IGREJA LUTERANA - Seminário Concórdia
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PENSAR COMO CRISTÃO<br />
horas é possível que entre na sala um pastor pietista. Às 11 horas, tem<br />
educação física, ministrada por uma professora que se orienta pela cultura<br />
do corpo dos gregos. O professor de alemão segue este ou aquele linguista.<br />
Assim, numa manhã as crianças passam por todo o mercado das mundivisões.<br />
Mesmo que não consigam entender com clareza qual é o sistema<br />
que está por trás daquilo que lhes está sendo “empurrado”, elas percebem<br />
que existe uma pluralidade e pontos de vista contrários que as levam à<br />
insegurança. Não admira que muitos pais optem pela escola pública, onde<br />
ao menos tudo é apresentado do ponto de vista da antroposofia. À luz disto<br />
fica a pergunta: Não seria possível explicar e formatar o todo da realidade<br />
do mundo a partir da fé evangélica? Por que só o Kremlin, o Vaticano e o<br />
Goetheanum podem apresentar uma visão de mundo universal, ao passo<br />
que na Igreja Evangélica fica mais ou menos aos cuidados do acaso que<br />
orientação de pensamento a gente vai seguir? A gente evita o conceito<br />
“mundivisão evangélica”, pois cheira a um sistema pronto que, por razões<br />
que ainda serão apresentadas, não nos podemos permitir. Karl Heim e seu<br />
discípulo Otto Dilschneider preferiram falar em “Mundivisão da Fé”, que é<br />
melhor, pois evita o mal entendido daquilo que está pronto e é estático.<br />
Vamos tentar colocar alguns marcos que são essenciais para esta tarefa<br />
do pensar como cristão. É preciso levar em conta que o ser humano<br />
afastado de Deus não apenas é mau, mas também erra em seus juízos<br />
e avaliações. “O pecado sempre tem esse poder de obscurecer o entendimento”<br />
(Adolf Schlatter). Todos sabemos que o ódio obscurece nossos<br />
juízos e a falta de amor nos torna cegos e injustos. Por isso, é preciso<br />
contar com a possibilidade de que dogmas científicos, vistos como alcançados<br />
de forma objetiva e, assim, tidos por confiáveis, podem ser fruto<br />
de observação e/ou conclusão equivocada. A isto se deve acrescentar<br />
que, a partir da revolução francesa, o pensamento ocidental se afastou<br />
cada vez mais do sol de verdade do evangelho. A superbia, que dispensa<br />
Deus, não é um bom ponto de partida para a pesquisa científica. Por isto,<br />
há uma profunda mudança na forma de pensar da pessoa que chega à<br />
fé. A fé, que é uma postura de confiança pessoal em Deus, que ganhou o<br />
meu coração em Jesus Cristo, se torna fundamento e diretriz, não apenas<br />
de todo o conhecimento de Deus, mas das compreensões humanas e da<br />
explicação do mundo.<br />
Como a fé se faz de sempre renovadas decisões no encontro diante de<br />
Deus, este intelligere ex fide e post fidem nunca pode assumir a forma de<br />
um sistema pronto. É, ao contrário, uma constante luta por conhecimento<br />
melhor e mais completo daquilo que Deus nos deu e de que ele nos encarregou,<br />
neste mundo. Nisto a visão de mundo da fé se distingue de todo<br />
tipo de gnose. Para a gnose, não há um “ainda não” (limite escatológico).<br />
Na iluminação, o gnóstico já tem tudo. Não conhece a humilitas, que diz:<br />
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