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SUPLEMENTO<br />

TEOLÓGICO<br />

Palavra ao Leitor p. 3<br />

Tribuna:<br />

A Declaração Conjunta de Luteranos e Católicos<br />

Sobre a Doutrina da Justificação p. 5<br />

Paulo W. Buss<br />

Artigos:<br />

A Parábola do Bom Samaritano nos Escritos de Lutero p. I]<br />

Cláudio L. Flor<br />

Filosofia Luterana de Educação p. 39<br />

Egon M. Seibert<br />

A IELB e o Aproveitamento de Candidatos não Ministeriais p. 59<br />

Ivonelde SepÚlveda Teíxeíra<br />

Liturgia:<br />

Dança Litúrgica p. 73<br />

:\Iúsica:<br />

Kyrie Eleison p. 80<br />

Sempre em Deus Confia p. 82<br />

Auxílios Homiléticos p. 85<br />

Livros Recebidos p. 99<br />

ANO 14 No.2 1999


VOX CONCORDIANA - SUPLEMENTO TEOLÓGICO<br />

Revista teológica semestral publicada pela Congregação de Professores da<br />

Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo.<br />

Conselho Editorial:<br />

Diagramação:<br />

Deomar Roos, editor<br />

David Coles W.<br />

Jarbas Hoffimann<br />

Congregação<br />

de Professores:<br />

Ari Lange, Cláudio L. Flor,<br />

David Coles W., Deomar Roos,<br />

Erní W. Seibert, Leonardo Neitzel,<br />

Paulo W. Buss, Raul Blum.<br />

•<br />

Os artigos assinados são da responsabilidade<br />

dos seus autores.<br />

ACEITA-SE<br />

PERMUTA COM REVISTAS CONGÊNERES<br />

ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA<br />

INSTITUTO CONCÓRDIA DE SÃO PAULO<br />

Caixa Postal 60754 Fone: (11) 5841-7652<br />

05786-990 São Paulo, SP Fone/Fax: (11) 5841-7529'<br />

E-mail: icspest@uol.com.br<br />

ANO 14 - No.2 - 1999


PALA VRA AO LEITOR<br />

o presente número da Vox COllcordiana inaugura uma nova seção<br />

intitulada Livros Recebidos. Como sugerido pejo título, esta seção Estará as<br />

obras recebidas pela Vox Concordiana e peja biblioteca Dr. Martinho Lutero,<br />

da Escola Superior de Teologia, provenientes de várias editoras. Via de<br />

regra. trata-se de títulos novos publicados recentemente. Outro destaque vai<br />

para a matéria referente à dança litúrgica pub!icada neste exemplar. As<br />

explicações e ilustrações orientarào o leitor neste assunto que certamente é<br />

novidade para muitas congregações da IELB. O tema dos artigos deste<br />

número volta-se para Lutem (A Parábola do Bom Samaritano 110S Escritos<br />

de Lutem, Filosof!o Luterana da Educação) e discute a questào dos candidados<br />

não ministeriais da IELB (A lELB e o Aproveitamento de Cwzdidatos<br />

mzo Ministeriais).<br />

Registramos aqui a gratidão da Vox COllcordiana aos vários colaboradores<br />

que, com seus artigos e estudos, contribuíram para o enriquecimento<br />

dos leitores.<br />

Deomar Roos<br />

Editor<br />

- 3 -


TRIBUNA<br />

"DECLARAÇÃO CONJUNTA SOBRE A DOUTRINA DA<br />

JUSTIFICAÇÃO" E "AFIRMAÇÃO OFICIAL COIvIUM PELA<br />

FEDERAÇÃO LUTERANA MUNDIAL E A IGREJA CATÓ·<br />

LICA" (Incluídos os "ANEXOS")<br />

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES<br />

Paulo W, Buss<br />

o documento sobre a doutrina da justificação assinado conjuntamente<br />

pela Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica Romana no Dia da<br />

Reforma de 1999 atraiu amplo interesse. Não apenas publicações eclesiásticas.<br />

mas também jornais e revistas seculares deram destaque ao evento,<br />

Na apreciação do significado, da importáncia e do alcance do documento ..<br />

houve. porénl, divergências enonnes. Para alguns, a assinatura do documento<br />

significa nada menos do que a reconciliação entre católicos e lureranos<br />

após quase cinco séculos de separação, Outros consideram o documento<br />

fraco, ambíguo, contraditório, e, até mesmo, uma traiç5.o ao evangelho,<br />

A Reforma de Lutero teve como núcleo e coraç5.o a compreensão da<br />

doutrina da justificação que ele alcançou após anos de aflição espiritual e<br />

de intenso estudo das Escrituras Sagradas. Para Lutem, esta doutrina é o<br />

princípio e a pedra fundamental de toda a teologia. Se este artigo é perdido,<br />

perde-se, ao mesmo tempo, toda a doutrina cristã. As Confissões Luteranas<br />

reafirmam enfaticamente a posição de Lutero.<br />

Enquanto muitos cristãos reconheceram que Lutero trouxera à plena<br />

luz a verdade do evangelho bíblico, a hierarquia da igreja católica da época<br />

não se sensibilizou com a posição de Lutero mas, pelo contrário, se aferrou<br />

a um ensino que incluía méritos próprios e de santos na busca da obtenção<br />

da salvação, O Concílio de T1'ento (J 545-63), que definiu e padronizou a<br />

teologia católica romana para os tempos modernos, expressamente anatematizou<br />

a doutrina da justificaçÜo somente por meio da fé, Era o fim de<br />

qualquer possibilidade de diálogo, O impasse total perdurou até o início da<br />

década de 1960, O Concílio Vaticano n, que entÜo se reuniu, nÜo revogou<br />

nenhum dos decretos de 1'rento, mas pode-se, finalmente, perceber uma<br />

abertura em relação aos protestantes, De hereges excomungados, passaranl<br />

a ser "irmãos separados". Em ]967 começaram os contatos oficiais entre o<br />

Vaticano e a Federação Luterana Mundial. A partir daí, houve diálogos<br />

-5 -


entre luteranos e católicos romanos em vários lugares. A Declaração Conjunta<br />

sobre a Doutrina da Justificação (DC) foi elaborada entre] 995 e j 997<br />

por teólogos católicos romanos e luteranos sob os auspícios do Vaticano e<br />

da Federação Luterana Mundial (FLM).<br />

A primeira versão da DC foi enviada às igrejas participantes em<br />

1 995. Várias igrejas luteranas enviaram suas reações à comissão. Uma versão<br />

final foi distribuída pela FLI\l em fevereiro de 1997. Após a aceitação<br />

do dOCU111ento pelas igrejas rnernbras da FLrvI, a igreja católica r0111ana<br />

enviou sua resposta oficial à FUvl em junho de 1998. Essa resposta foi<br />

emitida pela Congregação para a Doutrina da Fé e o Pontiffcio Conselho<br />

para a Pro111oção da LTnidade Cristã. p.~ nota catÓlica ofiC1tll reconhece que<br />

urn alto grau de acordo roi alcançado. I\·'1as.deixa claro que o·alnda não<br />

)JOde1110s falar de 11111 consenso tal Que ~ elin1inaria toda a diferenca,<br />

entre<br />

católicos e luteranos na c0111preensão da justificação~'. Ela passa então a<br />

citar vários pontos da DC que não são aceitáveis para a igreja católica. l\<br />

maior dificuldade é encontrad:.i no ponto 4A dei De. Para os católicos a<br />

fórmula "ao mesmo tempo justa e pecadora", como explicada no parágrafo<br />

é inaceitÚvei. Para os católicos, no batismo, tudo o que realmente é<br />

pecado é removido. Por isso, diz a nota, para os católicos fica difícil entender<br />

como a doutrina do Sililll! iustus et peccoto}" tal como apresentada na<br />

DC não é atingida pelos anátemas do decreto tridentino sobre o pecado<br />

original e a justificação. A nota ainda declara que a importància atribuída à<br />

doutrina da justificação não é a mesma para católicos e Iuteranos. Para<br />

estes, ela tem um significado todo especial, para os católicos é uma àoutrina<br />

entre outras. O espaço não permite citar todos os pontos abordados na<br />

nota. Por isso, citamos apenas uma das conclusões: "O nível de concordância<br />

é alto, mas ele não nos permite [ljnda afirmar que as diferenças separando<br />

católicos e luteranos na doutrina concernente a justificação sejam simplesmente<br />

uma questão de ênfase ou de linguagem. Algumas dessas<br />

cliferencas<br />

:><br />

dizem resDeito<br />

..I.<br />

a asnectos<br />

1<br />

de substância e não são<br />

-1-<br />

Dortanto mu-<br />

tL1amente compatíveis. ao contrário do que é afirmado no parágrafo 40 [da<br />

DC):' Parecia ter surgido, assim, um impasse que dificultaria a assinatura<br />

conjunta da DC.l\/las~ diÚlogos e negociações posteriores. iniciados enl<br />

noven1bro de] resultaranl n~l ·'A:..firrnaçfto ()ficial Con1ulrl~' (J\OC)<br />

incluindo oS"Anexos" nos quais as principais divergências remanescentes<br />

foram discutidas. conduzindo, assim. a uma assinatura que confirmou a DC<br />

"na sua totalidade".<br />

Das igrejas luteranas não filiadas à FLM, a maior, em número de<br />

membros, é a Lutheran Clmrch-Missouri Synod (LCMS). Seu presidente,<br />

Dr. A!vin Barry. solicitou uma avaliação da DC is congregações de profes-<br />

-6 -


sores dos dois seminários da igreja. (O texto das avaliações, acrescido de<br />

unl sU111Úrio da CTCI


da justificação; na inclusão da dimensão escatológica na discussão; e na<br />

confirmação da paridade dos parceiros do diálogo. Ao mesmo terilpo, a<br />

SELK aponta questões ainda não resolvidas:<br />

1. O anexo 2A ainda afirma que a justificação nos toma justos. O si­<br />

Iilll/ iu.\tus et peccator da Reforma não recebe expressão adequada.<br />

2. O conceito de pecado. ou a questão da concupiscência. Não está<br />

c]are a)~ que ponto se deve ainda falar da pecaminosidade do justificado<br />

:L C sola .fi de - ou a relação entre justificação e santificação. Pela<br />

primeira vez, numa declaração conjunta entre luteranos e católicos romanos,<br />

o sola gratio é complementado pelo solafide (Anexo 2C) e baseado em<br />

Rm 3.28. Mas o valor das obras en1 relação à justificação não fica claro.<br />

4. A preservaçào da graça - atnxvés àe boas obras? l~o Anexo lD a­<br />

firma-se uma compreensão comum da questão. IVlas as citações das Confissões<br />

Luteranas aduzidas como prova negam a participação de obras na<br />

preservaç5.o da vocação celestiaJ.<br />

5. O juIg


para não pisar nos calos de ninguém e para, assim, agradar tanto a gregos<br />

quanto a traianos. A questão é se os documentos conseguiram reproduzir<br />

com fidelidade e clareza suficientes o ensino escriturístico sobre o tema.<br />

Desta perspectiva. é forçoso dizer que sérias ambigüidades, lacunas e contradições<br />

presentes nos textos depõem contra eles. O parágrafo 40 da DC<br />

reconhece a existência de "diferenças remanescentes na terminologia, na<br />

articulação teológica e na ênfase da compreensão da justificação". Declara,<br />

porém, que tais diferenças são "aceitáveis" e que "as formas distintas pelas<br />

quais luteranos e católicos articuiam a fé na justificação estão abertas uma<br />

para a outra e não anu~anl (}consenso nas verdades básicas.'; O que significa<br />

isso? Qual é o limite da "diversidade reconciliada", e da "unidade na<br />

diversidade''') Até que ponto é possível estar aberto para posições contraditórias<br />

sem cair num relativismo completo?<br />

Não se está querendo minimizar ou negar avanços evidentes. Não se<br />

questiona o esforço e a sinceridade dos participantes do diálogo. Mas, infelizmente,<br />

não se chegou ainda, nesses documentos, a uma confissão clara e<br />

inequívoca da verdade bíblica sobre a justificação. Chegar quase lá não é o<br />

mesmo que chegar lá óe fato. Em termos óe resultado final, perder o avião<br />

por cinco minutos ou por uma hora de atraso não faz óifcrença. São as Confissões<br />

Luteranas que afirmam que "óesse artigo a gente não se pode afastar<br />

ou fazer alguma concessão, ainda que se desmoronem céu e terra ou qualquer<br />

outra coisa" (AE,Il/I,5; veja também CA XX,8; Ap IV,2; XII,3,] O;<br />

CM. Do Credo, 33,54,55; FC, DS, III,6). Ceder neste artigo significaria<br />

diminuir o mérito, a glória e a honra de Cristo, pois se atribuiria a seres<br />

humanos aquilo que pertence unicamente a Cristo. A linguagem da Escritura<br />

Sagrada é clara, precisa e não deixa lugar para ambigÜidades nessa questão:<br />

"pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de<br />

Deus: não de obras para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). Deus justifica<br />

CIO (/77 pio, Rm 4.1-8; 5.6-11, veja também Fp 3.8,9. Toda a glória na justificação<br />

pertence a Deus, ele não a divide COI1OSco.Por isso, em GI 5.4, o<br />

apóstolo é taxativo: "De Cristo vos desligastes vós que procurais justificarvos<br />

na lei, da graça decaístes."<br />

Tendo dito isto. é preciso reconhecer como muito positivo e digno de<br />

nota que a primeira declaração conjunta oficial entre a Igreja Católica Romana<br />

e a FLM tenha sido exatamente sobre a doutrina da justificação. Este<br />

fato, já por si mesmo, expressa o reconhecimento da importância fundamental<br />

deste m1icu/us stantis ct cadcntis ecc/csiac. Além disso, conseguiuse,<br />

passados quase 500 anos da Reforma, chamar ampla atenção tanto das<br />

igrejas como da sociedade em geral para este "que é o artigo principal no<br />

cristianismo" (CA XX,8). Queira Deus que toda a igreja cristã no mundo<br />

- 9 -


inteiro possa chegar a uma compreensão clara e biblicamente informada<br />

desta doutrina e lhe atribuir o lugar central que lhe cabe.<br />

- 10-


ARTIGOS<br />

A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO<br />

NOS ESCRITOS DE LUTERO<br />

Cláudio L. Flor<br />

Introdução<br />

Há uma recorrência diacrônica à parábola do Bom Samaritano (Lc<br />

10.30-37) na produção teológica de Lutero. A parábola funciona como um<br />

espelho, refletindo o progresso da compreensào teológica do reformador<br />

em sua luta contra o esco!asticismo e o processo de independentizaçào cIo<br />

sistema agostiniano de pensamento.<br />

Lutero nunca fez uma interpretação forma! desta parábola. NenhulTla<br />

vez aparece uma exposição sistemática deste texto nos seus escritos. Usa o<br />

texto de forma alegórica. A parábola (normalmente apenas uma fração<br />

dela) é usada como ilustração e confirmação do ponto teológico que está<br />

expondo e é usada com uma forte ênfase cristológica. Normalmente o Samaritano<br />

representa Cristo ou Deus e o texto é usado para descrever o que a<br />

divindade está operando 110 ou em favor do ser humano.<br />

Nos primeiros textos, o uso da parábola revela um Lutero ainda fortemente<br />

ancorado na teologia medieval. Na medida em que os escritos a­<br />

vançam no tempo. percebe-se o seu avanço e a superação das posições<br />

teológicas medievais. A princípio, Lutero emprega a interpretação corrente<br />

nos seus dias. Pouco a pouco, amplia sua leitura, usando-a cristologicamente<br />

para sustentar a tese de que a lei não pode ajudar-nos. A salvação é obra<br />

ela graça de Deus em Cristo. Demole, assim, passo a passo, a doutrina da<br />

salvação oferecida pelo escolasticismo. Nas obras mais tardias, também<br />

aparece uma interpretação ética da parábola. 1<br />

Percebe-se, através do exame seletivo e comentado das citações da<br />

parábola do Bom Samaritano nas obras de Lutero, que a mesma revela o<br />

Professur na Escola Superior de Teologia. São Paulo, SP.<br />

I \IONSELEWSK!. Werner. Der BCII7lIher:cige Salllaritcmer (Tübingen: ]. C. Mo111', ] 967).<br />

pp. l)).l)(í.<br />

-li -


desenvolvimento da compreensão da doutrina da salvação por parte do<br />

reformador e, especialmente, o momento em que começa a fazer clara distinção<br />

entre justificação e santificação,<br />

Primeiras preleções sobre Salmos (1513-1515)<br />

A parábola do Bom Samaritano é citada três vezes nessas preleções,<br />

A primeira citação ocorre no comentário do Sl 4.4, Segundo o texto;<br />

o Senhor não apenas fere, mas até mesmo esmurra a fim de curar<br />

e castiga a fim de treinar (Jo 5,] 8) '" A lei somente mata, mas não<br />

é capaz dê fazer revlver (isto é, 11l0stra COl110 a pessoa deveria<br />

morrer, mas não traz vida; isto é. não mostra como uma pessoa<br />

pode revi ver), e o homem apenas sai machucado, mas não tem a<br />

sua dor aliviada, ao passo que Deus "derrama vinho e azeite" (Lc<br />

JO,34),2<br />

o texto reflete a arcaica teologia da cruz do jovem Lutero, Deus aparece<br />

como o Bom Samaritano, A última sentença precisa ser lida à luz da<br />

primeira: A oçÚo de Delís é terapêutica, Ele atua através do sofrimento,<br />

Enquanto a lei somente mata, a ação de Deus é dupla: Leva à morte e traz<br />

de volta à vida, Deus estaria curando o homem ferido por meio do sofrimento,<br />

A parábola volta a ser mencionada quando Lutero comenta o Sl 41,3,<br />

Forma-se a seguinte imagem: O Bom Samaritano é o Senhor CMt ] 1,28), O<br />

homem ferido representa cada cristão, O Senhor remove a tristeza e as feridas,<br />

"mas isto acontece somente no fimÜ da existência", "Este é o significado<br />

de trazer ajuda e modificar todas as coisas, isto é, tudo ao mesmo<br />

tempo (tOtclliícr)", "0 Samaritano nos tem sempre na estalagem, onde alivia<br />

a pena com o óleo da graçu e, gradualmente, o cuidado do hospedeiro cura<br />

os ferimentos":'<br />

A ênfase aqui está em mostrar o que Deus está fazendo em nÓs. Lutera<br />

ainda não faz distinção entre justificação e santificação, O poder da<br />

Sua graça está curando o pecador. Lutero ainda segue o pensamento de<br />

Agostinho: a salvação é vista como um processo que dura toda a vida, O<br />

2 rirst Leclllres Oil the PIIl!ms (J 513), in Luther's IVorks. Am. Eu" (L Ps j -75), eu, Hilton<br />

C Oswald (St Louis: CPH. 1(74). p, 63,<br />

; As cila~'ões deste mo vêm ue Firsi LecilIres 011Pso!IIlS (1513), LW, AE, 10: 192,<br />

- 12 -


pecador nunca tem plena certeza da sua salvação. Deus está fazendo a sua<br />

obra. mas o processo termina somente no final desta vida.<br />

Na exposição do Si j 04.16, soma-se um novo componente ao quadro:<br />

"'(O homem semimorto) está agora de forma apropriada predisposto a<br />

Deus e ao seu próximo por meio da palavra de Deus. Então o Samaritano<br />

aplicou óleo e vinho no seu próximo. Deveríamos proceder da mesma forma<br />

(Lc ]0.34)".-+<br />

O processo de justificação foi iniciado por Deus. Agora o homem é<br />

capaz de cooperar com a obra de Deus. Óleo e vinho foram derramados<br />

(infÚndit) como uma primeira graça. Agora ele é capaz de amar (caritas).<br />

Agora terá que esforçar-se muito para assemelhar-se a Cristo (collfonnitas).)<br />

Nesses primeiros textos, o uso da parábola do Bom Samaritano reflete<br />

o quanto Lutero era ainda filho do seu tempo, o quanto refletia o contexto<br />

teológico daquele momento. Há sinais de mudança, mas ele ainda está<br />

longe da "nova" teologia que surgiria apenas alguns anos depois. JustificaçÜo<br />

era ainda um processo que envolvia toda a vida do ser humano. Embora<br />

obn de Deus, o ser participa ativamente em todo o processo.<br />

Preleções sobre Romanos (1515-1516)<br />

Nessas preleções, a parábola do Bom Samaritano é usada pela primeira<br />

vez em Rm 4.7, onde Lutem faz referência a Lc 10.27. Esta citação é<br />

especialmente importante por revelar a forma de pensar de Lutem naqueles<br />

anos.<br />

o ser humano somente pode cumprir a lei depois que Deus derramou<br />

sua graça nele. A partir daí o ser humano pode amar a Deus com todo o seu<br />

coração<br />

(caritas).<br />

Quando a pessoa deseja e ama alguma outra coisa, pode realmente<br />

amar a Deus? Mas esta concupiscência está sempre em nós e,<br />

portanto, o amor de Deus nunca está ern nós, li menos que seja i­<br />

niciado pela graça, e até que a concupiscência que ainda permanece<br />

e que nos impede de "amar a Deus de todo o nosso coração"<br />

4 Fin'l LeCI/lres 011 lhe Psul/llS ( 1513/] 5] 5), in Luther's W OIks, Am. Ed. (lI, Ps 76-] 26), ed.<br />

Hilton C. Os\vald (St. Louis: CPH. 1976), V. 11, p. 335.<br />

.i HAGGLUND. Bcngt. Hilton 0/ Tlzeology. Trad. Gene j, Lund (St. Louis/London: CPH,<br />

!96í\).pp. ]]4-140.<br />

- 13 -


(Lc 10.27) seja curada e, por misericórdia, não imputada a nós<br />

como pecado, e até que ela seja completamente removida e o perfeito<br />

amor de Deus seja dado aos crentes e àqueles que persisten-<br />

1 1, j" 6<br />

temente _uram por e.e ate o i 1m.<br />

Indubitavelmente. o texto reflete o pensamento de Santo Agostinho.<br />

Quando Deus concede sua graça ao pecador, este pode dirigir seu amor<br />

para o alto. em direção ao bem supremo. Concupiscência é a enfermidade<br />

que não permite o "pelfeito amor". Como um ser enfermo, o ser deve lutar<br />

contra a moléstia e precisa ser curado. "Curar" equivale aqui a "por misericórdia.<br />

não imputando a nós como pecado".<br />

A exposição de Rm 4.7 é, portanto, um dos textos que melhor representa<br />

a teologia do jovem Lutero. Observe-se como ele usa a parábola:<br />

Cristo, nosso Samaritano, trouxe o seu semimorto para a hospedaria<br />

para ser atendido e começou a curá-Io, prometendo-lhe cura<br />

completa até a vida eterna e não imputa pecados ... mas, enquanto<br />

isso, na esperança da prometida recuperação, proíbe-o de fazer ou<br />

omitir coisas pelas quais sua cura possa sofrer interrupção e seu<br />

pecado. isto é, sua concupiscência, possa incrementar-se. i<br />

Segundo o texto, a justificação não foi completada. Deus apenas começou<br />

a cura, mas durante o tempo em que a cura está em andamento, ele<br />

não condena o ser enfermo. Não apenas "não imputa os pecados", mas ao<br />

mesmo tempo gera e"pemnço. Deve-se notar, no entanto, que não se fala<br />

aqui que Deus imputa a justiça de Cristo. A expressão "não imputação" é<br />

típica do pensamento agostiniano. Por causa da confissão e da autoacusação<br />

do homem. "Cristo encobre os pecados que permanecem. O processo<br />

real de cura ou renovaç5.o ... é, pelo menos em parte, a base da não<br />

. _- ,,:S<br />

llnputaçao .<br />

O homem semimorto é justo apenas em esperança (in spe), mas não<br />

ainda em realidade (in re).<br />

Ele está realmente doente, mas está bem por causa da promessa<br />

firme do doutor, em quem confia e quem já o vê como realmente<br />

(; LeClures 011ROI7lClIIS(]5í5!l516), in Luther's Works, Am. Ed., (St. Louis: CPH, ]972), V.<br />

25. fl 262.<br />

7 Lec{ures on RO!/lwo' 0515/1516), L\V. AE, 25:260.<br />

S Saarnivaara. Umas. Lut!zerDisc01'frs the Cospe! (St. Louis. CPHl. p. 81.<br />

- 14 -


curado, porque está seguro de que vai curá-lo. De fato, já começou<br />

a curá-Ia e já não o identifica como um paciente terminal.9<br />

A fórmula sim III iustus et peccator aparece no texto, mas sem o significado<br />

pleno que terá no Lutem maduro, Ainda falta aqui o radical tatus ­<br />

totalmente. O ser enfermo ainda não é totalmente justo, nem totalmente<br />

injusto. Foi renovado em parte, mas ainda está enfermo.]O<br />

No comentário de Rm 7. j 7, Lutero está lutando contra "a falsa metafísica<br />

de Aristóteles e a filosofia humana tradicional",]! Está referindo-se<br />

ao escolasticismo. A discussão presente sobre o pecado no homem após o<br />

batismo aparecerá sempre de novo nos seus textos até o final da sua vida.<br />

Os escolásticos afirmavam que após o batismo ou arrependimento já não<br />

permanecia pecado no homem, Lutero afirma que "permanece pecado no<br />

homem espiritual para o exercício da graça, para tornar humilde o orgu­<br />

Iho.l:' O ser humano precisa dar duro para eliminar o pecado.<br />

Apenas àqueles que batalham corajosamente e lutam contra as<br />

suas faltas, invocando a graça de Deus, Ele não imputa pecado ...<br />

a carne é a sua fraqueza, ou sua ferida, e na medida em que ama a<br />

lei de Deus, ele é espírito; mas na medida em tem desejos lascivos,<br />

mostra a debilidade do espírito e a ferida da carne, que está<br />

d 13<br />

em processo e cura.<br />

"Desejos lascivos" tem o mesmo significado de "fraqueza para o<br />

bem".I~<br />

A próxima citação é um exemplo típico do uso que Lutem faz da parábola<br />

do Bom Samaritano (Lc 10,30 e ss.):<br />

Quando o Samaritano derramou vinho e óleo nas feridas (do semimorto),<br />

este não recuperou-se imediatamente, mas iniciou a recuperação.<br />

Então, nosso enfermo está tanto débil quanto em processo<br />

de melhora. Enquanto saudável, deseja fazer o bem, mas<br />

9 Lecfures 0/1 RO/l1ans (1 515/! 516), LW, AE, 25:260.<br />

10 Lecrum.\' 0/1 RO/l1a/1s (1515/1516), LVI, AE, 25:260.<br />

I1 Lecfures 0/1 RO/l1clIIS (15 I5/1516), LW, AE, 25:338 .<br />

12 Lecfures 0/1 RO/l1a/1s (1515/] 516), LW, AE, 25:339.<br />

i1 LeCtltlES 011 ROllla/1s (15]5/1516), LW, AE, 25:339.<br />

I~ Lecrur".\' 011 ROllla/1s (151511516), LW, AE, 25:340.<br />

- 15 -


como enfermo quer algo mais e é compelido a ceder à sua debilidade,<br />

o que ele mesmo não quer realmente fazer. 15<br />

Justificação aparece como um processo progressivo através do qual<br />

Deus está purificando o pecador. Este início de caminhada terapêutica leva<br />

o homem a contribuir na sua cura. A diferenciação entre "culpa por debilidade"<br />

e "culpa movida pela vontade" sugere que o homem tem agora uma<br />

opção. Ele pode desejar fazer a vontade de Deus. 16<br />

Segundo Lutero, Rm 14.23 significa "que qualquer pessoa que não<br />

ten.1él ] f' e peca mesmo quan d" o pratIca uma boa ora". b" 17 Quan d o alguem " cre, A<br />

sua boa obra torna-se proveitosa. "Falta de fé" significa aqui o mesmo que<br />

"deficiência de fé" ou "fraqueza de fé". Essa deficiência de fé é apenas um<br />

pecado venial, embora seria um pecado mortal se, em sua graça, "Deus não<br />

fosse misericordioso e não se abstivesse de imputá-Io como tal por causa da<br />

., ... d ,,18 I r ., "O·" '1 . ( . )<br />

cura .Ia ll11Cla a no .10mem ienao. L OlS ueus ,evantou-o' aSSlII7I pSit<br />

para aperfeiçoá-io e para fazê-Ia saudávei, como o Samaritano fez com o<br />

] .. ' b d .. "(L 10"'''' 19<br />

10mem que fOi a anronado melO morto . c! ._'}.J ss.).<br />

Nesta passagem Lutero novamente está falando sobre todo o processo<br />

de salvação. que apenas iniciou-se. Não há uma diferenciação entre justificação<br />

e santificação. Não aparece ainda tal coisa como "imputação da<br />

justiça de Cristo", mas o processo de cura está relacionado com a não imputação<br />

de pecados. O hornem n5.o é salvo pelas obras da lei. Graça é a<br />

grande palavra. Mas Lutero precisará ainda de mais tempo para fazer as<br />

distinções<br />

apropriadas,<br />

Preleções sobre Hebreus (1517/1518)<br />

.• A l1'erc'ln 11~'L do B01'1C'11ra,-it'1'1n • ...-1 JLt l(.l~U.l.U an''''pce l!uJ. ..... 11' "'1 e~pos;r;;o A >..c!".;'{.t de Hb ..1. ') _.~ 14'1.20 ,~.<br />

Aqui o apóstolo traça uma distinção entre a fraternidade que existe<br />

ente nós e os anjos daquela que existe entre Cristo e nós. Ele<br />

I) Lecill!'es (m RO!líalls (j 5 15/1516). L W. AE. 25:3-!-0.<br />

16 Lecfu!'es Oll ROIIIClIlS (1515/15 j 6), LV\'. AE. 25:3-!-0.<br />

17 Leclures Oll ROIIIClIlS (lSI5I1S1ÓJ. L\V. A.E. 25:507<br />

IS [ecrures Oll ROIIICII1S (] 5] 511516). LW. AE. 25:507<br />

I'J Leclu!'es Oll RO/iIUIlS (151511516). L \V, AE. 25:507<br />

20 O texto aparece assim na Bíblia, \'tTsão revista e atualizada de A.lmeida: "Visto, pois. que<br />

os filhos têm participação comum de carne e sangue. destes também ele, igualmente. parti­<br />

CipOU<br />

'r. - 10-


enaitece a abundância do amor de Deus, a saber, que Ele fez Cristo<br />

nosso irmão não apenas segundo o espírito, mas também segundo<br />

a carne~ de tal forn1â que ao iTlesrno tenlpO o 111eSi110Cristo<br />

é rnalor do que os anjos~ conlO nós, e está Dlais cerca de nós do<br />

que dos anjos. Portanto ele tambérn ChalTIa a si 1l'leSn10 nosso próvin-JO<br />

-1-1'1'1'1r'í'ool:1 Qt() .S"nl'lrita no el'1 T r 1('; 0;0-17 21<br />

/\_~-- (. rL~-('- J_~ ~ U.•• u..~••.(. ~ '" ~L ~"'" _ 'J. __ •<br />

Lutero continua falando do dupio significaào de carne. ft~pós a queda<br />

do hornelTi~ a BíbJia uso os tern10S ··carne e sangue~' para descre\"er o homem.<br />

Os apóstolos sÜo referidos por esta expressão em GI 1.16. Algumas<br />

vezes a expressão é usada para descrever a natüreza depravada do hornen1.<br />

p~seguiL explica a razüo da distinção:<br />

O hornern é designado<br />

pelo que ele é e tarnbél11 pelo que ele ama;<br />

pois realrnente é carne e sangue; e tarnbénl arna carne e sangue .<br />

Pois deste 1110do lfu11bénl é chanlado justo ... quando alTIf.1 a justiça,<br />

sabedoria e bondade. Portanto aqui o apóstolo não quer expressar<br />

senl ênfase que os filhos sào carne e sangue, e que Htênl<br />

cornunhão enl carne e sangue", a fi1n de demonstrar que eles não<br />

sÜo simplesmente carne e sangue, mas que apenas compartilham<br />

carne e sangue ern Cristo~ que tarnbénl tern cOll1unhão C0111 eles<br />

ern carne e sangue.<br />

.i4.qui lanlbénl Lutero segue o pensa.nlento de Santo i\gostinho. O<br />

texto reflete a distinção entre o arnor inferior e o alTIOr superior (clfjJiditas et<br />

('{{ritos).<br />

O h0l11ern agora está unido com Cristo. Por causa desta união corn<br />

Cristo. ou por causa da cOlTIunhão C0111 ele, o hornern tern agora Ui11a nova<br />

oportunidade.<br />

Deus fez Cristo nosso irmão não apenas segundo o espírito (seclIndum<br />

spirirwJ!), mas também segundo a carne (seciflldllíll comem). Agora<br />

Cristo estÚ mais perto de nós. Cristo, nosso irmão (frutrem nostrum), é i­<br />

dentificado CO!ll o próxlrno (pro).:inllfln) da parábola do BOlTI Sanlaritano de<br />

, •. I' J~ ..,......, ,,-<br />

unl f-ornla exclusl"/(l (unde et se SOlUl71 CljJpelLot prOXl!JiUIJ1).-- j:,sta e a resposta<br />

ao intérprete da lei no texto. Segundo a cOl11preensÜo de Lutero nessa<br />

época. as obras do cristão são oirecionadas a Cristo~ a grande ll1eta do que<br />

.'! }f"j,U'\\S (lSI7115IS). L\V . .A.E. 29:13-+,<br />

.'.' Hclm'\iS i j 5 171151 Si. L W, AE. 29: 134.<br />

.',;lh Merl/II Llllhl'!:\' Werkc (Kritische Gesammtausgabe). Weimm: Herman BÜhlalls,<br />

I !-:!-:Ó. V. 42: 126<br />

- 17-


se produz de bom. Nosso próximo não é aquele que está ao nosso redor,<br />

mas aquele que está num nível muito mais elevado, lá em cima, numa posição<br />

superior.<br />

Explanação das 95 teses (1518)<br />

As referências à parábola na Explanação das 95 teses são escassas e<br />

um pouco diferentes das anteriores. Aparece uma referência na explicação<br />

da tese 80. Nela Lutero não usa a parábola de forma alegórica. Simplesmente<br />

compara a atitude dos bispos e teólogos do seu tempo com a do sacerdote<br />

e do levita da parábola, que passaram pela vítima sem atendê-Ia.<br />

Lutero discute a forma correta de lidar com os ensinamentos distorcidos<br />

da igreja. O homem semimorto aqui seria a própria igreja: Está doente<br />

e precisa ser tratada. O que deveria ser feito então?<br />

O reformador primeiramente identifica as obras dos heréticos:<br />

Esses pícaros, nossos próximos, ... um povo infeliz que se aiegra<br />

com o mau cheiro de Roma como o fariseu que se gabou do publicano<br />

(Lc I8.l0), em vez de mostrar misericórdia dele ... e que<br />

passa pelo semimorto (Lc 10.30) com a atitude de quem tem medo<br />

de receber os respingos dos pecados de outros.<br />

Continua dizendo: "Por causa desse medo bobo, esses heréticos ficam<br />

tão preocupados que não têm vergonha de vangloriar-se dizendo que<br />

eles fogem para que não se tornem eles mesmos impuros. Tão grande é o<br />

seu amor". Segundo Lutero, não é possível "calar sobre esses temas e aprová-Ias".<br />

"Conhecemos nossa condição e sentimos tristeza por ela, mas não<br />

fugimos como os heréticos".2-\ Então conclui:<br />

V ejam de CJue forma miserável opera a igreja. Nós a defendemos<br />

com tanta lealdade e nos apressamos em ajudar com lágrimas, o­<br />

rações, admoestações e súplicas, pois o amor nos constrange a<br />

"levar as cargas uns dos outros" (Ga 6.2), não como o amor dos<br />

heréticos atua, amor que procura apenas tirar vantagem do outro<br />

de modo que possa ser apoiado e ao mesmo tempo não agüentar<br />

2-\ A, cila~'õe, do parágrafo foram extraídas de E\plw)(/Iirms of Ihc Ninct\'-Fil'c Thcsis<br />

( 15 I f)). Corcel' Ihc R 'jl)}7llcr:!. in LlIlher's W o r.l:s. AE. ed. Harold 1Gril1l11l (Philadelphia:<br />

I'vluhlenberg Press. ] 957), 31 :244-246.<br />

- 18 -


nenhum espinho dos pecados dos outros. Imaginem se Cristo e os<br />

..... 'd I "OS<br />

seus santos tI vessem agIdo ass1111,quem tena Si '0 sa vo.-·<br />

A menção do tema da parábola não traz novidades quanto ao quadro<br />

da teologia de Lutero formado pelas citações anteriores. a amor é a motivação<br />

de Lutero para lutar contra o ensino distorcido da igreja. As ações do<br />

cristão têm dupla direção: Ajudar a levar as cargas uns dos outros como o<br />

próximo (Cristo e os seus santos) o ajuda a levar as suas cargas, Cristo e os<br />

santos são colocados como exemplo. Quando o cristão segue o exemplo,<br />

está ajudando e sendo ajudado.<br />

;' Preleções sobre Gá.!atas (1519)<br />

Ern Gi5.hltas (1519)~ o ten1a do Bom Sanlaritano aparece duas vezes .<br />

Lutero rnenclona a parábola prirneirarnente quando está explicando G1<br />

2.17. E difícil saber exatarnente o que Lutero está tentando dizer nessa passagem.<br />

O contexto sugere que o homem ainda recebe a habilidade de cumprir<br />

a lei. O que Deus fez nele e o que Cristo fez por ele é a condição para<br />

razer o que Deus dele pede. Ele ainda tem uma tarefa a cumprir. Especialmente<br />

depois de 1530, Lutero afirma explicitamente que a lei não tem jurisdição<br />

sobre o cristão. Ele morreu para a lei. A rererência antropológica já<br />

não existe, a cristão depende inteiramente da justiça de Cristo (extra nos)<br />

imputada por Deus .<br />

a comentário de Oálatas de 15 J 9 revela que Lutem estava já muito<br />

peno do seu conceito definitivo de justificw;ão, mas a forma de expressarse<br />

anterior ainda domina o discurso do rerormador. As distinções ainda não<br />

são suficientemente claras.<br />

Em 01 2. J 6. argumenta que ninguém é justificado ante Deus pela<br />

justiça das obras da lei. Portanto, o caminho da justificação é o da fé em<br />

Cristo. Afirma que há dois caminhos para alcançar-se a justificação, mas<br />

que esses dois caminhos estão ern completa oposição. a primeiro é o "caminho<br />

externo", por meio de obras. Depende do esforço do homem em<br />

cU111prir a lei. O segundo é o "carninho interior~', por 111eio de fé e graça. O<br />

pnmeiro caminho "não favorece em nada a glória vindoura". O segundo<br />

:'5 [\:p!Wf{uiUI1S of lhe Tlzesis (1518). LV!. AE. 31:246.<br />

- 19 -


abre as portas do céu. Afirma que justificação "é nada mais que invocar o<br />

nome de Deus".26<br />

Lutero<br />

explica:<br />

Mas invocar o nome de Deus ... mostra que o coração e o nome<br />

do Senhor são um e estão grudados um no outro. Por esta razão, é<br />

impossível para este coração não compartilhar das virtudes nas<br />

quais o nome do Senhor abunda. Mas é através da fé que o coração<br />

e o nome do Senhor estão grudados (cf. Rm 10.17). A fé, no<br />

entanto. vem pela paiavra de Cristo, pela qual o nome do Senhor<br />

é pregado".27 "Portanto, assim como o nome do Senhor é puro,<br />

santo, justo, verdadeiro ... assim também. se ela toca, ou é tocado,<br />

pelo coração (o que acontece através da fé), faz o coraçâo inteiro<br />

como eia mesíllo".2S<br />

Lutero ainda usa o conceito "palavra de Cristo" como "radioativa",<br />

isto é, ela irradia as suas virtudes para aquilo que toca. Mais tarde, em Lutero.<br />

"palavra" terá o significado de meio de graça, porque Deus dá a palavra<br />

de Cristo de forma completa ao homem. A palavra de Cristo transfere<br />

de forma transformadora os atributos ao coração. O coração está unido com<br />

o que Cristo é.<br />

Lutero continua: "Para aqueles que confiam no nome do Senhor, todos<br />

os pecados são perdoados (dollentur 01111ia peccata) e a justiça é imputada<br />

a eles (illstitia eis implItetur) ... porque este nome é digno de confian-<br />

~,2()<br />

ça.<br />

A linguagem de Lutem aqui já é muito diferente daquela dos seus<br />

primeiros escritos. A luta entre a terminologia antiga e a nova mostram que<br />

Lutero está chegando a uma compreensão mais clara do conceito de justificação.<br />

Mas ainda não é a justiça de Cristo a que o homem recebe. Lutero<br />

continua:<br />

Mas quando o coração tem sido assim justificado por meio da fé<br />

que é em seu nome, Deus dá a eles o poder de tornarem-se filhos<br />

de Deus (10 !, 12) ao derramar imediatamente dentro dos seus co-<br />

2(;LeclUres 011 Colm/ol1s (] 5 19. caps, 1-6). in Lwhcr's W orks, AE. eu. Jaros]av Pelikan (SI.<br />

Louis. CPH, 1964).27:119.<br />

'; LeClures 011 Colot/olls (15] 9). LW. AE, 27:110 .<br />

25 LeClUres 011 Colat/ol1s (1519), LW. AE, 27:221.<br />

29 Leclures 011 Culot/ul1s (1519). LW. AE. 27:111.<br />

- 20-


ações o seu Santo Espírito (Rm 5.5), que os enche com o seu<br />

amor e os faz pacíficos, alegres, ativos em toda boa obra, vitoriosos<br />

sobre todo mal, desdenhosos até de morte e inferno. Aqui todas<br />

as leis e obras da lei logo cessam; tudo agora é livre e permi-<br />

'd I . / 'd . d f/ 10<br />

tI o e a el e cumpn a por meIO a e e dO amor.'<br />

Lutero está descrevendo tudo o que Cristo conquistou em nosso favor.<br />

Sem nenhum mérito, Deus concede isto ao homem. Infundiu-o com o<br />

seu amor. Este amor, juntamente com a fé, cumpre agora a lei. A lei ainda<br />

pode ser cumprida por este novo homem.<br />

É importante perceber que amor e fé aparecem associados, mas ainda<br />

não se fala aqui de imputação<br />

Segue<br />

o reformador:<br />

da justiça.<br />

Esta é uma justiça p, dada ... d,e forma antecipada. De fato, como<br />

é dirigida a Cristo e seu nome, que é justo, o resultado é que a<br />

justiça de Cristo e a do cristão é uma só e a mesma, unida uma<br />

com a outra de uma forma indescritíve1.31<br />

Lutero chama esta justiça que justifica de "justiça de outro" (aliena<br />

iustÚio), mas ela não acontece extra nos. É o resultado da obra de Deus no<br />

coração do homem. Ante Deus, apenas a justiça dada interiormente tem<br />

valor e não a justiça que provém das obras da lei.<br />

Nas páginas seguintes, Lutem faz uma distinção entre quatro diferentes<br />

espécies de obras (obras do pecado, obras da lei, obras da graça e obras<br />

de paz e perfeito bem-estar).32 Segundo ele, o apóstolo não nega que existem<br />

obras, nega que o homem seja justificado por meio delas. Qual é a<br />

relação entre fé e justiça? Fé é justiça porque ela cumpre a lei. Mais tarde<br />

Lutero afirmará que o cristão é absolutamente incapaz de cumprir a lei, mas<br />

aqui ainda expressa a esperança de cumpri-Ia com a ajuda de Cristo que<br />

vi ve nele. Lutero continua:<br />

O apóstolo deClara de forma consistente que a lei é cumprida a­<br />

penas por meio da fé, não por meio de obras. Porque o cumprimento<br />

da lei é justiça e isto é certamente matéria de fé, não de o­<br />

bras, não se pode entender que as obras da lei signifiquem aquelas<br />

LCClilrcs 011Ca!ar!alls (] 5 ]9). LW. AE, 27:221­<br />

.1I Lcclilrcs (}II Ca!ar!alls (I 5] 9). LW, AE. 27:222.<br />

)2 Lcclilrcs 011Ca!ar!al/S (I 5] 9). L\V.AE. 27:224.<br />

- 21 -


obras pelas quais a lei é satisfeita. Então como seguimos? A regra<br />

do apóstolo é esta: Não são as obras que cumprem a lei, mas o<br />

cumprimento da lei produz obras. Ninguém se torna justo por praticar<br />

obras justas. Não, se produz obras justas depois de tornar-se<br />

justo. Justiça e cumprimento da lei vêm primeiro, antes que as o­<br />

bras sejam feitas, porque o posterior procede do anterior. ... O ú­<br />

nico que fica é que as obras da lei não são obras de justiça."<br />

Esta é a forma como Lutero opera aqui. Ao criar esta diferenciação<br />

entre "obras da lei" e "obras da graça ou de Deus", pode manter ainda a<br />

idéia de que de alguma forma o cristão cumpre a lei. Deus o está fazendo<br />

através dele e com ele.<br />

Lutem passa agora a explicar Gl 2.17. Aqui chama Cristo de "agente<br />

da nossa justi ficação". Cristo ainda não é descrito como "nossa justiça".<br />

"Cristo, o agente da nossa justificação, ... cumpriu o qU.eMoisés exigiu por<br />

meio da lei".3"<br />

Após toda esta exposição sobre a justiça, ilustra sua afirmação fazendo<br />

uso da parábola do Bom. Samarital:o:<br />

Todo aquele que crê em Cristo é justo, não ainda plenamente de<br />

fato, mas em esperança. Pois começou a ser justificado e curado,<br />

como o homern que estava semimorto (Lc j 0.30). Neste meio<br />

tempo, no entanto, enquanto está sendo justificado e curado, o<br />

pecado que resta na carne não é imputado a ele. Isto é assim porque<br />

Cristo, que é totalmente sem pecado, tornou-se um com o<br />

cristão e intercede por ele junto ao Pai .. " Muito pecado ainda<br />

permanece; mas não é imputado para condenação '" Portanto todas<br />

as declarações que enaltecem o justo devem ser entendidas da<br />

mesma maneira, a saber, que o justo não é totalmente perfeito em<br />

si mesmo, mas Deus o considera jmto e perdoa-o por causa da<br />

sua fé em seu filho Jesus Cristo, que é nossa propiciação.3:i<br />

Resumindo, Lutero afirma que aquele que crê em Cristo é justo (iusrus).<br />

Esta justificação ainda não acontece em realidade (in re), mas em esperança<br />

(in spe). No Gálatas de 1535, Lutero usará a mesma linguagem,<br />

'.' Lecl/{res (m GU/U{ZUlIS (15 i9), LW. AE. 27:223-225.<br />

~~ Lec{/lres Oil GU!clliilllS (1519). LW, AE, 27:226.<br />

'c Lectures 011 GU/atiilllS (1519), LW, AE, 27:227-228.<br />

- 22-


--' -<br />

mas lá refere-se totalmente ao processo de santificação no cristão."6 Aqui<br />

justificação -' ainda não é diferenciada de santificacão. .'> É um ]JrDcesso 0lue<br />

acontece durante toda a vida. O homem ferido recém começou a ser curado.<br />

Fala de justificação ern termos de "união com Cristo". A tangente está quase<br />

tocando o círculo. Sua teologia começa a mudar. De acordo com Green,<br />

neste período "já não é mais tanto o Cristo como o Bom Samaritano ou<br />

como o grande médico que justifica por transformação moral, mas é o Cristo<br />

que. habitando no interior cristão, toma o crente aceitável a Deus" .37<br />

Continua dizendo:<br />

Ao fazer distinção entre justiça aliena e atual, Lutero estava já a­<br />

vançando em dire,~ão a um posicionamento maduro e para a posterior<br />

distinção feita pelas Confissões e pelo Luteranismo Ortodoxo<br />

entre justificação e santificação. A justificação dependia de<br />

uma justiça aliena. A vida cristã conseqÜente (santificação) era<br />

resultado da justificação, não sua causa. Lutero afirmava que o<br />

cristão, portanto, nunca deveria estar inseguro quanto a se está a­<br />

gradando a Deus; caso contrário, não está na fé e tudo o que faz é<br />

'8<br />

pecado,'"<br />

A referência ao Bom SanEritano em GI 5. J 7 confirma que Lutero<br />

nessa época ainda não havia cheg,l,cloa UlTIé1. compreensão completa da justificação.<br />

O texto apresenta alguns conceitos antropológicos de Lutero. Ele<br />

está descrevendo a Juta entre a carne e o espírito. Para ele, os termos representam<br />

o homem em sua totalidade. Já não é em parte justo e em parte pecador,<br />

o que aponta para uma nova forma de Lutero faJar sobre o ser humano.<br />

O mesmo homem ... é espírito na medida em que saboreia as coisas<br />

que são de Deus (Mt ]6.23), mas é came na medida em que é<br />

influenciado pela sedução da carne; e se consente com ela, é to-<br />

,,6 Lectlll'cs on Cu/miuns i] 535, caps. 5-6). in Lwher's IV01*.1, AE, ed. laroslav Pelikan (St.<br />

Louis: ePH, 1964), 27:20ss,<br />

.'! GREE:\, Lowell C. H(!II' M e/ullciltoll He/ped Lllthe!' Discover tile Cospe/, (Fallbrook:<br />

Vcredict Publications. 1980). p, 167,<br />

38 lbid .. pp, 167.168.<br />

- 23 -


talmente carne ... por outro lado, se consente com a lei, é total-<br />

/. 39<br />

mente espmto.<br />

É apenas um ser o que está sendo transformado. Lutero diz, então:<br />

Longe, a ilustração mais bonita de ambas verdades é este homem<br />

semimorto de Lucas (10.30 ss.) que, ao ser socorrido pelo Samaritano,<br />

estava realmente sendo curado, mas ainda não teve a sua<br />

saúde totalmente restaurada. Da mesma forma nós, na igreja, estamos<br />

realmente no processo de cura, mas ainda não somos totalmente<br />

saudáveis. Chamamos esta última parte de "carne"; a anterior,<br />

de "espírito". É o homem na sua totalidade (totus h(1110)<br />

que ama a castidade, e o mesmo homem total que sente cócegas<br />

pela sedução da sensualidade (libidinis). Há dois homens em sua<br />

totalidade e há apenas um homem em sua totalidade. Daí vem que<br />

o homem luta contra si mesmo e está em oposição a si mesmo.<br />

Tem boa vontade e não tem boa vontade. E esta é a glória da gradDe<br />

eus, eIa nos f'" ,az mumgos d/ e nos mesmos. ça 40<br />

Nesta passagem o Samaritano não é identificado, mas sua atuação<br />

decisivamente melhora a saúde do semimorto. Justificação novamente é<br />

vista como um processo (Samaritano susceptus quidem curari). O processo<br />

terapêutico começou, mas ainda não está concluído. Está sendo curado<br />

enquanto está na igreja (hospedaria). Não há distinção entre o PUl1ctus /J1athem<br />

aticw71 da justificação e o resultado dela.<br />

Como comentado acima, constata-se aqui uma compreensão diferente<br />

do sim Lll iustlts et peccator. Em 1515/16, Lutero afirmou que o homem é<br />

justo apenas em esperança, não de fato, em realidade. Esta justificação<br />

proléptica estava baseada na esperança de que Deus completaria a obra no<br />

futuro. Neste texto, Lutero diz que o homem é pecador em relação a sua<br />

.• - /. 4]<br />

carne, mas Justo em reiaçao ao seu espmto.<br />

30 Lectlires 011 Galatialls 0535, caps. 1-4), in Luther's W orks, AE. ed. Jaros1av Pelikan (St.<br />

Louis: CPH. ]963) 26:363.<br />

40 Lectllres 011 Galatians (535), LW, AE, 26:363-364.<br />

41 Lectures 011 Galatial1s (1535). LW. AE. 26:363.<br />

- 24-


Quatorze consolações (1520)<br />

Este escrito devocional foi produzido em agosto de 1519, mas foi<br />

publicado apenas em 1520. Contém uma citação da última parte da parábola,<br />

onde Jesus diz ao intérprete da lei: "Vai e procede tu de igual modo" (Lc<br />

10.37). Apesar do título da publicação, é estranho o consolo que oferece .<br />

Lembra mais o Lutero jovem. Diz, por exemplo: "Toda punição parece, no<br />

momento, não ser para o nosso bem estar, e sim para o nosSo pesar; mas<br />

depois, oferece o pacífico fruto da justiça àqueles que têm sido exercitados<br />

por eI a. ".1' - O sOlflll1ento r' aparece como um exerclclO /. utl, /'1 que pro d uz J+'<br />

rutos<br />

de justiça.<br />

Quem pode ser confortado de forma mais plena do que aquele<br />

que ouve que aqueles que são castigados, são amados pelo Senhor,<br />

que são filhos de Deus, que são membros da comunhão dos<br />

santos, e que aqueles que sofrem nunca estão sós? Uma exortação<br />

tao - poderosa deve f azer do ' castlgo . aI go que ceve ' ser amado..<br />

4,<br />

Ele segue:<br />

Se você sofre por causa dos seus pecados, então você deve se alegrar<br />

porque está sendo purificado dos seus pecados. Então não e­<br />

ram os' santos também pecadores? Você tem medo de ser como<br />

Herodes ou o bandido crucificado ao lado esquerdo de Jesus (Lc<br />

23.39-43)? Você não é, se tiver paciência. De que forma o bandido<br />

do lado esquerdo é diferente daquele do lado direito senão pela<br />

paciência de um e pela impaciência de outro? Se você é um pecador,<br />

beml O bandido também era um pecador, mas pela sua paciência,<br />

mereceu a glória da justiça e santidade. Vai e procede tu de<br />

igual modo (Lc lO.37). Sempre que você sofre, é por causa dos<br />

seus pecados ou da sua justificação. As duas espécies de sofrimento<br />

santificam e salvam (sanctificat et beatlis facit) se você<br />

amá-Ias .... Sempre que a confissão de pecados for sincera, ela<br />

justifica e santifica (iust{ficat et sanctificat). Então, no próprio<br />

momento da sua confissão, você já não está sofrendo pelos seus<br />

pecados, mas pela sua inocência. O justo sempre sofre inocente-<br />

-12 FOll!1cen Conso!mions (l 520). Dcvotiona! Wlitings, in Luthcr's W 01*, AE, ed. Martin<br />

Dictrich (PhiladeJphia: Fortrcss Press, 1969),42:138.<br />

-I, FOlll1ccn Conso!ations (l 520), LW. AE, 42: 138.<br />

- 25 -


mente. Você é feito justo pela confissão dos seus merecidos sor<br />

• ~ Ll<br />

rnmentos e pecados ...<br />

Lutero usa aqui as duas palavras lado a lado: justificaç-ão e santificação.<br />

n1as apareCelTI COlTIOsinônÜnZts. Al.inda não há distinção entre elas. A<br />

linguagern usada aqui é muito sÜ11ilar àquela que Lutero usará mais tarde<br />

para referlf-se à santificação. Fala sobre o fruto da justiça. I',\}"ãoé causa;<br />

i11RS resultado do processo. Mas tambénl é preciso chamar a atenção de que<br />

o texto ainda não aponta para Cristo como a principal e a única justiça.<br />

O texto reflete a teojogia da cruz do Lutem jovem. Faja de justiça retributiva,<br />

alegria no sofrimento~ sofrirnento em inocência, O pecador reconhece<br />

os seus pecados, confessa-os e, justificado, sofre pacientemente. O<br />

texto tarnbérn está ainda carregado da terminologia do Lutero jovelTi. Afirnla~<br />

por exenlplo; que o rnalfeitor crucificado ,: do lado direito de Jesus, ~'pela<br />

sua paciência 111ereceu a glória da justiça';.'1-_: pjnda luta corn a linguageri1.<br />

Estas formulações não podem ser tomadas como definitivas.<br />

Defesa e explanação de todos os artigos (1521)<br />

Este documento foi produzido ao redor de março de 1521. A referência<br />

à parábola do Bom Samaritano aparece na explanação do segundo artigo~<br />

que é chan1ado por Lutero ~'quase o n1elhor e mais importante de to~<br />

d05" ..J6<br />

o contexto onde a parábola é citada é rouito similar àquele de Gálatas<br />

(1519). Lutem demonstra com abundância de exemplos bíblicos que o<br />

pecado permanece depois do batismo e que a vida do batizado na terra é<br />

uma luta permanente entre duas forças internas e opostas: carne e espírito.<br />

O ser humano é pecador e justo ao mesmo tempo, mas o espírito prevalece.<br />

Lutem diz:<br />

Carne e espírito são uma pessoa ... Por causa do espírito, este homem<br />

é piedoso; por causa da carne é um pecador '" E já que a<br />

mais nobre, melhor e mais importante parte do homem, o espírito,<br />

.j.j FOl/l1ecn Conso!atio!1s (1520). LV/. AE, 42:140 .<br />

.j:i Fo/(rleen COl1so!alions (1520), LV/. AE. 42: 140.<br />

.1(,De(ense (l!1d L\p!ol1atiol1s of aI! lhe A l1icles, Coreer of tile R efol7lzcr Ií. in Lwiler's<br />

\V!Jlks. AE. ec]. Gcorgc W. Forell (Phiíadeiphia: ivluhlenberg Press. 1958), 32:28.<br />

- 26-


permanece<br />

permanece<br />

piedosa e justa pela fé, Deus não conta o pecado que<br />

na menor parte, a carne, para a sua con denaçao.<br />

- 47<br />

Na última parte do artigo, Lutero diz:<br />

Pois esta é a abundante graça ... do Pai que, através do batismo e<br />

do arrependimento, começamos a nos tornar piedosos e puros.<br />

Deus não mantém contra nós qualquer pecado que ainda necessite<br />

ser expelido, por causa do que já temos feito em piedade e por<br />

causa da nossa finne batalha contra o pecc.do que continuamos a<br />

expulsar ... ele nos deu um bispo, a saber, Cristo, que não tem pecado<br />

e que deve ser o nosso representante até que nos tomemos<br />

inteiramente puros como ele ... enquanto isso, a justiça de Cristo<br />

. 48<br />

precisa ser nossa couraça.<br />

A seguir Lutero cita Agostinho para confirmar a tese de que o pecado<br />

permanece depois do batismo. Deus não imputa pecado ao cristão por<br />

causa da sua fé em Cristo e por causa da sua permanente luta contra o pecado:")<br />

Como Lutero ilustra as suas afirmações? Diz:<br />

Nesse ponto, as parábolas do evangelho ilüminam o problema.<br />

Primeiro aquela sobre o Samaritano que colocou o semimorto sobre<br />

o seu animal, derramou vinho e óleo em suas feridas e pediu<br />

ao hospedeiro que tomasse conta dele. Não o curou de uma vez<br />

só. Da mesma forma, tampouco estamos totalmente curados pelo<br />

batismo ou arrependimento, mas houve um começo em nós e a<br />

atadura da primeira graça adere às nossas feridas de tal forma que<br />

nossa cura pode prosseguir dia a dia até que estejamos curados '"<br />

Enquanto vivermos sobre a terra, crendo na sua palavra, somos<br />

obra que Deus começou, mas ainda não concluiu; mas depois da<br />

morte seremos perfeitos, uma obra divina sem pecado ou falta.50<br />

Está Lutero aqui falando de justificação ou santificação? Este é um<br />

dos textos de transição. A linguagem usada aqui é similar à linguagem de<br />

santificação usada mais tarde. Mas o conceito de justificação também já<br />

47 fJe(Í'l1se and Explal1atiol1 (~rA II lhe A 11ieles (1521), LW, AE, 32:21 .<br />

.j' DefÍ'l1se and E\plwwtiol1 of A 11 lhe A nieles (1521), LW, AE, 32:28 .<br />

.j() Detcl1se ul1d Explwwtiol1 ofA fi the A rlieles (152 J), LW. AE, 32:28.<br />

:'0 fJetÍ'nse and Expl(/lwtiol1 Df Ali the A rtieles (1521), LW, AE, 32:24.<br />

~27 -


irneira<br />

está l1nplícito aqui. Lutero ainda fala de salvação con10 UlTI processo~ não<br />

sendo ainda totalrnente preciso na distinção de justificação e santificaç-ão,<br />

O Sa111aritano é identificado corn Deus que já iniciou a sua obra terapêutica<br />

no hOri1eln~ filas esta obra ainda não está cOlnp]eta. Por rneio do<br />

batisrno e do arrependimento, Deus coloca ~~aatadura da primeira graça"<br />

{der ersten GnCl{le) nas feridas do sernimorto. De agora ern diante o enfernlO<br />

vai lnelhorar. Precisará de toda a sua vida para recobrar-se~ rnas estará<br />

.<br />

totalrnente recuperado na eternidade. Toda a obra de Deus está inlplíclta<br />

(lC11Ui,desde a p. "- graca ~ até a eternidade, É correta esta afirlnação? -<br />

L,utero está defendendo a tese de que o pecado perlYÚlneCe depois do batis-<br />

1110. E este o ponto de partida para o novo homern? Provavelnlente Lutero<br />

ainda não tinha unia resposta sufic!entenlente madura nesse ponto,<br />

Contra LatonlUS (1521)<br />

!-\. 111enção da parábola ào Born S!unaritano na obra Contra Latnl!llfS,<br />

alguns nleses rnais tarde, revela rnudanças na linguagern usada por Lutero.<br />

Foi escrita elTI junho de 1521. I\1art1n Brecht afirnla que ··quanto ao seu<br />

conteúdo, essa refutação foi uma das exposições mais consistentes e claran1ente<br />

slsternatizadas da doutrina '" da graça e da natureza huroana que<br />

anareceu antes da obra Servid3~o da Vontade,5]<br />

11l~ tese proposta por Lutero é que 4'toda boa obra é pecado": ~·Digo e<br />

ensino dessa rnaneira para que todo hornen1 possa saber que ten1 tanto pecado<br />

enl cada unIa das suas obras quanto a SOITia de pecado que ainda resta<br />

nele. Tal árvore,<br />

tal fruto.,,52<br />

O ponto enl discussão era o conceito de pecado. Pecado para Lutero<br />

era toda prática enl desacordo com a lei de Deüs. Peja prirrleira vez Lutero<br />

faz nnja diferenciação explícita entre "dádi"vu" e ··graça". Tambérn faz uma<br />

cJara exposição da doutrina da justificação, onde deixa claro que o hOlTlem<br />

não telu nela absoJutanlente nenhurna<br />

Á<br />

Darticipacão.5~<br />

_ ><br />

fv1ovendo-nos para a citação do Born Samaritano, é necessário apontar<br />

a dupla tese de Lutero: Todos os h01TIenS~ inClusive os batizados, peCalTI<br />

~] BRECHT. 1vl. 111011inLutherShClping Clnd I]efining t!te Refol111tlrion (1521-1532). trad.<br />

Jan1eS L. Schaaf (I\'linneapo1is: Fortress Press, 1990), p. 7.<br />

:;2A g(ljnst Lu/onuls (1521). Currer of the R.efonner IÍ; ern Lurher' s VVGrks, i\.E. ed. George<br />

W, Forei i (ivluhlenberg Press/Phi1adelphia, 1958), 32:230,<br />

'3 -B~F~!-l~ 'b'd ~o " '<br />

K->--


durante toda a sua existência terrena e suas obras são pecaminosas. Ao<br />

mesmo tempo, "não há nenhum pecado ou obra pecaminosa neles da perspectlva<br />

. da graça de - D . eus " .-,4 "Deve . haver arrepenCdmento l' e renovaçao - de<br />

tal forma que o pecado possa ser expelido enquanto há pregação, enquanto<br />

I ~ 'd"" E - T •<br />

1a VI a '-' ntao Lutero mtro d ,uz o texto O


Epístolas católicas (1522)<br />

Nesse cornentário, escrito provavelmente em 1522, a parábola do<br />

Bonl San1aritano é usada duas vezes em lPedro (Serrnões), As. parábola<br />

aparece primeiro em 2.11-12. Os temas aqui são semelhantes dos de Contra<br />

LOiO/ilI!S. Como entender a presença de pecado na vida do batizado? Lutero<br />

responàe C0111 111aÍsclareza, el11pregando os rnesmos textos usados elTi COíltrel<br />

Loro!lll!S (Lc 1O.34ss.; Mt 13.33; Jo 13.10).<br />

o ponto de partida: ""Pedra quer charnar a atenção de que nenhU1TI<br />

santo na terra pode ser completan1ente perfeito e puro." De acordo com<br />

Lutero, "os cristãos estão divididos em dois: ser interior, que é a fé, e ser<br />

. / ~;:;;fl .. ,....,,,.. 1 .,,-<br />

exterIor, que e a carne.' - - Quando o crlstao e Visto na perspectIva da fe,<br />

é puro e cornpletarnente l1rnpo, pois a pahl'vra de Deus não encontra<br />

inlpureza nele. E quando entra no coração de tal fornla que o<br />

coração se apega a ela:: tambérü torna o coração totalmente li1npo .<br />

.•...• _ .' 4 '''"' f ' f"~ 59<br />

ror esse nlotlvo, todas as cOIsas sao peLeJtas em Te.<br />

i'\gora a citação<br />

do texto da parábola:<br />

V ocê. pode ente.nder isso a partir de Ullla parábola ein Lc 10<br />

(34ss.) que fala de um h0111em que desceu de Jerusalérn a lericó e<br />

caiu nas mãos de salteadores, que bateram nele e o deixaram semimorto.<br />

l\1ais tarde o Samaritano socorreu-o, colocou ataduras<br />

em seus ferimentos, tomou conta dele e encaminhou-o para que<br />

continuasse sendo atendido. Você pode perceber aqui que desde<br />

que esse homem recebeu cuidados, já nâo é mais um doente termino!.<br />

mas tem certez.a de que sobreviverá. Falta apenas uma coisa:<br />

Ele não está completamente bem. Está vivo, mas ainda não<br />

tem perfeita saúde e ainda precisa estar aos cuidados dos médicos.<br />

Ainda precisa receber cuidados. Da mesma forma, também<br />

temos o Senhor Cristo inteiramente e temos cel1e:a da vida eter­<br />

!lU. No entanto~ ainda não gozanlos de perfeita saúde. Algo do ve-<br />

., lno~r A d- ao aInda .. pernlanece na carne. 60<br />

's The COlho!ic El'isl/es (] 522 L in LlIlher's W OIh. AE, ed. Jaroslav Peiikan (St Louis:<br />

CPI-!. 19(7).30:6:-\.<br />

,lJ Tile Cill/lO/ic Epislles (i 522). LW, AE. 30:68.<br />

W Tilc CUlilolic E/lisl/c.\' (1522). LW. AE, 30:68-69.<br />

- 30-


imeira<br />

Nesse texto há clara diferenciação entre justificação e santificação. O<br />

semimorto está em processo de santificaçào, "mas tem certeza de que sobreviverá<br />

(.1st des lebens sicher.)". É a Dr<br />

vez que • Lutero exnressa<br />

<<br />

nesses textos a certeza da salvação. E confirma esta certeza na aplicação do<br />

texto: Também temos o Senhor Cristo completamente e temos certeza da<br />

vida eterna. É o mesmo que dizer: Fomos justificados. Agora o médico está<br />

tomando conta de nós. Precisamos continuar recebendo os cuidados dele<br />

(santificação). Este é o efeito. A causa foi a justificação. Mas "você está<br />

- 'd' . ·61<br />

completamente puro e em plena posse a JusttÇZL'<br />

""',segunda referência à parábola do Bom Samaritano nessa obra aparece<br />

na exposição de 4. j -3. O pensamento de Lutero flui da seguinte forma:<br />

Cristo nos foi dado como dádiv(! e como exemplo. Como dádiva, nos é<br />

dado peltJ fé, Corno exernplo~ Cristo é<br />

um modelo a ser seguido, pois se agora temos Cristo como uma<br />

dádiva através da fé, devemos ir adiante e proceder como ele procedeu<br />

conosco. Deveríamos imitá-Ia em toda a nossa vida e em<br />

todo o nosso<br />

sofrllnento.62<br />

De acordo com Lutem, como cristãos, faremos obras "através da<br />

guais a fé é fortaiecida de tal forma que mortificarnos o pecado na carne e<br />

. d' r ,. ,,6' l\J .<br />

assIm somos capazes e serVlf meihor o nosso proxnno .. ovamente aqUI<br />

justificação é uma coisa e outra a santificação. Estão diferenciados.<br />

Temos dito com suficiente freqüência que ernbora sejamos justos<br />

pela fé e que tenhamos o Senhor Cristo como nosso, mesmo assim<br />

somos obrigados a realizar boas obras e a servir o nosso vizinho,<br />

pois nunca nos tornamos perfeitamente puros enquanto vivermos<br />

nesta terra e toda pessoa ainda encontra maus desejos ern<br />

seu corpo .., a fé começa a matar o pecado e dar o céu, mas ainda<br />

não se tornou perfeita e realmente forte, como Cristo fala do Samaritano<br />

(Lc j 0.33ss.), cujas feridas ainda não estão curadas.<br />

Mas ele recebeu curativos e cuidados para que suas chagas pudessem<br />

ser sanadas. Aqui também é assim. Se nós cremos, nosso pecado,<br />

isto é, as feridas que trazemos desde Adão, receberam curativos<br />

e começam a curar-se. Mas em uma pessoa esse processo<br />

(,: The Cu!ho/ic El'ist!es (1522). LW. AE. 30:69.<br />

(,' The CUI!IO/ic LJ!isl!es (] 522). L W, AE. 30: 1 ] 7.<br />

(,.1 Thc Curho/ic L;!istles (1522). LW, AE. 30:1 17.<br />

- 31 -


curativo é mais curto, em outra é mais longo. Quanto mais cada<br />

UI~ (H'stia'lr e sub]·ua·,'· a c"rnp ""'''' 'l'a'c +;"'~e7'1 c.lp rre,.,í 6-\<br />

11 _u. b( ~ :::,.:";'1 a. 1 _o, "'"'\..1:1: 1_:. .•.~.1 11 .u~_&-.


to ... Sornas aquele hornern ferido que caiu entre salteadores, cujas<br />

feridas fOralTI lilTlpas pelo Samaritano corn óleo e vinho e a quem<br />

ele sentou sobre o seu anÍ1nal, trouxe para a hospedaria e cuidou;<br />

a quern tanlbénl deixou encarregado ao hospedeiro depois da sua<br />

partida corri as palavras: ~~Cuida deste hOD1ero;" (Le 10.30-35).<br />

Dessa fornla sornas nutridos enquanto esta1110S na hospedaria, até<br />

que o Senhor estenda a sua lnão pela Segunda 'vez,,,,~65<br />

..~qui Lutero prirneiramente enfatiza que está falando daqueles que já<br />

estão justificados. O resultado é ~·boas obras)}. Usa nO\lanlente a parábola<br />

para ilustrar a ação do Senhor corno o santificador, que está cuidando do<br />

cristão com carinho.<br />

Quando expõe Gl 5.14, reaparece o tema:<br />

Agora nosso próximo é qualquer ser hurnano, especiahnente a­<br />

quele que precisa da nossa ajuda, como Cristo o interpreta erl1<br />

L,ucas 10,30-37. IvIesrno aquele que rne causou algurl1 tipo de injúria<br />

ou dano ... não deixa de ser meu próximo. Portanto, enquanto<br />

a natureza hUrnana perrnanece nele. o inandarnento de amar perrjl;]jleCe<br />

"O'1~1toa"] " ,'1" f,~.,·('"66<br />

~ ~ 1.,..' 1 •. u"-+uC ••..J_ •. v~~w...<br />

Já nào é Cristo o nosso prÓxirno. :r~ossos olhos não precisam fixar~se<br />

nas alturas, !nas olhar ao redor onde há pessoas em necessidade: ali está o<br />

nosso vlz1nho.<br />

Contra Hanswurst (1541)<br />

Ern ] 541 ~a parábola aparece DO escrito Contra I--Jans~Vllrst,nU1T1 contexto<br />

onde Lutero discute a relação entre "igreja" e "palavra de Deus",<br />

Quando a igreja é juigada pela forrna de vida daque]es que pertencem a ela~<br />

não aparece sem pecado, porque a vida nunca é sem pecado. Mas a função<br />

da igreja é pregar n jJura palavra ele Deus. Onde pode ser encontrada a igre~<br />

ja? ~·O verdadeiro sinai da verdadelra santa igreja tern sido sempre humil-<br />

, ' ]' D ,,67 - - , '"<br />

aude e teI110r na p(.Lavra ae ! eus.' r-iIas a palavra de LJeus pura e sern<br />

111isturas se!llpre é pregada por instrurnentos frágeis. Entào diz Lutero:<br />

h) Lecrures O!l Caia/ia!?s (1535). L\\/~ AE, 26:260.<br />

(;(,Lectures 011 Calatic!!Is (j 535), LW, AE, 26:58-59,<br />

()! A [!,cÚnsr HOllS\I'llrSí (1541), Church anel lV!inistry; in Luther1s ~Vo!'ks, ed. Eric \V. Gritsch<br />

IPhiladelphia: Forlress Prcss. 1966),41:218.<br />

- 33 -


Mas a vida, que deveria diariamente conduzir-se, purificar-se e<br />

santificar-se pela doutrina, ainda não é inteiramente pura ou santa,<br />

enquanto este corpo bichado de carne e sangue estiver vivo.<br />

Mas enquanto está no processo de purificação e santificação, sendo<br />

curada continuamente pelo Samaritano e não mais degradando-se<br />

em sua própria impureza, é graciosamente desculpada e<br />

perdoada pela palavra, pela qual é curada e purificada; por isso<br />

precisa ser chamada de pura. Por esta razão a santa igreja cristã<br />

não é uma prostituta ou pecadora, porque continua a sustentar-se<br />

e a permanecer com a palavra (que é sua santidade) sem mancha e<br />

- 68<br />

com poder.<br />

A igreja é santa porque a palavra que justifica e santifica é pregada<br />

por vidas santificadas, Esta é a síntese do conteúdo dessa seção, Lutero está<br />

novamente descrevendo aspectos da santificação pela parábola do Bom<br />

Samaritano. Enfatiza-se o rol da palavra de Deus na vida cristã. Já não se<br />

trata da "palavra radioativa" do Lutero jovem, mas da palavra que concede<br />

o que promete. A palavra externa (externwn verbwn) também é uma dádiva.<br />

pois é meio de graça.<br />

Sermão na igreja do castelo de Torgau (1544)<br />

Nesse sermão, Lutero expõe a correta compreensão do mandamento<br />

que ordena a guarda do último dia da semana, Emprega a lei em seu terceiro<br />

uso e relaciona-a com Cristo como exemplo que deve ser seguido pelos<br />

cristãos. Lembra a sua audiência de que a segunda tábua dos mandamentos<br />

"fala em particular a respeito do nosso próximo e ordena ajudá-Ia nas ne-<br />

.d 1<br />

cessl aoes IlSICaS c''· e em qualquer ." area em que necessIte. ajUua '..J" . 69<br />

Diz também:<br />

Quando vejo meu próximo em necessidade e em apertos e perigo<br />

de vida, que eu não passe de largo por ele, como o sacerdote e o<br />

levita, e deixando-o lá deitado, pereça (Lc ] 0.31-37), de tal forma<br />

que na minha pretensão de guardar o Sábado puro, acabe tomando-me<br />

assassino do meu irmão; antes o sirva e ajude, como o Sa-<br />

68 Aguinst HaI1S\\'llw (] 541), LW, AE, 41 :218<br />

69 A I Torgall Custle Churc/z (1544), Sel1110I1s], in LUlhel"s \Ã/orks, AE, ed, e trad. John W.<br />

Doberstein {philadelphia: Muhlenberg Press, 1959).59:344,<br />

- 34-


maritano que cuidou do homem ferido, colocou-o sobre o seu a-<br />

l1lmai - - e -levou-o<br />

para a "_ospe h d' ,ana.<br />

70<br />

Lutero novamente lembra-nos quem é o nosso próximo. O foco do<br />

texto é novamente a justificação vivida pelo cristão no mundo, o que significa<br />

santificação.<br />

Gênesis (1544)<br />

A parábola é citada duas vezes nesse comentário de 1544. Primeiro<br />

na exposição de Gn 42.29-34. O tema é novamente o pecado na vida do<br />

cristão. Lutero faz uma distinção entre pecado original e atual. Escreve<br />

contra aqueles que negam o pecado original depois do batismo. Diz:<br />

As feridas do semimorto receberam atenção, como declara a parábola<br />

em Lc 10.34. Óleo e vinho foram derramados sobre elas e<br />

a dádiva do Espírito Santo (dollum Spiritus Sancti) começou. No<br />

entanto, os ferimentos ainda são mortais. Recebeu cuidado para<br />

curá-Ias, mas ainda não está totalmente recuperado. Se você quer<br />

afirmar que não há ferimento, que não há perigo, tente descobrir<br />

se um semimorto pode caminhar, trabalhar e fazer tudo o que uma<br />

pessoa saudável faz. Foi carregado pelo animal em que foi colocado.<br />

Não tem condições de trabalhar, não caminha. Da mesma<br />

forma, quando fomos batizados, fomos colocados sobre o animal<br />

de carga de Deus, isto é, o mais precioso sacrifício por nós (sacrificiuIII<br />

17m lZobis), ou a humanidade de Cristo, pela qual fomos<br />

carregados. Embora tenhamos sido aceitos imediatamente, ainda<br />

recebemos cuidados e somos curados dia a dia.7!<br />

Percebe-se que Lutero refere-se tanto à justificação quanto à santificação,<br />

que estão diferenciados no texto. A justificação está marcada pela<br />

frase: "aceitos imediatamente". Quando Deus nos chama, somos totalmente<br />

dele, mesmo que agora seja começado o programa de recuperação, que<br />

dura toda a vida (santificação).<br />

7U AI TO/gOl! Casl!e Church (1544), LW. AE, 5]:344.<br />

71 Lecll!;"(s 011 Genesis (] 544, caps. 38·44), iu Luther's Vil orks, AE, ed. Jaws1av Pelikan (31.<br />

Louis_ CPH, 1965). 7:282,<br />

- 35 -


Descreve a \llda de santific.ação dizendo Que "as feridas aInda ;:;,tu<br />

ITlortais':. Será urn retorno de Lutero à sua antjga 1inguagern? A:o- questão<br />

aqui é diferente, O texto pode ser usado de duas útaneiras: Pode-se tOlTiar o<br />

carninho da le.i ou (}do e\/ange.lho. O texto contérn (: 111ais pre.cIoso evangelho~<br />

1118.S relernbra que o cristão luta contra o pecado.<br />

il~segunda citação aparece em Gn 45,14-15. Estes verslculos relerI1-<br />

branl o ernotivü encontro entre José e Benjarrl1rn depois de anos de separação.<br />

José conforta o seu irmão. Lutero cOl11para o exernp10 de José COlil a.<br />

ressurreiçÜo de Cristo. /1. I11eSrna coisa acontece G1ariarnente na igreja. Aqui<br />

o Szunaritano s5.o os bispos e pastores que o seu trabalho através da<br />

palavra das Santas Escrituras. LuterG ci1z:<br />

Portanto o ferido é curado na hospedaria depois de ter óleo e '\;'1-<br />

nho derra.rnados sobre ele , Lc 10.30-35). Pois as Igrejas não<br />

~ . ~ ~ ~.<br />

S2tOnada fIlalS ao que nOSpeG3XlaS dessa especle~ onde a pessoa<br />

que sente C: pecado;. a rnorte e os terrore.s e ",./ergonhas de urna<br />

consciêncIa, aflita r· é sarada. t1el e diligente cuidado<br />

, ,<br />

rlpvp<br />

ser exercIdo pelos ITilll1srros Dor rllel0 GO derrarnarüento de<br />

, .<br />

njp:: e vinho, porque o pecado :.; =in:r~<br />

mUlto cruel e a<br />

.~ .. ,<br />

72<br />

conSClenCla uma COIsa rnu1to<br />

Ern terrnos de consoloi há uma grande diferenca entre este texto e<br />

aqueles da prínleira fase elo reforn:1ador~ onde [)eus é apresentado como 1.1rn<br />

ferreiro que golpeia contll1üamente para Ctlra.rl<br />

Ultimo serrnãü en1 \Vittenberg (1546)<br />

i;,,- Últirna rnenç50 - da -parábola do Born Sarnaritano aparece - no ··LJlti-<br />

1110Serrnào enl \\litternbt{g;i E ri confirrnação de que o reformador fez uso<br />

desta pan.1bola. - ao Ion,go - de toda a sua carreira. Ll1tero l1cyvamente cita o<br />

texto para descrever o processo de santificação na vida do cristão. I~unl<br />

parágrafo~ usando a parábola de fOrrDB. alegórica" descreve Ct queda e a re-<br />

denção da hurnanidade, i\dão é nO"\l(llTIente apresentado C0l1I0 o norrlern<br />

ferido. C~risto reaparece COITtO o Sarnaritano. Lutero afirn1a: ·'Estall10S agora<br />

sob os cuidados do grande rnédico .,. Portanto, esta vida é UITl hospital; o<br />

Lecrures Oil G'elle~\'is(1544. caps. 45-50)~ in Luther's<br />

Louis. CPH, 1966). t::54.<br />

~Voiks. A.E, eu. ]arosla\r Pelikan (St.


pecado foi realmente perdoado; mas ainda não fomos totalmente curad<br />

os. ,,73<br />

Conclusão<br />

Confirma-se que a parábola do Bom Samaritano como usada por Lutera<br />

serve de espelho que ajuda a perceber o desenvolvimento da sua teologia.<br />

Quando as citações são lidas pela primeira vez e fora do seu contexto,<br />

tem-se a impressão de que o reformador está dizendo sempre a mesma coisa.<br />

As palavras são quase as mesmas, mas há uma profunda diferença no<br />

seu significado. Esta diferença é marcada especialmente pelo contexto em<br />

que aparecem.<br />

A tradição medieval costumava aplicar o texto da parábola a partir<br />

do versículo 35 de Lucas 10. A mensagem da mesma estava relacionada<br />

com o "tesouro de méritos" e às "obras de supererogação". Lutero mudou<br />

esta tradição. O seu ponto de partida passou a ser o versículo 23 de Lucas<br />

10, o que levaria a Ullla leitura diferente do texto. Contra as obras de justiça<br />

própria, diria que o homern é salvo apenas pela graça de Deus .<br />

Como o exanle das citações rei.relou5 Lutero apresentava um conceito<br />

de salvação que lTIudaria totaln1ente anos mais tarde. Primeiro~ salvação era<br />

um processo que durava toda a vida. Deus operava uma "justificação sanati\r'a5~<br />

que começava ül11 processo de cura. rv1ais tarde faria uma clara distinção<br />

entre justificação e santificação: Deus aceita "todo o homem", que pela<br />

justiça de Cristo, imputada a ele, já pode ter plena segurança da sua salvação~<br />

iniciando-se então o processo de cura ou santificação.<br />

No Lutero jovem, o ser humano nunca estava completamente seguro<br />

da sua salvação; no Lutero lnadufo5 tinha certeza >6de que viveria". No Lutero<br />

jovem, o Senhor expunha à morte e castigava a fim de curar (ação<br />

terapêutica), no Lutem maduro, as igrejas eram lugar de consolo (lei e e­<br />

vangelho compreendidos de forma apropriada). No Lutero jovem, o ser<br />

humano era parcialmente justo e parcialmente enfermo; no Lutero maduro,<br />

era totalrnente justo e totalmente pecador ao mesmo tempo. No Lutero jovem,<br />

Cristo era um exemplo a fim de que o homem pudesse tornar-se um<br />

bom filho de Deus. No Lutero maduro, Cristo continuava sendo exemplo,<br />

,.; The Lasl 51'/7II0n in íVillenbelg (1546), Semwlls i, em Luther's Works, AE, ed. e trad.<br />

John W. Doberstein (PhiladeJphia: MuhJenberg Press, ]959), S] :373.<br />

- 37 -


mas não era o que fazia de alguém um cristão. No Lutero jovem, Cristo era<br />

o meu único próximo; no Lutero maduro, meu próximo era todo ser em<br />

necessidade, porque santificação significa justificação vivida no mundo.<br />

- 38 -


FILOSOFIA LUTERANA DE EDUCAÇÃO<br />

Egol1 M m1in Seibert'<br />

Introdução<br />

Educar, eis um verbo que talvez esteja trazendo à mente de cada aluno<br />

de Pedagogia desta Universidade a seguinte preocupação com respeito<br />

ao seu presente ou ao seu futuro como educador: educar, mas para que fim?<br />

Com certeza, se a cada um de nós fosse dada a oportunidade de apresentar<br />

o seu pensamento, poderíamos relacionar finalidades diferentes.<br />

Ao manifestar meu desejo de apresentar, como trabalho de aula, a­<br />

quilo que pensa sobre o assunto a Igreja à qual a mantenedora desta Universidade<br />

está fiiiada, foi-me permitido expor a vocês aquilo que julgo ser a<br />

Filosofia Luterana de Educação.<br />

É nossa intencão. , . neste trabalho, apresentar o , Densamento de Lutero<br />

expresso em alguns de seus escritos e, a partir dali, mostrar que sua visão<br />

Lluxiliou a moldar uma teoria de educação que tem objetivos ciaramente<br />

definidos, que reconhece agentes especiais na tarefa de educar, e que é<br />

aplij:ada nas escolas luteranas semeadas pelo Brasil.<br />

2. Lutero ~ Reformador da Educação<br />

2.1 O Contexto Educacional de Luteiv<br />

Nas primeiras décadas do século XVI a educaço.o em geral era desprestigiada<br />

pela maioria das pessoas. Esta atitude negativa devia-se em<br />

parte ao espírito materialista que acompanhou, passo a passo, a rápida expansão<br />

do comércio de então. A não ser que um jovem estivesse destinado<br />

para uma profissão que exigisse dele conhecimentos mais especializados<br />

como por exemplo a advocacia, medicina ou teologia, pais e filhos viam<br />

pouco ou nenhum valor em estudar aquilo que no.o estivesse diretamente<br />

relacionado ao mundo dos negócios. Tempo gasto na escola, assim pensavam,<br />

podia ser melhor utilizado ganhando-se<br />

a vida. De fato, o pensamento<br />

Professor na Universidade Lutcrana do Brasil. Trabalho apresentado para a disciplina de<br />

Sociologia da Educação na ULBRA.<br />

- 39-


da época era tão contrário à educação formal que havia UH1 ditado largamente<br />

conhecido na Alemanha e que dizia: "Gelehrte sind verkehrte" 1, isto<br />

é, os cultos são errados.<br />

No entanto, não somente este espírito materialista foi responsável pela<br />

atitude anti-educação das massas de então, Unl segundo e talvez mais<br />

significativo fator podernos encontrar na reação popular à Reforma. Um<br />

dos prilneiros resultados do 1TIOvirnento da Reforrna foi o abandono em<br />

larga escala da vida nos mosteiros e conventos por parte de rnonges e freiras.<br />

As autoridades seculares~ por razões práticas~ religiosas e econômicas<br />

confiscararn as propriedades e os fundos destes rnosteiros e corr··/entos a­<br />

bandonados. Embora sem esta intenção, esta ação causou o colapso das<br />

escolas que estavam sob a sua supervisão3 direção e manutenção.<br />

lJro terceiro inotivo poden1os ainda encontrar no fato de que a Reforn1a<br />

trouxe à luz erros graves de doutrina que erarn ensinados nestas<br />

escolas e que tinharn a ver sobre a vida e morte eterna. Por que então ainda<br />

enviar filhos a estas escolas se lá os mesmos poderiam ser desencaminhados<br />

da salvação?<br />

Foi debaixo desta pressão anri-educaç3.o e diante do colapso do sistelna<br />

educacional que Lutero lançou seus apelos erG prol de uma educação<br />

renovada do povo alemão. Através de tratados e de sermões dirigiu-se aos<br />

príncipes e senhores pedindo-lhes reformas educacionais e constrangendo<br />

pastores e pais a proporcionar boa educação aos filhos.<br />

2.2 Cm1a A bei1a à Nobreza Cristã da Nação A lemâ (j 520)<br />

A Carta Aberta à Nobreza Cristã da Naçã,o Alemã é, talvez, o mais<br />

famoso dos escritos de Lutero. Redigida em meados de 1520, foi publicada<br />

em agosto. Causou enorme repercussão na opinião pública alemã ao ponto<br />

de numa semana ter esgotada a sua primeira edição que alcançou a tiragem<br />

de 4.000 exemplares.<br />

A Carta Aberta de Lutero pode ser dividida elTitrês partes. Na primeira<br />

ele ataca violentamente a Cúria (não a Igreja corno tal!) e as doutrinas<br />

sobre as quais fundamentava-se a ordem eciesiástica, social e polftica<br />

da Idade Média. Afirma que todos os cristãos são iguais diante de Deus e<br />

Ditado citado por Robert Schultz na introdução<br />

do "Sermão sobre o Dever de Enviar Filhos<br />

À Escola, contido na obra Sclcctcd W ritil1gs of !ví(iI1in Lutha, 1529-1546, p. 1n.<br />

- 40-


nega os privilégios até entao COnCedlQOS 0<br />

papaao,<br />

dos clérigos e ao próprio<br />

l\Ta segunda parte ele chama a atenção para os assuntos que, no seu<br />

entendec merecian1 ser tratados nU111 Concílio verdadeiramente livre. Critica<br />

então o escândaio da pornpa e da ganância da Sé Romana que contrasta­<br />

"'/a co1'n a pobreza de Cristo e dos seus apóstolos,<br />

Na terceira parte Lu[cro apresenta suas propostas de rl1eIhorarnentos da<br />

Igreja. Sugere 26 reforrnas concretas e~ entre eias, a das universidades (Lutero~<br />

1989~ p. 328). Entre as suas propostas que dize111 respeito à educaçào encontra-se<br />

a abolição dos li\TOS Física, Tratado da ft~lrna e Etica de<br />

i~ristóteles que ele julga\"a danosos à fé cristã por: adrcátirem felicidade senl<br />

Cristo e negarern a ressUITe:jç;Io ciOSrnortos.<br />

ele atlfrna que apre-<br />

ciaria que os ~ivros Lógic8 Retórica e. Poética do 111eSmO autor, em edições<br />

não corn.entadas fossern. rnantidos ou até rnesrno resurnidos, recoI11endando<br />

sua leitura pelos jo\'ens para que estes se exercitassem no oorIl discurso e<br />

na pregação. Lutero sugere que se estudenl1atim, grego e hebraico~ além de<br />

11latel11ática e história.<br />

uç Direito<br />

que a reforrna deveria passar pela<br />

·"~tinção do estudo do direito canônlco; erú particular as decretais, Embora<br />

1 :conhecesse que o direito secular se transform.ado nurn ern.aranhado,<br />

considerava o mesmo ~'mais douto e justo'~ que (;<br />

-:- •.•<br />

lJeVer-Se-lam<br />

~'. o '"<br />

reQUZH~t3JTIbern os<br />

tec:lógicos e selecionar os<br />

Qttanto ao estudo dos Quatro L·ivros de Sentenças de autoria de Peeira<br />

Lombardo ..2 Lutero cria que o 111eSnJO ser reservado aos teólo-<br />

gos J0'\/ens. enquanto que. o estudo<br />

Sagrada deveria<br />

ser tarefa dos doutores. Segundo<br />

p n estudo d.as Sentenças na<br />

ocasião era muito n18.1Senfatizada que<br />

da Bfb1ia, Sua críti-<br />

ca é severa quando afirma:<br />

melhores, pois livros em grande quantidade não tornanl. a pessoa<br />

dou ta, rnuita leitura tampouco~ frias ler coisas boas e com freé<br />

que torna douto na Escritura e<br />

ainda por cima piedoso, V3 e.scrltos de todos os santos pais<br />

sornente deVerHl111 ser lIdOS durante<br />

ternpo para; por InClO<br />

deles, chegar a<br />

e.m 'vez<br />

nos os lemos apenas para


ficar nelas e jamais chegar à Escritura. Nisto somos iguais àqueles<br />

que olham para os marcos que mostram o caminho, mas jamais<br />

seguem o carrÜnho. Com seus escritos, os caros pais quiseram<br />

introduzir-nos na Escritura; nós, porém, os usamos para<br />

afastar-nos dela, quando a Escritura é nossa Única vinha~ na qual<br />

todos deveríamos exercitar-nos e trabalhar. (Lutero, 1989, p. 332)<br />

Para Lutero a lição mais importante e comum nas escolas e universidades<br />

deveria ser a Bíblia. Ele acreditava que se isso acontecesse, formarse-iam<br />

pessoas altamente entendidas nas Escrituras ao contrário da situação<br />

reinante quando se constatava até mesmo que os eruditos, prelados e bispos<br />

não conhec1f:uTI o evangelho de Jesus Cristo.<br />

Ele encerra a sua Carta J.},.bertadeixando claro seu desejo de que a fé<br />

cristã e a Bíblia fossem a base do currículo bem como sua preocupação de<br />

que, se isso não acontecesse, as escolas e universidades viessem a ser<br />

"grandes portões para o inferno" (Lutem, 1989, p. 333).<br />

2.3 A os Prefeitos de Todas as Cido.des da Alemanha (1524)<br />

Este tratado cujo nome completo é Aos Prefeitos de Todas as Cidades<br />

da Alemanha: Sobre o Dever de Fundar e J\lÍanter Escolas (Lutero,<br />

1967, 1523-1526, pp. 39-70), escrito provavelmente em janeiro de 1524,<br />

foi impresso em fevereiro daquele ano. Ele não apresenta um sistema completo<br />

de educação; esta tarefa é cumprida mais tarde por Filipe Melanchton,<br />

o Preceptor da Alemanha. O que Lutero fez aqui foi oferecer um conselho<br />

prático às autoridades responsáveis das cidades alemãs e responder aos<br />

argumentos daqueles que lideravam na i\.Jemanha um movimento contrário<br />

à educação.<br />

Ern primeiro lugar Lutero faz uma constatação neste documento: O<br />

estado lamentável ern que se encontravam as escolas e universidades na<br />

Alemanha. Em seguida ele demonstra que a educação é necessária para o<br />

crescimento espiritual de meninos e meninas, e igualmente essencial para<br />

que se tornem cidadãos íntegros e úteis da sociedade. Contra o argumento<br />

de que pais não poderiam dispensar seus filhos das atividades domésticas<br />

para que fossem à escola, ele sugere que eles atendam a escola uma hora ao<br />

dia.<br />

- 42-


Quanto ao estudo do grego, hebraico e latim, diante da afirmação de<br />

que o mesmo não mais era necessário visto ter ele mesmo, Lutero, traduzido<br />

já então o Novo Testamento para o alemão, ele argumenta dizendo que o<br />

mesmo é preciso para que se consiga ter um bom entendimento das Escrituras<br />

e para que se preparem "homens capazes de reger domínios e mulheres habilitadas<br />

para ~. governar filhos e emoregados".3 ~ .<br />

Lutero recomenda aos prefeitos que tenham uma especial atenção na<br />

formação de boas bibliotecas em tomo das Escrituras, das línguas e artes<br />

liberais quando da criação de escolas. Sobre li necessidade de bibliotecas<br />

para a preservação do evangelho e das artes, ele afirma:<br />

Isto é essencial, que não somente aqueles que virão a ser nossos<br />

líderes espirituais e temporais tenham livros para ler e estudar,<br />

mas que também os bons livros sejam preservados e não perdidos,<br />

juntamente com as artes e línguas que agora temos pela graça<br />

de Deus. (Lutero, 1967, 1523-1526, p. 65)<br />

Para a formação de uma boa biblioteca Lutero recomenda primeiro a<br />

aquisição das Escrituras Sagradas em latim, grego, hebraico, alemão e em<br />

qualquer outra língua possível. Além destas, o maior número de comentários<br />

bíblicos. Enl seguida livros que auxiliern no aprendizado das línguas,<br />

como os poetas e oradores, cristãos ou não, romanos ou gregos, desde que<br />

auxiliem a aprender gramática. Seguem então livros sobre as artes liberais<br />

que englobavam a gramática, retórica, diaiética, música, aritmética, geometria<br />

e astronomia, e todas as outras artes. Também deveriam ser adquiridos<br />

livros de lei e de medicina, livros de crônicas e de histórias e até mesmo<br />

que contivessem contos infantis. Ele encerra seu apelo às autoridades afirmando:<br />

Por isso, eu vos suplico, meus prezados senhores, que deixeis este<br />

meu sincero esforço dar fruto entre vós. Se houver entre vós quem<br />

me julgue tão insignificante para lucrar com meu conselho, ou que<br />

me despreze como um que foi condenado pelos tiranos, eu peço para<br />

que considerem que não procuro vantagens para mim, mas o bemestar<br />

e a salvação da Alemanha. (Lutero, 1967, 1523-1526, p. 69 e<br />

70)<br />

, Afirmação feita pelo Dr. Nestor Beek em palestra proferida no dia 8 de novembro de 1983<br />

no Instituto Cultural Bras'deiro Alemão - instituto Goethe de Porto Alegre, c publicada no<br />

lino IgrcJa. Socicdade & Educaç'Üo, 1988, p. 86.<br />

- 43 -


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culpados; porque do modo como os criamos, temos filhos e súditos<br />

estragados e desobedientes. (Livro de Concórdia, p. 421)<br />

2.5 Sei7l1ão Sobre o Devere/e Mandaras Filhos à Escola (j530)<br />

o ape] o de 1524, endereçado aos prefeitos alemães, teve um sucesso<br />

relativo. Cidades como Magdeburg, Nordhausen, Haiberstadt e Gotha responderam<br />

positivamente. Eis]eben, sua cidade natal, e Nürnberg, atenderam-no<br />

em ]525 e 1526 respectivamente.<br />

~J\pesar disso, muitos pais seguiam firmes na intenção de não enviar<br />

seus filhos à escola. Lutero tendo conhecimento disso, já em 1529, no prefácio<br />

do livro de seu amigo Justus Menius, Oeconomia Christiana, demonstra<br />

a sua preocupação quanto a este assunto e declara que no futuro trataria<br />

do mesmo mais especificamente num livro.<br />

No verão europeu de 1530, em junho e julho, no Castelo de Coburg,<br />

durante a dieta de Augsburgo, Lutero escreveu o manuscrito que ficou conhecido<br />

como o Sermão Sobre o Dever de Mandar os Filhos à Escola. A<br />

sua carta dedicatória do sermão ele dirige a Lázaro Spreng1er, síndico da<br />

cidade de NÜrenberg. Nela, preocupado diante da possibilidade de haver,<br />

apesar dos esforços do mesmo, pessoas que dessem mau exemplo afirmando<br />

que para seus filhos bastaria que soubessem ler em alemão e fazer COTItas,<br />

ele afirma:<br />

Toda comunidade, e especialmente uma grande cidade, precisa ter<br />

outras pessoas além de mercadores. Deve haver pessoas que saibam<br />

fazer mais do que simplesmente somar e subtrair, e ler em<br />

alemão. Livros em alemão são feitos a princípio para o homem<br />

comum ler em casa. Mas para pregar, governar e administrar justiça,<br />

tanto no Estado espiritual como no material, todo o ensino e<br />

línguas no mundo são pouco, quanto mais somente o aJema.o.<br />

(Lutero, 1967, 1529-1546, p. 123)<br />

No prefácio, dirigido aos pastores, Lutero pede-lhes para que continuem<br />

insistindo junto aos pais para que não descuidem da instrução da<br />

juventude. Para ele o dever de adrnoestar, exortar e aconselhar para que a<br />

educaçÜo dos jovens nÜo seja negligenciada é tarefa essencial dos pastores<br />

e por isso ele apela aos mesmos para que dêem seu apoio a fim de encorajar<br />

os pais a fim de que continuem a enviar seus filhos à escola e sustentar<br />

- 45 -


sores~ Lutero responsabiliza os pais e afirrna que é dever cristão dos rnesaqueles<br />

lnestres-escolas honestos e virtuosos qüe buscavarn educar os seus<br />

filhos de r;'llaneira digna e honrada (p. ] 26).<br />

N o seu serrnão propriamente dito, Lutero fala da inlportãncia de se<br />

fornlar ministros religiosos; cultos~ conhecedores da Pala'vTé1 de Deus. Ele<br />

pergunta onde serão buscados tais hornens se naquele rnornento nern 4000<br />

alunos estavan1 estudando em rneia AJelTlanha, l\Jérn disso~ onde encontrar<br />

pessoas capazes para ocupar postos de liderança no governo secular; nos<br />

cursos de rnedicina, ad'v'ocacia e assim por diante? i\lérn de responsabilizar<br />

o governo secular para que se rnantivessenl boas escolas C01Ti bons profes­<br />

n105 enviá~los às escolas para que ti\leSSe rnédicos~ pregadores e juristas.<br />

Deste 111odo ele rnostrou quão llTlportLlnte era o papel da educação para ~1<br />

continuidade da existência da Igreja e da própria sociedade.<br />

Neste rnesrno serrnào L,utera enaltece a figura do professor ao falar<br />

sobre a tarefa de ensinar. Ele afirITlou sobre o assunto:<br />

pregar~ este é o lnelhor, maior e rnais Útil oficio que existe. (Lüte-<br />

ro, 1967, 1529-1546, p. 161)<br />

guém que fielrnente treina e ensina rnerl1110S adequadarnente<br />

recompensado ou pago em dinheiro r~~TGentanto, este trabalho é<br />

vergonhosamente desprezado entre n6s como se nào valesse nada.<br />

E ainda nos chamamos cristãos Se eu pudesse deixar o rneu ofício<br />

de pregador e rneus outros deveres~ ou fosse. obrigado a fazê~,<br />

!O~não existe outro ofício que , eu -proclIraria a não ser o de. rnestre-<br />

escola ou professor de menirtos; porque eu sei que próximo ao de<br />

No final de seu serrnão Lutero dá a entender qUê as<br />

alegria e prazer (Lutero, 1967,1529-1546, p.<br />

Eu quero simplesmente dizer com brevidade que jarnais o trabalho<br />

de Ulll l11estre-escola ou diligente e correto~ ou alautorIdades<br />

nbanl o direito de obrigar os pais que não queriarn atender a este deverG a<br />

enviar seus filhos à esco1a (Lutero, 1967, ]529-1546, p. 164), Também<br />

1TIOstraque é dever da igreja e dos ricos de providenciar auxílio financeiro<br />

para que seja dada a educação aos meninos pobres, e que Deus teria nisto<br />

- 4f1 -


2.6 Outras Obras L/e Lutero<br />

o Dr. Nestor Beck ern seu livro Igreja? Sociedade & Educação<br />

(Beck" I988~ p. 90) aponta para outros escritos de Lutero onde ele enfatiza<br />

a necessidade da educaçào da mocidade e do povo alemão em geral. São<br />

cItados por ele corno recursos didáticos e estímulos para as grandes reforrnas<br />

educacionais qlle visavarn a recuperação da própria Igreja e da sociedade<br />

de entào o prefácio à Yv1issaAlemã de 15267 o prefácio à obra de Filipe<br />

Jvlelanchton entitulado Instruções dos Visitadoresj de 1528, o<br />

Enchiridion: Pequeno Catecismo para e Pregadores elTI Geral, de<br />

1529. o Catecisrno i~Jernão. ÜUTibén1 de 1529, e a própria Bíblia Alemã,<br />

cuja traduçào fOl cOinpletada flor Lutero enl 1534.<br />

2.7 O<br />

:rJUI11a época errl que existia urna Alemanha que era explorada l1npiedosarnente.<br />

por taxas abusi\/as que eram en'viadas aos cofres da Igreja eul<br />

R_o 11:1(1,L,utero1 111ai5 do que. - qualquer - - outro~ reconheceu os erros doutriná-<br />

nos que fizeran1 carn que a Igreja se tornasse na potência que era e que<br />

t1v'esse o poder que tinha; doutrinas que contribuirarn para o estado de coisas<br />

ern que se encontra\/â a sua pátria.<br />

Reconheceu ele que parte daquilo devia-se à forma corno o povo era<br />

educado. Sabia que ha\/ia, prerI1editadarnente ou não, ur.n descaso para com<br />

o estudo E-scrituras Sagradas. Onde não houvesse conhecimento da<br />

Pala\lra de<br />

poder-se-ia ensinar qualquer coisa como sendo tal e, certan1ente,<br />

nadtl contestado. El11<br />

disso Lutem cria que a transfor-<br />

rnação da sociedade, sua conscientizaç-ão e reconhecimento a respeito ào<br />

que Deus dizia ern sua Palavra, a Bíblia, teria que passar obrigatoriamente<br />

lJelos bancos da escola.<br />

p.~proposta de reforrna das uni'versidades que ele trazia tinha ero seu<br />

bojo esta U111 povo que conhecesse em primeiro lugar as<br />

Escrituras. o sentido de suas palavras nas línguas originais, naturalmente<br />

traria beneficios à causa de Deus, sua Igreja; e à própria sociedade .


,<br />

Douglas Moacir Flor,~ em seu artigo "A Igreja Luterana e a Educação",<br />

ao C0111entar a preocupação e. o zelo que Lutero expressou pela educação<br />

enl 1524 na sua Carta Aberta, afirmou que o rnesrl10 argumenta en1<br />

favor dos estudos clássicos com vistas à formação de lideranças para a Igreja<br />

e o Estaào e que ele caracteriza a educação como obra do amor cristão<br />

que atende às necessidades individuais e coletivas dos seres hurmmos (Kuchenbecker,<br />

1996, p. 93). Ele também diz que a !T1iliorcrítica de Lutem foi<br />

quanto à falta de escolas cristàs nas quais os jovens deveriam encontrar a<br />

verdadeira educação e os valores adequados para a vida (Kuchenbecker,<br />

1996, p. 94). Chan1Ll a atenção ainda para a visão futurista que Lutero tinha<br />

ao tecer os seguintes cOfnentários:<br />

Ele afirma a irnportáncia da educação para o progresso de U1TIa<br />

cidade dizendo que esse progresso não depende apenas do<br />

acúrnulo de grandes tesouros, da construção de nluros~ de casas<br />

bonitas~ de rnuitos canhões e da fabricação de muitas arnladuras.<br />

Antes de tudo isso; o lnelhor e mais fico progresso para UITla cidade<br />

é quando possui homens bem instruidos bern instruídos,<br />

n1uitos cidadãos ajuizados, honestos e bem-educados. A partir<br />

disso, estes poderian1 aculTIular, preservar e usar corretarnente riquezas<br />

e todo o tipo de bens" (!


mana pelo amor decorrente da fé" (Beck, 1988, p. 92). E esta é a base, sólida<br />

e firme, que a partir de Lutero vem a constituir a Filosofia Luterana da<br />

Educação que, em maiores detalhes, passaremos a descrever no próximo<br />

capítulo deste trabalho.<br />

3. A Filosofia Luterana d.e Educação<br />

3.] Por que Filosofia Luterana de Educação?<br />

Para podermos falar de uma Filosofia de Educação precisamos primeiramente<br />

responder à pergunta: O que é filosofia? Marilena Chaui, na<br />

introdução de seu livro Convite à Filosofia, ao explicar o que ela é, deixa<br />

claro que não existe apenas uma definição para a mesma, mas várias. Por<br />

isso ela apresenta quatro definições gerais que seguem sumarizadas.<br />

Na primeira ela mostra que filosofia é a visão de mundo de um povo,<br />

de uma civilização, de uma cultura. Ela diz que a filosofia<br />

corresponde. de modo vago e geral, ao conjunto de idéias, o mundo<br />

e a si mesmo, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado<br />

e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o<br />

verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o<br />

necessário. (Chaui, 1995, p.lO)<br />

Na segunda definição ela demonstra que filosofia é sabedoria de vida.<br />

Aqui ela explica que a filosofia "é identificado. com a definição e a ação<br />

de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação<br />

do mundo para aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas de modo<br />

ético e sábio" (Chaui 1995, p. 16).<br />

Na terceira ela assegura que a filosofia é o esforço racional para conceber<br />

o universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Aqui<br />

há uma distinçào, segundo a autora, entre filosofia e religião e até mesmo<br />

uma oposição pois "ambas possuem o mesmo objeto (compreender o Universo),<br />

mas a primeira o faz através do esforço racional, enquanto a segunda,<br />

por confiança (fé) numa revelação divina" (Chaui, 1995, p. 16) .<br />

Na última Marilena Chaui procura demonstrar que a filosofia e a<br />

fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas, isto é,<br />

descreve a filosofia como uma análise das condições da ciência, da religião,<br />

- 49 ~


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para conhecer-se enquanto capacidade p2:-ra () conhecirnento; o ser~time.ntQ e·<br />

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norma correta do conhecimento reiigioso e da verdade e como a revelação<br />

inspirada dele mesmo, de sua natureza, de suas intenções e propósitos, de<br />

sua vontade e das suas relações com o seu povo e o mundo.<br />

Além disso a 19reja Luterana crê que Deus criou todas as coisas, estando<br />

inclusa a criação do homem. Este foi criado à sua imagem, isto é, ser<br />

perfeito e imortal. Através do pecado da desobediência, porém, ele perdeu<br />

este estado de perfeição e encontra-se desde então em inimizade com Deus<br />

e sob o seu julgamento e condenação.<br />

Embora o homenl nada merecesse, Deus, por amor, providenciou um<br />

meio através do qual concede ao homem perdão e, conseqüentemente, paz<br />

e vida. Esta providência é chan1ada na teologia luterana àe Hgraça divina';;,<br />

isto é. o amor sem limites de Deus que lança o castigo sobre Jesus Cristo e<br />

aceita como seu filho todo aquele que arrependido confia neste ato salvífico.<br />

Esta salvação conquistada por Jesus Cristo através de sua rnorte<br />

substitutiva e de sua ressurreição:; que torna-se propriedade do ser hurnano<br />

quando este crê (tem fé), é a força motivadora que age no cristão ao ponto<br />

de ele colocar-con1o aivo de süa vida viver para a honra e glória do próprio<br />

Deus. Neste vi\'er ele busca a perfeição no curnprirnento dos seus cl1andalnentos~<br />

atn.l'vés dos quais denlonstra que arna a Deus acinla de tod,-lS as<br />

coisas e ao próximo COlT10 a si mesmo,<br />

Apesar de não alcançar a perfeição aqui no mundo (ela só será completa<br />

na eternidade, após a segunda vinda de Cristo e a ressurreição que<br />

naquele dia haverá de acontecer), o cristão prossegue para este alvo confiando<br />

que Deus, por causa de Cristo, lhe perdoará as imperfeições e lhe<br />

concederá unI dia U111corpo e mente perfeitos; para uma vida sern fim ao<br />

seu lado nos novos<br />

céus e terra que por ele serão criados.<br />

3.3 0.\' O~j(!tiv()s (10 Filosqf'ia Luternna rle Educoçào<br />

A Igreja Luterana está consciente de que nenl todos os alunos que<br />

procl1rarn suas escoias são cristztos. Apesar de que rnuitos não crêenl no<br />

salvador Jesus; a Igreja Luterana crê que os descrentes estejanl debaixo do<br />

governo di'v'ino tanlbénl. Eles rénl necessidade de conhecer a vontade de<br />

Deus que, em Últin1Ll aná1ise~ reSUlne-se na vontade que ele tenl de que eles<br />

sejanl igualn1ente salvos e ViVZllTIpara a sua honra e glória, servindo-o e ao<br />

seu sernelhante. Mesrno que não creian1 em Deus e no seu e\'angelho~ de<br />

- 52-


acordo com o Dr. Nestor Beck, a educação cristã terá por finalidade para<br />

com os descrentes<br />

..,preservar e fomentar as condições e bens favoráveis à educação,<br />

portanto terá por alvo formar o homem como pessoa moral e racional,<br />

que faça uso da razão para promover o bem próprio e dos<br />

outros, Será o homern que saiba gerir a própria vida, prover o<br />

próprio sustento pelo trabalho e participar da gestão da coisa pública,<br />

Será, pois, o homem capaz de conduzir-se honradamente na<br />

família, na economia, na política, nas artes, (Beck, 1988, p. í 02)<br />

Quanto ao cristão, o Dr. l"'Testor Beck afirma que a educação, através<br />

da ação renovadora do Espírito Santo, terá por finalidade consolidar e expandir<br />

o Reino de Deus entre os homens e que o alvo da mesma será o homem<br />

que, tendo ouvido a pregação de arrependimento, reconhece e crê que<br />

Deus o absolve e aceita por amor de Cristo, passando a servi-!o, de acordo<br />

com os mandamentos, nas funções em que Deus o colocou na própria sociedade<br />

(Beck, 1988, p. 101-103).<br />

A Igreja Luterana, através de sua filosofia de educação, tem por<br />

objetivo, portanto. preparar pessoas para a vida, confrontando-as com o<br />

evangciho de Jesus Cristo. E!a crê que o educando descrente, ao ser<br />

confrontado com ° mesmo, pode vir a ser transformado em um cristão e ser<br />

motivado pelo amor de Deus a uma vida de serviço onde, ao invés de ser<br />

egoísta, buscará a honra e glória de seu criador e o bem-estar do seu<br />

semelhante através de sua própria vocação. E quanto ao cristão, a Igreja<br />

Luterana crê que ele, através da confrontação constante com o evangelho<br />

que revela a graça salvaàora de Deus, terá fortalecida a sua fé e continuará<br />

a receber motivação para que continue a viver uma vida de serviço a Deus e<br />

ao seu próximo.<br />

4. Os Agentes da Educação Lute:rana<br />

4. j EnUl11eroçÜo cios Princip{lis ,4 gentes<br />

Certamente que existem muitos outros agentes da educação. Por e­<br />

xelrlplo~ urn dos que não rnencionaren1os é o próprio professor. No entanto,<br />

julgamos que não seja necessário que aqui seja aberto Ulll espaço especial<br />

para falar de sua importância que também foi reconhecida pelo próprio<br />

- 53 -


T utero 6 I\Tos det{:\n::'~'1r\ç,l?ír\ :·'r:1llent'-.. nrJ" CP1P '·'p~r:ec· A f~mn-i'1 '1 -)rórT1~<br />

L.-I _l. ~. ~ '-- _,,-,_,--,lI_vL, v '::h.-,~__ ~ç; _4'0::' "':lu.•.•..:'::•.•.. ts ..... llu ~ ~.".d~d-,-"U, u! -"- jJ-"d),<br />

igreja e a escola cristã. p."A respeito desses agentes pretendemos dissertar<br />

neste<br />

capítulo,<br />

4.2 i:1 F{unflin<br />

Já destaCa1110S que lvlartinh.o L.utero deixou berl1 claro era ';fúrias OCâsiões<br />

que aos pais cabia educar de rnaneira cristã os seus filhos. São eles, na<br />

sua opinião, substitutos e representantes de Deus e cabe-Ines dar aos filhos<br />

a educação (Li\TO de Concórdia, Catecisrno Maior l, 4.0, 108).<br />

}~pesar de a farnÍlia estar atua1rnente sob suspeita devido à alta taxa<br />

de separações. onde ainda irnperar o arDor e houver aqu.ilo que Lutero tanto<br />

queria, isto é, a instrução na Palavra de Deus, ali terernos a influência positiva<br />

que<br />

A ADais DoderT1exercer<br />

A<br />

com sua conduta e ,/ida sobre seus -fiihos.<br />

AJénl disso, IJode-se ainda observar na nlaioria dos iares cristãos,<br />

1.0) U111boni relacionarne.nto entre pais e filhos; 2.0) corno resultado p05iti­<br />

\/0 o relacionafTlento dos filhos corn o seu seme1hante decorrente da autoridade<br />

que pais exercern sobre os lTIeSrnOS de maneira responsável; 3.0) a<br />

confiança que a rnaioria dos filhos têrn nos ; 4.0) as situ.ações naturais<br />

de aprendizagern<br />

que ar são encontradas.<br />

lJrn lar está\/el, harnlonioso, onde cada integrante conhece suas li1'nitações~<br />

onde o ,unor é compartilhado em sua plenitude através de atos nos<br />

quais rnajs inlportante que receber é dar; onde o perdoar e o pedir perdão<br />

são buscados~ onde o que vale é estender 1.111"1 ao outro a 1118.0 para que 8.conteça<br />

a reconciliação, este é o lugar ideal onde a educação deve iniciar. E, no<br />

entender de Lutero~ esta educação de'\/e ter sua base extraída dos princípios<br />

divinos ensinados pela Bíblia Sagrada.<br />

o Senhor<br />

T L:l.C11 c<br />

J\"-·L)U,,) Cristo, antes sua subida aos ceus, dIsse:<br />

"~... fazei discípulos de todas as nações, batIzando-os ern norne do Pai e<br />

- -<br />

do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que<br />

(. Lutero afirnlOU que se não Cosse !111nistro religioso, certalllcntc seria rnestre-esco!a. Ell1<br />

seu sernlJ.o de 1530, sobre o "'De"ver de IVlandar os Filhos à Escola" afinnou: "l'-Jão há recon1pensa<br />

que faça justiça. ncn1 dinheiro que pague U111professor ou 111estre piedoso e aplicado<br />

que educa c in:-:.trui fiellnenle os lneninosll•<br />

- 54-


eu vos tenho ordenado" (Mateus 28.19-20). Neste texto bíblico encontrase<br />

a fundamentação para uma das grandes tarefas da Igreja de Cristo na<br />

terra: o ensino. O Dr. Martim \Varth afirmou a esse respeito:<br />

A Igreja, que é a comunhão dos pais e filhos cristãos, reconhece<br />

que o verdadeiro 'ensino do sábio' que é 'fonte de vida' é o ensino<br />

do amor de Deus em Jesus Cristo. Nesse sentido ajuda os pais<br />

a ensinarem os seus filhos a orarem ao Pai Celestial; a amarem o<br />

Salvador Jesus, e a viverem uma vida de amor na família e na<br />

comunidade em que vivem. (Warth, j 986).<br />

Esta tarefa educacional, confiada à Igreja, é por ela desenvolvida no<br />

meio luterano através do culto público onde se realizam leituras bíblicas e a<br />

pre2:acão - L-.:> da Palavra através do serrnão. Além disso existe o ensino sistemá-<br />

tico que acontece através do estudo do Catecismo, tanto aos infantes ou<br />

adolescentes bem como aos adultos que desejam ingressar na Igreja. Convém<br />

lembrar que a Igreja Luterana divide parte de seu trabalho em setores<br />

chamados de departamentos (casais, senhoras, homens; jovens, crianças, idosos),<br />

nos quais, primordialmente, o encontro acontece ao redor do ensino ou<br />

estudo da Palavra de Deus.<br />

4.4 A Escola Cristâ<br />

Lutero queria escolas cristãs para o seu povo. A escola, pública ou<br />

particular, deveria preparar crianças e adolescentes para a vida, aqui e na<br />

eternidade. Para que esse objetivo fosse alcançado era imprescindível que<br />

na escola acontecesse o estudo da Bíblia Sagrada em todos os níveis.<br />

Vivemos numa sociedade pluralista onde, além de existirem as mais<br />

diferentes ideologias políticas, também encontrarrl-se religiões contrastanteso<br />

Em razão disso, embora gostaríamos que na escola pública houvesse<br />

ensino religioso qualificado na Palavra de Deus, temos consciência de que<br />

cabe à Igreja nlanter escolas onde, além de urna educação secular com qual,<br />

1" '\ -" ,-, . " - T'\ N B' 7<br />

_waCie, ensma-se o evangeL10 de jesus L.nsto. ,:;egundo o 0r. estar eCk,'<br />

a escola cristã é aquela que<br />

, Nestor Beck. dissertou sobre o tema "Lutem e a Educa~'ão Cristã da Juventude" durante o<br />

XV! Congresso Nacional da Juventude Evangélica Luterana do Brasil em Lajeado. RS, em<br />

2-1-de janeiro de ]983.<br />

- 55 -


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para. re.sgatar<br />

0-; q~j:: eSIa~,:~,:UTl 8Gb a IC.l-::<br />

a fim de que<br />

que. a InstarEi tem CCHTIGcenIro a. encarnaçãc do Pilhe: e C{)lllGa1-<br />

I2:relCi uma esccda"<br />

('C"':::: ~ -intpnr-~'r~ :-i:-.." p'r~l:.'-'


Assurnindo a culpa do hornem, pagando com sua vida o preço do seu resgate.<br />

ele o sal vou,<br />

A Igreja Luterana crê que todo aquele que confiar nesta morte substitutiva<br />

de Cristo, de acordo com as promessas da Bíblia, é perdoado e também<br />

aceito por Deus como seu filho, e que mesmo que venha a morrer,<br />

ressuscitará no dia do retorno de Jesus para uma vida sem fim.<br />

A Igreja Luterana crê que todo o que confia em Jesus, como resposta<br />

ao seu amor, vive, não enfurnado num mosteiro, mas junto à sociedade,<br />

uma vida nova através da qual, fazendo uso de sua razão, se conduz honradalTIente,<br />

servindo<br />

ao próprio Deus e ao seu sernelhante.<br />

Diante disso a Igreja L.uterana crê que seja uma de suas tarefas primordiais<br />

ensinar, educar, para que os propósitos de Deus - a salvação do<br />

homem e uma vida de serviço deste homern redimido a Deus e ao próximo<br />

- sejam alcançados. Na visão do Df. Nestor Beck, a educação deveria ter<br />

por alvo<br />

...formar o homem como pessoa moral e racional, que faça uso da<br />

razão para promover o bem próprio e dos outros. Será o homem<br />

que saiba gerir a própria vida, prover o próprio sustento pelo trabalho<br />

e participar da gestão da coisa pública. Será, pois, o homem<br />

capaz de conduzlr-se honradarnente na falní1ia, na economia, na<br />

política, nas artes. (Beck, 1988, p. 102)<br />

Para isso, a partir das doutrinas que Lutero extraiu da Bíblia, ela procura<br />

pelo ensino da Bíblia Sagrada, educar o ser humano. E este seu objetivo<br />

ela procura alcançar, de uma maneira bem especial, através da criação e<br />

manutenção de escolas cristãs.<br />

Na introdução deste trabalho colocamos a nossa preocupação na pergunta:<br />

educar para que fim? Diante de tudo o que analisamos até agora,<br />

cremos que podemos dizer que o grande objetivo seja educar para a liberdade.<br />

Contudo, também cremos que para educar para a liberdade é imprescindível<br />

educar o homem na Palavra de Deus onde está registrada esta a­<br />

firlTlação de Jesus Cristo, o Mestre dos mestres: "Se vós permanecerdes na<br />

minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade<br />

e a verdade vos libertará" (João 8-31-32).<br />

Esta é a Filosofia L4uterana de Educação. Ela tem um manual: a Bíblia<br />

Sagrada. Ela tcm um objetivo: confrontar o educando com esta Palavra<br />

c;, 7<br />

- ~) t -


para que seja tocado e movido pelo amor de Deus, em Jesus Cristo, li uma<br />

vida de ser\/iço a Deus e à sociedade em que vive.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BECK, Nestor. Lutero e a Educação C17Stã da Juventu(le. In: Congresso<br />

l'~acional da Jüvelltude Evangélica Luteran3. do BrasiL<br />

1983, Lajeado.<br />

BECK~ Nestor, Igreja, Socz'e(la(le & Educação: Estuclos elII Torno ele<br />

Lutem. Porto Alegre: Concórdia, 1988.<br />

BOSI~ Alfredo. Filoso.t'ia {ia E{litcação Bro.sileira" Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1985.<br />

CHAUI~ IvIarilena. COlfi/ite à Lr;'ilosofia. São Paulo: P~.tica, 1 qq,ç;<br />

JAHSlvlANl'J, Allan H. Filosoj"ia [,uterana ela Eclucação. Trad, r~/lartinha<br />

Lutero Hoffmann. Porto Alegre: Concórdia, 1987.<br />

KUCHENBECKER, VaIter. (coard.) O Homem e o Sagrado,' A Religiosidade<br />

A través dos Tempos. Canoas: ULBRA, 1996.<br />

L...i TJFRO v ~ ~ ,t'e f'o'lc'ó",/'i(J' '1../ /1 ~ fl- ~. Â ~) {'r"l1f'i~";:'J" ,---u.: 0 ..::.... .J~l...:'


A IELB E O APROVEITAMENTO<br />

DE CANDIDATOS NÃO MINISTERIAIS<br />

lvonelde SepÚlveda TeixciIU<br />

Introdução<br />

o ensino teológico é de fundamental importância para o sustento e<br />

crescimento da igreja. Na realidade da Igreja Evangélica Luterana do Brasil<br />

(IELB), o ensino teológico é indispensável para a formação de pastores.<br />

Por conseguinte, pessoas consagradas têm recorrido aos seminários para<br />

fazerem o curso de teologia. Dentre essas pessoas. há aquelas que não querem<br />

ou não podem tornar-se pastores, O primeiro caso diz respeito aos<br />

homens que alegam não ter o dom para tal e o segundo, são as mulheres.<br />

Em ambos os casos, há o interesse por conhecimentos bíblicos mais aprofundados<br />

e a disponibilidade de atuar no serviço missionário da igreja. ,<br />

Ocorre que, quando tais candidatos não ministeriais ingressam no<br />

bacharelado em teologia, nem sempre são aproveitados posteriormente para<br />

o trabalho da igreja e, quando o são, não recebem o salário digno de todo o<br />

trabalhador. Por causa disso, não tendo o reconhecimento de sua qualificação.<br />

têrn de buscar o seu sustento em outras atividades, podendo dedicar<br />

apenas uma parte diminuta e sacrificada de seu tempo àquilo para o que<br />

estudaram e se formaram.<br />

Em vista desses casos serem cada vez mais presentes na IELB, as<br />

páginas seguintes procurarão estudar esta problemática, partindo-se de uma<br />

apreciação do relacionamento entre ensino teológico e missão e, daí, enfocando<br />

mais de perto a figura dos teólogos não-pastores. Num momento<br />

final, serão sugeridos uma nomenclatura a estas pessoas, bem como maneiras<br />

de integrá-Ias mais eficazmente no trabalho da igreja.<br />

A missão<br />

é de todos<br />

Em Mateus 28. j 8-20, vemos que toda a igreja deve estar envolvida<br />

no trabalho de levar a salvaçào para toda a humanidade. Todos são convi-<br />

Bacharel em teologia. terminal idade em educação cristão. da Escola Superior de Teologia,<br />

São Paulo. SP.<br />

- 59 -


dados a trabalhar - ricos, pobres, feios, bonitos, altos, baixos, letrados, analfabetos,<br />

hornens, mulheres, etc, As pessoas cristãs são instrumentos de<br />

Deus e luz do mundo (Mateus 5.16-21).<br />

Q .. - " - / / / " . d D A<br />

}ualquer crlstao, na conG!çao em que esta, e utl1 ao re1TIO e i eus. _\<br />

pessoa rnais humilde pode ser urn(a) missionário(a)~ urn(a) evangelista.<br />

Deus faz uso das pessoas sem levar em conta sua capacidade mental ou<br />

física. A forrnação teológica nào é pré-requisito para atuar como instru.mento<br />

de Deus na salvação do mundo. rrodavia, Deus instituiu o ofício sacerdotal<br />

a fim de que o seu povo fosse instruído nas verdades bíblicas e no meio<br />

do mesmo os sacramentos fossern ministrados.<br />

Além de pastores, o reino de Deus precisa de professores, mestres e<br />

doutores que auxiliem os pastores e ensinem a palavra divina de maneira<br />

pura. Esses professores, mestres e doutores são lTIUitO importantes na instrução<br />

dos nO\lOS cristãos e no preparo de líderes e futuros pastores. l\ igreja<br />

é grata a esses conhecedores e defensores das \/erdades cristãs, os quais<br />

Deus verI1 colocando no mundo desde longas datas, a saber, no j.\ntigo Testalnento,<br />

no Novo Testalnento, na época da ReforlTla, etc,<br />

O grupo de teólogos que lutou no período da Reforma para que a palavra<br />

de Deüs fosse pregada e111 toda a su.a pureza não era formado só por<br />

pastores. Em seu meio achamos pessoas como Filipe l\/Ielanchton, que era<br />

versado enl teologia, grego, retórica e direito.<br />

O proveito do estudo de teologia não deveria ser apenas pessoal, mas<br />

a formação teológica deveria ter um benefício coletivo. A igreja deveria<br />

tirar um proveito positivo destes homens e mulheres que se dedicam ao<br />

estudo da Bíblia. O estudante de teologia deveria ser utilizado na roissão de<br />

maneira mais intensa. Essas cabeças cristãs que, de quando em quando,<br />

surgenl ern nosso rneio, deveriam ser "agarradas com unhas e dentes'\ pois<br />

as lnesrnas podem ser müito úteis no Reino de Deus.<br />

o ensino teológico<br />

na IELB c suas tcrminaHdades<br />

São várias as passagens bíblicas que apontam para o valor do estudo<br />

da palavra de Deus, bem como o ensino da mesma. üm exemplo é Provérbios<br />

22.6: '~Ensina a criança no caminho enl que deve andar, e, ainda quando<br />

for velho, não se desviará dele.'; A função de ensinar é de grande responsabilidade.<br />

O teólogo, como qualquer cristão, terá que prestar contas a<br />

Deus. Provérbios 14.35: "O servo prudente goza do favor do rei, mas o qüe<br />

- 60-


.~ ._,li<br />

procede indignamente é objeto do seu furor." O benefício que o teólogo<br />

proporciona à comunidade cristã é como o proporcionasse ao próprio Deus .<br />

Mateus 25.40 diz: "O Rei, respondendo, Ihes dirá: Em verdade vos afirmo<br />

que. sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o<br />

fizestes.<br />

Deus promete reC0rI1penSar a todos que fazem o bem aos seus seguidores.<br />

Mateus j 0.42 promete: "Lembrem-se disto: Quem der ainda que seja<br />

um copo de água fria ao menor dos meus seguidores, porque este é meu<br />

seguidor, com toda a certeza receberá a sua recompensa." (BLH)<br />

A Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo<br />

reconhece a importância do ensino teológico. A prova disso encontramos<br />

no Catálogo Acadênlico 1997-1999, em que lerDos:<br />

O propósito específico para o qual foi criada a Escola Superior de<br />

Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo é formar pastores e<br />

~hreil'oç 'luxi1iares ~~~ ~ -•. __ par1(.~,-, 0. trabalho __' __ p~ lU io-reJ"l b , . j<br />

v J.<br />

Os cursos oferecidos pela Escola Superior de Teologia são os seguintes:<br />

Curso de Teologia (com bacharelado em Ministério Pastoral<br />

e em Educação Cristã) ... 2<br />

Este curso confere o título de Bacharel em Teologia e forma pastores<br />

para a Igreja Evangélica Luterana do Brasi!, especialmente<br />

habilitados para o trabalho missionário, Tem a duração de 5 anos,<br />

um dos quais é o ano de estágio. Para quem deseja estudar teologia<br />

sem tornar-se pastor, incluindo as vocações femininas, a EST<br />

oferece, paralelo a este, o Curso de Teo!ogia com especialização<br />

em Educação Cristã. O pré-requisito para ingresso neste curso é<br />

• " d ~ , • 3<br />

ter o uegun 10 lJf3-U complelo .<br />

O curso de Teologia conduz o aluno a duas terminalidade distintas:<br />

Bacharelado em Teologia - Ministério Pastoral e Bacharelado<br />

em Teologia - Educaçã.o Cristã. A terminalidade Ministério visa<br />

formar pastores especialmente habilitados para o trabalho paroquial<br />

e missionário. A terminalidade Educação Cristã visa formar<br />

professores de Educação Cristã para escolas de ! o e 20 Graus, que<br />

j Catálogo acadênl1co da Escola Superior de Teologia, p. 8.<br />

2 Catálogo acadêmico da Escola Superior de Teologia. p. 12.<br />

.~Cat{dogo acadêlnico da Escola Superior de Teologia, p. 12.<br />

- 61 -


estejam habilitados a dirigir e executar o programa de educação<br />

cristã tanto em congregações como em escolas. As exigências<br />

quanto ao número de créditos necessários em ambos os cursos são<br />

semelhantes sendo que a diferença se verifica em determinadas<br />

disciplinas do currículo. Ambas as terminalidades formam Bacha-<br />

, ~ I . 4<br />

rei em 1eo agia.<br />

Nos Estatutos, Regimento ~ e Códiçao de Ética Pastoral da !ELB < 00-<br />

demos observar a preocupação da Igreja Luterana em dar continuidade ao<br />

ensino teológico, visto que o mesmo forma a liderança da IELB. Eis alguns<br />

artigos do estatuto que demostram o interesse que a Igreja Luterana tem em<br />

pregar o e\!angelho, enl forlnar lideres e lnantê-los:<br />

Art. 4° - A igreja tem por fim propagar o evangelho de Jesus Cristo<br />

por meio da palavra, do livro, do jornal, do rádio e outros meios<br />

condignos.<br />

Art. 5° - Para cumprir com sua finalidade:<br />

A - a IELB<br />

a) formará pastores, professores, diáconos, evangelistas e outras<br />

categorias de obreiros;<br />

b) organizará e manterá escolas de todos os níveis, instituições<br />

missionárias e promoverá cursos de treinamento;<br />

c) produzirá e distribuirá livros e material religioso, fundando e<br />

mantendo entidades com essa finalidade:<br />

d) organizará e manterá serviços de assistência social, tais como<br />

asilos, orfanatos, hospitais, creches e outras entidades congêneres;<br />

e) adquirirá ou locará estações de rádio, televisão ou outros equipamentos<br />

de comunicação;<br />

Art. 70íII - Promover cursos, congressos, incentivar cultos evangelísticos<br />

e colaborar com os Educandários Oficiais da !ELB para<br />

um efetivo preparo evangelfstico dos atuais e futuros obreiros.<br />

Art. 70/IV - planificar as necessidades humanas e financeiras que<br />

a expansão missionária requer a curto e longo prazos.<br />

Art. 7líI - incentivar e assessorar todos os organismos, congregações,<br />

instituições e obreiros da IELB na criação e prestação de<br />

serVIço SOC1aIS;<br />

I<br />

- Catálogo acadêmico da Escola Superior de Teologia, p. 19.<br />

- 62-


Art. 7] /IV - dar especial atenção ao amparo dos obreiros necessitados<br />

e suas famf1ias;<br />

Art. 7] /VII - zelar pela inscrição dos obreiros e seus familiares<br />

em instituições de previdência e saúde e incentivar as congregações<br />

a custeá-Ias integral ou parcialmente.<br />

Art. 73/1 - criar, manter e incentivar a criação de estabelecimentos<br />

de ensino em todos os níveis, dentro da filosofia cristã-Iuterana e<br />

em consonância<br />

com os objetivos da !ELB;<br />

Art. 73/1V - manter prontuário de pessoas habilitadas no campo<br />

da educação, colocando-os à disposição da !ELB;<br />

Art. 73/V1 .. planejar o recrutamento de estudantes aptos para o<br />

futuro exercício do ministério, magistério e diaconia na !ELB, e<br />

fiscalizar a execução desses planos;<br />

Art. 73/Vll - providenciar recursos para bolsas de estudos para<br />

alunos e obreiros, elaborar critérios de concessão e fiscalizar a<br />

execução desses critérios;<br />

Art. 73/IX - estimular e aprovar programas de estudos especiais e<br />

de pós-graduação para obreiros e leigos, em entendimento com os<br />

Conselhos Administrativos dos Educandários Oficiais da !ELB;<br />

Art. 73/X - estimular e apoiar candidatos a programas de pósgraduação<br />

no Brasil e no exterior.<br />

Art. 96 - Ministro Auxiliar é aquele formado pela !ELB, através<br />

de seus Educandários Oficiais, para servir como auxiliar dos pastores,<br />

em harmonia e sob a sua supervisão.<br />

Art. 97 - São considerados ministros auxiliares: Diáconos em E­<br />

em Serviço Social e em Músi­<br />

ducação Cristã, em Evangelização,<br />

ca.<br />

o Dr. Martinho Lutero por várias vezes lutou pela educação das crianças<br />

e dos jovens. Nos trechos que seguem, veremos o quanto Lutero estima<br />

a educação e o ensino, ficando no dilema entre lecionar e pastorear:<br />

Por isso vos imploro a todos, meus caros senhores e amigos, por<br />

amor de Deus e da pobre juventude, que não considereis esta causa<br />

de somenos importância, como o fazem muitos que não enxergam<br />

a intenção do príncipe do mundo. Pois se trata de uma causa<br />

séria e importante, da qual muito depende para Cristo e para o<br />

mundo, que ajudemos e aconselhemos a juventude. Isso é a solu-<br />

- 63 -


ção também para nós e para todos. E tende consciência de que este<br />

ataque silencioso, secreto e traiçoeiro do diabo pode ser<br />

combatido somente com profunda seriedade cristã. Caros senhores,<br />

anualmente é preciso levantar grandes somas para armas,<br />

estradas, pontes, diques e inún1eras outras Obíâ.S semelhantes,<br />

para que uma cidade possa viver em paz e segurança temporal.<br />

Por que não levantar iguaJ soma para a pobre juventude<br />

necessitada, sustentando U1TI ou dois hOfl1ens competentes COlTIO<br />

professor?)<br />

Resumidamente<br />

quero dizer o seguinte: a um professor ou mestre<br />

dedicado e piedoso ou a quem quer que seja que eduque e instrua<br />

fielmente os meninos, jamais se pode recornpensar o suficiente e<br />

não há dinheiro que o pague, como tambérn diz o gentio Aristóte­<br />

Íes. No entanto, entre nós essa tarefa continua desprezada tão escandalosamente~<br />

como se não valesse nada. De minha parte, se<br />

pudesse ou tivesse que abandonar o ministério da pregação e outras<br />

inculnbências, nada nlais eu desejaria tanto quanto ser professor<br />

ou educador de raeninos, Pois sei qUê, ao lado do rninistério<br />

da pregaçào, esse rninistério é o mais útil, o rnai" importante e o<br />

melnor. '1 Inc 1 USlVetenho . , . GUVluassoare l/ri ' qual, aeles ,',' e o melhor. ,,6<br />

Infelizmente, o que Lutero constata em seu discurso continua acontecendo<br />

nos dias de hoje, dentro e fora da igreja. Na IELB, quando o estudante<br />

de teologia não ministerial termina o seu curso, o mesmo nem sempre<br />

é aproveitado como deveria, correndo até o risco de acabar no esquecimento.<br />

Quando isso não ocorre, o estudante de teologia vai atuar em uma congregação<br />

luterana de forma anônima e sem salário pelo serviço prestado. O<br />

Livro de Concórdia diz qual deve ser a atitude dos cristãos com relação aos<br />

seus mestres (professores, doutores, teólogos) e curas d'alma (pastores):<br />

Comei e bebei do que eles tiverem; porque digno é o trabalhador<br />

do seu salário,j~ J-Iucas 10. 'bOrdenou o Senhor aos que pregarn o<br />

evangelho, que vÍ\-'arn do evangelho.7' leo 9. "P.~quele que está<br />

sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas<br />

aquele que o instrui. Não vos enganeis: de Deus não se zom-<br />

'i Lutem. Obras Selecio!1adcL', v. 5, p. 305,<br />

(;L O' S" , - . -59<br />

utero. InciS eleClOl1aaaS, v. ), p. j .<br />

- 64-


a." GI 6. "Devem ser considerados merecedores de dobrada honra<br />

os presbfteros que presidem bem, com especialidade os que se<br />

afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não<br />

amordaces o boi, quando pisa o grão. E ainda: O trabalhador é digno<br />

do seu salário." ] Tm 5. "Rogarnos, irmãos, que acateis com<br />

apreço os que trabalham entre vós, e os que vos presidem no Senhor<br />

e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima<br />

consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz<br />

com eles." ITs 5. "Obedecei aos vossos guias, e sede submissos<br />

para com eles; pois velam por vossas almas, como quem deve<br />

prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo;<br />

04 1 P : 't n7'()


Nenhum destes termos apresenta uma problema em si. li~verdade é<br />

que muitos desses "títulos" são usados à revelia, sem a preocupação com a<br />

função ou formação de cada indivíduo que compõe a liderança congregacional.<br />

Seria interessante que o teólogo fosse reconhecido como tal. Não é<br />

justo que um médico que passou seis anos estudando seja intitulado de<br />

enfermeiro. Portanto, para não sermos injustos com oCa) estudante de teologia,<br />

ou seja, oCa)teólogo(a), aquele(a) que passou seus cinco oü seis anos<br />

estudando em um dos seminários da IELB e se formou e recebeu o certificado<br />

de Bacharel em Teologia - Educação Cristã, tomaremos a liberdade<br />

de, doravante, tratá-loCa) de Professor(a) Sinodal. Este termo, em verdade,<br />

já está por ser extinto na IELB, mas desejamos reavivá-lo associando-o aos<br />

teólogos não pastores.<br />

OCa) Professor(a) Sinodal x o Pastor<br />

A partir desse momento, passaremos a designar algumas atividades<br />

em que oCa) professor(a) sinodal poderá atuar. OCa) professor(a) sinodal<br />

tem plena capacidade de atuar: como professor(a) em uma escola; como<br />

capelão(ã) em escolas, hospitais, entidades assistenciais e corporações militares<br />

(exército, marinha e aeronáutica); como auxiliar do pastor em uma<br />

congregação.<br />

Visto que a capelania escolar e o trabalho congregacional estão mais<br />

presentes na vida da IELB, passamos a Estar algumas das atividades práticas<br />

11 que um(a) professor(a) sinodal poderia desempenhar nestas duas frentes.<br />

Algumas atividades práticas da capelania escolar:<br />

1. Ministrar aulas de ensino religioso;<br />

2. Dirigir devoções em salas ele aula, bem como em reuniões pedagógicas,<br />

reuniões de pais de alunos, datas comemorativas e eventos;<br />

3, Dirigir estudos bíblicos em reuniões pedagógicas;<br />

4. Participar do planejamento e execução de cultos evange1fsticos,<br />

programações em datas comemorativas e eventos;<br />

11 Essa lista de ali vidades práticas foi baseada e adaptada tendo como ponto de partida o<br />

plano de atividades práticas sugeridas pelo Rev. Amo i3essc1 à sua estagiária de Teologia<br />

em Educação Cristã do ano de 1998, no Instiluto Concórdia de São Paulo.<br />

- 66-


5. Fazer visitas a familiares de alunos;<br />

6. Ministrar aulas a prospectos missionários;<br />

7. Atuar como conselheiro de professores, funcionários, alunos e pais<br />

de alunos.<br />

Algumas atividades práticas em uma congregação:<br />

I. Dirigir escolas dominicais;<br />

2. Dirigir devoções em reuniões de senhoras, jovens, diretoria, etc;<br />

3. Dirigir estudos bíblicos em reuniões de senhoras, jovens, diretoria<br />

e congregação;<br />

4. Participar ativamente do planejamento e das programações congregaclOnals;<br />

5. Realizar visitas;<br />

6. Ministrar instrução de crianças, adolescentes e adultos;<br />

7. Abrir novas missões .<br />

Apesar do(a) professor(a) sinodal ser auto-suficiente na execução de<br />

suas atividades, há alguns limitações, principalmente no que se refere a<br />

atividades exclusivas do ofício do ministério público, ponderando-se o<br />

seguinte:<br />

Deve-se fazer uma distinção entre "ofício" e "função". A falha<br />

em fazer tal distinção resultará em confusão. Por exemplo, quando<br />

uma congregação está temporariamente sem um homem para<br />

preencher o ofício do ministério público em seu meio, ela pode<br />

solicitar que um professor ou um líder leigo, devidamente supervisionados,<br />

realizem algumas funções do ofício do ministério público.<br />

Isto é feito em situação de emergência e não como simples<br />

conveniência. Entretanto, a execução de tais funções não torna<br />

aqueles que as realizam pessoas que estejam no ofício do ministério<br />

público. Mesmo em tais situações de emergência, a congregação<br />

solicita que um homem que ocupe o ofício do ministério público<br />

e esteja servindo como pastor em uma congregação vizinha,<br />

que ele assuma aquele ofício junto a eles, como "pastor em vacância"<br />

ou "supervisor interino". Assim, a supervisão e responsabilidade<br />

continuam com alguém a quem a igreja chamou e desig-<br />

- 67 -


nou como pastor e que supervisiona aqueles que temporariamente<br />

d h_L' - •<br />

esempen ,am algumas mnçoes pastorms.'-p<br />

Pessoas com formação teológica poderão, por certo, ser uma bênção<br />

em qualquer lugar que estiverem. Na igreja poderão ser de<br />

grande auxílio na edificação dos irmãos, seja em estudos bíblicos,<br />

mensagens, devoções, visitas missionárias, departamentos e comissões.<br />

Isso vale também para as mulheres. E, no desempenho<br />

de funções, reconhecerão a supervisão do ministro constituído por<br />

Deus e chamado por intermédio da congregação. O desempenho<br />

das funções através de lnuitas pessoas, mulheres e homens, por<br />

isso, não irá obscurecer o fato de que há um ministério instituído<br />

por Deus e que neste ministério a pessoa não entra em função de<br />

uma qualidade especial que tem, mas através do chamado que<br />

i\ veus d' a por melO . da T<br />

igreja<br />

.<br />

...<br />

li<br />

O professor sinodal, por ser homem, em algumas situações especiais<br />

pode, como acabamos de ver, realizar algumas funções do ofício do ministério<br />

público desde que devidamente supervisionado. Todavia, o mesmo<br />

não acontece com a professora sinodal. Sendo assim, ela não pode pregar<br />

nos cultos da congregação, liderar publicamente os cultos da igreja, administrar<br />

publicamente os sacramentos e nem administrar publicamente o<br />

ofício das chaves. Mas pode exercer todo o serviço de educação cristã em<br />

acorao1 com o OllCIOpastora c . Ie nao - oposto a e,e. 1 í4<br />

Quanto à participação das mulheres, bem como das professoras sinodais,<br />

nos cultos, ela podem fazer as leituras bíblicas, cantar, orar, ou seja, a<br />

exemplo de todo bom cristão, participar ativamente dos cultos. Porém, para<br />

evitar confusão e escândalos, deve-se evitar que ela auxilie na distribuição<br />

da Santa Ceia. No tocante à sua "cidadania" na igreja, a mulher pode votar<br />

e ser votada para qualquer cargo dentro da igreja, exceto em setores que<br />

cuidem especialmente do ofício pastoral. Quanto às suas capacidades intelectuais,<br />

as mulheres podem exercer autoridade sobre o homem, fazendo<br />

uma palestra sobre um assunto que ela domina e até podendo ensinar em<br />

escola bíblica para adultos onde há homens. E, finalmente, a mulher pode<br />

11 Linden. /v1inistério Feminino. p. 24.<br />

13 Linden. l\1inistério Feminino. p. 44.<br />

I,) WOlllell in the chllrch. p. 41.<br />

- 68 -


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como representante da<br />

pre.gar ou aUrrUfustra.T os sacn:unentc}s r~a<br />

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}.;~J: .... jll,j'--U Q 0 •..<br />

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esse: ofício (João .. 20.21-23'}.18<br />

. .. . .. ~,..<br />

Dubllca ao e.\/~lnge.HH)e. a adillIDlstraçao dos<br />

.•"".,', ... ~•. ~r'.<br />

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~ .......,., ..... •<br />

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..<br />

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.0 ••••••<br />

,<br />

I~essa m;JtÉrliJ nge a congregação e. age. através de seu mj~<br />

professor(a)<br />

não substitru<br />

~.,_....-.- "..<br />

.•.•..<br />

: :::::::""-:;.:"'- ,..,-~,.., -~--,~~ ::;.-:::-::: --------- :::::::.::<br />

- - ..... ::--"~.~ __ • __ • =-- •...•..•.... """' -"o ~""'''-''''''''~._.<br />

-,<br />

p.~ll:,LH, em seu estatutG~ tern incentivado e a.poia Q ensino te.ológico.<br />

~,<br />

.. .<br />

, -- .... ~<br />

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",-"~~-,,.,~~.~<br />

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~., ·,,_··· •.• A_ ••••. ~.,<br />

Iern aberto suas -porta -para o 1r1.gresso - de estudantes<br />

... '1..~. . .,'---'~~:-C.-' ... -..... rl.:::-•<br />

••••••. ' -.- ••••.A., ••• ' "o.A _<br />

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-:-.--:--r-oT.:::::.(';::,.-.7~~G~ ;::"'-:'.-.rl"': 0=7 •. -;-.-.,,-;.C'. o. '-'-oC~:~~.""""" ... _" ..<br />

1:'1;. : '-'.~.~~It :"~} 0.~L:,~..J1.."";'~,U, ':;~j:o~ ,U.l{'~l':' ~_,111~,11':Vl ..--~: 7: :.:-<br />

1) ~'Vo!J!en ir: fhe church~ pp. 41-4'7<br />

;{,Faller, i~}uíhere:'; tvfis~-;;ionâri([s.p. -""-'"<br />

-:- •. 1 ,-' ,.;, -.,<br />

:s ~iC~~~~I:'~ ~;;;:lc;~:i;;~!i);!!t ifi[;C!istL?,p. _ ...


~<br />

\leitado Il0 trabalho da i.gre.ia. e receba o de\ljdo reconhecirnento. Eis aJ.gurnas<br />

propc:stas:<br />

nos<br />

1) Incentivar e proporcionar (: ingresso de pessoas do sexo<br />

- - . ~ ." ~.<br />

-~ ~~-' - . - ..' - .<br />

sernUIDX10S<br />

.,." ..,.",,,,,~~,.,, ~,.~ '-""~~ .~,-.." -~ ,~~ ~.,,~ ~~.~<br />

"'-··_·..:...:.•...•v-...:- __·..:...:.".-:. __• ":''':'':"-'';:: ~.:.~"-~~'-~~ ~',-,<br />

G:,-.~.-•<br />

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•...•. ..:."J:<br />

~-.-<br />

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rnentü, Pcr qu~~não deixar urn apartamento reser\rado l)arn rnGças que queltantü<br />

.. ,--... ~ ~ -<br />

ern. S5~oPaulo carne: ern São<br />

-.<br />

Leopolcio'/ ~.2ue tal dar as H1eSrns.s cl-iances para rnoças e. rapaze.s e.studarelTI<br />

teologia?<br />

2'i Fazer com que o curso de teolc;g:ia en1<br />

~ " /<br />

pastores7 rnernbros~ orgarl1zaçõe.s auxilia-<br />

~- ,- . " ~. ,-; -.- -•...•.<br />

res e C11 retorla 2:erai Ga ..LbL.b"<br />

- - ,~, ~<br />

cristã. Colocar nos panfletos de re.:rlHarÜentc: UITia ou duas linhas ql.lê<br />

~.. se<br />

- -<br />

-:---';:":'-:-~:~'.~~ '1 cccc r111-~·,~. 1-•.~,õc c.:::o .:::oi.:::o .:::o.,-~,-.f-,:-. r.r: ,,~,.-,,-.,'"1r,n,~< "",,-ô--


deveria resDonder -..<br />

-Dositl'"lamente ao art.<br />

79ila: TI~L b; c~d e e dcs estatutos da IELB:<br />

i 2) Criar a possibilidade doCa) professür(a)<br />

. "" ,<br />

SlllOdEUDocer VIr a ser<br />

IeológlcOS ..sendo enquadrados( as)<br />

91, 92 dos estatutos da IELB;<br />

O(a) professor(a) sinodal deveria ser desligado(a) da congregapelos<br />

rnotivos descritos no 'lrr. 100 § 5° do estatuto da TRLB~<br />

()(a) professor(a} sinoGaJ deveria estar sujeito a avaliaç-ões periódicus<br />

conron.ne o arte 100 § 6° do estatuto da IELB~<br />

-Doderia ... DarticiDar - - de conselhos distrio<br />

o ~ o .<br />

~., ' ,. _.' o<br />

canCElOS reg1onals, convençoes naC10na1S C01T1curerfO a vGtG,<br />

Nenhurna destas prc;r:::ostas têrn corn:o finalidade con.frontar ou desno<br />

reino de Densó C)crescirnerlIc: do c.nsinQ~ beTn corno o auxílio ao Dastor.<br />

Creio que~ .:o1'n o reccHlhecirnenlo do CUfSO de I':,OlOgl3. lVlinistério<br />

G:i Educacáo e C:ulrUf8 (~IEC')~ ha"./erá urn scnsi\lcl aurnento do número<br />

de candidaIos para o 111eSrno. Ji.;. IELB deve estar preparada para essa nO\7â.<br />

realidade. P-;.igreja também precisar pensar desde agora enl forrnas de integrar<br />

os forrnandos em teologia erú edLlC,lCJlO ao carnpo trabalf100<br />

C2uundc: 1T1ais genTe esti"/cr trabalhando no Reino de l)eus~ mais palavra de<br />

...----.. / -. ,~- . ~<br />

lJens c serneaGa e lTlâlS o KelDO nad.e crescer.<br />

Escola Superior de Teologia"<br />

Sãc: Paulo. 1997-1000<br />

Igreja E-"/3Jlgélica Luteranêl L)Q Brasil. Esran,:Ios: l?egirnento e CÓdigo de<br />

:'"..: :/ ..-... a--:: .~h: ::-: ,~••<br />

A _ ,-, ...., •..••• "-,_._ ~<br />

:-'1r.'~.,.,.(,...,:~,,, -= ::v-=<br />

~UU.l-U1.UE.a., 1.70.3. o<br />

Doutrina Crista. trajo<br />

~Ll;.rnaldo Schü1ero


Linden, Gerson Luis. "Ministério Feminino", in Vox Concordiana - Suplemento<br />

TeolÓgico, ano 12.1, São Paulo, ]997, pp. 21-45.<br />

Livro de ConcÓrdia. Trad. Arnaldo Schü1er, Porto Alegre/São Leopoldo,<br />

Concórdia/Sinodal, 1981.<br />

Lutero, Martinho. Obras Selecionadas - Ética: Fundamentos - Oração­<br />

Sexualidade Educação - Economia, v. 5, Porto Alegre/São Leopoldo:<br />

Concórdia/Sinodal, 1995.<br />

Seibert, Erní W. "O Papel da Mulher na Igreja", in Vox Concordiana­<br />

Suplemento TeolÓgico, ano 5.1, 1989, pp. 40-48.<br />

Seminário Concórdia. Catálogo A cadêmico, São Leopoldo, 1999.<br />

"Women in the Church: Scriptural Principies and Ecclesial Practice". A<br />

Report of the Comission on Theology and Church Relations of The<br />

Lutheran Church - Missouri Synod, September 1985.<br />

- 72-


LITURGIA<br />

DANÇA LITÚRGICA<br />

Ralll<br />

Blll/71<br />

o Instituto Concórdia de São Paulo (ICSP) celebrou o 5 J o aniversário<br />

(22 de agosto de J 999) com um Culto Cantate no qual também se apresentaram<br />

duas danças litúrgicas que ilustraram dois hinos congregacionais<br />

do Hinário Luterano: no. ]40 ("Vem Espírito Di vi no") e no. J 9 J ("Saudai o<br />

nome de Jesus") .<br />

A dança litúrgica ainda não é uma prática rotineira na Igreja Evangé­<br />

Iica Luterana do Brasil (!ELB). No entanto, em algumas congregações ela<br />

está sendo praticada e apreciada como auxiliar da expressão dos sentimentos<br />

daquilo que se canta ou se representa.<br />

A dança litúrgica não é coisa nova. Já no Antigo Testamento vemos<br />

a dança ligada a atos de culto. Um exemplo bem claro disso é o Salmo 150<br />

que. além de estimular o louvor a Deus através de instrumentos variados,<br />

também inclui a dança como algo que faz parte do louvor a Deus (v. 4).<br />

Já usamos diversos instrumentos musicais em nossos cultos. Gradativamente<br />

estamos utilizando cada vez mais instrumentos de cordas, de<br />

sopro e de percussão, além do tradicional órgão. Isto condiz com o que o<br />

Salmo 150 nos recomenda. Mas, a dança litúrgica ainda é bastante desconhecida.<br />

Talvez chegou a hora de tentarmos ilustrar nossos sentimentos<br />

com esta arte tornando-a um recurso a mais na divulgação do evangelho.<br />

Para que mais congregações possam se beneficiar desta arte, transcrevemos<br />

nas páginas seguintes os movimentos que foram criados para o<br />

hino "Vem, Espírito Divino". Esta é uma criação do grupo de dança litúrgica<br />

da congregação Ebenézer, vizinha do ICSP. O grupo é liderado pela<br />

Patrícia Miquelin Seh e a parte musical é coordenada pelo Prof. Raul<br />

B!um. As ilustrações foram criadas por Arina Sano Pereira.<br />

- 73 -


Divino, *<br />

(\làos ahcrtlls Cnl/éllll-SC)<br />

Nobre<br />

Ensinador.<br />

(I\limas das I11


REFRAo:


Que o pecado<br />

traz,<br />

"<br />

~""i"Ó<br />

1""""'''' p ""pó'<br />

* E da perdição<br />

~<br />

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A mansào<br />

fi<br />

"<br />

da paz.<br />

(~t:ío~ em funna<br />

de j1lll11ba \ll,mdo)<br />

(REFRAo)<br />

- 76-


3- * Vem,<br />

+~<br />

~ / A<br />

su<br />

\; :"''-'~;;''';' __ c_' _<br />

t j tr ..<br />

>.1:3.0~ no coração)<br />

~a :a<br />

" n<br />

Recon - duze os trans<br />

4<br />

Ao pastor Jesus.<br />

~ ç,,,,op,mr9<br />

viados<br />

'1(Vim ,om o ""M)<br />

(REFRÃO)<br />

- 77 -


dc costas para o altar)<br />

Vera<br />

4- operas Tu"*<br />

...<br />

~s<br />

I<br />

osentre<br />

povos conversao,<br />

~<br />

voltadas para<br />

*<br />

'* Dá-lhes<br />

'*<br />

Ó<br />

Novo '* pensamentos coração<br />

fi<br />

novos,<br />

ti"cnte sobre a testa)<br />

(Mãos no coração)<br />

(REFRÃO)<br />

IIlustrações: AnDa Sano Pereira. I<br />

- 78 -


MÚSICA<br />

IVIÚSICÁ PÁRÁ CORÁIS<br />

Raul Elum<br />

Mais uma vez estamos oferecendo música coral para dois tipos diferentes<br />

de coros: coro misto e coro de vozes iguais. O Kyrie Eleison que<br />

estamos publicando é para a formação mais utilizada para coros: soprano,<br />

contralto, tenor e baixo. Esta música também precisa do acompanhamento<br />

de Órgão. Foi composta por Léo Schneider.<br />

Léo Schneider era organista, regente e compositor, membro da Igreja<br />

Evangélica de Confissão LuLerana no Brasil. ,~,tuou como organista na Igreja<br />

Martin Luther de Porto Alegre. RS. Hoje, sua filha Anne Schneider é<br />

organista na mesma congregação, fazendo também turnês por diversos<br />

países como organista. Gentilmente Anne Schneider consentiu em que esta<br />

peça fosse publicada pela Vox Concordiana. Agradecemos pela gentileza.<br />

i". música "Sempre em Deus Confia" está arranjada para vozes i­<br />

guais: soprano, meio-soprano e contralto, ou tenor, barítono e baixo. Mas<br />

esta música também pode ser cantada por um coro misto. Para isto é necessário<br />

dividir as vozes masculinas e as vozes femininas em três grupos. O<br />

descante para flauta pode ser tocado também por flauta doce soprano, violino.<br />

oboé, clarineta, trompete, sax ou mesmo por um teclado com um registro<br />

de instrumento que utilize clave de sol.<br />

- 79 -


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Rua f{..auldos Samos _Mach!i.du. "'-_-<br />

05794-370 Sk. Pf;l.l!O, SP<br />

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AUXÍLIOS HOMILÉTICOS<br />

SEXTA-FEIRA SANTA<br />

21 de abril de 2000<br />

Série Trienal B, Evangelho: João 19.17-30<br />

L O Texto no Ano Eclesiástico<br />

I<br />

É Sexta-feira Santa ou Sexta-feira da Paixão de Cristo. É a segunda<br />

das quatro datas (Natal, Sexta-feira Santa, Páscoa e Ascensão) ou acontecimentos<br />

importantíssimos na vida terrena de Cristo na execução da obra<br />

da salvação.<br />

Todos os evangelistas enfocam aspectos importantes do que aconteceu<br />

corn Jesus Cristo antes de sua morte. Porém, este texto é bem completo<br />

para o dia: fala do sofrimento físico (carregar a cruz, a crucificação) e moral<br />

(ter pena de morte como se fosse um bandido, ser crucificado entre dois<br />

bandidos, suas roupas serem repartidas entre os soldados) de Jesus, o cumprimento<br />

das Escrituras (vv. 23-24), a entrega da mãe aos cuidados de João<br />

e termina a perícope com o ponto culminante da declaração de Jesus "Está<br />

consumado!" e com sua morte.<br />

n. O Texto no Contexto<br />

o capítulo 19 de João aborda Jesus diante de Pilatos, a crucificação,<br />

a morte e sepultamento. João procura mostrar que todos os atos ligados à<br />

crucificação de Jesus foram atos dos judeus, embora fossem realizados<br />

pelos soldados romanos sob o comando de Pilatos. Nós bem sabemos que,<br />

através daqueles judeus e romanos, os pecados de toda a humanidade levaram<br />

Jesus Cristo à morte.<br />

Em sua narração, João faz a sua própria seleção de eventos. Cada seção<br />

é completa de detalhes e cada uma é distinta em si.<br />

IH. O Texto<br />

V. 17: Um costume arrepiante: o condenado à crucificação devia carregar<br />

nos ombros, pelas ruas de Jerusalém, sua própria cruz. Era maneira de<br />

- 85 -


declarar-se culpado. Jesus, ernbora inocente, declara-se culpado enl lugar<br />

da humanidade. A palavra Cal vário provém do termo latino calvaria que<br />

significa crânio e equivale à pala\Ta grega kranioll. Gólgota tem o meS1l10<br />

significado. Esse nome era dado à colina em que Jesus foi crucificado porque.<br />

especialn1ente à distância, parecia com um crânio.<br />

V. 18: João usa poucas palavras para descrever cenas tão trágicas.<br />

·~ocrucificara1l1'~: os judeus o fizerarn através de Pilatos, ao qual forçararn<br />

para realizar a sua vontadc~ e dos soldados romanos. pTa verdade, os nossos<br />

pecados também crucificaram Jesus através dos judeus daquela época, através<br />

de Pilatos e dos soldados ronlanos. Os pés de Jesus ficaram apenas a<br />

uns 70 cm do chão, por isso o pequeno caniço de hissopo foi suficiente para<br />

fazer chegar a esponja de vinagre à boca de Jesus (v. 29).<br />

Os judeus pediram a Pilatos que Jesus tivesse a pena de morte aplicada<br />

aos crilninosos l11ais vis. O fato de Jesus ser crucificado entre dois<br />

crirninosos era considerado corno se ele fosse de igual espécie, C:urnpre-se<br />

Is 53.12: "foi contado C0111 os transgressorc,s7~, O próprio norne cruz transmitia<br />

a idéia de opróbrio, vergonha e ignomínia.<br />

Vv. 19,22: Mt 27.37 mostra-nos que Jesus foi acusado de aJta traição<br />

ao imperador romano, como adversário político. Esta foi a acusação oficial,<br />

embora o sinédrio o acusasse de blasfêmia. Roma jamais iria condenar por<br />

acusação religiosa de blasfê-rnia contra o judafsrno. Era COlTIUlTI pendurar no<br />

pescoço ou sobre a cabeça dos criminosos urna inscrição com a acusação da<br />

condenação. Pilatos insiste que Jesus foi crucificado como o Rei dos Judeus.<br />

Os quatro evangelhos dão uma versão ligeiramente diferente da outra.<br />

Matem: "Este é Jesus, o Rei dos Judeus" (Mt 15.26). Marcos: "O Rei<br />

dos Judeus" (Mc 15.26). Lucas: "Este é o Rei dos Judeus" (Lc 23.38). João<br />

é o mais extenso: "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus". A inscrição foi feita<br />

ern trés lípo-U'lS (j'el"'rai,'(' lé'tinl e o-rpo-r,\ F n~~sívp] n'lp eu' c"ria Ji"o-ua<br />

~. ".'. le {...~ \. I J ~\,...-U, U ...•ll b~--b"""}' ~ l'''--l._,._ •.. ..",•... lu......- • ,. u •.... l,te<br />

'~Pilatos hou\'esse escrito acusações levernente diferentes entre si~'" e cada<br />

evangeJista ao mencionar a inscrição refere-se ao texto completo ou em<br />

parte lnélS tirado de tlll1a língua diferente do outro. l~"i.. inscrição alertava a<br />

todos da seguinte anleaça: este é o fim que os rOInanos darão a qüaiquer rei<br />

dos judeus que procurar opor-se a César.<br />

Tão grande era o ódio dos líderes religiosos judeus por Jesus que foran1<br />

pedir a Pilatas para rnudar o texto da inscrição, pois não podianl adn1itil'<br />

que um mero nazareno fosse o rei deles. Pilatas não concordou. E ele<br />

- 86-


ma Maria de "mãe" e sim de "mulher". Não significa desrespeito. Jesus<br />

ainda era o filho de Maria, .tvlas de agora em diante ela deveria vê-Io acima<br />

de tudo corno seu Senhor e Salvador. Prontamente João aceitou a incumbência<br />

de seu Mestre: levou Maria para sua casa e dela cuidou.<br />

'lVe 28-30: Lenski acredita ter passado rnais de três horas desde a<br />

conversa de Jesus conl tlÍaria e João até esta nO'v'{1 seçào.<br />

'EidÔo.\' é um particípio presente de 'ore/a C~sabendo~ saber intelectual""),<br />

O que Jesus está sabendo? Que todas as coisas estavalTi terrninadas,<br />

Todos os detalhes da obra salvadora estaVDJ11 COITIDletos faltando sornente a<br />

morte.<br />

i\penas depois de sofrer tudo o qtle era necessário para salvar a hünlanldade~<br />

Jesus pede algo para beber ti. finl de aliviar a sua sede. Aliás,<br />

:::,cde era un1Zl das agonias lTiais torturantes do crücificado. Já devia estZix<br />

co1"n sede antes de chegar ao Gólgota, Logo que estava le\Tuntado na cruz<br />

"deranl-lhe a beber vinho corn fel~ nlas ele, provando-o, não o quis beber'~<br />

(l\'lt 27 .34)~ pois ainda preclsa\l(i sofrer pela hU1112ti1idade. Ivlas agora, estando<br />

tudo pronto~ para ainda curnprif a profecia registrada no SI 69.21 ("na<br />

rninha sede rne dcranl a beber vinagre ), Jesus pede algo para t0111ar. O<br />

vinagre era vinho C0111U111azedo que os solda,dos do inlpério usavarn conlO<br />

bebida. E Jesus, tomando o vinagre, disse: "Está consumado!" Tetélestai<br />

era unla palavra conlercial que significava "está pago~ a dívida está paga!;'<br />

Qual dívida estava paga?<br />

O santo Deus elTI sua justiça exige que o ser hurnano seja santo<br />

("santo sereis ...~'.Lv 19.2). f\/las o ser hürnano não consegue ser obediente a<br />

Deus, Então Jesus Cristo, sendo Deus e homem, foi santo, obediente nos<br />

lugar das pessoas. Obedeceu integral e perfeitamente todos os mandan1entos<br />

que o Pai deu aos homens. Por isso, está paga a dívida da desobediência<br />

humana: tetélestoi!<br />

Era necessário que se cUlnprissenl as profecias descritas no Antigo<br />

Test~llne.nto. E todas que cabian1 a Jesus cumprir, ele curnpriü à risca~ e as<br />

que cabiam a outros cumprir. viu-nas serem cumpridas. Por isso, tetélestai!<br />

Era necessário Jesus sofrer pela hun1anidade. Sofreu fisicZHllente: roi<br />

açoitado~ pregaào na cruz~ recebeu a coroa de espinhos na cabeça, etc. No<br />

entanto, o seu maior sofrimento foi espiritual, na sua alma: desde o momento<br />

que orava no Jardi 111do Getsê-lnani e seu suor se transforn10u enl gotas<br />

de sangue até o 111011lento de excltl111ar "Deus lneu, Deus rneu~ por que n1e<br />

desarnpa(aste?~' e ainda depois sofreu. Enl sua alrna, Jesus sofreu o castigo<br />

- 88 -


eterno que todas as pessoas (aquelas já mortas, as vivas em sua época e as<br />

que ainda estavam para nascer) deveriam sofrer para sempre no inferno.<br />

Sem dúvida, foi um sofrimento inimaginável para nós. Por isso ... tetélesloi:<br />

Era nece~sÚrio JêSUS derranlaf sangue. Para os judeus sangue era vida.<br />

No Antigo Testamento Deus pedia que o sacerdote uma vez por ano<br />

'<br />

fizesse a eXIJíacão :> com o sam::uc '- da oferta .~ Dela .•.•. pecado (Êx 30.10), Já no<br />

Novo Testanlento, til1 Hb 9.'='=. [1 escritor sacro afirnlou: "sel11 derramamento<br />

de sangue não há remis


Tema:<br />

Está consumado!<br />

Esboço:<br />

L Cristo obedeceu a lei<br />

n. Cristo cumpriu as Escrituras<br />

IIL Cristo sofreu fisica e espiritualmente<br />

IV. Cristo verteu seu sangue<br />

Leonério Faller<br />

DIA DE P ASCOA<br />

RESSURREIÇAo DO NOSSO SENHOR<br />

23 de abril de 2000<br />

Série Trienal B, Evangelho: João 20,1-9<br />

L O Texto no Ano Eclesiástico<br />

A estrutura do ano eclesiástico nos leva ao ápice da história bíblica:<br />

assim como aqueles dois discípulos que correram ao túmul0 aberto, e viram<br />

e creram, entendo a Escritura, assim precisamos olhar para este momento<br />

da história de Jesus, o Cristo de Deus, e analisar para podermos ver e crer<br />

no que a Escritura nos diz.<br />

Uma pequena digressão se faz necessário neste momento. Quero<br />

lembrar aos leitores do princípio escriturístico estruturado por Lutero e<br />

utilizado em nosso estudo bíblico: o princípio do solus Christus, que está<br />

bem latente em nosso texto e neste domingo. Sabemos que a cristologia de<br />

Lutero foi a condi tio sine qua /1Onde sua teologia, isto porque (a) Cristo é o<br />

centro de toda a Escritura e toda a Escritura aponta para Ele (Smveit Sie<br />

Christlll7l treibet). A Escritura recebe sua evidência clara por causa de Cristo,<br />

(b) Cristo é o centro da Escritura porque Ele é o objeto e o conteúdo da<br />

dialética lei-evangelho. (c) Cristo é o centro da Escritura porque Ele mesmo<br />

é o sujeito das ações que proclamam o evangelho. Cristo é a viva vox Dei,<br />

o Deus encarnado, que anuncia e proclama a si mesmo como Redentor e<br />

Salvador da humanidade pecadora. Cristo é a Escritura em carne e osso.<br />

- 90-


n. o Contexto<br />

Os acontecimentos narrados que antecedem e que seguem apenas<br />

apontam e direcionam para o centro da história daquela semana ou semanas;<br />

e mais do que isto: para todo o centro da Escritura. Os sofrimentos que<br />

antecedem a ressurreição são uma preliminar para o que acontece no dia da<br />

Ressurreição. bem como os que seguem S3.0 manifestações de que a Escritura<br />

foi cumprida.<br />

IH. O Texto<br />

Os detalhes da história são bem conhecidos. Simão Pedra recebe<br />

uma atenção especial no texto (é o primeiro a ser informado por Maria<br />

Madalena) porque eJe precistl se certificar que o Evangelho. aquele que<br />

havia rejeitado e negado momentos antes, está vivo. O outro discípulo (sabemos<br />

que é João, o autor destas palavras) diz de si mesmo que "viu e<br />

creu" naquilo que acontecera.<br />

Sobre o v. 9 não há uma citação direta, mas os textos do SI 16.8-11 e<br />

Jn 1.17 são citados em passagens paralelas a respeito da ressurreição de<br />

Jesus. O importante é observarmos que a Escritura é testificada, confirmada<br />

com momentos concretos na vida dos discípulos.<br />

IV. Persuasão<br />

Objetivo: Mostrar que a história bíblica culmina com a ressurreição de<br />

Cristo. Eia é o princípio norteador dos aconteCl1Tlentos escriturísticos. So­<br />

\\'eit Sie Chrisllllll treiber.<br />

lvloléstia: Assim como para os discípulos, a crise existencial se faz presente<br />

na vida de todos. Para os discípulos, a semana que antecedeu a ressurreição<br />

provocou confusão. desilusào, desespero e muito mais. Nossa vida também<br />

é carregada de tudo isto. Estamos muitas vezes sem rumo.<br />

Meio: Sem dúvida. a entendemos a Escritura (assim como Pedro e João)<br />

quando a obra própria de Deus se revela a nós de forma objetiva e subjetiva.<br />

As Escrituras revelavam desde os tempos do Antigo Testamento que<br />

Cristo seria vitorioso, mas os discípulos tiveram que passar pela experiên-<br />

- 91 -


cia, sentir na própria pele que isto. é verdade e que serve para nós também<br />

] ;<br />

.10;e.<br />

Eshoço: As palavras que escrevi até agora nos levam a refletir sabre diversos<br />

assuntos que podern ser abordados na mensagem. Destaco:<br />

]. A clareza das Escrituras, quanto ao seu plana salvador através de Crista.<br />

2. A justificação abjetiva e subjetiva, cansideranda a certeza de que aquilo.<br />

que havia sido revelado desde i\..dão e Eva é válido tanlbélTI para rnirn.<br />

Clóvis J. Prunze]<br />

ASCENSAo<br />

L O Texto no Ano Eclesiástico<br />

DO NOSSO SENHOR<br />

1 de junho de 2000<br />

Série Trienal B, Evangelho.: Lucas 24.44-53<br />

A ascensão. é um momento limftrafe entre a abra de Crista e a obra<br />

do Espírito Santo. Por isso. estamas na final da períada da Páscaa, introduzindo.<br />

a períada de Pentecastes.<br />

n. O Contexto<br />

A Escritura tinha sido. cumprida quanto aos seus aspectos cristológicoso<br />

O próprio texto. nas remete ao centro. das Escrituras, Agara é hora de<br />

começar outra seção na história de Deus e de seu pavo. Lucas também encerra<br />

a história de Crista com sua ascensão., mas inicia a história do Espírito<br />

Santo e de sua Igreja com a subida de Cristo aas céus (ver Atos). Portanto,<br />

estaiTIOS num período de transição.<br />

lIr. O Texto<br />

Do texto., quero destacar as seguintes pontas:<br />

- 92-


1. Os discípulos S8.0 testemunhas oculares dos acontecimentos bíblicos.<br />

Não só Moisés. os profetas e os salmos podem falar. Temos mais um<br />

ingrediente nesta histÓria: aqueles que viram e creram no que acontecera.<br />

2. ~vras a histÓria continua e não muda de rumo. Porque continua<br />

sendo necessário que a mesma mensagem (vv. 46-47) seja anunciada para<br />

todas as nações (ver a ênfase de Mateus por ocasião da ascensão).<br />

3. Nesta tarefa dada aos discípulos, alguém mais estará com eles:<br />

"sereis revestidos de poder". Aqui temos a referência ao Espírito de Deus,<br />

que é poder.<br />

IV. Persuasão<br />

Objetil'O: Denlonstrar que ternos urna tarefa deixada por Jesus.<br />

Alo/éstia: l\'1uitos que fCfJITl charnados para se.renl discípulos de Jesus fogem<br />

de suas responsabilidades.<br />

/,,,1 cio: Enfatizo o que destaquei no estudo sobre a Páscoa: a justificação<br />

objetiva e subjetiva. Verdadeiramente bem preparado para ser discípulo e<br />

cumpridor da tarefa deixada por .Jesus é aquele que é testemunha do que<br />

Cristo fez por Ele.<br />

Esboço: Os cristãos têm tarefas (o que fazer):<br />

1. Porque não pOdelTI deixar de ralar das coisas que viran1 e ouviraln: que<br />

Cristo ressuscitou e \:i,/e eternainente.<br />

2, Porque são os instrurnentos nas 1118.050 de Deus para continuarem a espalhar<br />

a rnensagern<br />

que vale até o final dos ternpos,<br />

3. Porque eles têm poder, eles têm o Espírito de Deus (referência ao dia de<br />

Pentecostes) .<br />

Clóvis<br />

.J. Prunzel<br />

- 93 -


L As Leituras do Domingo<br />

DIA DE PENTECOSTES<br />

j j de junho de 2000<br />

Série Trienal B, Evangelho: João 7,37-39a<br />

!, Si 143: O rei Davi, sentindo-se desamparado e fraco diante de tantos<br />

obstáculos, ora e confia no único que de fato proporciona consoio e<br />

livramento, O v, 10 retrata a confiança fundamentado em Deus, sendo guiado<br />

pelo "teu bom Espírito" (a versão revista e atualizada de Almeida indica<br />

no v, 10 "Espírito", iniciando com maiúscula; a Bíblia de Jerusalém<br />

inicia com minúscula),<br />

2, Ez 37.1-14: O profeta, mediante o "Espírito" (v, 1), é levado a observar<br />

uma situação de caos total. Assim se encontrava a nação de Israel,<br />

semelhante ao vale cheio de ossos, Sem perspectiva de dias melhores, mas<br />

de desespero tota1. Deus, manifesta o seu poder e age através do Espírito<br />

Santo, fazendo com que a desgraça de outrora se torne numa lembrança<br />

agradável, devido à poderosa ação de Deus em restaürar o que estava fragmentado<br />

e destruído. O profeta é a testemunha dos atos de Deus perante a<br />

nação.<br />

3, At 2,22-36: Neste texto, Pedro deixa claro (com citações do AT) e<br />

aponta para a nova realidade: a contínua ação de Deus em salvar a humanidade<br />

através de Cristo. No v, 33, a ação do Espírito Santo fica evidente,<br />

sendo atestada por todos os presentes ao seu discurso.<br />

4, Jo 7.37-39a: O próprio Cristo enfatiza a necessidade da vinda do<br />

Espírito Santo e as suas conseqüências.<br />

H. Contexto<br />

Estava próxima a "festa dos judeus, chamada dos tabernáculos" (10<br />

7.2 e Lv 23.36). Durando a festa uma semana, neste ínterim "Jesus subiu ao<br />

templo e ensinava" (107,14). No último dia da festa Jesus fala publicamente<br />

aos presentes.<br />

lH. Texto<br />

- 94-


'T~37: Conforrne os textos do Li\T \' 23.36: NTrn 29,35: :\.~ ~<br />

festa dos tabernáculos dU]',l\Ll oito dias. O fato de Jesus ter falado "De<br />

de dia da festa~~ (sétinl0 eu oitT\'O dia) não é rele.\'ante, O conteúdo d;} rL~nsagen1<br />

de Cristo foi oportuna e condizente com o 1110nlento da resta.<br />

Jesus. levantando-se toma um lugar de destaque. A quantidade de<br />

pessoas o obriga a elevar a voz para se fazer ouvir. "Se alguém tem sede ":<br />

não é de se esperar que muitos a tenham. Jesus se refere li sede espirituaJ<br />

(Jô 4.14). Através da água da vida, Jesus oferece o perdão e a salvação.<br />

Jesus desperta o desejo da satisfação espiritual e ao mesmo tempo satisfaz<br />

este desejo. Jesus Cristo aproveita-se do cerimonial diário: quando o sacerdote<br />

buscava água da fonte de Siloé com um jarro de ouro, em solene procissão<br />

caminhava até o altar do sacrifício. Tratava-se da comemoração da<br />

igua que jorrou da rocha de Meribá, ao satisfazer a sede da multidão. Não<br />

sendo realizado o Ceril110nial~ Jesus rl1anifesta o que a palavra confere. Crer<br />

em Cristo implica em ter aigo que sacia para a eternidade e não somente<br />

para este mundo.<br />

V. 38: Entre os VV. 37 e 38 não existe quebra no texto (não se trata<br />

de fragmento do discurso que João relata). O v. 37, mostra que o único<br />

meio de saciar a sede é crer ern Cristo; o v. 38 manifesta a promessa: ao<br />

que crê, do seu "interior fluirão rios de água viva". Após a descida do Espírito<br />

Santo esta satisfação espiritual seria compartilhada com todos.<br />

.•... como diz a Escritura ... ": É extraordinário o modo como Jesus relaciona<br />

aos ouvintes as passagens do A T, apontando-as para Ele (Is 58.1 ] e<br />

Zc 14.8). Jesus Cristo é o cumprimento das profecias do AT. Ele é o Messias<br />

e isto fica manifesto na sua natureza humana e divina. No AT o povo<br />

de Deus foi levado a confiar nas prornessas de Deus anunciadas pelos profetas,<br />

que procJamarum o que pode ser comprovado mediante a Palavra de<br />

Deus nos dias de hoje i.étção do Espírito Santo).<br />

O cerimonial da água (sacerdote, fonte de Siloé) mantinha viva a a­<br />

tuação e as promessas de Deus entre o povo. Jesus Cristo mostra o cumprimento<br />

dessas promessas à multidão: Ele é a fonte de água viva, que sacia<br />

para<br />

a eternidade.<br />

V. 39a: Havia necessidade de Cristo ser glorificado, isto é, voltar para<br />

junto de Deus, o Pai. Estando a obra redentora concluída, somente restava<br />

a vinda do Espírito Santo. No "b.,T havia a confiança nas promessas (vinda<br />

de Cristo). Agora a glorificação de Cristo (retorno ao Pai) e a vinda do<br />

- 95 -


Espírito Santo completariam estas promessas. O termo pisteysantes designa<br />

um crer constante em todos os tempos e épocas.<br />

IV. Persuasão<br />

Objetivo: Que meus ouvintes sejam levados a deixar o Espírito Santo agir<br />

"onde e quando lhe apraz".<br />

lvloléstia:<br />

I. Procurar se interpor à ação do Espírito Santo.<br />

2. Negar os ensinos das Escrituras e supervalorizar manifestações humanas<br />

(pentecostalismo ).<br />

3. Deixar de lado a Fonte, que é Cristo, para saciar-se em cisternas com<br />

águas poluídas.<br />

M cio: Jesus Cristo realizou toda a obra da salvação e voltou para junto do<br />

Pai. Não nos deixou abandonados, mas enviou o Espírito Santo para operar<br />

eficazmente a fé e as obras.<br />

Esboço:<br />

Tema: O Espírito Santo - uma presença atual e constante!<br />

1. Manifesta a obra de Cristo.<br />

2. Transforma corações e mentes para Cristo.<br />

Celso W ottrich<br />

SANTÍSSIMA TRINDADE<br />

PRIMEIRO DOMINGO APÓS PENTECOSTES<br />

I. As Leituras do Domingo<br />

18 de junho de 2000<br />

Série Trienal B, Evangelho: João 3.1-17<br />

I. SI 96: Este salmo faz parte dos salmos que convidam para o louvor<br />

a Deus (SI 95-] 00). De forma especial, este salmo manifesta a parollsia<br />

do Senhor (v. 10).<br />

- 96-


2, Dt 6.4-9: Temos urna explanação do primeiro mandamento, "Deus<br />

é único Senhor". e de\emos :mÜ-Io de todo o "coração, alma e entendimento",<br />

Isso deve ser eminado ás gerações em todos os tempos e épocas. Somente<br />

neste Deus há salvação,<br />

3. Rm 8,14-17: O Espírito ,14) age em nós, Com o Espírito Santo<br />

somos capacitados para mortificar a natureza pecaminosa e suas manifestações,<br />

Somos livres para servir a Deus em amor. Podemos aproximar-nos de<br />

Deus e chamá-Ia de Pai, Nenhum homem carnal (diálogo de Jesus com<br />

Nicodemos) pode aproximar-se de Deus a não ser pelo Espírito Santo (nascer<br />

da água e do Espírito, batismo),<br />

H. Texto<br />

Nicodemos era Llriseu. mestr,e do "-",1 e membro do Sinédrio. Como<br />

muitos outros. haÜl \isto alguns sinais e ensinamentos de Jesus Cristo. No<br />

seu coração, ele sabia que somente alguém "vindo da parte de Deus" pode<br />

fazer estes "sinais" (v, 2), Nicodemos estava com dúvidas e queria respostas<br />

para suas questões, Antes de esboçar alguma reaçÜo, Jesus confronta<br />

Nicodemos sobre o novo nascimento com o reino de Deus,<br />

A expressão "em verdade, em verdade "," ,3) assegura veracidade<br />

e o enfático "te digo" expressa a autoridade de Cristo, As palavras de Jesus<br />

estão ligadas aos vv, 5 e 1 L manifestando o que João Batista pregou em<br />

termos de arrependimento e batismo: "Quem não nascer da água e do Espírito,<br />

não pode entrar no reino de Deus" (v, 5), Jesus está falando da mudança<br />

interna~ da profundD. ll1uàança de indivíduo enl relação a Deus. Isto não<br />

}JrOVénl da terra. 111aSdo alto: é ato de Deus~ ao agir .:...- através da água '--' e do<br />

Espírito Santo, O homem é passivo. somente Deus age através da água e do<br />

Espírito, Isto impllca em arrependimento sincero (transformação interior)<br />

para fazer parte do reino de Deus.<br />

No v, 6. Jesus f:lIa do contmste da "carne"(n:ltureza pecaminosa) e<br />

espírito (novo home'1'1'L(Er 4,22-24). Por isso, a necessidade de se nascer da<br />

água (batiS11'lOl e do Espírito para entrar no reino de Deus, No grego o substantivo<br />

pnellll1n ,8) é utilizado tanto para "Espírito" como para "vento".<br />

No v, J I Jesus usa a expressão "em verdade, em verdade ,,," pela terceira<br />

vez e nos vv, 12-] 3 ele manifesta a necessidade da regeneração e fala da<br />

sua autoridade como "Filho do homem" (v, 13),<br />

- 97 -


Nos vv. i4-15 ternos a rnenção do evento do AT, isto é, a serpente de<br />

bronze levantada numa haste. Não há como negar a relação com a obra de<br />

Cristo. Com a sua morte na cruz (levantado), Jesus proporciona a salvação<br />

a todo o que nele crê. Este fato fica claro em relação aos \IV. 15-17, onde<br />

temos a justificação objetiva e subjetiva (v. 16). Uma verdade extraordinária.<br />

que sempre precisa ser ensinada a todos. Somente aquele que crer em<br />

Cristo é salvo.<br />

lHo Persuasão<br />

Objeti,'o: Que os meus ouvintes tenharn clareza de que a regeneração do<br />

homern é obra do Espírito Santo e não de homens.<br />

AIo/éstia: Religiosidade criada a partir do hornern. O ser hUiTIa110 deterri1ina<br />

como crer (cerimônias, rituais .. como interpretar às Escrituras). O Deus<br />

triúno torna-se objeto de manipulação na mão de igrejas e homens. Estes<br />

não deixam "Deus ser deus" e, muito menos, querem aceitar que o Espírito<br />

Santo não é objeto de manipulação<br />

humana.<br />

Ai eio: Jesus Cristo veio para salvar o mundo e não para o condenar (10<br />

3.17).<br />

Esboço:<br />

Tema: O homem do segundo milênio!<br />

]. Necessita nascer da "água e do Espírito" (batisrno).<br />

2. É totalmente dependente do Espírito Santo.<br />

Celso W ottrich<br />

- 98 -


A partir d:::ste nÜmero, a \lox Concordiallo passa a divulgar os títulos<br />

das obras recebidas tanto pelo periódico como pela Biblioteca D1'. Martinha<br />

Lutero, da Escola Superior de Teologia (EST). Em sua maioria, tratase<br />

de títulos novos e recentemente publicados. Desta forma, a \lox Concordi({/1(l<br />

contribui para divulgação destes livros. Estas obras estão disponíveis<br />

para consulta na biblioteca da EST, podendo, também, ser adquiridas diretamente<br />

das editoras que as publicam. Fica aqui registrado o "muito obrigado!"<br />

da Biblioteca D1'. Martinho Lutero às várias editoras pela gentileza<br />

de oferecerem, a título de cortesia, estes livros novos que passam a fazer<br />

parte do acervo da biblioteca. Títulos novos de outras editoras serão igualmente<br />

benvindos e aqui publicados .<br />

Deomar<br />

Editor<br />

Roos<br />

Editora Concórdia:<br />

Gockel. Herman W. 1999. Ergue (I Tua \l ida, 2.ed., Porto i\legre,<br />

Concórdia.<br />

Integrando ([ Fe. 1999. Porto Alegre, Concórdia. vols. 1 " !<br />

Jung. Paulo K. 1999. Quundo eni dÚl'idn ... PeJ~glfllte~ Porto Alegre,<br />

ConcÓrdia,<br />

LSLB. 1999. R Porto flJêgre. C'oncórdia.<br />

LSLB. 1999. \iirr!rius que Inspiralli. Porto Alegre, Concórdia.<br />

Lutero, Martim. 1999. Como Ora!', Porto Alegre, Concórdia.<br />

Lutem, Martim. 1999. Ética Cristâ. , Porto Alegre, ~ Concórdia.<br />

Lutero, Marti 111. 1999. O Louvor de !viaria, Porto Alegre, Concórdia.<br />

Rottmann, Johannes H. 1999. GlIiLHIOS, Jeslis, Porto Alegre, Concórdia.<br />

- 99-


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T)iârio, 1\/1aiC: 2000. São Paulo. Fau!us.

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