.<br />

Onde Cristo entra na vida de alguém, este "chegou em casa".<br />

Ele encontrou a pérola e o seu lar. Desfrutará paz e amparo em<br />

toda sua vida. Quem chegou ao monte Sião, à cidade do Deus<br />

vivo, a Jerusalém celestial, saberá o que encontrou. Sua visão<br />

será outra. Surge a pergunta: Poderá alguém abandonar o Senhor<br />

de sua vida por cansaço, fadiga ou aborrecimentos?<br />

Necessitamos do auxílio divino no combate à nossa fraqueza.<br />

Sendo fruto da ação de Deus, temos que ser lembrados<br />

que ele é o nosso Juiz e Salvador. Somente ele pode ajudar<br />

quando surgem situações difíceis ou necessidades. Por isso o<br />

nosso texto é também um convite. Uma mão estendida. Ele nos<br />

lembra que Deus nunca abandonará o seu povo. Ele conduz o<br />

seu rebanho. Deus jamais cessou de oferecer ao seu povo as<br />

dádivas da salvação. É o próprio Deus que se oferece a si mesmo<br />

como força e auxílio pelos meios da graça. Importa ao homem<br />

aceitar o convite do poderoso Senhor. Pelos meios da graça,<br />

Deus se aproxima ao homem e solicita a aproximação dele<br />

com temor e tremor. O homem se aproxima às dádivas da salvação<br />

tomando a sério a palavra de Deus. A palavra da nova<br />

aliança é insistente. Ouvimos nela a voz do Senhor: "Vinde a<br />

mim..." Cada cristão está comprometido com esta palavra.<br />

Viver de "fé em fé" significa estar consciente do fato de que a<br />

realidade espiritual não é palpável nem visível (cf. Hb 11.1;).<br />

A terminologia usada ("tendes chegado") descreve a participação<br />

no culto da congregação. O culto é o lugar no qual acontece<br />

a aproximação entre Deus e o homem. Na confissão, na oração,<br />

no batismo e na santa ceia sucede a aproximação entre Deus e<br />

seu povo. No culto há intercâmbio entre o Senhor e aqueles<br />

que necessitam a renovação em suas vidas. Hoje se faz necessário<br />

penetrar novamente no mistério ou na profundidade do<br />

"culto cristão" em todas as suas dimensões. No culto cristão, o<br />

próprio Deus se comunica com o seu povo ameaçado e enfra-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 49


quecido. Ele é o Senhor de todos nós. Necessitamos ouvir c<br />

seguir a sua voz.<br />

Disposição<br />

AS CRISES ESPIRITUAIS NOS FAZEM BUSCAR REFÚGIO<br />

EM DEUS<br />

I — Porque Deus busca um encontro permanente conosco;<br />

II — Porque só Deus nos ajuda a vencer as crises;<br />

III — Porque Deus quer que cada cristão viva uma vida em<br />

santidade e paz.<br />

Hans Horsch<br />

Contexto<br />

15º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Hb 13.1-8<br />

Um fenômeno inexplicável é o crescente medo das pessoas<br />

perante a vida. O homem de hoje não consegue viver satisfatoriamente.<br />

Falta ordem e equilíbrio na sua vida espiritual e afetiva.<br />

Acima de tudo, falta-lhe confiança em Deus e em si mesmo.<br />

Apegado somente às cousas materiais, este homem moderno é<br />

carente, pois corre atrás de valores que o alienam. As conseqüências<br />

são desastrosas. A geração presente sofre com a frieza<br />

emocional, com a desordem em todas as áreas da vida e com a<br />

decomposição ou destruição da vida psico-somática e social.<br />

Propaga-se um egoísmo sem limites. O consumismo cria as suas<br />

vitimas. As pessoas se lamentam pela solidão em suas vidas.<br />

Falta, na sociedade, um fundamento sólido para a vida, uma<br />

ética capaz de orientar as pessoas. Quem, hoje em dia, é capaz<br />

de viver uma vida dedicada e abnegada em direção ao próximo?<br />

Existe amor genuíno ao próximo?<br />

Neste contexto, a igreja vive e realiza a obra do Senhor.<br />

Terá ela a credibilidade para mudar esta situação? Como está<br />

seu culto na vida diária? É ela o remédio para o homem aflito<br />

e perturbado? Os cristãos vivem a santificação de maneira autêntica?<br />

Percebem eles as necessidades reais no contexto em<br />

que vivem? A igreja cristã se preocupa com o homem marginalizado?<br />

Ela tem misericórdia com o homem atormentado? Existe<br />

uma visão clara sobre a mensagem e da obra, da qual a igreja<br />

Página 50 — IGREJA LUTERANA


foi incumbida? A igreja se sente como "enviada" ao mundo ou<br />

prefere continuar como a "distanciada" do mundo que tanto<br />

necessita sua ação, seu empenho, seu interesse, seu carinho e o<br />

seu amor? O que impede a igreja? Não está na hora de romper<br />

com o tradicionalismo e aceitar os desafios do evangelho e do<br />

mundo que a cerca? Tomara que os membros da igreja não<br />

pensem em seu bem-estar somente. É a hora de buscar e realizar<br />

a vontade do Senhor.<br />

Fazem parte intrínseca da vida cristã a vida de fé e a<br />

santificação. Santificar o nome do Senhor é tarefa e dádiva de<br />

cada cristão. Cada cristão possui dádivas especiais. Sua missão<br />

peculiar consiste em usar, aplicar e praticar o potencial que recebeu.<br />

Redimido pelo sangue de Jesus Cristo, o cristão está<br />

aberto e desprendido para perceber a graça divina em sua vida<br />

e a missão da qual foi incumbido. Como forasteiro e estrangeiro,<br />

o verdadeiro cristão não pertence mais a este mundo. Livre do<br />

mundo dentro dele e do mundo que o cerca, o cristão é capaz<br />

de dedicar-se à obra do Senhor. Sua fé em Jesus Cristo penetrará<br />

sua atitude, seu comportamento e estará presente em tudo<br />

o que faz. A realização prática da vontade do Senhor é a primeira<br />

missão de cada seguidor de Cristo. O filho de Deus viverá<br />

consciente de que o Senhor conhece o que está oculto no seu<br />

coração. Deus sabe qual o motivo verdadeiro de nossa atividade<br />

ou de nossa negligência.<br />

1. "Seja constante o amor fraternal" (v. 1). Amor autêntico<br />

a Deus se expressa no relacionamento com o irmão (Mt<br />

22.36-40; 25.31-46;). A regra fundamental da vida cristã e congregacional<br />

é o mandamento do amor para com o irmão (1 Ts<br />

4.9; Rm 12,10; 1 Pe 1.22; 2.17; 1 Jo 3.23; 4.7;). Examinemos o<br />

nosso amor ao próximo. Vivemos realmente o amor fraternal?<br />

Nosso próximo, em sua maneira de ser, é um constante questionamento<br />

sobre a nossa disposição de viver o amor fraternal? Às<br />

vezes, Deus coloca alguém ao nosso lado, mesmo sendo isto motivo<br />

de nosso desagrado. Convém lembrar que Jesus se tornou<br />

"nosso irmão", e isto "quando nós ainda éramos fracos" (cf.<br />

Rm 5.5ss.).<br />

2. Amor verdadeiro encontra sempre seu campo de ação.<br />

Movido pelo amor divino, o cristão não pode deixar de amar.<br />

O amor cristão desafia em "não negligenciar a hospitalidade",<br />

(v. 2). Ter uma casa aberta requer um coração aberto. A hospitalidade<br />

oferece muitas oportunidades. O lar cristão é refúgio<br />

para pessoas perseguidas. Antigamente os cristãos foram perseguidos<br />

por permanecerem na fé em Jesus Cristo. Hoje as perseguições<br />

mudaram, mas o mundo continua perseguindo aqueles<br />

que amam a Jesus. O lar cristão necessita ser redescoberto como<br />

local de encontro entre irmãos. A familia cristã oferece uma<br />

IGREJA LUTERANA — Página 51


excelente oportunidade para reforçar e aprofundar os laços espirituais<br />

e do amor cristão entre os membros da congregação local.<br />

Os membros da comunidade cristã têm a chance de viver a confiança,<br />

receber e dar auxílio e praticar a comunhão cristã em<br />

verdade. A troca de idéias e pensamentos, assim como de experiências<br />

favorecerá um ambiente no qual pode nascer uma atividade<br />

específica em favor do irmão necessitado.<br />

3. Outra forma de expressar o amor é o "lembrar-se dos<br />

encarcerados" (v. 3). Em nosso mundo vivem muitos de maneira<br />

encarcerada. Importante é o descobrimento dos cárceres. O<br />

próprio corpo é para muitos uma prisão. Hoje em dia, aquele<br />

que não consegue produzir, atomaticamente é isolado. O cristão<br />

há de aprender a desprender-se de seus interesses e procurar os<br />

locais de isolamento (hospitais, asilos, etc). A igreja deve lembrar-se<br />

dos pobres e aprender a procurar e visitar "viúvas e<br />

órfãos". Jesus Cristo espera de seus seguidores as conseqüências<br />

práticas do amor genuíno para com o próximo. O amor ao próximo<br />

jamais deixará de ajudar o irmão em toda e qualquer<br />

necessidade. O exemplo de Jesus ensina: O amor cristão se coloca<br />

no lugar do próximo e carrega o sofrimento alheio como o<br />

sofrimento próprio. Será esta a resposta para com as necessidades<br />

do mundo carente?<br />

4. A ética da igreja primitiva via grandes perigos na área<br />

do relacionamento entre homem e mulher. A cultura na qual a<br />

igreja viveu permitiu a promiscuidade e o cultivo de desejos<br />

lascivos. O amor verdadeiro e cristão se empenha em manter<br />

puro e relacionamento entre marido e esposa (v. 4). O testemunho<br />

dos crentes de todas as épocas consistia no fato de viver<br />

uma vida matrimonial santificada. Respeitar a santidade do matrimônio<br />

como ordem da criação significa evitar a desordem, na<br />

área do convívio sexual. Muitas congregações cristãs permitiram<br />

a decadência em, seu próprio meio. O espírito do mundo penetrou<br />

no coração dos membros. Onde este comportamento é permitido<br />

ou tolerado está próximo o fim da vida espiritual e o<br />

juízo de Deus.<br />

5. O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (v. 5).<br />

Permitir viver segundo a avareza é uma agressão a tudo o que<br />

o Espírito de Deus ensina. O coração se fecha, por natureza.<br />

Fica cego e não quer enxergar a verdade. A história da "mordomia<br />

não-vivida" nas igrejas fala por si mesma. Façamos a<br />

prova: um coração avarento não pode amar. Encurvado em si<br />

mesmo, consegue ver somente a si mesmo. Jamais conseguirá<br />

abrir-se para com as necessidades do próximo. É quase a conseqüência<br />

automática neste relato apostólico que o autor aconselha<br />

"seja a vossa vida sem avareza". Existe o repartir, o compartilhar<br />

espontâneo entre todos os cristãos? Como soa no ouvir<br />

Página 52<br />

IGREJA LUTERANA


do o ditado: "cada um por si e Deus para todos"? Um arrependimento<br />

sincero e o propósito de viver uma nova vida desprenderá<br />

as congregações do perigo de viver somente o egoísmo.<br />

Disposição<br />

DEUS QUER A VIVÊNCIA DO AMOR ENTRE OS CRISTÃOS<br />

I — Por que Deus nos convida a vivermos o amor fraternal;<br />

II — Por que Deus nos convida a cultivarmos o amor matrimonial;<br />

III — Por que Deus nos convida a seguirmos o exemplo do<br />

amor paternal.<br />

Hans Horsch<br />

Contexto<br />

16º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Fm 1,10-21<br />

Esta é a mais curta de todas as cartas que Paulo escreveu.<br />

O apóstolo dirige esta breve e comovente epístola a Filemom,<br />

sua irmã Afia, Arquipo e à igreja "que está em tua casa". Apesar<br />

dos diversos nomes mencionados, o conteúdo da carta, iniciando<br />

no v. 4, mostra que ela é dirigida especificamente ao dono da<br />

casa. E nós apenas compreenderemos o significado e valor desta<br />

carta, examinando bem todo o seu contexto histórico.<br />

A carta permite olharmos para dentro de um lar cristão<br />

daqueles dias. Filemom, o chefe de família, residente em Colossos,<br />

com sua esposa Afia e Arquipo (provavelmente seu filho),<br />

ministro do evangelho junto com Epafras, o fundador da congregação<br />

(igreja) (d 1.7; 4.12,17), sem dúvida, era um homem<br />

de posses que tinha escravos (v. 15,16) e que oferecia sua casa<br />

espaçosa para que os cristãos ali pudessem reunir-se e realizar<br />

os seus cultos. Paulo, o prisioneiro de Roma e "escravo de Cristo",<br />

saúda a estes cristãos, identificando-os como a igreja que<br />

está na casa de Filemom (v. 2). Não se trata aqui portanto, somente<br />

dos familiares de Filemom, ou os ali residentes. Em muitos<br />

lugares, onde não era possível os cristãos se reunirem nas<br />

sinagogas e, não havendo, na época, ainda construções específicas<br />

IGREJA LUTERANA — Página 53


para o culto (templos), estes reuniam-se nas casas dos cristãos<br />

que possuíam espaço para tal. No NT encontramos tais situações<br />

mencionadas em Rm 16,5, 1 Co 16.19 e Cl 4.15.<br />

A carta nos mostra que Filemom não era somente bem<br />

conhecido do apóstolo, mas provavelmente tinha sido convertido<br />

pela pregação de Paulo, talvez em Éfeso. Paulo o chama de<br />

"colaborador", destacando seu amor aos irmãos e sua fé em<br />

Jesus.<br />

As circunstâncias que levaram Paulo a escrever a carta<br />

foram as seguintes: Onésimo, um escravo colossense (Cl 4.9),<br />

pertencente a Filemom, fugira de seu senhor, após, aparentemente,<br />

ter também cometido um furto (v. 15,16,18,19). Algum tempo<br />

depois, em Roma, teve, de alguma maneira, contato com o apóstolo,<br />

e através de Paulo, foi convertido ao cristianismo (v. 10).<br />

Apesar de Onésimo, segundo Paulo, poder ser lhe útil em Roma,<br />

onde o apóstolo era prisioneiro, ele não quer que Onésimo fique<br />

para ajudá-lo na difícil situação em que se encontrava, sem o<br />

consentimento de Filemom (v. 13,14) e, por isso, o envia de volta<br />

ao seu senhor (v. 11) com a presente carta em que intercede<br />

junto a Filemom por Onésimo.<br />

Texto<br />

A finalidade da carta fica clara com a descrição destas<br />

circunstâncias. Paulo roga a Filemom que este receba, de boa<br />

vontade, de volta o escravo fugitivo, agora penitente e arrependido<br />

dos seus atos. Paulo pede que Filemom lhe dê o perdão,<br />

reabilitando-o, porque agora Onésimo não seria para ele somente<br />

"como escravo, antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo"<br />

no Senhor (v. 16).<br />

Esta breve carta (334 palavras no texto grego) nos revela<br />

algo do relacionamento social da época, especialmente o relacionamento<br />

senhor-escravo, que é modificado pela fé cristã. Paulo<br />

mostra que o cristianismo não nega ou elimina diferenças existentes<br />

em cultura ou nivel social, mas introduz um novo espírito<br />

nestes relacionamentos em conformidade com os ensinamentos<br />

de Cristo. De um lado, o escravo deve permanecer na vocação<br />

em que foi chamado (1 Co 7.20-22), esperando-se dele obediência<br />

ao seu senhor terreno (Cl 3.22; 1 Tm 6.1,2); por outro lado, no<br />

entanto, no novo relacionamento de vida cristã, não há escravo<br />

nem livre, mas Cristo é tudo em todos (Cl 3.11; Gl 3.28).<br />

O apóstolo não elimina instituições sociais ou legais. Ele<br />

não prega a libertação de escravos (ou empregados) em nome<br />

do cristianismo, mas ele sabe que a fé cristã dá um novo relacionamento<br />

de vida aos homens, unindo-os como irmãos, independentemente<br />

de diferenças sociais. Para o mundo não-cristão<br />

Página 54 — IGREJA LUTERANA


(da época, o escravo era mercadoria adquirida no mercado. O<br />

escravo era colocado ao nível dos animais.<br />

Paulo se dirige na carta a Filemom encaminhando o escravo,<br />

que era fugitivo, talvez até ladrão — de volta ao seu senhor,<br />

agora arrependido e convertido, rogando que este seja recebido<br />

como "irmão caríssimo". Tal coisa só poderia ocorrer<br />

com um "senhor" verdadeiramente cristão. Em circunstâncias<br />

normais, o escravo fugitivo sofria penas severas, açoites, prisão<br />

e pena de morte. Paulo tinha certeza do cristianismo de Filemom,<br />

de sua fé e conseqüente atitude, pois afirma: "eu te escrevo,<br />

sabendo que farás mais do que estou pedindo" (v. 21).<br />

Pela fé justificados por Cristo e com a nova vida criada<br />

no coração pelo Espírito Santo, o cristão pode viver em amor —<br />

amor a Deus e amor ao próximo sem preconceitos de espécie<br />

alguma. Esta nova vida, no entanto, só é possível em Cristo. Julgamos,<br />

pois, como demonstramos em toda a pesquisa, que a<br />

palavra chave é receber ou aceitar. É preciso cuidar com os<br />

preconceitos, também em nossas congregações.<br />

Disposição<br />

VOCÊ PRECISA RECEBER O PRÓXIMO (v. 17 e 12)<br />

I — Não como escravo (v. 16)<br />

1 . Receber no lar, no trabalho ou na igreja<br />

2. Cuidado com a "inferioridade" cultural<br />

3. Cuidado com a "inferioridade" econômica<br />

4. Cuidado com a "inferioridade" racial<br />

II — Como irmão caríssimo (v. 17)<br />

1. 0 perdão de Cristo se destina a todos<br />

2. A salvação, pelo sangue de Cristo, nos faz membros<br />

da mesma família<br />

3. Cristo "derrubou a parede de separação" (Ef 2.14)<br />

4. Lutero: "É dever de todo pai de família (cristão)<br />

argüir seus filhos e empregados domésticos (escravos?),<br />

e tomar-lhes a lição.. ." (LC, 391).<br />

Hans-Gerhard F. Rottmann<br />

IGREJA LUTERANA — Página 55


17º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

1 Tm 1.12-17<br />

Contexto<br />

1 Timóteo é uma das três epístolas conhecidas como "Cartas<br />

Pastorais". É o Pastor Paulo falando a outros pastores (Timóteo<br />

e Tito, especialmente), seus alunos e colegas de ministério.<br />

Esta também é a razão por que Paulo tanto fala sobre deveres<br />

e responsabilidades dos embaixadores de Cristo.<br />

Tendo dado ênfase, logo no inicio, ao fato de ser ele apóstolo<br />

de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, o apóstolo Paulo<br />

ataca, de imediato, com vigor, certos erros surgidos entre membros<br />

de congregações cristãs, igrejas que foram confiadas a Timóteo<br />

(v. 3-11). O apóstolo reafirma suas credenciais, seu apostolado.<br />

Ele tem direito de falar com autoridade às pessoas sob<br />

os cuidados de Timóteo, atacando os seus erros, não pelo que ele<br />

tem sido, mas sim, pelo que Deus. através de Cristo, tem feito<br />

dele. Não por seus méritos passados, pois também ele tinha sido<br />

um dos "transgressores e rebeldes" para quem a lei de Deus fora<br />

designada (v. 9). A base para a autoridade de Paulo reside no<br />

gracioso perdão e misericórdia recebidos pelos méritos de Cristo<br />

(v. 15,16). bem como, e especialmente, no chamado e comissionamento<br />

dado a Paulo para pregar o evangelho (v. 11).<br />

Texto<br />

Em nosso texto, o apóstolo mostra sua gratidão a Jesus<br />

Cristo, gratidão esta. que todo o cristão deve sentir. Ele agradece<br />

por ter sido considerado fiel (v. 12). Esta fidelidade de Paulo<br />

não é mérito seu — Deus o considerou fiel devido a fidelidade<br />

de Cristo que lhe foi creditada (iustificação) e. agora, em seu<br />

ministério, ele está sendo equipado com a fidelidade de Cristo<br />

(santificação).<br />

O apóstolo mostra quão imenso é o amor para com os<br />

pecadores, pois enviou-lhes seu Filho para salvá-los (v. 15). Ele,<br />

um perseguidor de Cristo, encontrou misericórdia e longanimidade<br />

em Cristo. Paulo aponta para a sua vida para que outros<br />

também encontrem e aceitem o Salvador (v. 16). A graça de<br />

Deus, que dá a fé e o amor, não têm limites: ela transborda<br />

(v. 14).<br />

A gratidão de Paulo, em vista do que experimentou em<br />

Cristo, seu Salvador, faz com que ele, em meio à primeira parte<br />

de sua carta, renda, em júbilo, culto a Deus elevando sua voz<br />

Página 56 — IGREJA LUTERANA


em um cântico, uma doxologia em adoração e louvor no v. 17:<br />

"Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e<br />

glória pelos séculos dos séculos. Amém."<br />

O apóstolo quer nos ensinar a agradecermos a Deus, mostrando-nos<br />

os motivos, o por quê do agradecimento de todo cristão.<br />

E Paulo relaciona diversos fatos pelos quais deveríamos<br />

agradecer a Deus. Destacamos alguns:<br />

Disposição<br />

Como introdução, o colega poderia apontar para o Salmo<br />

50.15 ou para um dos muitos hinos do Hinário Luterano onde<br />

aparece o "e tu me glorificarás".<br />

EU AGRADEÇO A JESUS CRISTO (v. 12)<br />

I — Porque ele teve misericórdia de mim (v. 13 e 16)<br />

II — Porque ele me salvou por graça (v. 14 e 15)<br />

III — Porque ele me deu fé e amor (v. 14)<br />

IV — Porque ele me deu poder para servi-lo (v. 12)<br />

V — Porque ele me colocou como exemplo dos que hão de<br />

herdar a vida eterna (v. 16 e 17)<br />

Na conclusão, poderia-se, uma vez, fazer uma relação de<br />

todas (muitas) bênçãos materiais e espirituais que diariamente<br />

recebemos de Deus e que merecem muito mais que nosso simples<br />

"muito obrigado".<br />

Hans-Gerhard F. Rottmann<br />

Contexto<br />

18º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

1 Tm 2.1-8<br />

As epístolas a Timóteo são as primeiras das chamadas<br />

Epístolas Pastorais, escritas pelo Apóstolo a cristãos individuais<br />

e cooperadores. São, no entanto, mais que apenas cartas pessoais<br />

e de assuntos específicos. O uso da fórmula "Cristo Jesus", característica<br />

de 1 Tm, indica o seu mandato a serviço do Ungido<br />

de Deus, promessa do Antigo Testamento, que se cumpriu em<br />

Jesus. Timóteo representa já a 2ª geração de enviados deste<br />

IGREJA LUTERANA — Página 57


Cristo ao mundo, e a preocupação do Apóstolo no aconselhamento<br />

de seu jovem cooperador se estende, na presente perícope,<br />

a partir da congregação cristã, a "todos os homens", sem distinção<br />

de posição social ou geográfica.<br />

Texto<br />

V. 1-2 — O primeiro tema específico da epístola inicia,<br />

aqui, com a exortação à prática intensiva da oração em suas<br />

diversas formas c em favor de todos. Uma das preocupações é<br />

a de desfazer certos tabus ou vícios sociais de discriminação que<br />

algumas correntes judaicas c o gnosticismo faziam no sentido<br />

de privilegiar certos grupos, classes e raças, em detrimento de<br />

outros segmentos da sociedade. A oração é descrita através de<br />

quatro termos que revelam a preocupação dos cristãos em atender<br />

necessidades alheias: súplicas (deêseis), raiz que, no original,<br />

se relaciona com o dever ou a necessidade que se deve ter no<br />

sentido de ajudar o próximo em tempos de crise; orações (proseuchás)<br />

é termo largamente usado no NT, e revela a apresentação<br />

dos desejos mais íntimos do coração perante Deus; intercessões<br />

(entéukseis) é usado como em Rm 8.26, no sentido de<br />

"advogar" a causa de alguém diante do juiz ou da autoridade<br />

em geral, quando este alguém não o consegue por meios ou força<br />

próprios; ações de graça (eucharistías) são a prática do bom<br />

uso dos dons ou chárísmas a serviço do próximo, seja pela oração,<br />

seja por se externar qualquer disposição de ajuda e solidariedade,<br />

incluindo o sentimento de gratidão.<br />

O direito e o dever de orar e expressar sua fé diante do<br />

mundo em favor de todos inclui, necessariamente, as autoridades,<br />

como ordens instituídas por Deus e a serviço dos crentes.<br />

Para que o testemunho cristão possa florescer, é importante que<br />

haja condições de paz e compreensão civil e se respeite a Deus<br />

e ao próximo também na administração pública. O pior governo<br />

(e todos eles, no tempo de Paulo, eram ateus) pode oferecer ao<br />

cristão oportunidades de provar e atestar sua fé de formas notáveis.<br />

As orações dos crentes são uma pitada do sal que conserva<br />

a sociedade.<br />

Vs. 3-5 — Bonito (kalós) e agradável diante de Deus é saber<br />

que a prática da oração contribui para que todos os homens<br />

sejam salvos, o objetivo maior da vida comunitária dos cristãos<br />

no mundo e na igreja. As noções aqui expressas fundamentam<br />

a prática de orações e pretendem relembrar a Timóteo o que<br />

Deus mais deseja — a salvação do pecador — e como podemos<br />

participar desse plano superior de Deus, de forma inteligente e<br />

com convicção, não mecanicamente. Se, vivendo no mundo, os<br />

cristãos devem viver como que separados dele, isto é, de seu<br />

Página 58 — IGREJA LUTERANA


mundanismo, isto não se aplica à prática da intercessão, antes<br />

faz parte do desejo de salvação que Deus tem em relação a todos<br />

os homens. Este se dirige a todos na mesma extensão em que<br />

o v. 1 manda orar por todos. Isto é confirmado pelo fato de que<br />

Cristo "a si mesmo se deu em resgate por todos". A universalidade<br />

da oração baseia-se na universalidade da salvação. Deus<br />

prove os meios da graça em toda a sua eficácia, para que todos<br />

alcancem a vida eterna. É a chamada vontade antecedente de<br />

Deus. Quando os homens rejeitam esse desejo (Mc 16.16), chamam<br />

sobre si a vontade subseqüente de Deus, que os julga e<br />

envia à condenação. Não se pode dividir a vontade de Deus ou<br />

afirmar que ele tem duas vontades opostas: o que se distingue<br />

são os objetos com que Deus se defronta, os crentes e os descrentes,<br />

os que chegam ao conhecimento da verdade e os que<br />

endurecem seus corações.<br />

O Mediador da parte de Deus é homem — o Deus-Homem<br />

em suas duas naturezas — muito acima do que representou a<br />

mediação de Moisés ao povo de Israel. Cristo é quem origina e<br />

transmite um testamento superior e faz a mediação perfeita entre<br />

Deus e seu povo. O ato substitutivo de Cristo é atestado de três<br />

formas: duas vezes por antí (na palavra antílitron) um resgate<br />

em lugar de..., e uma vez por hipér, em. favor de. Tudo por<br />

todos (Is 45.22).<br />

Vs. 6-8 Paulo e Timóteo prestavam testemunho constante<br />

e sempre oportuno da salvação universal por Cristo, pregadores<br />

e enviados como mestre dos gentios. Referindo a designação<br />

para o apostolado, Paulo combina a idéia de autoridade do<br />

pregador com o impacto da mensagem na defesa e propagação<br />

do evangelho. O antagonismo de mestres judaizantes (cf.<br />

1.3,19,20) fizeram com que Paulo apresentasse suas credenciais.<br />

Em todas as igrejas deveriam ser os homens que lideravam as<br />

orações públicas. Deveriam fazê-lo com pureza, ponderação e<br />

amizade. A postura sugerida, levantando as mãos, que espelha<br />

o costume judaico, é adiáforo. A ênfase está em "mãos santas",<br />

e a recomendação "sem ira.. ." corresponde à correta atitude da<br />

mente e do coração ao comparecerem diante do trono de Deus.<br />

Disposição<br />

O SACERDÓCIO UNIVERSAL DA ORAÇÃO<br />

(um ministério público e privado)<br />

I. Formas de oração:<br />

— súplicas, orações, intercessões e ações de graças<br />

IGREJA LUTERANA — Página 59


II.<br />

III.<br />

IV.<br />

Objetos da oração:<br />

— em favor de todos os homens, autoridades, nós mesmos<br />

Motivos da oração:<br />

— Bom c aceitável diante de Deus<br />

— Outros chegarão ao conhecimento da verdade<br />

— A salvação de todos os homens<br />

Objetivos da oração:<br />

— Viver vida tranqüila e mansa<br />

— Andar em piedade e respeito<br />

— Afastar ira e animosidade<br />

V. Mediadores do Mediador: Testemunho da redenção vicária<br />

de Cristo.<br />

ou<br />

LEVANTAI MÃOS SANTAS AO SENHOR!<br />

I. Porque esta é uma exortação de Deus pelo Apóstolo (v. 2,1)<br />

II. Porque há muitas formas de oração (v. 1)<br />

III. Porque todos precisam das orações dos filhos de Deus (v. 2)<br />

IV. Porque assim se cumpre o desejo de Deus de salvar os pecadores<br />

(v. 4)<br />

V. Porque pela oração se nos promete vida tranqüila e mansa,<br />

com piedade e respeito (v. 2)<br />

VI. Porque, em resumo, esta é a vontade de Deus.<br />

Elmer Flor<br />

Contexto<br />

19° DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

1 Tm 6.6-16<br />

Vamos falar de negócios. Negócios e fontes de lucro (porismós).<br />

Riqueza e cobiça. Tentação e cilada. Dores e todos os<br />

males. Uma lista de palavras não necessariamente sinônimas, e<br />

que nem sempre estabelecem relações de causa e efeito, mas que<br />

aparecem na primeira parte do texto. Há bons e maus negócios.<br />

Que dão lucro ou prejuízo, que promovem prazer ou dor.<br />

Página 60 — IGREJA LUTERANA


Todos os negócios e situações citadas podem fazer cair em<br />

concupiscências e afogar os homens na ruína e perdição quando<br />

divorciados da fé. Promovem um prejuízo pessoal (desvio da<br />

fé) e maus resultados (causam dores com reflexos no corpo e<br />

na alma). Fazem parte da "outra doutrina" (contexto, v. 3), de<br />

quem, a rigor, "nada entende", mas prega um suposto "lucro"<br />

nas coisas mundanas. O uso de particípios (v. 5) indica que tais<br />

ensinadores falsos estão em permanente privação da verdade e<br />

sua mente se acha em estado de perversão constante.<br />

Texto<br />

V. 6 — Em contraposição à lista de possíveis maus negócios,<br />

o apóstolo oferece e incentiva uma atitude que "concorda com<br />

as sãs palavras" de Cristo (v. 3). 0 teste de uma doutrina, para<br />

que se declare sã, deve ter: 1º — Cristo como origem e mentor;<br />

2º — O testemunho de vida cristã e piedosa de quem a ensina e<br />

transmite, provando o seu efeito vivificador. A 1ª atitude a ser<br />

vivida pelo crente verdadeiramente são, é a piedade. Ela é fonte,<br />

não de lucro material, apenas quando acompanhada pelo<br />

contentamento (o termo grego autarkeía, significa auto-suficiência,<br />

autocontrole, e daí, temperança, sobriedade, aceitar como<br />

suficientes os meios disponíveis - cf. Fp 4.11).<br />

Vs. 7-8 — As idéias enunciadas nestes versículos atestam a<br />

posição paulina em relação às posses materiais e a atitude correta<br />

cm relação a elas ou à sua falta. Não pertencem ao eu, mas<br />

são-lhe acrescentadas e, com a morte, tomadas. O verdadeiro<br />

caminho à perfeita satisfação opõe-se à busca de coisas materiais<br />

de forma desenfreada. O apóstolo não prega um comportamento<br />

ascético, mas alerta para os perigos iminentes que decorrem<br />

dos desejos efêmeros.<br />

Vs. 9-10 — Ser rico não é errado em si: o desejo de sê-lo,<br />

a cobiça, a inveja e outras tentações e ciladas é que fazem da<br />

riqueza um teste à fé verdadeira. Os que não lhe resistem, caem<br />

da fé e atormentam-se com falta de tranqüilidade, dor de consciência<br />

sobre bens conseguidos irregularmente. A perda da vida<br />

espiritual e eterna é o resultado de um tal mau negócio, e o desvio<br />

da fé.<br />

Vs. 11-12 — A expressão "homem de Deus" repercute no<br />

texto como um eco do cognome dado ao profeta no Antigo Testamento<br />

(cf. 1 Sm 9.6 etc), e significa "pessoa comissionada por<br />

Deus", mensageiro da parte de Deus junto aos homens. Nesta<br />

função não pode envolver-se com assuntos de natureza terrena a<br />

ponto de pôr em perigo os do espírito. Homem de Deus aplica-se<br />

também a cada cristão maduro e habilitado, como vem<br />

repetido em 2 Tm 3.17. As coisas de que Timóteo deve fugir<br />

IGREJA LUTERANA — Página 61


são as que estão mencionadas no contexto (vs. 4-5). A idéia é,<br />

aqui, retomada, e se lhe opõem virtudes que são, além da piedade,<br />

justiça, fé, amor, constância e mansidão (cf. 2 Tm 2.22).<br />

O amor se opõe à inveja, à contenda e à provocação. A constância<br />

se opõe às difamações, a mansidão contorna as suspeitas<br />

malignas.<br />

A "confissão" (homología) pode estar-se referindo ao batismo<br />

de Timóteo. O combate (agôn) da fé, que se fere na vida<br />

cristã, e a presença de testemunhas (mártir) lembram, no original,<br />

termos cuja raiz tomou, em português, a conotação de uma<br />

luta encarniçada, uma batalha de vida ou morte.<br />

Vs. 13-16 — Paulo fundamenta seus conselhos e recomendações<br />

a Timóteo com as verdades fundamentais da fé cristã.<br />

Soam como fórmulas de confissão da fé na igreja primitiva,<br />

usadas no batismo, entre outras ocasiões. Deus é Criador e Preservador<br />

da vida, Soberano, Rei e Senhor de tudo e de todos,<br />

Eterno, Invisível, Poderoso, digno de honra e louvor (está tudo<br />

no texto!) Este Deus se revelou em Cristo como Salvador, padeceu<br />

sob Pilatos, e por sua paixão, morte e ressurreição providenciou<br />

a redenção. Isto tudo deve ser visto e crido na perspectiva<br />

da segunda vinda ou manifestação (epiphâneia) de Cristo,<br />

nos tempos e épocas determinadas por Deus, de acordo com<br />

sua soberana vontade (At 2.7,8).<br />

Estas verdades se destinam a todos os homens, não só ao<br />

homem de Deus Timóteo e aos ministros de Cristo. A gloriosa<br />

nova da salvação deve ser crida, vivida e anunciada pelos crentes<br />

em todos os pontos. Fé c vida cristãs perfazem o conjunto<br />

de atuação de quem se diz homem de Deus aqui no inundo. Os<br />

que "servem às mesas" (At 6.2) e se encarregam das coisas materiais<br />

na igreja c no mundo devem fugir das tentações que os<br />

levam a se desviar da fé. Muito mais devem fazê-lo os que se<br />

consagram à oração e ao ministério da palavra. Pela palavra<br />

e pelo exemplo dos que confessam sua fé as pessoas serão movidas<br />

a aceitar o Salvador Jesus.<br />

Disposição<br />

NEGÓCIOS E EONTES DE LUCRO MERECEM CAUTELA!<br />

I. Os negócios e falsos lucros de quem ama as riquezas<br />

1. Ele vive, pensa e transpira valores materiais e passageiros<br />

2. 0 desejo de enriquecer afoga a disposição para o bem<br />

e prejudica a si e aos outros<br />

Página 62 — IGREJA LUTERANA


3. Entrega-se à tentação do dinheiro, da cobiça e da concupiscência,<br />

raízes de todos os males, ruína e perdição<br />

II. A fonte de lucro verdadeiro do homem de Deus piedoso e<br />

contente<br />

1. Consciente dos perigos, seus desejos são guiados pelo<br />

Espírito Santo<br />

2. Ele se enriquece com os tesouros da graça de Deus — fé,<br />

piedade, contentamento<br />

3. Desenvolve atitudes cristãs, consagrando a Deus sua<br />

vida e bens<br />

ou<br />

TOMA POSSE DA VIDA ETERNA!<br />

I. Vivendo em piedade e contentamento (vs. (5,7,8)<br />

II. Amando mais a Deus que aos bens materiais (vs. 9,10)<br />

III. Seguindo a justiça, a piedade, a fé. . . (v. 11)<br />

IV. Combatendo o combate da fé cristã (v. 12)<br />

V. Guardando a verdade até à vinda de Cristo (vs. 13-16)<br />

Elmer<br />

Flor<br />

20º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

2 Tm 1.3-14<br />

Contexto<br />

As "Cartas Pastorais" refletem o profundo apreço que<br />

Paulo tinha por seu discípulo e íntimo amigo e cooperador Timóteo.<br />

Chama-o mesmo de filho, por ter sido instrumento nas<br />

mãos de Deus a gerar nele a fé. Nesta carta, escrita da prisão<br />

de Roma, Paulo até mesmo o prepara para sucedê-lo na liderança<br />

das congregações por ele assistidas. É o canto do cisne ou o<br />

testemunho do grande Apóstolo da gratidão.<br />

Texto<br />

Vs. 3-5 — A hora da despedida é hora de lembranças e de<br />

promessas. A gratidão de Paulo se dirige a Deus, acima de tudo,<br />

IGREJA LUTERANA — Página 63


pelo privilégio de servi-lo cora consciência pura. Sua gratidão<br />

leva também em conta a educação recebida dos antepassados<br />

próximos, em sua família, e do valor que a mesma representou<br />

na vida de Timóteo. A memória dos benefícios de uma eficiente<br />

educação na fé, a reverência a pais e avós crentes, e a gratidão<br />

a Deus por essas providências — são uma postura adequada para<br />

quem aconselha e ensina.<br />

A fé não hipócrita de Timóteo está em contraposição a<br />

tantas máscaras de piedade que, cedo ou tarde, revelam sua<br />

falsidade. Paulo, por certo, lembra tantos fariseus que viviam i<br />

hipócritas e dos quais ele, apesar de fariseu, se distinguia. A<br />

"educação na justiça" de Deus produzira o efeito, tanto em Paulo<br />

como em Timóteo, de prepará-los para o ministério, que se completa<br />

com o que segue, a saber, o desenvolvimento do poder de<br />

Deus em sua vida a seu serviço.<br />

Vs. 6-8 — Baseado nas considerações iniciais sobre a educação<br />

e o conseqüente serviço de Timóteo, Paulo faz seu apelo<br />

maior: Reavivar o dom de Deus que, pela ausência prolongada<br />

do Apóstolo, parece ler arrefecido. A menção do "espirito de<br />

covardia" e de um certo "envergonhar-se" do testemunho de<br />

Jesus e do encarcerado Paulo" confirma a necessidade constante<br />

de rcavivamento do chárisma toú Theoú. Essas falhas não se<br />

verificam com Timóteo, pois o aoristo subjuntivo negativo não<br />

permite essa interpretação. Se Timóteo estivesse incorrendo nelas,<br />

deveria usar-se o presente do imperativo. Apenas o poder<br />

de Deus faz vencer a inibição e os sofrimentos a favor do evangelho.<br />

Esse poder é o antônimo de covardia, de vergonha, do<br />

medo. O poder de Deus desenvolve amor e moderação para desempenharmos<br />

nosso serviço a Deus e oferece as condições necessárias<br />

a esse serviço. Moderação é mais que uma qualidade,<br />

é ação, é exercício de uma mente sadia e equilibrada.<br />

Vs. 9-10 — O teste de nosso poder se dá quando temos que<br />

sofrer pelo evangelho. Esta é a essência da "teologia da cruz"<br />

de Lutero. Vivemos e sofremos segundo o poder de Deus, salvador<br />

e santificador. De acordo com o mesmo poder ele chamou<br />

Paulo e Timóteo com santa vocação. Essa vocação inclui as<br />

habilidades de pregar, ensinar, admoestar e supervisionar nas<br />

igrejas, e inclusive de sofrer por sua palavra e testemunho, recebendo,<br />

por sua vez, as forças para resistir. Klêsei (vocação),<br />

aqui, é idêntica a 1 Co 7.20 e Ef 3.20: uma tarefa de vida especifica,<br />

o ministério pastoral. É distinto das profissões seculares<br />

porque e quando feita "conforme a sua própria determinação e<br />

graça". Esta graça é o imerecido "favor Dei", sempre universal<br />

e ilimitado, que cancela e remove o pecado e a culpa. Paulo e<br />

Timóteo foram predestinados e eleitos na eternidade. Temos aqui<br />

a fundamentação da doutrina da predestinação e do chamado<br />

Página 64 — IGREJA LUTERANA


divinos, da eleição da graça e do ministério da pregação. Estabelecido<br />

na eternidade, manifesta-se através da vida e obra de<br />

Cristo, nessa redenção objetiva toma forma e aplica-se, pela justificação<br />

subjetiva, aos que chegam a crer no evangelho.<br />

Vs. 11-12 — Em conexão com os atos de salvação de Deus,<br />

antes referidos, o Apóstolo recebeu medida especial de sua graça,<br />

e a incumbência de ministrar aos homens a vontade de Deus<br />

como pregador da palavra, apóstolo e enviado, mestre e ensinador,<br />

um terceto de encargos específicos que expressam a importância<br />

do ministério pastoral para quantos são chamados para<br />

exercê-lo. Oida é um elemento básico da fé: fé e certeza se<br />

complementam. O "depósito" certo e seguro, o crer no evangelho,<br />

está guardado em Cristo, que é poderoso para guarda-lo a<br />

salvo de perseguições e adversidades terrenas até o dia do juízo.<br />

É como se dissesse: Ainda que eu morra, Cristo não falhará na<br />

guarda do evangelho em mim e nos que crêem.<br />

Vs. 13-14 — O padrão (hipotíposis) ou modelo (1 Tm 1.16)<br />

das palavras de Paulo, e que ele espera que Timóteo siga, é tanto<br />

a atitude como a habilidade a ser desenvolvida, de ensinar segundo<br />

o grande modelo de Cristo (Urbild / Vorbild) e do amor<br />

que revelou ao nos salvar. A orientação pelo padrão divinamente<br />

estabelecido deve ser seguida "em fé e amor" que estão em<br />

Cristo Jesus. O Espírito Santo é o dinamo que move o crente a<br />

guardar e seguir esse tesouro de fé e confissão do evangelho de<br />

Cristo.<br />

Disposição<br />

O trecho é amplo e compreende pelo menos dois aspectos<br />

gerais, o da gratidão e as recomendações do Apóstolo, suas razões<br />

pessoais, tanto em relação a pessoas (antepassados) como a fatos<br />

(eleição e chamado). Seguem três propostas distintas.<br />

SEMPRE DOU<br />

GRAÇAS!<br />

I. A quem agradecer<br />

II.<br />

1 . A Deus, a quem ele serve<br />

2. Aos pais e antepassados<br />

3. A cooperadores<br />

Por que agradecer<br />

1. Pela salvação e fé recebidas e em nós implantadas<br />

2. Pela alegria e convivência cristãs<br />

3. Por lágrimas enxugadas<br />

IGREJA LUTERANA — Página 65


III. Como agradecer<br />

1. Lembrando-os em oração a Deus<br />

2. Por uma fé sem fingimento<br />

3. Seguindo os exemplos recebidos<br />

ou<br />

GUARDA O BOM DEPÓSITO!<br />

I. A natureza e importância do depósito<br />

II.<br />

1. Poder do evangelho: a predestinação e o chamado<br />

2. O dom de Deus na vocação para o ministério<br />

3. Uma fé sem fingimento<br />

Ameaças à segurança do depósito<br />

1. Vergonha de testemunhar<br />

2. Esquecer-se de agradecer<br />

3. Sofrimentos causados pelos inimigos<br />

III.<br />

A manutenção do padrão das sãs palavras<br />

1. Certeza e fé no poder do divino guardador<br />

2. Viver em fé e amor pela habitação do Espírito<br />

SOU GUARDA DE UM BOM DEPÓSITO<br />

I. Porque ele é muito rico e importante<br />

II. Porque ele sofre constantes ameaças<br />

III. Porque tem as sãs palavras da fé em Cristo.<br />

ou<br />

Elmer<br />

Flor<br />

21° DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

Contexto<br />

2 Tm 2.8-13<br />

Ao escrever esta carta a Timóteo, o apóstolo Paulo encontrava-se<br />

encarcerado em Roma e pressentia que o desfecho do<br />

processo, movido contra ele, não lhe seria favorável (2 Tm 4.6-8).<br />

Página 66 — IGREJA LUTERANA


Timóteo, por sua vez, supervisionava as congregações fundadas<br />

por Paulo na Ásia Menor. Paulo endereça, através da presente<br />

carta, assuntos voltados às questões relativas ao ministério de<br />

seu discípulo e companheiro. No primeiro capitulo, Timóteo é<br />

encorajado a não se envergonhar de testemunhar o evangelho<br />

(v. 8). Na primeira parte do capítulo 2 (vv. 1-7) Paulo escreve<br />

o que seu "filho" deveria realizar e agora nos versículos, ora em<br />

pauta, fala do que ele, o "pai", está fazendo. Como apóstolo de<br />

Jesus Cristo, Paulo está sofrendo como malfeitor (kakopatho)<br />

por causa do evangelho.<br />

Texto<br />

V. 8 Paulo, primeiramente, quer lemhrar a Timóteo o<br />

que Jesus Cristo realizou. O que Paulo fez e o que Timóteo deveria<br />

fazer, não teria sentido se não fosse motivado pelo que<br />

Jesus realizou, pela ohra da redenção, em favor de todas as<br />

pessoas do mundo.<br />

O fato de Paulo escrever "Jesus Cristo" em lugar da costumeira<br />

forma "Cristo Jesus", poderá ler o objetivo de indicar<br />

que o "Jesus" que viveu, sofreu, morreu e ressuscitou, foi o<br />

Cristo". Este fato é reforçado pela expressão "descendente de<br />

Davi", lembrando as profecias do Antigo Testamento. "Filho de<br />

Davi" é a qualificação messiânica de Jesus, constantemente reiterada<br />

nos Evangelhos (Mt 22.41-46).<br />

A ressurreição de Jesus é tão importante porque representa<br />

a garantia de ter Deus aceito o seu sacrifício vicário em lugar<br />

de toda a humanidade.<br />

A expressão "segundo o meu evangelho" não diferencia o<br />

evangelho de Paulo do evangelho anunciado pelos outros apóstolos<br />

(At 15). A expressão significa o mesmo que quando agora<br />

dizemos "o evangelho segundo Lucas" ou "segundo João". Paulo<br />

recebeu o evangelho também da parte de Jesus Cristo, tal como<br />

os demais apóstolos, embora em outro contexto (Gl 1.12).<br />

V. 9 Como bom soldado de Jesus Cristo, Timóteo deveria<br />

participar dos sofrimentos aos quais Paulo estava sujeito (v. 4)<br />

e pensar no Salvador que ressuscitou, após ter suportado dores e<br />

angústias, e deixar que isto o animasse a igualmente suportar<br />

privações e aflições.<br />

Pelo evangelho, Paulo está sofrendo ao ponto tal de ser<br />

aprisionado como malfeitor. Isto significava estar imobilizado<br />

(em cadeias) e ter descido ao nível mais baixo no conceito da<br />

moralidade pública (malfeitor). Mesmo em tais circunstâncias,<br />

quando o homem é "nocauteado" e silenciado, não se pode calar<br />

a voz de Deus, "a palavra de Deus não está algemada". Isto<br />

lembra as palavras de Jesus segundo as quais, se os discípulos<br />

IGREJA LUTERANA — Página 67


se calassem, as próprias pedras iriam clamar (Lc 19.40). Se<br />

fosse possível algemar a palavra de Deus o sofrimento de Paulo<br />

não teria muito sentido. Paulo reconhece que as suas cadeias<br />

contribuíram para o progresso do evangelho (Fp 1.13).<br />

V. 10 Porque a palavra de Deus não está algemada, Paulo<br />

está disposto a sofrer qualquer coisa ("tudo suporto") por<br />

causa do evangelho, a fim de salvar pecadores. A tal ponto o<br />

amor de Paulo é profundo pelas almas que ele está disposto a<br />

permitir que ele fosse separado de Cristo, caso isto viesse a contribuir<br />

que seus patrícios, os judeus, aceitassem o evangelho<br />

(Rm 9.3).<br />

Paulo fala nos eleitos. Eles, necessariamente, passam pela<br />

fé em Jesus Cristo. Crêem no testemunho de Deus, segundo o<br />

qual o sacrifício de Jesus foi em lugar de todos os pecadores e<br />

que ele de fato deseja salvar a todos (Ez 33.11; Mt 11.28). Ora,<br />

se este testemunho é tão importante, Paulo está disposto a tudo,<br />

para atingir os eleitos. Paulo fala na primeira pessoa do plural.<br />

Ambos, Paulo e Timóteo, estavam unidos no sofrimento e na<br />

proclamação do evangelho. Nisto todos os crentes estão, ou deveriam<br />

estar igualmente unidos.<br />

V. 11 A forma condicional "se", nos vv. 11-13, é na verdade<br />

uma afirmação. O que é confirmado, logo no início, com<br />

a expressão "fiel é a palavra". Aqui há simetria. Tão certo<br />

como é uma coisa é a outra também. Morrer com Cristo e viver<br />

com ele.<br />

As palavras "se já morremos com ele", segundo Lenski,<br />

não se referem à morte física, nem ao martírio, mas ao morrer<br />

no batismo, "todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos<br />

batizados na sua morte" (Rm 6.4). Estes dois fatos são verdadeiros,<br />

Cristo morreu e nós, com ele, morremos no batismo, o<br />

outro também é verdadeiro, "viveremos com ele". Paulo também,<br />

aqui, usa a primeira pessoa do plural. O que é verdade<br />

em relação a Paulo e Timóteo, o é, igualmente, em relação a<br />

todos os crentes.<br />

V. 12 Entre a morte no passado (pelo batismo) e a vida<br />

futura (no céu), permanece nossa perseverança, agora. A sorte<br />

no perseverar é diferente de cristão para cristão. Concretiza-se<br />

o que Jesus fala na parábola dos trabalhadores da vinha (Mt<br />

20.1-16). Alguns precisam perseverar durante muito tempo, outros<br />

são logo chamados ao descanso. Uns precisam resistir até<br />

ao sangue (Hb 12.4), chegando a ser mártires, outros estão sujeitos<br />

a uma longa jornada de aflições até serem chamados por<br />

morte natural (Hb 10.32). Jesus faz conecção entre perseverar<br />

e alcançar a vida eterna (Mt 10.22; 24.13).<br />

Vida eterna significa reinar com Cristo. Enquanto aqui<br />

somos subjugados, espezinhados, humilhados, desprezados e es-<br />

Página 08—IGREJA LUTERANA


tamos "por baixo", lá estaremos "por cima", sentados com ele<br />

no seu trono (Ap 3.21; 20.4). Por isto a Escritura fala da "coroa"<br />

reservada aos crentes no reino de Deus (2 Tm 4.8; Tg 1.12; 1 Pe<br />

5.4; Ap 2.10).<br />

Repetidas vezes Jesus fala a respeito da falta de testemunho.<br />

Fé e testemunho estão intimamente ligados, de sorte que<br />

o Senhor condena aqueles nos quais ambos não andam lado a<br />

lado (Mt 10.33; Lc 12.9). A ausência de testemunho é igualada<br />

a negar a fé, quando Jesus fala em "envergonhar-se dele e de<br />

suas palavras" (Mc 8.38; Lc 9.26), e de outra parte põe num<br />

pedestal aquele que confessa sua fé (Ap 2.13; 3.8).<br />

V. 13 "Se somos infiéis", "ele permanece fiel", portanto,<br />

se não formos de confiança, isto é, se não dá para alguém fiar-se<br />

em nós, no Senhor, porém, dá para confiar plenamente, pois ele<br />

cumpre a sua palavra e promessas. Ele é a verdade. Não pode<br />

negar-se a si mesmo, isto é, se ele não cumprir as suas promessas<br />

ele deixa de ser Deus. Ele não pode contradizer-se a si mesmo.<br />

Ele é o mesmo sempre! Deus não faz o que fazem as pessoas<br />

quando sua conduta está em discordância com a sua fé.<br />

O exemplo concreto e visível da fé na conduta de uma<br />

pessoa é importante para incentivar outros a se conduzirem cristãmente.<br />

Estamos nós influenciando outros, com o nosso exemplo,<br />

a lutarem pelo evangelho e a suportarem corajosamente a<br />

cruz que a vida cristã acarreta?<br />

Disposição<br />

LEMBRA-TE DE JESUS CRISTO<br />

I — Porque ele morreu e ressuscitou dos mortos (8)<br />

II — Porque é preciso falar do seu evangelho (9)<br />

III — Porque nele recebemos a eterna glória (10 e 11)<br />

IV — Porque ele é fiel e espera nossa fidelidade (12 e 13)<br />

Christiano Joaquim Steyer<br />

Contexto<br />

22º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

2 Tm 3.14-4.5<br />

Paulo previne seu filho espiritual e colega no ministério,<br />

dos males e da corrupção que acontecerão nos últimos dias e<br />

IGREJA LUTERANA — Página 69


do surgimento de pessoas que professarão doutrinas em desacordo<br />

com a Escritura. Oposto a isto, Timóteo pôde seguir bem<br />

de perto o exemplo de lealdade a Deus vivido por Paulo, apesar<br />

de este ter passado por muitas perseguições e sofrimentos.<br />

Texto<br />

V. 14 Se os homens perversos e impostures irão de mal a<br />

pior (v. 13), outra deveria ser a postura e a sorte de Timóteo.<br />

Ele conhecia a verdade da Escritura desde a infância. Esta é<br />

fundamento sólido e firme sobre a qual podia construir sua fé<br />

e nela permanecer.<br />

Há discussão sobre o "quem" (tínoon) na expressão "de<br />

quem o aprendeste". Tratando-se do plural, deve referir-se não<br />

apenas a Paulo como também à mãe e avó de Timóteo (2 Tm<br />

1.5) e, eventualmente, a outros que lhe poderiam ter ensinado<br />

a Escritura. Alguns poucos Manuscritos, impropriamente, tem o<br />

singular (tínos), querendo indicar que Timóteo aprendera somente<br />

por meio de Paulo.<br />

V, 15 O versículo mostra que Timóteo conheceu a Escritura<br />

desde a infância, através de familiares. O que deu a ele a<br />

convicção e certeza da fé, porém não foi sua avó ou mãe, mas<br />

as sagradas letras. A Escritura é a autoridade. Pais cristãos,<br />

desde cedo, devem enfatizar, diante dos filhos, a autoridade da<br />

Escritura mais do que sua própria autoridade. O mesmo se refere<br />

a pastores em relação aos membros de suas congregações.<br />

Os judeus da congregação de Beréia haviam sido educados assim<br />

(At 17.11).<br />

Paulo aponta para o assunto central da Escritura, a fé em<br />

Jesus Cristo. Para ele Cristo é o âmago das sagradas letras.<br />

Não há nisto diferença entre os crentes do Antigo e Novo Testamento.<br />

Ambos confiaram e confiam no mesmo Cristo. Conferir<br />

Jo 5.39.<br />

É preciso notar que o simples conhecimento intelectual da<br />

história da salvação não salva. As sagradas letras podem tornar<br />

sábio para a salvação. Os sacerdotes e escribas, no tempo de<br />

Jesus, conheciam muito bem as sagradas letras, as mesmas que<br />

Timóteo aprendera. É a fé em Jesus que salva e não o simples<br />

conhecimento a respeito da salvação.<br />

V. 16 Estas palavras são fundamentais para a credibilidade<br />

da Escritura. A inspiração divina garante que ela é a<br />

mensagem de Deus, cada palavra (2 Pe 1.21). A autoridade<br />

apostólica, por sua vez, garante a verdade destas palavras. Pois<br />

se os apóstolos lançaram um fundamento falso, como conseqüência,<br />

todo o cristianismo seria falso. A igreja, porém, está edificada<br />

sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2.20).<br />

Página 70 — IGREJA LUTERANA


Assim como os profetas falaram no Antigo Testamento como<br />

mensageiros de Deus, cujas palavras se cumpriram (Mt 1.22),<br />

assim os apóstolos são os porta-vozes de Deus no Novo Testamento.<br />

A inspiração não é uma teoria, ela é um fato. Isto é<br />

assim ainda que não compreendamos todas as palavras da Escritura<br />

ou nos surgiram uma aparente contradição. A falha ou<br />

a lacuna seguramente estará em nossa mente humana, incapaz<br />

e imperfeita para abarcar toda a sabedoria divina.<br />

Por ser inspirada por Deus é que o homem encontra na<br />

Escritura todo o ensino necessário para tornar-se sábio para a<br />

salvação. Ela repreende ou reprova o pecador quando comete<br />

pecado, chamando-o ao arrependimento. Ela reprova o erro pela<br />

proclamação da verdade (Jo 8.31). A verdade liberta (Jo<br />

8.36). A Escritura é útil para a correção ou restauração. Aquele<br />

que encontrou em Cristo o perdão dos pecados é restaurado<br />

da condição de pecador perdido e condenado para a de filho de<br />

Deus e herdeiro da vida eterna. A Escritura também "educa<br />

na jusliça". Ela é a única fonte que apresenta, para a humanidade<br />

caída em pecados, o amor de Deus em sua dimensão mais<br />

profunda, mas real. A jusliça de Deus é um conceito forense.<br />

Deus declara o homem pecador justificado diante dele, por causa<br />

de Cristo.<br />

V. 17 A pessoa posta sob a influência da palavra inspirada<br />

por Deus, como foi detalhado no v. 16, torna-se apta ou<br />

em condições (ártios) para toda a boa obra. A idéia de perfeição<br />

é resultado da justificação.<br />

Cap. 4, v. 1 "Conjuro-te", isto é "eu testifico solenemente".<br />

O que Paulo vai escrever é de tanta importância que ele o faz<br />

invocando como garantia o que é de mais sagrado, Deus e Jesus<br />

Cristo, que está prestes a julgar vivos e mortos. Paulo testifica<br />

também (embora soe um tanto estranho) pela volta e pelo reino<br />

de Jesus (ver o texto grego).<br />

V. 2 O que segue diz tudo respeito ao "prega a palavra".<br />

A palavra é o poder de Deus para a salvação de todo aquele<br />

que crê (Rm 1.16) c que faz tudo o que foi mencionado nos<br />

versículos anteriores (2 Tm 3.16-17). Proclamar a palavra de<br />

todos os modos deve ser a maior e constante ocupação de Timóteo.<br />

"Com toda a longanimidade" se refere à paciência que<br />

Timóteo deveria ter no instar, corrigir, repreender e exortar.<br />

"Doutrina", isto é, o conteúdo do texto bíblico.<br />

V. 3 Paulo tem em mente aqueles que não querem saber<br />

da doutrina bíblica. É uma profecia ao nível de 2 Ts 2.3 e 2 Tm<br />

3.1-9. Isto iria suceder na própria igreja. O ponto referencial<br />

destas pessoas não é mais a Escritura, porém os seus próprios<br />

desejos perversos. Segundo estes padrões elas elegem seus mestres<br />

e ministros. Estes, por estarem comprometidos por interes-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 71


ses pessoais, ensinam e pregam apenas o que a congregação<br />

deseja ouvir.<br />

V. 4 Por se recusarem a ouvir a verdade da palavra de<br />

Deus, os mestres substituem-na por coisas inventadas pela criatividade<br />

humana (fábulas). Quando uma pessoa não dá crédito<br />

à verdade, como castigo de Deus, ela acaba crendo em mentiras<br />

(2 Ts 2.10,11).<br />

V. 5 "Tu, porém", é em oposição ao que foi dito nos vv 3<br />

e 4. Aqui é usado o presente imperativo "continua a ser sóbrio".<br />

Paulo reconhece que isto tem sido o caso com Timóteo. "Sê<br />

sóbrio", isto é, continua a manter a mente despoluída de fábulas,<br />

opiniões e conceitos que rejeitam a verdade divina. As aflições<br />

que estariam para vir, não deveriam afastar Timóteo de ser sóbrio<br />

e de "ter a cabeça no lugar".<br />

Com a expressão "faze o trabalho de evangelista" novamente<br />

é dada ênfase à pregação da palavra como ocupação<br />

primordial de Timóteo. A expressão, por isto, não quer dizer<br />

apenas que Timóteo fosse um missionário, mas que em toda a<br />

sua atividade pastoral a tônica fosse o evangelho. Desta forma<br />

o seu ministério, como um serviço prestado a outros, seria desempenhado<br />

de forma completa (cabalmente).<br />

Disposição<br />

TODA A ESCRITURA É ÚTIL<br />

I — Para o ensino (didaskalia)<br />

II — Para a repreensão (eleqmós)<br />

III — Para a correção (epanórthoosis)<br />

IV — Para a educação na justiça (peideia)<br />

Christiano Joaquim<br />

Steyer<br />

23º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

2 Tm 4.6-8,16-18<br />

Contexto<br />

Com a presente carta, o apóstolo Paulo deseja encorajar<br />

Timóteo a permanecer um obreiro fiel. Isto deveria acontecer<br />

de todas as dificuldades e contratempos aos quais estaria sujeito.<br />

O versículo anterior como que resume todo o incentivo do apóstolo<br />

"cumpre cabalmente o teu ministério". Em outras palavras,<br />

Página 72 — IGREJA LUTERANA


"Timóteo, quero que te dediques inteiramente ao teu ministério,<br />

desempenhando as tarefas com fidelidade" (1 Co 4.2).<br />

Texto<br />

V. 6 Agora, a partir do v. 6, Paulo fala de seu próprio<br />

ministério. A fidelidade que espero de ti, Timóteo, eu a conservei<br />

até agora. O tempo que o Senhor me concedeu para trabalhar<br />

na edificação de sua igreja, está chegando ao fim. Paulo<br />

como que deseja fazer a entrega do bastão da fidelidade no<br />

pastorado, a semelhança do que se faz nas corridas de revezamento.<br />

Ser oferecido por libação (spéndomai) lembra a morte de<br />

mártir que Paulo estava prevendo. A forma passiva (estou sendo<br />

oferecido) deixa claro que Paulo, ao falar de si, não o faz<br />

com vistas a uma auto-justificação. Se ele pode ser oferecido<br />

como libação, também isto é a graça de Deus, agindo nele (1 Co<br />

15.10). "Spéndomai" não é oferta do sacrifício em si (o que<br />

seria "thúmai) mas oferta de vinho que era derramado sobre o<br />

sacrifício (Nm 15.1-10; conferir Fp 2.17). Se todo o ministério<br />

de Paulo é considerado por ele um sacrifício ofertado a Deus,<br />

seu martírio que está prestes a acontecer, marca o último ato da<br />

cerimônia sacrificai.<br />

V. 7 Ao pressentir a chegada de seu fim terreno, Paulo<br />

faz um rápido balanço de sua vida c, apesar de esta ter sido<br />

uma luta árdua e renhida, não há ressentimentos. Pelo contrário,<br />

ele a denomina de "bom combate". "Combate" faz referência<br />

às competições atléticas em busca de um troféu. O combate de<br />

Paulo era para guardar a fé a fim de alcançar a coroa da vida<br />

(Ap 2.10), fato que também se pode constatar no versículo seguinte<br />

e em 1 Tm 6.12 e Fp 3.14. O tempo perfeito dos verbos<br />

indica que Paulo ainda se encontrava na luta, pois seu fim, embora<br />

iminente, não havia chegado.<br />

V. 8 Aqui Paulo menciona o que o aguarda depois de o<br />

"bom combate" terminar, a coroa da justiça. "A coroa da justiça"<br />

precisa ser entendida conforme o conceito de justiça empregado<br />

em outros escritos de Paulo. É a justiça de Deus como<br />

um ato forense. É justiça imputada e se revela no evangelho<br />

(Rm 1.17; 3.21-28). Deus é quem declara o pecador justo pela<br />

fé nos méritos de Jesus Cristo. Esta fé se manifesta através de<br />

toda a sorte de boas obras (2 Tm 3.17). A idéia de a "coroa da<br />

justiça" ser uma dádiva de Deus aparece também na expressão<br />

"a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia". Por ocasião<br />

da volta de Jesus, a justiça de Deus, tal como agora é anunciada<br />

no evangelho, será reconhecida por todos.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 73


A coroa da justiça está também destinada "a todos quantos<br />

amam a sua vinda". Naquele tempo de perseguições e dificuldades,<br />

uma das características dos crentes era a de aguardar<br />

ansiosamente a volta de Jesus a fim de serem recebidos na sua<br />

glória.<br />

V. 16 Não é possível identificar com exatidão a quem. se<br />

referem as palavras "ninguém foi a meu favor". Alguns crentes<br />

estavam com Paulo (vv. 11 e 21), outros haviam-no abandonado<br />

(vv. 10 e 14) ou não estavam com ele por atenderem, a compromissos<br />

com as igrejas (vv. 10,12,20). As palavras "que isto<br />

não lhes seja posto em conta" parecem indicar que alguns cristãos<br />

poderiam ter comparecido ao tribunal e falado a favor de<br />

Paulo. No entanto, Paulo tinha outros amigos, não crentes, de<br />

posição destacada. Nenhum, deles falou a seu favor. Os tempos<br />

eram de extremo perigo. Ninguém quis se expor a defender um<br />

adepto da "seita", acusada de incendiar Roma e que agora já<br />

não era mais confundida com o judaísmo.<br />

V. 17 Paulo, no entanto, não estava sozinho. O Senhor<br />

cumpriu a sua promessa feita em Lc 12.11-12. Mais uma vez<br />

leve ele a oportunidade de testemunhar e todos os gentios que<br />

se encontravam no tribunal (inclusive nas galerias), puderam<br />

ouvir o evangelho. Provavelmente muitos dos futuros mártires<br />

foram ali, pela primeira vez, "tocados" pelo Espírito Santo. Deus<br />

se utiliza de circunstâncias as mais estranhas para anunciar a<br />

mensagem da salvação c fazer germinar a palavra como e quando<br />

lhe aprouver.<br />

As palavras "fui libertado da boca do leão", para alguns,<br />

se referem ao imperador Nero, para outros Paulo teria sido<br />

condenado a ser lançado diante de leões, mas escapado desta<br />

pena devido a sua condição de cidadão romano. Para outros,<br />

ainda, as palavras se referem a um perigo espiritual. Paulo teria<br />

escapado das mãos de Satanás. Lenski parece estar certo ao<br />

dizer que se trata simplesmente de uma linguagem figurada,<br />

segundo a qual, na primeira audiência, Paulo não foi condenado<br />

à morte.<br />

V. 18 Paulo sabe que as suas chances são mínimas de escapar<br />

da morte quando tiver de enfrentar o próximo julgamento.<br />

Tem ele a esperança de, antes disto, ao menos, mais uma vez,<br />

encontrar-se com Timóteo.<br />

Caso for sentenciado, ele estará livre das forças malignas<br />

de Satanás e de seus instrumentos. Logo a seguir Paulo estaria<br />

com o Senhor, no seu reino celeste (Fp 1.23), enquanto o seu<br />

corpo permaneceria aqui aguardando a ressurreição.<br />

Ao vislumbrar a chegada do dia em que seria executado<br />

e compareceria à presença do Senhor, longe de se lamentar,<br />

Página 74 — IGREJA LUTERANA


Paulo irrompe numa doxologia. Estará com o Senhor "pelos<br />

séculos dos séculos". É a mais forte expressão grega para expressar<br />

"por toda a eternidade". O acréscimo do "amém" é<br />

resultado da certeza que provém da fé, "isto é certamente a<br />

verdade, eu creio nisto".<br />

Disposição<br />

COMBATI O BOM COMBATE<br />

I — Completando a carreira (7)<br />

II — Guardando a fé em Cristo (7)<br />

III — Sendo assistido pelo Senhor (17)<br />

IV — Tendo certeza de receber a coroa da justiça (8)<br />

Christiano Joaquim<br />

Steyer<br />

Contexto<br />

24º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

2 Ts 1.1-5,11,12<br />

É a segunda epístola do trio "Paulo, Silvano Timóteo à<br />

igreja dos tessalonicenses em Deus Pai de nós c no Senhor Jesus<br />

Cristo" (v. 1). A saudação é igual à da primeira carta, sendo<br />

que nesta segunda há o acréscimo das palavras apò Theou Patròs<br />

kai Kyriou .lesou Christou. O trio se considera porta-voz, mensageiro<br />

da parte de Deus para a igreja tessalonicense: eles dizem<br />

à igreja dos tessalonicenses que há "graça a eles e paz da parte<br />

de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo" (v. 2). Aliás, é assim<br />

também a função ou situação do pastor na igreja, hoje: ele fala<br />

da parte de Deus para a sua igreja!<br />

Texto<br />

Eucharistein ofeílomen tô Theô ("cumpre-nos dar sempre<br />

graças a Deus", v. 3). O destaque aqui é para o verbo ofeílo<br />

(dever, importa que), porque, ao contrário do verbo dei, expressa<br />

ele o dever pessoal de sempre agradecer a Deus, como é digno.<br />

Eles enxergam duas grandes razões para sempre dar graças a<br />

Deus por causa dos tessalonicenses: lª) Hóti hyperauxánei he<br />

pístis hymôn ("por que a vossa fé cresce sobremaneira". Detalhe:<br />

o verbo está no presente do indicativo, cresce, o que indica<br />

IGREJA LUTERANA — Página 75


que a fé não é algo estático do passado, nem apenas um desejo<br />

futuro); 2ª) Hóti... kai pleonázei he agápe henòs hekástou pántõn<br />

hkmôn eis allélous ("porque... e aumenta mais o amor de<br />

cada um de todos vós para uns com os outros". O verbo também<br />

está no presente do indicativo: aumenta mais); 3ª Deste versículo<br />

três aprendemos que a comunidade cristã de Tessalônica<br />

estava no caminho certo: fé, confiança em Deus e amor ao próximo!<br />

Em resumo: é só isto ou tudo isto que Deus quer de nós!!!<br />

Como já fizeram na primeira carta (1.2-10), também nesta<br />

(1.4) os autores colocam os cristãos tessalonicenses por modelos<br />

para as outras "igrejas de Deus"; principalmente modelos<br />

na constância, na perseverança (hypomonê) e na fé, na fidelidade<br />

(pístis) durante as perseguições e tribulações que suportaram<br />

(v. 4).<br />

O versículo cinco aponta para o juízo, que é descrito nos<br />

versículos sete e seguintes, "o justo julgamento, a justa sentença<br />

de Deus" (tes dikaías kríseos). Era vista do julgamento de Deus,<br />

"quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do<br />

seu poder" (v. 7), Paulo, Silvano e Timóteo não cessam de orar<br />

pelos tessalonicenses, para que Deus os conserve dignos da vocação<br />

e preencha todo o propósito de bondade e obra de fé com<br />

poder. O objetivo final é a glorificação do nome de JESUS CRIS­<br />

TO entre esses cristãos e eles nele, segundo a graça de Deus e<br />

do Senhor Jesus Cristo.<br />

Disposição<br />

A moléstia que aqui é combatida (sem ser mencionada!)<br />

é a passividade da comunidade cristã; porque, ao elogiarem efusivamente<br />

a fé, o amor e a perseverança dos cristãos tessalonicenses,<br />

Paulo, Silvano e Timóteo condenam a falta de fé, desamor<br />

e inconstância de todos os outros. Atenta bem para qual é a<br />

realidade em tua congregação! Quem sabe é hora de pregar lei,<br />

de anunciar o juízo justo de Deus, que se avizinha, porque não<br />

há preocupação de glorificar o Senhor Jesus, visto que a grande<br />

maioria busca seus interesses próprios, sua glória pessoal. Combate<br />

este mal energicamente com a pregação da lei de Deus.<br />

O meio de consolar os ouvintes arrependidos e crentes é<br />

muito evidente nesta epístola, mormente se a comunidade é firme,<br />

fiel e ativa como a de Tessalônica, onde a fé cresce e o amor<br />

mútuo aumenta e onde se serve ao Senhor Jesus. O grande consolo<br />

está no fato de que Deus conserva dignos da vocação e<br />

preenche todo o propósito de bondade mediante o Espírito Santo<br />

com a palavra e os sacramentos. E (é bom lembrar-se disso!) o<br />

pastor ora, ele não cessa de orar pelos seus paroquianos e lhes<br />

Página 76 — IGREJA LUTERANA


anuncia "graça e paz a vós outros da parte de Deus Pai e do<br />

Senhor Jesus Cristo" (v. 2).<br />

O objetivo está muito claro: a) para que "Deus vos torne<br />

dignos da vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade<br />

e obra de fé"; b) para que "o nome de nosso Senhor Jesus<br />

seja glorifiçado em vós e vós nele" (v. 11,12). 0 objetivo é, pois,<br />

realmente viver como povo e família de Deus já agora e, depois,<br />

para sempre, nos céus.<br />

GRAÇA E PAZ A VÓS OUTROS DA PARTE DE DEUS PAI<br />

I — Para que a vossa fé cresça sobremaneira<br />

II — Para que o vosso amor mútuo aumente mais e mais<br />

III — Para que o nome do Senhor Jesus seja glorificado.<br />

Curt<br />

Albrecht<br />

Contexto<br />

25º DOM. APÓS PENTECOSTES<br />

2 Ts 2.13-3.5<br />

Este trecho está separado da epístola do domingo passado<br />

pelos primeiros doze versículos do segundo capítulo, onde Paulo,<br />

Silvano e Timóteo falam da vinda do Senhor da revelação da<br />

apostasia e do caráter do homem da iniqüidade. E, em contraste<br />

com esse "mistério da iniqüidade", eles colocam: "nós, porém,<br />

devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados pelo<br />

Senhor, porque Deus vos escolheu..." (v. 13).<br />

"Poder, sinais e prodígios da mentira" (2.9) são a característica<br />

do mistério da iniqüidade e "com todo o engano de injustiça"<br />

(2.10), "segundo a eficácia de Satanás" (2.9), atinge<br />

os que perecem, "porque não acolheram o amor da verdade para<br />

serem salvos" (2.10). Por isso "Deus lhes manda a operação do<br />

erro para darem crédito à mentira" (2.11). Cremos que neste<br />

contexto (2.9-12) poderá buscar-se a base para pregar a lei, para<br />

combater a moléstia de rejeitar a verdade do amor de Deus e<br />

de não praticar a justiça e a misericórdia que Deus quer sejam<br />

praticadas. Em contraste com esta moléstia o texto desta epístola<br />

se torna o doce evangelho que consola os crentes, os que<br />

Deus escolheu e chamou.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 77


Texto<br />

Há dois verbos-chave nos versículos 13 e 14: Heílato hymâs<br />

ho Theós e ekálesen hymâs dià tou euangelion hemôn. O primeiro<br />

é o aoristo de hairéomai (= escolher; wählen, erwählen) e o<br />

segundo é o aoristo de kaléo (= chamar; rufen). Deus fez ambas<br />

as coisas com os cristãos tessalonicenses: OS ELEGEU e OS<br />

CHAMOU para a salvação, "para alcançar a glória de nosso<br />

Senhor Jesus Cristo" (v. 14).<br />

Por causa dessa escolha e desse chamamento de Deus —<br />

em conseqüência disso, poderiam esses cristãos permanecer firmes<br />

(stéko) e guardar (kratéo = pegar para segurar) o que lhes<br />

fora entregue (= ensino por palavra falada e escrita: edidáchthete,<br />

aoristo passivo = fostes ensinados) (v. 15).<br />

Jesus Cristo (e Deus Pai) deu duas coisas pela graça:<br />

1ª) eterna consolação e 2ª) boa esperança. Porque ele deu tudo<br />

isso, o reverendo trio deseja aos cristãos tessalonicenses que o<br />

mesmo Deus e Salvador lhes console e confirme os corações "com<br />

toda obra e palavra boas" (v. 16 e 17).<br />

Em conseqüência da ação de Deus neles e, agora, como<br />

filhos de Deus e herdeiros da salvação poderiam eles exerce e<br />

praticar coisas úteis e edificantes para o reino de Deus: orar<br />

pelo trio com três finalidades: 1) para que a palavra do Senhor<br />

se propague; 2) seja glorificada e 3) para que Paulo, Silvano e<br />

Timóteo sejam livres de homens maus (v. 3.1,2). A fidelidade<br />

(= fé) não é de todos, mas Deus é fiel. Ele confirma e guarda<br />

do maligno (steríxei hymâs kai fyláxei) (v. 3).<br />

Pelo fato de serem crentes e estarem no Senhor, leva Paulo<br />

e seus companheiros a confiar neles de praticarem o que lhes foi<br />

entregue (2.15) e continuarem fazendo o que lhes foi encarregado"(3.4).<br />

Por fim, no último versículo desta perícope, está presente<br />

a SS. Trindade: ho Kyrios kateuthynai. Ora, conforme 2 Coríntios<br />

3.17, o Senhor é o Espírito! Logo, estão eles desejando que<br />

o Espírito Santo conduza (lenken) os corações dos tessalonicenses<br />

ao amor de Deus (Pai) e à constância de Cristo (Filho).<br />

Toda esta perícope é um texto de muito consolo e fortalecimento<br />

para os cristãos fiéis.<br />

Disposição<br />

DEUS VOS ESCOLHEU E CHAMOU<br />

I — Para permanecerdes firmes na fé<br />

II — Para guardardes os ensinos recebidos<br />

Página 78 — IGREJA LUTERANA


III — Para orardes pelos pregadores da palavra<br />

IV — Para praticardes o que vos foi ensinado<br />

Curt<br />

Albrecht<br />

Contexto<br />

ANTE-PENÚLTIMO DOMINGO DO ANO<br />

ECLESIÁSTICO<br />

2 Ts 3.6-13<br />

Esta perícope é continuação da do domingo passado em<br />

termos de seqüência em 2 Tessalonicenses. Todavia, quanto ao<br />

conteúdo em si, é ela bastante diferente. Talvez se pudesse dizer<br />

que ambas as perícopes retratam a realidade da Igreja Cristã,<br />

duma congregação cristã. E, se juntarmos ainda a perícope do<br />

domingo retrasado, o quadro fica ainda mais completo e a visão<br />

se clareia totalmente: como é a realidade numa congregação<br />

cristã, luterana. Se não, vejamos, rapidamente, comparando as<br />

três epístolas:<br />

1ª) 2 Ts 1.1-5,11,12: Paulo, Silvano e Timóteo dão graças<br />

a Deus, porque a fé dos tessalonicenses cresceu sobremaneira e<br />

o amor mútuo estava aumentando. Eram exemplares.<br />

2ª) 2 Ts 2.13-3.5: O trio consola os fiéis tessalonicenses<br />

e os admoesta a que permaneçam fiéis ao aprendido e que ajudem<br />

orando e praticando o que aprenderam. Não havia total<br />

sintonia entre doutrina e prática.<br />

3ª) 2 Ts 3.6-13: Nesta terceira perícope aparecem os problemas:<br />

vários tessalonicenses andavam em más companhias,<br />

não imitavam mais os seus guias espirituais (pastores), não trabalhavam<br />

direito e intrometiam-se na vida alheia. Tornaram-se,<br />

pois, repreensíveis.<br />

Convém analisar bem cada congregação e verificar atenta<br />

e criteriosamente como ela está ou em qual destas três fases,<br />

acima mencionadas, cada uma se encontra mais pronunciadamente<br />

neste momento em que tu, pastor dela, vais pregar-lhe.<br />

Provavelmente as três fases estejam presentes simultaneamente;<br />

mas uma ou outra poderá estar mais acentuada.<br />

Texto<br />

O resumo desta perícope e, portanto, o tema da mensagem<br />

está no último versículo: VÓS, IRMÃOS, NÃO VOS CANSEIS<br />

IGREJA LUTERANA — Página 79


DE FAZER O BEM. E por quê? Porque Paulo, Silvano e Timóteo<br />

mostram aqui algumas coisas que membros da igreja de<br />

Tessalônica faziam mal ou não faziam o que é certo. Por exemplo:<br />

Ordenam e exortam que os tessalonicenses<br />

a) se afastem de más companhias, v. 6;<br />

b) deviam imitar seus guias, v. 7-9;<br />

c) quem não quer trabalhar, também não coma, v. 10;<br />

d) trabalhem para comerem o seu pão, v. 11,12;<br />

e) não se cansem de fazer o bem, v. 13.<br />

Algumas palavras aqui empregadas merecem reflexão especial.<br />

Parangéllo = encarregar, ordenar; Stéllomai = retrair-se,<br />

apartar-se; Atáktos = desordenadamente; Parádosis = entrega,<br />

fornecimento, tradição (ensino, 2.15); Miméomai = imitar (Cfe.<br />

Fp 3.17; Ef 5.1); Ergázomai e periergázomai = trabalhar e fazer<br />

coisas inúteis; Typos = exemplo, modelo; Enkakêo = ficar cansado,<br />

ficar ruim, parar; Kalopoiéo = fazer o bem, agir bem.<br />

A partir duma adequada reflexão sobre estas palavras-chave<br />

da epístola aparecerão as obras da(s) congregação (ões), para<br />

a(s) qual(is) a mensagem vai ser pregada. Obras más que precisam<br />

ser condenadas (com a pregação da lei) e boas obras que<br />

precisam ser encorajadas (com a pregação do evangelho); pelo<br />

que o tema deve ser IRMÃOS, NÃO VOS CANSEIS DE FAZER<br />

O BEM, apontando sempre Cristo como o grande Benfeitor; pois<br />

é "em nome do Senhor Jesus Cristo" (v. 6), que Paulo, Silvano<br />

e Timóteo, inspirados pelo Espírito Santo, escreveram esta perícope.<br />

Disposição<br />

NÃO VOS CANSEIS DE FAZER O BEM<br />

I — Afastando-vos das más companhias<br />

II — Imitando vossos guias espirituais<br />

Curt<br />

Albrecht<br />

PENÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO<br />

Contexto<br />

1 Co 15.54-58<br />

Tendo-se preocupado, nesta carta aos coríntios, com vários<br />

problemas e assuntos práticos na vida da congregação (questões<br />

Página 80 — IGREJA LUTERANA


sociais, morais, eclesiais e litúrgicas), o apóstolo, no cap. 15, trata<br />

de uma questão profundamente doutrinária e de vital importância<br />

para a existência e fé dos cristãos em geral. A epístola<br />

começa com o Cristo Crucificado (1.13-2.5) e termina sob grande<br />

júbilo com o Cristo Ressuscitado (cap. 15). Este capitulo já<br />

foi caracterizado como sendo "o mais antigo tratado da doutrina<br />

cristã" e, de fato, ele é a única parte da carta que trata diretamente<br />

de uma das doutrinas fundamentais do cristianismo.<br />

O apóstolo, ao escrever a carta, havia respondido, em geral,<br />

as perguntas feitas por membros da congregação. No entanto, a<br />

razão profunda deste capítulo não é resposta a uma pergunta,<br />

mas visa um problema grave que ele mesmo descreve com. as<br />

palavras: "... como afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição<br />

de mortos?" (v. 12). Quem foram estes "dentre vós"<br />

que fizeram uma tal afirmação, o apóstolo não diz. Será que<br />

foram membros da própria congregação? (Sem dúvida, uma<br />

questão mui séria hoje em dia, quando se prega e ensina no<br />

cristianismo nominal o mesmo que estes "dentre vós" de Corinto<br />

afirmaram!). Achamos, porém, que estes "dentre vós" foram<br />

pessoas que viviam ao redor dos cristãos de Corinto. A igreja<br />

de Corinto foi uma congregação quase que exclusivamente de<br />

origem paga. Os gregos pagãos, à base dos ensinamentos dos<br />

filósofos daquela época, mesmo daqueles que ainda aceitaram<br />

uma espécie de imortalidade da alma, consideravam a afirmação<br />

de uma ressurreição do corpo como sendo "loucura" (Cf. o discurso<br />

de Paulo no Areópago, Atos 17.22-31 e, especialmente o<br />

v. 32!). Vivendo no meio desta gente, os cristãos estiveram<br />

constantemente confrontados com tais zombarias. É por isso que<br />

o apóstolo considera de suma importância, de uma vez por todas,<br />

esclarecer "a nossa esperança em Cristo" (v. 19). Ele faz isto<br />

num tom de profundo amor para com os cristãos de Corinto e<br />

os lembra que já no início de seu trabalho missionário entre eles<br />

falou sobre este assunto (v. 1), e não como doutrina eventualmente<br />

inventada por ele mesmo, mas sim, ele lhes "entregou"<br />

seu evangelho com a doutrina da ressurreição assim "como também<br />

recebi" (v. 3), isto é, "recebeu" dos primeiros apóstolos e<br />

testemunhas da ressurreição de Cristo.<br />

O capítulo pode ser dividido em três partes principais:<br />

1) a ressurreição de Cristo é artigo fundamental e essencial do<br />

evangelho (v. 1-11); 2) se Cristo ressuscitou, os que morreram<br />

"em Cristo" também ressuscitarão (v. 12-34); 3) respostas a<br />

objeções: como e qual será o corpo ressuscitado (v. 35-54a).<br />

Conclusão (o nosso texto): O canto da vitória sobre a morte<br />

(v. 54-58).<br />

IGREJA LUTERANA — Página 81


Texto<br />

"Tragada foi a morte pela vitória!" (v. 54). O inimigo<br />

mais temido de toda a humanidade perdida, a morte, foi vencido.<br />

Desta maneira fomos libertados, isto é, "todos que, pelo pavor<br />

da morte, estavam sujeitos a escravidão por toda a vida" (Hb<br />

2.15).<br />

O apóstolo acrescenta à sua exclamação de vitória uma<br />

explicação, descrevendo o que faz a morte realmente tão terrível:<br />

"O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei"<br />

(v. 56). Com muita clareza Deus, no início, havia dito: "... porque<br />

no dia em que dela comerás, certamente morrerás" (Gn<br />

2.17). A morte entrou no mundo realmente como resultado da<br />

ira justa e terrível de Deus sobre o pecado do homem. É isto o<br />

que faz do pecado o venenoso, doloroso e letal aguilhão da morte.<br />

Assim como a picada profunda do ferrão do escorpião é<br />

extremamente doloroso e pode ser letal, assim também o pecado<br />

faz da morte o poder tão terrificante e fatal. Sim, ainda mais,<br />

a força do pecado é a lei de Deus. Pecado é transgressão desta<br />

lei (1 Jo 3.4). E para cada transgressão, a lei de Deus estabelece<br />

a penalidade máxima, a morte (Rm 6.23; Gn 3.17-19). Desta<br />

maneira, a lei dá ao pecado a força de destinar o homem para<br />

a morte.<br />

Este inimigo tão terrível, tão venenoso, tão poderoso, porém,<br />

foi "tragado pela vitória". Graças a Deus!<br />

"Nosso Senhor Jesus Cristo" (v. 57) alcançou esta vitória<br />

gloriosa. É uma das verdades mais sublimes: "O Salvador Cristo<br />

Jesus... não só destruiu a morte como trouxe à luz a vida e a<br />

imortalidade" (2 Tm 1.10).<br />

"O aguilhão da morte é o pecado" (v. 56). Porém Cristo,<br />

o Deus-Homem, fez uma redenção inteira e completa pelos nossos<br />

pecados na cruz do Calvário. Lá Ele sofreu a morte recebendo<br />

e aceitando a picada horrível e letal em si mesmo. Foi<br />

neste momento em que a morte perdeu seu aguilhão. Aqui se<br />

cumpriu a profecia de Oséias: "Eu os remirei do poder do inferno,<br />

e os resgatarei da morte: onde estão, ó morte, as tuas<br />

pragas?" (Os 13.14).<br />

"A força do pecado é a lei" (v. 56). Porém, Cristo cumpriu<br />

a lei em sua totalidade por nós e para nós (Gl 4.4; Rm 10.4;<br />

8.1). Por sua vida vicária e santa, e por sua inocente paixão e<br />

morte, ele satisfez todas as exigências da justiça divina. Ele<br />

desfez a destruição que a morte tinha causada: "Tragada foi a<br />

morte pela vitória!" (v. 54). E a vitória é absolutamente completa;<br />

a morte, de fato, é abolida. A morte temporal, que é nada<br />

mais do que uma aparência da morte eterna e verdadeira, às<br />

vezes nos faz temer. Porém pela fé no Cristo vitorioso, podemos<br />

Página 82 — IGREJA LUTERANA


vencer todo o medo, tendo a garantia de que a morte, para os<br />

que pertencem a Cristo, perdeu seu ferrão, e que tornou-o um<br />

inimigo inofensivo. Graças a Deus que podemos lançar na face<br />

deste nosso inimigo o desafio do nosso texto!<br />

Jubilai! Porque "Deus nos dá a vitória por nosso Senhor<br />

Jesus Cristo" (v. 57). Cristo é o nosso verdadeiro Campeão. Ele<br />

sustentou a luta em nosso lugar; ele ganhou a vitória por nós<br />

(Rm 4.25).<br />

Esta vitória do nosso Senhor nos é oferecida por graça<br />

no seu evangelho, aquela mensagem gloriosa que nos proclama<br />

a vitória sobre a morte e o túmulo. Crede, jubilantes! A vitória<br />

é nossa!<br />

Notemos bem o tempo presente do verbo: Deus nos dá a<br />

vitória! Nós a temos hoje — e não num futuro distante — pela fé.<br />

Porém: "Quando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade,<br />

o que é mortal se revestir da imortalidade" (v.<br />

54), isto é, naquele grandioso dia da ressurreição, que é o alvo<br />

real de todo o nosso texto, assim como de todo o capítulo, então,<br />

a vitória será visível a todos, será absolutamente completa e o<br />

seu gozo sem fim. — "Graças a Deus que nos dá a vitória por<br />

nosso Senhor Jesus Cristo!" (v. 57).<br />

Disposição<br />

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO É NOSSA VITÓRIA<br />

I — Por causa dela o nosso pecado foi perdoado<br />

II — Por causa dela a lei não mais nos pode condenar<br />

III — Por causa dela a morte se tornou vida para nós<br />

IV — Por causa dela a vida eterna nos é assegurada.<br />

Conclusão: Em vista desta gloriosa mensagem cumpre-nos<br />

seguir com alegria a admoestarão que Paulo acrescenta: "Portanto,<br />

meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes<br />

na obra do Senhor sabendo que, no Senhor, o nosso trabalho<br />

não é vão." (v. 58)<br />

Johannes H. Rottmann<br />

IGREJA LUTERANA — Página 83


Contexto<br />

ÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO<br />

Ap 22.6-13<br />

Esta perícope vem logo após o maravilhoso texto de Ap<br />

21.1-22.5, o qual descreve a excelsitude do novo céu e da nova<br />

terra, a nova Jerusalém, enfim, a vida eterna no céu.<br />

Fim do Ano Eclesiástico lembra fim do mundo e, conseqüentemente,<br />

o munido vindouro. É por isso que a mensagem<br />

deste último domingo precisa falar do mundo que finda com<br />

todas as suas imperfeições e do mundo que inicia com toda a<br />

sua perfeição e precisa alertar para que os ouvintes estejam vigilantes,<br />

crendo na palavra de Deus, adorando o Deus verdadeiro<br />

e aguardando viva e ansiosamente o retorno de Cristo com o<br />

prêmio máximo: a vida eterna. Nosso texto aponta para tudo<br />

isso. Vejamos.<br />

Texto<br />

Hoútoi hoi lógoi pistoi kai alethinoí (v. 6): Estas palavras,<br />

que falam do novo céu e da nova terra; que estão em todo o<br />

Apocalipse; que estão em toda a Bíblia (porque o Deus dos espíritos<br />

dos profetas enviou o seu anjo para mostrar as coisas que<br />

em breve devem acontecer) são palavras fiéis e verdadeiras.<br />

Logo, precisamos apegar-nos à Bíblia nestes tempos já do fim.<br />

V. 7: Jesus vem em breve ou sem demora, tachy. Feliz,<br />

bendito é aquele que guarda (crendo) as palavras da anunciação<br />

deste livro.<br />

V. 8: "Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas". João,<br />

no final do seu Evangelho (19.35; 20.8; 21.24), como também<br />

aqui, se coloca como testemunha ocular de acontecimentos importantes<br />

referentes ao Senhor Jesus. Era o discípulo que se<br />

sabia e cria amado por Jesus (20.2). O discípulo a quem Jesus<br />

confiou sua mãe, Maria (19.25-27). É, porém, importante esclarecer<br />

que não foi Jesus nem outro apóstolo que disse de João:<br />

"discípulo a quem Jesus amava" (20.2), mas somente o próprio<br />

João diz isso de si mesmo; isso, portanto, não afirma que Jesus<br />

somente ou mais amasse a João! Em todo caso, João, com Pedro<br />

e Tiago, pertencia a um trio íntimo de Jesus, pois em várias<br />

ocasiões o Senhor assessorou-se deles (Mt 17.1; 26.37; Mc 5.37)<br />

de modo especial. Importante é notar que João tinha a certeza<br />

de que Jesus amava a ele!<br />

Página 84 — IGREJA LUTERANA


Deslumbrado com tudo o que viu e ouviu, quis João adorar<br />

o anjo que lhe mostrou todas essas coisas; mas o anjo (v. 9)<br />

se diz apenas conservo (syndoulos); conservo a) teu; b) dos<br />

teus irmãos, dos profetas; c) dos que guardam as palavras deste<br />

livro. E indica a João a quem ele deve adorar: "Adora a Deus".<br />

Vers. 10,11: João não deve selar o livro com estas profecias,<br />

"porque o tempo (kairós) está próximo". Parece que não vale<br />

a pena selá-lo, porque a demora até a próxima vinda de Jesus<br />

é pequena; tão breve que cada qual, injusto e justo, continue<br />

vivendo do jeito que vai (11).<br />

Vers. 12,13: Repete-se, aqui, as mesmas palavras do v. 7:<br />

"Eis que venho sem demora". O Jesus vindouro, venturo, também<br />

tem um galardão, uma recompensa, um prêmio, uma paga<br />

(misthós, Lohn) para entregar, para trazer a cada um, conforme<br />

for a obra (tò árgon=das Lebenswerk, die Gesamtleistung: a<br />

atuação, a produção de cada um).<br />

Jesus abarca a tudo: Ele é antes e depois de todas as coisas.<br />

Três vezes ele reafirma isso: a) alfa, primeiro e princípio;<br />

b) ômega, último e fim. "Nele vivemos, e nos movemos, e existimos."<br />

(At 17.28). João começa seu Evangelho com as palavras:<br />

en arche en ho Lógos e termina no Apocalipse com a antítese<br />

verdadeira: en télô estin ho Lógos. O Verbo, Jesus, estava no<br />

princípio e está no fim. Nós estamos nele. Para nós, que cremos,<br />

isto é altamente Consolador!<br />

Disposição<br />

JESUS VEM SEM DEMORA<br />

I — Portanto, bem-aventurado aquele que guarda as palavras<br />

da profecia deste livro;<br />

II — Feliz de quem adora a Deus;<br />

III — Parabéns para quem vai receber o prêmio da vida<br />

eterna.<br />

Curt<br />

Albrecht<br />

IGREJA LUTERANA — Página 85


OS ALUNOS ESCREVEM<br />

A Ortodoxia Luterana<br />

O estudo apresenta o que foi a Ortodoxia Luterana, as<br />

suas lutas e as suas principais contribuições da Teologia para a<br />

história da humanidade.<br />

I — O QUE CARACTERIZA A ORTODOXIA LUTERANA<br />

A partir da publicação do Livro de Concórdia, em 1580,<br />

inicia, nos meados do século XVII, um novo período que marca<br />

o ponto alto de toda a história da Teologia. Conhecido como<br />

Ortodoxia Luterana, estende-se até a metade do século XVIII,<br />

percorrendo 150 anos de versátil compreensão do material teológico<br />

e amplitude do conhecimento bíblico.<br />

Mesmo preocupando-se em se manter a posição da Reforma,<br />

a Ortodoxia constituiu um novo começo, notadamente com<br />

respeito à sua formulação erudita da Teologia.<br />

A filosofia escolástica influenciou a Teologia Luterana,<br />

mas o princípio phisosophia ancilla theologiae permaneceu.<br />

Hägglund caracteriza a influência da filosofia neo-aristotélica<br />

nos seguintes pontos de vista:<br />

1. "A metafísica escolástica, os conceitos universais<br />

do mundo e da realidade, a aceitação da filosofia<br />

escolástica pela teologia foi facilitada pelo fato que<br />

aquela baseava seu conceito universal de mundo num<br />

princípio religioso: é Deus a realidade suprema e também<br />

o fundamento e o alvo de todas as outras realidades.<br />

2. "O Neo-aristotelismo também suscitou completa<br />

revisão do método científico, fato que igualmente<br />

influenciou a exposição teológica. O método analítico<br />

foi uma tentativa de apresentar a Teologia numa forma<br />

mais padronizada do que se fizera anteriormente,<br />

isto é, a de representá-la como doutrina da salvação e<br />

dos meios pelos quais esta salvação pode ser alcançada.<br />

No entanto, também os tratados teológicos que empregavam<br />

este método, ao mesmo tempo, seguiram a or-<br />

Página 86 — IGREJA LUTERANA


dem da história da salvação, que é independente de<br />

métodos filosóficos.<br />

3. "Na medida em que foi aceita pela Teologia, a<br />

filosofia escolástica alemã serviu para fortalecer a tendência<br />

intelectualista que caracterizou a Ortodoxia Luterana.<br />

Também contribuiu para um tratamento mais<br />

científico das questões teológicas. Pelo seu emprego<br />

da Filosofia, a Ortodoxia Luterana, de certo modo, está<br />

melhor aparelhada para preservar e transmitir a herança<br />

bíblica e da Reforma" ( 1 ).<br />

As principais características da Ortodoxia podem ser destacadas<br />

em cinco itens:<br />

1. Unidade doutrinária<br />

A familiaridade com os escritos de Lutero e a lealdade dos<br />

teólogos fez com que os ortodoxos permanecessem unidos na<br />

Controvérsia Quenótica (1619-27).<br />

2. Polêmicos<br />

Os ortodoxos são chamados de "polêmicos" porque lutavam<br />

contra os erros doutrinários que apareciam. Bellarmino,<br />

teólogo católico, foi muito polemizado pelos ortodoxos.<br />

3. Catolicidade<br />

Negavam o princípio do tradicionalismo. Mas, ela ocupou<br />

grande destaque na Ortodoxia Luterana. A dogmática da Ortodoxia<br />

clássica caracterizou-se pelo copioso emprego do material<br />

patrístico e da escolástica. Agostinho exerceu mais forte influência<br />

neste setor.<br />

4. Estudo de Lutero<br />

Estudar os escritos de Lutero e as Confissões Luteranas<br />

foi uma preocupação constante dos ortodoxos o que também fez<br />

com que permanecessem unidos.<br />

5. Exegese e Dogmática<br />

As obras dogmáticas eram baseadas na Escritura, como<br />

único fundamento e, ao mesmo tempo, a interpretação da Bíblia<br />

era influenciada pela concepção dogmática do todo e pela atitude<br />

polêmica.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 87


"As exposições dogmáticas ortodoxas luteranas<br />

seguem a ordem da história da salvação: criação, queda,<br />

redenção e escatologia são os pontos principais que<br />

sempre aparecem em tais apresentações. A doutrina<br />

da Palavra e a doutrina de Deus são analisadas em<br />

primeiro lugar. A ordem comum nos vários loci geralmente<br />

inclui o seguinte: a Escritura Sagrada, a<br />

Trindade, Criação, Providência, Predestinação, Imagem<br />

de Deus, Queda do Homem, Pecado, Livre Arbítrio,<br />

Lei, Evangelho, Arrependimento, Fé. Boas Obras, Sacramentos,<br />

Igreja, os Três Estados e Escatologia". ( 2 )<br />

O método dogmático era de reproduzir a infinita riqueza<br />

da revelação bíblica. Como resultado desta atitude, suas mentes<br />

estiveram abertas a todos os pormenores da tradição que lhes<br />

tinha sido transmitido mas este método também conduziu a uma<br />

divisão infindável de questões, tornando difícil distinguir entre<br />

o essencial e o secundário.<br />

II — PERÍODOS DA ORTODOXIA<br />

Cronologicamente, o período da Ortodoxia Luterana estendeu-se<br />

desde o escrito da Fórmula de Concórdia, quando as posições<br />

confessionais luteranas foram estabelecidas, até o tempo<br />

de David Hollaz, no século XVIII.<br />

Pode-se dividir este período em três fases.<br />

1 — Fase áurea da Ortodoxia<br />

A primeira fase estende-se desde o tempo da Fórmula de<br />

Concórdia até a segunda década do século XVII. Foi um tempo<br />

de formação teológica e pode ser chamado período áureo da<br />

Ortodoxia. Os representantes deste período, na sua maioria, foram<br />

os que estruturaram a Fórmula de Concórdia. O período é<br />

marcado por um espírito agressivo e um ensino criativo de questoes<br />

dogmáticas. A Dogmática era baseada no Loci Communes<br />

de Melanchton e permaneceu em uma fase rudimentar de desenvolvimento.<br />

Os principais ortodoxos deste período são: Chemnitz,<br />

Heerbrand, Selnecker e Hunnius.<br />

2 — Alta Ortodoxia<br />

O segundo período desenvolveu-se durante os dias da Guerra<br />

dos Trinta Anos. Prevalece o método loci. As posições doutrinárias<br />

luteranas são estabelecidas e fortificadas em controvér-<br />

Página 88 — IGREJA LUTERANA


sias contra católicos, calvinistas e outras antítese. A Filosofia<br />

influenciou a apresentação da Teologia. Os mais importantes<br />

teólogos desta fase são: Hutter, Mentzer e Gerhard.<br />

3 — Fase de Prata<br />

Tem início no final da Guerra dos Trinta Anos. O sincretismo<br />

foi muito atacado pelos ortodoxos. As obras dogmáticas<br />

se caracterizam de modo similar pela sistematização mais rígida<br />

da tradição ortodoxa, bem como pela definição lógica mais incisiva<br />

dos vários problemas doutrinários. O Pietismo começa a<br />

influenciar, principalmente nos últimos ortodoxos.<br />

Principais teólogos: Calov, König, Quenstedt, Baier e Hollaz.<br />

III — ORTODOXIA E SOCIANISMO<br />

A Ortodoxia Luterana lutou contra a propagação de um<br />

ponto de vista antitrinitário: o Socianismo.<br />

Iniciado na Polônia, o Socianismo, por sua crítica radical<br />

aos dogmas aceitos, preparou o caminho para a teologia racionalista<br />

da era do Iluminismo e também prenunciou o conceito<br />

moderno de religião em muitos sentidos.<br />

Baseado em vários pontos da herança Nominalista da Baixa<br />

Idade Média e do Humanismo da Renascença, o Socianismo<br />

insistia que dogma, ou o conteúdo da Escritura, cuja autoridade<br />

era aceita de maneira formal, deve justificar-se perante o tribunal<br />

da razão humana. Repudiam, por causa disso, as doutrinas<br />

que julgavam opostas à razão. Em sua exposição da Escritura<br />

estabeleceram, como critérios básicos, a inteligibilidade racional<br />

e a utilidade moral.<br />

Negavam a divindade de Cristo e do Espírito Santo. Seguiam<br />

o Pelagianismo, negando a imortalidade do homem e do<br />

pecado original. Negavam, também, o sacrifício vicário de Cristo,<br />

dizendo que a morte de Cristo na cruz apenas prova ser Jesus<br />

obediente, e sua ressurreição confirmou sua missão divina.<br />

"Ao refutar estas idéias, os teólogos ortodoxos<br />

apresentavam os seguintes princípios: há uma justiça<br />

'essencial' em Deus, segundo o qual o homem pecador<br />

deve ser punido. Mas por ser ele também misericordioso,<br />

Deus deseja poupar a espécie humana. Por este<br />

motivo, Cristo veio para trazer mérito e oferecer satisfação.<br />

O castigo que o pecado merece foi transferido<br />

a Cristo; como resultado, Deus pode receber os<br />

IGREJA LUTERANA — Página 89


pecadores por graça sem violar sua justiça. Em vista<br />

disso, temos esta maravilhosa combinação de justiça<br />

e misericórdia divina. Cristo era apresentado como<br />

Mediador entre Deus e os homens, libertando-nos da<br />

maldição da lei, da ira de Deus e do juízo eterno" ( 3 )<br />

IV — AS CONTRIBUIÇÕES DA ORTODOXIA<br />

Neste capítulo apresentamos o que de melhor o período<br />

da Ortodoxia nos legou. Estudamos as contribuições de Martin<br />

Cliemnitz, John Gerhard e Abraham Calov. Enfocamos, também<br />

à nível de loci, as contribuições nas doutrinas das Sagradas Escrituras<br />

como Palavra de Deus, a doutrina de Deus, a doutrina<br />

da Criação e queda do homem, a doutrina da Providência e<br />

Predestinação, a doutrina do Livre Arbítrio, a doutrina da Lei<br />

e do Evangelho, a doutrina da Fé e das Obras, a doutrina dos<br />

Sacramentos, da Igreja e Escatologia. Também, destacamos as<br />

contribuições na ciência, na hinologia e devocionais, na arte e<br />

na política.<br />

1 - Contribuições dos principais teólogos<br />

a) Martin Cliemnitz (1522-86)<br />

Cliemnitz é reconhecido como defensor do conteúdo da<br />

Reforma. Após estudar Lutero, lutou contra as idéias dos reformados.<br />

Sua principal obra foi Examen Concilii Tridentini, que<br />

apareceu em 4 volumes entre 1565-73. Neste livro, fez um estudo<br />

crítico do Concilio de Trento à base da teologia bíblica e da<br />

história. Atacando as idéias de Hosius e Andradius, com. base<br />

numa sadia exegese e com uma base filosófica e histórica, esta<br />

obra causou um tremendo impacto na igreja romana porque<br />

afirmava que o Concilio de Trento rompia com a teologia dos<br />

apóstolos e com a igreja Católica.<br />

Sua segunda obra, Loci Theologiei, publicada depois de<br />

sua morte, está baseada no Loci Communcs de Melanchton. Marca<br />

um estudo inovado na teologia luterana, onde apresenta material<br />

bíblico vastíssimo para descrever artigos de fé cristã. Aparecem<br />

exegeses de temas como fé, graça, justificação, batismo,<br />

santa ceia, trindade, etc.<br />

Sobre cristologia, escreveu De Duabus Naturis; a maior<br />

dogmática sobre a pessoa de Cristo. Estabelece, nesta dogmática,<br />

em primeiro lugar, que a doutrina luterana sobre Cristo está<br />

de acordo com os credos e os pais da igreja. Em segundo lugar,<br />

este livro oferece grande número de estudos pertinentes à sede<br />

Página 90 — IGREJA LUTERANA


doctrinae de acordo com Colossenses 1 e Filipenses 2. Em terceiro<br />

lugar, apresenta sistemática e convincente a doutrina sobre<br />

Cristo por inteira.<br />

Um quarto livro, o qual foi terminado por Leyser e Gerhard,<br />

intitulado Harmonia Quatuor Evangelistarum. É um estudo<br />

de concordância dos quatro evangelhos e muito contribuiu<br />

para a exegese. Tornou-se popular com a utilização na Bíblia<br />

Ilustrata de Calov.<br />

Depois de Lutero, Chemnitz é o mais importante teólogo<br />

da história da igreja luterana.<br />

b) Johann Gerhard (1582-1631)<br />

Geralmente, é considerado o terceiro mais proeminente teólogo<br />

luterano, depois de Lutero e Chemnitz. Foi pastor em Jena.<br />

Escreveu vários livros, todos de cunho teológico. Destacam-se as<br />

exegeses, teologia dogmática, literatura devocional, histórica e<br />

polêmica. Grande número de seus sermões foram publicados.<br />

Sua maior e melhor obra é Loci Theologici, onde retrata uma<br />

piedade evangélica, um excelente estudo sistemático e a utilização<br />

da filosofia de acordo com princípios aristotélicos (causa<br />

cfficiem, causa formalis, causa materialis e causa finalis). É<br />

influenciado por Chemnitz. É o mais notável dogmático da Ortodoxia<br />

Luterana. Sua Confessio Catholica procurou refutar as<br />

objeções da teologia católica romana com citações tomadas da<br />

própria tradição da igreja de Roma. As populares Meditationes<br />

Sacra são devocionais; Postula são tratados homiléticos e Schola<br />

Pietatis são debates e uma permenorizada exposição da ética e<br />

da vida da fé.<br />

c) Abraham Calov (1612-86)<br />

Foi o mais brilhante teólogo do período da prata da Ortodoxia<br />

Luterana.<br />

Versado em todas as áreas do conhecimento humano, foi<br />

um ortodoxo inflexível e seu zelo pela pureza do evangelho e a<br />

glória de Deus dominou toda a sua vida ativa.<br />

Foi um dos maiores escritores da Ortodoxia Luterana e<br />

escreveu sobre Filosofia e Teologia, principalmente. A sua obra<br />

mais importante foi sua Bíblia Illustrata (1672-76), grande comentário<br />

de toda a Bíblia. Outra obra foi o Systema Locorum<br />

Theologicorum, em 12 volumes. Nos primeiros volumes discute<br />

prolegomena, revelação e Escritura como princípios de uma<br />

dogmática ortodoxa. Também, escreveu Apodixis Articulorum<br />

Fidei, pequena dogmática onde apresenta um sumário da teolo-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 91


gia de outros ortodoxos. Isagoges ad SS. Theologium contribuiu<br />

para o desenvolvimento da prolegomena.<br />

Calov é muito utilizado por dogmáticos luteranos do século<br />

passado. O trabalho por ele realizado contribuiu muito<br />

para o desenrolar posterior da igreja luterana.<br />

2 — Contribuições na Teologia<br />

É nesta área que os pais ortodoxos legaram sua maior<br />

contribuição. Com uma unidade doutrinária, os ortodoxos puderam<br />

sistematizar o estudo teológico, o que faz surgir os famosos<br />

loci, ou melhor, a Dogmática propriamente dita.<br />

Vivendo em meio a controvérsias e, também, guerras, tiveram<br />

que estudar a fundo as questões controvertidas e, com<br />

muita fé, permaneceram fiéis à Escritura, com uma sadia exegese<br />

e interpretação, com um grande estudo dos pais da igreja,<br />

principalmente Agostinho e fundamentando-se na teologia de<br />

Lutero.<br />

Essa sistematizaçào da doutrina cristã foi tão bem estudada<br />

e, por isso, ela é ainda válida hoje, em suas questões fundamentais.<br />

E são estas questões fundamentais que queremos retratar<br />

agora. Colocamos, então, as principais características da teologia<br />

ortodoxa, fruto de muito trabalho e que Deus, através do<br />

agir do Espírito Santo, agia nestas pessoas.<br />

a) A Doutrina das Sagradas Escrituras<br />

O objeto de estudo da teologia ortodoxa foi a Escritura<br />

Sagrada. Era considerada o único princípio da teologia, ou seu<br />

pressuposto fundamental. Por isso, a Bíblia deveria ser seguida<br />

mesmo quando parecia opor-se à razão, bem quando parecia<br />

contradizer a tradição eclesiástica. Com isso, negavam o princípio<br />

da tradição católico romana.<br />

A Palavra de Deus é vista como revelação divina. "A revelação<br />

é definida como uma ação externa de Deus por meio da<br />

qual ele se revela aos seres humanos através de sua Palavra e<br />

torna conhecida a eles a sua salvação" ( 4 ). Essa revelação é<br />

dada internamente, por inspiração imediata ou iluminação, como<br />

no caso dos profetas e apóstolos ou, ela nos é dada externamente,<br />

através da Palavra pregada ou lida.<br />

Diz Gerhard (Loci Theologicum, Cotta II ed 18):<br />

"A Escritura nada mais é do que a revelação divina<br />

englobada nos escritos sagrados. Por esta razão a<br />

Página 92 — IGREJA LUTERANA


Palavra revelada de Deus e a Escritura Sagrada não<br />

diferem essencialmente, visto que os santos homens<br />

de Deus englobaram essas mesmas revelações divinas<br />

nos seus escritos" ( 5 ).<br />

Para explicar a frase "A Escritura é a Palavra de Deus",<br />

utilizaram a terminologia filosófica da época. Distinguia a Escritura<br />

em matéria e forma. "A matéria da Escritura é constituída<br />

pela palavra, pelas letras e pelas frases que nele estão<br />

contidas. Neste sentido, a Escritura não é nada diferente de<br />

qualquer livro. A forma é o significado inspirado, o sentido divino<br />

da Escritura, aquilo que Quenstedt chama de Sapientia Dei,<br />

a mens Dei, o consilium Dei" ( 6 ). O conceito aristotélico dotou<br />

a concepção ortodoxa da Escritura com uma qualidade ausente<br />

no biblicismo de anos anteriores, que freqüentemente atribuía<br />

dignidade à interpretação racional, literal.<br />

Os princípios exegéticos eram os seguintes:<br />

a. Escritura é clara em si (per si evidens);<br />

b. Ela é sua própria intérprete (sui ipsis interpres);<br />

c. É a única e suficiente norma de fé;<br />

d. As passagens difíceis devem ser interpretadas com a<br />

ajuda das mais claras (analogia fidei);<br />

e. Há um só sentido original (sensus literalis);<br />

f. Sentido alegórico só se fosse no original (sensus literalis).<br />

Com os pressupostos de autoridade e inspiração da Palavra,<br />

rejeitaram o espiritualismo, afirmando que o Espírito não<br />

age ao lado da Palavra ou independentemente dela, mas com e<br />

em a Palavra divina quando é ouvida e lida.<br />

b) A doutrina de Deus<br />

Sobre a doutrina de Deus escreve Hägglund:<br />

"Em certo sentido, toda a posição dogmática ortodoxa<br />

constituiu uma 'doutrina de Deus'. A doutrina<br />

da criação e o plano de salvação relacionam-se com a<br />

exposição do ser de Deus (a Trindade, Cristologia,<br />

etc.) como sendo descrição da vontade de Deus, manifestada<br />

em suas obras. Também se faz referência a<br />

Deus, é a causa de nosso conhecimento dele. Assim<br />

como as coisas do mundo em torno de nós influenciam<br />

o intelecto e desta maneira evocam conhecimento sensitivo<br />

e conceptual, assim também é a manifestação de<br />

Deus feita por ele mesmo — seu aparecimento em suas<br />

IGREJA LUTERANA — Página 93


palavras e obras — e causa direta de nosso conhecimento<br />

dele. Esta idéia básica era pressuposto fundamental<br />

da teologia ortodoxa" ( 7 )<br />

O homem, para os ortodoxos, chega a conhecer a Deus<br />

através de um conhecimento congênito de Deus, que foi colocado<br />

no coração do homem, na criação. E, também, através de um<br />

conhecimento adquirido através da observação das coisas criadas.<br />

Quanto aos atributos divinos, existem os internos, os que<br />

são intrínsecos à própria divindade (por exemplo, que Deus é<br />

um ser espiritual e invisível, eterno e onipresente) e os atributos<br />

externos, aqueles que se manifestam em relação à criação (a<br />

onipotência, a justiça e a veracidade de Deus).<br />

A Trindade foi descrita assim como estava contido no<br />

Credo Atanasiano: que o Pai não é gerado nem criado, que o<br />

Filho é gerado pelo Pai e, o Espírito não é gerado nem criado<br />

mas procede do Pai e do Filho.<br />

Esta questão foi muito estudada para arrebatar o sócianismo<br />

que surgiu na época.<br />

A Cristologia, assim como na época da Reforma, foi estudada<br />

e analisada pelos ortodoxos. A principal questão era: como<br />

unir a natureza divina e humana de Cristo. Responderam<br />

a questão "afirmando que 'o verbo se fez carne' não deve entender-se<br />

como significando que a carne transformou-se em natureza<br />

divina. Tampouco a divindade manifestou-se em forma<br />

corporal como se isto fosse uma forma de revelação tempo<br />

rária. Mas a Unio personalis significa que o Logos, segunda<br />

pessoa da Divindade, assume a natureza humana". ( 8 )<br />

Distinguem também o estado da humilhação e exaltação de<br />

Cristo. Falou-se em três ofícios de Cristo, o profético, o sacerdotal<br />

e o real. Estes três ofícios não se referem a etapas separadas<br />

da obra de Cristo; antes, designam diferentes facetas da<br />

mesma obra da salvação.<br />

c) A doutrina da criação e da queda do homem<br />

A concepção ortodoxa foi de que Deus criou ex nihilo tanto<br />

as coisas visíveis como as invisíveis.<br />

O homem foi criado à semelhança de Deus e a imago Dei<br />

é definida como uma forma original inata de justiça e santidade.<br />

A queda, como transgressão de Deus, trouxe a perda da<br />

justiça original. Por isso, entrou no mundo uma condição de<br />

culpa e uma inclinação para o mal através do pecado original.<br />

Volta-se a Deus somente pela fé na obra redentora de<br />

Cristo.<br />

Página 94 — IGREJA LUTERANA


d) A doutrina da Providência c Predestinação<br />

Por providencia entendiam a criação contínua. Deus não<br />

apenas criou as coisas no início; também as preserva em sua<br />

existência contínua. Por isso, tudo que ocorreu no mundo está<br />

subordinado à supervisão e direção direta de Deus; nada ocorre<br />

sem sua vontade.<br />

Quanto à predestinação, reafirmaram o que estava na Fórmula<br />

de Concórdia. Diz-se que a predestinação, ou eleição, só<br />

se refere aos que chegam a crer em Cristo e que permanecem<br />

nesta fé até ao fim.<br />

e) A doutrina do Livre Arbítrio<br />

Colocaram que ao homem falta o livre arbítrio. Encontra-se<br />

cativo como conseqüência do pecado e, portanto, é incapaz<br />

de fazer o bem espiritualmente; não pode, como resultado,<br />

cooperar em sua conversão. Aceitou-se a posição estabelecida<br />

na Fórmula de Concórdia.<br />

f) Doutrina da Lei e Evangelho<br />

Para os ortodoxos é em virtude da operação da Lei e do<br />

Evangelho que o homem pode ser convertido e passar da morte<br />

e da ira à vida. Isso também se denomina arrependimento.<br />

A definição de Lei era que ela é eterna e imutável sabedoria<br />

e regra de justiça válida perante Deus.<br />

A definição de Evangelho que ele, como proclamação da<br />

completa redenção de Cristo, é mensagem consoladora e edificante.<br />

Neste sentido, a Lei é a palavra que ameaça, acusa e<br />

condena, enquanto que o Evangelho consola, edifica e salva.<br />

O arrependimento foi posto ao lado da conversão, a experiência<br />

através da qual a fé é acesa e o homem passa da ira<br />

para a graça. Mais tarde foi acrescentada várias ações pelas<br />

quais o Espirito Santo aplica a salvação no indivíduo.<br />

g) Doutrina de Fé e Obras<br />

A distinção entre fé e obras foi evidenciada. A fé é o<br />

instrumento para a justificação e ela se dirige à graça divina<br />

prometida em Cristo.<br />

Os frutos da fé são as boas obras. A finalidade delas é a<br />

de glorificar a Deus e de promover o bem-estar do próximo. O<br />

homem não é declarado justo por causa de suas obras, pois é<br />

justificado tão somente pela fé que se apega à expiação de Cristo<br />

e à misericórdia de Deus nela revelada.<br />

A conexão entre fé e obras é a de serem estas frutos da fé.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 95


h) A Doutrina dos Sacramentos<br />

Os sacramentos foram interpretados de acordo com o ponto<br />

de vista dos luteranos mais conservadores e com a Fórmula<br />

de Concórdia. Eram vistos como dons celestiais que fortificam<br />

a verdadeira fé no evangelho.<br />

i) A Doutrina da Igreja<br />

Seguiam a definição da Reforma, a igreja como "a congregação<br />

dos santos e crentes", que a Palavra divina é pregada<br />

em pureza e os sacramentos são corretamente administrados.<br />

Dentro desta igreja, distinguiam-se três ofícios:<br />

1. ofício da pregação;<br />

2. autoridade política;<br />

3. matrimônio.<br />

A primeira das três se destina a conduzir o homem à salvação<br />

eterna, a segunda a manter a ordem e a proteger a sociedade,<br />

a terceira, a de aumentar a raça e a providenciar apoio<br />

mútuo.<br />

j) A Doutrina da Escatologia<br />

Esta doutrina ocupava lugar importante na dogmática ortodoxa.<br />

Ensinavam que tanto o homem (microcosmo) como o<br />

mundo (macrocosmo) encaminhavam-se para um fim. E, no<br />

fim, ocorrerá a ressurreição, seguida do juízo final, quando cada<br />

tornem terá que enfrentar novamente as ações de sua vida na<br />

terra. Na existência eterna, que seguirá o fim dos tempos, os<br />

que praticaram o mal receberão a morte eterna, e os que fizeram<br />

o bem herdarão a vida eterna.<br />

3 — Contribuições na Ciência<br />

A Ortodoxia Luterana marca o início da ciência moderna.<br />

Durante o século XVI, a concepção grega de mundo dominava.<br />

A idéia desenvolvida durante a Idade Média, que a terra é o<br />

centro do universo porque a teologia cristã determinava uma<br />

teoria geocêntrica, onde o sol e os planetas é que giravam em<br />

torno da terra e que a ação divina estava centrada na terra,<br />

modifica-se, tornando-se heliocêntrica.<br />

Nicolaus Copernicus (1473-1543) dá início a esta concepção<br />

heliocêntrica mas tem que se retratar devido esta concepção medieval.<br />

Página 96 — IGREJA LUTERANA


Mas Johannes Kepler (1571-1630) e Galileo Galilei (1564-<br />

1642) derrubam esta concepção medieval e provam, através da<br />

utilização do telescópio, a teoria heliocêntrica do universo.<br />

Com essa nova concepção do universo, destrói-se a síntese<br />

aristotélica de mundo e toda a feitiçaria criada na Idade Média,<br />

na qual o mundo era o centro das atividades diabólicas.<br />

Isaac Newton (1642-1727) publica uma vasta obra intitulada<br />

Philosophia naturalis principia mathematica. Esta obra, baseada<br />

na lei da gravidade, fala de uma força-motora que move<br />

o universo. Estabelece a metodologia da ciência moderna, baseada<br />

em três princípios:<br />

1. insistência numa observação experimental;<br />

2. lei da simplicidade;<br />

3. extensivo uso da matemática, expressando a lei universal<br />

da gravidade como fonte.<br />

Com toda essa mudança, o mundo inicia uma nova vida.<br />

O Deus que castiga e que este mundo é diabólico, por causa das<br />

bruxarias, deixa de existir por ser Deus bondoso, que age no<br />

mundo e que motiva as pessoas a viver neste mundo.<br />

1 — Contribuições na Literatura Devocional e Hinos<br />

Assim como a Ortodoxia produziu obras teológicas, esta<br />

mesma Ortodoxia produziu também grandes poetas e grande literatura<br />

devocional que expressam a fé cristã que dominava a<br />

vida das pessoas.<br />

É neste período que, sem dúvida, desenvolve-se o período<br />

áureo da hinologia luterana. Surgem grandes escritores como<br />

Philipp Nicolai, Johann Hermann, Johann von Rist e Paul Gerhardt.<br />

Nicolai (1556-1608) foi pastor e teólogo na Westfalia. Viveu<br />

num período de peste. Sepultou mais de 1300 pessoas em<br />

seis meses.<br />

Heimann (1585-1647) foi pastor em Koeben durante a<br />

Guerra dos Trinta Anos. Durante seu ministério, sua cidade foi<br />

queimada, saqueada quatro vezes e foi devastada por pestes.<br />

Rist (1607-67) viveu durante a Guerra dos Trinta Anos<br />

quando sua casa foi saqueada. Escreveu 680 hinos, dos quais a<br />

maioria deles de conforto nas horas difíceis.<br />

Mas foi Paul Gerhardt (1607-76) o maior hinologista da<br />

época. Nasceu na Saxonia. Tornou-se pastor mas, numa discussão<br />

entre luteranos e calvinistas, onde recusou um compromisso<br />

com a posição luterana, teve que deixar de utilizar o púl-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 97


pito. Precederam-no na sua morte a esposa e os quatro filhos.<br />

Acometido por toda esta aflição, Gerhardt escreveu 134 hinos em<br />

alemão e 14 em latim, inspirados em sua experiência, nas calamidades<br />

sociais, etc. Fala, em seus hinos, da fé em Deus, nas<br />

obras divinas, na natureza, na Igreja e na Escritura.<br />

O profundo sentimento religioso do tempo da Ortodoxia<br />

também pode ser visto nas obras devocionais. Esta literatura<br />

consiste em edificante e apresentação popular da fé cristã para<br />

ser usada individualmente ou em grupos, em forma de oração<br />

e meditação. Esses livros eram escritos para soldados, viajantes,<br />

futuras mães, etc. Eram usadas em determinadas horas do dia.<br />

A mais famosa obra devocional do século XVIII é de Johann<br />

Arndt (1555-1621). Também, podemos incluir Lewis Bayly (1565-<br />

1631), Johann Gerhard, Johann Hermann e Heinrich Mueller<br />

(1631-75).<br />

5 — Contribuições na Arte<br />

No mesmo período que ocorreu a Ortodoxia, desenvolveu-se<br />

a arte barroca na Europa. Caracteriza-se pela construção de<br />

palácios, monumentos e igrejas.<br />

Mas, a Ortodoxia influenciou muito mais na música. Durante<br />

este período surgem dois grandes compositores: George<br />

Friderich Händel (1685-1759) e Johann Sebastian Bach (1685-<br />

1750).<br />

Händel, compositor saxão, compôs várias grandes obras<br />

religiosas: Messias e Judas Macabeo e outras. O estilo dele era<br />

uma combinação da música alemã, francesa e italiana. Os temas<br />

de suas composições estavam refletidas sobre a vida dos ingleses.<br />

Bach nasceu numa família totalmente voltada à música,<br />

na Alemanha. Escreveu músicas sacras e seculares, corais e cantatas,<br />

solos para flauta, violoncelo, órgão e harpa. Sua música<br />

secular refletia louvor e amor pela vida e paz, fruto das aulas<br />

que dava. Mas a verdadeira vocação musical estava refletida<br />

sobre o serviço a Deus. Vários motivos religiosos o levaram a<br />

escrever música sacra. As obras Sinfonia em B Menor e Paixão<br />

Segundo São Mateus foram frutos da fé de um verdadeiro crente<br />

que manifestava a glória de Deus.<br />

6 — Contribuições na Política<br />

A Ortodoxia proporcionou a criação de vários estados<br />

absolutos. Os principais absolutistas partiram do pressuposto de<br />

que eram detentores de direitos divinos na terra e, assim, cria-<br />

Página 98<br />

IGREJA LUTERANA


am seus estados. Isto aconteceu na França, com Luis XIV, na<br />

Prússia, com Guilherme Frederico, I e II. Também, os czares<br />

da Rússia, como Pedro, o Grande.<br />

NOTAS<br />

1) Hägglund. História da Teologia, p. 260, 1.<br />

2) Idem, ibidem, p. 262.<br />

3) Idem, ibidem, p. 279.<br />

4) Preus. A Palavra de Deus na teologia da ortodoxia luterana.<br />

5) Idem, ibidem, p. 3.<br />

6) p. 2.<br />

7) Hägglund, op. cit., p. 266.<br />

8) Hägglund, op. cit., p. 268.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

CLOUSE, Robert. The Church in The Age of Orlodoxy and the Enlightenment.<br />

St. Louis, Missouri, Concórdia, 1980.<br />

HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. Porto Alegre, Concórdia, 1986.<br />

PREUS, Robert. The Theology of Post-Reformation Lutheranism. S. Louis,<br />

Concórdia, 1970.<br />

PREUS, Robert. A Palavra de Deus na Teologia da Ortodoxia Luterana, in<br />

Igreja Luterana. Porto Alegre, Concórdia, 1972.<br />

Clouis Jair Prunzel<br />

Aluno do 2° Teológico<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Pois um homem a quem se obrigou a perder a vergonha e a não<br />

mais enrubescer, torna-se totalmente insensível, não presta mais ouvido<br />

as palavras de outros, não se deixa mais impressionar nem por ameaças<br />

nem por benefícios.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 43<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Por tudo isso, o pastor precisa de uma profunda compreensão,<br />

necessita de mil olhos para perscrutar de todos os lados o estado da alma.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 43<br />

IGREJA LUTERANA — Página 99


DE OUTRAS FONTES<br />

NOTA<br />

DA REDAÇÃO:<br />

Algumas explicações iniciais são importantes. Esta é<br />

uma nova seção da revista. Aqui aparecerão matérias<br />

extraídas de outros periódicos, i.e. não editados pela<br />

IELB. As fontes aparecem no final de cada artigo.<br />

Sempre serão transcritos na integra; quando isso não<br />

ocorrer, sempre haverá uma nota explicativa. Com a<br />

sua publicação não está explícito nem implícito que<br />

seu conteúdo deverá ser assinado por nós. É mais uma<br />

leitura que nos pode levar a uma sadia e equilibrada<br />

reflexão teológica.<br />

Agora, um pedido muito especial a todos os leitores,<br />

particularmente aos pastores e professores: remeternos<br />

recortes ou matérias selecionadas de qualquer jornal<br />

ou revista mas sempre com a clara indicação das<br />

fontes. Boa leitura! Esperamos sua colaboração!<br />

(L.)<br />

IGREJAS FECHADAS POR FALTA DE FIÉIS<br />

30 GIORNI, a revista seis vezes internacional, edição em<br />

língua portuguesa de dezembro, publica uma reportagem ques¬<br />

tionadora, interrogando sobre o futuro sem Igrejas. Dá informações<br />

em artigos assinados por David Crumm, mostrando a situação<br />

nos Estados Unidos, Wim Peeters, comentando a situação da<br />

Holanda, e Florence Brière-Loth descrevendo a situação na França.<br />

Vale a leitura dos artigos internacionais sobre o mesmo<br />

assunto.<br />

Dezoito igrejas de Amsterdã serão fechadas por falta de<br />

fiéis. O mesmo acontecerá com 42 das 107 paróquias de Detroit,<br />

EE.UU. Na França, 150 serão transformados em restaurantes,<br />

bares, cinemas e garagens.<br />

Serão casos isolados ou tendência geral?<br />

Alguém, apressadamente, poderá pensar em futuro sem<br />

igrejas, e sem vida cristã comunitária. É possível? Nos primeiros<br />

séculos, os cristãos viviam sua fé nas Catacumbas de Roma,<br />

nas famílias. Em Países Comunistas ainda hoje muitos cristãos<br />

Página 100 — IGREJA LUTERANA


não têm suas igrejas onde se possam reunir com liberdade para<br />

o culto religioso. Muitos guardam a fé e a testemunham com<br />

riscos da própria vida. Recentemente na Albânia, aconteceu o<br />

seguinte fato.<br />

Um jovem, casal teve sua primeira filha. Vencendo todos<br />

os perigos levaram sua filha ao batismo. A polícia descobrindo<br />

o 'crime', matou o pai e levou a mãe para a cadeia. O 'crime'<br />

cometido pelo casal foi o de ter desafiado o materialismo comunista<br />

e feito batizar na fé cristã sua filha.<br />

Muito diverso é, porém, o problema do fechamento de<br />

Igrejas em Países onde a fé cristã teve momentos de grande<br />

florescimento. Por que em tais lugares as Igrejas (templos) deverão<br />

ser vendidas, alugadas e transformadas em restaurantes,<br />

escolas públicas, centros culturais?<br />

Entre as razões apontadas é que os fiéis que as freqüentam<br />

diminuíram tanto que já não são ocupadas. Mas por que os fiéis<br />

diminuíram tanto?<br />

Porque a população é constituída por velhos. Apenas estes<br />

freqüentam as Igrejas e são fiéis ao culto dominical, aos Sacramentos<br />

à Missa. Já não nascem crianças, menos que uma por<br />

família. Os fiéis diminuíram de número.<br />

E por que os jovens não freqüentam as Igrejas?<br />

Os jovens, em sua imensa maioria, não freqüentam as Igrejas<br />

nos centros urbanos, nem mesmo em nosso País católico. A<br />

maioria não foi educada na fé, não têm o exemplo da família,<br />

não encontra alegria nas práticas cristãs. Falta de fé. Falta de<br />

amor a Deus. Falta conhecimento de Cristo e de sua Igreja.<br />

E quando estas centenas de Igrejas, agora fechadas, foram<br />

construídas, porque motivos nossos antepassados as construíram?<br />

Havia então problemas sociais, culturais. Muitas guardavam<br />

uma fé viva e se sentiam comprometidos com Deus e a Comunidade.<br />

É lamentável que as Igrejas como na França, Estados Unidos<br />

e Holanda tenham chegado a esta triste situação. Não há<br />

dúvida que pastores e fiéis destas Igrejas permitiram tal desleixo,<br />

não deram mais o exemplo de fé viva, não procuraram renovar<br />

em tempo o povo de Deus.<br />

Enquanto isto acontece em Países ricos do Ocidente capitalista,<br />

chegam informações que em Países comunistas, como<br />

a Polônia, crescem as vocações para o sacerdócio e as Igrejas se<br />

multiplicam para atender a todo o povo.<br />

Na Rússia também estão acontecendo mudanças nas práticas<br />

religiosas do povo.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 101


Diante de tais fatos entende-se melhor o clamor por uma<br />

conversão imediata de milhões de fiéis, frios e indiferentes em<br />

sua fé, ateístas práticos, materialistas gozadores, oportunistas e<br />

sem ética em sua conduta.<br />

Apesar de pouca educação na fé de nosso povo, continua<br />

sendo bom e religioso e deseja suas Igrejas, capelas, oratórios,<br />

ermidas e grutas. Aqui é possível encher as Igrejas de fiéis sem<br />

grande dificuldade. Basta testemunhar, orar e realizar atos religiosos<br />

convidativos.<br />

Vamos abrir Igrejas em lugar de fechá-las! O povo cristão<br />

precisa de Igrejas onde se reúna com os irmãos na fé, busque<br />

forças para orientar sua vida.<br />

Augusto Dalvit<br />

Em ZERO HORA, P. Alegre, 15/01/89<br />

PSICOTERAPIA E FÉ CRISTÃ<br />

Deve o cristão submeter-se à psicoterapia? Que é Psicoterapia?<br />

O Espírito Santo não é totalmente suficiente para curar<br />

o corpo e a mente? Por que, então, entregarmo-nos, como cristãos,<br />

aos cuidados de profissionais médicos, psiquiatras, psicólogos?<br />

Cristão com depressão é pessoa que não tem fé?<br />

Estas são apenas algumas das perguntas existenciais que<br />

permeiam as mais diversas comunidades e denominações cristãs.<br />

Não pretendo responder a todas estas inquietações, e sim, compartilhar<br />

algumas experiências de minha prática durante vinte<br />

e cinco anos como pastor e dez como psicólogo.<br />

O que significa psicoterapia? Trata-se da soma de duas<br />

palavras gregas: psiquê (alma, mente) e terapia (cura). Portanto<br />

psicoterapia significa "a cura da mente", isto é, a cura do<br />

psiquismo da criança, do adolescente, do jovem, do adulto, porque<br />

os seres humanos são portadores de imperfeições físicas,<br />

mentais (psíquicas), morais e espirituais.<br />

Quando algo não está funcionando bem em nosso corpo,<br />

logo procuramos o nosso médico, e hoje temos três ramos da<br />

medicina que auxiliam na cura do doente, tais como a alopatia<br />

que age diretamente nos sintomas (sinais, avisos da doença); a<br />

homeopatia, que incide sobre a energia, na cura "dos semelhantes<br />

pelos semelhantes", e a acumputura que visa os pontos vitais,<br />

reequilibrando o organismo. Aqui não se deve esquecer a cura<br />

pelos dedos (do-in, shiatsu) ou seja, a pressoterapia, que é a<br />

Página 102<br />

IGREJA LUTERANA


cura pela pressão dos dedos sobre pontos vitais, e outras formas<br />

como medicinas alternativas.<br />

Hoje não se pode falar em sã consciência, qualquer que<br />

seja a escola de medicina, na cura apenas do corpo. Dia após<br />

dia aumenta entre nós ocidentais, com, o auxílio das terapias<br />

orientais milenares (acumputura, pressoterapia), o número de<br />

médicos e outros profissionais de saúde que reconhecem, o ser<br />

humano como um todo. Daí o surgimento não tão recente da<br />

medicina psicossomática, isto é, a cura da mente (Psique) e do<br />

corpo (soma, em grego). Medicina psiquiátrica (medicina da<br />

mente) e psicoterapía (cura do psiquismo) estão cada vez mais<br />

unidas, na promoção da saúde integral do ser humano.<br />

Homens e mulheres como instrumentos de cura<br />

Conforme o texto bíblico que o Novo e Antigo Testamentos<br />

nos relata, o Espírito Santo tem poder para curar. Contudo<br />

Deus que é Espírito, usa homens e mulheres como instrumentos<br />

na cura da mente e do corpo. O exemplo mais conhecido é o<br />

de Paulo, que tinha ao seu lado Lucas, o médico amado (Cl 4.14).<br />

O autor do terceiro Evangelho e de Atos foi instrumento do<br />

Espírito Santo para curar milhões de pessoas nestes dois mil<br />

anos, relatando a cura integral por meio de Jesus Cristo, crucificado<br />

e ressuscitado.<br />

Deus cura pela natureza (por meio de plantas, a fitoterapia,<br />

pela água, a hidroterapia; pela argila, etc); cura através<br />

dos remédios alopáticos e homeopáticos (todos vèm da natureza)<br />

; cura pela Palavra do Evangelho e pela palavra e silêncio<br />

do psicoterapeuta (psiquiatra ou psicólogo), quando este é um<br />

profissional competente e honesto. No caso específico da psicoterápia,<br />

o profissional, homem ou mulher, é melhor instrumento<br />

de cura da psique quando leva em consideração a dimensão<br />

transcendental (fé) do cliente, isto é, a busca que o cliente tem<br />

dentro de si em relação ao Absoluto Deus.<br />

Conheço profissionais agnósticos (ateus) que criticam a<br />

religiosidade das pessoas. Mas conheço muitos que, mesmo sendo<br />

agnósticos, levam em consideração a procura transcendental<br />

do cliente, a fé, a esperança como componentes da personalidade<br />

(Jung). Considerado um dos mais conceituados psicoterapeutas,<br />

Victre Franke, descobridor da logoterapia (Logos: sentido<br />

e terapia: cura, cura pelos sentidos) levou a sério a espiritualidade<br />

dos clientes, quando escreveu um livro entitulado "A<br />

presença ignorada de Deus na Terapia".<br />

IGREJA LUTERANA — Página 103


Abatidos, mas não destruídos<br />

No que diz respeito à depressão e fé, infelizmente há muitos<br />

pregadores evangélicos que estão colocando sentimentos de<br />

culpa sobre crentes muito sensíveis, quando afirmam categoricamente<br />

que "crente não tem depressão". A depressão é um<br />

fenômeno mundial e atinge também o cristão. Ser deprimido é<br />

estar quase sempre no "fundo do poço", para baixo, no sombrio<br />

da personalidade, numa vida mais cinzenta do que azul. É sofrer,<br />

porque sente que está incomodando os outros (parentes e<br />

amigos) por não ser alegre. Há remédios e tratamentos vários<br />

que auxiliam na depressão congênita. Outros há que auxiliam<br />

numa crise depressiva circunstancial, como a perda de um ente<br />

querido. Todavia é bom lembrar que os salmistas tinham depressões.<br />

Dentre eles, Davi, ao se expressar honesta e depressivamente,<br />

no conhecido salmo 51, pelo adultério que cometera<br />

e também pelo homicídio indireto de seu general Urias. Paulo,<br />

apóstolo, escreve aos coríntios sobre sua e nossa condição como<br />

cristãos: "Somos abatidos (deprimidos) mas não destruídos"<br />

(2 Co 4.9).<br />

Milhões de adolescentes e jovens hoje, dependentes dos<br />

tóxicos, não têm consciência de que são pessoas deprimidas. A<br />

resposta de Paulo ao dizer "abatidos mas não destruídos" é<br />

um chamamento.<br />

Uma advertência para pregadores que, com a melhor das<br />

intenções, deixam de reconhecer que muitos crentes são "deprimidos<br />

maravilhosos" e que conseguem superar dia-a-dia, pela<br />

graça de Deus em Jesus Cristo (muitas vezes com medicamentos<br />

antidepressivos e psicoterápicos) as crises de abatimento e de<br />

menos valia. Bom seria se não precisassem fazer psicoterapia<br />

ou mesmo usar medicamentos, mas nem todos conseguem.<br />

É importante sermos honestos para com Deus e para com<br />

a comunidade de fé, reconhecendo, acima de tudo, que a Igreja<br />

de Cristo, onde quer que se encontre, é uma comunidade terapêutica,<br />

comunidade de cura física, mental, moral e espiritual.<br />

Por isso surgiu no Brasil o Corpo de Psicólogos e psiquiatras<br />

Cristãos (CPPC), inspirado nos trabalhos de cristãos argentinos<br />

e que hoje procura dar assessoria a pastores e leigos, como instrumentos<br />

na cura do povo de Deus (1 Ts 5.23).<br />

Márcio Moreira, pastor e psicólogo<br />

Em TRANSFORMAÇÃO, nº 1, 1989<br />

Página 104 — IGREJA LUTERANA


O FALSO SUDÁRIO<br />

O conhecido santo sudário de Turim, que teria sido o manto<br />

sagrado que envolveu o corpo de Jesus Cristo após sua morte,<br />

acaba de ser considerado uma fraude e colocou em jogo o prestígio<br />

dos clérigos, mas em nada surpreendeu os céticos que sempre<br />

se mostraram incrédulos sobre sua veracidade.<br />

O santo sudário, uma peça de linho, medindo três metros<br />

de comprimento por um e meio de largura, que parece manchado<br />

de sangue e contém impressões débeis numa coloração café,<br />

mostra feridas que respondem às chagas de Cristo mencionadas<br />

na Bíblia. Foi exibido pela primeira vez ao redor do ano 1350,<br />

portanto, 13 séculos após a morte de Cristo. O que ninguém<br />

jamais explicou é por onde esteve guardado por todos estes séculos<br />

e porquê nunca se soube da sua existência prévia.<br />

Os ateus (e houve muitos desde o início) sempre afirmaram<br />

que o sudário fora fabricado por um falsificador, pouco<br />

tempo antes de ser exibido.<br />

Ninguém, contudo, estava seguro disso. Uma prova seria<br />

determinar quão velha era a tela de linho do sudário. Se tivesse<br />

pelo menos dois mil anos, então estaria correta a sua conexão<br />

com a morte de Jesus Cristo. Mas se tivesse, digamos, alguns<br />

700 anos, então o sudário não poderia ser o manto que envolveu<br />

o corpo do mártir do cristianismo.<br />

Nesta última, contudo, a ciência desenvolveu métodos precisos<br />

para detectar a idade de materiais orgânicos como os tecidos.<br />

O método é todo baseado nos átomos do carbono.<br />

Existem três variedades de carbono na natureza: o carbono<br />

12, o carbono 13 e o 14. O carbono-12 e o 13 são estáveis, mas<br />

já o carbono-14 é radioativo e se decompõe. Partindo de uma<br />

quantidade qualquer de carbono-14, a metade se decompõe e<br />

deixa de ser carbono, num período aproximado de 5.700 anos e,<br />

assim, sucessivamente.<br />

Considerando-se os "bilhões" de anos que a Terra tem de<br />

idade, qualquer carbono-14 presente na matéria, já teria se decomposto.<br />

Não obstante sempre se forma novo carbono-14, graças<br />

ao bombardeio dos raios cósmicos a que os átomos que<br />

compõem a atmosfera estão constantemente expostos. A quantidade<br />

que se forma é contrabalançada com a quantidade que se<br />

decompõe, razão pela qual sempre há uma pequena quantidade<br />

remanescente de carbono-14 na atmosfera, imutável anos após<br />

anos, século após século, pelo menos enquanto tal bombardeio<br />

cósmico seguir uniforme.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 105


Embora reduzido a quantidade de carbono-14 presente na<br />

atmosfera, é facilmente detectável, mensurável mesmo pelas partículas<br />

de energia que emite ao se decompor.<br />

Carbono-14 tem as mesmas propriedades químicas que os<br />

outros átomos de carbono registram, e atua igual sobre os tecidos<br />

vivos. É por isso que as plantas vivas retêm uma quantidade<br />

fixa de carbono-14, porque sempre renovam os átomos que se<br />

decompõem, com os átomos novos da atmosfera. Os animais,<br />

por igual, ingerem o mesmo carbono-14 das plantas — ou de<br />

outros animais que hajam comido vegetais — tendo por isto<br />

uma quantidade constante de carbono-14 em seus tecidos.<br />

Ao morrer, porém, uma planta perde o carbono-14 existente<br />

em seus tecidos. Ele se decompõe e não é renovado. Idem,<br />

para os seres. Pode-se, deste modo, medir o conteúdo do<br />

carbono-14 de uma relíquia que tenha sido produzida a partir de<br />

um organismo vivo. Quanto mais baixo for seu conteúdo de carbono-14,<br />

mais tempo teria transcorrido desde que o objeto fizera<br />

parte de um organismo vivo. Esta pesquisa científica pode ser<br />

feito com grande exatidão. A presença do carbono-14 já pode<br />

determinar a idade de pedaços de madeira encontrados em cavernas<br />

pré-históricas, nas bandagens ou o envolveram cornos mu¬<br />

mificados no Egito etc. Já se pode determinar antiqüidades com<br />

mais de 45.000 anos, usando-se essa tecnologia - diga-se de passagem,<br />

um poderoso e infalível instrumento ao alcance dos historiadores<br />

e arqueólogos.<br />

No caso do sudário tudo o que se precisava era tirar um<br />

pedaço do tecido — não maior do que um selo — limpá-la e<br />

queimá-la. O dióxido de carbono (composto de carbono e oxigênio")<br />

que se forma pode ser novamente convertido em carbono,<br />

liberando- se o oxigênio. Estes átomos de carbono alinhados,<br />

então, com uma complicada técnica, redundam na separação das<br />

diversas variedades distintas que possuem. É por esse processo<br />

que se obtém o carbono-14 e se lhe mede a quantidade, cuidadosamente<br />

julgando a taxa decomposta e a que conduz a taxa decomposta<br />

e a que produz outras partículas.<br />

Os resultados no caso do sudário, foram muito claros. O<br />

tecido fazia parte de plantas vivas de somente 700 anos. Concluiu-se,<br />

com exatidão, que o sudário fora fabricado não muito<br />

antes da época em que foi mostrado pela primeira vez, e nada<br />

teve a relacioná-lo com a figura de Jesus Cristo.<br />

A única coisa que obviamente não ficou claro até aqui, é<br />

como foram produzidas as manchas do sudário. Não parecem<br />

ter sido formadas de maneira clara ou facilmente compreensível.<br />

Desse modo, embora se saiba que o sudário é falso, as manchas<br />

que ele contém podem muito bem ser uma falsificação "milagrosa".<br />

Mas isto também não é provável. Como exemplo, cita-<br />

Página 106 — IGREJA LUTERANA


íamos o fato de que os cientistas, há mais de três séculos, se<br />

assombram com os sons emitidos pelos violinos fabricados por<br />

Antônio Stradivari. Jamais se conseguiu reproduzir os tons de<br />

um Stradivarius, não importa o que se tenha feito para consegui-lo.<br />

Mas também é correto que ninguém afirmaria que<br />

Stradivari foi ajudado por algum "milagre", o que se aplica a<br />

quem fabricou o sudário. A única chance que teriam os cientistas<br />

seria obter da igreja a entrega de todo o sudário para que<br />

eles nos pudessem dizer como, e de que se compõem as manchas<br />

mostradas. Isto, porém, parece improvável que aconteça pois o<br />

Vaticano, apesar da fraude constatada, continua insistindo em<br />

preservar a relíquia.<br />

Isaac Asimov<br />

Em GAZETA DO POVO, Curitiba, 12/02/89<br />

TOCADO! SACUDIDO! REBAIXADO!<br />

"Eis que certa mão me tocou, sacudiu-me e me<br />

pôs sobre os meus joelhos e as palmas de minhas<br />

mãos."<br />

(Daniel 10.10).<br />

Da linhagem real, extremamente culto, sem qualquer defeito<br />

físico ou moral, doutor em cultura e língua caldáica, profundamente<br />

zeloso em seu relacionamento com Deus, o profeta<br />

Daniel (cerca de 560 antes de Cristo) foi assessor de absoluta<br />

confiança de Nabucodonosor e Belsazar (reis da Babilônia) e<br />

de Dario e Ciro (reis da Pérsia). Não obstante ser um exilado<br />

judeu, Nabucodonosor o fez governador da Babilônia e chefe supremo<br />

de todos os sábios de seu vasto império (Dn 2.48). Belsazar<br />

colocou-o como a terceira pessoa mais importante do governo<br />

(Dn 5.29). E Dario o constituiu um dos três presidentes<br />

sobre os 120 sátrapas (Dn 6.2).<br />

Homem de oração (Dn 2.17-18; 6.10 e 10.12) e humilde<br />

(Dn 2.26-28; 2.30; e 10.12), Daniel tornou-se famoso pelas interpretações<br />

de sonhos e pesadelos do agitado Nabucodonosor. Ele<br />

próprio teve visões tremendas, dadas por Deus, que anunciavam<br />

a evolução da história a partir de seus dias e até os dia do<br />

Império Romano. A palavra-chave tanto nos pesadelos de Nabucodonosor<br />

como nas visões de Daniel é a soberania de Deus<br />

que está acima de qualquer pessoa, de qualquer nação e de<br />

qualquer governo.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 107


Numa de suas visões, Daniel teve uma experiência assaz<br />

curiosa: "Eis que certa mão me tocou, sacudiu-me e me pôs<br />

sobre os meus joelhos e as palmas das minhas mãos." (Dn 10.10).<br />

ULTIMATO se aproveita desta revelação do profeta para<br />

trazer um recado aos mais de 8.000 prefeitos e vice-prefeitos e<br />

aos muitos milhares de vereadores que em janeiro tomaram posse<br />

e começaram a governar os 4.212 municípios brasileiros.<br />

"Certa mão me tocou."<br />

O toque de Deus é extremamente necessário. Por meio deste<br />

contato, o homem inicia ou reinicia uma vida de fé. Ele acorda<br />

para Deus, ele se relaciona com Deus, ele se aproxima de<br />

Deus. Trata-se de uma experiência mística, mas tão real e de<br />

tão grandes e resultados que não deixa a menor dúvida. O toque<br />

se realiza de modo não uniformo através de uma palavra, de<br />

um cântico, de uma emoção, de uma experiência amarga, de<br />

uma surpresa agradável, de um sentimento insuportável de culpa,<br />

de uma sensação absoluta de perdão, de uma mudança brusca<br />

de sentimentos, da observação de um fenômeno qualquer da<br />

natureza, da lembrança de coisas passadas, e assim por diante.<br />

Naquele exato momento parece haver uma lavagem e uma renovação<br />

de mente, sem grandes lutas e sem o desejo de resistência.<br />

É a comoção e a convicção da presença real de Deus.<br />

A rigor, o convite ao toque, no apalpamento, à descoberta,<br />

ao contato, sempre vem da parto de Deus. Mesmo que o homem<br />

tome a iniciativa de colocar a sua mão na mão de Deus. É a<br />

velha história: "Nós amamos porque ele nos amou primeiro"<br />

(1 Jo 4.19). Jesus falou com Tomé: "Põe aqui o teu dedo e<br />

vê as minhas mãos: chega também a tua mão o põe-na no meu<br />

lado, não sejas incrédulo, mas crente" (Jo 20.27). Deus se permite<br />

tatear (At 17.27), para que o homem creia. A certeza de<br />

Deus vem não da audição e da visão, mas também do tato. Daí<br />

a palavra de João: "O que era desde o princípio, o que temos<br />

ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que<br />

contemplamos e as nossas mãos apalparam... Também anunciamos<br />

a vós outros.. ." (1 Jo 1.1,2). Se é possível ver o que é<br />

invisível (Hb 11.27). é também possível apalpar aquele que é<br />

intangível, pois a fé é capaz de tudo (Mt 17.20).<br />

"Sacudiu-me."<br />

O que Daniel quer comunicar é que Deus o balançou por<br />

inteiro. Este tipo de terapia é usado também na medicina, para<br />

tirar o paciente de uma crise histérica, ou de anorexia ou de<br />

apatia. O médico dá um solavanco no doente e ele fica bom.<br />

Página 108 — IGREJA LUTERANA


Deus tem sacudido o povo de Israel (Am 9.9) e as nações (Hb<br />

3.6). O terremoto de Filipos, na Grécia, balançou não só os<br />

alicerces da prisão, onde Paulo e Silas se encontravam, mas também<br />

o carcereiro, que acabou se tornando cristãos (At 16.26-34).<br />

O homem é tremendamente sacudido em suas bases quando<br />

adoece e se vê nas proximidades do vale da sombra da morte.<br />

Quando localiza o vazio interior não obstante a opulência exterior.<br />

Quando sente que tudo é vaidade e uma eterna mesmice<br />

debaixo do sol. Quando se decepciona com o valor relativo dos<br />

bens de consumo e do próprio dinheiro. Quando atravessa um<br />

desastre econômico e não enxerga qualquer solução a curto ou<br />

a longo prazo. Quando percebe que desceu demais nas escalas<br />

de valores morais e não sabe como voltar. Quando toma consciência<br />

de que é escravo de bordéis, de álcool, de droga. Quando<br />

acorda para o fato de que por seu desvio perdeu o cônjuge e<br />

os filhos. Quando descobre a falta que Deus lhe está fazendo e<br />

reconhece que o abandono teórico ou prático de Deus foi o seu<br />

desastre básico.<br />

A sacudidela de Deus tem objetivo terapêutico. Não é definitiva.<br />

Serve para agitar, para acordar, para arrancar o homem<br />

de um estado de apatia e inércia para um estado de alegria e<br />

entusiasmo, para livrá-lo do pecado e transportá-lo para uma<br />

outra esfera de vida (Cl 1.13).<br />

"Me pôs de quatro."<br />

Se o caso é grave demais, resta a terapia de colocar o<br />

homem sobre os seus joelhos e sobre as palmas de suas mãos,<br />

isto é, de quatro, como se fosse um animal. É necessário que ele<br />

seja encurvado, dobrado, reduzido, abatido e humilhado, até que<br />

reconheça que o Altíssimo tem domínio absoluto sobre todos (Dn<br />

4.25). "Deus concede bênçãos especiais àqueles que são humildes,<br />

mas se opõe àqueles que são orgulhosos." (1 Pe 5.6 em A<br />

Bíblia Viva.)<br />

Esta foi a amarga experiência de Nabucodonosor, de quem<br />

o próprio Daniel era assessor. O rei da Babilônia era a grande<br />

árvore, cuja altura chegava até ao céu, cuja folhagem era formosa,<br />

cujo fruto era abundante e suficiente para dar sustento a<br />

todos, cuja sombra protegia do sol os animais do campo e em<br />

cujos ramos faziam morada as aves do céu . Mas, de repente,<br />

por ordem de Deus, a árvore foi derrubada e todo aquele esplendor<br />

foi reduzido a um simples toco por causa da soberba e conseqüente<br />

falta de consideração para com a soberania de Deus.<br />

Para corrigir-se desta grave anomalia e para aprender que "o<br />

Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem<br />

quer" (Dn 4.32), a angústia de Nabucodonosor não ficou só no<br />

IGREJA LUTERANA — Página 109


pesadelo da árvore, mas ele experimentou pessoalmente o drama<br />

todo. Ele perdeu a saúde mental e "passou a comer erva como<br />

os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe<br />

cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas<br />

como as das aves" (Dn 4.33). O poderoso rei da Babilônia perdeu<br />

a sua posição de homo erectus e homo sapiens e foi posto<br />

de quatro, como se fosse um quadrúpede. Depois desta experiência<br />

de loucura, Nabucodonosor reconheceu e tornou público<br />

e notório que o reino de. Deus "é Reino sempiterno, e seu domínio<br />

de geração em geração" (Dn 4.3). Estava curado da loucura<br />

provocada pelo poder e pela doença mental.<br />

Era ULTIMATO, Viçosa, Fevereiro 1989<br />

VAZIO RELIGIOSO<br />

Existe um vazio existencial que causa frustrações humanas<br />

conseqüente da perda do sentido da vida. Nenhuma filosofia,<br />

muito menos alguma ideologia, são capazes de oferecer resposta<br />

adequada a este vazio existencial, estabelecido na alma<br />

de muitos jovens e adultos. As crianças sonham. Os jovens<br />

devaneiam e se frustram. Os adultos se amarguram. Os idosos<br />

se desesperam com seu vazio interior, como a perda do sentido<br />

do próprio viver.<br />

Existe um vazio religioso. Cabe à Igreja preencher. É<br />

sua missão. Se a Igreja não preencher este vazio religioso, o<br />

povo vai buscar a resposta em qualquer religião de esquina, em<br />

qualquer igreja sem conteúdo, doutrina, sem, sacramentos, sem<br />

sacrifício, sem sacerdócio. É grave missão da Igreja de Jesus<br />

Cristo preencher o vazio religioso existente na alma do povo.<br />

Religiões tradicionais permitem o surgimento de seitas, estilo<br />

"new age", superficiais e sem compromisso profundo com Deus.<br />

Tais seitas não satisfazem as interrogações da alma humana, em<br />

sua sede de Deus e de infinito.<br />

O vazio religioso se detecta facilmente. Manifestações de<br />

frustração, de ódio, de raiva, de inveja, de luta contra os outros<br />

por motivos egoístas revelam um vazio religioso. A falta de<br />

consciência da presença de Deus, de seu amor, de sua vontade,<br />

atestam estar o coração vazio de Deus, com falta de fé e de amor.<br />

O desconhecimento da doutrina de Cristo, a não prática religiosa<br />

revelam pobreza espiritual, anemia e ignorância religiosa. Se<br />

não se anunciar ao povo o Deus vivo e verdadeiro, o Senhor<br />

Jesus Cristo e o Espírito Santo, passará a adorar animais. A<br />

Página 110 — IGREJA LUTERANA


superficialidade religiosa atesta o desconhecimento das verdades<br />

da fé revelada e ou sua não vivência.<br />

O povo cristão precisa conhecer a fé, ouvir a religião íntegra<br />

e pura, crescer na formação cristã continuamente, testemunhar<br />

a crença, viver segundo os critérios da fé.<br />

Por que está acontecendo tanto abandono das Igrejas tradicionais?<br />

Porque exigem conduta, bons costumes, honestidade,<br />

coerência entre o que se crê e o que se faz.<br />

Por que a fé é proclamada fracamente, ela não convence.<br />

Por que a fé não é, muitas vezes, testemunhada, ela não convence.<br />

Se o evangelizador não for aceito, não será aceita sua<br />

mensagem.<br />

No Documento Pós-Sinodal, sobre os Leigos, "Chrisifideles<br />

Laici", João Paulo II fala longamente da Nova Evangelização a<br />

ser feita pela Igreja em todo mundo, como desafio à Igreja-Missão,<br />

decorrente da Igreja-Comunhão e da Igreja-Mistério. Uma<br />

nova evangelização se entende um renovado espírito, nova linguagem,<br />

novo entusiasmo, total fidelidade à doutrina da fé, empenho<br />

renovado na conversão dos católicos, ida às terras missionárias<br />

na conquista de homens para Cristo.<br />

O vazio religioso de tantos homens é responsável por tanta<br />

frieza cristã, tanta descrença religiosa, tanta infelicidade existencial,<br />

tanto ódio, a perda do amor, tanto abandono da Igreja<br />

e da Religião. Uma causa do vazio religioso é a falta de pregação<br />

íntegra e testemunhada, que revela pobreza em nossas cateque¬<br />

ses, liturgias, pregações, e em nossas exigências cristãs.<br />

O vazio religioso deve ser preenchido pela Igreja. Como<br />

isto será feito? Como fazer chegar ao coração o apelo religioso?<br />

Augusto Dalvit<br />

Em ZERO HORA, P. Alegre, 26/02/89<br />

CLAI É REPUDIADA POR IGREJAS<br />

FUNDAMENTALISTAS<br />

A Confederação de Igrejas Evangélicas Fundamentalistas<br />

do Brasil, reunida em sua concentração semestral, no dia 5 de<br />

novembro de 1988, no templo da 1ª Igreja Batista Bíblica de<br />

Vila Rosa, por votação unânime de seus membros, resolveu que:<br />

Considerando que a II Assembléia Geral do "Conselho Latino-Americano<br />

de Igrejas" (CLAI) reuniu-se entre os dias 28 de<br />

outubro e 2 de novembro do corrente (1988), em Itaicí, São Pau-<br />

IGREJA LUTERANA — Página 111


lo, tendo como estandarte o tema "Igreja: A Caminho de uma<br />

Esperança Solidário";<br />

Considerando que o CLAI, embora tido como entidade<br />

supostamente autônoma e de caráter latino-americano, é parte<br />

integrante, satélite, do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), representa<br />

o ecumenismo espúrio, apóstata, incorpora a tese da<br />

Teologia da Libertação e comunga estreitamente com romanistas,<br />

seitas heréticas, movimentos revolucionários, partidos políticos<br />

de orientação marxista, comunidades eclesiais de base e<br />

todo e qualquer movimento de caráter contestatório que se atenha<br />

aos mesmos inconfessáveis propósitos;<br />

Considerando que os delegados do CLAI têm na Bíblia<br />

Sagrada, não a inspirada, eterna e infalível Palavra de Deus,<br />

única regra de fé e prática para a vida dos crentes, mas sim um<br />

livro qualquer que tem que ser "contextualizado" segundo sua<br />

ótica e à luz do "hoje" e do "agora", e que, segundo um dos<br />

seus mais expressivos lideres, as "Categorias Bíblicas estão completamente<br />

ultrapassadas e obsoletas";<br />

Considerando que o CLAI tem na pessoa de d. Pedro Casaldáliga,<br />

mais conhecido como "Bispo Foice e Martelo", inventor<br />

da chamada "Insurreição Evangélica" e autor de frases como:<br />

"Em certas horas, a barba dos profetas poderia misturar-se à<br />

de Fidel Castro, sem que nisso haja incongruência..." Mais:<br />

"Subversão, Conversão..., chegamos ao fim da viagem entre os<br />

cristãos para os quais Revolução é Revelação e Insurreição significa<br />

Ressurreição", o "verdadeiro apóstolo da América Latina";<br />

Considerando que o denominado "culto" levado a contento<br />

num dos ginásios esportivos de Indaiatuba resultou em profunda<br />

ofensa à Palavra de Deus, quer pela ausência de oração, quer<br />

pelas músicas mundanas, danças, quer pela "pregação" vazia,<br />

tendenciosa, de um ministro independente, quer pela verdadeira<br />

anarquia, gritos, cenas, assobios etc, quer, finalmente pela baderna<br />

que se seguiu com casais dançando na quadra, à semelhança<br />

do banquete de Rei Belsazar (Dn 5);<br />

Considerando que como "sal da terra" e "luz do mundo",<br />

não podemos permanecer calados, compactuando, assim, com a<br />

apostasia escancarada do CLAI que milita por um reino "deste<br />

mundo", que não se identifica com o Reino de Cristo e seu<br />

eterno Evangelho;<br />

Considerando que o CLAI representa, sem qualquer dúvida,<br />

a apostasia de que nos advertem as Escrituras em textos<br />

como 1 Tm 1; 2 Tm 3-5; c 4.1-5, dentre outros:<br />

Manifestar:<br />

1° Profundo repúdio à realização da 2º Assembléia Geral<br />

do CLAI em nosso País;<br />

Página 112 — IGREJA LUTERANA


2º profundo pesar pela participação de Congregacionais e,<br />

notadamente, Pastores presbiterianos independentes que traíram<br />

o sangua dos reformadores e irmãos fiéis que deram suas vidas<br />

por amor a Cristo;<br />

3° reiteração a que servos fiéis que ainda não dobraram<br />

seus joelhos aos "baais" do ecumenismo espúrio a que atentem<br />

para as advertências bíblicas da doutrina de separação da apostasia<br />

dominante.<br />

Em O PRESBITERIANO BÍBLICO, nº 02, 1989<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Entretanto, caso um homem se. tenha afastado da verdadeira fé, o<br />

pastor deve empregar grande esforço, persistência e paciência. Daí precisar<br />

o sacerdote de uma alma heróica para não desanimar e desesperar<br />

da salvação dos errantes.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 44<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Pois aqueles cujo cristianismo se restringe á sua própria pessoa,<br />

também limita a utilidade do trabalho apenas a seu proveito próprio; o<br />

trabalho eficiente das funções pastorais, porém, deve estender-se ao bem<br />

do povo todo.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 44<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Como, porém, a fraqueza do meu espírito me faz inapto para um<br />

cargo de tanta responsabilidade, onde as minhas palavras apresentam<br />

algo que exigisse algum exame?... Se tu fugiste deste alto cargo eclesiástico<br />

porque achavas que tua inteligência não era capaz de assumir responsabilidade<br />

tão pesada, deverias antes ter-me impedido a mim — porque<br />

tinha deixado a decisão em tuas mãos — mesmo se tivesse demonstrado<br />

alguma inclinação para o cargo.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 45<br />

IGREJA LUTERANA — Página 113


COMENTÁRIOS<br />

I Congresso Diabológico<br />

O jornal "Zero Hora" de Porto Alegre, RS, publicou em<br />

sua edição do dia 22/10/88, algo sobre um estranho congresso, a<br />

saber o "Congresso Diabológico", sob o título "O diabo, sucesso<br />

maior de congresso em Turim". Inicia seu comentário, baseado<br />

em notícias da "Agence France Presse/Turim", com o seguinte<br />

parágrafo: "O diabo não foi somente o tema, mas também o<br />

grande vitorioso do primeiro "Congresso Diabológico, realizado<br />

durante a semana na cidade italiana de Turim, pois os participantes<br />

o inocentaram de não poucas diabruras e libertaram sua<br />

imagem de chifres, pés de cabra, rabo e cheiro de enxofre".<br />

Esta constatação algo cínico foi o resultado deste "congresso"<br />

que "contra vento e maré" foi organizado pela senhora<br />

Maria Teresa Gatti que, de acordo com ela, foi realizado para<br />

'afastar o diabo da tutela da igreja: "Tínhamos direito de um<br />

diabo leigo", explicou.<br />

É interessante a reação da Igreja Católica da Itália. Assim<br />

disse o arcebispo Pietro Rossano, reitor da Universidade Pontifícia<br />

de Latrão: "Claro que não é uma questão de chifres e<br />

tridente. Se o diabo é o mal, está presente em qualquer época<br />

e lugar. Não é possível afugentá-lo com a intolerância do racionalismo<br />

recalcitrante, porque de qualquer forma sempre volta".<br />

O representante da diocese de Turim, padre Eugênio Costam,<br />

jesuíta e eminente "satãnólogo" constatou que o diabo saiu deste<br />

congresso "bastante airoso do processo", "aliviado de muitas das<br />

culpas que sempre teve de carregar"... "Decidimos deixar de<br />

acusá-lo de tudo, porque isso é muito cómodo e só tende a nós<br />

irresponsabilizar". Em contraposição a este ato de "aliviar" o<br />

diabo, bruxos, "iluminados" e outros adeptos da magia negra",<br />

que foram excluídos do congresso, se reuniram em outro lugar<br />

de Turim, em vigília, para emanar "energias positivas" para<br />

neutralizar as "negativas" do congresso. A chefe destes contestadores,<br />

Guiditta Dembech", disse: "O diabo não descansa, é<br />

superativo".<br />

Quem desta maneira lida com o arce-inimigo de Cristo e<br />

dos cristãos "brinca com fogo". Em certo sentido os bruxos têm<br />

razão de afirmar que o diabo "é superativo". Ele é "superativo"<br />

espiritualmente. E quando se consta que 49% dos italianos "acreditam<br />

em Satanás", ai! dos 51 % restantes. Porque a Bíblia, a<br />

Pásina 114 — IGREJA LUTERANA


própria Palavra de Deus, nos diz claramente: "Sêde sóbrios e<br />

vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como<br />

leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes<br />

na fé" (1 Pe 5.8). "Revesti-vos de toda a armadura de<br />

Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo"<br />

(Ef 6.11). Certamente tais "congressos" pertencem também às<br />

perigosas "ciladas" do inimigo da salvação dos homens por<br />

Cristo. — JHR<br />

Casamentos homossexuais<br />

A "Folha da Tarde" de São Paulo publicou, em sua edição<br />

de 27/10/88, com algum destaque, algo que já se podia prever<br />

quando havia nos Estados Unidos "igrejas" que permitiram, "casamentos<br />

homossexuais", entre homossexuais e lésbicas. Diz a<br />

notícia da "Folha": "Uma Convenção da Igreja Episcopal da<br />

Califórnia, nos Estados Unidos, aprovou ontem o casamento entre<br />

homossexuais, sejam eles homens ou mulheres. A votação,<br />

no término da convenção, realizada em São Francisco, foi de 189<br />

votos a favor e 117 contra. Os que se opõem à decisão disseram<br />

que as Escrituras entendem o casamento como sendo a união<br />

entre um homem e uma mulher e não entre pessoas do mesmo<br />

sexo. Os defensores desse novo tipo de união argumentaram que<br />

a expansão da Aids força a igreja a aprovar relações duradouras,<br />

sejam elas heterossexuais ou homossexuais".<br />

Essa decisão provou, de novo, que a Igreja Episcopal nos<br />

Estados Unidos, pertence às igrejas das mais liberais entre todas<br />

igrejas protestantes. Se aqueles que votaram contra essa decisão<br />

nefasta saíssem de um tal aglomerado que ainda se chama<br />

de "igreja", seria um excelente testemunho. Em todo caso, esta<br />

decisão afasta a Igreja Episcopal ainda mais da Igreja Católica<br />

Romana, com a qual há discussões com o alvo de uma eventual<br />

união. — JHR<br />

Liberdade política e religiosa na União Soviética?<br />

A União Soviética acaba de jogar uma ducha fria na esperança<br />

e no entusiasmo de chanceler alemão Helmut Kohl que,<br />

depois de uma visita a Moscou, anunciou a eventual libertação<br />

de todos os considerados presos "de consciência" naquele país.<br />

De acordo com "O Estado de São Paulo" (do dia 28/10/88, pág.<br />

29), o porta-voz da chancelaria da URSS negou-se a confirmar<br />

ou desmentir o anúncio de Kohl. Diz o comentário citado: "Yuri<br />

Rechitov, responsável pelo setor humanitário, alegou apenas que<br />

a URSS tem esperança de que todos os detidos considerados<br />

IGREJA LUTERANA Página 115


presos políticos sejam, libertados até o fim do ano'. Duas coisas<br />

contribuíram para o desânimo geral: a expressão 'A URSS TEM<br />

ESPERANÇA' e 'MINHAS DUAS MÃOS BASTAM PARA CON­<br />

TAR ESSAS PESSOAS'. Ora, a URSS faz distinção entre presos<br />

políticos e presos de consciência. São milhares de pessoas (dissidentes<br />

ou não) que se encontram nas prisões geladas da Sibéria<br />

ou nos hospitais psiquiátricos. A propaganda que se faz<br />

em torno do assunto, não pode nos iludir. A proibição da saída<br />

dos judeus para Israel é outra questão que permanece no mais<br />

profundo silêncio na União Soviética".<br />

Sabe-se de fontes seguras que entre os "Batistas não Registrados"<br />

há um bom número de crentes, especialmente pregadores-leigos<br />

destas igrejas que ainda hoje (março de 1989) se<br />

acham encarcerados ou condenados a trabalho forçado. É verdade<br />

que o assim denominado "glasnost" de Michael Gorbachow<br />

trouxe certo alívio, especialmente para o trabalho da Igreja<br />

Ortodoxa Russa, mas outras igrejas ainda estão sofrendo perseguições,<br />

especialmente de autoridades locais na Rússia. — JHR<br />

Pensamentos notáveis de um excêntrico<br />

Há alguns meses faleceu, na Espanha, um dos homens mais<br />

excêntricos deste século, o pintor afamado Salvador Dali. O jornal<br />

"A Notícia", de Joinville, SC, publicou em sua edição do<br />

dia 29 de janeiro deste ano, algumas frases realmente notáveis<br />

deste homem. Juliana Wosgraus cita do livro "As Paixões Segundo<br />

Dali", assinado por Dali e Pauwels, entre outros, os seguintes<br />

pensamentos:<br />

"O homem, em face da morte, se não tem o coração grande,<br />

toma o partido do homem. Eu tomo o partido de Deus e da<br />

eternidade, e por isto não sou humanista. Creio na sobrevivência<br />

eterna."<br />

"Que nossa realidade interior seja tão forte que corrija a<br />

realidade exterior."<br />

"O mundo é o lugar das vidas inacabadas; as vidas acabadas<br />

estão no céu."<br />

"Quanto mais uma alma tem, instinto divino, mais ela está<br />

em desacordo com o mundo."<br />

Tais pensamentos e palavras ainda não provam ser esse<br />

excêntrico um cristão, mas comprovam que até os ateus sabem,<br />

intimamente, não só que Deus existe, mas sim, que este Deus<br />

um dia os chama a prestar contas das suas vidas. Assim escreve<br />

Paulo aos cristãos de Roma: "... porquanto o que de Deus se<br />

pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes mani-<br />

Página 116 — IGREJA LUTERANA


festou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno<br />

poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,<br />

desde o princípio do mundo, sendo percebidos por<br />

meio das coisas que foram criadas. Tais homens são por isso<br />

indesculpáveis" (Rm 1.19,20). — JHR<br />

CVV e as pessoas angustiadas<br />

O verão, para boa parte das pessoas, é o período de festas<br />

e de férias. Mas, para muitas outras, é uma época de solidão<br />

e depressão. Durante o restante do ano, o Centro de Valorização<br />

da Vida (CVV) recebe em torno de 30 telefonemas diários, mas,<br />

a partir do Natal, este número triplica, principalmente a partir<br />

do comercial veiculado na televisão. São pessoas, em geral, passando<br />

por uma grande solidão e uma angústia profunda pela<br />

falta de perspectivas em suas vidas, relata o coordenador do<br />

CVV, Léo. (os integrantes do centro não se identificam).<br />

Segundo ele, o problema se acentua nesta época por causa<br />

das festas, em que muitos passam estes dias longe de seus familiares,<br />

às vezes completamente sozinhos, sem um amigo sequer<br />

para compartilhar estes momentos. E também há as viagens<br />

dos filhos e pessoas próximas em férias, deixando os pais<br />

em casa. Estes são momentos muito emotivos, em que as pessoas<br />

fazem um balanço de suas vidas e podem se angustiar profundamente<br />

com a sua situação e suas possibilidades para o<br />

futuro, observa Léo.<br />

Desabafar<br />

O trabalho dos voluntários do CVV é basicamente ouvir,<br />

"porque o mundo de hoje é de surdos, e ninguém tem tempo<br />

de ouvir o problemas dos outros, pois todos acham os seus problemas<br />

maiores que os dos demais", analisa Léo. No momento<br />

em que alguém está confuso, salienta, é importante que tenha a<br />

chance de desabafar, pois no próprio ato de relatar seu problema<br />

já irá reordenar as suas idéias, raciocinar e buscar uma solução,<br />

ou pelo menos algo que amenize seu problema.<br />

O CVV surgiu na Inglaterra e chegou ao Brasil em 1962.<br />

Já tem 70 postos no País e 3 mil voluntários. Contudo, em Porto<br />

Alegre o órgão enfrenta deficiências, especialmente no verão,<br />

pois só dispõe de uma linha telefônica para a grande procura,<br />

além da falta de voluntários. Este problema está sendo superado,<br />

pelo anúncio na RBS TV, que já resultou no aparecimento<br />

de 30 pessoas se oferecendo para trabalhar no atendimento do<br />

CVV.<br />

IGREJA LUTERANA — Página 117


Telefone<br />

Os voluntários não necessitam ter qualquer curso superior<br />

específico, são estudantes, funcionários públicos, advogados, aposentados,<br />

psicólogos, que doam quatro horas semanais de seu<br />

tempo para auxiliar os que procuram o CVV. O trabalho é anônimo,<br />

para evitar constrangimentos, sem remuneração mas muito<br />

gratificante, quando se verifica que alguém em desespero conseguiu<br />

sorrir após conversar com o CVV, diz Léo, que é economista<br />

e empresário. Antes de exercer esta tarefa, o voluntário<br />

passa por uma triagem. Há a apresentação da mensagem do<br />

CVV e depois um estágio de dois meses com aulas semanais.<br />

Mas, se no aspecto de material humano a situação está<br />

melhorando, o centro atravessa a grave dificuldade da falta de<br />

um novo telefone, que foi comprado em outubro, mas ainda não<br />

foi instalado pela CRT. Enquanto isto não acontece, o CVV<br />

continua atendendo pelo 21.9830 (das 14h às 22h), constantemente<br />

congestionado, sinal de um tempo muito difícil, marcado pela<br />

angústia e solidão.<br />

Estas informações de Ulisses Almeida Nenê encontram-se<br />

em ZERO HORA de 15/01/89. Elas merecem reflexão. Que fazemos<br />

nós?<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Porque para tal é mister que se faça um exame rigoroso, e, querendo<br />

levar ao sacerdócio um homem apto para o cargo, não nos podemos contentar<br />

com a opinião da multidão, mas devemos examinar sua personalidade,<br />

e. de maneira especial, as qualidades de seu caráter. Muitas vezes<br />

acontece que a voz da grande multidão engana.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 46<br />

PARA<br />

REFLETIR:<br />

Pois sou da opinião de que aqueles que querem dedicar-se totalmente<br />

a Deus, somente a ele devem dirigir seus olhares, mostrando ama<br />

mentalidade tão resignada a Deus.<br />

Crisóstomo (354-407) O Sacerdócio, p. 49<br />

Página 118 — IGREJA LUTERANA


Composição, impressão e acabamento na<br />

Tipografia e Editora La Salle - Canoas, RS<br />

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