24.01.2015 Views

ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Trata<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> Correção <strong>do</strong> Intelecto - Spinoza<br />

Page 18 of 29<br />

a coisa exista ou não exista, já que a existência delas não tem conexão nenhuma <strong>com</strong> sua<br />

essência, ou (<strong>com</strong>o já dissemos) não é uma ver<strong>da</strong>de eterna. [101] Efetivamente, também<br />

não é necessário que intelijamos a série delas, visto que as essências <strong>da</strong>s coisas<br />

singulares e móveis não devem ser deduzi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> sua série ou ordem <strong>da</strong> existência. Com<br />

efeito, esta última (a ordem <strong>da</strong> existência) não nos dá outra coisa senão denominações<br />

extrínsecas, relações ou, quan<strong>do</strong> muito, circunstâncias, coisas que estão longe de<br />

constituir a essência íntima <strong>da</strong>s coisas. Esta, entretanto, só se há de procurar nas coisas<br />

fixas e eternas e, ao mesmo tempo, nas leis inscritas nessas coisas <strong>com</strong>o em seus<br />

ver<strong>da</strong>deiros códigos, e segun<strong>do</strong> as quais são feitas e ordena<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as coisas<br />

singulares. De fato, estas coisas singulares e mutáveis dependem tão íntima e<br />

essencialmente (por assim dizer) <strong>da</strong>s coisas fixas que sem elas não podem existir nem<br />

ser concebi<strong>da</strong>s. 103 Portanto, estas coisas fixas e eternas, ain<strong>da</strong> que sejam singulares,<br />

serão para nós, por sua presença em to<strong>da</strong> parte e latíssima potência, <strong>com</strong>o que<br />

universais, ou gêneros <strong>da</strong>s definições <strong>da</strong>s coisas singulares e mutáveis, e causas<br />

próximas de to<strong>da</strong>s as coisas.<br />

[102] Mas, sen<strong>do</strong> isso assim, não pouca dificul<strong>da</strong>de parece subsistir para que possamos<br />

chegar ao conhecimento destas coisas singulares, pois conceber to<strong>da</strong>s as coisas<br />

juntas supera muito as forças <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong> humano. A ordem, porém, para se inteligir um<br />

antes <strong>do</strong> outro não derivará, <strong>com</strong>o dissemos, <strong>da</strong> sua série de existir, nem tampouco <strong>da</strong>s<br />

coisas eternas. Com efeito, aí são to<strong>da</strong>s simultâneas por natureza. Logo, necessariamente<br />

hão de ser procura<strong>do</strong>s outros auxílios além <strong>da</strong>queles que usamos para inteligir as coisas<br />

eternas e suas leis; contu<strong>do</strong>, aqui não é o lugar de expor isso, nem se precisa fazê-lo<br />

senão depois de havermos adquiri<strong>do</strong> um conhecimento suficiente <strong>da</strong>s coisas eternas e<br />

<strong>da</strong>s suas infalíveis leis, e depois que se tenha torna<strong>do</strong> clara para nós a natureza de nossos<br />

senti<strong>do</strong>s.<br />

[103] Antes de nos lançarmos ao conhecimento <strong>da</strong>s coisas singulares, haverá tempo<br />

de versar sobre esses auxílios, que tenderão to<strong>do</strong>s a sabermos fazer uso de nossos<br />

senti<strong>do</strong>s e realizar, segun<strong>do</strong> certas leis e certa ordem, experiências suficientes para determinar<br />

a coisa que é investiga<strong>da</strong>, 104 a fim de, por último, concluirmos delas segun<strong>do</strong> que<br />

leis <strong>da</strong>s coisas eternas foi feita, e conhecermos sua natureza íntima, <strong>com</strong>o mostrarei em<br />

seu lugar. Aqui (para voltar ao que tencionávamos), somente procurarei expor o que parece<br />

necessário a fim de que possamos chegar ao conhecimento <strong>da</strong>s coisas eternas, forman<strong>do</strong><br />

definições delas nas condições acima expostas.<br />

[104] Para isso, é preciso relembrar o que dissemos antes, 105 a saber, que, quan<strong>do</strong> a<br />

mente se aplica a algum pensamento a fim de examiná-lo e deduzir dele em boa ordem o<br />

que legitimamente se pode deduzir, se ele for falso, descobrirá a falsi<strong>da</strong>de, mas, se for<br />

ver<strong>da</strong>deiro, continuará felizmente 106 a deduzir <strong>da</strong>í, sem nenhuma interrupção, coisas<br />

ver<strong>da</strong>deiras; isso, digo, é o que se requer para o nosso intento, pois nossos pensamentos<br />

não podem ser determina<strong>do</strong>s por nenhum outro 107 fun<strong>da</strong>mento. [105] Se, portanto, desejamos<br />

investigar a primeira coisa de to<strong>da</strong>s, urge haver algum fun<strong>da</strong>mento que dirija para<br />

lá nossos pensamentos. A seguir, sen<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> o próprio conhecimento reflexivo,<br />

esse fun<strong>da</strong>mento que deve dirigir nossos pensamentos não pode ser nenhum outro senão<br />

o conhecimento <strong>da</strong>quilo que constitui a forma <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e o conhecimento <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>,<br />

bem <strong>com</strong>o de suas proprie<strong>da</strong>des e forças, porque, adquiri<strong>do</strong> esse, teremos o fun<strong>da</strong>mento<br />

<strong>do</strong>nde deduzir nossos pensamentos, e o caminho pelo qual o <strong>intelecto</strong>, quanto sua<br />

capaci<strong>da</strong>de o permite, poderá chegar ao conhecimento <strong>da</strong>s coisas eternas, levan<strong>do</strong>-se em<br />

conta, em to<strong>do</strong> caso, as forças intelectuais.<br />

[106] Ora, se pertence à natureza <strong>do</strong> pensamento formar idéias ver<strong>da</strong>deiras, <strong>com</strong>o se<br />

mostrou na primeira parte, cumpre agora inquirir o que entendemos por forças e<br />

potência <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>. Como, porém, a parte principal <strong>do</strong> nosso méto<strong>do</strong> é inteligir otimamente<br />

as forças <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong> e sua natureza, somos necessariamente obriga<strong>do</strong>s (pelo que<br />

expus nesta segun<strong>da</strong> parte <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>) a deduzir isso <strong>da</strong> própria definição <strong>do</strong><br />

pensamento e <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>. [107] Mas até agora não tivemos regra alguma para descobrir<br />

as definições, e <strong>com</strong>o não as podemos <strong>da</strong>r sem conhecer a natureza ou definição <strong>do</strong><br />

ebook:<strong>intelecto</strong>.html<br />

18-07-2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!