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no parlamento<br />
Fim do ICI<br />
também para<br />
residentes<br />
no exterior<br />
A trajetória política da senadora Mirella Giai está<br />
profundamente ligada ao sindicalismo. Residente na cidade<br />
argentina de Rosário, foi eleita com 22.254 votos pelo<br />
MAIE (Movimento Associativo dos Italianos no Exterior)<br />
na América do Sul. Nascida em Trivero, província de<br />
Biella, na região de Piemonte, em 15 de agosto de 1929, a<br />
parlamentar trabalhou durante 35 anos junto ao patronato<br />
INCA (Instituto Nacional Confederado de Assistência)<br />
- CGIL (Confederação Geral Italiana do Trabalho), de<br />
linha mais à esquerda. Além disso, em Rosário - onde se<br />
estabeleceu com a família após a Segunda Guerra, casouse<br />
e teve dois filhos - contribuiu para a fundação do Partido<br />
Democrático (PD). Foi vice-presidente do Comites (Comitê<br />
dos Italianos no Exterior) local, liderou a Federação das<br />
Associações Piemontesas da Argentina (FAPA) e das<br />
Mulheres Piemontesas da Argentina.<br />
Nas primeiras eleições políticas que deram direito<br />
aos cidadãos italianos residentes no exterior a elegerem 12<br />
deputados e seis senadores, em 2006, a atual senadora<br />
perdeu o cargo por pouco. Depois de uma recontagem, apenas<br />
67 votos a mais conferiram um assento no Senado para<br />
Edoardo Pollastri, presidente da Câmara Ítalo-Brasileira<br />
de Comércio, Indústria de São Paulo. Com relação àquele<br />
pleito, Mirella Giai afirmou à Comunità que “seguramente<br />
teria sido uma honra ter participado do governo Prodi”,<br />
considerado por ela “altamente positivo”. Na opinião da<br />
parlamentar, os cortes no orçamento e a perda do ministério<br />
para os Italianos no Exterior no governo Berlusconi “exigem<br />
urgentemente que os eleitos no exterior se empenhem em<br />
manter firmes todos os direitos adquiridos”.<br />
Tat i a n a Bu f f<br />
Correspondente • São Paulo<br />
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, a<br />
senadora afirma não concordar com eventuais restrições à<br />
cessão da cidadania <strong>italiana</strong> a quem não tem conhecimento<br />
do idioma e da Constituição, contudo, acredita ser “de<br />
fundamental importância conhecer a lei fundadora do<br />
Estado italiano”. Sobre as relações com o Brasil, diz não<br />
ser possível “fazer diferenças” entre os ítalo-brasileiros e<br />
italianos residentes em quaisquer dos países da América<br />
do Sul, uma vez que foi eleita pelo continente e “essas<br />
conexões são importantes”.<br />
Recentemente, a senadora apresentou ao<br />
Parlamento projeto de lei para isentar os residentes<br />
no exterior do pagamento de imposto sobre imóveis,<br />
conhecido, na Itália, como ICI. Na atual legislatura,<br />
Mirella Giai integra o grupo União de Centro do<br />
Senado, é membro da décima-primeira Comissão<br />
Permanente do Trabalho e Previdência Social e da<br />
Comissão Parlamentar para a Infância.<br />
Na sua opinião, a “Diretiva de Retorno”, aprovada<br />
pelo Parlamento europeu, em junho, “é contraditória”<br />
ao impedir “a livre circulação de pessoas” em um<br />
mundo globalizado “que promove a livre circulação de<br />
mercadorias e a abertura dos mercados”. No Parlamento<br />
italiano, no mês passado, ela votou contra a lei que<br />
garante imunidade para os altos cargos do Estado:<br />
— A Constituição nos diz que todos os cidadãos<br />
têm iguais direitos e dignidade — diz a senadora —<br />
Se devemos fazer mudanças na Constituição, façamos<br />
um referendo, para poder nos mover em um país onde<br />
democraticamente se vive.<br />
ComunitàItaliana - Quais<br />
propostas apresentou<br />
ao Senado nesta legislatura<br />
Mirella Giai - Apresentei no Senado<br />
um projeto de lei referente<br />
às “Novas disposições em<br />
matéria de pessoal contratado<br />
localmente pelas representações<br />
diplomáticas, pelos escritórios<br />
consulares e pelos institutos<br />
italianos de cultura no<br />
exterior”. Além disso, apresentei<br />
uma emenda ao Ato do Senado<br />
número 866 para estender a<br />
isenção total do pagamento do<br />
imposto municipal sobre imóveis<br />
(ICI, na sigla em italiano)<br />
também aos cidadãos residentes<br />
no exterior. Apresentei ainda<br />
uma indagação parlamentar aos<br />
ministérios das Relações Exteriores,<br />
do Trabalho e da Economia<br />
e Finanças relativa à renovação<br />
e estipulação de convenções<br />
bilaterais de segurança social<br />
com os países conveniados<br />
com a América Meridional.<br />
CI - Como avalia a postura do governo<br />
Berlusconi para os italianos<br />
no exterior até agora<br />
MG - Para responder a esta pergunta<br />
faço antes uma reflexão<br />
que me preocupa muito: perdemos<br />
o Ministério dos Italianos<br />
no Exterior e há os cortes das<br />
contribuições para a previdência,<br />
para a assistência. Tudo isso exige<br />
urgentemente que nós, eleitos<br />
no exterior, devemos nos reunir<br />
e preparar um documento, não<br />
apenas para nos empenhar em<br />
que se mantenham firmes todos<br />
os direitos adquiridos, mas agir<br />
de modo que o Governo assuma<br />
um compromisso forte e reconheça<br />
a importância do trabalho<br />
que, em todos estes anos, nós<br />
italianos no exterior adquirimos<br />
e honramos. Nós contribuímos<br />
para o progresso e o bem-estar<br />
dos países que nos hospedaram.<br />
Neste momento, nos preparamos<br />
para o futuro das novas gerações.<br />
Faça-se presente que no mês de<br />
dezembro se realizará em Roma<br />
um encontro com os jovens de<br />
todo o mundo.<br />
CI - A senhora se candidatou<br />
também para o Senado nas eleições<br />
de 2006. Teria lhe agradado<br />
participar do governo Prodi<br />
Como analisa as circunstâncias<br />
das duas eleições<br />
MG - No que concerne às eleições<br />
de 2006, por diversas razões que<br />
os nossos compatriotas conhecem,<br />
acho que o governo Prodi<br />
foi altamente positivo e seguramente<br />
teria sido para mim uma<br />
honra fazer parte dele. Como parlamentar<br />
da XVI legislatura, sob<br />
o governo Berlusconi, seguramente<br />
nos próximos meses conseguirei<br />
fazer um balanço das<br />
duas eleições.<br />
CI - Qual é sua opinião sobre a<br />
proposta de conceder a cidadania<br />
aos filhos de <strong>italiana</strong>s nascidos<br />
antes de 1948<br />
MG - Minha opinião sobre a cidadania<br />
aos filhos de <strong>italiana</strong>s<br />
nascidos antes de 1948 é que se<br />
trata de uma lei discriminatória,<br />
enquanto não permite à mulher<br />
dar a cidadania aos filhos nascidos<br />
antes desta data. O deputado<br />
Ricardo Merlo, na legislatura<br />
passada, apresentou uma<br />
proposta de lei referente a isso,<br />
com a qual concordo plenamente<br />
e que reapresentaremos com<br />
diversas modificações.<br />
CI - Está de acordo com eventuais<br />
limitações à concessão da<br />
cidadania para quem não conhece<br />
a língua e a Constituição<br />
<strong>italiana</strong>s<br />
MG - Não estou de acordo com as<br />
“limitações” a quem não conhece<br />
a Constituição e a língua <strong>italiana</strong><br />
para poder adquirir a cidadania,<br />
embora acredite que seja de fundamental<br />
importância conhecer a<br />
Constituição, uma vez que essa é<br />
a lei fundamental e fundadora<br />
do Estado italiano, aprovada pela<br />
Assembléia Constituinte em 22<br />
de dezembro de 1947.<br />
CI - Qual é sua relação com o Brasil<br />
O país está em seu foco<br />
junto com os eleitores italianos<br />
da Argentina<br />
MG - Não posso fazer<br />
diferenças entre<br />
os países como<br />
senadora eleita<br />
na América Meridional.<br />
Tanto o Brasil quanto<br />
Chile, Venezuela, Peru, Uruguai,<br />
Paraguai e Argentina fazem parte<br />
desse continente e as relações<br />
e as conexões são importantes.<br />
Tentarei realizar em meu percurso<br />
parlamentar tudo o que for<br />
útil para estes países.<br />
CI - Está de acordo com a imunidade<br />
para os altos cargos do Estado<br />
MG - Votei contra porque lendo<br />
os artigos 3, 78, 90, 92, 96, a<br />
Constituição nos diz que todos<br />
os cidadãos têm iguais direitos<br />
e dignidade, nos diz claramente<br />
quais são as responsabilidades<br />
dos deputados e que mesmo<br />
após ter tido cargos, não<br />
são reservados por imunidade<br />
parlamentar. Se devemos fazer<br />
mudanças na Constituição, façamos<br />
um referendo, para poder<br />
nos mover em um país onde<br />
democraticamente se vive. Perguntemos<br />
aos cidadãos se estão<br />
de acordo que exista a imunidade<br />
aos quatro cargos mais altos<br />
do Estado que são: o Presidente<br />
da República, o presidente do<br />
Senado da República, o presidente<br />
da Câmara dos Deputados<br />
e o presidente do Conselho. Eu<br />
e o deputado Ricardo Merlo, do<br />
MAIE, somos contrários a esta<br />
medida que, de fato, torna crítica<br />
a questão da Justiça suspendendo<br />
tantos processos, alguns<br />
envolvendo crimes muito<br />
graves e que, portanto, se move<br />
em sentido contrário ao próprio<br />
princípio inspirador da Justiça<br />
de que a lei deve ser igual para<br />
todos.<br />
CI - Qual é sua opinião sobre a Diretiva<br />
de Retorno aprovada pelo<br />
Parlamento Europeu que prevê,<br />
entre outras medidas, a detenção<br />
dos imigrantes ilegais É<br />
uma soluçã o efetiva para o problema<br />
dos clandestinos Como<br />
avalia o repúdio do Mercosul à<br />
providência<br />
MG - A Diretiva de Retorno foi<br />
aprovada pelo Parlamento Europeu<br />
em 18 de junho passado.<br />
É contraditório que no interior<br />
de uma globalização, em que se<br />
promove a circulação de mercadorias<br />
e a abertura dos mercados,<br />
se impede a livre circulação<br />
das pessoas.<br />
Fotos: Divulgação<br />
22 C o m u n i t à I t a l i a n a / Ag o s t o 2008<br />
A g o s t o 2008 / Co m u n i t à I t a l i a n a 23