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IGREJA LUTERANA - Seminário Concórdia

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Igreja Luterana<br />

vergonhados. Talvez esse fato esteja melhor expresso nas palavras de<br />

Paulo, que, talvez lembrado que ele ajudava a prender e apedrejar os<br />

seguidores do crucificado, exclama: “Pois não me envergonho da cruz”,<br />

ou então quando diz: “Nós pregamos a Cristo e, este, crucificado.” Ou:<br />

“Cristo vive em mim”, não um Cristo a quem o mundo renda glórias, mas<br />

um Cristo que somente serve para pecadores.<br />

É talvez nesse ponto que os cristãos se dividem e a pedra angular<br />

(Salmo do dia, 118. 22) é rejeitada. O fato de Deus assumir essa cruz<br />

aniquila com todas as ilusões de justiça e piedade que o ser humano queira<br />

se atribuir. O ser humano é tão abençoado diária e constantemente por<br />

Deus ao ponto de achar que ter coisas boas é algo que lhe cabe naturalmente.<br />

Deus dá tudo de que o ser humano necessita para viver, dando até<br />

mais do que o necessário, que o ser humano não registra como benefício<br />

recebido sem merecimento. Estes, quando olham para a cruz, também<br />

veem nela o sinal e a prova do amor de Deus pela humanidade. Deste<br />

amor passam a esperar algo além, algo especial, algo extraordinário, além<br />

do “normal” e do “comum” a que estão habituados. Não só habituados,<br />

mas já enfastiados. Tal como Israel se enfastiou do maná. Lutero registra<br />

isso como “entediados da bondade de Deus” (OS 5, 25, O Sublime Louvor<br />

(Salmo 118). Convictos de que podem esperar de Deus mais do que o<br />

“normal” a que se julgam merecedores, desdobram-se a mostrar que sua<br />

fé é superior, melhor, comprometida com um programa de realizações em<br />

serviços prestados e notabilizados diante das pessoas e das instituições,<br />

grupos, igrejas e comunidades.<br />

Um outro equívoco teológico marcado pelos pietistas foi apontar para a<br />

cruz como aquele feito extraordinário de Deus que agora demanda dos que<br />

a ele se apegam uma religiosidade de sacrifícios pessoais que se mostrem<br />

à altura do que Deus demonstrou por eles. Característico desta postura<br />

é aquele quadro conhecido que põe na boca do crucificado a frase: “Isto<br />

eu fiz por ti. Que farás tu por mim?” Expressão essa também cristalizada<br />

num aparentemente piedoso refrão de uma canção que muitos ensinam<br />

às crianças na escolinha bíblica.<br />

O véu ainda lhes encobre o rosto na medida em que não se permitem<br />

articular com clareza e coragem a obra plena, perfeita e completa do<br />

crucificado, que é plena e incondicional no consolo e conforto. Rejeitam a<br />

pedra angular porque não se enquadra no seu anseio de adquirir aos olhos<br />

do mundo e do próprio Deus o status de dignidade superior, tal como o<br />

fariseu fazia no templo.<br />

O esvaziamento total de Deus na cruz deve dizer-nos que nada do que<br />

fazemos ou pensamos pode se manter diante de Deus. Tudo o que somos<br />

e fazemos está marcado pelo pecado, pelo egoísmo, orgulho, soberba e<br />

desejo de vanglória. Por mais que pensemos em esvaziar-nos, e espe-<br />

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