ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com
ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com
ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Trata<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> Correção <strong>do</strong> Intelecto - Spinoza<br />
Page 11 of 29<br />
intelecção o mesmo que dizem <strong>da</strong> ficção. Se, porém, o negam, vejamos nós, que<br />
sabemos que conhecemos algo, o que dizem. Ora, dizem o seguinte: que a alma pode<br />
sentir e perceber de muitas maneiras, não a si própria nem as coisas que existem, mas<br />
unicamente aquelas que não existem nem em si nem em parte alguma, o que quer dizer<br />
que a alma pode só por sua força criar sensações ou idéias que não são <strong>da</strong>s coisas, de<br />
mo<strong>do</strong> que, em parte, a consideram <strong>com</strong>o Deus. Além disso, dizem que nós temos (ou<br />
nossa alma tem) tal liber<strong>da</strong>de que nos obrigue (ou a ela, inclusive a sua própria<br />
liber<strong>da</strong>de). Pois, desde que a alma fingiu algo e lhe deu seu assentimento, não pode<br />
pensar ou fingir isso de outro mo<strong>do</strong>, e também é obriga<strong>da</strong> por essa ficção a pensar as<br />
outras coisas de tal mo<strong>do</strong> que não contrariem a primeira ficção, <strong>com</strong>o também são<br />
obriga<strong>do</strong>s a admitir por causa de sua ficção os absur<strong>do</strong>s que aqui enumero. Para a<br />
refutação disso, não nos cansaremos <strong>com</strong> outras demonstrações. [61] Mas, deixan<strong>do</strong>-os<br />
em seus delírios, cui<strong>da</strong>remos de tirar 69 <strong>da</strong>s palavras que <strong>com</strong> eles trocamos alguma<br />
ver<strong>da</strong>de para o nosso assunto: a mente, ao aplicar-se a uma coisa fingi<strong>da</strong> e falsa por sua<br />
natureza, a fim de que a pense e enten<strong>da</strong> e dela deduza em boa ordem aquilo que deve<br />
ser deduzi<strong>do</strong>, facilmente evidenciará a sua falsi<strong>da</strong>de; e se a coisa fingi<strong>da</strong> é ver<strong>da</strong>deira<br />
por sua natureza, quan<strong>do</strong> a mente olha para ela <strong>com</strong> atenção no intuito de a entender, e<br />
<strong>com</strong>eça a deduzir dela em boa ordem o que dela se segue, continuará felizmente sem<br />
nenhuma interrupção, <strong>com</strong>o vimos que, <strong>da</strong> falsa ficção que acabamos de referir, logo o<br />
<strong>intelecto</strong> mostrou sua absurdi<strong>da</strong>de e outras coisas <strong>da</strong>í deduzi<strong>da</strong>s.<br />
[62] Portanto, de nenhum mo<strong>do</strong> se deve temer que finjamos algo, desde que percebamos<br />
uma coisa clara e distintamente; pois se por acaso falamos que os homens, num<br />
momento, se transformam em animais brutos, 70 isto se diz de um mo<strong>do</strong> muito geral, de<br />
forma que não há nenhum conceito, isto é, idéia 71 ou coerência de sujeito e predica<strong>do</strong> na<br />
mente, <strong>da</strong><strong>do</strong> que, se houvera, ver-se-ia logo o meio pelo qual e as causas por que tal<br />
coisa se fez. Ademais, não se presta atenção à natureza <strong>do</strong> sujeito e <strong>do</strong> predica<strong>do</strong>. [63]<br />
Além disso, não sen<strong>do</strong> fingi<strong>da</strong> a primeira idéia e deduzin<strong>do</strong>-se dela to<strong>da</strong>s as outras,<br />
desvanece-se pouco a pouco a precipitação 72 de fingir; a seguir, não poden<strong>do</strong> a idéia<br />
fingi<strong>da</strong> ser clara e distinta, mas somente confusa, e <strong>com</strong>o to<strong>da</strong> confusão procede de que<br />
a mente conhece só em parte a coisa íntegra ou <strong>com</strong>posta de muitas, não distinguin<strong>do</strong> o<br />
conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong>, além de que olha conjuntamente e sem nenhuma distinção<br />
para os múltiplos elementos conti<strong>do</strong>s em ca<strong>da</strong> coisa; <strong>da</strong>í se segue, primeiro, que,<br />
tratan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong> idéia de algo simplicíssimo, ela não deixará de ser senão clara e distinta,<br />
pois essa coisa não pode aparecer-nos em parte, mas só ou to<strong>da</strong> ou na<strong>da</strong>. 73 [64] Seguese,<br />
em segun<strong>do</strong> lugar, que, se a coisa <strong>com</strong>posta de muitos elementos for dividi<strong>da</strong> pelo<br />
pensamento em to<strong>da</strong>s as suas partes mais simples e se se prestar atenção a ca<strong>da</strong> uma por<br />
si, desaparecerá então to<strong>da</strong> confusão. Em terceiro lugar, segue-se que a ficção não pode<br />
ser simples, mas sim feita <strong>da</strong> <strong>com</strong>posição de diversas idéias confusas, que são de<br />
diversas coisas e ações existentes na Natureza, ou melhor, provêm <strong>da</strong> atenção 74<br />
simultânea, mas sem assentimento, a tais idéias diversas; pois, se fosse simples, seria<br />
clara e distinta e, por conseguinte, ver<strong>da</strong>deira. Se resultasse <strong>da</strong> <strong>com</strong>posição de idéias<br />
distintas, sua <strong>com</strong>posição seria também clara e distinta e, portanto, ver<strong>da</strong>deira. Por<br />
exemplo, depois que conhecemos a natureza <strong>do</strong> círculo e também a <strong>do</strong> quadra<strong>do</strong>, não<br />
podemos mais <strong>com</strong>por essas duas coisas e falar de um círculo quadra<strong>do</strong>, ou alma<br />
quadra<strong>da</strong> e coisas semelhantes. [65] Concluamos, de novo, brevemente e vejamos <strong>com</strong>o<br />
não se deve de mo<strong>do</strong> algum temer a ficção, confundin<strong>do</strong>-a <strong>com</strong> as idéias ver<strong>da</strong>deiras.<br />
Com efeito, quanto à primeira de que falamos antes, a saber, quan<strong>do</strong> a coisa é concebi<strong>da</strong><br />
claramente, vimos que se essa coisa concebi<strong>da</strong> claramente e também sua existência for<br />
por si uma ver<strong>da</strong>de eterna, na<strong>da</strong> poderemos fingir acerca disso; mas, se a existência <strong>da</strong><br />
coisa concebi<strong>da</strong> não for uma ver<strong>da</strong>de eterna, cuide-se apenas de conferir a existência <strong>da</strong><br />
coisa <strong>com</strong> sua essência e olhe-se ao mesmo tempo para a ordem <strong>da</strong> Natureza. Quanto à<br />
segun<strong>da</strong> ficção, que dissemos ser a atenção, mas sem consentimento, a diversas idéias<br />
confusas, que são de diversas coisas e ações existentes na Natureza, vimos também que<br />
ebook:<strong>intelecto</strong>.html<br />
18-07-2007