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para não pisar nos calos de ninguém e para, assim, agradar tanto a gregos<br />
quanto a traianos. A questão é se os documentos conseguiram reproduzir<br />
com fidelidade e clareza suficientes o ensino escriturístico sobre o tema.<br />
Desta perspectiva. é forçoso dizer que sérias ambigüidades, lacunas e contradições<br />
presentes nos textos depõem contra eles. O parágrafo 40 da DC<br />
reconhece a existência de "diferenças remanescentes na terminologia, na<br />
articulação teológica e na ênfase da compreensão da justificação". Declara,<br />
porém, que tais diferenças são "aceitáveis" e que "as formas distintas pelas<br />
quais luteranos e católicos articuiam a fé na justificação estão abertas uma<br />
para a outra e não anu~anl (}consenso nas verdades básicas.'; O que significa<br />
isso? Qual é o limite da "diversidade reconciliada", e da "unidade na<br />
diversidade''') Até que ponto é possível estar aberto para posições contraditórias<br />
sem cair num relativismo completo?<br />
Não se está querendo minimizar ou negar avanços evidentes. Não se<br />
questiona o esforço e a sinceridade dos participantes do diálogo. Mas, infelizmente,<br />
não se chegou ainda, nesses documentos, a uma confissão clara e<br />
inequívoca da verdade bíblica sobre a justificação. Chegar quase lá não é o<br />
mesmo que chegar lá óe fato. Em termos óe resultado final, perder o avião<br />
por cinco minutos ou por uma hora de atraso não faz óifcrença. São as Confissões<br />
Luteranas que afirmam que "óesse artigo a gente não se pode afastar<br />
ou fazer alguma concessão, ainda que se desmoronem céu e terra ou qualquer<br />
outra coisa" (AE,Il/I,5; veja também CA XX,8; Ap IV,2; XII,3,] O;<br />
CM. Do Credo, 33,54,55; FC, DS, III,6). Ceder neste artigo significaria<br />
diminuir o mérito, a glória e a honra de Cristo, pois se atribuiria a seres<br />
humanos aquilo que pertence unicamente a Cristo. A linguagem da Escritura<br />
Sagrada é clara, precisa e não deixa lugar para ambigÜidades nessa questão:<br />
"pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de<br />
Deus: não de obras para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). Deus justifica<br />
CIO (/77 pio, Rm 4.1-8; 5.6-11, veja também Fp 3.8,9. Toda a glória na justificação<br />
pertence a Deus, ele não a divide COI1OSco.Por isso, em GI 5.4, o<br />
apóstolo é taxativo: "De Cristo vos desligastes vós que procurais justificarvos<br />
na lei, da graça decaístes."<br />
Tendo dito isto. é preciso reconhecer como muito positivo e digno de<br />
nota que a primeira declaração conjunta oficial entre a Igreja Católica Romana<br />
e a FLM tenha sido exatamente sobre a doutrina da justificação. Este<br />
fato, já por si mesmo, expressa o reconhecimento da importância fundamental<br />
deste m1icu/us stantis ct cadcntis ecc/csiac. Além disso, conseguiuse,<br />
passados quase 500 anos da Reforma, chamar ampla atenção tanto das<br />
igrejas como da sociedade em geral para este "que é o artigo principal no<br />
cristianismo" (CA XX,8). Queira Deus que toda a igreja cristã no mundo<br />
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