IGREJA LUTERANA - Seminário Concórdia
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Igreja Luterana<br />
MATEUS 1.18-25<br />
Deus se faz criança por amor de cada pessoa que ele criou. Aliás, Deus<br />
nasce daqueles que ele criou. Não existe forma nem maneira de harmonizar<br />
esses fatos com a nossa maneira de ver e entender as coisas. Mesmo o<br />
mais cético ser humano para diante do quadro que está diante dos olhos.<br />
O que teria obrigado Deus a nascer da humanidade por ele criada?<br />
Talvez seja meramente uma impressão pessoal e, admito, talvez equivocada.<br />
Mas as celebrações de Natal a que tenho presenciado ultimamente,<br />
salvo algumas exceções, mais se parecem com qualquer espetáculo (show)<br />
que mais faz aparecer e dar visibilidade aos cantores com seus vocais e<br />
ritmos, com textos por vezes desconexos, do que induzir à contemplação<br />
do Natal que aconteceu em Belém. Nota-se nos pastores e suas equipes<br />
um esforço intenso de valorizar a data, torná-la marcante, mas José e<br />
Maria com o menino Jesus acabam por parecerem a mim naquele cenário<br />
figuras decorativas, personagens de ficção de um passado remoto.<br />
As próprias crianças que até há algum tempo tinham espaço central<br />
para expressar um certo jeito de ver o Natal, agora parece estar sendo<br />
espremidas para uma lateral para que atores e cantores e instrumentistas<br />
façam o papel central.<br />
O que provocou essa reflexão de cunho crítico? Um dos textos mais<br />
preciosos do Natal é o Cântico de Maria (Lc 1. 46-55). Ao contemplar o<br />
quadro natalino de Mateus, mais focado em José, vem à mente o olhar de<br />
Lutero sobre Maria no seu comentário sobre o Cântico de Maria*. Lutero<br />
sente nas palavras de Maria o reconhecimento da completa nulidade do<br />
ser humano diante da vida e diante de Deus. Nessa contemplação, Lutero<br />
se consola na contemplação de Maria diante da tremenda tarefa de<br />
comparecer diante das autoridades do Império em Worms onde lhe seria<br />
ordenado retratar-se da doutrina do Evangelho.<br />
Ao traduzir Pois contemplou a humildade da sua serva, Lutero prefere<br />
por na boca de Maria a palavra nulidade ou ser insignificante. O que Maria<br />
poderia oferecer a Deus para ter a dignidade de ser a mãe de Deus? Nada,<br />
é a resposta de Maria. Nada, é a resposta de Paulo em vários momentos<br />
das suas cartas. Lutero sente esse NADA diante de Worms. E isso lhe<br />
permite dar os passos naquela direção.<br />
Na verdade, como poderíamos testemunhar esse nada numa celebração<br />
em que queremos honrar Deus? Como podemos testemunhar ao mundo<br />
e a nós próprios para dentro das nossas igrejas e suas celebrações que,<br />
tal como Maria, temos de admitir que o nosso louvor é nada, mas que<br />
*Publicado em livrete na coleção “Lutero para Hoje” sob o título O Louvor de Maria (CIL, Concórdia<br />
e Sinodal, 1999. Também em Obras Selecionadas, vol. 6, pp. 20-78).<br />
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